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ESTÁGIO DE DOCÊNCIA
Cinética Enzimática
JULHO 2006
CINÉTICA ENZIMÁTICA
Um dos fatores que afetam a velocidade de uma reação catalisada por uma enzima
purificada é a concentração do substrato presente [S]. O estudo dos efeitos da concentração de
substrato é complicado pelo fato de a [S] variar durante o curso de uma reação à medida que o
substrato é convertido em produto. Uma forma de simplificar este problema é medir a
velocidade inicial da reação (V0). Em um experimento cinético a [S] é sempre muito maior
que a concentração da enzima [E], e se o tempo de reação é suficientemente curto, as
mudanças da [S] serão negligenciáveis, podendo ser considerada como uma constante.
Existem alguns casos em que a velocidade inicial não pode ser medida, ou porque não
existe uma técnica experimental que permita acompanhar as variações das concentrações no
sistema, ou a transformação não pode ser representada por uma equação química com
reagentes e produtos definidos. A velocidade da reação, nesses casos, é freqüentemente
representada por uma velocidade média de consumo, ou de produção, de substâncias
convenientemente escolhidas (Figura 2) ou, ainda, pela variação de uma propriedade do
sistema (viscosidade, textura, absorbância, etc.) em um intervalo de tempo prefixado.
k1
E+S ES (1)
k-1
k2
ES E+P (2)
Em qualquer instante de uma reação, a enzima existe em duas formas, a não ligada ao
substrato, ou a forma livre E, e a forma ligada ES. Em concentrações pequenas do substrato
[S], a maior quantidade da enzima estará na forma livre E. Nestas condições, a velocidade de
reação será proporcional à [S] porque o equilíbrio da Equação 1, à medida que [S] aumentar,
será deslocado na direção da formação de mais ES. A velocidade inicial máxima da reação
(Vmáx) será atingida quando praticamente todas as moléculas da enzima estiverem na forma do
complexo ES, e a concentração da enzima livre E é insignificante. Neste caso, diz-se que a
enzima está “saturada” com o substrato e a velocidade da reação não aumenta mais com os
aumentos de [S]. Em solução contendo um excesso de substrato, haverá um período cinético
inicial chamado de estado pré-estacionário, ocorrendo o crescimento da concentração de ES.
O estado pré-estacionário é, usualmente, de duração muito curta. A reação atinge o estado
estacionário muito rapidamente e a concentração do complexo [ES] permanecerá
praticamente constante durante o decorrer do tempo.
1.1 Equação de Michaelis e Menten
A Figura 1 mostra a relação entre [S] e V0 para uma reação enzimática. A curva que
expressa esta relação possui a mesma forma para a maioria das enzimas, sendo expressa pela
Equação de Michaelis e Menten, derivada por estes pesquisadores partindo de sua hipótese
básica de que, nas reações enzimáticas, o passo limitante da velocidade é a quebra do
complexo ES para formar o produto e a enzima livre.
Vmáx [S ]
V0 = (3)
K m + [S ]
K m = [S ] → V0 = Vmáx
1
(4)
2
Obs: Vmáx depende do k2, que é uma constante, e da concentração da enzima na experiência
realizada. Vmáx é proporcional à concentração da enzima (Figura 3).
k1 k2
E+S ES E+P (5)
k-1
Figura 3. Gráfico de Vmáx variando de acordo com a [E].
Todas as enzimas que exibem uma dependência hiperbólica de V0 em relação a [S] são
ditas seguir a cinética de Michaelis-Menten Entretanto, esta equação não depende do
mecanismo de reação relativamente simples de dois passos. Muitas enzimas possuem
mecanismos de reação muito diferentes entre si; como enzimas que catalisam reações com
seis ou oito passos identificáveis, que exibem o mesmo comportamento cinético no estado
estacionário. Portanto, o significado real e a magnitude de Vmáx e Km podem variar de uma
enzima para outra.
k 2 + k −1
Km = (6)
k1
<< k-1, Km se reduz ao valor k −1 . Onde esta condição prevalece o Km representa uma
k1
medida da afinidade da enzima pelo substrato no complexo ES. Muitas vezes k2 >> k-1, e
k1 k2 k3
E+S ES EP E+P (7)
k-1 k-2
Cada enzima tem valores ótimos de kcat e Km que refletem o ambiente celular, a
concentração do substrato normalmente encontrado in vivo pela enzima e a química da reação
que está sendo catalisada.
Vmáx [S ]
V0 = (8)
Km
Vmáx
Considerando =k:
Km
V0 = k [S ] (9)
Onde:
d [S ]
− = V0 = k [S ]
dt
d [S ] 1
k=− ⋅ (10)
[S ] dt
Como V0 diminui com o tempo na região de primeira ordem, gráficos de [S] e [P]
contra o tempo são curvos (Figura 5). Pode-se determinar a quantidade de substrato utilizada
ou de produto formado durante qualquer intervalo de tempo utilizando a equação integrada de
velocidade de primeira ordem, cujo resultado será:
2,3 ⋅ log
[S ]0 = k (t − t 0 ) (11)
[S ]
Figura 5. Aparecimento de [P] e desaparecimento de [S] não são lineares com o tempo.
Um gráfico semilog da forma integrada da velocidade de primeira ordem possui uma
inclinação − k , e uma interseção de log [S]0 no eixo de log [S] (Figura 6).
2,3
Obs: t1/2 é chamado de tempo de “meia vida”, que é o tempo necessário para converter em
produto metade do substrato originalmente presente → relacionado ao k (Equação 12).
0,693
t1 = (12)
2 k
Vmáx [S ]
V0 =
[S ]
V0 = Vmáx (13)
1 K 1 1
= m ⋅ + (14)
V Vmáx [S ] Vmáx
• Gráfico: 1 contra 1 ;
V S
Km 1
• A linha reta tem inclinação igual a Vmáx , o intercepto no eixo 1 é igual a Vmáx e o
V
1 − 1
intercepto no eixo [ S ] é igual a Km ;
• Vantagem: permitir uma determinação acurada de Vmáx, o que pode ser feito apenas
aproximadamente em gráficos de V versus [S].
[S ] = Km
+
1
[S ] (15)
V Vmáx Vmáx
• [ S] varia linearmente com [S];
V
K
• A linha reta tem inclinação igual a 1 , o intercepto no eixo [ S] é igual a m e
Vmáx V Vmáx
Vmáx
intercepto no eixo V é igual a .
[S ] Km
Figura 9. Gráfico de Eadie-Scatchard.
d [S ] Vmáx [S ]
V =− =
dt K m + [S ]
Onde:
2,3 [S ] V
⋅ log 0 = máx −
1 ([S ]0 − [S ])
⋅ (18)
t [S ] K m K m t
• Gráfico:
2,3 [S ]
⋅ log 0 versus
([S ]0 − [S ])
;
t [S ] t
• A linha reta tem inclinação igual a − 1 , o intercepto no eixo
2,3 [S ]
⋅ log 0 é igual
Km t [S ]
e o intercepto no eixo ([S ]0 − [S ])
Vmáx
a é igual a Vmáx .
Km t
2,0
Vo (g/L.h)
1,0
0,0
0 2 4 6 8
[S] (g/L)
1,6
1,2
1/Vo (L.h/g)
0,8
y = 0,228x + 0,3668
0,4 2
R = 0,9991
0,0
0 1 2 3 4 5
1/[S] (L/g)
1 K 1 1
= m ⋅ +
V0 Vmáx [S ] Vmáx
1 1
= 0,228 ⋅ + 0,3668
V0 [S ]
• Resultados → Portanto,
1 g
= 0,3668 ⇒ Vmáx = 2,73
Vmáx L⋅h
Km g
= 0,228 ⇒ K m = 0,622
Vmáx L
3,0
2,5
2,0
[S]/Vo (h)
1,5
1,0
y = 0,3595x + 0,2419
0,5 2
R = 0,9993
0,0
0 2 4 6 8
[S] (g/L)
[S ] = Km
+
1
⋅ [S ]
V0 Vmáx Vmáx
[S ] = 0,2419 + 0,3595 ⋅ [S ]
V0
• Resultados → Portanto,
1 g
= 0,3595 ⇒ Vmáx = 2,78
Vmáx L⋅h
Km g
= 0,2419 ⇒ K m = 0,672
Vmáx L
A catálise enzimática pode ser impedida por compostos, que, quando presentes no
meio, ligam-se diretamente à enzima, impedindo sua ação.
resulta na produção de uma família de linhas com intercepto comum no eixo 1 , mas com
V0
V = Vmáx ⋅
[S ] (19)
⎛1 + [I ] ⎞ + [S ]
Km ⎜ K I ⎟⎠
⎝
K m ⎛⎜1 + [I ] ⎞⎟
1
=
1
+ ⎝ KI ⎠ 1
⋅ (20)
V Vmáx Vmáx [S ]
• Determinação de KI:
As Equações (3) e (19) permitem calcular a relação entre as velocidades da reação sem
inibidor e com inibidor:
⋅ [I ]
V0 Km
= 1+ (20)
VI K I (K m + [S ])
O inibidor não compete com o substrato pelo sítio ativo, mas vai ocupar outro sítio da
enzima (sítio regulativo ou de inibição), formando além de complexos ES e EI, um terceiro
complexo, enzima-inibidor-substrato (EIS) (Figura 18). A enzima é inativada quando o
inibidor está ligado, o substrato estando também presente ou não. Uma concentração
infinitamente alta de substrato não consegue levar toda enzima sob forma de ES, que é a
forma produtiva. Para qualquer [I] uma parte da enzima permanecerá sob a forma [EIS], onde
se pode prever que Vmáx será menor que a Vmáx observada na ausência de inibidor. Em geral, o
efeito sobre Km é pequeno ou nenhum.
V = Vmáx ⋅
[S ] (21)
⎛
K m ⎜⎜1 +
[I ] ⎞⎟ + [S ]⎛⎜1 + [I ] ⎞⎟
⎟ ⎜ K ⎟
⎝ KI ⎠ ⎝ I ⎠
1 K
= m
⎛
⎜⎜1 +
[I ] ⎞⎟ 1 + 1 ⎛
⎜⎜1 +
[I ] ⎞⎟ (22)
⎟ ⎟
V Vmáx ⎝ K I ⎠ [S ] Vmáx ⎝ KI ⎠
Trata-se de uma inibição por bloqueio do complexo ES. Supõe-se que existam na
enzima dois sítios ativos: um reservado ao substrato e outro ao inibidor, mas este último só
pode se fixar de modo reversível sobre o complexo intermediário ES (Figura 20).
1 K
= m ⋅
1
+
1 ⎛
⋅ ⎜⎜1 +
[I ] ⎞⎟ (24)
V Vmáx [S ] Vmáx ⎟
⎝ KI ⎠
V I = (Vmáx − k 3 ⋅ [ EI ])
[S ] (25)
K m + [S ]
1 1 Km 1
= + ⋅ (26)
VI Vmáx − K 3 [EI ] Vmáx − K 3 [EI ] [S ]
Figura 24. Método de Lineweaver-Burk na inibição irreversível.
3.1 Influência do pH
HA ↔ A + H + (27)
As concentrações relativas de HA e de A dependem do pH. Quando o valor do pH é
baixo (alta concentração de prótons), o equilíbrio rearranja-se pelo aumento da concentração
de HA e diminuição da concentração de A. Quando o valor do pH é alto (baixa concentração
de prótons), ocorre o inverso. Os grupos R dissociáveis dos aminoácidos comportam-se de
maneira análoga.
Figura 25. Efeito do pH na atividade e estabilidade de uma enzima, curva A: atividade da enzima,
curva B: V0 em pH 6,8 após incubação em outros valores de pH.
Onde:
• α: energia de ativação;
Lembrando que as enzimas são termolábeis, ao mesmo tempo que ocorre a reação
enzimática que nos interessa, desenvolve-se também a reação de inativação térmica da enzima
que atua no sistema (Equação 29):
k’
E Enzima inativada (29)
Figura 27. Comparação de uma enzima reguladora com uma não reguladora; 1. Enzima não reguladora
(Michaelis-Menten), 2. Enzima reguladora.
k1 k2
E+S ES E+P (1)
k-1
V0 = k 2 ⋅ [ES ] (2)
Passo 3: Desenvolvemos, agora, uma série de passos algébricos para resolver a Equação 5 em
k1 [Et ][S ]
função de [ES]. [ES ] = (6)
k1 [S ] + k −1 + k 2
Simplificando ainda mais esta última expressão de forma a que todas as constantes de
velocidade estejam combinadas em um único termo:
O termo
(k 2 + k −1 ) é definido como a constante de Michaelis-Menten, Km.
k1
Substituindo esta na Equação 7, a expressão simplifica-se para:
• Passo 4: V0 pode agora ser expressa em termos de [ES]. A Equação 8 é empregada para
substituirmos [ES] na Equação 2, dando:
k 2 [Et ][S ]
V0 = (9)
K m + [S ]
Vmáx [S ]
V0 =
K m + [S ]