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Copyright © 2023 Helen Tussia

Capa: HEV Design


Revisão: Lidiane C. Mastello
Diagramação: HEV Design
Ilustrações: Will Art
Autora: Helen Tussia
Redes Sociais: @autorahelentussia
Esta é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com a realidade com pessoas vivas ou
mortas ou eventos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra através de quaisquer meios sem o consentimento da
autora.
A violação autoral é crime, previsto na lei nº 9.610/98 com
aplicação legal pelo artigo 184 do Código Penal.
NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS – AS CENAS
NARRADAS PODEM CONTER CONTEÚDO SEXUAL.
Sumário
Sinopse
Dedicatória
Aviso
Playlist
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a Autora
Age Gap - Amor Proibido - Encontros Secretos – Found
Family

Ricardo Alencar é bonito, milionário, tem uma sólida


carreira como médico cardiologista e é um mulherengo assumido.
Com quase quarenta anos, ele não tem planos de mudar
seu status de relacionamento, afinal, por que ficar com apenas uma
mulher quando pode ter qualquer uma que desejar em sua cama?
Ou melhor, quase qualquer uma...
Depois de dois anos fora do país, Clara Rodrigues não está
diferente apenas em sua aparência física. Agora com vinte anos, ela
não lembra em nada a adolescente tímida e sem confiança que era.
Com seu rosto angelical e personalidade forte, está
determinada a alcançar todos os seus objetivos, inclusive,
conquistar o homem que sempre amou.
Um reencontro;
Uma paixão avassaladora;
Um amor proibido.
Clara está disposta a provar para ele na prática que não
é mais uma menina inocente.
Ricardo está disposto a resistir à tentação que ela se
tornou em sua vida.
Será que ele conseguirá ficar longe da filha do seu
melhor amigo por muito tempo?
Dedico esse livro as pessoas resilientes, que mesmo não
enxergando uma luz no final do túnel, não desistem dos seus
objetivos.
Esse livro não faz parte de nenhuma série, mas os
personagens principais fazem parte do mesmo universo do livro “As
Gêmeas Inesperadas do Doutor”.
Não é obrigatório a leitura desse livro para compreender
este, pois não se trata de uma continuação; são casais diferentes.
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Prólogo
— Como eu sou burra — sussurro, sentindo uma lágrima
escorrer pelo meu rosto que logo é secada com o dorso da minha
mão.
Como eu achei que eu teria uma oportunidade com ele?
Com certeza o Ricardo me vê apenas como a enteada do
seu melhor amigo.
Uma menina, sem nenhum tipo de atrativo.
Abaixo meu rosto, me olhando até os pés.
Sinto-me uma idiota por estar usando esse vestido, ter
passado maquiagem com o intuito de parecer mais velha e por estar
nessa balada.
Se eu tivesse escolhido fazer uma festa intimista no quintal
da casa dos meus avós, isso não teria acontecido.
Parecendo uma masoquista fico encostada na parede, como
se estivesse com os pés grudados no chão e os olhos fixos no casal
que provavelmente vai sair daqui para a casa do Ricardo.
Antes que eu consiga voltar para dentro, ele desgruda seus
lábios da morena e seus olhos azuis que parecem o céu em um dia
ensolarado, encontram os meus parecendo surpreso ao me ver.
Respiro fundo, dou um sorriso com a boca fechada que com
certeza não parece ser sincero, antes de virar-me e voltar para
dentro, tendo minha visão nublada pelas luzes piscantes e as
lágrimas que estou fazendo força para não derramar.
Sinto uma dor tão forte em meu peito, uma queimação,
como se tivesse corrido uma maratona, quase como se o meu
coração fosse sair pela boca.
Caminho apressada até o bar mais próximo, pego um dos
vários copinhos de tequila que tem em cima do balcão, virando todo
o conteúdo de uma vez, tentando não fazer careta quando o líquido
transparente desce queimando pela minha garganta.
Eu já tinha tomado outros dois antes de ir procurar o Ricardo
e por não estar acostumada a beber bebidas alcoólicas sinto as
pernas um pouco bambas e o ambiente girar.
Mas achava que precisava desse estímulo para deixar a
timidez de lado e enfim fazer algo que almejo desde os meus
dezesseis anos, entretanto, meu objetivo agora é aplacar a dor que
estou sentindo.
Hoje, estou completando dezoito anos e estou
comemorando essa nova fase da minha vida em uma balada,
sugestão da minha melhor amiga.
No começo o Henrique, meu padrasto, que considero como
pai, não gostou muito da ideia, nem o meu tio Heitor, que é irmão
gêmeo dele por serem extremamente protetores comigo e com
todas as meninas da família, mas ainda bem que eu tenho a melhor
mãe do mundo, e dona Camila não precisou fazer muito esforço
para convencer o marido que não seria uma má ideia.
A única condição que o meu pai do coração impôs foi que
ele e seus amigos inseparáveis participassem da comemoração e
isso não seria negociável.
Tenho certeza de que ele fez isso para ficar de olho em mim.
Mal sabe ele quem eu quero, ele surtaria se descobrisse.
Como minha mãe não ficaria de fora dessa também,
arrastou minhas tias Rebeca e Fernanda junto.
Estou usando um vestido preto, colado ao corpo e sandálias
de salto alto da mesma cor.
Essa é a primeira vez que uso uma roupa tão provocante e
que deixa meu corpo em evidência dessa forma, mas como minha
melhor amiga disse: Eu não sou mais uma adolescente e se nem eu
mesma me enxergar como uma mulher linda e sedutora, quem eu
quero também não irá fazer isso.
Por isso, optei por uma roupa que moldasse bem minhas
curvas, mesmo que não sejam muitas.
Só que diferente do que achava quando saí de casa, agora
estou me sentindo patética, por ter todo esse trabalho para chamar
atenção de uma pessoa que visivelmente ainda acha que sou uma
criança.
Ajeito a postura para não ficar tão evidente meu estado de
espírito, encostando no balcão do bar.
As pessoas estão dançando animadas sem prestarem
atenção com o que acontece à sua volta, olho para todas as
direções para ver se encontro algum dos meus pais, pois eles são
os últimos que quero ver agora.
Minha mãe me conhece muito bem e mesmo mentindo, só
de me olhar ela saberia que tem algo de errado comigo.
Ainda não tenho coragem de falar para ela que minha
tristeza é por estar apaixonada por um homem quase vinte anos
mais velho do que eu.
Então prefiro ficar sozinha por enquanto.
Foi o tio Heitor quem escolheu a balada que iríamos, ele
também ficou responsável em reservar o camarote que estamos
usando.
Sinto meu coração bater mais rápido quando meus
pensamentos voltam para o Ricardo.
Eu esperei completar dezoito anos para me declarar, pois
sabia que apesar de ele ser muito brincalhão e pegar qualquer tipo
de mulher, ele sequer olharia de forma diferente para uma menor de
idade, muito menos sendo a filha de um dos seus melhores amigos.
Esse seu lado mulherengo já foi motivo de muitas lágrimas
minhas, mas sempre tentei me manter firme, pois estava esperando
o momento certo para falar sobre os meus sentimentos por ele.
Antes de descer do camarote onde estamos todos
acomodados, dando a desculpa que iria procurar Cintia, eu
perguntei para o meu tio onde o seu amigo estava, tentando não
chamar muita atenção pelo meu questionamento.
Só que não pensei que o encontraria quase transando com
uma pessoa em público.
Refletindo agora, fui mais uma vez muito ingênua.
Porque é óbvio que ele estaria procurando uma companhia
para passar a noite.
Das várias vezes que já ouvi os amigos conversando sobre
isso, ele sempre diz que nunca volta para a casa sozinho.
Aperto uma mão na outra, sentindo-as trêmulas e suadas,
ao fechar os olhos e relembrar a cena que presenciei há poucos
minutos.
Mesmo com a música alta, parece que ainda consigo ouvir a
gargalhada que a mulher deu quando ele falou algo no pé do seu
ouvido.
Ricardo estava sentado em um sofá de dois lugares, na área
externa da balada com ela em seu colo.
Quando minha bisavó teve sua primeira crise de convulsão
ou minha mãe levou um tiro da ex-namorada maluca do Henrique
foram os dois piores momentos da minha vida. No entanto, ver
Ricardo beijando outra pessoa, como eu sempre sonhei que fizesse
comigo, também me fez sentir uma dor muito forte no peito.
Mesmo com dezoito anos ainda não dei o meu primeiro
beijo, muito menos tive um contato mais íntimo com um homem.
Um dos motivos é por eu ser muito tímida e reservada.
Característica que puxei da minha mãe.
O outro que foi difícil admitir para mim mesma é que de
forma intrínseca estou guardando as minhas primeiras vezes para
viver com o Ricardo.
Minha paixão platônica sempre se vangloriou da grande
rotatividade que tem em sua cama.
Só que até então eu nunca o tinha visto com alguma mulher.
Vê-lo com a mão na perna da sua acompanhante quase
entrando para dentro do vestido que era muito mais curto do que o
meu e beijando-a com tanta vontade e sensualidade sem se
importar com quem estava à sua volta quebrou algo dentro de mim.
Então hoje, no meu aniversário de dezoito anos, enquanto
vejo as pessoas ao meu redor curtindo a música e as companhias,
viro outro shot de tequila, fazendo uma promessa para mim mesma.
A Clara tímida e retraída morreu.
Vou me apegar àquela frase que tem males que vem para o
bem, pois vou usar essa minha decepção amorosa para dar um
novo rumo a minha vida e me tornar a mulher que sempre quis ser,
e deixar pelo caminho o amor que sinto pelo melhor amigo do meu
pai, que nunca deveria ter nascido dentro do meu coração.
Capítulo 1

Dois anos depois

Sorrio quando leio a mensagem que acabei de receber.


Hoje ainda é segunda-feira, mas não tem momento ruim
para ter uma boa companhia para passar a noite.
Como dois dos meus melhores amigos estão casados e
amarrados, e o outro solteiro do grupo mais parece um velho de
sessenta anos, preciso arrumar companhia e melhor ainda se ela for
do sexo feminimo.
Para mim qualquer dia é dia.
Mesmo quase chegando à casa dos quarenta, minha
disposição continua a mesma de quando eu era apenas um
universitário.
Fui morar sozinho aos dezoito anos, mas desde muito antes
já tinha esse anseio para conseguir ter minha liberdade plena,
entretanto, só efetivei minha saída de casa quando entrei na USP.
Como bons pais que adoram esbanjar o dinheiro que tem,
os meus me presentearam por ter passado no vestibular com um
enorme apartamento, em um dos bairros mais nobres da capital de
São Paulo.
Mas eu nunca levei nenhuma mulher para lá.
Sou um mulherengo assumido, entretanto, quando vou
passar a noite com alguém, vou para a casa da minha companheira
da vez ou vamos para um quarto de hotel.
Não tenho um motivo específico para isso, só não quero
levar uma mulher para a minha casa e ela acabar confundindo as
coisas, achando que terá mais do que sexo comigo.
Porque isso jamais irá acontecer.
Eu sou um homem livre e desprendido de sentimentos e
tenho como objetivo de vida continuar assim até eu partir dessa
para a próxima.
Não tive exemplos dentro de casa sobre relacionamento
verdadeiro e sem nenhum tipo de interesse financeiro.
Meus pais são de famílias ricas e pelo que acompanho da
relação fria e sem sentimentos entre os dois, acredito que a união
entre eles foi apenas uma junção de fortunas.
Esse tipo de relacionamento se estende para quase todos
os membros da minha família, onde acham que dinheiro sempre
está em primeiro lugar, independentemente do assunto.
E é por isso que não quero me relacionar sério com
nenhuma mulher.
Eu não sei se tenho capacidade de amar alguém, quando eu
mesmo não fui verdadeiramente amado pelos meus genitores.
Acredito que eles tiveram eu e a minha irmã caçula por
causa da cobrança da sociedade para terem filhos e construir uma
família de comercial de margarina.
Eles nuncam maltrataram nós dois, mas também nunca
fizeram questão de fazer alguma demonstração de afeto, além de
nos dar presentes caros.
Eu só fui ter um vislumbre do que era um casal que
verdadeiramente se amava quando conheci os pais dos gêmeos
Heitor e Henrique.
Dona Selma e seu Jaime tem um amor que chega a ser
palpálvel.
Um sentimento que eu achei que não existia.
O carinho que sentem e demonstram terem pelos filhos, se
estendeu para mim também, quando passei a frequentar a casa
deles.
Hoje os considero como pais, até mesmo mais do que os
meus biológicos.
Eu conheci os irmãos no primeiro período da faculdade de
medicina e a nossa amizade aconteceu de forma instantânea.
Quando nos conhecemos éramos de classes sociais
diferentes, mas isso nunca foi problema para nenhum de nós, pelo
contrário, a conexão que criei com eles foi algo inevitável.
Uma coisa que não herdei dos meus pais foi o jeito esnobe
e prepotente que carregam com muito orgulho.
Desde criança sou descontraído e levo a vida de um jeito
leve.
Sem problematizar muito as coisas.
Eu sou uma pessoa muito prática.
Inclusive, essa minha característica já me gerou muitas
discussões com os meus pais.
Eles me criaram para eu cursar administração, para depois
assumir as empresas da família.
Mas quando chegou a hora de escolher uma profissão, a
minha vontade de ser médico e de salvar vidas, foi mais forte do que
suas reprimendas e ameaças a me deserdarem.
Ainda com o celular em mãos, confirmo meu encontro de
mais tarde.
Fecho os prontuários que estava analisando desde que
cheguei ao hospital antes mesmo do sol nascer.
Quando chegou à fase de escolher uma especialização na
universidade, eu optei por cardiologia.
Não tenho um motivo bonito ou poético, mas sempre achei
fascinante a capacidade de um ser humano conseguir entender e
cuidar do coração de outro.
Eu fiz residência em cirurgia vascular, junto com o Henrique,
enquanto Heitor optou em seguir a área neurológica, mas na hora
de assumir um cargo efetivo no hospital, decidi que queria atuar na
área clínica, minha outra especialização.
Atualmente, eu só entro na sala cirúrgica em situações
muito específicas.
Verifico em meu relógio de pulso que são quase 10:00 da
manhã.
Espreguiço-me ainda sentado, antes de levantar, colocar o
celular no bolso e ir buscar com a recepcionista do andar os exames
que chegaram do laboratório.
Abro a porta, encontrando o corredor vazio.
Como meu consultório é localizado no terceiro andar do
hospital, onde fica a maior parte dos consultórios clínicos, são raras
as vezes que temos muita movimentação por aqui.
Tem vezes que consigo ouvir o eco dos meus sapatos
pisando no chão.
Quando quero um pouco mais de emoção, vou para o
pronto-socorro.
Estanco no meio do caminho da porta até a mesa da
recepcionista que é praticamente na frente da minha sala quando
vejo uma moça de costas, guardando umas pastas no armário
pendurado na parte de cima da parede.
Além de ser apaixonado pela minha profissão, sinto esse
mesmo sentimento por todas as mulheres.
Por isso, que tenho como objetivo continuar solteiro. Seria
injusto ficar apenas com uma, sendo que várias poderiam usufruir
do prazer que posso lhes proporcionar.
E a que está na ponta dos pés, tentando alcançar a
prateleira mais longe do seu alcance está fazendo meu corpo reagir,
sem eu nem ter visto o seu rosto.
A estranha tem cabelos loiros, um pouco mais claros que o
mel, batem um pouco mais abaixo dos seus ombros em ondas, tem
uma cintura fina e uma bunda que está revestida por uma calça
bege, uniforme usado pelos funcionários da parte da administração
do hospital, que me faz sentir coceiras nas mãos com vontade de
apertar.
Eu sou um bom profissional, mas também não me faço de
rogado quando tenho vontade de levar alguma funcionária do
hospital para a cama.
Seja ela de qual setor for.
Me interessou, eu invisto com todas as armas que tenho.
E com certeza essa desconhecida me interessou e muito.
Ela deve ser nova, pois se já trabalhasse aqui, eu já teria
conhecido essas curvas bem intimamente.
Ajeito a gola da minha camisa social azul, antes de conferir
discretamente com a mão se meu pau não está marcado na calça
jeans branca, pois o desgraçado já está a meio mastro.
Se eu sou apaixonado pelo sexo oposto, o meu amigo entre
as pernas é obsecado, e é ele que normalmente guia as minhas
atitudes.
— Bom dia! — Dou um passo, aproximando-me, ficando
encostado na mesa.
Vejo que a estranha fica com os ombros tensos e como se
fosse em câmera lenta, encaixa a última pasta que segurava dentro
do armário, fechando as portas, se virando em minha direção na
sequência.
— Bom dia, Ricardo. — Pisco várias vezes seguidas,
tentando assimilar a voz suave e olhos doces que conheço há um
bom tempo.
— Porra, Clara, você não tinha os cabelos escuros? — É o
que sai da minha boca, quando percebo que fiquei de pau duro com
a filha de uns dos meus melhores amigos que é apenas uma
menina e que eu não via há dois anos.
Capítulo 2
Se eu não estivesse tão nervosa riria da cara de espanto
que o Ricardo fez quando me virei.
Há dois anos eu não o via.
Para ser mais exata, desde o meu aniversário de dezoito
anos quando o presenciei beijando uma mulher.
Depois daquela noite voltei para casa determinada a mudar
a minha vida.
Conversei com a minha mãe e pedi de presente de
aniversário um intercâmbio nos Estados Unidos.
Como ainda não tinha certeza sobre qual profissão seguir, a
ideia era aperfeiçoar o meu inglês enquanto isso, além de usar os
quilômetros que me distanciavam do Ricardo como uma forma de
tentar tirá-lo dos meus pensamentos e coração.
— É bom mudar às vezes, Ricardo — respondo sobre a sua
observação em relação ao meu cabelo, sem voltar a olhar em sua
direção.
Sento na cadeira em frente ao computador, me
concentrando na planilha vazia que está na tela.
Mesmo depois de tanto tempo sem o ver ou ouvir sua voz
rouca, sinto meu coração bater rápido e os pelos da minha nuca se
arrepiarem.
Antes de voltar para o Brasil há dois meses, não estava
gostando do que via no reflexo do espelho.
Eu sempre usei o mesmo visual.
Cabelos longos e escorridos, iguais aos da minha mãe.
Mas como estava prestes a começar uma nova etapa na
minha vida, quis mudar o visual também.
Então um pouco antes de embarcar no avião e voltar ao
meu país de origem fui a um salão de beleza que ficava próximo do
apartamento que aluguei nesses meses em Nova York e pedi para
clarear os fios e também mudar o corte.
Quando minha família viu minha mudança no saguão do
aeroporto, tirando o susto inicial de me verem tão diferente, todos
me elogiaram muito.
Porém, não foi só os cabelos que mudaram nesse tempo
que passei longe.
Meu corpo ganhou mais massa, e agora não sou mais a
garota que parecia uma tábua de tão magra.
Ainda não tenho o corpo de violão da dona Camila, mas
gosto das curvas que tenho.
— Você precisa de alguma coisa, Ricardo? — Faço muito
esforço para minha voz não sair trêmula.
— O que você está fazendo aqui, Clara? Não aqui no
hospital, mas aqui sentada na mesa da recepção e com esse
uniforme — fala sem pausa, andando de um lado para o outro,
mexendo nas mãos.
— Eu vou trabalhar aqui agora, Ricardo, como recepcionista
do andar.
— Você já tem idade para trabalhar?
Paro de digitar, revirando os olhos com a pergunta que
acabo de ouvir.
— Eu já tenho vinte anos, Ricardo, e já posso fazer muitas
coisas, além de trabalhar — olho dentro das suas íris que parecem
duas piscinas azuis, quando ele para, colocando as duas mãos em
cima da mesa, ficando frente a frente comigo.
Ricardo tem a mandibula quadrada, sobrancelhas grossas e
nariz fino.
Além da barba sempre muito bem feita e os cabelos com
gel, sem um fio fora do lugar.
Como eu ainda estou sentada, preciso erguer a cabeça para
olhá-lo.
— O Henrique concordou com isso?
— Sério? Você ouviu o que eu acabei de falar? — Afasto a
cadeira da mesa, me levantando e colocando as mãos próximas das
suas. — Eu já sou maior de idade, meus pais não precisam me dar
autorização para fazer nada, mas se te deixa mais tranquilo, sim, o
Henrique sabe que estou trabalhando aqui, inclusive, foi ele quem
me indicou para a vaga.
— Ok! — é o que diz, antes de virar as costas e voltar para
o seu consultório, deixando um rastro do seu forte perfume.
Volto a me sentar, respirando fundo, tentando acalmar as
batidas do meu coração.
Eu ainda tenho muitas dúvidas em qual profissão seguir.
Gosto muito da área da saúde, mas não sei se faço
fisioterapia como minha mãe, medicina como o meu pai, ou
enfermagem.
Por isso minha avó me deu a sugestão de trabalhar em
algum setor administrativo do hospital que os meus pais trabalham,
pois assim conseguiria ver mais de perto a rotina de algumas áreas
e me decidir.
A ideia inicial era eu trabalhar no sexto andar, onde fica o
consultório do Henrique, mas ele não conseguiu arrumar uma vaga
para mim lá, então a minha única alternativa foi vir trabalhar
justamente no andar do meu tio Heitor, que coincide com o do
Ricardo.
Mesmo sabendo que iria trabalhar oito horas por dia na
frente do consultório da pessoa que tentei manter distância física e
sentimental no período que estava fora do país, decidi que não iria
mais agir como a adolescente que fugiu para os Estados Unidos.
Além de estar muito empolgada com essa nova fase da
minha vida.
Quando voltei para o Brasil e conversei com a minha bisa,
mãe e o Henrique, estava muito determinada a começar a ter
atitudes de uma adulta e me tornar uma pessoa um pouco mais
independente.
Afinal, já tenho vinte anos.
Então além do emprego, pedi para o meu pai me alugar o
apartamento que ele e seu irmão usavam quando eram solteiros,
que fica localizado na frente desse hospital.
Antes de eu ir morar fora, nunca tinha passado pela minha
cabeça sair de casa e morar sozinha.
Mas passando todos esses meses tendo apenas eu como
companhia, vi que posso ser uma pessoa responsável comigo
mesma e tudo à minha volta.
Claro que essa parte de ir morar sozinha não foi tão bem
aceito como eu começar a trabalhar, mas depois de muito implorar e
até mesmo usar um pouco de chantagem emocional, Henrique e
Heitor aceitaram me emprestar o apartamento.
O imovel já até foi alugado para outra pessoa, quando o
meu tio casou, mas há aproximadamente seis meses ficou vazio e
quando minha mãe comentou sobre isso comigo em uma das
nossas chamadas de vídeos, vibrei muito internamente, mas guardei
para fazer o pedido quando estivesse pessoalmente na frente deles.
Desde que fui fazer o intercâmbio, eu não voltei para o
Brasil, passei dois longos anos falando com a minha família apenas
por ligações e chamadas de vídeos.
Mas foi muito bom passar esse tempo longe.
Eu me descobri e cresci muito nesse período.
Saí do Brasil como uma adolescente que teve seu coração
partido e voltei como uma mulher forte, segura de si e que está
pronta para lutar pelos seus objetivos.
Capítulo 3

— Porra, porra, Ricardo! — Tenho que me controlar para


não bater a porta do consultório com força quando volto sem os
exames que fui buscar.
— Você é um doente, só pode. Ficar de pau duro com a
Clara, a filha de um dos seus melhores amigos. — Faço careta ao
pensar qual seria reação do Henrique caso desconfiasse disso.
Os gêmeos Bittencourt são conhecidos por serem
extremamente protetores com suas meninas, e a Clara faz parte
desse bolo.
Inclusive, em várias conversas Henrique deixou claro que
ela só iria namorar depois dos trinta.
Jogo-me de qualquer jeito no sofá, me sentindo muito
confuso.
Mas como eu iria reconhecer de costas, né?
A menina tinha cabelos longos, lisos e castanho-escuros,
quase pretos.
— Com aquela bunda vai ser difícil de manter os homens
longe dela — gemo frustrado quando fecho a boca, pois eu não
devia estar pensando na bunda da Clara.
Porra, o que aconteceu com essa garota?
A última vez que eu a vi, foi na comemoração do seu
aniversário de dezoito anos, especificamente, quando eu estava
tentando convencer uma morena que conheci naquela mesma noite
a irmos para um lugar mais reservado.
Mesmo estando encostada em uma parede a uma certa
distância de mim, Clara parecia estar chateada ou até mesmo
chorando.
Mas naquele momento não dei muita atenção a isso, pois
devia ter alguma frustração de adolescente.
Depois daquela noite o Henrique comentou que ela iria
passar uns meses nos Estados Unidos fazendo um intercâmbio, e
não a vi ou falei com ela novamente.
Mas dois anos é o suficiente para uma pessoa que tinha
aparência física de uma adolescente tímida e reservada se
transformar em uma mulher com curvas bem atrativas e um olhar
confiante?
Porque a Clara que encontrei na recepção não é a mesma
Clara, filha da Camila.
Só que ela continua sendo a filha do coração de um dos
meus melhores amigos e uma criança, mesmo que fisicamente
tenha mudado tanto.
Então, Ricardo, trate de tirar da sua cabeça o que passou
por ela quando a viu de costas.
Da cabeça de cima e da de baixo.
— Qual é o problema da vez? — Assusto-me quando ouço a
voz do Afonso, vindo da porta.
Sento-me ereto.
Mesmo ele não sabendo o que eu estava pensando, me
sinto desconfortável em ter sido pego no flagra.
— Você já sabia que a Clara iria trabalhar aqui?
— Soube hoje de manhã, quando a encontrei no elevador.
Inclusive, ela pediu para te trazer. — Entrega-me uma pasta.
Acredito que seja com os exames que esqueci de pegar.
— Ela está diferente, né? — Folheio as folhas para não
precisar olhar em sua direção enquanto conversamos.
Afonso sempre foi o mais sensitivo de nós quatro.
Eu, Heitor e Henrique o conhecemos quando iniciamos a
nossa residência nesse mesmo hospital. Na época ele era apenas
um estagiário da fisioterapia, hoje é o chefe de todo o setor.
De nós quatro ele é o mais tranquilo.
Henrique sempre foi o come quieto, eu e Heitor sempre
tivemos uma rotitavidade muito grande na nossa cama, já o Afonso,
por ser mais reservado e até mesmo tímido com o sexo oposto, tem
poucos casos de uma noite só.
— Você não acha? — Tento soar despretensioso, mas
olhando pela borda da pasta, encontro Afonso me analisando.
Será que ele reparou nela do mesmo modo que eu?
— A última vez que a vimos ela era apenas uma menina,
agora a Clara se tornou uma mulher. Só que isso não está sendo
fácil para o Henrique aceitar — diz sorrindo.
Eu e ele não temos filhos.
Heitor tem duas meninas gêmeas de quase cinco anos e um
menino de dois.
Henrique tem uma filha da mesma idade das gêmeas do
irmão e a Clara, que é filha biológica da Camila, sua esposa, mas
que considera como se fosse dele.
Eu não sei detalhadamente a história, mas o pouco que eu
sei, o pai da Clara deixou de ser presente em sua vida há muito
tempo e de forma natural, meu amigo ocupou esse lugar, criando
um vínculo muito forte entre eles.
Principalmente no período que a Cami ficou em coma.
— Porra! Um dia a menina era toda magrela e sem graça e
agora... — Paro de falar quando percebo que externei o que estava
pensando.
— E agora?
— E agora até mudou a cor dos cabelos.
— E está morando sozinha também.
— O quê?
— A Camila me contou que a Clara se mudou para o
apartamento onde os gêmeos moravam aqui na frente há uma
semana.
— E o Henrique aceitou assim de boa? Ela tem idade para
morar sozinha? Clara é só uma menina.
Levanto-me, ficando na frente da janela, ao lado do sofá,
olhando o movimento que vejo daqui de cima.
Passo as mãos pelos cabelos, coisa que raramente faço,
pois demoro muito tempo na frente do espelho para arrumá-los pela
manhã.
Mas estou me sentindo inquieto.
— Ela tem vinte anos, Ricardo, não é mais uma menina há
muito tempo. Tenho certeza de que com vinte anos você já
aprontava e muito.
— Mas é diferente. Se fosse a minha filha eu não deixaria —
falo, ouvindo em seguida uma gargalhada bem alta.
— Meu amigo, eu quero muito presenciar quando você
encontrar uma mulher que conquiste o seu coração e vocês tenham
filhos, inclusive, vou torcer muito para vir uma menina logo de cara.
— Meu caro, mesmo você rogando essa praga em minha
direção, isso não irá me pegar. Eu não nasci para constituir família,
Afonso, isso eu deixo para vocês. Esse coração aqui — bato com o
indicador no lado esquerdo do peito — jamais terá uma dona, até
porque seria muito injusto ficar apenas só com uma mulher, sendo
que tem tantas outras me querendo.
Ouço outra gargalhada.
— A queda vai ser grande, viu, vai quebrar bonito essa sua
carinha de bom moço que engana as mulheres, mas eu vou assistir
de camarote. — Faço sinal da cruz, rindo também. — Bom, deixa eu
ir trabalhar. Depois nos falamos.
— Tchau.
Afonso sai da sala, me deixando sozinho novamente.
Nas próximas horas foco nos meus pacientes, tentando ao
máximo não pensar na nova funcionária do hospital.
Capítulo 4
— Como foi o seu dia, meu amor? — Abraço minha mãe
quando a encontro me esperando em frente ao elevador no térreo.
Eu passei um pouco a mais do meu horário de saída, mas
estava tão empenhada em terminar as tarefas que me foram dadas
que eu não percebi as horas passarem.
— Foi tudo bem, mãe, a Catarina foi bem paciente e
conseguiu me passar muita coisa nesse meu primeiro dia. O
Henrique não vai para casa agora?
— Ele me mandou mensagem dizendo que já estava
descendo. Só estava terminando de conversar com os amigos. —
Abraça meus ombros, nos levando para sentar nas cadeiras que
tem na recepção principal do hospital. — Então como sabemos que
quando esses quatro estão juntos esquecem do mundo, vamos
sentar um pouco e você me conta mais como foi o seu primeiro dia
de trabalho.
Como eu amo essa mulher.
Minha mãe é o amor da minha vida, assim como a minha
bisavó.
Quando ela levou um tiro da ex-namorada louca do
Henrique eu fiquei desnorteada.
Eu não saberia dizer como conseguiria continuar a minha
vida sem minha mãe nela.
Dona Camila engravidou de mim aos quinze anos, mas
mesmo com pouca idade sempre foi a melhor mãe do mundo.
Ela até tentou ter uma relação com o meu pai, mas não
existia um sentimento sincero que mantivesse a relação entre eles.
Ela nunca fez alienação parental comigo ou tentou evitar
que eu tivesse algum tipo de contato, mas nunca tive uma conexão
profunda com ele, como tenho com minha mãe.
Meu pai também não fez muita questão de estreitar nossos
laços, então aos poucos ele deixou de fazer parte da minha vida.
Hoje eu não tenho mais nenhum tipo de contato com ele, e
também não sinto falta .
Eu já era completa tendo uma mãe e bisavó que sempre me
colocaram em primeiro lugar, mas quando o Henrique entrou na
minha vida, com o seu jeito protetor e paterno, sem nenhum tipo de
interesse visando agradar minha mãe, completou nossa família.
Minha irmãzinha Victória só deixou tudo mais perfeito e cor
de rosa.
Dona Camila sempre teve muito medo de se relacionar com
os homens e de alguma forma eu ser afetada.
Mas quando Henrique voltou para sua vida, uns cinco anos
atrás, ela começou a brilhar.
Parecia que enfim tinha encontrado uma parte sua que
faltava.
O amor deles é algo inspirador.
Henrique não esconde de ninguém o que sente pela minha
mãe e como chamamos no mundo literário, pois sou uma leitora
assídua de romances, ele é um golden boy bem adestrado.
Quando eu encontrar um amor, a relação deles será a minha
referência.
Minha mãe também é a minha melhor amiga, aquela que
sempre corro para o colo quando estou com medo ou insegura.
Graças a Deus e ao Ricardo que a operou quando levou o
tiro no coração, pois mesmo o meu padrasto sendo um dos
melhores cirurgiões do país, não tinha condições psicológicas para
operar a namorada, ainda a tenho em minha vida e pretendo ter por
muitos e muitos anos.
Ricardo!
Não nos falamos o resto do dia.
Quando ele precisava de algo, pedia para a Catarina, a
recepcionista que está me treinando, sem me direcionar um
segundo olhar.
Quando eu ainda estava nos Estados Unidos achei que
essa paixonite que nutria por ele tivesse ficado na minha fase da
adolescência, mas só de sentir o seu cheiro que continua o mesmo
do passado e ouvir sua voz novamente, percebi que estava muito
enganada.
Meu coração traidor estremece todas as vezes que estamos
no mesmo ambiente.
Eu queria muito pedir a opinião da minha mãe sobre isso,
mas tenho medo da sua reação, quando descobrir que quero ficar
com um dos melhores amigos do meu pai, que é quase vinte anos
mais velho do que eu.
— O que as mulheres da minha vida estão aprontando? —
Henrique chama nossa atenção depois de um tempo que estamos
sentadas conversando sobre como foi o nosso dia.
— Pai! — Levanto, lhe dando um abraço apertado.
Não é todas as vezes que me refiro a ele assim, mas todas
as vezes que o faço, vejo um brilho diferente em seus lindos olhos
verdes.
— Tudo bem com o seu primeiro dia de trabalho, princesa?
— pergunta, deixando um beijo na minha testa, antes de seguir para
cumprimentar a esposa.
— Pode deixar, Henrique, eu vou ficar de olho nela. — Meu
tio Heitor também chega aonde estamos, me dando um abraço de
urso.
Ele é o mais descontraído entre os gêmeos, além de adorar
provocar o meu pai.
Contudo, eles são muito unidos também.
São daqueles irmãos gêmeos que um completa o outro.
Além de serem fisicamente idênticos.
Só quem realmente convive com eles, consegue logo de
cara distingui-los.
— O bom dela estar trabalhando no mesmo andar que eu, é
que vou ficar de olho se aparecer algum enfermeiro engraçadinho.
— Faço careta quando Heitor aperta o meu nariz.
— Todo mundo sabe que a Clara é minha filha, espero que
não tenha nenhum que tente dar uma de corajoso.
Eles conversam como se eu não estivesse presente.
Olho para minha mãe, que está abraçada com o marido, no
momento em que ela revira os olhos.
Tenho que me controlar para não rir.
É a dona Camila que controla o jeito superprotetor que ele
tem com as filhas.
Ele realmente acha que só vamos namorar depois dos trinta.
Mas espero que Victória seja mais esperta do que eu para
esse assunto, pois se continuar do jeito que estou, realmente vou
chegar aos trinta sem namorar ninguém.
— Como está sendo morar sozinha, Clarinha? — Afonso
pergunta, me dando um beijo no rosto, depois que cumprimenta a
minha mãe.
Eu também o considero como um tio.
Ele é mais reservado do que os outros.
Mas sempre foi muito carinhoso comigo.
Ao seu lado vejo Ricardo, que me cumprimenta apenas com
um balançar de cabeça.
— Tirando a parte que eu preciso cozinhar, está tudo bem.
— Faço careta, pois não nasci para frequentar a cozinha.
Ainda bem que algum abençoado inventou os fast-food e as
comidas congeladas, além das marmitas com comida que minha
mãe sempre me traz da sua casa.
— Temos que organizar uma reuniãozinha no seu
apartamento para comemorar sua mudança, filha — minha mãe diz,
parecendo muito animada.
Toda oportunidade que tem, ela sempre reúne todos em
alguma das casas.
Ficamos mais um pouco conversando ainda na recepção do
hospital, antes que todos se dirijam para suas próprias casas.

Um dos contra em morar sozinha é exatamente por morar


sozinha.
Eu estava acostumada a chegar em casa e sempre ser
recepcionada pela minha bisa e minha mãe.
Eram raras as vezes que eu ficava sozinha em algum
cômodo da nossa casa, mas desde que vim morar nesse
apartamento tem vezes que o silêncio chega a ser ensurdecedor.
Por isso, na maioria das vezes, assim que chego, ligo
alguma playlist de um dos meus livros favoritos.
Passando pela porta da sala, acendo as luzes e peço para a
Alexa ligar a música.
Tiro minhas sapatilhas, as deixando ao lado do sofá e sigo
para o meu lugar preferido nesse apartamento.
Quando meu tio Heitor ainda morava aqui, um dos quartos
era ocupado por ele e o outro, que era do meu pai antes dele se
casar com minha mãe, virou os das gêmeas.
Como esse segundo é um pouco menor que o primeiro e
não tem suíte, preferi me acomodar no cômodo que era do meu tio,
só fazendo algumas mudanças, como cores de parede e cama.
No outro, estou montando a minha tão sonhada biblioteca.
Abro a porta do antigo quarto das minhas primas e suspiro
com o que já encontro dentro.
Ainda não está finalizado, mas as estantes já foram
instaladas e tem uma poltrona confortável.
A esposa do Heitor está me ajudando na organização desse
ambiente, pois além dela ser escritora, também é uma leitora
apaixonada.
Quando dou o primeiro passo para dentro, sinto a maciez do
tapete felpudo nos meus pés, uma das poucas coisas que sobrou do
antigo quarto das gêmeas.
Sigo até a poltrona que fica ao lado de uma das enormes
estantes brancas, ainda com poucos livros.
Acendo somente o abajur, iluminando o necessário.
Na casa em que morei até os meus dezessete anos com
minha mãe e bisavó, só tinha algumas prateleiras no meu quarto.
Desde muito pequena eu gosto de ler, e dona Camila
sempre me incentivou comprando as edições que pedia.
Um dos meus passeios preferidos na infância era ir à banca
de jornal que tinha perto da nossa casa, depois quando fiquei um
pouco mais grandinha comecei a frequentar as livrarias.
Se minha mãe não me controlasse, passava horas lá dentro
e queria comprar tudo.
Quando ela se casou com o Henrique, ele colocou uma
estante no meu quarto na nova casa.
Mas agora tenho um lugar destinado somente aos meus
livros e estou muito empolgada para quando tudo estiver pronto.
Falta comprar algumas decorações e vários livros para
preencher os espaços vazios.
Claro que já tenho todos os títulos que quero comprar salvos
em uma enorme lista no bloco de notas do meu celular.
Minha admiração à minha biblioteca é interrompida, quando
sinto o aparelho vibrar no bolso da frente da minha calça.
A vantagem do uniforme que vou precisar usar é essa.
A calça tem um grande bolso, que cabe perfeitamente o
meu celular.
— Me conte tudo e não me esconda nada sobre como foi o
seu primeiro dia.
Cintia fala com o tom de voz muito empolgado assim que
atendo a ligação.
— Boa noite para você também. Eu estou bem sim e você?
— Boa noite, Clara, estou bem, agora me conta logo como
foi o seu primeiro dia e como foi o reencontro com o deus grego. —
Reviro os olhos pela maneira que ela chama o Ricardo.
Eu sempre fui uma menina muito tímida e reservada e por
isso nunca tive muitas amizades.
Conheci a Cintia no último ano do ensino médio e diferente
de mim, ela adora falar e a palavra timidez não existe em seu
vocabulário.
Mas mesmo tendo personalidades tão diferentes, quando
fomos sorteadas para fazer um trabalho de português juntas foi o
match perfeito.
Uma completa a outra e desde então ela virou a minha
melhor amiga, inclusive, é a única pessoa que sabe sobre a minha
paixão platônica pelo cardiologista.
Passo os próximos minutos contando como foi o meu
primeiro dia trabalhando como recepcionista, e claro que tenho que
contar nos mínimos detalhes como foi o meu reencontro com o
melhor amigo do meu pai.
— Amiga, chegou a sua hora. Claramente ele ficou abalado
em te reencontrar como um mulherão. Você precisa mostrar na
prática para ele que você não é mais uma menina.
— Como, Cintia? Eu não sei se consigo ser uma pessoa
sexy e sedutora.
— Claro que consegue, mulher. Se olha no espelho. Você se
tornou um mulherão da porra. — Não aguento e acabo rindo.
Ela sempre consegue trazer leveza para as nossas
conversas.
Mesmo quando estou depressiva ou sem confiança, como
nas vezes que o assunto é o médico.
Passo os próximos minutos com ela me dando várias dicas
para eu seduzir o Ricardo e me convencendo a não desistir ainda.
Pois ela tem certeza que dessa vez, ele vai me olhar de
forma diferente.
Cintia tem muito mais experiência com o sexo oposto do que
eu, apesar de sermos da mesma idade.
Há um tempo ela perdeu a virgindade e também é adepta a
relacionamentos casuais.
Desde que nos conhecemos nunca ouvi Cintia falar que
estava apaixonada.
Ela me lembra muito a Rebeca, uma das melhores amigas
da minha mãe e também fisioterapeuta do hospital.
Não sei se esse plano que traçamos vai dar certo.
Quando voltei para o Brasil estava convicta em me manter
distante do Ricardo.
Entretanto, só de pensar que eu teria uma possibilidade de
fazer com que ele me enxergue como mulher, me faz querer pelo
menos tentar.
Um não eu já tenho.
Então não custa nada ir em busca de um sim, já que
claramente eu ainda não o esqueci.
Só espero que não saia mais uma vez com o meu coração
em pedaços.
Capítulo 5
— Porra, eu vou gozar! — falo, segurando o cabelo da loira
que está me chupando, aumentando o ritmo da sua boca no meu
pau.
Faz poucas horas que a conheci no barzinho que
normalmente frequento com os meus amigos e não precisou de
muitas palavras para ela estar gemendo embaixo de mim em uma
cama.
Essa é a nossa segunda rodada.
Eu estava com muita energia acumulada e precisando
descarregar de alguma forma e nada melhor do que sexo para me
relaxar.
Sinto minhas bolas pesarem, os dedos dos meus pés
contraírem e aumento o aperto no cabelo da loira, também
movimentando o quadril conforme sinto jatos fortes saindo.
— Caralho! — rosno, me jogando de costas nos
travesseiros.
Balanço a cabeça tentando clarear a mente, quando a
mulher ergue seu rosto em minha direção e por um instante eu vejo
o semblante doce e inocente da Clara.
Porra!
Estou ficando doido, só pode.
— Posso tomar um banho? — pergunto, levantando-me.
Nossa noite acabou aqui.
Não vou ter mais clima depois de ver na mulher que acabou
de me dar um boquete a filha do meu melhor amigo.
— Claro, mas acho melhor tomarmos juntos para
economizar água — fala manhosa, arranhando meu peito com as
unhas compridas, pintadas de vermelho.
— Gata — seguro as laterais do seu rosto —, nosso banho
em conjunto infelizmente vai ter que ficar para a próxima. — Pisco,
lhe dando um beijo rápido nos lábios antes de andar pelo quarto
sem me importar que estou nu, indo em direção ao banheiro.
Ela não precisa saber que não terá uma segunda vez.
Eu nem me lembro do nome dela.
Entro debaixo do chuveiro não me importando da água estar
gelada.
Só preciso tirar o excesso de suor do corpo.
Quando chegar em casa tomo um banho mais caprichado.

Jogo-me na minha cama somente com uma toalha enrolada


na cintura, sentindo os músculos reclamarem das horas de plantões
dados nessa semana e o sexo intenso que fiz horas atrás.
Depois de sair da cama da mulher que não lembro o nome,
demorei um pouco mais de trinta minutos para chegar ao meu
apartamento.
Como é de madrugada, o trânsito estava livre e logo eu
estava debaixo da água quente do meu chuveiro.
Essa não foi a primeira e nem será a última vez que vou
para a cama com uma estranha.
Desde que comecei minha vida sexual aos dezesseis anos,
foram raras as vezes que passei mais de sete dias sem transar.
Acomodo-me um pouco mais no colchão, olhando para o
teto branco.
Como eu pensei na filha do meu melhor amigo depois de ter
recebido um fabuloso sexo oral?
— Porra, eu preciso esquecer isso! — falo em voz alta,
passando as mãos de forma brusca pelo rosto para ver se meu
cérebro entende de uma vez por todas que a Clara é totalmente
proibida para mim.
Mesmo que sua aparência tenha mudado drasticamente
nesse tempo que ficou longe, ela ainda continua sendo a pequena
Clara.
A filhinha da Camila.
A menina que o Henrique adotou e protege como se fosse
sua.
— Só que mais uma vez, mesmo sabendo de tudo isso eu
não consigo tirá-la da porra dos meus pensamentos, nem mesmo
quando estou com uma mulher muito gostosa chupando o meu pau.
— Não ligo em parecer um doido falando sozinho.
Essa semana foi muito estressante para mim.
Tentei a todo custo não manter muito contato com a Clara,
falei com ela apenas o necessário.
Em alguns dias mudei o meu horário de almoço para não
precisar dividir o mesmo espaço que ela, pois sabia que iria almoçar
com a mãe e o pai.
Eu nunca senti tantas sensações tão conflituosas como
estou tendo nesses últimos dias.
E mesmo sabendo o que tenho que fazer, meu pau parece
não concordar com isso.
A Clara não é como as mulheres que eu levo para a cama.
Então jamais posso agir com ela da mesma forma.
Amanhã estou de folga, então vou visitar a minha irmã,
depois vou procurar na minha lista de contatos uma das minhas
amigas coloridas, pois tenho certeza de que isso que estou sentindo
vai passar tendo muito sexo de qualidade.

— Eu estava com saudades de você, sua peste. — Abraço


minha irmã, tirando-a do chão na porta do seu apartamento.
Juliana é vinte anos mais nova do que eu, mas mesmo com
essa grande diferença de idade, sempre fomos muito grudados.
Quando minha pequena nasceu eu já não morava mais com
nossos pais, mas sempre tentei ser presente na sua infância,
mesmo em meio à loucura do curso de medicina.
Claro que fiquei muito surpreso quando minha mãe me
comunicou que depois de anos estava grávida de novo, mas não foi
algo que me incomodou, pelo contrário.
Ela, assim como eu, quando atingiu a maioridade foi morar
sozinha, também em um apartamento que foi dado pelos nossos
pais, porém, localizado mais próximo à casa que eles moram.
Juliana atualmente está cursando administração e fazendo
estágio em uma das empresas da família.
— Eu também estava com saudades do meu irmão
preferido.
— Como se você tivesse outro!
Passando pela porta, me deparo com um apartamento bem
parecido com o meu.
A diferença é que aqui tem mais cara de lar e nitidamente
uma mulher mora nele.
Pois por todos os lados que meus olhos pousam vejo vasos
com diferentes tipos de flores, além das almofadas coloridas que
têm no sofá.
— Como você está, boneca? — pergunto quando Juliana
senta ao meu lado no sofá, encostando sua cabeça com seus
cabelos loiros da mesma cor dos meus em meu peito.
Desde que nasceu eu a chamo assim.
E mesmo já tendo vinte anos, eu não consigo enxergá-la
como uma mulher independente que sei que é.
Todos os outros conhecem o Ricardo mulherengo e
brincalhão.
Mas Juliana tem a minha melhor versão.
Com ela me permito ser fofo e carinhoso.
Passo as pŕoximas horas em seu apartamento conversando
sobre como foi nossa semana.
Apesar de nos falarmos todos os dias por WhatsApp,
sempre quando tenho uma folga venho visitá-la ou ela vai até o meu
apartamento.
As conversas com a minha irmã são sempre leves e
descontraídas.
Almoçamos juntos, comendo uma comida preparada por
mim.
Apesar de não fazer muito por causa da minha rotina
puxada no hospital, eu gosto bastante de cozinhar e até que levo
jeito com as panelas.
Quando o sol está quase se pondo saio do seu
apartamento, rumo ao meu, para tomar um banho e trocar de roupa,
porque hoje é sábado e para um solteiro a noite é só uma criança.
Capítulo 6
— Bom dia! — cumprimento Clara sem parar de andar, indo
para o meu consultório.
Eu não quero ser mal-educado ou grosso, mas quero me
manter um pouco afastado, pelo menos enquanto me acostumo com
sua nova aparência.
— Bom dia, Ricardo. — Só que ela não parece ter os
mesmos planos que eu, pois me segue, — Eu já imprimi todos os
exames dos pacientes que você tem agendado para hoje.
Sua voz sexy ao mesmo tempo doce arrepia os pelos da
minha nuca.
Cadê a voz infantil que essa menina tinha, Jesus?
Paro de andar repentinamente, me virando em sua direção.
Quero me livrar dela o mais rápido possível.
Só que isso foi uma péssima ideia, pois Clara tromba com o
corpo no meu, me fazendo sentir o cheiro que exala da sua pele que
parece ser tão macia, por estarmos tão próximos.
Sinto meus dedos formigarem com a vontade de levar minha
mão ao seu rosto e comprovar minha teoria.
Nunca ficamos tão próximos um do outro dessa forma.
Clara é uns vinte centímetros menor que eu, mesmo usando
salto alto, como hoje.
Seu rosto parece muito com o da sua mãe, mas tem
bochechas menores.
Seu nariz é pequeno e arrebitado.
Estando tão perto, percebo que seus olhos, que sempre
pensei que fossem apenas castanhos, tem uns raios azulados em
sua volta.
Acredito que essa característica tenha puxado da bisavó.
Dona Heloísa tem lindos olhos azuis-petróleo.
Eu nunca me importei em perguntar a idade das mulheres
que levo para cama.
Nunca me importei com cor de pele, cabelo ou peso.
Sendo mulher já é o suficiente para mim.
Só que a pessoa que está parada na minha frente, com a
cabeça inclinada por causa da nossa diferença de altura, olhando
dentro dos meus olhos com tanta intensidade, me faz esquecer
momentaneamente o que é certo e errado.
Como eu posso estar querendo loucamente beijar a boca
pequena e bem desenhada da menina que é filha do meu melhor
amigo?
— Ricardo! — Clara sussurra, fazendo uma carga elétrica
percorrer por todo o meu corpo, parando exatamente onde não
devia.
No meu pau.
Filho da puta.
Trabalhou o domingo inteiro, e mesmo assim fica duro com
quem não deve.
— Éee... — Arranho a garganta, a sentindo seca de repente,
em seguida dou um passo para atrás. — Obrigado Clara. — Tiro as
pastas da sua mão, volto a lhe dar as costas, sentando na minha
cadeira.
Alguém precisa ser maduro aqui, já que percebi que ela está
disposta a atazanar meu juízo.
Clara não deveria me olhar com tanto desejo.
Não mesmo.
Ela é só uma menina, que ontem ainda brincava de boneca.
— Se precisar de alguma coisa só me avisar. — Ergo o
rosto, a encontrando ainda parada no meio da sala, com o peito
subindo e descendo rápido.
Apenas balanço a cabeça confirmando.
Clara me lança um olhar cheio de significados antes de se
virar, saindo do consultório me dando total visão do seu perfeito
corpo, moldado pelo uniforme.
Até mesmo com essas peças horrorosas ela consegue ficar
gostosa, imagina sem nada.
— PORRA, Ricardo! Esquece isso, cara, esquece! —
recrimino-me, voltando minha atenção para as pastas com os
exames.

Clara

Saio da sala do Ricardo sentindo meu coração quase sair


pela boca.
Acho que ele conseguiu ouvir de tão forte que ele está
batendo.
Nunca tínhamos ficado tão próximos um do outro como hoje.
Assim como combinei com a Cintia, tentei me arrumar um
pouco mais, antes de vir para o hospital.
Não gosto de passar muita maquiagem, mas hoje usei base,
blush, rímel e batom, tentando destacar os pontos fortes do meu
rosto, além de caprichar no meu perfume preferido.
Diferente da outra semana, optei por usar um sapato com
salto mais alto.
Acho-me mais sexy quando estou com eles.
Mas nada me preparou para a maneira que Ricardo me
olhou.
Será que eu estou ficando doida em achar que vi desejo em
seus olhos azuis?
O calor que o seu corpo emanava, quase me fez implorar
para que ele me beijasse.
Mas o momento passou mais rápido do que eu pensei, e no
final ele se afastou, como se nada tivesse acontecido.
Só que realmente alguma coisa aconteceu, ou foi o meu
desespero que está me pregando uma peça?
Sento na frente do computador, tirando meu celular do
bolso, mandando uma mensagem para Cintia para contar o que
acabou de acontecer.
Eu preciso compartilhar com alguém o que acho que vi em
seus olhos, ou vou ficar doida.
Depois de perder uns dez minutos do meu trabalho
conversando com a minha melhor amiga e tendo que lidar com a
empolgação dela com o que contei, volto para as minhas tarefas,
pois estou na fase de experiência e não quero abusar da boa
vontade da minha supervisora.
A manhã passa relativamente tranquila.
No terceiro andar eu percebi que as coisas não são tão
agitadas iguais aos outros setores.
Nesse andar onde meu pai arrumou a vaga de recepcionista
para mim, os médicos só atendem com consulta marcada, quando
estão de plantão na emergência ficam em uma sala no primeiro
andar.
Como minha mesa fica em frente ao consultório do Ricardo,
ouço o barulho da porta sendo aberta, largo a caneta que estava
segurando, pego meu celular que estava ao lado do teclado,
colocando na orelha, mesmo sem ter nenhum tipo de ligação nele.
Mas o Ricardo não precisa saber disso.
Espero que a Cintia esteja certa na sua teoria.
— Eu também estou com saudades de você — falo,
tentando fazer minha melhor voz sedutora quando o médico
aparece na porta, mas para no batente dela, sem disfarçar que está
prestando atenção no que eu falo. — Você podia ir no meu
apartamento hoje, o que acha, Arthur?
Preciso segurar o riso quando vejo seus lindos olhos azuis
se arregalarem.
— Sim, estou morando sozinha, então vamos ter toda a
privacidade que precisamos. — Dou um risinho tímido, quando
supostamente ouço a pessoa me responder e abaixo os olhos,
focando no teclado, para não me desconcentrar.
— Espero que você cumpra su... — Paro de falar quando
ergo meu rosto e vejo um touro bravo vindo em minha direção.
— O seu pai sabe que você anda de sem-vergonhice com
esse moleque? — ele fala baixo, mas com a voz rouca.
Mais um pouco ele babaria igual um cachorro com raiva.
— Depois nos falamos, querido. — Finjo me despedir,
levanto da cadeira, fico em pé, frente a frente com ele, tendo apenas
a mesa nos separando. — Você precisa de alguma coisa, doutor
Ricardo? — Não tento disfarçar meu tom sarcástico.
Minha pergunta parece tê-lo deixado com mais raiva ainda.
— Eu duvido que o Henrique vai deixar você continuar
morando sozinha quando descobrir que você quer levar homens
para o seu apartamento.
Tenho que me controlar para não gargalhar alto.
— Eu já tenho vinte anos, Ricardo, vinte! — Fico na ponta
dos pés, para encará-lo olho no olho. — Meu pai não é meu dono,
ninguém é, eu posso fazer o que quiser, inclusive transar com quem
quiser e na hora que eu quiser.
— Não me provoque, menina. — Ele segura meu braço,
aproximando seu tronco do meu. — Você não tem idade para essas
coisas, acabou de sair das fraldas, eu sinto cheiro de leite em você,
Clara.
Filho da puta!
— Acorda, Ricardo, eu não sou uma menina há muito tempo
e enquanto você acha que eu ainda sou uma criança, os outros
homens já perceberam que virei uma mulher.
Sinto o calor do seu hálito bater em meu rosto e nossos
narizes tocarem as pontas por causa da nossa proximidade.
Eu acho que agora eu cutuquei o leão com a vara curta.
Vejo tanta raiva em seus olhos, mas também enxergo
desejo no azul que agora está parecendo um mar revolto.
Não desvio meus olhos do seus nem por um segundo.
Ele precisa entender de uma vez por todas que eu
realmente cresci e me tornei uma mulher.
Mulher essa que está disposta a conquistá-lo.
— Tudo bem aqui? — Quando a voz do meu tio Heitor
chega até nossos ouvidos, Ricardo me solta, me fazendo sentir falta
do seu toque no instante seguinte.
Heitor olha de mim para o amigo com um olhar
questionador.
Com certeza estranhando a proximidade que estávamos.
— Pergunte para sua sobrinha! — o cardiologista responde,
antes de virar as costas e voltar para dentro do seu consultório.
— O que foi isso, Clara? — meu tio indaga, sentando na
borda da mesa, apontando para a porta fechada da sala do amigo.
— O Ricardo me ouviu conversando com um amigo pelo
celular e entendeu tudo errado. Ele ainda acha que sou uma
criança. — Reviro os olhos, dando a volta na mesa, parando em sua
frente.
— É que para o seu pai e para nós, você sempre será
apenas uma menina, minha pequena. — Abraça meus ombros,
fazendo cafuné nos meus cabelos. — Mesmo tendo crescido e
mudado fisicamente. — Deposita um beijo na minha testa. — O
Ricardo só quer te proteger, tenho certeza de que ele te considera
como se fosse uma sobrinha.
Não consigo esconder a careta de desgosto que faço
quando ouço falar isso.
Eu nunca vi o Ricardo como meu tio, e pode ser que no
passado ele me visse assim como o Heitor disse, mas depois da
cena de ciúmes que ele acabou de fazer, tenho certeza de que isso
mudou desde a minha volta.
Ele não agiu como um pai ou tio preocupado, mas sim como
um namorado ciumento.
Tenho que me controlar para não fazer uma dancinha da
felicidade.
Foi a Cintia que teve a ideia de tentar fazer ciúmes para ele
e ver o resultado.
— Vamos almoçar? — Heitor me tira dos meus
pensamentos, quando pergunta, olhando para o celular.
— Vou só esperar a outra recepcionista vir para cobrir o meu
almoço.
— Tudo bem, me manda uma mensagem avisando quando
ela chegar para descermos juntos. — Deixa outro beijo na minha
testa, antes de voltar para o seu consultório que fica ao lado do
amigo.
Respiro fundo, me encostando na mesa.
Antes do Henrique reencontrar minha mãe, minha família
era somente eu, ela e minha bisavó.
Eu era feliz com nossa pequena família, mas desde esse
reencontro ganhei avós, tios e tias maravilhosos e muito carinhosos.
Se eu me sentia amada antes, com eles na minha vida tudo
se tornou perfeito, mas o Ricardo nunca entrou na minha lista de
parentes.
Eu nunca o vi como um tio, como considero Heitor ou o
Afonso.
Mesmo ele até agora só me tratando apenas como a filha
adolescente de uma amiga, meu coração sempre teve um carinho
diferente por esse homem.
Capítulo 7

— Está tudo bem? — Henrique me pergunta, sentado ao


meu lado à mesa que sempre usamos quando frequentamos o bar
que fica ao lado do hospital que trabalhamos.
A maioria dos frequentadores são os funcionários, que
depois de um plantão estressante, buscam um pouco de distração
com música ao vivo e boa companhia.
Os donos do bar se preocuparam em colocar paredes com
abafamento acústico para não incomodar os pacientes do hospital
com a música alta.
Faz anos que eu e os caras frequentamos esse lugar.
O ambiente é bem retrô, com paredes coloridas, discos de
vinil por todos os lados e vários quadros com fotos de clientes.
O palco que fica no centro do ambiente normalmente é
preenchido por uma banda de pagode.
Eu já fui embora muitas vezes acompanhado de mulheres
que conheci aqui.
Como o hospital que trabalhamos está localizado em um
bairro bastante comercial, os funcionários das empresas que ficam
ao redor, também o frequentam.
— Eu estou bem sim. — Tomo um gole da minha cerveja.
Afonso e Heitor foram ao bar buscar mais bebidas.
— Você parece um pouco aéreo.
Eu realmente estou, mas como vou falar para ele, que o
motivo é sua filhinha que anda atormentando meu juízo desde que
começou a trabalhar na frente do meu consultório?
— Eu acho que é cansaço, fiz uns plantões na emergência
essa semana — falo, passando as mãos pelo rosto, desviando os
olhos dos seus, pois sinto vergonha do que estou sentindo pela sua
filha.
Apesar de realmente estar cansado, porque na emergência
as coisas são bem mais agitadas do que quando fico apenas no
consultório, esse tempo serviu para eu me manter longe da Clara,
pelo menos fisicamente.
— As meninas chegaram — ele fala empolgado ao meu
lado, antes de se levantar, e ir encontrar a esposa no meio do
caminho.
Junto com a Camila, chegou também Rebeca, Fernanda e
para o meu desespero a Clara.
Como essa menina consegue ficar mais bonita a cada dia?
Clara está com os cabelos ondulados e soltos.
Ela veste um vestido preto brilhoso, um pouco acima do
joelho, mais colado no corpo todo, com a parte de cima sendo
ombro a ombro, deixando uma boa parte do seu colo exposto.
Como o Henrique deixa a filha sair desse jeito?
— O que você está fazendo aqui? — pergunto sem pensar,
quando ela se aproxima da mesa, chamando atenção de todos com
a minha pergunta.
— Boa noite para você também, Ricardo, e respondendo à
sua pergunta, eu vim fazer a mesma coisa que você, desestressar
da semana corrida que tivemos.
— Sua filha não é muito nova para frequentar esse
ambiente, não? — agora falo olhando diretamente para o meu
amigo.
— Em qual século você vive, Ricardo?— é Rebeca quem
pergunta.
Ela, Camila e Fernanda são as únicas mulheres que tenho
uma relação, sem ter algum tipo de benefício sexual.
Ela tem cabelos pretos cacheados e pele negra, alta, além
de um corpo que literalmente para o trânsito.
Camila é baixinha, tem cabelos lisos que batem até próximo
à sua bunda, que o Henrique não imagine o que penso sobre a sua
mulher, mas que bunda.
Fernanda, a esposa do Heitor, também tem baixa estatura,
mas diferente das outras, seu corpo é todo pequeno, ela tem um ar
angelical.
Mas apesar de toda essa beleza, eu nunca me senti atraído
por nenhuma delas.
Isso só me deixa mais confuso ainda com o que ando
sentindo pela Clara, como isso foi acontecer justamente com ela?
Como o meu cérebro não consegue entender que ela é filha
do meu melhor amigo, ou seja, proibida para mim.
— O Ricardo ainda não aceitou que eu cresci, Rebeca —
Clara fala, sentando-se ao meu lado.
— Eu às vezes esqueço também, ontem você era apenas
uma menina, hoje já está morando sozinha — Henrique diz,
parecendo sentir dor.
— Esse é o meu ponto — falo empolgado, apontando com a
mão na direção dele. — O que essa menina tomou, pelo amor de
Deus?
Todos riem da minha fala, sem saberem que minha
frustração é realmente genuína.
Clara

Sorrio, fingindo que estou prestando atenção na conversa


que está rolando na mesa, mas a verdade é que meu corpo está
totalmente em alerta por estar sentada tão próxima de Ricardo.
Ele está tão lindo.
Sem o jaleco branco, está usando uma camisa social azul-
clara, com as mangas dobradas até os cotovelos.
Seus olhos sempre ficam mais azuis quando usa roupas
claras como hoje.
Sem falar no seu perfume, que me deixa sentindo
borboletas no estômago toda vez que ele chega até o meu olfato.
Quando a minha mãe comentou que hoje as crianças iriam
para a casa da vó Selma, junto com a minha bisa e que todos iriam
para o barzinho que fica ao lado do hospital, eu não pensei duas
vezes em me autoconvidar.
Essa é a primeira vez que venho nesse lugar.
Por não ter muitos amigos festeiros, eu não frequento
muitos bares ou baladas.
Como saí do país logo que completei dezoito anos, meus
passeios com a Cintia normalmente eram para shoppings, livrarias e
cinemas.
Meus pais e seus amigos frequentam esse bar há anos, mas
todas as vezes por causa da minha idade eu ia para a casa da
minha vó, participar da sua famosa festa do pijama da vovó Selma,
com direito a camiseta e copos personalizados.
Claro que quando o Henrique soube que eu viria, torceu um
pouco o nariz, mas bastou um olhar torto da minha mãe para ele
não falar nada sobre minha vinda.
Assim que acabou o meu expediente no hospital, como nem
todos já estavam liberados das suas tarefas, passei em casa para
tomar um banho e trocar de roupa.
No momento em que vi os olhos do Ricardo em minha
direção quando cheguei, tive a certeza de que fiz a coisa certa em
escolher esse vestido para usar e me preocupar um pouco mais
com a minha aparência.
Quando minha mãe estava aqui na frente, ela me mandou
uma mensagem avisando que já tinha chegado com as minhas tias
Rebeca e Fernanda, então eu desci do meu apartamento para
encontrá-las.
Eu não sei quanto tempo faz desde que cheguei, mas
estava sendo muito bom estar com todos eles.
Apesar de todos serem bem mais velhos do que eu, me
sinto bem em suas companhias.
Afinal, considero todos a minha família, tirando o Ricardo é
claro.
— E como anda os namorados, Clarinha? — Rebeca
pergunta, me olhando pela borda do seu copo, com um sorriso
malicioso nos lábios.
Tenho certeza de que ela faz esse tipo de pergunta para
provocar o meu pai, pois sabe que ele é ciumento e protetor.
— Está doida, Rebeca? Minha filha ainda não tem idade
para namorar. Ela também está focada no seu trabalho e em decidir
qual profissão vai seguir. Um namoro agora, só serviria como
distração.
Não consigo segurar e reviro os olhos com a fala dele.
Aff.
O que eu vou precisar fazer para esses homens entenderem
que eu cresci, gente?
— Eu tenho que rir viu, Henrique, olha para a sua filha,
homem — Rebeca aponta para mim — ela cresceu e se tornou uma
mulher linda. — Sinto minhas bochechas corarem, por ser o centro
das atenções. Todos os olhares estão em minha direção. — Deve
ter um monte de pretendentes, tenho certeza de que não vai
demorar muito para aparecer um te chamando de sogro.
Ricardo ao meu lado engasga com a sua bebida, enquanto
todos da mesa gargalham com a fala da Rebeca, menos o meu pai.
— Eu também acho que a Clara é muito nova para já
começar se envolver com um homem — Heitor começa a falar, mas
quando percebe a cara feia que a Fernanda faz ao seu lado, pega a
mão dela que estava em seu colo, beijando o dorso, — Mas se ela
arrumar um homem que realmente queira nos apresentar como
namorado, essa pessoa tem que ter noção que terá que enfrentar
um pai e tios bem protetores. — Pisca para mim, com um sorriso
cúmplice nos lábios.
Ele sempre foi mais brincalhão que o irmão, mas tenho
certeza de que dessa vez sua fala não é brincadeira.
Ricardo não falou nada desde que esse assunto foi
colocado na mesa.
Contudo, sinto que está incomodado com algo, pois parece
inquieto sentado no seu lugar.
Esse papo dos homens alfas da minha família, só vai atrasar
a evolução que eu estava tendo com ele.
Tenho certeza.
— Eu vou no bar pegar mais algumas bebidas, já volto —
Ricardo diz, antes de se levantar e sair.
O bar não está tão cheio, mas de onde estamos sentados,
não consigo enxergá-lo já que fica no outro extremo do salão, pelas
pessoas que estão conversando em pé no meio do caminho.
— Eu vou ao banheiro, já volto — falo para ninguém em
especial, depois que passaram cinco minutos que o Ricardo se
levantou e não voltou.
Como eu não estou acostumada a beber e nem quero tomar
o meu primeiro porre estando em companhia dos meus pais, desde
que cheguei estou enrolando com apenas um copo de caipirinha,
então estou totalmente sóbria, quando começo a procurar o Ricardo
por todos os lugares.
Sinto meu coração bater rápido com a expectativa do
iminente encontro, pois além de estar me arriscando de alguém que
nós conhecemos nos ver, tenho medo de acontecer a mesma coisa
do meu aniversário de dezoito anos.
Capítulo 8

Eu precisava sair daquela mesa e respirar um ar que o


perfume da Clara não estivesse presente.
A desgraçada ainda se sentou do meu lado para piorar a
minha situação.
Eu passei a noite toda sem conseguir de fato relaxar e
apreciar o momento com os meus amigos.
Quem teve a brilhante ideia de convidá-la?
Deve ter sido a Camila, ela é o tipo de mãe compreensiva e
amiga, o Henrique deixou claro que acha a mesma coisa que eu
sobre a filha ainda ser só uma menina.
Depois que saí da mesa, fui em direção ao bar para tomar
um gole de alguma bebida um pouco mais forte que cerveja.
Fiquei um tempo jogando conversa fora com o bartender
que também é um dos sócios, enquanto procurava pelas pessoas
em volta uma companhia para passar a noite.
Um tempo depois e algumas doses de uísque, sem me
interessar por nenhuma mulher, sigo em direção ao banheiro para
jogar água no rosto, pois vou voltar para a mesa onde meus amigos
estão e preciso me preparar para agir com indiferença com a Clara
por mais alguns minutos.
Os sanitários ficam localizados em um corredor estreito na
lateral do bar.
O local tem três portas, uma do lado direito para as
mulheres, do lado esquerdo para os homens e uma no final do
corredor, que acredito ser a saída dos funcionários.
Entro no banheiro masculino, paro na frente do pequeno
espelho preso à parede.
Meus cabelos loiros sempre bem arrumados com pomada,
está todo fora do lugar, de tanto que passei as mãos neles.
Desabotoo mais um botão da minha camisa, abro a torneira,
jogando água fria no rosto, para ver se ajuda a clarear um pouco os
meus pensamentos.
Se eu não me acalmar, alguém vai acabar percebendo meu
nervosismo quando estou perto da Clara, e obviamente não quero
que isso aconteça.
Antes de colocar a mão na fechadura da porta, ouço uma
conversa, que faz o meu sangue ferver quando escuto a voz
feminina.
— Você é muito linda, sabia?
— Obrigada. — Mesmo com a parede nos separando,
consigo ouvir a resposta da Clara.
Sem pensar muito nas consequências, abro a porta de
forma brusca, encontrando-a encostada na parede, com um babaca
com um dos braços apoiado na parede ao lado da cabeça dela e a
outra mão no bolso da calça.
Quando seus olhos encontram os meus, vejo um brilho de
malícia neles e um sorriso nascer em seus lábios.
— O que você ac...
— Demorei muito, amor? — a corto, pois tenho certeza de
que ela irá falar alguma coisa que me deixará com mais raiva,
enlaço sua cintura, arrastando seu corpo para próximo ao meu.
Eu devia apenas seguir o meu caminho e voltar para a
mesa? Com certeza.
Mas só de imaginar a Clara perto de outro homem, meu lado
possessivo grita e não de um jeito paterno.
— Você estava esperando ele? — Por que esse cara ainda
não vazou?
Clara apenas balança a cabeça confirmando, então ele dá
de ombros, vira as costas e sai em direção ao centro do palco.
— O que foi isso, Ricardo? — diz, se soltando dos meus
braços, me olhando brava.
— Eu te livrei daquele cara. Você não devia dar trela para
estranhos. — Encosto-me na parede, com os braços cruzados.
— Nossa, meu salvador — revira os olhos —, mas muito
obrigada, tio Ricardo, só que eu não preciso da sua proteção, só iria
me divertir um pouco com ele.
Em um rompante, envolvo meus dois braços em sua cintura
fina, a trazendo de volta para perto do meu corpo.
Nossos narizes estão grudados e consigo sentir o calor da
sua respiração bater em meu rosto.
— Não brinque comigo, menina! — Clara me olha com tanta
intensidade e desejo, que sinto cada célula do meu corpo reagir.
— Quando você vai entender que eu deixei de ser uma
menina há muito tempo, tio Ricardo? — A filha da puta está me
chamando dessa forma para me provocar.
Todo o desejo que tenho por ela, com certeza não é um
sentimento de tio por sua sobrinha.
Arrasto uma das minhas mãos, fazendo um caminho pela
sua cintura, passando pelos seus braços nus, sentindo seus pelos
se arrepiarem por onde minha pele toca.
Chego à sua bochecha corada, fazendo carinho com o
polegar.
— Eu não devia sentir isso por você, Clara — sussurro, com
a boca a centímetros da sua.
Como estamos com os corpos colados, sinto o peito dela
subir e descer em um ritmo acelerado, no mesmo compasso que o
meu.
Estar tão perto dela faz o sangue que corre pelas minhas
veias borbulhar.
— Eu também não queria sentir isso por você, Ricardo, mas
eu sinto.
Essa voz suave e esses olhos inocentes e doces serão a
minha perdição.
— Porra, sei que vou me arrepender, mas foda-se. — Sem
ela esperar, nos arrastamos para dentro do banheiro.
Encosto as costas da Clara na porta fechada sem muita
delicadeza e sem falar mais nada avanço em sua boca.
O toque entre nossos lábios faz uma corrente elétrica
percorrer todo o meu corpo, parando no meio das minhas pernas.
Pressiono mais meu quadril no seu, invadindo a sua boca
com a minha língua.
Aprofundo o beijo, enquanto uma das minhas mãos segura
sua nuca, controlando os movimentos da sua cabeça, a outra
percorre entre sua cintura e bunda.
Meus pensamentos estão nublados pela luxúria.
Tudo que quero agora é me fundir à Clara.
Ela parece sentir tudo com a mesma intensidade que eu,
pois seu peito sobe e desce no mesmo ritmo acelerado do que o
meu.
Suas mãos entram por debaixo da minha camisa,
passeando pelo meu abdômen, me fazendo estremecer a cada
centímetro de pele que sua mão toca.
— Clara — gemo quando largo sua boca, fazendo um
caminho entre lambidas e beijos até o lóbulo da sua orelha.
Sentir de perto seu perfume floral, me enlouquece ainda
mais.
— Vai demorar muito aí? — Dou um passo para trás,
quando ouvimos murros dados na porta.
Clara também se distancia da entrada, mas não parece
estar tão atormentada com o que acabamos de fazer como eu.
Ela está com os cabelos bagunçados e o batom borrado por
causa dos nossos beijos, mas nunca esteve tão linda.
— Merda, o que eu fiz!? — Ando de um lado para o outro,
levando as mãos aos cabelos.
Merda!
Merda!
— Ricardo... — fala baixo, tentando se aproximar.
— Não, Clara, isso foi um erro. Porra, você é a filha de um
dos meus melhores amigos. Como eu vou olhar na cara do
Henrique agora? — Olho para o teto, esperando uma resposta
divina.
Quando volto meu rosto para o dela, vejo lágrimas não
derramadas em seus lindos olhos, mas respiro fundo, para não fazer
mais merda.
— Me desculpa. — Minha voz sai baixa e rouca, antes de
abrir a porta, indo em busca da saída sem me importar em olhar
quem estava do lado de fora do banheiro.
Quando chego à calçada, sinto o ar fresco da noite bater em
meu rosto.
Olho para o céu estrelado, me sentindo desnorteado.
Tiro o celular do bolso, mandando uma mensagem para o
Afonso, apenas avisando que estou indo embora.
Eu tenho certeza de que eles vão achar que estou saindo
em companhia de alguma mulher, porque é o que normalmente
acontece, mas hoje vou para o meu apartamento, tomar um banho
gelado e tentar colocar meus pensamentos no lugar.

Mais uma vez estou parado na frente de um espelho


olhando o homem que reflete nele.
Eu tenho quase quarenta anos, uma boa aparência e
dinheiro na conta que sustentaria muitas das minhas gerações, mas
nunca me senti tão perdido como agora.
Saí tão transtornado do bar que nem sei como não tive
algum acidente de trânsito.
Quando cheguei ao meu apartamento comecei a tirar as
minhas roupas assim que passei pela porta de entrada,
desesperado para tomar banho e tirar o cheiro da Clara de mim.
Só que mesmo depois de passar minutos debaixo de uma
água quase congelante, esfregando com força meu corpo com a
bucha cheia de sabonete, ainda consigo sentir o perfume dela e as
sensações dos seus toques por onde suas mãos passaram.
Fecho os olhos, relembrando seu olhar magoado que me
direcionou antes de eu sair do banheiro.
— Porra! — Bato com o punho fechado na bancada de
mármore. — Isso não era para ter acontecido.
Saio do banheiro somente com uma toalha enrolada na
cintura e antes de me jogar no sofá da sala, pego uma garrafa de
uísque no barzinho que tenho próximo ao painel da televisão, sem
me importar em pegar um copo.
Eu sempre bebo para me distrair e divertir, mas hoje vou
usar o álcool para entorpecer os sentimentos conflituosos que
rondam os meus pensamentos.
Porque por um lado sinto que de alguma forma traí um dos
meus melhores amigos, do outro tive o melhor beijo que já dei em
uma mulher.
Clara me fez vivenciar sentimentos que eu nem sei
descrever em palavras, pois desconhecia esse tipo de sensação.
Capítulo 9

— Está tudo bem, filha? — Desvio meus olhos da foto de


perfil do WhatsApp que não sei por quanto tempo estou encarando
quando ouço a voz da minha mãe.
Como hoje ambas estamos de folga, resolvi passar o dia
com ela, minha vó e Vitória.
Eu aprendi a gostar de morar sozinha e ter minha
privacidade e independência, mas não tem sensação melhor do que
estar com as mulheres da minha vida.
— Está sim, mãe. — Desvio meus olhos de volta para o
aparelho, saindo do contato do Ricardo, para não correr o risco da
dona Camila ver.
Hoje faz uma semana que nos beijamos, e ele simplesmente
sumiu depois disso.
Meu pai disse que o Ricardo apenas mandou uma
mensagem no grupo do WhatsApp que eles têm com os amigos,
avisando que estava acontecendo uma semana de palestras sobre
cardiologia em outra cidade e ele resolveu de última hora participar,
por isso ficaria uns dias fora.
Está mais claro do que água que isso é mentira, e que na
verdade ele está fugindo de mim como um covarde.
Quando eu estava no Estados Unidos fui algumas vezes a
algumas festas universitárias e cheguei a beijar alguns meninos,
mas nenhuma das minhas experiências me fez sentir 1% do que o
Ricardo fez.
No momento em que eu fui para o corredor dos sanitários, já
tinha desistido de encontrá-lo.
Achei que Ricardo já tinha encontrado uma mulher e ido
para o seu apartamento curtir a noite com ela.
O rapaz que me abordou até que era bonito, mas eu não
pretendia levar a nossa conversa muito adiante.
Porém, fui pega de surpresa quando Ricardo saiu do
sanitário masculino e mais ainda quando se passou por meu
acompanhante para afugentar o que ele acreditava ser meu
pretendente.
— Clara? — Saio dos meus pensamentos quando sinto a
mão quente da minha mãe tocar a minha. — Você está mesmo bem,
meu amor? Está com uma carinha abatida e tão distraída nesses
últimos dias.
Desvio meus olhos dos seus, pois ela sendo a pessoa que
mais me conhece no mundo, acredito que só de olhar ela irá saber o
que está acontecendo comigo.
Mesmo confiando muito nela, ainda não tenho coragem para
falar sobre o assunto Ricardo com ela.
— Você sabe que pode conversar comigo sobre qualquer
coisa, né? — Acaricia meus cabelos, que agora não são mais
parecidos com os seus.
— Você acha que pessoas com idades muito diferentes
podem ter um relacionamento e dar certo? — Não vou dar muitos
detalhes, mas eu preciso ouvir um pouco dos seus conselhos
sábios, para ver se o aperto que estou sentindo em meu coração
passa.
Será que eu pensar e sonhar em um dia ter uma relação
pública com o Ricardo é muita loucura da minha parte?
— Clara, eu acho que quando duas pessoas realmente se
amam, não tem diferença de idade, personalidade ou meio social
que as impeça de ficarem juntas. Quando os dois se amam, vão
lutar juntos contra qualquer obstáculo.
— Você e o Henrique são a prova viva disso. — Rimos, pois
meus pais provaram na prática que o amor deles é mais forte do
que qualquer obstáculo que apareça.
— Você está se envolvendo com alguém?
— Não, mãe — olho para o celular em cima do meu colo,
mais uma vez desviando meus olhos dos seus —, mas tem uma
pessoa, eu só não sei se os sentimentos são recíprocos.
— Por que você tem essa dúvida, meu amor? Ele nunca
falou sobre seus sentimentos ou demonstrou estar também
interessado em você?
— Para falar a verdade, até tenta me manter distante, mas
quando ele me olha, mãe, eu sinto uma coisa tão forte aqui dentro.
— Aponto para o lado esquerdo do meu peito.
— Ele trabalha no hospital?
— Não. — Tento controlar a voz para ela não perceber a
mentira. — Ele é um amigo da Cintia.
— Você sente que vale a pena lutar por uma relação entre
vocês?
— Eu não sei, mãe — tenho vontade de chorar —, mas eu
não queria desistir sem tentar, sabe?
— Meu amor, eu não posso te dar a certeza de que dará
certo esse relacionamento e nem que você não terá seu coração
partido nesse processo. — Mal sabe ela que eu já tive. — Mas se
realmente for para vocês ficarem juntos, isso irá acontecer, não
importa as batalhas que vocês terão que enfrentar.
Respiro fundo, querendo muito que o Ricardo seja a pessoa
certa para mim.
— Você acha que o papai irá ficar muito bravo quando eu
trouxer um namorado aqui em casa? — Ela ri com a minha
pergunta.
— Henrique mais ladra do que morde, Clara. Com certeza
vai querer colocar medo no rapaz no primeiro momento, se fazendo
de mau e tudo mais, porém, ele assim como eu e sua bisa, só
queremos a sua felicidade. Uma hora o Henrique vai ter que aceitar
que você cresceu.
Eu tenho certeza de que quando ele descobrir que esse
rapaz é na verdade o melhor amigo dele, que é quase vinte anos
mais velho do que eu, não irá apenas colocar medo, contudo, não
falo isso em voz alta.
— Obrigada, mãe, eu te amo. — Arrasto-me para ficar mais
próxima dela no sofá, a abraçando.
— Eu também te amo muito, minha princesa.
Continuo abraçada com ela, apreciando o carinho que
recebo nos cabelos.
Acho que nem quando eu for muito mais velha vou me
cansar de ter o colo da minha mãe.
— Vamos almoçar? — Dona Heloisa entra na sala.
Ela tem mais de oitenta anos e por isso hoje anda com um
pouco mais de dificuldade.
Desde que ela teve a primeira crise de convulsão anos
atrás, eu, minha mãe e principalmente ela, tivemos que nos
readaptar à sua nova realidade, mas mesmo sendo um pouco mais
frágil do que antes, ainda exala vitalidade.
Levanto, a encontrando no meio do caminho.
— Eu te amo, Bibi — a chamo pelo apelido carinhoso que
uso desde que era criança.
— Eu também te amo muito, minha boneca. — Mesmo não
sendo muito alta, preciso abaixar um pouco para ela beijar minha
bochecha. — Amo muito vocês duas. — Assim que fecha a boca,
ouvimos o som manhoso do choro de Vitória, avisando que acordou
do seu soninho. — Vocês três, na verdade.
Minha mãe segue para o quarto para pegar a caçula,
enquanto eu e a dona Heloísa vamos preparar a mesa para
almoçarmos.
Esses momentos com elas são os meus favoritos.

— Esse Ricardo nem parece que tem quase quarenta anos


nas costas, está agindo como um adolescente bundão. — É
impossível não rir com a Cintia em seu modo indignada.
Depois que eu saí da casa da minha mãe quando já era
quase noite, chamei minha amiga para dormir hoje no meu
apartamento e fazermos uma noite das meninas com direito a muito
chocolate, sorvete e comidas gordurosas.
Estou precisando desse momento deprê antes de ter que
reencontrar o Ricardo na segunda.
Pelo menos acho que vai ser na segunda, se ele não
inventar outro curso de última hora para fazer.
— Mas um bundão bem gostoso — falo rindo, antes de
colocar uma colherada de sorvete de flocos com leite condensado
na boca.
— Aff, Clara, pior que você tem razão, eu fucei o instagram
dele e deveria ser pecado ser tão bonito e gostoso assim, é até
injusto com os outros homens, na verdade, amiga — pausa,
também colocando um pouco de comida na boca —, com todo o
respeito, é claro, mas o seu pai e o seu tio, pelo amor, que homens
perfeitos. — Se abana com a mão, enquanto eu faço careta. — E
Deus foi tão bondoso que mandou dois iguais. — Ela mesma
gargalha com sua fala. — Não podemos esquecer do Afonso, né?!
Ele tem aquela carinha de tímido, meio caladão, mas é outro pedaço
de mau caminho.
— Todos eles são lindos mesmo, mas dois deles já tem
donas, e o Afonso só falta ele se declarar para a Rebeca.
— Como assim? Eles se gostam? — pergunta, parecendo
chocada.
— Desde que eles viraram amigos da minha mãe eu percebi
que a Rebeca olha de uma forma diferente para o Afonso, ela não
trata ele da mesma forma que trata os outros, eles juram de pé
juntos que são só amigos, mas, já vi ele também tendo uns
momentos de ciúmes com ela. Acho que os dois se gostam, mas
não querem assumir o que realmente sentem para não estragar a
amizade.
— Será? — Abandona o pote com sorvete em cima da mesa
de centro, sentando no sofá com as pernas em formato de
borboleta.
— Todos acham isso.
Cintia conheceu minha família logo depois que viramos
amigas.
Sempre fazíamos trabalhos escolares juntas, então ela
passou a frequentar a minha casa, inclusive nas festas.
Como ela é uma pessoa muito simpática, divertida e que faz
amizade muito rápido, não foi difícil todos gostarem dela.
Hoje a tratam como se fosse da família também.
Eu até a chamei para vir morar junto comigo quando decidi
que iria morar sozinha, mas como mora somente ela e a mãe, Cintia
não quis sair de casa e deixar dona Valesca sozinha.
— Mas voltando ao assunto Ricardo. Enquanto vocês
estavam se beijando, deu para sentir algum volume, você sabe
onde, né? — diz, olhando para o meio das suas próprias pernas. —
Aiiii! — reclama quando jogo uma almofada em seu rosto, da outra
ponta do sofá, onde estou sentada.
— O beijo foi rápido, não deu para sentir nada. — Coloco
mais sorvete na boca, sentindo minhas bochechas ficarem
vermelhas pela mentira que acabei de contar.
Mesmo que o beijo tenha realmente sido mais rápido do que
eu gostaria, quando o Ricardo me prensou na porta, deu sim para
sentir que ele estava excitado.
— MENTIROSAAA — ela grita, ficando em pé no sofá, me
atacando com a almofada que joguei nela.
— Para, sua doida. — Tenho dificuldade em falar de tanto
que estou rindo, ao mesmo tempo que tento desviar do seu ataque
e evitar que eu tome um banho de sorvete.
— Mas ele é branco, na verdade, bem branco, né — fala
ofegante, voltando a sentar. — E sabemos que normalmente os
mais dotados são os morenos ou pretos — coloca a mão no queixo
pensativa —, mas por outro lado ele é bem alto, e tem também a lei
do L.
— Meu Deus, Cintiaaaa.
— Tá bom, parei. — Levanta as mãos em sinal de rendição.
— Mas quando você ver o Ricardinho, você me conta se é inho
mesmo ou se é Ricardão?
Ambas caímos na gargalhada e é assim, entre muitas
risadas, conversas e toneladas de comida até pegarmos no sono,
horas depois.
Capítulo 10

— Ricardo, se você não acordar agora eu vou chamar o


Samu. — Ouço uma voz falar ao longe, ao mesmo tempo que sinto
meu pé sendo sacudido.
— Me deixa dormir — falo sem abrir os olhos, me virando de
lado na cama.
— Nem parece que é o irmão mais velho e o que devia dar
exemplo — a pessoa volta a falar, mas logo depois tudo fica em
silêncio novamente.
Agradeço a Deus por isso, porque eu só quero dormir em
paz, como venho fazendo durante toda a semana.
Respiro fundo, apreciando a maciez do meu travesseiro,
quase sendo dominado pelo sono de novo.
— CARALHOO! — grito, abrindo os olhos e me sentando
quando sinto um liquido gelado molhar o meu rosto. — Ficou louca,
Juliana? — Encontro minha irmã, parada ao lado da cama com um
copo vazio na mão, me olhando com cara de poucos amigos.
Porra, quem tem que ficar com raiva sou eu.
Tiro a camiseta que estou usando, ultilizando-a para secar o
rosto.
— A semana toda você só me respondeu com palavras
monossílabas, ai eu chego no seu apartamento e encontro garrafas
de diferentes bebidas espalhadas por todos os lados, parecendo
que não é limpo há anos, e para piorar eu estou tentando te acordar
há minutos e você não respondia, quase chamei o Samu achando
que você tivesse tido um treco de tanto beber.
— Estou me arrependendo de ter lhe dado a chave da
minha casa. — Jogo a camiseta molhada no pé da cama, voltando a
me deitar, cobrindo-me.
— Eu vou para a cozinha preparar um café bem forte para
você, enquanto isso vá tomar um banho para vê se melhora essa
cara — diz, saindo do quarto pisando duro.
— Merda! — Esfrego o rosto, antes de tirar o edredrom de
cima do meu corpo e me arrastar até o banheiro que fica dentro do
meu quarto.
Tiro o shorts junto com a cueca, jogando dentro do cesto de
roupa suja que fica ao lado do vaso sanitário, antes de entrar
debaixo do chuveiro.
Minha irmã tem razão, essa semana fiquei praticamente
incomunicável.
Depois do beijo que dei na Clara no sábado à noite e da
bebedeira que tomei logo em seguida no meu apartamento, com o
intuito de esquecer o que tinha acontecido, acordei no outro dia com
uma ressaca desgraçada e com os pensamentos ainda mais
atordoados.
Então para colocar meu juízo no lugar, decidi passar a
semana recluso no meu apartamento.
Liguei na administração do hospital, informando que surgiu
uma palestra de última hora que eu precisava participar, por isso
passaria alguns dias fora.
Obviamente que foi uma grande mentira.
Inclusive, eu não saí do meu apartamento a semana toda,
tive sorte que minha despensa e bar estavam bem abastecidos.
Nem no grupo que eu tenho com os caras eu interagi muito.
Eu não sei como lidar com o Henrique tendo beijado a sua
filha.
Esses dias eu apenas bebi e pensei muito, mas no final
ainda continuo atordoado, sem saber se sigo minha razão ou
emoção.
O assunto Clara bagunçou tanto a minha vida que nem os
convites das minhas amigas coloridas para sexo eu aceitei essa
semana.
Não tenho pressa em sair do chuveiro, pois sei que a minha
querida irmã caçula vai me encher até eu falar para ela o que está
acontecendo comigo.
Mas eu não sei se quero falar o que estou sentindo para
alguém.
Como vou contar para a Juliana, ou para qualquer outra
pessoa que estou atraído por uma menina vinte anos mais nova do
que eu, e pior ainda, ela é filha de um dos meus melhores amigos?
Tenho vergonha de mim mesmo por nutrir pela Clara o que
estou sentindo.

— Até que enfim, pensei que eu teria que ir te buscar no


banheiro. — Juliana para ao lado da ilha da cozinha com as mãos
na cintura.
— Está parecendo uma mãe, sabia? — Abraço seus
ombros, dando um beijo em seus cabelos.
— E você está parecendo o filho caçula irresponsável.
Quem devia ter esse tipo de atitudes sou eu e não você, Ricardo! —
É impossível não rir com o bico de brava que faz.
Juliana tem a aparência de um anjo e fazendo essa cara,
para mostrar sua indignação, fica fofa.
— Me desculpa, eu não queria te preocupar. — Pego a
xícara cheia de café que me espera em cima do balcão, indo me
sentar no sofá da sala.
Essa bebida me faz lembrar do Henrique, e o Henrique me
faz lembrar da...
Balanço a cabeça para meus pensamentos não irem para
esse caminho.
Presto atenção em torno do sofá e realmente minha casa
está parecendo que não é limpa há um bom tempo.
Tem garrafas por boa parte do chão, sem falar nos pratos
sujos e embalagens vazias de comidas.
— O que aconteceu para você querer ficar isolado e
bebendo desse jeito, Rick? — ela senta-se ao meu lado, apontando
para a sujeira à nossa volta.
Volto minha atenção para a xícara que aquece as palmas
das minhas mãos.
Vergonha é um sentimento que está me definindo desde
sábado.
— Você pode confiar em mim! — Pega uma das minhas
mãos, entrelaçando nossos dedos. — Eu nunca te vi assim por
motivo algum, estou ficando preocupada, Ricardo.
— O que você pensaria se eu te falasse que estou
interessado em uma menina da mesma idade que você? — indago
sem olhar em seus olhos.
— Eu não acho nada demais. Hoje em dia não existe mais
tanto preconceito com a diferença de idade entre casais, Rick. Sem
falar que eu já te vi com mulheres bem mais novas que você.
— Mas não com a mesma idade que a minha irmã caçula.
Eu realmente nunca fui de me preocupar em perguntar a
idade das mulheres que levo para a cama.
Meu único cuidado é só para não me envolver com
nenhuma menor de idade, pois sei que tem umas meninas que
quando estão arrumadas parecem ter mais idade do que realmente
têm.
Só que quando eu fiquei com mulheres bem mais novas do
que eu, eu não estava prestes a fazer quarenta anos.
— Eu acho que estou tendo uma crise de meia-idade. —
Coloco a xícara que seguro em cima da mesa de centro, antes de
me jogar de costas no sofá.
— A mulher que você está interessado tem a mesma idade
do que eu? — Confirmo com a cabeça, olhando para o teto branco.
— Você a conhece desde quando?
— Desde que ela tinha dezesseis anos.
— E desde essa época que você tinha interesse nela? —
pergunta cautelosa.
— Claro que não, Juliana. — Sento-me ereto. — Na
verdade, eu só a enxerguei como mulher algumas semanas atrás,
após reencontrá-la depois de dois anos sem nos vermos. — Passo
as mãos pelos cabelos, frustrado.
Essa dúvida que a Juliana teve, tenho certeza de que será a
mesma de todas as pessoas que souberem da minha atração pela
Clara.
Henrique vai achar que sou um doente que tenho desejos
pela sua filha desde que ela era só uma menina.
Volto a me jogar no sofá.
— Ela também está interessada em você? — Confirmo com
a cabeça. — Então eu não estou entendendo o problema, Rick. Ela
é maior de idade, os dois querem, então deixa as coisas rolarem, eu
já disse que hoje em dia, diferença de idade não é mais um
problema.
Respiro fundo, me sentindo sufocado.
— O grande problema, Juliana, é que essa mulher é uma
das filhas de um dos meus melhores amigos.
Ela fica em silêncio por algum tempo, acredito que
pensando.
— Você está falando da Clara? Óbvio que sim, né, porque
as outras filhas deles são muito crianças ainda. — Joga-se no
encosto do sofá também.
— Percebeu a grande merda? Isso não deveria nem passar
pela minha cabeça, mas desde que ela voltou do intercâmbio que
estava fazendo nos Estados Unidos, eu não consigo pensar em
mais nada a não ser ela. Só que ela é filha do Henrique.
— Você está apaixonado?
— Eu não estou apaixonado — respondo rápido. — Só
estou obcecado em ter uma coisa que eu não posso ter. Estou
acostumado a ter a mulher que sempre quero.
— Vocês já tiveram algum contato mais íntimo? — Juliana
deita a cabeça no meu peito, começo a fazer carinho em seus
longos cabelos loiros.
— Não transamos, só demos um beijo há uma semana.
— E você não soube lidar com o que aconteceu e fugiu. —
Não é uma pergunta.
Gemo, me afundando mais entre as almofadas, porque foi
exatamente isso que eu fiz.
— Eu não sei o que fazer, Ju, eu não posso simplesmente
levar a Clara para cama como se fosse qualquer mulher que
conheci em um bar — bufo —, mas você sabe que eu não quero ter
um relacionamento sério com ninguém, e nem preciso comentar
sobre ela ser filha do Henrique, né? Ele me conhece muito bem e é
óbvio que não iria aceitar essa situação, acho que nem eu aceitaria
se tivesse uma filha e o seu namorado fosse um cara como eu.
Juliana começa a rir, na verdade, gargalhar.
— Me desculpa — diz, tentando parar de rir, colocando a
mão na boca.
— Isso, ri do seu pobre irmão mais velho.
— Rick. — Ela se senta com as pernas dobradas, ficando de
frente para mim. — Como você mesmo disse, a Clara não é igual às
mulheres que você encontra em um bar e leva para a cama sem
saber o nome, então o grande ponto que você precisa realmente
lidar é se vale a pena correr o risco de perder a amizade do
Henrique e machucar o coração dela por apenas uma atração física,
mas se você acha que pode estar sentindo algo mais profundo do
que sexual por ela, então, meu querido irmão, te aconselho a lutar
para ficarem juntos.
— Desde quando você virou tão sábia assim em dar
conselhos? Eu que sou o irmão mais velho aqui, lembra? — Puxo-a
pelos ombros para ficarmos abraçados.
Eu sei que tudo o que a minha irmã acabou de dizer foi
tentando me ajudar, mas agora me sinto mais confuso ainda, pois
achava que o que eu sentia pela Clara era só carnal, mas será que
é só isso mesmo?
Capítulo 11

— Como você está, meu filho? — Minha mãe me recepciona


na porta da sua casa.
Fazia alguns meses que não via meus pais pessoalmente,
então aproveitei que Juliana marcou de almoçar com eles e vim
junto.
— Eu estou bem, e a senhora? — Deixo um beijo em sua
bochecha e seguimos os três para a sala de jantar.
Eu não consigo entender como duas pessoas precisam
morar em uma casa tão grande como essa.
Essa não é a casa que cresci, um pouco antes que a Juliana
nascesse meus pais resolveram se mudar.
Mas em nenhum dos imóveis que tivemos, me senti
morando em um verdadeiro lar, todos pareciam aqueles lugares
decorados usados pelas construtoras como demonstração.
Tudo aqui é muito branco e frio.
Nada é encontrado fora do lugar, até parece que a casa não
é habitada.
Isso também se deve porque meus pais passam mais tempo
nas empresas do que aqui, acredito que eles só vêm para casa para
dormirem.
— Pai... — Encontro-o nos esperando já sentado à
cabeceira da mesa.
— Tudo bem, Ricardo? — me cumprimenta com seu jeito
frio de sempre.
Nós nos sentamos à mesa e os funcionários começam a
servir o almoço em seguida.
Na casa dos meus pais sempre teve horário certinho para
cada refeição do dia nos finais de semana.
Olho para o meu pai e mesmo sendo um dia de folga do
trabalho, ele está vestindo uma camisa de mangas compridas com
dois botões abertos, calça e sapato social.
Seus cabelos muito parecidos com os meus, até mesmo no
corte não tem um fio fora do lugar, eu acho que eu puxei essa
obsessão pela perfeição no penteado dele.
Ao seu lado, do outro lado da mesa, minha mãe também
não está muito diferente.
Ela tem os cabelos lisos e escorridos iguais aos de Juliana,
sendo um tom mais escuro do que o da minha irmã.
Seu rosto não tem sinais dos anos vividos igual ao meu pai,
pois ela é adepta a procedimentos estéticos.
Os olhos azuis que eu e minha irmã temos, puxamos dela.
— Rick, querido, a filha de um amigo meu acabou de
finalizar a residência dela e ela é tão linda, meu filho, acho que
vocês se dariam muito bem, se você quiser, posso marcar um
encontro entre vocês — minha mãe fala de modo casual, mas eu sei
qual é sua intenção.
Dona Regina tem como missão de vida me ver casado.
Só que o grande x da questão é que esse casamento não
pode ser com qualquer pessoa.
Eu tenho que me casar com uma mulher que ela acredite
que tem o “pedigree” necessário para mim.
Mal sabe ela que casar não está nos meus planos, nem com
suas pretendentes e muito menos com nenhuma outra mulher.
— Mãe, você sabe que esses encontros arranjados pela
senhora não dão certo, já tentamos isso antes e não foi muito legal,
para nenhuma das partes.
Quando eu era mais novo, fui a alguns encontros com as
filhas das amigas da minha mãe, mas quando me lembro tenho
vontade de chorar.
Eu gosto de mulher independentemente de qualquer coisa,
mas essas que minha mãe tenta me arranjar, normalmente passam
do limite de futilidade que uma pessoa normal pode ter.
Nesses encontros nem vontade de levar alguma delas para
casa eu tive, para ter noção de como a coisa era feia.
— Essa é diferente, Rick, eu tenho certeza de que você vai
gostar — diz parecendo empolgada, esquecendo da comida em seu
prato.
Olho para Juliana pedindo socorro.
Passo os próximos minutos mantendo minha boca ocupada
com um risoto de queijos, enquanto minha mãe lista todas as
qualidades dessa tal mulher.
Como sempre acontece, meu pai só ouve e Juliana tenta
não rir.
Eu tenho certeza de que as intenções da Dona Regina são
boas, mas o nosso conceito de mulher perfeita é bem diferente.
Minha mãe por ter nascido e crescido em berço de ouro, em
uma família que o dinheiro é o primeiro item a ser considerado, é
esse mesmo parâmetro que ela usa em pensar em sua futura nora,
sem se importar com a personalidade ou a minha compatibilidade
com a pessoa.
Só que para mim quando eu penso em uma mulher, sua
conta bancária ou o seu sobrenome são os que menos importam.
Se eu for pensar em uma mulher que quero ao meu lado
para o resto da minha vida, eu pensaria em uma que seja doce, mas
ao mesmo tempo determinada.
Seja alguém que goste de estar com os meus amigos e não
seja uma pessoa cheia de frescura. Que saiba apreciar as coisas
simples da vida, pois eu sou assim.
A mulher perfeita para dividir o meu futuro obviamente teria
que me atrair fisicamente, mas além disso, precisa ter uma
personalidade e gostos compatíveis com os meus.
Eu ainda não tinha parado para pensar em como seria a
minha companheira ideal, pois eu nunca pensei em ter um futuro ao
lado de uma única mulher, mas cada característica que eu penso,
uma única pessoa vem à minha mente.
Clara Bittencourt, a única que eu não deveria desejar.
Capítulo 12

— Bom dia! — cumprimento sem olhar na direção da


pessoa que está sentada atrás da mesa da recepção do terceiro
andar.
É melhor nem olhar para não cair em tentação.
Minha vontade é ficar mais uma semana longe do hospital,
mas eu sou um adulto e tenho responsabilidades, então preciso agir
como um.
Por isso, acordei hoje determinado a voltar a trabalhar, focar
nos meus pacientes e esquecer de vez a Clara.
Não a posso levar para cama e pronto.
Fim do assunto.
— Ricardo? — Ouço a voz da tentação me chamar assim
que entro em meu consultório.
Sinto até calafrios quando seu perfume chega ao meu nariz.
— Pois não? — falo parado atrás da minha mesa, mexendo
em umas pastas que estão em cima dela, evitando olhar em sua
direção.
— Nós precisamos conversar!
— Teve alguma mudança na minha agenda de
atendimento? — me faço de sonso, porque sei muito bem sobre
qual é o assunto que ela quer tratar.
— Você poderia agir como um homem adulto por uns cinco
minutos, por favor?
Levanto meu rosto, a olhando pela primeira vez desde que
cheguei.
Sinto cada músculo do meu corpo se contrair.
É possível uma pessoa ficar mais bonita em uma semana?
Clara está com os cabelos soltos, moldando seu rosto
angelical.
Ela tem uma aparência tão doce, mas ao mesmo tempo tão
sexy que sinto meu pau ter um espasmo.
— Aqui não é lugar para falarmos sobre assuntos pessoais,
Clara. — Tento ser firme na voz, para deixar claro que não quero
falar sobre o que aconteceu entre a gente no sábado.
— E qual é o lugar? Já que você está fugindo de mim como
um adolescente imaturo e não um homem de quase quarenta anos.
— Conforme fala, dá um passo para mais próximo de mim.
— Você tocou no ponto chave. Eu tenho quase quarenta
anos e você metade disso, então qualquer envolvimento entre a
gente é inviável.
— É inviável porque você é um covarde. — Cola seu corpo
ao meu, me olhando dentro dos olhos. — Covarde por não lutar pelo
que realmente quer, porque você fala uma coisa, enquanto seus
olhos e as reações do seu corpo dizem outra.
Tenho que fazer uma força descomunal para não a tocar.
— Você não entende que você é só uma menina? Porra,
Clara, você é a filha do Henrique. — Fecho os olhos quando ela
toca meu rosto com as duas mãos na lateral.
— Esquece de quem eu sou filha, eu já sou uma mulher,
Ricardo, e uma que te quer muito.
Sinto como se levasse um soco no estômago.
É como se eu tivesse um anjinho no meu ombro direito
dizendo que realmente é errado eu me permitir viver essa atração
que sinto por ela, enquanto no esquerdo um diabinho que incentiva
a tacar o foda-se e ir para cima, como eu sempre faço quando quero
uma coisa.
— Você entende que é errado eu te querer? Que eu não sou
o homem ideal para você? Eu não sou um príncipe, Clara, eu
apenas fodo as mulheres que levo para a cama. — Encosto minha
testa na sua, sentindo seu hálito bater em meu rosto e meu peito
subir e descer pela respiração acelerada.
— Eu não estou procurando um príncipe, Ricardo, eu estou
procurando alguém que me foda.
Puta que pariu, eu não consigo ser mais forte.
— Você será minha desgraça, menina — falo antes de
atacar sua boca com a minha, sem me preocupar em ser gentil.
Seguro as laterais do seu rosto, aprofundando nosso
contato.
Invado sua boca com a minha língua, sentindo o sabor da
sua saliva.
É um beijo bruto, onde descarrego todo o desejo que sinto
por essa menina.
Sem me importar com mais nada, impulsiono seu corpo para
se sentar na mesa, me colocando no meio das suas pernas.
Desgrudo nossas bocas, mordo seu lábio inferior, descendo
para o seu maxilar, até chegar à curva do seu pescoço.
— Como eu amo o seu cheiro. — Fungo profundamente,
fazendo seus pelos se arrepiarem e sua respiração ficar mais
densa.
Lambo toda a extensão do seu pescoço, até voltar para sua
boca.
Olho fixamente em seus olhos, querendo dizer com os meus
as palavras que ainda não tenho coragem de verbalizar, antes de
voltar a grudar nossos lábios.
É algo surreal o que estou sentindo.
Sem conseguir controlar minhas mãos, começo a explorar
seu corpo iniciando pela cintura, passando pela lombar, indo para
suas coxas, voltando para a cintura, parando próximo à lateral dos
seus seios.
Clara também não fica com suas mãos quietas, sinto-as por
todo o meu corpo, me dando mais combustível para intensificar os
toques.
— Ricardo — geme novamente quando a trago mais para
perto, esfregando minha ereção em sua barriga.
— Como eu vou atender aos pacientes assim de pau duro,
hein? — Ela me dá a porra do sorriso mais sexy que eu já vi.
Mordo seu lábio inferior, voltando a beijá-la, mas dessa vez
de forma mais controlada, apreciando o contato das nossas bocas
unidas.
— Eu estou aqui na frente do consultório dele, já vamos
subir.
Literalmente pulo para trás, encostando minhas costas na
parede quando a voz do Afonso é ouvida, ainda com a porta
fechada.
Clara desce no mesmo instante de cima da mesa,
arrumando as roupas e os cabelos.
— Ricardo, os caras... — Abre a porta falando, mas para
quando vê que não estou sozinho. — Tudo bem por aqui? — Olha
de um para o outro, com uma sobrancelha levantada.
Merda!
— Tudo bem, a Clara só veio aqui para me trazer alguns
exames de uns pacientes que vou atender hoje. — Tento falar de
forma despretensiosa, indo me sentar na minha cadeira, dando
atenção aos papéis que estão em cima da mesa para não precisar
olhar diretamente para ele.
— Bom dia, Afonso. — Clara se aproxima dele, lhe
cumprimentando com um beijo na bochecha, como sempre faz. —
Se precisar de alguma outra coisa me avisa, Ricardo. — Sua voz é
controlada, mas não consegue esconder a face corada.
Apenas confirmo com a cabeça, tentando controlar o meu
pau dentro da calça.
Ela sai fechando a porta, mas ainda não consigo respirar
aliviado, porque duvido que o Afonso não tenha percebido os lábios
levemente inchados e vermelhos da Clara.
Calado, meu amigo vai até o suporte de papel toalha que
tem ao lado da porta, em cima de uma pequena pia que uso para
lavar as mãos quando necessário, retira uns três papéis e vem em
minha direção.
— Acho melhor limpar a boca antes de irmos encontrar o pai
e o tio dela. — Sua voz é séria.
— Não é isso que você está pensando. — Solto essa frase
clichê sem perceber que ela me incrimina, mais do que ajuda.
Pego os papéis da sua mão, passando nos lábios,
constatando que sujou de algum batom transparente brilhoso.
Porra, Ricardo!
— Você sabe que vai dar uma merda das grandes quando o
Henrique souber, né?
— Afonso...
— Não, Ricardo, não é para mim que você tem que dar
explicações, só espero que você se lembre onde está se metendo,
porque além dela não ser como as mulheres que você está
acostumado a levar para a cama, eu não consigo pensar no que o
Henrique vai fazer quando descobrir.
Passo as mãos pelos cabelos, sem me importar em destruir
o meu penteado.
— Vamos, os caras estão nos esperando no consultório do
pai da Clara — diz, antes de abrir a porta e sair em seguida.
Respiro fundo, olhando para o teto.
— O que eu faço, Deus? — Sigo-o, saindo da sala.
Quando passo pela mesa da Clara ela não está nela, e
agradeço por isso, pois mais uma vez eu não sei agir ou fazer
depois de termos nos beijado de novo.

De todos os anos que sou amigo do Henrique, eu nunca me


senti desconfortável na sua presença igual estou agora.
Faz uns dez minutos que chegamos ao seu consultório, e
como praticamente todos os dias, só estamos jogando conversa fora
antes de iniciarmos nosso dia de trabalho.
Sempre nos reunimos em um consultório diferente, mas hoje
me esqueci completamente dessa nossa rotina.
— Eu estou preocupado com a Clara — ele fala, sentando
mais relaxado na cadeira atrás da sua mesa, passando as mãos
pelos cabelos.
Eu estou sentado ao lado do Afonso no sofá que fica
embaixo da janela, e Heitor em outra cadeira em frente à mesa.
— A Camila veio com uns papos estranhos esses dias,
falando que a Clara já é uma mulher adulta, independente e que não
iria achar estranho que em breve ela nos apresente um namorado.
— Pela minha visão periférica vejo Afonso olhando para mim, mas
continuo como se esse assunto não me abalasse.
— Mas a Clara já comentou sobre ter um namorado com
vocês? — Heitor pergunta.
— Para mim não, mas vocês sabem que a Camila é daquele
tipo de mãe que é cúmplice das filhas, né, eu não duvidaria nada
que ela escondesse alguma coisa de mim, para passar pano para a
Clara.
— Mas a Clara já tem vinte anos, acho que é normal
namorar — Afonso fala, e se fosse possível, Henrique o mataria só
com o olhar, quando vira a cabeça em sua direção.
— Você fala isso porque ainda não tem filha mulher, Afonso.
— Henrique se levanta, andando de um lado para o outro no centro
da sala. — A minha filha pode ter crescido fisicamente, mas ainda é
só uma menina e não quero por enquanto nenhum macho perto
dela, não quero correr o risco que algum filho da puta machuque o
seu coração. Então a Clara tem que focar nos estudos e trabalho no
momento, nada de namorado ou coisa do tipo.
Acho que minha pressão baixa, pois a cada palavra que sai
da boca do Henrique sinto minha visão ficar turva e meu estômago
embrulhar.
— Só que gostando ou não, Henrique, uma hora ou outra
sua filha vai namorar. — Eu não sei se o Afonso quer me ajudar ou
me foder mais.
— Bom, se depender de mim, isso vai demorar mais alguns
anos ainda — fala o pai da mulher que acabei de beijar em cima da
minha mesa de trabalho.
Capítulo 13

Viro mais um copinho de tequila na boca, sem me importar


em colocar sal e limão na sequência, pois acho que não ajuda a
melhorar o gosto, mas mesmo ruim, ele é forte e é disso que estou
precisando para me distrair agora.
— Vou ao banheiro, já volto — Cintia fala, levantando da
cadeira e indo em direção aos sanitários.
Sigo com o olhar ela caminhando, até não conseguir mais
ver minha amiga.
Pensar no corredor que dá acesso aos banheiros faz meu
coração doer, pois é impossível não lembrar do primeiro beijo que
troquei com o Ricardo.
Ricardo!
Mais uma vez ele fugiu depois que nos beijamos no seu
consultório e o Afonso quase nos pegou no flagra.
Naquela manhã eu pensei que as coisas iriam começar a
andar para frente em nossa relação, mas quando ele voltou para
seu consultório cerca de uma hora depois, parecia que tínhamos
voltado para o início.
Depois ele me avisou de forma profissional até demais que
iria fazer plantão na emergência naquele dia e os pacientes que já
estavam agendados, ele iria atender em um dos consultórios no
andar do pronto-socorro.
O resto da semana passou com ele longe de mim e eu o
encontrando apenas em companhia dos amigos, sem poder fazer
nenhum tipo de aproximação mais íntima.
Eu podia ter mandado uma mensagem para nos
encontrarmos em algum lugar e conversarmos como dois adultos
que somos? Claro que podia.
Mas já estou ficando cansada de sempre correr atrás.
Ricardo já é bem grandinho para saber o que quer.
Se ele acha que não vale a pena lutar para ficarmos juntos,
não vai ser eu que vou ficar correndo atrás dele, mendigando alguns
beijos roubados.
Eu estaria disposta a enfrentar o meu pai para ficar com ele,
mas se ele não está disposto a fazer o mesmo por mim, então vou
seguir minha vida.
Gosto demais dele, mas aprendi com as mulheres da minha
família a me colocar em prioridade em uma relação.
Por isso, como amanhã estou de folga, aceitei o convite da
Cintia para virmos ao bar que fica ao lado do hospital.
Minha mãe, pai e seus amigos não estão aqui hoje, alguns
ficarão trabalhando até mais tarde e outros já estão em suas casas.
Dou graças a Deus por isso, porque a última pessoa que
quero encontrar hoje é o Ricardo, já que ele passou a semana toda
fugindo de mim, também não quero que sua presença atrapalhe o
meu momento de lazer.
— Eu amo essa música — Cintia fala, voltando a se sentar
na cadeira ao meu lado, colocando dois copos com caipirinha de
limão em cima da mesa.
Diferente da outra vez que vim, hoje escolhemos nos sentar
mais próximas do palco.
— Amiga, não fica chateada por causa daquele babaca não.
— Ela pega minha mão em cima do meu colo, depois de um tempo
que passo calada, olhando para o grupo tocando, mas sem
realmente prestar atenção na letra da música.
Mesmo eu não externando o que estou sentindo, acho que
sou muito transparente, além da Cintia me conhecer muito bem.
— Você precisa é beijar uns caras diferentes para esquecer
esse médico, isso sim. — Ela sempre consegue me fazer rir. — Eu
estou falando sério, Clara, vamos aproveitar a noite de hoje para
conhecermos pessoas novas e quem sabe encontrar um carinha
legal, que faça você esquecer o loiro aguado.
— Você não existe, Cintia, e eu te amo por isso. — Abraço
seus ombros.
— Eu também te amo, amiga, mas bora beber e beijar muito
na boca.
Levo o copo que ela acabou de trazer aos lábios, não
fazendo careta dessa vez quando o líquido gelado desce pela minha
garganta.
Eu normalmente não misturo bebidas diferentes, para falar a
verdade nunca fiquei bêbada na minha vida.
Todas as vezes que estava em uma festa nos Estados
Unidos tinha medo de exagerar, pois estava sem nenhuma das
pessoas que confio à minha volta, então sempre ficava somente no
refrigerante, ou na cerveja sem álcool.
Antes de viajar, a primeira festa de adulto que fui foi no meu
aniversário de dezoito anos, antes frequentava apenas
comemorações infantis.
Mas a minha amiga tem razão, eu acho que se conhecer
outro homem, de preferência da minha idade, talvez ele consiga me
fazer esquecer o Ricardo.
Eu realmente estou cansada psicologicamente desse chove
e não molha que estamos vivendo.
Hoje vou me permitir viver como uma jovem adulta de vinte
anos, solteira em um sábado à noite.

Ricardo

Cumprimento alguns enfermeiros e médicos que estão


sentados em mesas altas do lado de fora do bar ao lado do hospital
que trabalhamos antes de passar pela porta de entrada.
Como Henrique, Afonso e Heitor dispensaram meu convite
para dar uma psssadinha aqui hoje depois dos nossos plantões,
resolvi vir sozinho, em busca de uma companhia para passar a
noite.
Ainda bem que eu estou de folga amanhã, pois essa
semana foi bem punk estando todos os dias no pronto-socorro.
Minha consciência grita que isso não teria acontecido se eu
não tivesse fugido de novo da Clara como o diabo foge da cruz.
Depois da conversa que tive com os meus amigos no
consultório do Henrique, o remorso de ter beijado a filha do meu
melhor amigo bateu com força e eu resolvi me manter distante, para
não cair na tentação novamente.
Eu sei que não vou conseguir fugir dela para sempre, até
porque ela trabalha literalmente na frente do meu consultório, mas
pelo menos enquanto esse desejo desenfreado que tenho por ela
não passar, vou tentar me manter o mais distante possível.
— E aí, cara, beleza? — cumprimento o barman. — Quero
uma cerveja sem álcool, por favor.
Hoje meu intuito não é ficar bêbado, pois além de não
querer deixar o meu carro no estacionamento do hospital e voltar de
Uber para casa, meu foco é encontrar uma mulher para levar para
cama essa noite.
Por ser sábado e o bar estar tendo música ao vivo, o local
está lotado, todas as mesas estão ocupadas e várias outras
pessoas não se importam em ficar em pé.
Pego a garrafa de cerveja long neck que o barman coloca
em cima do balcão, me sentando em uma banqueta alta.
De onde estou tenho uma visão privilegiada de todo o
ambiente.
Tem muitas pessoas conhecidas do hospital, mas vou focar
nas mulheres desconhecidas.
Não estou a fim de levar para cama uma que terei de
reencontrar na segunda-feira, já basta fugir da Clara.
Balanço a cabeça quando meus pensamentos se voltam
para ela.
Esquece essa menina, Ricardo!
Parecendo ter invocado, não muito distante da banda de
pagode que toca, avisto a pessoa que deveria estar em sua casa e
não em um bar, sambando com um filho da puta parecendo um
carrapato grudado em seu corpo.
Capítulo 14

Enxergando vermelho, jogo minha cerveja praticamente


intocada no lixo e saio em direção a ela, para acabar com essa
palhaçada.
— Clara, o Henrique sabe que você está aqui? — Paro à
sua frente, sem me importar de ter entrado na frente da outra garota
que estava com ela.
— OLHAA QUEM APARECEU, CINTIA! — fala gritando e
com a voz embolada.
— Você está bêbada?
— Claro que não, só tomei uns três copinhos — diz,
levantando cinco dedos na frente do meu rosto.
— Quem é esse, Clara? — O moleque que ainda está
grudado nela com as mãos imundas bem próximo da sua bunda
pergunta engrossando a voz, tentando marcar território.
Tenho que me controlar para não enfiar um soco na cara
desse filho da puta.
— É o meu tio — responde, me olhando com os olhos
brilhantes.
A desgraçada está se divertindo.
— Tio é o caralho — rosno. — E tira a porra das mãos dela.
— Pego-a pela cintura, a tirando dos braços do filho da puta.
— Eii, loirão, você está atrapalhando — a baixinha de
cabelos vermelhos que estava dançando com a Clara fala, parando
ao nosso lado com os braços cruzados e cara de brava.
Agora olhando mais de perto, percebo que é uma das
amigas da Clara, não me lembro o nome dela, mas já a vi algumas
vezes em reuniões de família na casa do Henrique e da Camila.
— Seu pai sabe que você está aqui? — volto a perguntar.
— Rick, eu já sou maior de idade e não preciso da
permissão do meu pai para sair à noite, e nem para outras coisas.
— Cutuca meu peito com o dedo, com o sorriso malditamente sexy
nos lábios.
— Clara, eu já vou embora, você ainda vai querer ir comigo?
— Nem fodendo — respondo à pergunta do babaca.
Esse cuzão iria levá-la mesmo bêbada para casa dele?
— Eu vou sim. — Tenta sair dos meus braços.
— Você está bêbada e jamais eu iria deixar você ir para
casa de um desconhecido desse jeito. Vaza — falo, olhando para o
filho da puta que ainda está parado como um dois de paus à nossa
frente, esse porra deve ter a mesma idade que ela pela cara de
moleque que tem.
— Eu...
— Você nada — a corto. — Vamos, eu vou te levar para
casa. — Seguro em seu braço, começando a andar para a saída do
bar, sem me importar com os outros.
— Eu não vou com você, Ricardo! — Se eu não estivesse
com tanta raiva por tê-la encontrado aqui e bêbada, até acharia
graça da carinha de brava que ela faz quando chegamos à calçada.
— Não me provoque, Clara. — Passo as mãos pelos
cabelos.
Ando fazendo muito isso nessas últimas semanas.
— Você tem que se decidir, Ricardo. — Para na minha
frente, e como está de salto consegue me olhar nos olhos sem
precisar ficar na ponta dos pés. — Uma hora você me beija, na
outra foge, aí me beija de novo e foge novamente, agora vem aqui e
estraga a minha noite.
— Você ia bêbada para a casa daquele filho da puta e acha
isso certo? Eu quero ver o que faria quando acordasse amanhã na
cama de um desconhecido, ou acha que chegando lá ele iria te
colocar para dormir e iria para o sofá. — Ela desvia dos meus olhos
por uma fração de segundos, engolindo em seco.
Estamos parados na lateral do bar e essa hora da noite a
rua está deserta, então não me importo em controlar o tom de voz.
Se eu fechar os olhos ainda posso ver as mãos sujas dele
tocando-a.
— Clara? — a amiga chama, se aproximando.
Olhando agora na luz, diferente da Clara que tem uma
aparência angelical e doce, ela com seus cabelos ruivos e olhos
azuis, tem uma aparência intensa, mesmo aparentando ter a mesma
idade da outra.
— Minha noite acabou, amiga, eu vou para casa, mas você
não precisa ir embora agora, aproveita mais um pouco — Clara diz,
cruzando os braços, parecendo com frio.
A temperatura não está tão baixa, mas o vento gelado da
noite deve estar batendo em seus braços nus, pois veste um vestido
vermelho de alças finas que cobre somente o necessário do seu
pequeno corpo.
— Eu te levo até o seu apartamento, amiga, depois eu volto
— as duas conversam como se eu não tivesse presente e isso me
irrita.
— Pode deixar que eu levo essa senhora para o
apartamento dela, para não correr o risco de tentar fazer mais
merda hoje.
— Não vai fugir como fez esses dias todos? — a amiga diz
afrontosa.
— Cintia! — Clara a repreende, com os olhos arregalados.
— Eu falei mentira, amiga? Loiro ou trepa ou sai de cima —
agora fala cutucando meu braço com o dedo.
— Agradeço sua preocupação com a Clara, Cintia —
resolvo ignorar sua fala —, mas eu sou amigo do pai dela, então
pode deixar que agora eu me responsabilizo por ela.
— Eu consigo ir sozinha para o meu apartamento, Ricardo,
é só atravessar a rua — Clara avisa, começando a andar, mas dois
passos depois só não cai no chão quando se desequilibra do salto,
porque sou mais rápido, a segurando pela cintura.
— Percebi. — Sorrio sarcástico.
Porém, logo em seguida meu sorriso some, quando meu
corpo percebe o quão próximos estamos.
Consigo sentir o calor da sua pele, enquanto a toco por cima
do tecido do vestido.
Clara ofega, me olhando de uma forma que faz todos os
pelos do meu corpo se arrepiarem.
Como uma menina com tão pouca idade tem um controle
tão grande sobre mim?
Quando estou com ela assim tão próxima, tudo à minha
volta deixa de existir.

— Eu estou com sono — Clara diz, assim que passamos


pela porta do seu apartamento.
Depois de ficarmos uns cinco minutos no impasse de quem
iria acompanhá-la até aqui em cima, enfim consegui convencer a
amiga a voltar para dentro do bar e deixar Clara comigo.
— Nossa, quanto tempo não venho nesse apartamento —
falo assim que as luzes se acendem.
Eu tenho muitas lembranças boas daqui quando Henrique e
Heitor eram solteiros.
Muitas vezes quando íamos para o bar e bebíamos todas e
um pouco mais, eu e Afonso vínhamos dormir aqui, um no sofá e
outro no chão.
Mas desde que Heitor se casou e mudou para uma casa
que fica no mesmo bairro da do irmão, eu não venho aqui.
Estar neste apartamento sem eles é estranho para caralho,
ainda mais estando com a filha bêbada de um deles.
— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?
— Para de gritar, Ricardo. — Não consegui controlar o tom
da minha voz, quando vi Clara parada no corredor, entre a sala e os
quartos, abrindo o zíper na lateral do vestido.
— Porra! — Parece que meus pés estão grudados no chão.
Sinto minhas mãos suarem a cada centímetro que o vestido
cai em seu corpo, parando em seus pés, ainda calçados nas
sandálias altas.
Eu não sei o que fazer quando meus olhos focam no corpo à
minha frente apenas vestido com uma pequena lingerie vermelha de
renda.
— Ricardo? — Sacudo a cabeça, voltando minha atenção
para o seu rosto.
— Oi.
— Você vai dormir comigo na cama? — Ela se vira, ficando
de costas para mim, e tenho que me controlar muito para meus
olhos não saírem do seu rosto.
— Eu vou para o meu apartamento, Clara. — Aproximo-me,
ainda sem abaixar o olhar.
Essa noite está sendo uma prova de fogo para o meu
autocontrole.
— Por favor, fica aqui, só essa noite. — Segura uma das
minhas mãos quando paro ao seu lado.
A resposta mais sensata e segura deveria ser não.
Com certeza eu deveria sair correndo desse apartamento,
mas quando abro a boca, minhas palavras são bem diferentes do
que uma negativa.
— Tudo bem, mas eu vou dormir no sofá. — Ela sorri de
forma doce, antes de ir em direção ao antigo quarto do Heitor.
Vou atrás, deixando um rastro de baba pelo caminho com a
visão da sua bunda perfeita.
Surpreendo-me ao encontrar um ambiente bem diferente do
que quando seu tio dormia nele.
Até a cama foi trocada.
Clara se senta na borda do colchão, quase fechando os
olhos.
Sem dizer nada, abaixo-me na sua frente, desafivelando os
fechos da sandália.
Seus pés são pequenos e delicados.
As unhas curtas e quadradas estão pintadas em um tom de
branco, quase transparente.
Suas panturrilhas são definidas de forma natural, de quem
não faz exercício físico, mas tem uma boa genética.
— Pode dormir, pequena — falo baixo, ficando em pé, com
as mãos apoiadas nas laterais do seu corpo em cima da cama.
— Eu queria que você dormisse aqui na cama comigo —
sussurra.
— Você quer acabar com o meu juízo, né? — Clara me
lança a porra do sorriso mais lindo do mundo, antes de se deitar de
lado na cama.
Puxo o edredrom cor de rosa, cheio de corações brancos,
cobrindo todo seu corpo, deixando apenas a cabeça para fora.
— Boa noite, Pequena. — Deposito um beijo em sua testa,
fazendo carinho em seus sedosos cabelos, cor de ouro.
Não demora para que ela esteja dormindo profundamente.
Saio do quarto, apago a luz e sigo rumo à cozinha para
procurar algum remédio para dor de cabeça, pois tenho certeza de
que ela vai precisar quando acordar.
Olhando com mais atenção para a sala e cozinha que são
divididas por um balcão estilo americano, todo o apartamento tem
muito mais cor do que quando os gêmeos moravam aqui.
O santuário que o Heitor tinha com itens do palmeiras ao
lado da porta de entrada não existe mais, no lugar tem uma planta
que não sei o nome.
Passo alguns minutos revirando algumas gavetas na
cozinha, procurando o remédio, pois era em uma delas que os caras
guardavam.
Destaco dois comprimidos da cartela, pego uma garrafa de
água dentro da geladeira, que tem mais comida congelada do que
outra coisa e sigo para o quarto novamente.
Antes de entrar onde Clara está dormindo, a curiosidade me
faz entrar na porta onde era o quarto do Henrique, depois das filhas
do irmão.
Eu sabia que a filha do meu melhor amigo gostava de livros,
mas não ao ponto de montar uma biblioteca particular.
O ambiente antes ocupado por dois berços, foi preenchido
por grandes estantes brancas que ocupam todas as paredes
disponíveis do quarto, uma poltrona em veludo que parece ser muito
confortável na cor cinza claro, uma mesinha redonda ao lado, com
um abajur de chão que está ligado.
Vou até uma das estantes, onde tem um livro com a capa
virada para frente, diferente dos outros que estão todos lado a lado.
A capa do livro tem uma faixa rosa-claro no meio, sendo o
resto em um tom de verde piscina.
Uma sombra de uma mulher com algumas plantas à sua
frente complementam.
— Estas e todas as vidas — leio em voz alta.
Apoio o copo com água e os remédios em um espaço vazio
na estante, pegando a edição física.
Além dos livros de medicina, eu nunca fui muito apegado à
literatura.
Grudado em uma página que tem um mapa impresso antes
do primeiro capítulo, tem um post it quadrado rosa escrito em uma
caligrafia fina e cursiva.
“Um dia conhecer São Tomé das Letras”
Eu não conheço pessoalmente essa cidade, mas já ouvi
muitas pessoas falarem bem dela.
— Será que ela já realizou esse desejo? — Por um instante
me vejo levando-a para essa viagem.
Dizem que essa cidade é mágica.
Mas será que essa magia seria capaz de fazer uma relação
fadada ao fracasso, dar certo?
Capítulo 15

Acordo sentindo calor e falta de mobilidade quando tento me


virar na cama.
Olho para a minha barriga, encontrando uma mão masculina
me mantendo presa no lugar.
Busco na minha memória o que aconteceu ontem à noite e
como cheguei ao meu apartamento, acabei bebendo mais do que
deveria e meus pensamentos estão nublados pela ressaca.
Sinto um frio na espinha ao imaginar que fui para a cama
com um estranho.
— Merda, Clara — sussurro para não chamar atenção do
meu acompanhante.
Mexo-me com um pouco mais de força, tentando me
desvencilhar do seu toque, mas o braço em volta da minha cintura
fica mais firme, levando meu corpo para mais próximo do seu.
Consigo sentir o calor em minhas costas, e um volume
cutucando minha bunda.
Começo a ficar assustada.
— Vamos dormir mais um pouco. — Demora alguns
segundos para o meu cérebro identificar a voz rouca que fala
próximo ao meu ouvido.
— Ricardo? — Consigo me virar em seus braços, respirando
mais aliviada por ser ele.
Meus pensamentos ainda estão confusos, mas lembro do
homem que conheci ontem no bar me chamando para ir para o seu
apartamento, depois Ricardo me arrastando para fora e ele e a
Cintia brigando, mas não lembro como foi o caminho até o meu
apartamento.
— Você é daquele tipo de bêbada que esquece o que
aconteceu no dia seguinte? — fala ainda com os olhos fechados,
sorrindo sem mostrar os dentes.
Sua mão, agora em minhas costas, faz um carinho com o
polegar, me arrepiando.
— Eu pensei que você tinha ido embora — digo,
aproveitando para me aconchegar mais em seus braços.
Não sei quanto tempo esse contato mais íntimo vai durar,
então vou aproveitar o máximo que puder.
— Eu ia, mas fiquei com medo de te deixar sozinha e você
querer aprontar mais alguma coisa. — Aperta a ponta do meu nariz,
me arrancando uma careta.
— Será que já é tarde? — Como as cortinas estão fechadas,
não consigo identificar se já amanheceu, mas provavelmente sim.
— Você está de folga hoje? — Balanço a cabeça
confirmando. — Tem algum compromisso? — Nego também com
um balançar de cabeça. — Então não importa o horário, vamos ficar
mais um pouco aqui na cama.
Não consigo conter o sorriso que nasce em meus lábios por
ele estar agindo de forma tão natural, estando na mesma cama que
eu.
— O que foi?
— Cansou de fugir de mim?
— Eu ainda acho que ficarmos juntos não seja certo. —
Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Só que
mesmo tentando fugir de você com muito empenho, como ando
fazendo essas últimas semanas, parece que uma linha invisível
sempre me puxa para perto de você. — Ricardo aproxima ainda
mais nossos rostos, passando a ponta do seu nariz no meu.
Sinto um calor tão bom dentro do meu peito.
— Mas o que vamos fazer agora? — Quero saber se ele vai
nos permitir viver essa atração que sentimos.
— Agora vamos voltar a dormir. — Sorri, pois sabe que essa
não é a resposta que eu gostaria de receber.
Deito minha cabeça em seu peito, sentindo o seu perfume
amadeirado.
— Por que você dormiu de roupa? — Mesmo não olhando
debaixo do edredom, senti com as minhas pernas que estão
grudadas nas suas que ele está de calça jeans, além da camiseta
polo que usa.
— Foi a condição que me impus para deitar na cama, com
você estando só de calcinha e sutiã vermelhos e de renda. —
Agradeço que ele não pode ver meu rosto, pois está com o queixo
apoiado no topo da minha cabeça, pois sinto minhas bochechas
pegarem fogo ao imaginar que ele me viu praticamente nua.
Eu nunca fiquei sem roupa na frente de um homem.
— Vamos dormir, Pequena. — Deixa um beijo nos meus
cabelos, continuando seus carinhos em minhas costas.
Não demora muito para eu sentir meu corpo relaxar, pronto
para pegar no sono.
Mas antes de perder a consciência, peço a Deus que esses
momentos com o Ricardo vire uma constância em minha vida.
Saio do quarto, sentindo um cheiro muito gostoso vindo da
cozinha.
Quando acordei, o outro lado da cama estava vazio e eu só
não surtei achando que o Ricardo mais uma vez fugiu de mim
porque o sapato dele estava ainda ao lado da porta do quarto.
Então antes de procurá-lo pelo apartamento resolvi tomar
um banho para recuperar a minha dignidade.
Achei muito fofo que ele se preocupou em deixar
comprimidos para dor de cabeça e uma garrafa de água na mesinha
de cabeceira ao lado da cama.
Eu nunca tinha bebido tanto na minha vida e depois do porre
de ontem, vi que essa vida não é para mim.
Quando acordei mais cedo, a sensação de estar no calor
dos braços do Ricardo amenizou um pouco a minha ressaca, mas
dessa vez, acordei sentindo como se tivesse com a boca cheia de
areia e uma dor de cabeça nunca sentida antes.
Depois do banho quente, vesti um conjunto de pijama rosa
com shorts não muito curto e apertado e uma camiseta com a
estampa da figura de um livro.
Chego à cozinha, encontrando o Ricardo concentrado,
mexendo alguma coisa em uma panela no fogão.
Acho que esse eletrodoméstico só era usado quando o
apartamento era do meu pai e tio, posso contar nos dedos quantas
vezes cozinhei nele desde que vim morar aqui.
Chego mais perto, me preocupando em não fazer barulho,
pois quero apreciar um pouco mais a visão à minha frente.
Ricardo está sem camiseta, e a calça jeans está um pouco
caída em seu quadril, revelando uma cueca na cor azul-marinho.
Um pouco acima do elástico vejo que ele tem as covinhas
de Vênus, dois furinhos em suas costas, deixando a visão mais sexy
ainda.
Eu sempre ouvi falar que quem tem essas covinhas, são
bons de cama.
Subindo minha inspeção encontro costas com ombros
largos e músculos dos braços bem definidos.
Ricardo é bem alto, eu acho que deve ser maior do que o
meu pai, que tem mais de 1,80, então eu com os meus 1,60 fico
minúscula ao seu lado, ainda mais pelo seu porte físico forte.
Mesmo já convivendo com ele há anos, nunca o tinha visto
sem camisa.
Apesar dele ser loiro, sua pele tem um bronzeado perfeito.
— Está gostando do que vê? — Sou pega admirando-o,
quando ele vira com uma frigideira na mão, colocando em cima do
balcão da cozinha.
— O cheiro está muito bom! — Aproximo-me, tentando
evitar que a baba escorra pelos cantos da minha boca.
Porque se eu estava achando o corpo do Ricardo perfeito de
costas, de frente ele é a oitava maravilha do mundo.
Seu abdômen sem pelos é trincado, nem consigo contar
quantos gomos tem.
E o que é esse “V” nas laterais que somem para dentro da
cueca?
— Se você continuar me olhando assim, nós vamos pular o
café da manhã, Pequena. — Mudo meu foco para o seu rosto, me
sentindo corar da cabeça aos pés.
Mas quem pode me julgar, acho que não teria uma mulher
no mundo que não ficaria admirando esse homem.
— Clara! — adverte, enlaçando minha cintura. — Não me
provoque. — Morde o lóbulo da minha orelha, arrepiando os pelos
da minha nuca.
Desde que ele fez isso pela primeira vez, eu descobri que
tenho muita sensibilidade nesse lugar.
— Rick — gemo, quando uma de suas mãos entram por
dentro do meu pijama, fazendo movimentos de vai e vem na minha
cintura, até próximo aos meus seios, mas sem de fato tocá-los,
enquanto aumenta o seu ataque à minha orelha.
Fico na ponta dos pés, tombando a cabeça para o lado,
dando-lhe livre acesso.
Meu corpo está em chamas.
Eu nunca senti isso antes.
Sinto o meio das minhas pernas latejar, me fazendo apertar
uma na outra, tentando aplacar o formigamento.
— Clara, me pede para parar — diz com a voz rouca,
segurando as laterais do meu rosto, olhando-me dentro dos olhos.
Eu nunca tinha visto seus olhos tão escuros e dilatados
como estão.
Minha respiração também não é a única que está acelerada.
— Eu não quero que você pare, Ricardo! — falo séria, para
ele entender a certeza nas minhas palavras.
Se ele quiser tirar a minha virgindade, eu estou pronta para
a minha primeira vez ser hoje.
— Eu já disse que você será a minha perdição, menina? —
Tira-me do chão, me segura pela bunda e vai em direção à sala.
Ricardo me coloca no sofá, se deitando por cima de mim.
Sem falar mais nada, cola sua boca na minha, iniciando o
beijo mais intenso que já tive na vida.
Minhas mãos parecendo ter vida própria começam a
explorar seu peitoral, braços, parando no cós da calça jeans.
Traço com os dedos os “Vs” que há minutos estava
admirando à distância.
Ricardo aprofunda mais ainda o contato entre nossas bocas,
esfregando o evidente volume da sua calça no meu centro.
Como estou de pernas abertas e com um shorts de tecido
fino, minha sensibilidade é muito grande mesmo estando vestida.
— Ricardo... — ofego, respirando pela boca, quando ele
pressiona mais ainda o quadril no meu, atingindo um ponto muito
mais sensível.
Abandona minha boca, descendo os lábios pelo meu
pescoço, traçando a gola em formato de U da minha camiseta com
a língua.
Sem eu esperar, Ricardo pega um dos bicos dos meus seios
com a boca, ainda por cima do tecido.
Arfo com o contato.
O formigamento entre minhas pernas aumenta a cada
segundo, me fazendo ficar desesperada por alívio.
Ricardo eleva uma das minhas pernas, enroscando em volta
da sua cintura, passando a palma da mão quente por toda sua
extensão.
Ele sobe a mão, para no elástico do meu shorts, tira a boca
dos meus seios, voltando a me olhar nos olhos.
Os dele são o reflexo do desejo que estou sentindo.
Sem desviar o nosso contato, sinto quando um dos seus
dedos me invade, me fazendo mais uma vez respirar pela boca,
sentindo uma pressão muito grande no baixo ventre.
— Você é perfeita — diz antes de voltar a me beijar nos
lábios, ao mesmo tempo que coloca mais um dedo dentro de mim.
Ele faz movimentos de entra e sai, incluindo mais um dedo.
No começo sinto um pouco de ardência, mas o incômodo
dura segundos, pois o prazer que estou sentindo é maior do que
qualquer outra sensação.
— Clara? — Ricardo volta a me olhar, freando seus
movimentos dentro de mim, mas sem tirar a mão. — Você é virgem?
— Ricardo... — Sinto vontade de chorar, porque tenho
certeza de que quando eu responder ele vai sair correndo.
Capítulo 16

— Você ainda é virgem? — repito, ela me olha no fundo dos


meus olhos e consigo enxergar insegurança e vulnerabilidade nos
seus.
— Sou — sua voz sai como um sussurro —, não para, por
favor.
— Clara, eu deveria sair correndo depois de saber disso,
mas eu não consigo mais ficar longe de você e eu quero ser a porra
do seu primeiro homem — seus lábios ganham um enorme sorriso
—, mas isso não vai acontecer hoje. — Seu olhar fica
decepcionado.
— Mas... — a impeço de terminar, colocando um dedo em
sua boca.
— Você merece mais do que uma trepada em um sofá na
sua primeira vez, eu não sou um príncipe, mas também não sou um
filho da puta.
— Eu não me importo com isso.
Ela com certeza gosta de dificultar a minha vida.
Estou quase gozando nas calças só pelos toques que
trocamos, contudo, não vou mudar de ideia.
Eu sei como a primeira vez de uma mulher é importante e
marcante em sua vida, quero que quando aconteça seja especial
para ela.
Eu não deveria querer ser o seu primeiro, mas os meus
músculos chegam a doer em pensar na possibilidade disso não
acontecer.
Tentei ao máximo me manter longe, mas isso não é mais
possível.
Eu peguei um caminho sem volta.
Se depender de mim eu não serei apenas o primeiro, mas
também o único que irá lhe proporcionar alguma experiência sexual.
Depois quando estiver sozinho no meu apartamento eu
surto sobre esses pensamentos possessivos que nunca tive antes,
agora vou aproveitar o momento com ela.
— Mas eu me importo, hoje como a porra de um masoquista
eu só vou provar o seu sabor.
Volto a beijar seus lábios antes que ela tente contestar.
Ontem depois de sair da sua biblioteca, deitei ao seu lado
na cama sem o intuito de dormir, mas em um determinado
momento, quando percebi já estava agarrado ao seu corpo e tinha
pegado no sono.
Acordar sentindo o seu calor e o cheiro dos seus cabelos foi
a sensação mais fodida do mundo.
Foram raras as vezes que acordei ao lado de uma mulher,
mas tudo com Clara parece ser diferente e mais intenso.
Volto a descer meus lábios pelo seu pescoço, até pinçar os
bicos dos seus seios por cima do pijama rosa com os dentes, a
fazendo gemer de prazer.
Ela fica sexy, até mesmo com essa roupa horrível.
Assim que comecei a traçar seu corpo com as minhas mãos,
quando iniciamos nosso beijo ainda na cozinha, eu suspeitei que ela
era virgem pela sensibilidade aos meus toques.
Mas quando invadi sua boceta com os dedos tive certeza,
ainda sem ela confirmar com palavras.
Eu nunca transei com uma virgem, mas sentir seu calor e o
aperto em meus dedos, quase me fez gozar como um maldito
adolescente.
Desço mais minha boca, levantando sua blusa até a altura
do umbigo.
Circulo o buraco com a língua, descendo até chegar ao
elástico do seus shorts de algodão.
Distribuo mordidas nas laterais de sua cintura, antes de
descer o pijama, o tirando pelos seus tornozelos.
Assim que volto para o meio das suas pernas, quem geme
sou eu, ao encontrá-la vestida com uma minúscula calcinha rosa
que mal cobre o necessário.
Mordo com os lábios o local onde o pano está molhado,
antes de colocar a calcinha para o lado e literalmente cair de boca.
— Meu Deus, RICARDOO! — Espalmo a mão em sua
barriga para mantê-la no lugar, quando ela começa a levantar o
quadril.
Clara tem o gosto mais doce que já provei.
Uso a língua e os dentes, intercalando os níveis de pressão,
enquanto sugo sua boceta com toda a vontade dessa menina, que
estou tentando controlar há semanas.
Sinto meu pau doer de tão duro que está dentro das calças.
Nunca senti um tesão tão forte como estou sentindo agora.
Tiro minha mão da sua barriga, adentrando a camiseta,
chegando aos seus seios que são do tamanho perfeito para o meu
toque.
Na sala só pode ser ouvido os gemidos da Clara,
juntamente com o barulho das minhas sucções.
Sinto a ficar mais molhada, então resolvo incluir dois dedos
na brincadeira.
— Ricardo, eu... — Para de falar, respirando de boca aberta,
deitando a cabeça no braço do sofá.
Intensifico todos os meus toques em seu corpo, sentindo
minha respiração também acelerada, pelo prazer de lhe
proporcionar um orgasmo.
— Ahhhh...
Clara segura os meus cabelos, fazendo pressão, conforme
sinto suas paredes vaginais apertarem meus dedos.
Sugo cada gota de prazer que ela libera, até o único líquido
a restar em sua boceta seja minha saliva.
Afasto meu rosto do meio de suas pernas.
Volto a calcinha para o lugar, indo de encontro à sua boca,
lhe dando um beijo com sabor do seu próprio prazer.
— Vamos tomar café da manhã agora? — Encosto minha
testa na sua, tentando acalmar as batidas do meu coração.
— Eu queria que você gozasse também — diz, ficando com
as bochechas rosadas.
Ela está linda com os cabelos loiros espalhados pelo sofá
cinza-claro, lábios inchados e pele corada.
— Eu estou bem, Pequena. — Dou-lhe um selinho, antes de
levantar, pegar o shorts do chão, ajudando-a a se vestir.
Enfio minha mão por dentro da calça e cueca, ajeitando meu
pau, o colocando em uma posição menos desconfortável, por estar
duro como uma rocha.
— Tem certeza? — Segura minha mão, parando em minha
frente no meio da sala.
— Tenho sim, vamos comer. Estou faminto. — Pisco um
olho, sem esconder o duplo sentido na frase dita.
Essa menina ainda vai ser minha perdição.
Clara

— Clara, você está aí? — Arregalo os olhos, quando ouço a


voz do meu pai, ao mesmo tempo barulhos de batidas impacientes
na porta de entrada do apartamento.
— Meu Deus, o meu pai.
— O QUÊ? — Ricardo acorda com os olhos arregalados.
Depois dele me dar o meu primeiro orgasmo da vida,
comemos o café da manhã que ele já tinha preparado, só
precisando esquentar no micro-ondas e deitamos no sofá da sala
para assistir televisão.
Acho que acabamos pegando no sono.
— CLARA? — Henrique continua batendo na porta.
— Porra, Clara, eu estou fodido se ele me pegar aqui.
Identifico desespero na sua voz, o mesmo que estou
sentindo agora.
Porque eu não queria que o meu pai descobrisse sobre a
gente dessa forma.
— Vai para o meu quarto e fica lá, eu vou tentar mandar ele
embora.
Ricardo sai correndo da sala, sem olhar para trás,
parecendo um criminoso fugindo da polícia.
Se eu também não estivesse apavorada, até riria da
situação.
— JÁ VOU, PAI! — grito ainda do meio da sala para ele me
ouvir.
Paro na frente da porta.
Ajeito o cabelo e rezo para meus lábios não estarem mais
tão inchados e vermelhos pelos beijos intensos que troquei com o
Ricardo.
— O que aconteceu, pai? — Abro a porta, encontrando o
doutor Henrique com uma cara nada boa.
Será que ele descobriu sobre eu e o seu amigo?
Sinto meu estômago revirar..
— Porra, Clara, eu e sua mãe estávamos preocupados,
você não atende o celular e nem responde às mensagens desde
ontem — diz, entrando no apartamento.
— Me desculpa, eu estava dormindo. — Paro em sua frente,
colocando as mãos para trás para ele não perceber a minha
inquietação. — Cadê as suas chaves?
— Eu só lembrei de pegar com a sua mãe quando já estava
aqui em cima.
Graças a Deus, se ele tivesse entrado direto, iria me pegar
dormindo abraçada a um dos seus amigos e nem gosto de imaginar
qual seria sua reação.
— Tudo bem? — Abraça-me pelos ombros. — Ontem falou
que iria sair com a Cintia, voltou para casa cedo? — Sorrio com
suas perguntas.
Henrique Bittencourt é o homem mais protetor que eu
conheço, quer dizer, ele e o seu irmão gêmeo.
— Pai, eu fui no bar aqui na frente, e também não fiquei até
tarde lá — omito a parte que fiquei bêbada —, não precisava sair no
meio do plantão para vir aqui.
— Ficamos preocupados, princesa. — Me dá um beijo na
testa. — Ué, quem cozinhou? — aponta para as panelas do café da
manhã que o Ricardo preparou.
— Eu!
— Você? — Olha-me com uma sobrancelha levantada. —
Desde quando você cozinha, Clara? — pergunta com um sorriso
divertido nos lábios.
Droga!
— Eu deveria me sentir ofendida por você não acreditar nos
meus dotes culinários — tento descontrair para ele não perceber a
minha mentira —, mas todo mundo lá em casa está bem? — Mudo
de assunto.
Se fosse minha mãe no seu lugar, eu estaria muito
encrencada.
Ela é muito mais difícil de enganar.
— Está tudo bem sim, filha. — Olha para o relógio em seu
pulso, o primeiro presente de Natal que minha mãe deu para ele. —
Bom, subi aqui correndo, só para ver como você estava mesmo,
tenho um paciente para atender em menos de cinco minutos.
Depois responda às mensagens da Camila.
— Tudo bem, bom trabalho, pai. — Acompanho-o até a
porta, respirando aliviada por ele estar indo embora, sem descobrir
o amigo em meu quarto.
— Juízo. — Me dá um beijo na bochecha, antes de virar as
costas e ir em direção ao elevador. — Clara? — chama quando
estou quase fechando a porta.
— Oi? — Coloco apenas a cabeça para fora.
— Eu te amo, filha. — Mesmo estando a uma distância
considerada, consigo enxergar o amor que sente por mim em seus
olhos.
— Eu também te amo, pai — falo, fechando a porta,
encostando-me na madeira enquanto sinto um aperto ruim no peito.
Espero que o meu pai não fique muito bravo comigo quando
ele descobrir que estou ficando com um dos seus melhores amigos.
Rezo para que ele entenda que eu cresci e que também
preciso buscar o meu final feliz com alguém que me ame, assim
como ele encontrou com a minha mãe.
Capítulo 17

Desde que frequento a casa dos Bittencourt, nunca fiquei


desconfortável ou coisa parecida, mas assim que estaciono meu
carro na rua que já tem alguns veículos conhecidos, sinto-me
nervoso.
Dona Selma, mãe dos gêmeos, sempre que possível faz
algum almoço para reunir toda a família e eu, Afonso e Rebeca
sempre fomos incluídos nesses eventos.
Mas hoje, diferente das outras vezes, não sei como agir
quando passar por aqueles portões, pois antes eu não estava me
envolvendo com uma das filhas de um dos filhos dos donos da casa.
Desde a noite que encontrei Clara no bar e depois ficamos
em seu apartamento e quase tive um ataque do coração quando o
Henrique apareceu e me escondi como se fosse um amante, não
nos desgrudamos mais.
Quando seu pai foi embora, ela me encontrou em sua suíte
em pé dentro da banheira.
Eu sei que o meu amigo precisa saber sobre nossa relação,
mas eu não queria que fosse naquele momento.
Naquele dia saí do seu apartamento quando já tinha
anoitecido e diferente das outras vezes, não fugi no dia seguinte.
Eu e a Clara ainda não transamos de fato, mas durante
essas três semanas que passaram, quaisquer oportunidades de
ficarmos juntos, usamos muita as mãos por todas as partes do
corpo.
É até engraçado eu me ver nessa situação, pois estou
parecendo um adolescente tendo sua primeira namorada.
Quando falo isso não é só pelos encontros escondidos, mas
também pela falta de sexo.
Desde que perdi minha virgindade, nunca tinha batido tanta
punheta como nesses últimos dias.
Clara está me deixando com as bolas roxas com o seu
sorriso doce, mas atitudes sapecas.
Por incrível que pareça, mesmo estando em abstinência de
estar dentro de uma boceta, não me empolguei para procurar outra
mulher.
Se eu parar para pensar, querer só uma mulher me assusta,
mas eu resolvi não pensar muito sobre o que estou tendo com a
Clara e nem o que ela está me fazendo sentir, só vou deixar as
coisas rolarem.
Eu sabia que com ela seria diferente das outras.
— Pensei que você tinha esquecido o endereço da minha
casa, Ricardo — dona Selma fala assim que abre o portão, vendo
que sou eu do outro lado.
Realmente faz um tempo que eu não venho aqui.
Isso não aconteceu de propósito, mas todas as vezes que o
Henrique ou Heitor me chamavam para almoçar ou jantar na casa
da mãe, eu sempre preferi passar esse tempo com a Clara.
— A senhora nunca vai se livrar de mim, dona Selma. —
Dou-lhe um abraço, a tirando do chão.
— Só estava faltando você chegar. — Engulo em seco, pois
é a primeira vez que vou estar no mesmo ambiente que a Clara e
nossa família toda reunida. — Os meninos já acenderam a
churrasqueira.
— Menos trabalho para mim. — Abraço seus ombros,
seguindo para o quintal que fica na parte de trás.
Essa casa é a grande realização dos meus amigos.
Eles sempre trabalharam muito para dar uma boa
aposentadoria para seus pais e fico muito feliz que conseguiram.
O terreno é bem amplo, tem um pequeno jardim e garagem
na parte da frente, todos os cômodos são térreos e tem um espaço
de lazer na parte de trás da casa, onde é sempre feito nossos
churrascos e almoços em família.
Assim que passo pelas portas dos fundos avisto Henrique e
Heitor na churrasqueira.
Eles não cozinham tão bem como eu, mas até que são
esforçados.
Sorrio, pois adoro pegar no pé dos gêmeos.
Afonso está grudado na Rebeca, como sempre,
conversando sentados à mesa com Camila, Fernanda e dona
Heloisa.
Ao lado, em um tapete cheio de brinquedos, estão as
gêmeas do Heitor, junto com o seu filho mais novo e a filha mais
nova do Henrique.
Quando olho na direção oposta, meu coração
involuntariamente começa a bater mais rápido.
Seu Jaime está sentado em uma poltrona de jardim, tendo
ao seu lado a neta do coração.
Clara está linda com um vestido florido que cobre seus
joelhos, seus cabelos estão soltos com uma tiara que reflete a luz
do sol.
Concentro-me para não babar.
— Ricardo? — dona Selma chama minha atenção,
cutucando a lateral do meu corpo.
— Desculpa, acabei me lembrando de um paciente do
hospital. — Desvio meus olhos dos seus castanhos e já com umas
linhas de expressões para ela não enxergar minha mentira.
Eu ando fazendo muito isso ultimamente para as pessoas
que eu amo.
Só que mais uma vez resolvo guardar esse assunto em um
canto e pensar nele depois.
— Já comeu muita linguiça, Afonso? — grito, chamando
atenção de todos, colocando um sorriso no rosto, para disfarçar meu
nervosismo.

— Acho melhor você disfarçar, senão alguém vai perceber.


— Desvio meus olhos da Clara conversando com sua amiga Cintia
que chegou um pouco depois de mim, olhando para dona Selma
que se senta na poltrona ao meu lado.
Eu vim atender uma ligação da minha mãe e depois que
desliguei fiquei olhando a interação das duas do outro lado do
quintal.
Pelo visto, me distraí mais do que percebi.
— Oi? Não entendi? — Olho para ela, me fazendo de
desentendido, torcendo para que ela não tenha percebido onde
estava a direção da minha atenção.
— Você sabe que eu te considero um filho, né, Ricardo? —
Respiro fundo.
— Eu sei, dona Selma. — Olho para o aparelho em minhas
mãos, para não precisar encará-la.
Eu passei a tarde toda tentando não ficar muito próximo da
Clara, pois tinha medo de justamente alguém perceber que tem algo
rolando entre a gente.
Foi difícil pra caralho tratá-la como apenas sendo a filha do
Henrique, e como se eu não quisesse agarrá-la a todo momento,
mas eu estava conseguindo, pelo menos até agora.
— Desde quando vocês estão juntos?
— Nós não...
— Pode negar com palavras, mas está escrito nos seus
olhos, Ricardo, mesmo com vocês dois tentando disfarçar — ela me
corta. — Todas as vezes que minha neta olhava para você os olhos
dela brilhavam como eu nunca tinha visto antes.
— Dona Selma, eu posso explicar.
— Vocês estão mesmo juntos? — pergunta novamente.
— Sim.
— Você sabe que a Clara não é como as mulheres que você
está acostumado a se relacionar, certo? — Seu tom de voz é doce e
gentil.
Tenho vontade de abraçar essa senhora.
Dona Selma tem um pouco mais de sessenta anos, mas
aparenta ter muito menos.
Com seus cabelos pretos e olhos castanho-escuros, ela não
tem aparência de uma vozinha, mas seu jeito carinhoso acolhe
todos que entram na vida dela e principalmente dos seus filhos.
— Eu respeito muito a Clara, dona Selma, e jamais a trataria
como apenas uma transa.
— Fico muito feliz em saber disso, mas meu filho ainda não
sabe, certo? — Nego com a cabeça. — E pretende falar para ele
quando?
Faz a pergunta de milhões, só que eu ainda não tenho uma
resposta para ela.
— Estou criando coragem — sorrio e ela faz o mesmo —,
Henrique vai querer arrancar o meu pescoço quando souber que eu
estou com a filha dele.
— É porque ele sabe o seu enorme histórico com mulheres
e todo aquele discurso sobre não querer relacionamento sério e
tudo mais. — Faço careta, a ouvindo falar.
Eu estou muito fodido.
— Mas com a Clara é diferente.
Eu não sei o que essa senhora tem que me faz me abrir,
sem precisar fazer muito esforço.
— Que o Henrique vai surtar quando descobrir que a
menininha dele, que ele acha que ainda brinca de boneca, cresceu
e ainda virou mulher de um dos seus melhores amigos isso é fato.
— A senhora não está me ajudando — resmungo,
parecendo uma criança, fazendo-a sorrir abertamente.
— Mas agradeça que temos uma Camila para amansar a
fera, só que temos que nos preocupar também com o Heitor, né?
Ele é um tio bem coruja.
— Mas ainda bem que temos uma Fernanda também. —
Rimos alto, chamando atenção das duas amigas do outro lado.
Clara me olha nos olhos, me fazendo esquecer tudo à minha
volta.
O poder que ela tem sobre mim é algo sobrenatural.
— Você está apaixonado por ela, Ricardo? — Pega minha
mão, chamando minha atenção, fazendo outra pergunta que
também não tenho a resposta.
Estou apaixonado pela Clara?
Eu não sei, nunca senti algo além de carnal por uma mulher,
então não sei identificar o real significado de estar apaixonado.
— Me conta como tudo aconteceu, querido? — Faz um
carinho na palma da minha mão, quando demoro tempo demais
para responder à sua primeira pergunta.
Nos próximos minutos conto tudo o que estou vivendo com
sua neta nas últimas semanas, e é bom demais poder compartilhar
isso e ter a certeza de que a minha segunda mãe não me julga por
estar me relacionando com uma mulher quase vinte anos mais nova
do que eu, e filha de um dos meus melhores amigos.
Capítulo 18

— Eu já estava morrendo de saudades, Pequena. —


Levanto Clara pela cintura, colocando-a sentada em cima da minha
mesa, ficando entre suas pernas, enquanto beijo seu pescoço.
— Você sabe que tem apenas algumas horas que saímos
do meu apartamento, né? — diz sorrindo, com a minha boca agora
colada na dela.
— Muito tempo. — Invado seus lábios com a minha língua,
apertando sua bunda com as mãos abertas.
Mais uma vez vou ter que disfarçar meu pau duro na calça
durante o plantão.
Foi assim desde que resolvi tacar o foda-se e viver esse
sentimento que ainda não consigo nomear.
Desde a conversa que tive com a Dona Selma se passaram
algumas semanas, e isso também foi fundamental para me ajudar a
decidir que iria viver essa relação sem pensar no amanhã.
Ainda não transamos e estou quase explodindo, só que
tenho planos para sua primeira vez.
Eu pretendo me empenhar em fazer desse momento
inesquecível de um jeito bom para ela, mas isso não quer dizer que
nessas semanas não tenhamos feito muito sexo oral ou qualquer
tipo de contato que não envolva o meu pau dentro dela.
Clara é inexperiente, mas é muito empenhada em aprender
tudo o que lhe ensino e adora me provocar, porque sabe que é
gostosa pra caralho e não precisa fazer muito para me deixar
subindo pelas paredes.
Sinto meu pau pulsar dentro da calça só de me lembrar da
sua boca nele.
Aprofundo mais ainda o beijo, com as minhas mãos ficando
mais ousadas.
— PORRA, RICARDO! — Dou um pulo para trás, e a Clara
para fora da mesa, quando ouvimos o barulho da porta bater e o
berro vindo do Afonso.
Ainda bem que foi ele quem entrou.
Minha consciência grita, pois com o vacilo de não ter
trancado a porta, esse grito poderia ter vindo do pai ou tio da mulher
que eu estava quase comendo em cima da minha mesa.
— Afonso... — Clara tenta falar, mas é cortada por ele, com
um levantar de mão.
— Porra, já que vocês não assumem logo que estão juntos,
deviam pelo menos trancar o caralho da porta, já pensou a merda
que seria se fosse o seu pai agora?
— Me desculpa — ela pede com a voz chorosa, antes de
sair da sala com os passos apressados.
Eu sei como a Clara está chateada por ainda não termos
falado para os seus pais sobre a gente, só que até agora, nenhum
dos dois teve coragem para fazer isso.
— Ricardo, caralho...
— Eu não preciso de um sermão agora, Afonso. — Jogo-me
de qualquer jeito no sofá.
— Não vou te dar um sermão — se senta na outra ponta do
sofá —, mas até quando vocês vão esconder isso da família dela?
— Eu não sei, Afonso. — Cubro o rosto com as mãos,
apoiando os cotovelos nos joelhos.
— E o que realmente vocês estão tendo?
— Não rotulamos ainda. — Falando em voz alta, parece
errado isso ainda não estar definido.
— E o que você sente pela Clara, Ricardo?
— Caralho, Afonso, você acha que se eu realmente não
gostasse dela, eu estaria há semanas sem transar, pelo simples fato
de querer fazer algo especial na sua primeira vez? — Jogo-me no
encosto do sofá, me sentindo muito frustrado.
Respiro fundo, olhando para o teto branco.
Eu preciso resolver logo essa situação, não dá para ficar me
pegando escondido com a Clara como se eu fosse um adolescente.
— Afonso? — chamo, quando percebo que ele não
comentou nada desde a minha última fala.
— Desde que você ficou com a Clara pela primeira vez,
você não levou mais nenhuma outra mulher para a cama? —
pergunta, me olhando sério.
— Não. Foda, né?
Pegando-me de surpresa, ele coloca a mão na minha testa,
antes de colocar o estetoscópio que estava em volta do seu
pescoço nos ouvidos e a outra parte no meu coração.
— Que porra é essa, Afonso? — Afasto suas mãos de mim,
sem entender o seu propósito.
— Ricardo, cara, você deve estar muito doente, na verdade,
acho que já está em caso terminal — fala sem conseguir controlar o
sorriso.
— Vai à merda, Afonso! — exclamo quando percebo que ele
está me zoando.
— Sério, Ricardo, desde que nos conhecemos nunca te vi
ficar mais de uma semana sem transar e agora está há meses? Os
caras vão adorar saber disso. — Senta-se mais relaxado no sofá. —
Agora fico mais tranquilo sobre os seus sentimentos em relação a
Clara.
— Muito engraçado, você deveria estar me ajudando a
pensar como eu abordo esse assunto com o Henrique e não me
zoando.
— Desculpa, foi mais forte do que eu, mas falando sério
agora, vocês precisam falar com o Henrique, pois você sabe que se
ele pegar vocês como eu peguei hoje, a coisa vai ficar feia.
— Eu sei que preciso falar com ele, mas tenho certeza de
que depois que descobrir nossa amizade não vai mais ser a mesma.
— Volto a apoiar os cotovelos nos joelhos, tampando o rosto.
— Ele vai ficar muito puto, vai...
— Você não está ajudando — falo entre as mãos.
— Mas até que é compreensível, né? Você tem idade para
ser pai dela, Ricardo, sem falar da sua fama de pegar, não se
apegar e nunca fazer questão de mudar isso. Então acho que
qualquer pai ficaria pensando que você só quer brincar com sua
filha.
— Mas esse não é o caso, Afonso, eu tentei muito me
manter longe da Clara, me culpei muito por desejar uma das filhas
de um dos meus melhores amigos, mas parece que aquela menina
tem um ímã, que mesmo que eu fuja, seu magnetismo sempre me
puxa para perto dela.
— É, meu caro Ricardo, você está muito fodido.
— Tem certeza de que você é mesmo o meu amigo? —
brinco sorrindo, pois é bom poder me abrir com ele também sobre
esse assunto.
Só espero que meus outros amigos sejam compreensivos
como o fisioterapeuta.
— Nós precisamos falar com os seus pais, pequena — falo,
fazendo carinho nos cabelos dela.
Depois que saí de mais um plantão exaustivo, vim para o
apartamento da Clara, preparei o jantar, como quase todas as vezes
que venho passar a noite com ela, e depois de um banho que quase
me fez perder o controle com suas provocações, estamos deitados
em sua cama, com ela com a cabeça apoiada em meu peito.
Esses momentos que passamos juntos se tornaram os
meus favoritos, muito mais do que os sexuais.
Porra, quem diria, que eu, Ricardo, um mulherengo
assumido estaria de quatro por uma novinha.
— Eu sei. — Aconchega-se mais em meu corpo, colocando
uma das suas pernas em cima da minha. — Eu tenho medo da
reação do meu pai. — Levanta os olhos, se deparando com os
meus.
Enxergo muita vulnerabilidade nos seus.
— Eu também tenho medo do seu pai — brinco, a fazendo
sorrir.
Odeio quando enxergo tristeza nesses lindos olhos
castanhos com reflexos azuis.
— Eu não queria que a amizade de vocês ficasse abalada
por minha causa.
— Ei — seguro seu queixo, trazendo seus olhos novamente
para os meus quando ela tenta esconder o rosto no meu peito —,
você não tem culpa de nada, Pequena. Vamos ter fé que o Henrique
só vai surtar um pouquinho e como a dona Selma mesma disse,
temos a Camila para domar a fera. — Aperto a ponta do seu nariz,
tentando aliviar o clima.
Assim que saí do churrasco naquele dia, lhe mandei uma
mensagem contando a conversa que tive com a sua avó, e assim
como eu, Clara ficou aliviada que pelo menos teremos o apoio dela.
Que eu saiba, elas ainda não se encontraram pessoalmente
depois disso, mas se falaram por telefone, onde dona Selma deixou
claro que o importante é a nossa felicidade.
— Eu nunca menti para minha mãe antes. — Me dói o
coração vê-la assim tão chateada. — Espero que ela me perdoe por
ter escondido sobre nós dela.
Mãe e filha sempre tiveram uma relação de muita amizade e
cumplicidade e me sinto um merda em pensar que por minha causa
o relacionamento entre elas possa ser abalado.
— Vamos fazer assim, coisa mais linda da minha vida. —
Mudo nossas posições, ficando por cima. — Na próxima vez que
pegarmos folga juntos nós vamos viajar para bem longe dos nossos
problemas, eu vou te beijar muito lá. — Encho seu rosto de beijos.
— Para, Rick — diz rindo, tentando me afastar.
— E depois que voltarmos, reunimos seus pais e soltamos a
bomba, o que acha do meu plano?
Faz um tempo que eu quero viajar com a Clara, e acho que
esse é o melhor momento.
Acredito que nos fará muito bem poder andar de mãos
dadas por onde quisermos, sem ter medo de sermos vistos por
alguém.
— Mas para onde será essa viagem, doutor?
— É surpresa e nada que você faça, vai me convencer de
contar o nosso destino. — Saio de cima dela, deitando com as mãos
atrás da cabeça.
— Nada mesmo? — Como previsto, ela sobe em meu colo,
passando a língua por toda a extensão do meu abdômen, me
fazendo contrair até os dedos dos pés.
— Nada mesmo, pequena tentação. — Mudo novamente
nossas posições, lhe arrancando um gritinho de surpresa, antes de
voltar a atacar sua boca.
Vou levar a Clara para a sua viagem dos sonhos, e como
acabei de falar para ela, depois eu penso em como vamos resolver
nossos problemas.
Capítulo 19

— Está tudo bem com você, Rick? — Henrique se senta ao


meu lado no sofá do escritório do Heitor, onde escolhemos fazer
nossa reunião matinal hoje.
— Tudo bem, por que a pergunta?
— Sei lá, você anda sumido nessas últimas semanas, quase
não vai mais almoçar com a gente, também nunca mais nos chamou
para ir ao bar aqui do lado. Esse não é o seu normal — diz sorrindo,
sentando-se mais relaxado.
Se ele soubesse que o meu sumiço é porque todo o meu
tempo livre eu gasto com a sua filha, acredito que não ficaria feliz.
Hoje a Clara está de folga, e eu de plantão.
Quando isso acontece normalmente ela vai para a casa da
mãe, para visitar a bisavó e a irmã caçula.
— Só ando mais caseiro. — Troco olhares com o Afonso.
— Não sei não, hein? — Heitor me olha pensativo com a
mão no queixo. — Isso está cheirando a mulher.
— Mas ele sempre teve muitas em sua vida e não mudou a
sua rotina — seu gêmeo diz, me olhando com os olhos estreitos.
— Só que essa parece ser diferente — Heitor afirma.
— Diferente? Desde quando o Ricardo se importa com as
mulheres que ele leva para a cama, muitas nem sabe o nome —
Henrique fala sorrindo, mas mesmo suas palavras constatando
minha antiga realidade, me irrita.
Eu nunca neguei que sempre fui mulherengo e nunca quis
ter compromisso sério com ninguém, mas sempre deixei claro para
as minhas parceiras, nunca enganei ninguém.
— Mas eu conheci uma mulher que é diferente — falo em
um rompante, fazendo Henrique e Heitor me olharem com os olhos
arregalados, pois Afonso já sabe de quem estou falando.
— Quem é ela? — os gêmeos perguntam juntos.
Merda!
Acho que falei demais.
— Bom, vocês não a conhecem. — Tenho vontade de rir por
essa mentira.
— Onde vocês se conheceram? — Heitor indaga, se
sentando na ponta da cadeira, parecendo bem empolgado com o
assunto.
— Nos conhecemos no bar daqui do lado.
— E vocês estão juntos há quanto tempo? — Henrique se
aproxima mais de mim, parecendo querer ouvir mais de perto.
Afonso continua calado de braços cruzados, sentado na
cadeira ao lado do Heitor.
— Há uns meses já.
— O QUÊ? — mais uma vez falam juntos.
— Porra, eu não sei por que vocês estão assim tão
assustados. — Levanto, sentindo-me inquieto.
— Porque você nunca ficou tanto tempo assim com a
mesma mulher — Heitor diz, levantando e sentando-se ao lado do
irmão.
— Mas como eu falei, essa é diferente.
— Pera aí — Henrique fala. — Você está esse tempo todo
só com essa mulher? Sem ter ficado com nenhuma outra? — Ele
parece incrédulo com essa informação.
Confirmo com a cabeça, parando de andar, encostando-me
ao lado da porta que está fechada para os fofoqueiros de plantão do
hospital não ouvirem nossas conversas.
— E eles nem transaram ainda. — Se um olhar pudesse
matar uma pessoa, eu mataria o Afonso neste exato momento.
Para que ele foi abrir a porra da boca para falar justamente
isso?
— Desculpa, Ricardo, mas eu não estava mais conseguindo
guardar essa informação somente para mim — o desgraçado fala,
levantando os ombros como se fosse inocente.
Nesses momentos me questiono, por que somos amigos.
— Não é possível, eu acho que não ouvi direito, gente. —
Heitor joga-se no sofá, com a mão no coração. — Estou sentindo
uma palpitação estranha — diz, fazendo drama.
Reviro os olhos.
Ele deveria ser ator de alguma novela mexicana, ao invés
de neurologista.
— Ricardo, pelo amor de Deus, você está doente, cara? É
muito grave? — Henrique levanta-se, vindo em minha direção,
tirando o estetoscópio do pescoço.
— Eu falei a mesma coisa quando ele me contou — o filho
da puta do Afonso comenta com dificuldade, gargalhando.
— Sai, Henrique, porra! — Afasto-me dele, sentando no
lugar que ele oucupava antes. — E você não começa também,
hein? — Aponto para Heitor que também não consegue controlar o
riso.
— Tá, parei — Henrique fala, levantando as mãos para cima
em rendição, voltando a se sentar no sofá. — Mas falando sério
agora. Conta como isso aconteceu? Você gosta mesmo dela? Acha
que é para valer mesmo? — dispara.
Filhos da putas fofoqueiros.
— Eu acho que estou apaixonado — digo baixo, olhando
para minhas mãos apoiadas em meus joelhos.
— Caralho! — ouço Heitor falar do meu lado.
— Está tão sério assim? — Henrique pergunta, sem o
sorriso de antes nos lábios.
— É sim — respondo ainda sem olhar em sua direção. —
Como vocês sabem, eu não pretendia me envolver sério com
nenhuma mulher, mas a... — me freio antes de falar o nome da
Clara — essa pessoa entrou na minha vida como um furacão, eu até
tentei resistir, mas ela parece ter um ímã, que sempre me puxa para
perto dela.
— Porra, obrigado, Deus, por me deixar viver para
presenciar esse dia. — Heitor olha para o teto, com as mãos em
oração.
— Vai se foder.
— Mas nos conte mais sobre essa mulher, Ricardo. — Hoje
eu mato esse cuzão do Afonso.
— Também estou curioso para saber mais da pessoa que
conquistou seu coração impenetrável — Henrique diz.
— Ela é quase vinte anos mais nova do que eu — falo mais
uma vez, desviando meus olhos para as minhas mãos, me sentindo
envergonhado pela primeira vez em falar com ele de alguém que
estou me relacionando.
— Hoje é um dia de muitas surpresas — Heitor fala rindo. —
Ricardo está apaixonado por uma ninfeta. — O filho da puta
gargalha.
— Você já falou com os pais dela? — é Henrique quem
pergunta.
— Ainda não.
— Mas também não é como se ela fosse menor de idade,
né? É bem mais nova do que ele? É, mas totalmente responsável
pelo seus atos. — Afonso sai em minha defesa.
— Sim, mas ela tem idade para ser filha dele, inclusive, tem
a mesma idade da Clara. — Bingo, Henrique faz a temida
associação.
— Eu nem posso julgar muito, a Fernanda é dez anos mais
nova do que eu. — Espero que ele pense assim também quando
descobrir que a mulher em questão é a sobrinha dele.
— Se fosse a Clara, Henrique — Afonso olho em minha
direção —, se fosse ela com um namorado vinte anos mais velho,
seria um problema para você? — Ele está mesmo querendo me
matar do coração com essas perguntas.
— Primeiro — Henrique levanta um dedo para infatizar —,
a Clara é muito nova para namorar com qualquer homem de
qualquer idade, e segundo — levanta outro dedo —, o inferno teria
que congelar para eu aceitar a minha filha namorando com um cara
que tivesse a mesma idade do que eu.
E.U E.S.T.O.U M.U.I.T.O F.O.D.I.D.O.
— A Clara não é mais uma menina, Henrique, então não
acho que você pode ou não dizer para ela com quem pode namorar
ou proibir algo — falo com a voz alterada, mas me arrependo em
seguida quando ele me olha sem entender o meu rompante.
— Gente, estamos perdendo o foco aqui, como que saímos
do assunto da namorada do Ricardo para a minha sobrinha? — Mal
sabe o Heitor que são as mesmas pessoas.
Respiro fundo, me levantando.
— Bom, vou voltar para o meu consultório, já está dando o
horário do meu primeiro paciente. — Olho para o relógio no meu
pulso.
— Pera aí, cara, quando vamos conhecer a sua mulher?
Minha mulher?
Eu ainda não tinha pensado na Clara com esse termo
possessivo, mas com certeza ela é minha.
— Em breve — é o que respondo, antes de sair da sala sem
lhes dar chance de fazer outros questionamentos, entrando no
consultório ao lado.
Foi bom falar para eles sobre os meus sentimentos e
externar pela primeira vez que estou apaixonado.
Só espero que quando o Henrique descobrir que a minha
mulher e a sua filha são a mesma pessoa, ele acredite que meus
sentimentos por ela são verdadeiros.
Porque assim como eu disse para os meus amigos, Clara
entrou na minha vida como um furacão, sem me dar chances de não
me apaixonar.
Capítulo 20

— MEU DEUS, RICARDO! — grito, não conseguindo me


controlar quando ainda de dentro do carro avistamos três torres de
concreto muito conhecidas por mim, pois já vi várias fotos delas na
internet com uma faixa escrita entre elas “Bem-Vindo a São Tomé
das Letras”. — Como você sabia que eu sonhava em conhecer essa
cidade? — Tenho que me controlar para não soltar o cinto para ficar
ajoelhada no banco com a cabeça para fora da janela, de tanto que
estou animada.
Desde muito nova eu amo ler, e quando completei dezesseis
anos minha mãe me deixou começar a ler romances mais “adultos”
e foi aí que conheci a escrita da autora Anne Mark.
Ela é uma autora brasileira que já me fez chorar muito com
os seus romances, mas quando ela lançou “Estas e todas as vidas”,
uma história com um toque de misticismo que se passa em São
Tomé das Letras se tornou um dos meus livros favoritos da vida e
desde então faço planos para vir visitar essa cidade, só que nos
últimos anos aconteceu tantas coisas em nossas vidas que ainda
não tinha surgido a oportunidade.
— Abre o porta-luvas — diz, sem tirar a atenção da estrada.
Há uma semana, quando saiu nossas escalas e vimos que
tiramos dois dias de folga juntos nesse final de semana, eu
comuniquei aos meus pais que iria fazer uma viagem com a Cintia,
e deixei avisado para a minha amiga, para ela passar pano para
mim caso precisasse.
Claro que o meu pai fez uma careta quando soube, igual
quando disse que queria fazer intercâmbio, só que mais uma vez a
minha mãe agiu como uma fada sensata.
Mas nunca passou pela minha cabeça que o Ricardo me
traria para Minas Gerais.
— Eu acabei folheando esse livro na primeira vez que dormi
no seu apartamento — comenta quando tiro o exemplar de Estas e
todas as vidas, que constato que é o meu, pois quando passo as
páginas, vejo os vários post-its com as marcações que fiz ao longo
da história. — E vi que você queria conhecer essa cidade, então
achei que seria perfeito para ser a nossa primeira viagem juntos.
Tiro meus olhos do livro, olhando para o homem ao meu
lado.
Não contenho o sorriso ao perceber que ele ficou tímido
com o que revelou e essa é a primeira vez que vejo esse homem
sempre tão confiante desse jeito.
Isso só me faz gostar mais ainda dele.
— Obrigada. — Pego sua mão que estava apoiada em sua
coxa, entrelaçando nossos dedos. — Isso é muito importante para
mim e é bom compartilhar essa experiência tendo você ao meu
lado. — Ele desvia os olhos da estrada por segundos para olhar
dentro dos meus, mas consigo enxergar tantos sentimentos não
verbalizados que faz o meu coração bater mais acelerado.
Nessas últimas semanas estou vivendo algo que nem nos
meus melhores sonhos pensei que seria possível.
Ricardo está demonstrando ser um homem fofo, carinhoso e
muito atencioso, características que normalmente são escondidas
com seu jeito brincalhão e desapegado na frente dos amigos.
Ainda não transamos de fato, apesar de eu já estar pronta
para isso, mas ele bateu o pé que quer que seja em um momento
inesquecível e especial para mim, mas mal sabe que só de ser com
ele tudo seria perfeito, não importando o lugar que acontecesse.

— Meu Deus, que lindo! — exclamo assim que entramos no


chalé da pousada que vamos ficar hospedados nesses dois dias.
Acho que lindo é a palavra que eu mais falei desde que
entramos em São Tomé das Letras.
— Gostou mesmo? — Ricardo me abraça pela cintura por
trás, colocando o queixo apoiado em meu ombro.
— É tudo muito perfeito.
Ele fez as reservas na pousada Viva, que fica a uns cinco
minutos de distância de carro do centro.
Assim que passamos pelo portão de madeira pintado de
branco, avistamos vários chalés, todos em formato de pirâmide com
dois andares e uma vista de tirar o fôlego.
Pelo que eu pude ver, toda a propriedade é cercada por
muito verde e natureza.
Na parte de dentro, não encontramos nada muito luxuoso,
na verdade, com paredes de ripas grossas de madeiras na cor
natural, todo o ambiente é rústico, mas simplesmente perfeito.
No andar de baixo, nos deparamos com um sofá na cor
amarelo mostarda ao lado direito da porta e um balcão que separa a
pequena sala da cozinha.
Em um dos cantos tem até uma cesta de piquenique, com
uma toalha xadrez vermelha em cima.
Subindo a escada, também com o mesmo material das
paredes, encontramos uma enorme cama de casal e na frente dela
uma varanda com duas cadeiras.
Ando até a sacada, parando com as mãos apoiadas no
guarda corpo, sentindo a madeira rústica em minhas mãos.
Daqui de cima, além de conseguir ver toda a propriedade,
temos a visão de uma boa parte das montanhas à nossa volta e do
caminho de terra batida que fizemos até chegar aqui.
— Eu não tenho palavras para te agradecer por ter me
trazido aqui, faz anos que quero conhecer essa cidade — falo assim
que sinto o calor do corpo do Ricardo encostar no meu.
— Eu queria que você vivesse essa experiência comigo —
declara bem próximo do meu ouvido, fazendo os pelos da minha
nuca se arrepiarem.
Ricardo segura com as duas mãos minha cintura, virando
meu corpo para ficar frente a frente com ele.
Saímos de São Paulo um pouco depois das 4h da manhã e
como nossa viagem durou quase cinco horas, ainda não são nem
10h, o sol está presente no céu, mas ainda o calor está em um nível
agradável.
A luz solar bate no rosto do Ricardo, deixando seus olhos
que são da cor do céu, mais transparentes do que o normal.
Com suas sobrancelhas grossas, mandíbula quadrada
coberta por uma barba rala, da mesma cor dos seus cabelos, que
sempre estão perfeitamente penteados, ele parece um anjo me
olhando.
Um ser celestial que tiraria o juízo de qualquer mulher que
tivesse em sua presença.
— Eu quero que várias outras das suas primeiras vezes seja
comigo, Clara. — Coloca uma mecha de cabelo atrás da minha
orelha.
— E eu quero que todas as minhas primeiras vezes seja
com você. — Sinto-me hipnotizada, sem conseguir desviar meu
olhar do seu.
— Clara, eu gosto muito de você e quero fazer que isso
entre a gente dê certo.
Eu acho que estou sonhando.
Nunca imaginei que algum dia o meu amor platônico que
sinto pelo Ricardo desde os meus dezesseis anos seria
correspondido.
— Eu também quero que a gente dê certo, Ricardo e estou
disposta a lutar para ficarmos juntos. — Não preciso falar, ele sabe
que estou falando do que provavelmente vamos enfrentar quando
meu pai descobrir sobre nós.
— Eu também estou. — Aproxima seus lábios dos meus em
um roçar leve. — Você entrou em minha vida como um furacão,
derrubando todas as minhas certezas e barreiras, menina, mas eu
não consigo viver mais sem ter você ao meu lado — declara com os
olhos grudados nos meus.
Posso ver suas pupilas dilatadas e sua respiração ofegante.
Não respondo com palavras, dessa vez sou eu quem gruda
nossas bocas em um beijo profundo e intenso.
Selando um acordo silencioso entre nós.

Sinto o calor das chamas que crepidam na fogueira à minha


frente esquentar minhas bochechas, enquanto a manta de lã
colocada por Ricardo em meus ombros se encarrega de esquentar
meu corpo, além do seus braços à minha volta.
Depois que chegamos e nos instalamos, tomamos café da
manhã de boas-vindas dentro do próprio chalé e saímos para
conhecer toda a pousada, indo turistar o centro da cidade após o
almoço.
Batemos muita perna, entrando em cada comércio que
tinha, porque eu parecia uma criança dentro de uma loja de
brinquedos.
Decidimos que os passeios turísticos com ajuda do guia
iríamos fazer somente amanhã. Vamos acordar bem cedinho e
aproveitar o dia, antes de pegar a estrada de volta para casa a
noite.
Eu nem fui embora de São Tomé das Letras, mas já sinto
falta desse lugar.
Tudo é tão lindo e mágico, que eu estou me sentindo
literalmente dentro das páginas de Esta e Todas as Vidas.
— Você tinha razão — Ricardo fala próximo da minha
orelha, me fazendo sentir um arrepio gostoso.
Toda vez que ele está perto de mim ou me toca sinto um frio
na barriga como se fosse a primeira vez.
A paixão que sentia por ele anos atrás, só aumentou com
tudo que estamos vivendo esses dias, mas ainda não estou
preparada para admitir isso em voz alta, pois tenho medo de não ser
correspondida, além de afugentá-lo.
Não sei se o Ricardo mulherengo só está de férias, ou se
realmente quer se aposentar e ficar somente comigo.
Nesse período em que estamos juntos não falamos sobre
exclusividade, mas da minha parte nem precisa, pois não ficava com
ninguém antes dele mesmo, só espero que ele esteja sendo
somente meu também.
Contudo, tenho medo de tocar nesse assunto e me magoar.
Por outro lado, quando penso em seu jeito carinhoso e
amoroso comigo acredito que estamos sim na mesma sintonia, até
porque se ainda sou virgem é por culpa dele.
Todas as minhas tentativas de ir além de toques com as
mãos e bocas ele freeou com o papo de que queria que minha
primeira vez fosse especial.
Acho que chegou esse momento, porque nada poderia ser
mais especial do que perder minha virgindade com o homem que
amo na cidade que sempre sonhei em conhecer.
— O que eu tinha razão? — Viro o pescoço para olhar em
seu rosto.
— São Tomé das Letras é linda mesmo. — Leva uma de
suas mãos à minha bochecha, fazendo carinho com o polegar.
Como não é período de férias, a cidade não está cheia de
visitantes e muito menos a pousada.
Em volta da fogueira um pouco mais afastado de onde
estamos sentados tem um outro casal também abraçados e
conversando e em uma outra ponta uma família com o pai
segurando no colo um menino que deve ter uns cinco anos e a
mulher com um bebê de colo.
— Sim, demais, eu estou encantada por cada cantinho
daqui. — Também levo uma das minhas mãos ao seu rosto,
sentindo sua barba pinicar. — Eu sei que vou parecer repetitiva,
mas eu não tenho palavras para te agradecer por essa viagem. Vir
aqui realmente era algo muito especial para mim, Ricardo.
As labaredas do fogo que queima intensamente refletem em
seus olhos.
— Clara... — respira fundo, agora olhando para o céu azul
estrelado —, porra, menina... — Volta a me olhar com um sorriso
lindo nos lábios. — Eu nunca pensei que um dia sentiria ou viveria o
que estou com você.
— Isso é bom, né?
— Bom, mas me dá medo. Você entende que não estava
nos meus planos me relacionar sério com ninguém? Nunca? —
Afirmo com a cabeça, pois ele sempre deixou isso bem claro para
qualquer pessoa.
— Mas como eu não vou querer isso com você, sendo que
não consigo pensar em mais nada que não seja te beijar a todo
momento, ou simplesmente estar com você quando está longe de
mim?
Sinto meus olhos lacrimejarem ao ouvir essa declaração.
— Você ficou com alguém depois do nosso primeiro beijo?
— Tomo coragem e pergunto.
— Eu sou um mulherengo assumido, Clara — engulo em
seco em expectativa por sua resposta —, mas você é a única
mulher que eu toco e desejo nos últimos meses.

Capítulo 21

— Mas você é a única mulher que eu toco e desejo nos


últimos meses. — É muito estranho para um homem como eu
assumir isso em voz alta.
Em meus trinta e nove anos, eu nunca pensei que um dia
iria querer me declarar e abrir totalmente meu coração para uma
mulher.
Parece surreal tudo que essa menina de apenas vinte anos
me fez sentir e desejar ter em tão pouco tempo.
Eu nunca fui romântico com as minhas parceiras, mas a
Clara parece que me fez virar uma chavinha, me transformando em
um homem que passa dias planejando uma viagem romântica, e
quer fazer de tudo para ver o sorriso no seu rosto angelical.
— Vamos entrar? — pergunto, me levantando, pois quero
terminar essa conversa totalmente a sós.
Clara também se levanta, ainda com a manta que coloquei
em seus ombros e seguimos para dentro do chalé.
Quando eu fiz as pesquisas sobre São Tomé das Letras,
achei essa pousada e assim que vi as fotos que tinha no site de
reserva tinha certeza de que ela iria amar esse lugar.
Também fiz um pedido especial para essa noite.
Sinto minhas mãos suarem em expectativa com o que pode
acontecer assim que passarmos pela porta.
Ela que é virgem, mas sou eu que pareço que nunca estive
com uma mulher antes, de tanto que estou ansioso.
Eu nunca fiz tanta questão de impressionar e querer agradar
tanto uma pessoa, como quero com a Clara.
— Meu Deus! — ela exclama, assim que abro a porta lhe
dando passagem..
O chalé está todo iluminado à luz de velas, além de muitas
pétalas de rosas vermelhas espalhadas pelo chão.
— Clara... — Sinto minha garganta seca quando começo a
falar assim que fecho a porta, nos dando total privacidade.
— Ricardo... — fala com a voz embargada. — Você já me
disse que não é um príncipe encantado, mas mesmo assim está me
tratando como uma princesa.
— Eu quero te dar o mundo, menina, se você me pedir a
lua, eu vou buscá-la para você. Não chora — peço, secando com o
polegar as lágrimas que começam a escorrer pelo seu belo rosto.
— Você é tudo o que eu mais quero — diz, me fazendo
perder o controle e atacar sua boca, fazendo a manta que aquecia
seus ombros cair no chão.
Queria que fosse calmo e suave, mas assim que nossas
línguas se chocam, fazendo que uma corrente elétrica percorra por
todo o meu corpo, aprofundo o beijo com muita fome.
Eu preciso estar dentro dela, como preciso de ar para
respirar.
Com uma mão apoiando sua bunda, suspendo Clara, que
enlaça minha cintura com as pernas.
Inverto nossas posições, encostando suas costas na porta
de madeira.
Afasto minha boca da sua, traçando sua mandíbula,
descendo pelo pescoço.
Beijo um dos seus ombros que está exposto por estar
usando um vestido de alças finas, depois faço o mesmo com o
outro.
Nós dois estamos com nossas respirações ofegantes.
Eu mal comecei a tocá-la e meu pau já está parecendo uma
rocha dentro das calças.
— Ricardo — geme quando começo a passar minha língua
pelo topo dos seus seios, sem abaixar totalmente o vestido.
Clara rebola, tentando se esfregar em minha ereção
evidente.
— Vamos subir — decreto, se não formos agora para uma
cama, eu colocar uma camisinha e entrar nela, isso vai acontecer
comigo a imprensando nessa porta de madeira rústica.
Quando os pés dela tocam o chão novamente, seus olhos
estão tão brilhantes e cheios de sentimentos, que é como se meu
coração fosse sair pela boca quando a olho.
— Você é tão linda. — encosto minha testa na sua, falando
com nossos lábios a um centímetro de distância.
— Você também é lindo. — Sorrio feito um idiota em apenas
ouvir sua voz doce e olhar de admiração vindo em minha direção.
Deixo um beijo em sua testa, antes de seguirmos para o
segundo andar.
Assim que subimos a escada, ouço-a ofegar novamente
quando passamos pela porta do quarto.
Até eu me surpreendo com a decoração que eles fizeram.
Do jeito que eles deixaram o primeiro andar, eu já tinha
ficado satisfeito, mas aqui em cima o número de velas dobraram e
as pétalas de rosas fazem um caminho até chegar à cama.
Até o teto em formato de triângulo está decorado com flores
e velas suspensas.
Abraço Clara pelas costas, inspirando profundamente o
perfume que exala da sua pele.
— Eu amo demais o seu cheiro. — Mordo o lóbulo da sua
orelha, arrancando um gemidinho que faz o meu pau se contrair.
— Ricardo, estamos em um lugar especial, em um quarto
decorado de uma forma muito romântica, então eu acho... — Não a
deixo terminar, a viro pelos ombros, deixando-a de frente comigo,
pois eu sei qual vai ser o final da sua frase.
— Você tem certeza? — pergunto sério, porque sei que
esse é um grande passo em nossa relação.
— Nunca tive dúvidas sobre isso.
— Eu já disse que você ainda vai me causar um infarto —
falo antes de beijar seus lábios doces e macios.
Clara leva suas mãos para a barra da minha camiseta polo,
afasto nossas bocas apenas para passá-la pela minha cabeça.
Faço-a andar de costas até alcançarmos a cama, forçando
nossos corpos a caírem no colchão.
Ajeito-me entre suas pernas, que ficam mais expostas
quando o vestido sobe até próximo à sua bunda.
Sem muita cerimônia, abaixo a parte de cima do seu
vestido, livrando seus seios da peça.
Com a língua circulo primeiro um dos seus mamilos com as
aréolas pequenas e rosadas, para depois morder a pontinha com os
dentes, fazendo a mesma coisa com o outro em seguida.
Uma das minhas mãos vai também para o seu mamilo,
enquanto a outra passeia por sua perna que está encaixada na
minha cintura.
Clara tem a pele lisa e macia.
Passo meus dedos de sua panturrilha até a coxa, parando
na lateral da sua calcinha, sentindo sua respiração acelerar.
Esse não é o primeiro contato íntimo que trocamos, mas
sinto a mesma expectativa da primeira vez.
Afasto meu rosto do seus seios, voltando a beijar seus
lábios, enquanto traço sua calcinha com os dedos, tocando a renda.
Centímetro por centímetro adentro a peça, invadindo sua
boceta com dois dedos, a sentindo muito molhada.
— Ah... Ricardo... — geme, respirando pela boca quando
minhas investidas aumentam.
Junto o polegar na brincadeira, pressionando seu clitóris
enquanto os dois dedos continuam entrando e saindo.
Quando sinto que está quase gozando, desço novamente
pelo seu corpo, parando no meio das suas pernas.
Eu preciso sentir o seu gosto quando isso acontecer.
Lambo, chupo e passo a língua por todos os lugares que
minha boca alcança em sua boceta, enquanto meus dedos
continuam estimulando-a internamente.
— Ricardoo... Ahhhh... Isso é muito bom.
Aumento a sucção com a boca e os movimentos com a mão
quando sinto Clara apertar meus dedos com suas paredes internas,
ficando muito mais molhada.
Presenciar essa menina chegando ao climax é a porra da
coisa mais sexy que eu já vi.
Sugo até a última gota do seu prazer, antes de me afastar
do meio das suas pernas, lamber também meus dedos e seguir para
seus pés, para tirar as suas sandálias.
— Eu preciso de você totalmente pelada agora — falo com
desespero enquanto jogo os calçados em qualquer lugar no chão do
quarto, assim como o seu vestido.
Tiro sua pequena calcinha de renda rosa, levando ao nariz.
— Eu já disse que eu amo o seu cheiro? — murmuro ainda
inspirando o aroma que sai da peça, sentindo meu pau pingar de
desejo.
— Eu também te quero agora totalmente sem roupa — diz
com um sorriso sapeca nos lábios, ficando de joelhos na cama.
Tiro os tênis e as meias apressado, quando ameaço tirar o
cinto, Clara cobre minha mão com a sua.
Sem desviar os olhos dos meus, desafivela o objeto de
couro, abre o zíper, abaixando de uma só vez cueca e calça.
— Porra, Clara — exclamo sem fôlego quando ela toca com
suas mãos pequenas e macias meu pau, começando a beijar meu
peitoral.
Sinto meu corpo tremer.
— Eu preciso entrar em você agora! — Afasto suas mãos de
mim, termino de tirar as peças de roupa e em um passo chego à
mochila que trouxe, retirando de um dos bolsos um pacote fechado
de camisinha.
Rasgo com os dentes uma das embalagens, enrolando meu
pau em seguida sem muita cerimônia.
Se eu não entrar naquela boceta agora, vou queimar a
largada igual à porra de um adolescente e gozar antes da hora.
Na mesma velocidade que fui, volto para próximo do seu
corpo, lhe deitando novamente na cama comigo por cima.
— Se doer muito me avisa, tá? — Ela apenas confirma com
a cabeça, me olhando de uma forma tão intensa, que é mais eficaz
do que qualquer estímulo sexual.
Beijo seus lábios com calma e carinho, enquanto posiciono
a cabeça do meu pau em sua entrada e começo a entrar centímetro
por centímetro.
Ambos ofegamos a cada vez que entro um pouco mais.
— Porra! Você é muito apertada. Desse jeito eu vou passar
vergonha — falo em voz alta o meu receio, a fazendo gargalhar.
— Para de ser bobo, se acabasse agora já teria sido perfeito
— diz com um sorriso que mesmo não sendo proposital é muito
sexy.
— Mas estamos longe de acabar, menina. — Volta a beijá-
la, agora com mais paixão, sentindo uma pressão quando rompo
sua barreira.
Respirando fundo, a invado por completo, sinto-a arfar
quando minhas bolas batem em sua carne.
Aprofundo mais o beijo, levando uma das minhas mãos a
um dos seus mamilos para dissipar a dor que deve estar sentindo
por ter acabado de perder a virgindade, enquanto a outra está
enterrada em seus cabelos, que começam a ficar molhados pelo
suor, assim como o meu.
Aumento aos poucos os movimentos do meu quadril,
conforme seu corpo relaxa embaixo do meu.
— Meu Deus... ah... — Desgruda nossas bocas, jogando a
cabeça para trás, quando aumento ainda mais a velocidade.
Aproveito a oportunidade para passar minha língua por toda
a extensão do seu pescoço, parando em sua orelha, onde sei que é
um ponto sensível.
— Clara, merda! — Também não consigo controlar meu
gemido, quando levo uma de suas pernas à minha cintura, indo
mais fundo com as estocadas.
Entrelaço nossos dedos de uma das nossas mãos, no
momento que uma gota do meu suor pinga em seu ombro, enquanto
ela arranha minhas costas molhadas com as unhas da mão livre.
Tiro meu pau de dentro da sua boceta quase por completo,
e volto a enterrar até sentir minhas bolas serem molhadas pelo
prazer que escorre dela.
— Eu vou gozar de novo — diz ofegante.
— Graças a Deus — falo sem conseguir disfarçar o meu
desespero, por estar segurando ao máximo para não gozar antes
dela, fazendo-a sorrir entre gemidos.
Desconecto nossas mãos, a levando onde nossos corpos
estão conectados para intensificar o seu prazer.
— Clara! — exclamo, sentindo minha garganta seca,
enquanto sinto a porra saindo do meu pau preenchendo o látex.
Eu estou acostumado a ter esse tipo de experiência, mas
em nenhuma das outras vezes me senti em queda livre, como se
cada fibra do meu corpo também tivesse chegado ao êxtase, se
libertando.
Jogo-me ao seu lado na cama, inspirando e expirando,
sentindo um calor do caralho.
— Você está bem? — pergunto depois de um tempo que
ambos passamos em silêncio, recuperando o fôlego.
— Estou perfeita. — Vira de lado, me olhando e sorrindo,
com as bochechas vermelhas.
— Você é linda, sabia? — Seu sorriso aumenta. — Não me
olhe assim, senão vou te atacar de novo. — Aperto suas bochechas
com as duas mãos, mordendo seu lábio inferior antes de levantar
para descartar o preservativo no banheiro e pegar uma toalha para
limpá-la.
— Eu não iria reclamar. — Ouço já em frente ao vaso
sanitário, dando descarga.
— Sou quase um quarentão, Pequena, preciso de pelo
menos uns trinta minutos para me recuperar. — Clara gargalha, me
olhando com os olhos brilhantes assim que volto para a cama. —
Está doendo? — Passo a toalha molhada entre suas pernas, com
delicadeza, como se estivesse fazendo uma cirurgia.
— Eu estou bem, só está um pouco dolorido.
Termino de limpá-la, deixo a toalha no pé da cama, e volto a
me deitar ao seu lado, colocando sua cabeça em meu peito.
Clara boceja com a mão na boca, se aconchegando mais ao
meu corpo.
— Vamos dormir um pouco, Pequena. — Beijo o topo da
sua cabeça, fazendo carinho em seus cabelos molhados.
Puxo o edredrom, cobrindo nossos corpos.
— Obrigada, Ricardo — ela agradece com a voz sonolenta.
— Eu que te agradeço por ter voltado para a minha vida.
Capítulo 22

Eu não sabia como era bom acordar ao lado de uma pessoa


até começar a fazer isso.
Na verdade, não de qualquer pessoa, porque antes de sentir
essa sensação com a Clara, eu não tinha tido essa necessidade,
mas ela me faz querer experimentar coisas novas.
Olho pela porta da sacada que esquecemos aberta, vendo
as estrelas ainda no céu brilharem.
Como o alarme que coloquei no celular não despertou,
ainda não é hora de nos levantarmos para começar nossas
aventuras mais radicais por São Tomé das Letras, pois no nosso
primeiro dia na cidade optamos por fazer passeios mais lights pelo
centro histórico da cidade.
— Já é hora de levantarmos? — Clara pergunta com a voz
rouca de quem acabou de acordar, espreguiçando-se.
Enlaço sua cintura, colando mais seu corpo ao meu,
colocando sua perna em cima da minha, deixando seu joelho
apoiado em cima do meu pau que já está bem acordado.
— Ainda não, o alarme não tocou, mas estou repensando
sobre esse nosso encontro com o guia. Acho que não vou te deixar
sair dessa cama hoje.
— Eu também não queria sair dessa cama, mas estamos
em SÃO TOMÉ DAS LETRAS. — Eleva os braços animada.
Sorrrio em ver a empolgação em seus olhos.
— O que foi? — Clara indaga quando fico em silêncio
apenas a olhando.
— Estou só admirando sua beleza.
Fica com as bochechas coradas.
Clara está pelada debaixo do fino lençol que nos cobre, mas
fica tímida com um simples elogio.
Acredito que mesmo se eu não quisesse, não conseguiria
não me apaixonar por essa menina.
— Você nasceu para me desestruturar, sabia? — Ela nega
com a cabeça, me dando um beijo de esquimó. — Eu estou
apaixonado por você, Clara. — Ela afasta nossos rostos, com os
olhos arregalados, parecendo não acreditar no que acabou de ouvir.
— Ricardo, eu... — começa com a voz embargada, mas a
interrompo, colocando o indicador entre seus lábios.
— Não precisa falar nada. Eu só quero que saiba que é a
primeira pessoa que me faz ter esse tipo de sentimentos. Você me
faz querer pertencer a alguém, Clara — falo, olhando dentro dos
seus olhos, para que não tenha dúvidas das minhas palavras.
Saber que uma menina de apenas vinte anos em tão pouco
tempo já tem esse controle sobre mim me assusta, mas também
percebi que não quero lutar contra esse sentimento.
Nunca me permiti viver nada mais intenso com nenhuma
mulher, porém, agora chegou a hora de me entregar sem reservas.
Minhas mãos vão para as laterais do seu rosto, levando
meus lábios de encontro aos seus que me esperam entreabertos.
Agora eu não preciso que ela também fale que está
apaixonada, só quero mostrar com o meu corpo tudo o que acabei
de falar com palavras.
Jogo para fora da cama o lençol que nos cobria, a ajudando
a se sentar em cima de mim sem desgrudar nossas bocas.
Sinto a umidade entre suas pernas molhar minhas bolas.
Clara começa um vai e vem torturante com o quadril,
fazendo meu pau pingar em desejo de estar dentro dela novamente.
— Vou pegar outra camisinha — fala, descendo sua boca
pelo meu maxilar, indo para o pescoço.
— Você não está dolorida? — Estou com a respiração
ofegante.
— Não. Eu quero ter você dentro de mim de novo.
— Porra, menina! — Trago novamente sua boca até a
minha, dando um beijo faminto, antes de me esticar e pegar um
pacote de camisinha dentro da gaveta da mesinha de cabeceira.
Clara afasta seu quadril apenas o necessário para eu
conseguir colocar o preservativo.
Deixo-a no comando quando segura o meu pau, o
posicionando em sua entrada.
Mesmo com a barreira da camisinha entre minha pele e a
sua, consigo sentir o calor que emana dela.
— Meu Deus! — Clara exclama, jogando a cabeça para trás.
Seguro as duas bandas da sua bunda, ajudando nos
movimentos de subir e descer, sentindo suas paredes internas me
esmagarem a cada quicada.
Levo uma das minhas mãos aos seus seios, estimulando os
mamilos rosados e a outra entre suas pernas, colocando meu
polegar ao seu ponto de prazer mais sensível.
Não conseguindo mais me controlar, inverto nossas
posições, acelerando o ritmo das minhas entocadas.
Não demora muito para que ambos estejamos gemendo
sem controle quando atingimos nossa libertação.
Minha porra sai em um jato tão forte, me fazendo ficar com a
visão turva.
Deito-me ao seu lado, tiro a camisinha dando um nó na
ponta, jogando no chão ao lado da cama.
— Você está bem? — Volto a puxá-la para deitar a cabeça
em meu peito.
— Para de ficar me perguntando isso toda hora, por favor.
— Você era virgem até horas atrás, fico preocupado de
estar muito dolorida, até porque, sou um homem bem acima da
média, né — Clara gargalha com a minha fala.
Fecho-a entre meus braços, em um abraço de urso, a
fazendo rir mais ainda.
— Apesar de você ser bem acima da média, eu estou bem,
de verdade, Ricardo — beija meu queixo —, inclusive estou pronta
para outra rodada. — Olha-me com malícia.
— Sossega, menina. — Dou um tapa em uma das suas
nádegas. — Vamos dormir mais um pouco, peste. — Deixo um beijo
estralado em sua boca e uma mordida no lábio inferior.
Poder estar com a Clara em meus braços, sentindo o calor
do seu corpo nu, junto ao meu, me faz sentir um conforto nunca
experimentado antes.

— Eu nunca vi um lugar mais perfeito que esse — Clara fala


com os olhos brilhantes, totalmente encantada pela visão à sua
frente.
Com muito custo conseguimos sair da cama quando o
alarme despertou e depois de um banho bem quente, não somente
pela temperatura da água, seguimos para o centrinho da cidade,
ponto de encontro com o guia turístico.
Começamos visitando a igreja matriz de São Tomé, indo em
seguida para a gruta Garganta do Diabo, que tem sua entrada pela
cachoeira Vale das Borboletas, passamos também pela famosa
Ladeira do Amendoim e fomos no letreiro com o nome da cidade,
pois a Clara disse que não podíamos ir embora sem tirar uma foto
nele, mesmo que não possamos postar em nenhuma rede social.
Agora estamos em cima da gruta de São Tomé que fica ao
lado da igreja, vendo o pôr do sol.
— Estar com você aqui, que é perfeito. — Levo sua mão
que está entrelaçada à minha, aos lábios, depositando um beijo
nela.
Clara tira seu foco do horizonte, voltando sua atenção para
o meu rosto.
Seus cabelos loiros brilham conforme os raios alaranjados
do sol batem neles.
Suas bochechas estão vermelhas pelo mormaço que ainda
podemos sentir mesmo com a brisa que toca nossas peles.
— Eu também estou apaixonada por você, Ricardo. — Sinto
meu coração disparar com essa declaração. — Deixa eu falar. —
Coloca um dedo em meus lábios, me calando, assim como fiz com
ela horas atrás.
Clara volta sua atenção para o sol quase sumindo.
— Para ser sincera, eu sou apaixonada por você desde os
meus dezesseis anos. Eu nunca consegui te enxergar de uma forma
fraternal ou paterna como aconteceu com o Henrique, Heitor e
Afonso. — Arregalo os olhos ao ouvir essa confissão, pois como
sempre a vi apenas como uma criança, nunca reparei que sentia
algo desse tipo por mim por tanto tempo. — Mas eu sabia que se
me declarasse sendo menor de idade você jamais me levaria a
sério, até porque sempre me tratou somente como a filha da Camila
e enteada do Henrique.
Ela tem razão, se tivesse falado comigo sobre esse assunto
anos atrás, acharia que era apenas uma coisa boba de adolescente.
— Foi para me esquecer que você foi fazer um intercâmbio
nos Estados Unidos?
— Foi. — Ainda olhando para a cidade aos nossos pés, sorri
de forma triste. — No meu aniversário de dezoito anos eu iria me
declarar para você, falar que queria uma chance de te provar que
não era mais uma menina, só que eu te vi beijando uma mulher na
balada que fomos para comemorar o meu aniversário com tanto
desejo, que me fez enxergar que você nunca iria me olhar daquele
jeito. — Ela parece nostálgica ao falar do assunto.
Eu não gostaria que ela tivesse passado por essa situação,
mas na época, até mesmo depois que a Clara fez dezoito anos, eu
sempre a vi apenas como a filha dos meus amigos, só quando
retornou para o Brasil totalmente transformada fisicamente que eu
senti algo diferente disso por ela.
— Então eu resolvi passar um tempo longe, para te
esquecer e até mesmo me conhecer melhor também e apesar da
saudade de toda a minha família, foi muito bom fazer o intercâmbio.
— Clara... — começo, mas não sei o que falar.
Realmente fui pego de surpresa ao saber que ela nutria uma
paixão platônica por mim desde os dezesseis.
— Não precisa falar nada sobre isso. — Aperta firme os
dedos entrelaçados nos meus. — O importante é o nosso presente.
— E o nosso futuro. — Abraço seus ombros, encostando
sua cabeça em meu peito. — Porque eu quero ter um futuro com
você, Clara.
— Mesmo que isso possa fazer você perder a amizade do
meu pai?
— Mesmo que eu perca a amizade de um dos meus
melhores amigos, eu estou disposto a lutar por nós.
Capítulo 23

— Você vai dormir comigo hoje? — falo assim que passo


pela porta do consultório do Ricardo, me lembrando de fechá-la, não
quero correr o risco de alguém passar no corredor, ver nossa
interação e ir fofocar para o meu pai ou mãe.
Não quero que eles saibam dessa forma.
Faz quase um mês que voltamos de São Tomé das Letras e
ainda não tive coragem para falar com a minha família sobre o meu
relacionamento com o Ricardo.
Apesar de ele não ter me pedido formalmente em namoro,
depois de tudo que falamos um para o outro em nossa viagem e ele
deixar claro que somos exclusivos, considero que estamos sim em
um relacionamento sério.
Durante todos esses dias, foram raras as vezes que
passamos as noites sem dormirmos juntos, isso só aconteceu
quando eu ia dormir na casa da minha mãe, para matar um
pouquinho da saudade que sinto da minha família.
— Com certeza. — me abraça pela cintura, me dando um
beijo nos lábios.
— Então eu te espero no meu apartamento. — Circulo meus
braços em seu pescoço, ficando na ponta dos pés.
— Eu estava pensando em hoje você ir para o meu
apartamento, o que você acha? — Isso me surpreende um pouco,
pois desde que estamos juntos, todas as vezes vamos para o meu.
— Mas o meu é só atravessar a rua.
— Mas eu quero que a minha namorada conheça o meu
apartamento. — Me dá um beijo na ponta do nariz.
— Eu não me lembro de ter recebido um pedido de namoro.
— Isso é só um detalhe, porque você é minha namorada.
Minha. — Beija-me de forma possessiva. — E em breve você vai
andar com uma enorme aliança no dedo para deixar claro para
qualquer macho que tente se aproximar, que você tem dono. —
Leva minha mão direita aos lábios, beijando o meu dedo anelar.
— Você pode fazer xixi no meu pé também.
— Não me dê ideias, menina.
— Para, Ricardo! — exclamo rindo quando volta a me
abraçar pela cintura, me rodando no ar.
— Eu amo o seu sorriso — diz, me colocando no chão,
segurando as laterais do meu rosto com as mãos.
— Eu também amo o seu. Mas você sabe que essa aliança
vai servir mais para você, né? Porque eu não sei o que você tem,
que por onde passa as mulheres só faltam se jogarem em sua frente
sem roupa para agilizar as coisas.
— Isso é ciúmes? — Olha-me de forma safada e prepotente.
Ele sabe o poder que tem sobre o sexo oposto.
— Não, só estou constatando fatos.
E isso é pura verdade, pois já cansei de pegar as
enfermeiras e outras funcionárias do hospital com sorrisos nada
profissionais para o seu lado.
Todas as vezes que tive que presenciar alguém literalmente
dando em cima dele, precisei respirar fundo para não marcar
território, pois mais uma vez não quero que meus pais saibam da
nossa relação por causa de um ataque de ciúmes meu.
Eu sou sim ciumenta, mas acima de tudo eu confio nele,
porque aprendi com o relacionamento dos meus pais que nenhum
amor, por mais verdadeiro que seja, resiste a falta de confiança e
até agora meu atual namorado não me deu motivos para desconfiar
dele.
— Mas eu só quero você. — Seu olhar antes divertido e
cristalino é substituído por um azul-escuro, parecendo o céu noturno
que faz os pelos da minha nuca se arrepiarem. — Você vai para o
meu apartamento hoje? — pergunta com os lábios bem próximos
nos meus, me fazendo sentir o calor da sua respiração. — Eu estou
com saudades. — Coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha.
Ontem eu dormi na casa dos meus pais.
— Só se você preparar uma comida bem gostosa para a
gente jantar. — Uma das coisas que me surpreendi quando conheci
mais do Ricardo, é que ele sabe cozinhar muito bem.
Nível master chef.
Olhando para o homem todo engomadinho, imaginei que
não sabia fritar um ovo.
— Interesseira — fala, mordendo minha orelha.
— É pegar ou largar.
— Eu vou pegar e muito — diz antes de me dar um beijo
cheio de promessas.
— Meu Deus, isso aqui está muito bom — gemo sem me
importar em falar com a boca cheia de comida.
— Porra, Clara, se você continuar gemendo desse jeito, não
vou deixar você terminar de comer.
— A culpa é sua por cozinhar tão bem.
Depois da nossa conversa em seu consultório, eu fui para o
meu apartamento arrumar uma bolsa com alguns itens de higiene
pessoal, porque amanhã não estou de folga, além de uma troca de
roupa limpa do meu uniforme.
Um tempo depois recebi uma mensagem do Ricardo
avisando que já estava no estacionamento do meu prédio me
esperando.
Marcamos nesse local de encontro, para não correr o risco
de alguém conhecido me ver entrando em seu carro no
estacionamento do hospital.
Ricardo não mora muito longe de onde trabalhamos, seu
apartamento é localizado em um condomínio extremamente
luxuoso, assim como o interior da sua residência.
Eu sei que ele nasceu em berço de ouro, diferente do
Henrique e Heitor que para virarem médicos tiveram que estudar
muito para conseguirem uma bolsa na universidade pública e seus
pais sempre trabalharam demais para conseguirem dar um básico
para os filhos, assim como aconteceu na minha própria família.
Minha mãe e bisavó sempre batalharam muito para que
nunca me faltasse nada financeiramente, já que meu pai também
não contribuiu nessa parte na minha criação.
Mas apesar do Ricardo fazer parte de uma família cheia de
bens, em nada ele se parece um playboy arrogante, ao contrário,
por onde ele passa encanta as pessoas com seu jeito brincalhão.
Assim que chegamos ele foi logo para a cozinha preparar
nosso jantar e depois de quase uma hora saiu um delicioso
strogonoff de frango com arroz branco e batatas assadas.
Um dos meus pratos favoritos da vida.
Não posso esquecer da mousse de chocolate que está na
geladeira nos esperando.
Além dele ser lindo, bom de cama, sabe cozinhar.
Depois de satisfeitos, ele coloca os pratos sujos na máquina
de lavar-louças e seguimos com nossas sobremesas para o seu
quarto.
Apesar de todo o apartamento ser muito grande, ele não
tem cara de lar.
Nada é fora do lugar.
Acredito que estranhei o ambiente por achar que falta
alguma decoração mais colorida ou alguma toalhinha de tricô, feita
por uma avó, assim como na minha casa.
Achei tudo muito frio.
O apartamento dele tem dois quartos, sendo ambos suítes,
além de um banheiro social, sala, cozinha e varanda.
Eu me assustei um pouco com o tamanho do quarto do
Ricardo quando entrei nele pela primeira vez.
Ele parece daqueles que vemos nos filmes ou novelas.
A casa que nasci e vivi até minha mãe se casar com o
Henrique não era muito grande, mas tinha o tamanho ideal para três
mulheres.
Quando fomos morar na casa que meu pai comprou quando
se casou com minha mãe, foi o primeiro contato que tive com uma
residência mais luxuosa, mas o apartamento do Ricardo chega a ser
desnecessário de tanto espaço.
— Os meus pais que me deram.
— Oi?
— Você está aí, parada na porta, acredito que se
perguntando para que uma pessoa precisa de um quarto de solteiro
tão grande, né? — Não percebi que tinha começado a divagar.
— Ainda estou me acostumando em lidar com pessoas com
tanto dinheiro. —Sento-me ao seu lado na cama.
— Meus pais me deram esse apartamento assim que
completei dezoito anos e passei no vestibular de medicina, como eu
já pretendia morar sozinho e não estava com disposição para
procurar um lugar para morar, acabei aceitando e moro aqui desde
então, mas eu também acho o apartamento muito grande para
apenas uma pessoa, às vezes ouço até eco quando falo. — Sorri,
levando minha cabeça para encostar em seu peito.
— Você não fala muito sobre os seus pais.
— Não tem muito o que falar — diz, fazendo carinho em
meus cabelos. — Com as nossas rotinas de trabalho, hoje em dia
quase não nos vemos ou nos falamos — faz uma pausa, respirando
fundo —, meus pais nunca foram iguais aos do Henrique e Heitor,
eles sempre dedicaram mais atenção às empresas do que aos seus
filhos, então eu e a Juliana acabamos crescendo mais com a
presença de babás do que com eles.
Qual será a reação deles quando descobrirem nosso
namoro?
Espero que seja melhor do que a que prevejo que o meu pai
vai ter.
Eu também sabia que ele tinha uma irmã mais nova, mas
nunca a vi ou soube muito sobre ela.
— E com a Juliana, você tem uma boa relação?
— A Ju é o amor da minha vida, ela tem a sua idade, sabia?
— Sorri sem humor.
— Ela sabe sobre nós?
— Sabe sim, desde o começo, ela me encontrou algumas
vezes bêbado por me culpar por estar te querendo — diz, me
apertando mais em seus braços.
— Você ainda se sente culpado sobre o que estamos
vivendo?
— Eu me sinto culpado por estar mentindo para os meus
melhores amigos — segura meu queixo, levantando meu rosto, para
olhar em seus olhos —, mas não me arrependo do que eu sinto por
você e de estar vivendo essa paixão. — Sorrio com a sua
declaração, sem me importar de estar com cara de boba
apaixonada.
Capítulo 24

Saio do quarto do Ricardo na pontinha dos pés para não o


despertar.
Ele tem um sono muito leve e não quero que ele acorde
antes que eu consiga preparar o nosso café da manhã.
Eu não sou muito boa na cozinha como ele, mas fritar
alguns ovos e colocar no pão eu sei.
O sol já nasceu e apesar de não termos muito mais tempo
juntos, pois eu não estou de folga, diferente dele, eu planejo acordá-
lo com um café da manhã na cama.
Quero também fazer algo romântico para ele.
Ontem, depois que conversamos um pouco mais sobre a
sua família, comemos nossas sobremesas e dormimos
agarradinhos.
Não aconteceu nada sexual entre a gente, porque eu estava
no primeiro dia do meu ciclo menstrual e ele respeitou minha
decisão de não transarmos enquanto eu estivesse assim.
Mas até mesmo dividir uma colher com ele se torna algo
especial.
Começo colocando o café para fazer na cafeteira, depois
sigo para a geladeira para pegar os itens que preciso.
Alguns minutos depois, tenho dois pães com ovos e bacon
prontos, assim como duas xícaras cheias de café preto.
Sorrio satisfeita para o prato em cima do balcão, antes de
virar as costas para procurar uma bandeja nos armários.
— Quem é você?
— Ai, meu Deus, que susto! — Viro-me com a mão no
coração, sentindo os batimentos acelerados quando ouço uma voz
feminina atrás de mim.
— CLARAA? — Ricardo aparece na cozinha apenas de
cueca preta, parecendo assustado também, mas sua expressão
suaviza quando olha para a visita, ainda parada no meio da sala. —
Que susto, porra, te ouvir gritar, pensei que tinha acontecido alguma
coisa ruim. O que você está fazendo aqui a essa hora, Juliana? —
Vai até a mulher sem se incomodar com a falta de roupa, lhe dando
um beijo na testa.
Jesus amado, é a irmã dele.
Fico nervosa por esse primeiro encontro ser aqui, comigo
estando com cara de sono e usando uma camiseta que mal cobre
minhas coxas.
Espero que ela não seja dessas riquinhas mimadas.
— Amor, essa é a Juliana, minha irmãzinha — ele nos
apresenta, abraçando-a pelo ombros, a trazendo para mais próximo
de mim.
Juliana não é muito mais alta do que eu.
Temos um porte físico também parecido, mas seus cabelos
e olhos são idênticos aos do irmão.
— Me desculpa por ter te assustado — ela diz antes de me
abraçar. — É um prazer enfim te conhecer. — Retribuo o gesto,
respirando aliviada por ela pelo menos ser simpática.
— O prazer é meu.
— Eu deveria ter percebido de cara que era você Clara, meu
irmão não traria outra mulher aqui, se não fosse você — ela
comenta, me fazendo olhar para o seu irmão com um olhar
questionador.
— Você é a primeira mulher que trago aqui no meu
apartamento — diz, olhando para a irmã, com os olhos arregalados,
como se a recriminasse.
Ele parece ter ficado constrangido.
Chego a sentir meu coração bater na garganta com essa
informação.
Parece coisa boba, mas para mim significa muito saber que
fui a primeira pessoa que ele trouxe aqui, que não sou somente
mais uma que dormiu na sua cama.
— Você fez o nosso café da manhã? — Ricardo pergunta
com um enorme sorriso nos lábios, olhando para nossa comida.
— Me desculpem por atrapalhar vocês, mas como o Rick
tinha comentado comigo que estava de folga hoje, então resolvi
fazer uma visita para o meu irmão favorito. — Ela tem o mesmo
sorriso traquina dele.
— Como se você tivesse outro irmão. — Ricardo revira os
olhos, sentando em uma das banquetas do balcão, enquanto circula
minha cintura com um dos braços, me fazendo sentar em uma de
suas pernas.
Sinto-me tímida por estar tendo esse tipo de interação na
frente dela, pois ainda não tínhamos ficado juntos na frente de
alguém que conhecemos.
— Mas você caiu da cama, Ju? — ele pergunta, tomando
um gole do café, já adoçado.
— Você já ouviu que Deus ajuda quem cedo madruga? —
ela responde, também se sentando.
— Você quer que eu pegue um pouco de café para você,
Juliana? — ofereço.
— Essa pirralha não gosta de café — o irmão fala,
recebendo como resposta uma língua.
Sorrio achando graça da interação entre eles.
Apesar de sempre receber muito amor e carinho da minha
mãe e bisavó, na infância me senti um pouco sozinha por ser filha
única, mas agora que tenho também uma irmã caçula, espero que
quando Vitória crescer, tenhamos uma relação boa, na verdade,
quero que minha irmã me veja como uma amiga que poderá contar
sempre.
Passamos alguns minutos jogando conversa fora.
Juliana fala sobre como está sendo o seu estágio que faz
em uma das empresas dos pais e eu gosto de poder conhecer um
pouco mais alguém da família do Ricardo.
Se ela tem alguma coisa contra a minha relação com seu
irmão, por eu ter a mesma idade que ela, não demonstrou em
nenhum momento, pelo contrário, acabamos de nos conhecer, mas
a conversa fluiu perfeitamente.
Depois de mais alguns minutos de papo, deixei-os na sala e
fui tomar banho e trocar de roupa, pois estava dando o horário que
preciso sair para ir trabalhar.
— Tem certeza de que você não quer que eu te leve? Vai
ser rapidinho, a Juliana espera eu voltar — Ricardo fala da porta do
seu apartamento.
— Tenho certeza sim, não tem problema eu ir de Uber.
— Me manda mensagem quando chegar lá, ok? Bom
trabalho, amor. — Sinto borboletas no estômago todas as vezes que
ele me chama assim.
— Bom descanso. — Deixo um rápido beijo em seus lábios
e sigo para o elevador, para mais um dia de trabalho.
Ricardo
— Obrigada, Deus, por me manter viva até o dia de hoje —
ouço Juliana falar sentada no sofá da minha sala, agora sem os
sapatos e com as pernas dobradas embaixo da bunda.
Ela adora me atazanar com esse assunto como os meus
amigos.
Acho que joguei pedra na cruz para ter esse povo na minha
vida.
— O que você está falando, sua praga? — Acerto-lhe com
uma almofada.
— Estou agradecendo a Deus por me deixar presenciar o
meu irmão mais velho enfim de quatro por uma mulher. — Sorrio
com sua fala, mas não a desminto, porque é assim que estou pela
Clara.
Fazia alguns dias que eu queria que ela conhecesse o meu
apartamento e quando a vi deitada entre os meus lençóis com seus
cabelos cor de ouro espalhados pelos meus travesseiros brancos,
entendi por que nunca tive vontade de trazer outra mulher aqui.
— Meu Deus, olha esse sorriso de bobo apaixonado —
Juliana fala, dando um gritinho de alegria, batendo palmas.
Jogo outra almofada nela.
— Eu realmente estou apaixonado, na verdade, muito. Ela é
linda, não é? — Sento-me mais confortável no sofá, colocando a
cabeça no encosto, olhando para o teto alto e branco.
— É sim, parece uma boneca, e vocês ficam tão lindos
juntos — fala, suspirando.
Juliana sempre foi uma romântica incurável, diferente de
mim, que sempre tratei minhas relações com as mulheres de forma
muito prática.
Só que nos últimos dias estou vendo corações por todos os
lugares e faço qualquer coisa para ver o sorriso no rosto da minha
mulher.
— Mas... — começa, me fazendo olhar em sua direção. —
Você sabe que a mamãe vai encher um pouco o saco por causa da
diferença de idade e por a Clara não ser de uma das famílias que
ela acha ser dignas a se juntarem a nossa.
— Eu estou pouco me fodendo para o que eles vão pensar
sobre o meu relacionamento, Ju, eu não vou pedir a opnião deles
para namorar, apenas informar. Eu tenho quase quarenta anos, sou
o provedor do meu próprio dinheiro há muito tempo, então me
relaciono com quem eu quiser.
Estou falando a mais pura verdade.
A opinião dos meus pais não afeta em nada a minha vida.
— E os pais dela, já falaram com eles?
— Ainda não — solto uma lufada de ar —, mas quero fazer
isso o mais rápido que conseguir, não quero mais ter que esconder
que estamos juntos.
— Você quer é marcar território, isso sim — fala sorrindo,
jogando uma das almofadas que tinha tacado nela em minha
cabeça.
— Também, preciso deixar claro para os pirralhos que ela
tem dono.
— Aff. — Juliana revira os olhos com a minha fala, mas não
consegue segurar o riso.
— É muito bom te ver com esse brilho nos olhos quando fala
ou está ao lado dela, sabia? — Ju se arrasta pelo sofá, se sentando
mais perto de mim. — Achei que nunca iria ser tia.
— O quê? Tia? Ta doida, Juliana? — Levanto minha cabeça,
a olhando chocado.
De onde essa praga tirou essa ideia de ser tia?
— Ué, você não pretende construir um futuro com a Clara?
— Claro que sim, mas ter um bebê não está nos nossos
planos por enquanto, até porque, o Henrique já vai querer me matar
por estar me relacionando com a filhinha dele, se eu já a engravidar,
ele vai querer me matar com requintes de crueldade.
Juliana gargalha, mas eu não duvido que ele faria isso.
— Está certo, vocês têm que curtir cada fase do
relacionamento de vocês sem pular nenhuma, mas não se esqueça
que você já está chegando na casa dos quarenta, daqui a pouco
não vai ter mais o mesmo vigor de sempre, se é que você me
entende. — Sobe e desce as sobrancelhas desenhadas,
zombeteira.
— Como eu queria ser filho único, Deus. — Pego
novamente a almofada que ela tinha me jogado de volta, a
atacando, arrancando muitas risadas de ambos.
Sempre é muito bom passar esses momentos com a minha
caçula.
Capítulo 25

— O Heitor já saiu para almoçar? — pergunto para Clara,


parando em frente à sua mesa.
— Já sim, por quê?
— E falta muito para o seu horário de almoço? — Seguro
sua mão, a fazendo levantar e vir para o meu lado.
— Não, a outra recepcionista já está chegando para ficar no
me...
— Ótimo! — a corto, a arrastando para dentro do meu
consultório.
— O que aconteceu, Ricardo?
— Estou morrendo de saudades!
Ataco sua boca em um beijo faminto, prensando seu corpo
na porta fechada, virando a chave na tranca.
Eu não fui para casa ontem, estou de plantão no pronto-
socorro há horas e tivemos várias intercorrências bem graves.
Tudo o que mais quero agora é estar com a minha mulher.
Segurando sua bunda com as duas mãos, impulsiono seu
corpo para cima, até ela entrelaçar as pernas em volta do meu
quadril.
Desfaço de qualquer jeito o lenço em volta do seu pescoço
que compõe o uniforme, jogando em qualquer lugar no chão.
Desgrudando nossas bocas, desço meus lábios para seu
pescoço, enquanto abro com uma das mãos os primeiros botões da
sua camisa branca.
Clara usa um sutiã da mesma cor, que logo coloco para o
lado, antes de abocanhar seu mamilo esquerdo.
— Ah... Ricardo — geme enquanto rebola, buscando mais
contato.
Desde que tivemos a primeira vez juntos, ainda não fizemos
sexo fora de uma cama, mas hoje não importa o lugar, só preciso
estar dentro da minha mulher.
Carrego Clara até sentá-la em cima da minha mesa.
— Você é louco, sabia? — diz quando termino de tirar sua
calça bege, sapatos e meias, a deixando somente de calcinha da
mesma cor da peça de cima.
— Sou muito louco por você — falo, olhando dentro dos
seus olhos, que queimam de desejo, assim como os meus.
Deito Clara na mesa, voltando a colar minha boca em seu
corpo, iniciando uma trilha de beijo pela sua barriga, passando pelo
seu umbigo, até chegar à borda da renda da sua peça íntima.
Clara ofega, quando levo o nariz onde o pano já se encontra
úmido.
Afasto a calcinha para o lado, lambendo toda a extensão
dos seus grandes lábios.
— RICARDOO...
— Você vai ter que ficar quietinha, amor, não queremos que
ninguém nos ouça, certo? — falo, olhando para sua boceta
depilada.
Ajoelho no chão, salivando por tê-la toda aberta e entregue
a mim.
— Como eu amo seu gosto, Clara, porra.
Passo um tempo, lambendo, chupando e dando
mordidinhas, mas quando chego ao meu limite, levanto novamente,
tirando uma camisinha da carteira que estava no bolso de trás da
minha calça jeans, encapando o meu pau, sem me importar de tirar
toda a roupa.
Cubro seu corpo com o meu, invadindo sua boca com a
minha língua, ao mesmo tempo que meu pau entra em um só
impulso dentro dela.
Passo alguns minutos nessa posição, quando estou
sentindo que estamos quase chegando ao clímax, me afasto, a
ajudo a descer de cima da mesa, virando seu corpo, fazendo que
ela volte a se deitar, mas com a barriga para baixo e a bunda
empinada em minha direção.
Inclino-me mordendo os dois lados das suas bandas e um
chupão no meio do seu buraco ainda não explorado por mim, antes
de entrar com tudo dentro dela novamente, arrancando gemidos de
ambos pela posição.
Agarro seu cabelo enquanto meus quadris batem no dela de
forma intensa, fazendo a sala ser preenchida pelos sons dos atritos
entre nossos corpos.
— Porra — grunho quando sinto uma pressão vindo das
bolas, passando por toda a extensão do meu pau, até eu sentir jatos
fortes saindo, ao mesmo tempo que sinto as paredes dela me
apertarem cada vez mais.
Jogo a cabeça para trás com os olhos fechados, sentindo
todo o prazer sair de dentro de mim, enquanto meus movimentos
vão diminuindo.
Passamos ainda alguns segundos nessa posição,
recuperando nosso fôlego, até eu sair de dentro dela, tirar a
camisinha e embrulhar em um papel toalha antes de jogar no lixo.
Não quero correr o risco de alguém ver um preservativo na
lixeira do meu consultório.
Coloco meu membro de volta dentro da calça, arrumando a
roupa, antes de sair catando pelo chão as peças que tirei da Clara.
— O que foi isso? — ela indaga, sentada novamente em
cima da mesa, fechando os botões da sua camisa.
— Eu já disse, estava morrendo de saudades de você. —
Ajudo a vestir a calça e os sapatos novamente.
— Como eu vou voltar a trabalhar agora, toda amassada e
descabelada? — fala, penteando os cabelos com os dedos.
— Você está linda. — Fico entre suas pernas, ajeitando o
lenço azul-claro em volta do seu pescoço.
— Fala isso, porque você está aí, sem um fio de cabelo fora
do lugar. — Tenta fazer cara de brava, mas quando começo a beijar
e cheirar o seu pescoço, acaba sorrindo.
— Eu sou perdidamente apaixonado por você, sabia? —
Seguro as laterais do seu rosto, olhando dentro dos seus olhos.
— Eu também sou perdidamente apaixonada por você —
diz com um sorriso lindo nos lábios vermelhos pelos nossos
recentes beijos.
— Acho que dá tempo de comermos alguma coisa juntos,
no restaurante aqui do lado — falo, olhando a hora no celular.
— Ai, meu Deus — diz, levantando de cima da mesa.
— O que foi?
— Eu esqueci que tinha marcado de almoçar com a minha
mãe, ela deve estar me procurando. Tchau. — Me dá um beijo
rápido nos lábios, antes de sair da sala correndo, me deixando com
um sorriso bobo.
Tem como não amar essa menina?
— Amar, Ricardo? — falo em voz alta.
Será que a paixão que sinto pela Clara, já se transformou
em amor?
Nesses momentos eu sinto falta de poder conversar
abertamente com o Henrique, acho que ele seria a pessoa certa
para me dar bons conselhos agora.

— E aí, cara? — Heitor fala entrando no meu consultório,


sem bater.
— E aí — cumprimento, antes de dar outra mordida no meu
hambúrguer.
Minutos depois que a Clara saiu para ir atrás da mãe, eu fiz
o pedido no restaurante que tem ao lado do hospital e eles me
entregaram.
Visitantes e pacientes não podem entrar com comida, mas
os funcionários, sempre acabam conseguindo contrabandear algo, e
como eu estava com preguiça de sair do prédio, apelei para isso
hoje.
— Como anda a vida, cara? Você anda meio sumido nesses
últimos dias — comenta, sentando na cadeira em frente à minha
mesa e roubando uma das minhas batatas fritas.
— Estou tendo muitas consultas agendadas, e ainda fiquei
alguns dias no pronto-socorro, sem tempo nem para respirar direito.
— Sem falar no período que fico com a Clara, completo
mentalmente.
— Isso está com cheiro de mulher, isso sim — diz com a
mão no queixo. — Comigo foi assim pelo menos, quando comecei a
me relacionar com a Fernanda, todo o meu tempo livre eu queria
estar com ela. — Tenho que revirar os olhos com o sorriso
apaixonado que nasce em seus lábios ao falar da esposa.
— Minha diabetes disparou agora. — Jogo uma batata frita
em sua cabeça.
— Você não me engana, Ricardo, éramos farinha do mesmo
saco e para você andar tão calmo assim, com certeza as coisas
ficaram sérias com aquela mulher que você falou, me diz, quando foi
a última vez que saiu a noite para um barzinho ou balada?
Desvio meus olhos dos verdes dele, pois não consigo me
lembrar, qual foi a última vez que passei uma das minhas folgas
longe da Clara, até mesmo quando ela não passa a noite comigo,
eu vou para o meu apartamento e lá fico até dormir, torcendo para
as horas passarem e eu encontrá-la novamente.
— Nem precisa responder à minha pergunta, está escrito na
sua testa. — O filho da puta gargalha.
— Eu realmente estou muito apaixonado pela Cl... — Paro
de falar quando percebo que iria revelar o que não devia.
— Qual é o nome dela, Ricardo? Por que esse mistério
todo?
— Na hora certa vocês vão saber quem ela é, cara. — Volto
minha atenção para o copo de suco em minhas mãos.
Ele fica alguns minutos em silêncio, enquanto termino de
comer.
— Já sei — diz animado, levantando-se. — Ela trabalha aqui
no hospital, né? Com certeza é alguém que conhecemos, senão,
você não iria fazer esse mistério todo — fala, andando de um lado
para o outro no meio da sala.
— Pelo amor de Deus, Heitor, para de ser fofoqueiro. —
Também me levanto, parando encostado em frente à minha mesa.
Ficar nessa posição me faz lembrar do que vivi com a
sobrinha do homem à minha frente há pouco tempo.
Tento controlar, mas sinto meu pau contrair dentro da calça,
ao pensar na Clara de quatro.
— Ricardo? Ei? — Saio dos meus pensamentos, quando
Heitor bate palmas na minha frente. — Estou vendo que a coisa é
pior do que eu pensei, mas desembucha.
— É isso, Heitor, eu realmente estou muito apaixonado, não
transo com outra pessoa desde que ficamos juntos pela primeira vez
e nem quero. Parece que estou completo só de pensar que estamos
juntos.
— CARALHO! Eu não acredito que enfim estou vendo o
solteiro dos solteiros ficar de quatro por um rabo de saia.
— O mundo perdeu os dois melhores solteiros — falo
sorrindo, o abraçando pelos ombros.
— Está usando perfume de mulher agora, Ricardo? —
pergunta, levando o nariz para mais próximo ao meu pescoço,
descendo para a minha camisa.
— Para de me cheirar, porra! — Afasto nossos corpos, pois
sei qual perfume ele está sentindo, só espero que não associe à
pessoa.
Depois que transei com a Clara, fiquei com seu cheiro
impregnado por toda a minha roupa.
— Esse perfume parece o da minha sobrinha.
— Da Victória?
— Se fosse da Vitória, você estaria cheirando a bebê, estou
falando do perfume que a Clara usa.
Tento disfarçar meu desconforto quando ele toca no nome
dela.
— É impressão sua, deve ter sido alguma paciente que me
abraçou e ficou esse cheiro, até porque, perfume de mulher é tudo
parecido. Bom, obrigado pela visita, mas agora vai, porque eu
preciso voltar para o pronto-socorro — falo, voltando a abraçá-lo
pelos ombros, lhe acompanhando até a porta.
Eu tenho ainda alguns minutos para de fato voltar a
trabalhar, mas quero ficar esse tempo sozinho com os meus
pensamentos.
Capítulo 26

— Oi, meu amor — minha bisa fala assim que entro em seu
quarto, sentando-me na cama ao seu lado.
— Eu vim ver se a senhora já está pronta para irmos para a
casa da vó Selma.
— Já estou sim, todos estão prontos também?
— Estão sim, como a senhora está se sentindo? — Pego
sua mão enrugada com sinais das suas décadas de vida.
Depois de já ter passado anos que ela teve a primeira crise
de convulsão, eu e a minha mãe fazemos de tudo para que ela
tenha uma boa qualidade de vida, mas dona Heloisa às vezes
acorda um pouco chateada por não conseguir fazer as mesmas
coisas de antes, além dos medicamentos que a deixa um pouco
mais sonolenta.
Só que com muita paciência e ajuda de todos os nossos
amigos, sempre tentamos incluí-la na maioria das reuniões que
fazemos, seja na casa de quem for.
Hoje, está acontecendo na casa da mãe do Henrique.
Além da dona Selma ser muito carinhosa com a minha
bisavó, as duas normalmente passam horas no jardim conversando
sobre plantas.
— As mesmas dores de sempre, mas eu estou bem. — Sorri
me olhando, cobrindo minha mão com a sua.
Ela, minha mãe e a minha irmã caçula são as pessoas que
mais amo na vida.
— E você? Estou te achando com um brilho diferente
nesses lindos olhos.
— Estou normal, Bibi.
— Como o Ricardo está?
— Oi? — É inevitável não arregalar os olhos quando ouço
seu questionamento.
Por que ela estaria me perguntando sobre ele?
— Vocês ainda estão juntos?
— Bi, nós não...
— Meu amor, o jeito que eu vi vocês se olhando no último
churrasnco que teve na casa da Selma, não tem nada que me fale
que consiga me convencer de que não tem alguma coisa
acontecendo entre vocês. — Desvio meus olhos dos seus azuis-
petróleo, me sentindo envergonhada.
Eu sempre achei que estávamos conseguindo disfarçar bem
na frente dos outros.
Mas percebi que estou bem enganada, pois minha bisa não
é a primeira que diz sobre nossas trocas de olhares.
Dona Selma descobriu da mesma forma.
Será que mais alguém percebeu?
— Nós estamos namorando — confesso em um sussurro.
— Você fez um milagre fazendo aquele menino sossegar,
hein? — diz sorrindo, me fazendo relaxar um pouco. — Você está
feliz?
— Muito. Eu amo o Ricardo.
— E ele?
— Eu acho que ele também me ama, pelo menos o jeito que
me trata, demonstra isso.
— Sua mãe já sabe?
— Ainda não, na verdade, só a dona Selma e a senhora
sabem. — Coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. —
Mas queremos assumir para todos o quanto antes, só que temos
muito medo da reação do meu pai. Ricardo tem receio de perder a
amizade do Henrique.
— Gostando ou não, Henrique vai ter que aceitar que vocês
se amam.
— Mas espero que ele não fique tão chateado conosco.
— Vai dar tudo certo, minha princesa. — Abraça-me,
fazendo carinho em meus cabelos soltos. — Eu e a sua mãe
estamos aqui com você, independente de qualquer coisa. Tenho
certeza de que quando a Camila souber, o que vai pesar para ela, é
a sua felicidade.
— Obrigada! É muito importante o apoio de vocês para mim.
Fico com o coração mais tranquilo ao saber que a minha
bisa não está me julgando ou é contra eu me relacionar com o
amigo do meu pai.

— É muito difícil ficar perto de você sem poder te tocar —


Ricardo fala, surpreendendo-me, quando me abraça por trás,
pressionando sua virilha na minha bunda, monstrando como já está
excitado.
Eu vim beber um pouco de água, só não esperava que ele
viesse atrás de mim, mas não posso dizer que não gostei.
Nesses últimos dias não podemos encostar um no outro,
que no segundo seguinte estamos sem roupa e suados, não
importando onde.
Só de me lembrar das coisas que fizemos na sala de
descanso dos médicos, banheiros e no seu consultório no hospital,
sinto minhas bochechas corarem.
— Ricardo. — É difícil não gemer, quando ele passa sua
língua por toda a extensão do meu pescoço, apertando minha
bunda mais ainda em sua virilha. — Alguém pode entrar — falo sem
muita convicção, rebolando.
Amo a sensação do calor do seu corpo no meu e o perfume
que exala da sua pele.
Estamos na cozinha da casa da vó Selma, e apesar de ser
perigoso o que estamos fazendo, é muito excitante também.
Sempre é bom passar momentos com toda a família, como
hoje, mas realmente ficar no mesmo ambiente que o Ricardo e ter
que fingir que não tem intimidade entre a gente, me traz um gosto
ruim na boca.
— Você me deixa descontrolado, Clara, sente — sussurra
próximo ao meu ouvido, levando minha mão à frente da sua calça.
— Filha da puta! — diz rouco quando aperto seu membro duro,
entrando na brincadeira.
— Clara? Claraa? — Nós nos afastamos às pressas quando
ouvimos a voz da minha mãe na porta da sala. — Tudo bem por
aqui? — fala no momento que nos encontra encostados na pia, mas
a uns dois metros de distância um do outro.
Tento controlar minha ansiedade, mas sinto que meu rosto
está sem cor.
— Tudo sim, Cami, eu só vim pegar mais uma cerveja —
Ricardo diz com a voz controlada e um sorriso congelado no rosto.
— Entendi. — Minha mãe para na frente do balcão que
divide a cozinha com a sala, com os braços cruzados na frente do
peito, olhando para ambos com uma sobrancelha levantada, como
se buscasse respostas.
Só que a sua expressão muda, ficando com os olhos
arregalados, parecendo chocada quando percebe o volume na
frente da calça do Ricardo.
— Cami... — ele começa a falar, dando um passo à frente.
— Você pode me deixar falar com a Clara sozinha, por favor
— ela pede, olhando dentro dos olhos dele.
Sua voz não está brava, mas também não consigo
identificar o que deve estar se passando em sua cabeça.
— Camila, eu posso...
— Tudo bem, Ricardo — o corto. — Eu vou conversar com a
minha mãe sozinha. — Seus lindos olhos azuis estão com a cor
mais intensa do que antes, e sinto sua resistência em me deixar
sozinha.
— Se ela der uma de mãe chata, me grita que eu venho te
socorrer — brinca, tentando aliviar o clima.
— Se você não sair daqui agora, aí sim você vai ver a mãe
chata, vou fazer com você igual faço com a Vitória, vou te colocar no
meu colo e dar palmadas no seu bumbum por ter aprontado. — Ele
faz careta com a fala da minha mãe, saindo da cozinha. — Passe
antes no banheiro, Ricardo, ou a casa toda vai ter o desprazer de te
ver assim — diz, apontando com a cabeça para o meio das pernas
dele.
Pela primeira vez, desde que nos conhecemos vejo as
bochechas dele ficarem coradas, entretanto, tenta disfarçar
direcionando o seu tradicional sorriso cafajeste para a minha mãe,
antes de virar as costas e sair.
— Eu nem sei qual pergunta te faço primeiro, minha filha. —
Dona Camila se aproxima de mim, parando na minha frente.
Respiro fundo, tremendo de medo da sua reação.
Mesmo a minha bisa garantindo que ela ficaria do meu lado,
e eu sei a mãe compreensiva e amiga que tenho, fico apreensiva de
chateá-la de alguma forma.
— Mãe... — falo com a voz embargada, sentindo muita
vontade de chorar.
— Minha princesa — ela se aproxima, me abraçando forte
—, está acontecendo o que eu acho que está acontecendo?
— Está. — Minha resposta sai abafada por eu estar com o
rosto enterrado em seu peito.
Abraço mais forte sua cintura, sentindo seu cheiro, que
tantas vezes me acalmou.
— Eu estou meio que em choque, filha. Meu bebê realmente
cresceu. Ele é aquela pessoa que tínhamos conversado meses
atrás? — Respondo com um balançar de cabeça novamente, sinto
que se falar algo, vou abrir as porteiras das lágrimas. — Ok, mas o
que vocês estão tendo é somente algo passageiro, carnal, ou é um
sentimento mais forte? — Afasta-se um pouco, levantando meu
rosto pelo queixo.
— Eu amo o Ricardo, mãe — respondo, sentindo uma
lágrima escorrer.
— Eu só me preocupo sobre os sentimentos dele por você,
meu amor, todos sabemos que ele nunca levou nenhuma mulher a
sério. — Sua expressão está séria, mas não como se estivesse
brava e sim preocupada. — Me preocupo de você sair com o
coração quebrado nessa história.
— Mãe, ele me trata com tanto carinho e amor, desde que
ficamos juntos pela primeira vez ele não ficou com nenhuma outra
mulher.
— E você acredita nele?
— Acredito! — respondo sem pestanejar, pois eu realmente
acredito que o Ricardo foi fiel a mim nesses meses todos. — Ele
não me pressionou para transarmos, na verdade, esperou um
momento que fosse especial e inesquecível para mim.
— E foi desse jeito?
— Foi sim, foi perfeito. — Agora não consigo esconder o
sorriso, assim como faço todas as vezes que me lembro do
momento que perdi minha virgindade, porque realmente foi mágico
e inesquecível.
— Seus olhos brilham quando fala dele. — Minha mãe
também sorri, me fazendo respirar aliviada. — Quando pretendem
contar para o Henrique?
— Só estamos tomando coragem para isso — falo, fazendo
careta, porque é a mais pura verdade.
Eu nem sei quem está mais com medo do meu pai, eu ou o
Ricardo.
— O Ricardo está muito ferrado, no mínimo o Henrique vai
lhe dar um soco.
— Mãeeee — resmungo, voltando a esconder o meu rosto
em seu peito e abraçar sua cintura com força. — Eu preciso que
você esteja presente quando formos contar, pois só você consegue
controlar o papai. — Dona Camila gargalha com a minha fala.
— O Henrique te ama muito, filha, e ainda acha que você é
só uma menina, mas vamos dar um jeito de controlar a fera. —
Pisca um olho.
— Você não se importa pela nossa diferença de idade? E
por ele ser seu amigo e do papai?
— Não, meu amor, para mim o importante é a sua felicidade,
e se ela estar com o Ricardo, tudo bem.
— A senhora não está chateada comigo por ter escondido
isso por tanto tempo?
— Óbvio que eu gostaria que você tivesse me contado isso
antes, mas eu sei que você deve estar vivendo um turbilhão de
emoções por tudo o que está sentindo.
— Obrigada, mãe, eu te amo muito. — Afasto nossos
corpos, olhando dentro dos seus olhos cor de mel.
— Eu também te amo, minha princesa, você e a sua irmã
são a minha vida. — Me abraça forte, quase me esmagando,
arrancando-me gargalhadas. — Mas vamos almoçar juntas essa
semana e você vai me contar com mínimos detalhes como tudo isso
com o Ricardo começou.
— Sim, senho... Quem deve ser? — Ouvimos uma buzina
de carro vindo da garagem da casa.
— Uma surpresa que o seu pai resolveu fazer para você.
— Eu não acredito. — Saio da cozinha com pressa, a
arrastando pela mão, para ver o meu presente.
Capítulo 27

— Desde quando a Clara dirige? — pergunto para o Heitor


que está parado ao meu lado, esperando a sobrinha chegar ao
quintal.
Que não deve demorar a acontecer, pois com certeza o
barulho de buzina deve ter chamado atenção delas dentro de casa.
Eu realmente precisei ir ao banheiro, jogar água no rosto
para tentar fazer com que o meu pau entendesse que precisava
abaixar.
Mais uma vez a minha impulsividade por estar perto da
Clara quase deu merda.
Ainda bem que foi a Camila que apareceu na cozinha, se
fosse o Henrique, nem quero imaginar o que aconteceria se ele me
encontrasse de pau duro ao lado da sua filhinha.
Porque pelo o olhar que a minha amiga me direcionou, ficou
mais que claro que ela percebeu o que estava acontecendo.
Porra, vou tentar conversar com ela amanhã sobre esse
assunto, eu preciso que acredite que eu realmente estou
apaixonado pela sua filha.
— Ela tirou a habilitação quando estava fazendo o
intercâmbio e depois que voltou eu andei praticando com ela.
— Entendi — falo, olhando para o carro estacionado na
garagem.
Henrique escolheu o modelo HB20 na cor vermelha e acho
que foi perfeito para a Clara.
Eu tenho certeza de que ela vai surtar com o presente
antecipado de aniversário.
Isso me faz fazer uma anotação mental para também já
começar a planejar uma surpresa especial para o aniversário de
vinte e um anos da minha menina.
Esse vai ser o primeiro aniversário dela que passaremos
juntos e quero que seja perfeito.
Aff.
Virei um bobão apaixonado.
— MEU DEUS, PAI! — Clara exclama, passando pela porta
de mãos dadas com a mãe, encontrando carro com um enorme laço
cor-de-rosa em cima e um urso que deve ser maior do que ela no
banco do passageiro.
— Eu não consegui esperar até o seu aniversário, princesa
— Henrique a abraça forte, tirando seus pés do chão.
— É muito perfeito — ela diz, passando a mão pelo capô,
indo se sentar atrás do volante.
Ver Henrique e Clara juntos faz o meu coração doer por
estar mentindo para o meu amigo.
Desde o começo ele a amou como se fosse do seu próprio
sangue e quando Vitória chegou nunca fez distinção entre as duas.
Só espero que ele entenda que também a amo e vou
protegê-la de qualquer coisa, assim como ele.
— Depois nós vamos ter uma conversinha bem séria,
senhor Ricardo — Camila sussurra ao meu lado, enquanto olhamos
a interação entre pai, filha e tio dentro do veículo.
— Sim, sogra. — Não resisto em provocá-la.
— O Henrique vai amar ser chamado de sogro também.
— Porra, Cami, nem sabe brincar, hein? — Abraço seus
ombros, dando um beijo em seus cabelos lisos e escorridos. — Ela
me mudou, Camila, eu estou totalmente apaixonado.
— Se você tiver amor ao que tem no meio das pernas, eu
realmente espero que isso seja verdade, e essa ameaça está vindo
de mim e não do meu marido — sorri como se não estivesse
acabado de ameaçar meu pau, antes de sair andando, indo também
em direção ao carro.
— Eu estou muito ferrado — comento sozinho.

— Você vai dormir hoje no meu apartamento, né? —


pergunto, sentindo o cheiro do pescoço da Clara, enquanto ela está
sentada no meu colo no sofá do meu consultório.
Hoje, mais uma vez deixamos de sair para almoçar para
ficarmos juntos.
Eu pareço um drogado em abstinência, só tenho paz
quando ela está ao meu lado.
— Vou sim, mas vamos no meu carro — diz, batendo
palmas, empolgada.
Faz uma semana que ela ganhou o carro de presente e
ainda está em êxtase.
— Deus me ajude. — Faço sinal de cruz, fingindo estar com
medo, para provocá-la.
— Bobo. — Bate em meu ombro, tentando sair do meu colo,
mas circulo sua cintura com os braços a mantendo no lugar. — Eu
dirijo muito bem, tá? — fala com o nariz empinado.
— Você é a coisinha mais linda desse mundo, sabia? —
Aperto suas bochechas com uma das mãos, fazendo com que fique
com um biquinho de peixe..
Encosto meus lábios nos seus, sentindo uma corrente
elétrica passar por todas as terminações nervosas do meu corpo.
Aprofundo mais o beijo, entrando com a mão por dentro da
sua camisa, sentindo o calor da sua pele na minha.
— Você me deixa louco. — Desço minha boca para seu
pescoço novamente.
— Você também me deixa louca, mas infelizmente meu
horário de almoço já está acabando.
Bufo, encostando minha testa em seu peito, sentindo-o subir
e descer.
— Como foi a conversa com a sua mãe?
Ontem ela dormiu na casa da Camila e tenho certeza de que
a mãe não deixou essa oportunidade passar para tirar mais detalhes
da filha sobre o nosso relacionamento.
— Minha mãe é incrível. — Mesmo não olhando em seu
rosto, sinto que está sorrindo. — Conversamos quase a madrugada
toda, e ela me lembrou várias vezes para não esquecermos a
camisinha.
— Meu Deus do céu. — Jogo-me no encosto do sofá. — Eu
estou fugindo dela a semana toda — falo, a fazendo gargalhar.
— Mas dona Camila é bem determinada, uma hora ela vai te
encurralar.
— Linda, é brochante falar dos seus pais tendo você
sentada no meu colo.
— Seus sogros — diz sem disfaçar o sorriso na voz.
— O Henrique vai amar ouvir eu o chamando assim.
— Com certeza. — Coloca a mão na boca, tentando
controlar a risada. — Rick — inclina-se mais em meu colo, olhando
dentro dos meus olhos, agora um pouco mais séria —, nós
precisamos falar com o papai.
— Eu sei, linda. — Coloco uma mecha de cabelo atrás da
sua orelha. — Você não acha melhor eu falar com ele sozinho
primeiro?
— Eu acho melhor essa conversa acontecer na casa da
minha mãe com ela presente.
— É, pensando por esse lado, talvez a Cami consiga evitar
que eu leve um soco.
— Falando sério agora, Ricardo. Eu espero mesmo que a
reação do meu pai não seja tão ruim assim, eu não quero ser a
causadora do rompimento da amizade de vocês.
— Linda, o que acontecer com a minha amizade com o
Henrique depois que ele souber do nosso relacionamento, não será
a sua culpa. — Dou um selinho em seus lábios. — Nós não estamos
fazendo nada de errado ou ilegal, Clara. Ele vai ter que aceitar que
você cresceu e estamos apaixonados.
— Eu estou muito apaixonada — ela diz com um lindo
sorriso no rosto.
— Eu também estou muito apaixonado. — Aproximo minha
boca da sua, até colar ambas.
O beijo começa lento e cheio de carinho, mas conforme
Clara se mexe em meu colo, estimulando o meu pau, intensifico os
movimentos da minha língua dentro da sua boca.
Levo minhas mãos para sua bunda, ajudando o movimento
de vai e vem que seu quadril faz em meu colo.
— MAS QUE PORRA É ESSA? — Afastamos nossos
rostos, olhando em direção à porta quando ouvimos a voz de trovão
do Henrique.
Capítulo 28

— Seu filho da puta. — Eu não tenho tempo de reação,


quando ele vem em nossa direção como um touro bravo, tira Clara
do meu colo sem nenhum tipo de delicadeza, acertando um soco
em meu rosto.
— PARA, PAI — ouço Clara gritar entre soluços, levo outro
soco, antes de alguém o tirar de cima de mim.
— ME SOLTA, CARALHO — Henrique grita, quando o
Afonso usando toda a sua força tenta segurá-lo.
Levanto, limpando o sangue que sai do nariz e canto da
boca, com o dorso da mão.
— Você está...
— Não chega perto dele, porra! — ele diz quando Clara
ameaça a se aproximar de mim.
— Henrique, eu...
— Você é um filho da puta doente — me interrompe. — Ela
é só uma MENINA. — Seus olhos estão em chamas.
— O que está acontecendo aqui, caralho? — Heitor entra na
sala, olhando para todos confusos. — Eu consegui ouvir os gritos do
meu consultório — diz, fechando a porta.
— Esse filho da puta estava beijando a minha filha —
Henrique continua gritando.
— O quê? — Heitor ameaça vir em minha direção, mas
Clara entra na sua frente, colocando as mãos espalmadas em seu
peito.
— Tio, por favor, por favor, deixe a gente explicar.
Eu não consigo decifrar o que ele está sentindo, quando
seus olhos param nos meus, mas não parece ser coisas boas.
— Ela tem idade para ser sua filha, sabia? Meu Deus! —
Henrique passa as mãos pelos cabelos, quase os arrancando.
— Pai, por favor, vamos conversar com calma. — Clara para
na sua frente, colocando as duas mãos em seu rosto.
— Conversar, Clara? O que tem para conversar sobre a
porra de um dos meus melhores amigos estar beijando a minha filha
que é quase vinte anos mais nova que ele?
Ela encolhe o corpo, deixando mais lágrimas banharem seu
rosto.
— Henrique, eu amo a Clara — falo, tentando me manter
controlado.
Ela vira o rosto, me olhando com os olhos arregalados.
Eu não queria que a primeira vez que ela me ouvisse
falando isso fosse dessa forma, mas preciso fazer com que ele
acredite nos meus sentimentos pela sua filha.
Quando Clara ameaça dar um passo à frente, em minha
direção, Henrique segura em seu pulso, a impedindo de se
aproximar.
— Quanto tempo isso está acontecendo? — ele pergunta,
olhando para mim.
— Há alguns meses — respondo sem desviar os olhos dos
seus.
Eu não vou agir como um moleque covarde agora.
— Era ela a mulher que você estava falando, seu filho da
puta. — Tenta vir novamente para cima de mim, mas Afonso o
impede.
— Que merda é essa? — Heitor se manifesta. — Clara, pelo
amor de Deus, eu nem sei o que pensar, o que falar — diz, andando
de um lado para o outro.
Sua reação foi melhor do que eu imaginei quando
descobrisse que eu estava ficando com sua sobrinha.
Ele sempre foi o mais explosivo entre os gêmeos, mas
nessa situação Henrique esqueceu toda sua personalidade tranquila
e apaziguadora do lado de fora do consultório.
— Pai, eu também amo o Ricardo, eu te imploro, vamos
conversar — Clara pede, com as mãos juntas em prece.
Me dói muito vê-la desse jeito.
— Henrique, eu não sou um moleque, caralho. — O sangue
começa a ferver. — A Clara também não é mais uma menina há
muito tempo e você precisa aceitar isso. Eu amo ela e vou fazer de
tudo para ficar com a minha mulher, aceitando você ou não.
— Sua mulher, seu filho da puta? — diz, conseguindo se
soltar do Afonso.
— Papai. — Clara se coloca entre a gente, soluçando. —
Não faz isso, por favor.
— Henrique, se acalme. — Olho para a Camila por cima dos
ombros do seu marido, quando ela diz entrando na sala, com a
Rebeca logo atrás.
— Me acalmar? Eu acabei de pegar a minha filha no colo de
um dos meus melhores amigos e não de uma forma fraternal. —
Vira o rosto, se direcionando à esposa. — Eu sou um trouxa mesmo
— ri de forma sarcástica quando percebe que ela não ficou surpresa
com essa informação —, mas é claro que você já sabia disso.
— Henrique, eu vou falar de novo, se acalme e vamos
conversar como adultos. O hospital todo já está falando desse
barraco que você está fazendo — Camila fala.
— Eu quero que o hospital inteiro se foda. — Anda de um
lado para o outro no meio da sala. — Isso acabou — olha para a
filha, abraçada à mãe —, você está me ouvindo, Clara? Eu não vou
deixar que esse filho da puta te use como sempre faz com as
mulheres e depois descarta.
— Eu já disse que a amo, PORRA! — explodo. — Sei que
você está impactado por ter descoberto que estamos juntos dessa
forma, mas como eu disse, Henrique, a Clara já é maior de idade e
uma adulta, então comece a enxergar sua filha assim.
— Você deveria me ajudar a protegê-la e não ser o
responsável pelo seu sofrimento. Eu não acredito que você tenha
mudado magicamente.
— Mas eu mudei, você mesmo falou sobre isso em nossas
conversas. Porra, Henrique, eu jamais machucaria a Clara — falo.
— Você tem idade para ser o pai dela — acusa, rangendo
os dentes, parece fazer muita força para não me atacar novamente.
— Chega — Camila fala, pegando na mão do marido. —
Aqui não é lugar para termos essa conversa, Henrique, vamos todos
respirar, nos acalmar e depois conversamos.
— Eu não tenho mais nada para conversar com ele, Camila.
O Ricardo deveria ter pensado na nossa amizade quando resolveu
querer levar minha filha para a cama. — Quando ele fala isso,
desvio meus olhos dos seus, pois eu consegui fazer isso, mas não
com a intenção que ele acha. — Você... — Acho que alguma coisa
em minha expressão dedurou os meus pensamentos, pois ele tenta
novamente me atacar, mas é impedido pela esposa. — Me fala que
você não transou com a minha filha? — berra.
— Pai, por favor — Clara fala baixo, nos braços da Rebeca,
com o rosto vermelho de tanto chorar.
— Me fala, caralho?
— Henrique, chega — Camila diz, também gritando,
tentando controlá-lo.
— Eu já disse que a amo.
— Eu vou matar esse filho da puta. Ela é só uma menina.
— Pai, chega. — Clara também eleva o tom de voz, vindo
para o meu lado. — Eu cresci, pai. — Entrelaça nossos dedos e
sinto o suor frio da sua mão. — Você precisa entender que eu não
sou mais uma menina e amo o Ricardo, assim como ele me ama e
tudo o que fizemos foi porque eu queria.
— Clara... — rosna.
— Vamos embora, Henrique — Camila diz, o empurrando
para fora do consultório.
— Cam...
— Vamos embora, Henrique — ela o corta. — E vocês
também voltem para os consultórios de vocês, já chega de show por
hoje — fala antes de sair.
— Calma, amor — peço, fazendo carinho nos cabelos da
Clara, quando ela enterra seu rosto em meu peito soluçando.
— Eu não queria que isso acontecesse — diz com
dificuldade pela intensidade do choro.
— Vai ficar tudo bem. — Aperto-a mais em meus braços.
— Vamos tomar um pouco de água e lavar o rosto, querida.
— Rebeca se aproxima.
— Eu quero ficar aqui — minha namorada avisa, sem
levantar o rosto, apertando mais os braços em volta da minha
cintura.
— Linda, vai com a Beca. — Levanto seu rosto para olhar
em seus olhos que estão vermelhos. — Eu te amo. — Uma nova
lágrima escorre pela sua bochecha. — E eu não vou desistir de nós.
— Dou um beijo rápido em seus lábios.
— Eu espero que você tenha certeza do que está fazendo
— Rebeca diz séria, abraçando Clara pelos ombros e em seguida
saindo da sala.
— Ricardo — Heitor se aproxima, com as mãos nos bolsos
da calça —, você não tem noção da força que estou precisando
fazer para não quebrar a sua cara igual o Henrique fez — diz
também sério.
Ver essa expressão fechada em seu rosto é algo raro.
Ele tem uma personalidade brincalhona, bem parecida com
a minha.
Eu espero que não tenha perdido a sua amizade também.
— Cara, eu juro que eu amo a sua sobrinha, eu jamais
brincaria com ela. — Jogo-me no sofá, me sentindo mentalmente
cansado.
— Eu não vou conversar com você agora, pois em nome da
nossa amizade e o amor que sinto pela Clara, prefiro me acalmar
antes de ouvir o que você tem para me falar sobre o assunto, mas
faço as palavras da Rebeca as minhas. Eu espero que você tenha
certeza do que está fazendo.
— Eu tenho.
Ele balança a cabeça em afirmativo, vira as costas e sai
também.
— Porra, Ricardo — Afonso fala, se jogando ao meu lado,
passando as mãos pelo rosto. — Eu avisei, caralho.
— Eu me arrependo de não ter contado antes para o
Henrique o que estava acontecendo e por ele ter descoberto dessa
forma, mas eu não me arrependo do que sinto pela filha dele,
Afonso — falo, fazendo careta, sentindo os locais que o punho do
Henrique atingiu começar a inchar.
— Você tem que dar um desconto para ele, né? Seu
histórico com mulheres não é nada bom e ele acompanhou sua vida
de solteiro desenfreado.
— Eu sei, mas eu não vou desistir dela, Afonso, eu amo
aquela mulher e nada vai mudar isso. O Henrique vai precisar
aceitar.
— Deixa ele esfriar a cabeça e vocês voltam a conversar.
— Vou fazer isso, mas não pretendo me afastar dela.
— Você realmente está de quatro pela menina, né? —
pergunta sorrindo pela primeira vez, desde que ficamos sozinhos no
consultório.
— De um jeito que não pensei que fosse possível. — Sorrio
também, porque eu realmente não achava que isso aconteceria
algum dia comigo.
Capítulo 29

Limpo o espelho que está embaçado pela fumaça quente do


chuveiro, encontrando o reflexo de uma mulher com os olhos
inchados e vermelhos de tanto chorar.
Tiro a toalha dos meus cabelos, os penteando em seguida.
Desde que saí do consultório do Ricardo estou fazendo as
coisas no automático, ainda não acredito em tudo o que aconteceu.
Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto quando me
lembro novamente da reação do meu pai.
— Filha? — minha mãe chama, entrando no banheiro. —
Vamos comer algo, meu amor. — Para ao meu lado, me olhando
também pelo espelho.
Quem me trouxe para o meu apartamento foi a tia Rebeca,
mas não demorou muito para a Fernanda e a minha mãe chegarem
também.
Eu ainda não tive tempo de mandar mensagem para a Cintia
contando tudo o que aconteceu.
— Eu não estou com fome, mãe.
— Mas você precisa se alimentar, minha princesa, a Beca
fez aquele macarrão que você ama. — Me abraça e eu envolvo
meus braços em sua cintura, apertando forte.
— Mãe, você acha que o papai vai nos perdoar? — Mais
lágrimas começam a cair.
— Claro que sim, ele te ama muito, Clara, quando esfriar a
cabeça vocês vão conversar com calma.
Estar assim nos braços da minha mãe me faz ter a
sensação como se eu fosse apenas uma menininha.
Sentir o calor do seu amor me acalma e me faz ter fé que
realmente as coisas vão se acertar.
Eu jamais quero ter que escolher entre o meu pai e o amor
da minha vida.
Esse é um tipo de escolha que ninguém deveria ser
obrigado a fazer, e espero de todo o meu coração que o Henrique
não faça isso comigo, porque eu quero os dois na minha vida.
Saio do banheiro ainda abraçada com a minha mãe, coloco
um pijama confortável e seguimos para a sala, onde todas estão nos
esperando já com os pratos colocados.
As crianças ficaram na casa da minha vó Selma, assim
como a minha bisa.
— Clarinha, meu amor — Rebeca fala minutos depois, se
arrastando no sofá, para ficar sentada ao meu lado.
Minha mãe está em uma poltrona e a Fernanda sentada no
chão, assim como a Cintia.
Assim que enviei uma mensagem contando por cima o que
tinha acontecido para ela, em menos de trinta minutos minha amiga
estava tocando a campainha do apartamento.
— Não precisa ser com detalhes, tá? — Beca continua me
olhando com seus grandes olhos pretos de forma terna, mas eu sei
que vem uma bomba por aí. — O Ricardão, é tão bom como parece
ser? — Nasce um sorriso malicioso em seus lábios, para confirmar
sobre o que ela quer saber.
— Rebeca! — minha mãe a repreende, mas não consegue
esconder o riso. Ela conhece a amiga doida que tem. — Estamos
falando com a minha filha, sabia?
— Filha essa que conseguiu dar uma chave de boceta no
maior mulherengo que eu já conheci.
— Ai, meu Deus — murmuro, tampando o rosto, o sentindo
extremamente quente e vermelho.
— Eu sempre tento arrancar detalhes sórdidos daquele
loirão, mas ela guarda a sete chaves — Cintia levanta, se jogando
no sofá, ao lado da minha tia.
As duas se dão muito bem, acredito que pelas
personalidades parecidas.
Ambas não têm papas na língua.
— É igual à mãe então. — Rebeca senta mais relaxada no
sofá, olhando para o teto, suspirando parecendo chateada. — Aff,
tem que compartilhar as experiências, minha gente.
Todas caímos na gargalhada.
Ficamos mais um pouco conversando sobre coisas
aleatórias até que a campainha do apartamento é tocada.
Fernanda é quem levanta para abrir a porta.
Para a portaria não ter anunciado, é alguém conhecido.
— Amor? — Levanto quando ouço a voz do Ricardo.
Sem me importar com mais nada à nossa volta, me jogo em
seus braços.
— Você está bem? — ele pergunta, fazendo carinho em
meus cabelos ainda úmidos.
— Eu não queria que isso tivesse acontecido. — Toco com
cuidado seu rosto, onde estão as marcas da fúria do meu pai.
— Isso não foi nada. — Beija minha testa. — Oi, gente. —
Somente agora cumprimenta todos, me fazendo olhar à minha volta,
vendo as mulheres em silêncio prestando atenção na nossa
interação.
— Nossa, quanto tempo eu não vinha aqui, hein, mas a
decoração está melhor do que antes, Clarinha — Afonso fala
descontraído, me dando um beijo na testa, antes de ir se sentar ao
lado da Rebeca no sofá.
— Você já passou alguma pomada nesse rosto? Para não
ficar mais feio do que já é? — minha mãe se direciona ao Ricardo.
— Você sabe que eu sou muito lindo de qualquer jeito — se
esconde atrás do meu corpo e completa: — sogra.
— Perdeu mesmo o medo de morrer. — Ela ameaça jogar
uma almofada nele, mas Ricardo se abaixa atrás de mim, se
escondendo mais, mesmo que meu corpo magro não tampe nem
metade do dele, fazendo todos rirem da cena.
— Linda, eu já vou embora, preciso de um banho quente e
cama, só vim ver como você estava pessoalmente. — Ricardo pega
em minha mão, nos levando para a cozinha, para termos um pouco
mais de privacidade.
— Eu queria dormir com você hoje.
— Não faz isso, bebê. — Enterra o rosto em meu pescoço.
— Eu também queria passar a noite aqui, mas não somente para
dormir. — Me olha com um sorriso malicioso. — Entretanto, eu
duvido que a minha querida sogra vai gostar dessa ideia.
Viro meu rosto encontrando dona Camila nos olhando, sem
se preocupar em disfarçar que está prestando atenção na nossa
interação.
Mas Ricardo não parece estar muito preocupado com isso,
pois segura meu queixo, colando nossas bocas.
Não é um beijo cheio de luxúria como estamos acostumados
a trocar, é um gesto de carinho, onde sem palavras, nós deixamos
claro que estamos dispostos a lutar pelo nosso amor.
— Bom dia, Suzana — cumprimento uma das funcionárias
do recursos humanos assim que chego à minha mesa de trabalho,
sentada na cadeira que sempre ocupo.
Eu não queria ter vindo trabalhar hoje, mas também não
quis dar mais assunto para os fofoqueiros e nem me prejudicar.
— Bom dia, Clara. — Ela se levanta, ficando frente a frente
comigo. — A partir de hoje você vai trabalhar no sexto andar.
— O quê? Por quê? — Olho-a confusa.
— Eu não sei o porquê, Clara, mas a minha chefe fez essa
mudança e me pediu para te avisar e esperar a moça que vai te
substituir.
Apenas confirmo com a cabeça, pois receber essa notícia
me deixou desnorteada.
Olho para o consultório do Ricardo que está com a porta
fechada. Ele está de folga hoje.
— O pessoal está te esperando já no sexto andar.
Confirmo novamente com um balançar de cabeça, indo em
direção ao elevador que acabei de sair.
Mas por quê?
Será que eu fiz alguma coisa de errado?
Será que foi pelas coisas que aconteceram ontem e querem
me deixar trabalhando longe do Ricardo?
Eu nunca soube de nenhuma regra proibindo
relacionamentos entre os funcionários, até porque meus pais são
casados e isso nada influenciou em suas carreiras.
Assim que chego ao andar que agora será o meu ambiente
de trabalho, uma luz se acende em meus pensamentos assim que
olho para a porta do consultório que fica na frente da mesa que será
o meu novo local de trabalho.
Apresso meus passos.
— Você acha certo interferir no meu trabalho desse jeito,
pai? — falo, abrindo a porta do consultório do Henrique, sem me
importar em me anunciar antes.
— Acho. — Ele se levanta, parando na minha frente, com as
mãos nos bolsos da calça, sem negar a acusação.
— Pai, por favor. — Tento me aproximar, mas ele dá um
passo para trás. — Eu sempre fui muito profissional e gostaria que
você fosse também.
— Profissional? — Ri sarcástico. — Você está me dizendo
que nunca rolou nada entre você e aquele filho da puta no
consultório dele? — Desvio meus olhos dos seus. — Você acha que
eu não conheço ele o suficiente?
— Pai, eu te amo tanto e não quero brigar, por favor, tente
entender.
— É exatamente porque eu também te amo que estou com
tanta raiva, Clara. Ele deveria estar te protegendo e não sendo o
responsável por te usar.
— Ele não está me usando, a gente se ama.
— Nós estamos falando da mesma pessoa? Porque o
homem que era o meu amigo não tem a capacidade de sentir algo
além de tesão por uma mulher. — Não passa despercebido por mim
o “era”.
— Eu espero que não demore muito para perceber que
dessa vez você está errado. — Respiro fundo, tentando não chorar
e saio do consultório fechando a porta, pois ele ainda está com
muita raiva e tenho certeza de que nada do que eu falar agora, vai
convencê-lo a mudar de ideia.
Vou esperar mais alguns dias para ele digerir que sua filha
está namorando com um dos seus amigos e tentar novamente.
Capítulo 30

— Obrigado, Nanda — falo assim que ela abre a porta da


sua casa, lhe dando um beijo no rosto.
— O Heitor está acabando de tomar banho, ele já vem. —
Anda até o sofá da sala, pegando alguns brinquedos espalhados
pelo chão durante o caminho.
— Cadê os bebês? — Sento-me em uma das poltronas,
enquanto ela senta no sofá de três lugares, depois de jogar tudo que
pegou em uma enorme caixa com vários outros brinquedos dentro.
— Graças ao bom Deus estão dormindo, porque hoje, nem
toda a energia gasta na casa da dona Selma foi suficiente para eles
chegarem em casa cansados — diz, se afundando mais no assento.
Olho para o relógio, vendo que já são quase 20h, mas não
consegui esperar mais um dia para vir conversar com o Heitor.
Já se passou uma semana desde que todos descobriram o
meu envolvimento com a Clara e apesar de ter ficado muito puto
quando descobri que o Henrique tinha mexido seus pauzinhos para
mudá-la de andar, eu segui os conselhos do Afonso e estou
deixando as coisas esfriarem para tentar conversar com ele.
Só que preciso pelo menos esclarecer as coisas com o tio
dela.
— Que confusão que você se meteu, hein, Ricardo? —
Nanda fala, me olhando de forma amorosa, como sempre.
Lembro-me até hoje quando vi a Fernanda pela primeira
vez.
Ela estava vestindo uma roupa três vezes maior do que o
seu tamanho e descabelada.
Eu e o Afonso fomos os responsáveis em lhe mostrar o
corpo da irmã morta em um acidente de carro e a cada lágrima que
ela derramava, meu coração doía, por ver uma pessoa com olhos
tão doces sofrendo tanto.
Mesmo não a conhecendo, a empatia que criei por ela foi
instantânea.
Depois, quando ela conheceu o Heitor e ambos começaram
a se alfinetar, eu tive certeza de que toda aquela implicância iria
acabar em casamento.
E aqui estamos nós, anos depois, eles casados e com três
filhos.
Uma família de comercial de margarina, assim como a do
seu irmão que se casou um pouco antes com a Camila.
Respiro fundo, pensando se vou conseguir construir isso
também com a Clara.
— Pois é, mas eu não consegui resistir àquela menina.
— Você realmente está apaixonado pela Clara, Ricardo? —
Agora se senta ereta, na ponta do sofá, me olhando dentro dos
olhos.
Ela, assim como Camila e Rebeca têm um instinto de
proteção muito aflorado.
— Eu amo a Clara, Nanda. — Sorrio sem humor, passando
as mãos pelo rosto. — Sei que é difícil de acreditar, mas aconteceu
e eu não pude evitar. O Heitor ainda está muito puto comigo?
— Ele já te xingou de tudo o que é nome, inclusive,
ameaçou arrancar o seu pau fora, caso machuque a sobrinha dele
— não disfarça o sorriso —, mas ele está mais calmo, sim.
— Nossa, hein? Agora sim me deixou mais tranquilo — falo
com sarcasmo, me jogando no encosto do sofá, colocando os pés
cruzados em cima da mesinha de centro.
— Nanda? — Heitor grita de algum outro cômodo da casa.
— Estou na sala com o Ricardo — ela grita de volta.
Instantes depois ele entra em nosso campo de visão,
vestindo uma camiseta preta, me olhando com uma expressão nada
amistosa.
— Bom, eu vou deixar vocês conversarem. Vou aproveitar e
tomar banho — Fernanda diz, se levantando, dando um selinho nos
lábios do marido.
— Não precisa sair, Nanda, eu quero que você participe da
conversa também — falo sincero, porque eu realmente não me
importo que ela fique, na verdade, acho que sua presença vai deixar
o Heitor mais calmo.
— Ricardo, eu já ouvi o lado da Clara sobre essa história e
vendo como os seus olhos brilham quando fala dela, para mim já é o
suficiente, eu realmente acredito nos seus sentimentos. — Seu
marido revira os olhos com sua fala. — Não grite muito para não
acordar as crianças. — Dá outro beijo nele, antes de sair, nos
deixando a sós.
— Eu nem preciso dizer que não sou tão fácil de convencer
assim, certo? — Heitor diz, se sentando no lugar que antes a
esposa ocupava. — Pode começar a falar como que caralhos você
achou que seria uma boa ideia levar a minha sobrinha para a cama?
— Nós estamos namorando, Heitor, eu não apenas transei
com ela — falo firme, porque ele precisa entender que minha
relação com a Clara é séria.
— Ok, e como isso aconteceu, Ricardo?
— Eu quero deixar claro que o meu interesse por ela
começou depois que ela voltou do intercâmbio, eu jamais olhei para
a Clara antes dela fazer dezoito anos. — Quero deixar isso bem
esclarecido, para ele não achar que sou a porra de um pervertido.
— Só que quando eu a vi na recepção na frente da minha sala,
totalmente mudada fisicamente, algo dentro de mim mudou, e eu
tentei, juro que tentei, Heitor, mas aquela menina parece ter um ímã
que mesmo eu fazendo de tudo para ficar longe, seu magnetismo
sempre me arrastava para perto. — Ele apenas balança a cabeça,
me incentivando a continuar.
Passo os próximos minutos contando tudo o que aconteceu
comigo e com a sua sobrinha desde o nosso reencontro, sem
detalhar os momentos íntimos, óbvio, mas abrindo o meu coração
para o homem à minha frente, que além de ser tio da mulher que eu
amo, é um dos meus melhores amigos.
Na verdade, ele, Henrique e Afonso são os irmãos que não
tive.
— Caralho, Ricardo. — Bufa, se jogando no encosto do
sofá, olhando para o teto, quando enfim termino de falar. — Você
sabe que eu vejo a Clara como se fosse uma filha minha também,
eu protejo aquela menina como se fosse uma das Marias e não
posso julgar o Henrique, se eu pegasse uma das minhas pequenas,
sentada no colo de um dos meus amigos, o beijando, acho que teria
uma reação pior do que a dele.
— Nós não queríamos que vocês descobrissem daquela
forma, Heitor. Eu pretendia conversar com ele, como o homem que
sou.
— Mas além de você ser amigo do cara, tem a questão da
diferença de idade, né?
— Porra, Heitor, em que século você está vivendo?
— Além do seu histórico de nunca querer ter um
relacionamento sério — ignora minha pergunta.
— Só que você também era assim, e hoje está casado e
com três filhos.
— Porém, eu nunca fui totalmente contra me apaixonar, só
não tinha acontecido até a Nanda entrar na minha vida, ao contrário
de você que sempre falou para quem quisesse ouvir, que iria morrer
solteiro.
— Mas eu mudei, porra! — Começo a me irritar. — Vocês
são meus amigos, deveriam pelo menos me dar o benefício da
dúvida, mas só o Afonso que está fazendo isso — falo realmente
chateado.
— Só que no meio dessa história, está a minha sobrinha e
filha do Henrique, o mesmo sentimento de proteção que você tem
pela sua irmã, temos pela Clara, só que fode tudo quando o cara
que pode quebrar o coração dela, é um dos nossos melhores
amigos.
— Caralho, eu amo a Clara como nunca pensei que amaria
uma pessoa. Eu quero ter com ela o que você tem com a Fernanda
e o Henrique com a Camila — falo sem desviar os olhos dos seus,
que me olham de forma intensa.
Os gêmeos sempre foram muito expressivos com os
olhares.
— Eu também amo você e o Henrique, porra, e não quero
perder a nossa amizade. Acho que vocês deveriam confiar em mim,
e se não quiser fazer isso por mim, faça pelo menos pela sua
sobrinha, eu a faço feliz.
— Eu espero que faça mesmo, Ricardo. — Levanta-se,
parando na minha frente, me puxando pelo braço, para ficar de pé
também. — Eu também te amo, seu cuzão, e te considero como um
irmão, mas se você machucar a Clarinha, não vou pensar duas
vezes em arrancar seu pau e te fazer comer ele.
— Obrigado, irmão. — O abraço.
Nós nunca fomos de ter frescura em demonstrar os
sentimentos que temos um pelo outro, para a falar a verdade, passei
a me soltar sobre esse assunto depois que conheci os gêmeos.
Eles me ensinaram na prática que ter atitudes carinhosas
com seus amigos, não te faz menos homem.
— Então você vai me ajudar a limpar a minha barra com o
sogrão? — falo, tentando trazer leveza para a conversa.
— Filho da puta. — Heitor me empurra, gargalhando. —
Deixa o Henrique te ouvir o chamando assim, ele vai te dar outro
olho roxo. — Faço uma careta de repulsa, pois meu rosto ainda está
se recuperando do nosso último encontro.
Capítulo 31

Sinto minhas mãos formigarem de tanto que estou


apertando o volante, enquanto espero o portão automático da
garagem da casa dos meus pais abrir.
Faz quase duas semanas que meu namoro com o Ricardo
veio a público e o doutor Henrique Bittencourt ainda continua
irredutível sobre o assunto.
Eu sinto muita falta dele.
Mesmo que isso não tenha me afastado de fato do Ricardo,
também não estamos 100% felizes, pois ele sente falta do seu
amigo e eu do meu pai.
Apesar do Henrique estar falando comigo somente o
necessário, ele me mantém em sua vigilância todo o período que
estou trabalhando na mesa que fica em frente ao seu consultório.
— Clalaaa — Vitória fala com sua vozinha fofa de criança,
me chamando com as mãozinhas gordas quando me vê descendo
do carro, estando no colo da minha mãe que me espera na porta de
entrada.
Aproveitei que hoje eu e eles estamos de folga e resolvi
tentar conversar com ele.
Não é possível que o meu pai seja tão cabeça-dura.
— Oi, minha boneca. — Pego minha irmã no colo. — Bom
dia, mãe. — Seguimos para dentro da casa, encontrando minha vó
tomando café, sentada no balcão da cozinha.
— Que surpresa boa! — dona Heloisa fala quando me vê,
dou um beijo nela também, entregando Victória para minha mãe. —
Quer comer alguma coisa, querida?
— Obrigada, Bibi, eu vim falar com o papai — digo.
— Ele está no quintal dos fundos, está lá desde que
acordou. — Minha mãe me olha com seus grandes olhos castanhos
com pesar.
Eu sei que não sou só eu que estou sofrendo com essa
briga.
Toda a família e amigos estão sendo afetados.
Nunca mais conseguimos reunir todos juntos no mesmo
ambiente sem ficar um clima estranho, pois quando o Ricardo
chega, meu pai levanta e sai e quando eu estou à mesa, ele
praticamente não abre a boca.
Espero que ele não tenha brigado com a minha mãe por ela
já saber sobre o meu namoro e não ter falado com ele, pois iria me
sentir mais mal ainda se as minhas atitudes prejudicasse de alguma
forma o casamento deles.
— Vou lá tentar conversar com ele — aviso, dando um
sorriso amarelo.
Ando pelo corredor da casa, passando por todos os quartos,
inclusive o meu, que continua exatamente igual a quando fui morar
sozinha.
Passo pela última porta, sentindo os raios de sol da manhã
bater em meu rosto.
Eu amava ficar debaixo da árvore de cerejeira que tem no
jardim, enquanto lia algum romance bem romântico.
E é lá que encontro o meu pai, sentado em uma das
poltronas rústicas com uma xícara de café nas mãos, parecendo
estar perdido em pensamentos com os olhos fixos nos arbustos sem
flores.
— Eu amo essa árvore, mesmo quando ela não está florida
— falo, chamando sua atenção.
— Ela foi um dos motivos que me fizeram comprar essa
casa — ele diz, olhando para o líquido dentro do objeto que segura.
— Todos os dias quando olho para essa árvore lembro que a vida
passa muito rápido, igual ao florescer dela, então temos que viver
intensamente todos os momentos, e é assim que vivo com a sua
mãe desde que ela acordou do coma.
— E é esse mesmo amor que eu também quero para a
minha vida, pai — declaro com a voz calma, sentando na poltrona à
sua frente.
— Você ainda é só uma menina, Clara, tem a vida toda para
encontrar um amor como o meu e da Camila. Nós só tivemos a
plenitude na vida amorosa depois dos trinta. — Olha pela primeira
vez em minha direção.
Seus olhos verdes estão quase transparentes, pela luz do
sol que bate neles.
— Só que eu já encontrei esse amor, pai.
— Você é muito menina para ter certeza disso, Clara, muitas
pessoas ainda vão passar pela sua vida para você ter certeza de
que conheceu a certa.
— Não, pai, o Ricardo é a minha pessoa certa, é com ele
que eu quero ter um futuro.
— Você tem noção que ele tem a mesma idade que eu?
Que ele poderia ser seu pai?
— Mas não é, eu nunca enxerguei o Ricardo como um
parente, como vejo o tio Heitor ou o Afonso.
— Mas deveria, e o que me deixa puto é ele, que já viveu
tudo o que podia nessa vida, querer te prender agora em um
relacionamento. — Faz aspas com os dedos quando fala a última
parte.
— Ele não quer me prender, só queremos ser felizes juntos.
Henrique fica me olhando, sem falar nada.
— Eu te amo, pai, mas você precisa entender que eu cresci,
já me tornei uma mulher e posso escolher quem eu quero ter ao
meu lado.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas ao perceber que
nada que eu falo, está surtindo efeito e consegue amolecer o seu
coração.
— Eu sinto a falta do meu pai e o Ricardo do amigo dele.
— Se ele realmente me considerasse um amigo, jamais se
envolveria com a minha filha.
— Meu Deus, cadê aquele cara compreensivo e amoroso
que você sempre foi, Henrique? — Vejo que o pego de surpresa ao
chamá-lo pelo nome, pois me olha de um jeito magoado.
— Vocês mataram ele quando resolveram me enganar por
todo esse tempo. — Se levanta, deixando a xícara apoiada em uma
mesinha que fica ao lado da poltrona, passando as mãos pelos
cabelos castanho-claros, mania que tem quando está nervoso.
— Nós estavamos com medo da sua reação, e tínhamos
razão, né? — Também me levanto, estando muito inquieta para ficar
sentada. — Se você realmente me amasse, iria querer a minha
felicidade e não me afastar do homem que eu amo — falo, o
fazendo parar de andar de um lado para o outro.
— A única coisa que eu quero é te proteger, eu sei muito
bem como o Ricardo trata as mulheres que ele se relaciona e eu
não quero que você seja mais uma em sua cama.
— Meu Deus. — Aperto os cabelos próximo ao meu couro
cabeludo, quase os arrancando de frustração. — Por que é tão difícil
entender que ele mudou? O tio Heitor também era assim e olha
como está hoje.
— Eu conheço o Ricardo há tempo suficient...
— PARA, PAI. — Descontrolo-me gritando, não evitando que
as lágrimas caiam pelo meu rosto. — Para, pelo amor de Deus. Eu
estou tão cansada. Eu sinto a sua falta e queria muito que você
estivesse comigo neste momento que eu realmente estou feliz.
— Eu não consigo aceitar essa merda. — Sinto como se
uma faca fosse enterrada em meu peito.
— Espero que você não se arrependa disso, porque se tiver
que escolher, a minha escolha vai ser ele, pois quem ama de
verdade não faz isso que você está fazendo comigo.
— Eu só quero te proteger, porra!
— Eu não preciso que ninguém me proteja, eu cresci e você
precisa aceitar isso. — Nesse momento estamos falando aos
berros.
— Gente, pelo amor de Deus, vocês precisam se acalmar —
minha mãe fala, vindo em nossa direção.
— Então tente colocar juízo na cabeça da sua filha.
— Henrique — ela adverte.
— Eu tentei, mãe, mais de uma vez, só que eu não vou ficar
implorando para o meu pai aceitar meu namoro com o Ricardo, nós
não estamos fazendo nada de errado. — Coloco a mão na boca
quando escapa um soluço. — Quando você quiser conversar
comigo como um adulto, porque eu que sou uma menina — imito
seu gesto de aspas com as mãos —, mas é você que está agindo
com imaturidade, sabe onde me procurar — falo, dando as costas,
rumo à saída.
— Clara, não terminamos de conversar — ouço-o gritando,
mas resolvo ignorar.
Tem um turbilhão de sentimentos me consumindo depois
dessa conversa fracassada com o meu pai.
Passo pela cozinha, a encontrando vazia.
Agradeço por isso, pois não quero que minha bisa e irmã me
vejam assim, e sigo para o meu carro.
Novamente sinto minhas mãos tremerem segurando o
volante.
Estou com raiva e magoada.
— Ele devia querer a minha felicidade — falo em voz alta
conforme sigo pelas avenidas da cidade.
Sinto minha visão embaçar pela quantidade de lágrimas que
caem sem controle.
— Eu não acredito — soluço — que isso está acontecendo.
O caminho da casa dos meus pais até o meu apartamento
não é muito longe, mas as avenidas nunca pareceram tão distantes
como hoje.
Eu queria muito que o Ricardo estivesse de folga para
passar o dia todo em seus braços, mas ele me mandou mensagem
assim que chegou ao hospital avisando que o dia seria corrido, pois
iria participar de uma cirurgia.
Sinto meu celular vibrar no banco do passageiro, desvio
meu olhar da avenida vendo o nome “PAI” brilhar na tela, mas não
pretendo atender.
Afundo mais o pé no acelerador.
Agora quem não quer falar com ele sou eu.
Não sei se pela minha falta de atenção, visão nublada pelo
choro ou algo que fiz de errado com o carro automático, mas perco
o controle do veículo, entrando na contramão, encontrando a
escuridão quando sinto o impacto forte em meu corpo.
Capítulo 32

Passo as mãos pelo rosto, me sentindo cansado.


Hoje madruguei no hospital e acabei de sair de uma cirurgia
exaustiva.
Minha menina está de folga e disse que iria tentar conversar
com o pai de novo.
Eu queria muito estar com ela nesse momento, mas não
consegui outro médico para me substituir e ela não quis esperar
para outro dia.
Sinto muita falta da minha amizade com o Henrique, desde
que nos conhecemos na época da universidade nunca tínhamos
brigado.
Minha relação com o Heitor voltou ao normal desde que
conversei com ele em sua casa.
Graças a Deus ele não foi tão cabeça-dura como o irmão e
acreditou nos meus sentimentos pela sua sobrinha.
Tiro o celular do bolso, conferindo se a Clara respondeu à
mensagem que mandei assim que fiquei livre, encontrando um
monte de ligações perdidas do Afonso e um monte de mensagens
não lida em nossa conversa.
Acho estranho, mas primeiro tento ligar para a minha
namorada para saber como foi a conversa com o pai, mas a
chamada cai na caixa postal.
— Estranho. — Tento novamente, mas não obtenho
sucesso.
Entro no elevador, aperto o botão do térreo, pois preciso
tomar um café preto e amargo para me manter acordado para as
próximas horas de trabalho.
— O que aconteceu? — falo assim que passo pela porta da
recepção principal do hospital, onde normalmente os
acompanhantes dos pacientes aguardam por notícias, encontrando
praticamente toda a família Bittencourt sentados com os semblantes
preocupados.
Quando meus olhos encontram a Camila aos prantos sinto
um aperto ruim no peito.
— Cadê a Clara? — pergunto para ninguém em específico,
aproximando-me mais de onde estão sentados, morrendo de medo
de ouvir a resposta.
— Ricardo... — Camila levanta — Ligaram para o meu
celular avisando que a Clara sofreu um acidente de carro e a
trouxeram para cá — segura firme as laterais do meu jaleco —, mas
desde que chegamos a única coisa que falam é que ela está
recebendo os primeiros atendimentos. O Henrique tentou entrar
para saber de mais informações, só que não deixaram. — Seu rosto
está totalmente banhado em lágrimas.
— Vamos sentar, amiga. — Rebeca segura em seus
ombros, fazendo com que Camila volte a se sentar na poltrona ao
lado do marido.
Eu continuo parado no mesmo lugar, sem conseguir focar
em nada, me sentindo extasiado.
A Clara sofreu um acidente de carro?
Sinto o sangue em minhas veias borbulhar ao pensar na
possibilidade de algo ter acontecido com a minha menina.
— Ricardo? — Alguém toca meu ombro, mas não consigo
distinguir quem me chama.
Minha respiração está acelerada, meu peito dói e minhas
mãos estão suando.
— Cara, você está bem? — Afonso para na minha frente,
segurando em meu rosto.
— Eu preciso ver como a Clara está. — Viro-me, indo atrás
dela, mas sou impedido quando ele segura o meu braço.
— Você precisa ficar calmo, estão cuidando dela.
— Como eu vou ficar calmo se eu não sei como a minha
mulher está, porra!
— Você precisa confiar nos médicos, assim como o
Henrique confiou em você quando operou a Camila — ele diz com o
tom de voz baixo.
— Eu não posso perdê-la, Afonso. — Sinto o desespero
começar a me dominar.
— Ainda não sabemos a gravidade do acidente, vamos ter
fé que tenha sido apenas um susto, mas você precisa tentar ficar
calmo.
Inspiro e expiro, sentindo os meus pulmões doerem pela
força que faço.
Passo as mãos pelo rosto e cabelos, sentindo-me impotente
por não conseguir fazer nada.
Ando de um lado para o outro, sem conseguir ficar parado
esperando por notícias, mas quando meus olhos param no
Henrique, sentado ao lado da esposa com o rosto entre as mãos e
os cotovelos apoiados nos joelhos, sinto uma fúria se apossar de
todo o meu corpo.
Ela foi na casa dele para tentar conversar com o pai, e
mesmo a Clara não sendo uma motorista experiente, sempre foi
muito prudente no trânsito.
Clara deveria estar muito abalada quando saiu da casa dos
seus pais e isso lhe afetou na direção.
— Se ela morrer vai ser sua culpa, seu filho da puta. — Sem
pensar parto para cima dele, o segurando pela gola da camiseta. —
Você está me ouvindo? Sua culpa — grito em seu rosto.
Henrique não revida, apenas me olha com os olhos
vermelhos, parecendo que está fazendo muita força para não
chorar.
— Ricardo, porra! Isso não é hora para isso. — Heitor tenta
me tirar de cima do irmão.
— Você sabe como ela estava sofrendo porque estava
brigada com você, e mesmo assim você só se importou com a porra
do seu próprio umbigo. — O solto, dando um passo para trás.
— Você acha que eu não estou me culpando, caralho! —
Henrique fala também alterado. — Acha que vou me perdoar se
alguma coisa grave acontecer com a minha filha?
— Chega. — Rebeca fica entre em nós dois. — Os dois têm
suas parcelas de culpa, mas isso não importa agora, por acaso essa
discussão ridícula vai fazer com que a Clara se recupere mais
rápido? — Não respondemos. — Ótimo, então calem a porra da
boca, parem de brigar como dois adolecentes e sentem as bundas
nas poltronas.
Faço o que ela manda, indo me sentar um pouco mais
afastado.
Eu nunca estive nessa situação antes, sempre fui o médico
que aparecia para dar informações sobre o paciente e não a pessoa
que espera por notícias de quem ama.
Minha perna balança de forma frenética, sem controle,
enquanto aperto uma mão na outra.
Eu não sei há quanto tempo estou sentado nessa porra de
recepção esperando por notícias da Clara.
Afonso foi tentar ver se conseguia algum tipo de informação.
Henrique e Heitor já tentaram, mas acredito que o
fisioterapeuta com sua voz calma e sorriso de bom moço consiga ter
mais sucesso.
— Conseguiu saber como a minha filha está? — Levanto em
um pulo quando ouço Camila falar, indo em direção ao Afonso que
passa pelas catracas.
— Ela está estável, aparentemente não teve nenhuma lesão
grave, mas como teve um forte impacto na cabeça, vão fazer mais
alguns exames para se certificar — ele diz, olhando para todos.
— Eu posso entrar para vê-la, Afonso, por favor — Camila
suplica.
— O médico que está atendendo a Clara vai abrir uma
exceção e deixar você vê-la por alguns minutos, mas realmente é
por pouco tempo, Cami, você sabe como é o procedimento do
hospital, ele só está liberando porque é você. — Ela confirma com a
cabeça, sendo abraçada por trás pelo marido. — Ela ainda está aqui
embaixo, na emergência, só quando finalizarem os exames que vão
subi-la para o quarto.
— Obrigada — ela agradece indo em direção ao local que
ele informou.
Volto a me sentar na mesma poltrona de antes.
Vou esperar a Camila voltar e dar um jeito de ver a minha
menina.
De jeito nenhum vou esperar para vê-la somente no horário
de visitas do hospital.
— Ela vai ficar bem, cara, pelo o que eu pude ver, só teve
alguns arranhões. — Afonso senta-se ao meu lado, colocando a
mão no meu joelho.
— Eu não sei o que faria se acontecesse algo grave. —
Cubro o rosto com as mãos, conseguindo respirar um pouco mais
aliviado.
Porque se a Clara realmente não estivesse bem, o Afonso
não estaria com essa expressão tão serena.
Ele não mentiria para nós sobre o real estado de saúde
dela.
— Relaxa, daqui a pouco você vai estar com sua menina de
novo.
— Eu não vejo a hora de isso acontecer.
Capítulo 33

Tento me virar de lado, mas sinto algo preso ao meu braço,


limitando minha mobilidade.
— Ai! — gemo, sentindo como se o meu corpo pesasse uma
tonelada e tivesse sido atropelado por um caminhão.
— Clara? Amor, você acordou. — Ricardo aparece no meu
campo de visão com os cabelos desgrenhados e cara de sono.
— O que aconteceu? — Minha voz sai baixa e mole.
— Você não se lembra do acidente? — Faz carinho em
meus cabelos, me olhando bem de perto.
— Lembro que saí da casa do meu pai, depois de
brigarmos. — Meus olhos se enchem de lágrimas ao pensar nisso.
— Eu fiquei muito nervosa e só queria chegar logo em casa, mas
não sei o que aconteceu depois disso.
— Tudo bem, amor, não precisa pensar nisso agora, o
importante é que não aconteceu nada de grave com você. — Seus
olhos cor do céu em um dia ensolarado também estão com lágrimas
não derramadas. — Eu te amo, Clara — fala antes de colar nossos
lábios em um beijo terno.
Nos próximos minutos, Ricardo faz um resumo do que
aconteceu nas horas anteriores.
Meus pais foram avisados pelos funcionários do hospital por
me reconhecerem assim que eu cheguei, trazida pelo resgate.
Pelo o que meu namorado soube, eu perdi o controle do
carro, invadi a contramão e acabei batendo na lateral de um
caminhão de pequeno porte.
Na colisão eu bati a cabeça com muita força no volante, mas
depois de vários exames que fizeram constataram que não tive
nenhuma lesão cerebral.
Graças a Deus que o outro motorista também não se feriu
gravemente.
Eu nunca iria me perdoar se alguém tivesse se machucado
por um descuido meu.
Realmente não lembro o que aconteceu depois que saí da
garagem da casa dos meus pais, só lembro que estava muito
chateada por ter brigado com o Henrique de novo.
— Sua mãe conseguiu te ver mais cedo, mas os médicos só
liberaram a visita dela e por poucos minutos.
— E como você está aqui? — pergunto sorrindo.
— Eu dei o meu jeitinho. — Beija a ponta do meu nariz. —
Não iria deixar a minha menina ficar nesse quarto de hospital
sozinha.
— Burlando o sistema, então?
— Por você sim. — Pisca um olho. — Consegue ir um
pouco para o lado? — fala, abaixando a grade que fica na lateral da
cama.
— Você é louco? — Faço o que ele pediu, imaginando o que
pretende fazer.
— Sou totalmente louco por você. — Ricardo tira os
sapatos, se deitando ao meu lado na cama hospitalar.
Coloco a cabeça em seu peito, ouvindo as batidas
aceleradas do seu coração.
— Obrigada por estar aqui comigo. — Levo minha mão, que
agora vejo que está com um acesso para medicação, até seu
abdômen fazendo carinho no local.
— Eu sempre vou estar onde você estiver. Eu te amo muito,
Pequena — diz, fazendo cafuné nos meus cabelos.
— Eu também te amo muito, Ricardo. — Sinto meus olhos
pesarem e não demora muito para eu adormecer no calor dos
braços que mais amo estar.

— Esse babaca não sabe que é proibido acompanhante


deitar na cama junto com o paciente? — Ainda de olhos fechados
ouço a voz sussurrada do meu pai.
— Como se você pudesse falar alguma coisa, né, Henrique?
Que eu me lembre, quando eu estava internada você queria fazer
muito mais coisas do que apenas deitar na cama comigo — minha
mãe também fala baixo.
— Foi diferente. — A resposta sai mais como um resmungo.
— Sei, Doutor Henrique Bittencourt. — A voz da dona
Camila continua sussurrada, mas com um tom divertido.
Sinto quando ela começa a fazer carinho no meu rosto,
subindo para os cabelos.
— Mãe. — Minha voz sai embargada.
Não gosto de imaginar o que ela sentiu ao saber que eu
tinha sofrido um acidente.
— Oi, meu amor. — Beija minha testa com os olhos cheios
de lágrimas. — Como você está se sentindo?
— Como se estivesse sido atropelada por um caminhão,
mas tirando isso estou bem. — Faço graça, para lhe arrancar um
sorriso.
— Que susto, minha princesa.
— Eu sei, mãe, mas agora está tudo bem. — Pego sua mão,
dando um beijo em seu dorso.
— Ele dormiu aqui? — pergunta, apontando com o queixo
para o Ricardo, que ainda dorme profundamente.
— Dormiu. — Meu sorriso aumenta, porque nunca consigo
evitar quando o assunto é o meu namorado.
Olho por cima dos seus ombros, vendo meu pai com as
mãos nos bolsos, encostado na parede vendo nossa interação.
Seus olhos verdes encontram os meus e não consigo mais
segurar as lágrimas.
— Pai. — Sinto um aperto na garganta.
Minha mãe vai para o pé da cama, deixando o espaço ao
meu lado livre para ele se aproximar.
— Me perdoa, princesa. — Sua voz sai rouca e embargada
quando segura minha mão entre as suas. — Eu fiquei com tanto
medo e me sentindo tão culpado, se eu não tivesse brigado com
você daquele...
— Você não teve culpa do acidente pai. Já passou — corto-
o.
— Clara? — Os movimentos que faço quando tento me
sentar para abraçar o meu pai, faz o homem ao meu lado despertar
me chamando desesperado. — Ah — Ricardo diz, quando constata
que não estamos mais sozinhos no quarto. — Bom dia, amor. — Me
dá um beijo estralado na bochecha, antes de se levantar. — Bom
dia, sogra — se direciona à minha mãe, fazendo dona Camila fazer
uma careta engraçada, enquanto meu pai revira os olhos. — Bom
dia, Henrique.
— Bom dia — meu pai responde educado, mas seco.
— Bom, eu vou jogar uma água no rosto e tomar um pouco
de café — Ricardo avisa vestindo os tênis, colocando celular,
carteira e chaves nos bolsos da calça. — Não vá a lugar nenhum,
Pequena. — Segura meu queixo, depositando um beijo rápido em
meus lábios.
— Paiiii! — repreendo quando o vejo revirando os olhos
novamente, enquanto meu namorado passa por ele, fechando a
porta do quarto quando sai.
— Eu vou tentar, ok — bufa —, mas se esse filho da puta
me chamar de sogro, não respondo pelas minhas atitudes.
— Obrigada. Isso é muito importante para mim.
— Você sabe que nossa aproximação de pai e filha
aconteceu de forma natural, Clara. Eu te amo, assim como amo a
Vitória e os próximos que virão. — Olha para a minha mãe com um
sorriso provocador nos lábios, pois ele sabe que ela disse que
fechou a fábrica dos bebês.
— Vai sonhando, Doutor Bittencourt — ela responde,
fazendo massagem nos meus pés.
— Eu só quero te proteger, Clara. — Seus cristalinos olhos
verdes falam muito mais do que palavras, e o amor e carinho que
enxergo neles é o mesmo que ele pode ver nos meus. — Se eu
pudesse colocava você e a sua irmã em uma redoma de vidro, para
nem uma mosca pousar em vocês. É muito difícil aceitar que você
cresceu.
— Mas a menina que você conheceu quando reencontrou a
minha mãe cresceu, pai, e quer ser feliz com o homem que ama. —
Dou uma pausa para me sentar mais ereta na cama. — Eu vou ficar
com o Ricardo com a sua aprovação ou não — ele ouve em silêncio
e sério —, mas a minha felicidade não seria completa se você não
aceitasse a minha relação.
Olho para minha mãe, agora do meu lado, me olhando com
um sorriso acolhedor nos lábios.
— Eu te amo muito, princesa — Henrique diz, se
aproximando mais da cama, apoiando minha cabeça em sua
barriga. Mesmo não estando com o ouvido em seu peito, consigo
sentir a vibração do seu coração. — Quero te ver completamente
feliz e fazer parte disso também.
— Obrigada. — Sinto-me mais tranquila ao ouvir essas
palavras.
Há males que vêm para o bem.
Acredito que esse acidente que sofri, serviu para conseguir
colocar todos os pingos nos is e fazer com que a minha família
voltasse a ser como era antes.
Capítulo 34

Jogo-me no sofá do meu consultório, sentindo que um trator


passou por cima de mim.
Quando tive a ideia de me deitar junto com a Clara na cama
do quarto que está ocupando aqui no hospital, não achei que iria
acordar todo quebrado.
— Estou realmente ficando velho — falo sozinho, olhando
para o teto, apoiando os pés cruzados no sofá e os braços atrás da
cabeça.
Para estar junto da minha menina, eu dormiria no chão se
fosse preciso.
Ontem quando a Camila voltou mais tranquila por ter visto
com os próprios olhos que a filha não corria mais risco de morte, os
demais familiares que estavam aguardando por notícias não
puderam entrar para visitar, pois além de estar fora do horário, Clara
ainda estava em observação.
Deixei todos irem embora e voltei para o meu consultório
para transferir a outro médico no sistema todos as consultas que
tenho para os próximos dias, pois como minha namorada não teve
nenhum dos seus exames alterados, não duvido que logo tenha alta
e eu quero me dedicar somente a ela, por pelo menos uma semana.
Assim como o Heitor fez quando descobriu que era pai de
gêmeas, pretendo tirar esse tempo para cuidar de quem é
importante para mim.
Dediquei muitos anos da minha vida cuidando de estranhos,
agora estou em uma fase que posso me dar ao luxo de tirar alguns
dias para cuidar da minha namorada.
Depois desci para o andar que ela foi transferida, não me
importando com os olhares enviesados das enfermeiras quando
entravam e me encontravam na poltrona ao lado da paciente que
ainda dormia por causa dos efeitos dos medicamentos que tomou
para dor e os arranhões que teve, principalmente no rosto.
Sento-me no assento, quando ouço o barulho de alguém
entrando pela porta.
— A Clara está bem? — pergunto ficando preocupado, para
ele vim até o meu consultório alguma coisa aconteceu.
— Está sim. Podemos conversar? — Me surpreendo quando
Henrique pergunta.
Olhando mais atentamente para ele agora, meu amigo
parece que não teve uma noite muito fácil.
Os cabelos estão mais bagunçados do que o normal, além
das olheiras escuras, contrastando com seus olhos cor de
esmeralda.
— Claro, senta aí. — Aponto para a cadeira que fica na
frente da minha mesa. — Henrique, eu quero te pedir desculpas por
ontem — falo depois de passarmos alguns minutos em silêncio cada
um perdido em seus próprios pensamentos. — Eu estava
desesperado pensando que poderia acontecer o pior com a Clara e
acabei descontando em você.
— Mas você tinha razão, o que aconteceu com a Clara foi
minha culpa. — Passa de forma ríspida as mãos pelo rosto. — Se o
acidente tivesse sido fatal ou lhe trouxesse alguma sequelas eu
nunca iria me perdoar pela última conversa que tivemos.
— Agora é hora de virar a página, cara, ela está bem. —
Sou sincero, pois eu realmente só o acusei ontem porque estava
com a cabeça quente.
Tenho certeza de que ele jamais faria alguma coisa de
propósito para machucar a filha.
Até porque o nosso grande problema é exatamente ao
contrário, por querer protegê-la demais, ele não aceita nosso
relacionamento.
— Eu quero também te pedir desculpas por tudo que te falei
e pelos socos que te dei — ameaço retrucar —, deixa eu falar, por
favor — Henrique diz, levantando a mão, impedindo que o
interrompa. — Eu nem consigo descrever em palavras o que senti
quando vi a minha filha de vinte anos, sentada no colo de um dos
meus melhores amigos que poderia ser pai dela. — Abaixa a
cabeça, olhando para as mãos. — Tudo piorou, quando eu soube
que isso estava acontecendo há meses e vocês me esconderam. Eu
me senti traído duplamente, Ricardo.
— Nós iríamos te contar, mas tínhamos medo exatamente
da sua reação.
— Você sabe que desde que a Camila voltou para a minha
vida, eu abracei a família dela como se fosse a minha. A Clara não
tem o mesmo sangue que o meu, mas é minha filha assim como a
Vitória. Constatar que a menina tímida cresceu e virou uma mulher
em todos os sentidos fez o meu lado protetor ficar mais aflorado. Eu
só queria proteger o coração dela.
— Eu nunca machucaria a Clara, Henrique.
— Porra, Ricardo, você sempre falou para quem quisesse
ouvir que não pretendia se envolver com uma mulher de forma
séria, que se apaixonar e amar alguém do sexo oposto não estava
em seus planos, inclusive, pretendia ser solteiro pelo resto da vida.
O que queria que eu pensasse quando eu descobrisse sobre vocês?
— Você tem razão, só que desde que eu reencontrei a sua
filha, depois que ela voltou do intercâmbio totalmente mudada
fisicamente, algo dentro de mim mudou e mesmo eu tentando, e
olha que eu tentei pra caralho, me manter longe dela, Henrique, mas
o meu sentimento pela Clara falou mais alto do que a minha
consciência por ser o seu amigo.
— A idade dela nunca foi um problema para você?
— Foi sim um grande problema, no início eu era tão
resistente a nos relacionar por isso e por ela ser sua filha também,
eu me sentia um doente por exatamente desejar uma menina, mas
eu quero deixar muito claro que todo o meu desejo pela Clara só
começou depois que ela veio trabalhar aqui, eu nunca a olhei de
outra forma quando ela era menor de idade. — Preciso deixar isso
realmente claro, assim como fiz com o seu irmão. — Eu a amo
muito, Henrique, e eu preciso que você acredite nisso, eu quero ter
com a Clara, a mesma coisa que você tem com a Camila e o Heitor
com a Fernanda. Eu quero construir uma família com sua filha.
— Porra, Rick! — diz, se afundando mais na poltrona,
passando as mãos pelos cabelos. Meu coração fica mais calmo, por
ele me chamar pelo meu apelido. — Você sabe que eu sempre te
considerei mais do que um amigo. Você e o Afonso sempre foram
como irmãos para mim e o Heitor, como agora você também vai ser
meu genro?
— Você deveria agradecer a Deus, olha para mim, Henrique
— abro os braços —, eu sou bonito, rico e ainda trato a Clara como
se fosse uma princesa. — Mesmo ele revirando os olhos com a
minha fala, não consegue disfarçar o sorriso.
— Eu espero mesmo que você a trate como uma princesa e
lamba o chão que minha filha pisa, pois eu não pensaria duas vezes
em arrancar o seu pau e enfiar na sua boca. — Se levanta,
estendendo a mão em minha direção, me ajudando a ficar em pé
também, frente a frente com ele.
— Você precisa ser mais criativo, pois a sua querida esposa
já me fez essa mesma ameaça, sogr...
— Não ouse me chamar assim, seu filho da puta — corta,
me abraçando.
— Obrigado, Henrique — falo ainda com o meu corpo
grudado ao seu. — Eu estava sentindo a sua falta, amigo.
— Eu também senti a sua falta — diz, nos afastando. —
Nem preciso te dar boas-vindas à família, né? Porque você já fazia
parte dela.
— E eu juro que vou me esforçar muito para em breve te
fazer vovô, meu querido sogro.
— Você não tem medo mesmo de morrer, seu filho da puta.
— Empurra-me no sofá novamente, me fazendo gargalhar.
É muito bom ter o meu amigo de volta.
Capítulo 35

— Eu já te disse que consigo andar — falo pela milésima


vez para o Ricardo, que me carrega no colo desde que saímos do
hospital.
Como o meu acidente não me acarretou nada além de
alguns arranhões, depois de terminar de tomar o soro e os meus
exames de sangue chegarem, o médico me deu alta.
Meus pais insistiram muito para eu ir para a casa deles, mas
eu preferi vir para o meu apartamento.
Duvido que na casa deles, eu teria a liberdade de dormir na
mesma cama que o Ricardo à noite.
Eu sei que o meu pai agora aceita o nosso namoro, mas eu
acho que isso ainda seria demais para ele.
Fiquei muito feliz quando soube que enfim os amigos
conseguiram ter uma conversa como dois adultos e resolveram
todas as questões entre eles.
Como eu disse mais cedo para o meu pai, eu não iria deixar
de ficar com o Ricardo porque ele não queria, mas também minha
felicidade não estaria completa.
Agora poder viver o meu relacionamento com o Ricardo sem
precisarmos nos esconder ou mentir, me deixa mais leve e livre para
viver esse amor plenamente.
— Agora você já pode me colocar no chão — falo quando
chegamos à porta do meu apartamento, e vejo que ele tem um
pouco de dificuldade para abrir a porta comigo em seus braços.
— Shiu — diz apenas, me fazendo rir, da cara de
concentrado que faz.
— Eu te amo, sabia? — Beijo seu rosto, fazendo que seus
movimentos com as mãos parem.
— Eu também amo, mas se controla, menina, ou eu vou dar
meia-volta com você e te levar para o meu apartamento e foda-se o
resto.
Não tenho tempo de retrucar, falando que podemos fazer no
meu apartamento o que ele planejava fazer no dele, porque ele abre
a porta, e somos recepcionados por todos da nossa família.
Eu deveria prever isso.
Qualquer coisa é motivo de comemoração para os
Bittencourt e sair ilesa de um acidente de carro, é um deles, com
certeza.
Ricardo me coloca sentada no sofá e se afasta indo falar
com o Afonso.
— Eu não tenho mais idade para ter fortes emoções, Clara
— minha bisa fala, me abraçando.
Respiro fundo, sentindo o calor do seu corpo no meu e seu
conhecido cheiro.
Eu amo tanto essa senhora.
Sabe quando você não consegue pensar em uma vida sem
uma outra pessoa fazendo parte dela?
É assim que eu me sinto quando penso na minha bisavó e
na minha mãe.
Todos os outros também têm uma importância grande na
minha vida, mas essas duas, são como se fossem o ar que eu
respiro.
Minha mãe se senta ao meu lado em silêncio, se juntando
ao abraço.
Depois desse momento, fui cumprimentada por todos os
outros, inclusive pelas crianças.
— Você já se acostumou em ter um genro, Henrique? — tio
Heitor fala com um sorriso provocador.
Ele ama provocar o irmão.
— No momento estou o aturando pela minha filha — meu
pai responde seco, mas tentando disfarçar o sorriso.
É muito bom poder ter esse tipo de momento juntos
novamente.
— Eu comprei um presente para você, sogrão — Ricardo
fala, indo pegar a sacola de papel que deixou em cima do balcão da
cozinha.
— Eu vou matar esse filho da puta, Clara — Henrique avisa,
fazendo todos gargalharem.
Eu tenho certeza de que o meu namorado vai atazanar o
meu pai pelo resto da vida com esse negócio de sogro.
— Eu tenho certeza de que você vai amar. — Ricardo
entrega o pacote para ele, mas pelo sorriso que tem nos lábios, eu
não tenho tanta certeza disso.
Todos da sala se mantêm calados, apenas observando meu
pai tirar de dentro da embalagem uma camiseta branca.
— Pode começar a procurar outro namorado, Clara, porque
vou jogar esse cuzão da sacada. — Meu pai levanta do meu lado,
deixando o presente no assento, antes de ir atrás do Ricardo, que
sai correndo em direção ao meu quarto rindo muito.
Pego a camiseta, não conseguindo segurar a gargalhada
quando vejo uma foto do Ricardo impressa na peça com os dizeres:
“Eu amo o meu genro”.
Viro a camiseta mostrando para todos o presente de grego
que meu namorado deu ao sogro, fazendo toda a sala rir.
Eu tenho certeza de que o meu pai não vai deixar isso
barato.

— Você não está sentindo dor? — Ricardo pergunta,


fazendo carinho nos meus cabelos, enquanto estou com a cabeça
deitada no seu peito.
— Eu estou bem, Rick.
Minha família não demorou a ir embora depois que eu
cheguei.
Meus pais foram os mais relutantes, mas depois de eu
confirmar várias vezes que realmente estava me sentindo bem,
foram embora também.
Depois de jantar eu tomei banho com ajuda do meu
namorado.
O ato não foi nada sexual, mas de muito cuidado.
Agora estamos deitados em minha cama, preste a dormir.
— Como você conseguiu comprar aquela camiseta tão
rápido? — Me dá vontade de rir só de me lembrar.
Minha mãe levou o presente junto com eles, mesmo sob
protestos do meu pai.
— A minha irmã conhece um lugar que faz esse tipo de
impressão na hora, então depois que conversei com o seu pai no
meu consultório, mandei mensagem para ela largar tudo o que
estava fazendo e fazer uma para mim. Achei que seria um presente
perfeito para selar a paz com o Henrique. — Sua voz não nega que
sabia qual seria a reação do meu pai.
— É, ele adorou.
— Mas eu tenho um presente para você também — diz,
levantando-se, indo até a cômoda e pegando uma sacola na cor
rosa, de trás de um vaso de flores.
— Meu Deus, aí dentro não tem uma camiseta com sua foto
não, né? — Sento, rindo com essa possibilidade.
— Para o seu azar não, mas pretendo comprar pijamas para
nós dois com os nossos rostos.
— Que Deus me proteja. — Faço sinal da cruz.
Ricardo volta a se sentar ao meu lado, agora me olhando de
forma séria.
A luz do luar que passa pela janela com as cortinas abertas
deixam seus olhos quase em tom turquesa.
— Quando eu soube que você tinha sofrido um acidente de
carro, meu coração só voltou a bater quando eu tive certeza de que
você não corria mais risco de morte. — Pega minha mão, fazendo
carinho no dorso dela com o polegar.
Sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem com a
intensidade do seu olhar e sua voz mais rouca do que o habitual.
— Eu te amo demais, Clara, e quero ter tudo com você. —
Respira fundo, olhando para as nossas mãos unidas. — Eu sei que
você ainda é muito nova, tem tantos planos para o futuro e toda
disposição do mundo, sei também que estamos em fases diferentes
das nossas vidas, mas eu quero poder viver cada um desses
momentos com você.
Sinto meu coração bater acelerado com cada palavra que
sai da sua boca.
— Mas eu não quero pular nenhuma etapa em nosso
relacionamento, Pequena, mesmo que meu desejo fosse te colocar
em um avião para casarmos em Las Vegas com o Elvis.
— Eu não me importaria de me casar com você desse jeito.
— Levanto seu queixo com os dedos, para que seus olhos voltem a
fixar nos meus.
Ricardo parece nervoso e inseguro.
Ele normalmente desvia o olhar do meu quando isso
acontece.
— Você quer mesmo que seu pai me mate, né? — Segura
uma das laterais do meu rosto, fazendo carinho em minha
bochecha. — Mas como pretendo viver por muito tempo e voltando
ao discurso que não quero pular nenhuma etapa do nosso
relacionamento — diz, tirando de dentro da sacolinha uma pequena
caixa de veludo vermelha. — Já estamos namorando, agora
precisamos ficar noivos. — Revela duas alianças grossas de ouro,
junto com um anel solitário feito do mesmo material, mas com uma
pedra azul na ponta, da mesma cor do seus olhos.
— Você aceita se casar comigo, Clara?
— Meu Deus, Ricardo. — Sinto minhas mãos trêmulas,
quando tampo minha boca com elas.
— Não precisamos nos casar de fato agora, pequena, como
eu falei, você ainda tem muitas coisas para viver, mas já podemos
firmar esse compromisso, se você aceitar — fala com um sorriso
nervoso.
— Eu também quero viver tudo com você, amor. — Sinto a
primeira lágrima cair. — Eu te amo tanto, que nenhuma palavra que
eu falar, vai ser o suficiente para me expressar. — Fico de joelhos
em sua frente, segurando seu rosto com as mãos, para olhar no
fundo dos seus olhos. — Eu quero sim me casar com você, Ricardo
Alencar, passar o resto da minha vida ao seu lado é tudo o que mais
desejo nessa vida. — Enxugo com o polegar uma lágrima solitária
que cai em sua bochecha.
Essa é a primeira vez que o vejo chorando e tão
emocionado.
Em silêncio, ele coloca primeiro o solitário em meu dedo
anelar na mão direita, seguido pela aliança.
Depois faço o mesmo gesto, colocando a peça de ouro em
seu dedo.
— Eu vou te fazer muito feliz, Clara.
— Você já me faz, Ricardo.
Selamos esse momento com um beijo cheio de carinho e
paixão.
Nunca em meus melhores sonhos eu pensei que um dia me
casaria com um meu amor platônico da adolescência.
Ricardo além de ser um dos melhores amigos do meu pai, é
o homem da minha vida.
Epílogo

Três anos depois


Saio do carro assim que estaciono na garagem da minha
futura residência ao lado do veículo da minha futura esposa.
Faz menos de um mês que compramos esse imóvel que é
justamente ao lado da casa do Henrique e do Heitor.
Demoramos muito para escolhermos uma casa para
morarmos depois do casamento, porque nenhuma que visitamos era
boa o suficiente para nenhum dos dois, eu acho que no fundo,
estávamos esperando conseguir que alguma no bairro dos nossos
amigos desocupasse.
Quando isso aconteceu, nem deixamos que a imobiliária
colocasse a placa de venda-se.
Assim que dou o primeiro passo para dentro da residência a
música alta vindo do quintal dos fundos chegam aos meus ouvidos.
Depois que eu pedi a Clara em casamento um dia depois do
acidente que sofreu de carro, se passaram três anos.
Nesse período minha menina decidiu que gostaria de ser
enfermeira, pois queria cuidar mais de perto dos pacientes.
Ela optou por fazer primeiro um curso técnico de
enfermagem, só para depois ingressar na universidade.
Clara já está há um ano atuando na área no mesmo hospital
que boa parte da família, assim como eu, trabalha.
— Até que enfim, pensei que não iria vir. — Henrique me
encontra no meio do caminho, próximo ao jardim.
Ele adora implicar comigo desde que comecei a namorar
com sua filha, além de todos os dias me lembrar que se caso eu a
magoe, vai arrancar meu pau e enfiar na minha boca.
— Bom dia sogrão, eu já estava com saudades. — Eu adoro
provocá-lo também.
Nossa amizade, assim como com Heitor e Afonso, só se
fortalece a cada ano que passamos juntos.
Agora eu e o Henrique temos o mesmo propósito de vida,
amar, proteger e cuidar da Clara.
Acredito que isso tenha nos unido ainda mais.
Ele passa por mim resmungando como faz todas as vezes
que o chamo assim, entrando no banheiro social.
Nesses três anos que eu e a Clara ficamos noivos,
dormimos juntos praticamente todos os dias, no meu apartamento
ou no dela.
Essa casa é grande na medida certa, nada tão exagerado
como o meu apartamento.
Demos sorte que o imóvel que ficou disponível para venda
atendia todas as nossas necessidades.
Pois além dos cômodos principais, como sala, cozinha e
quarto do casal, tem mais três outros quartos.
Um vamos transformar em escritório/biblioteca, porque a
Clara não pode viver em uma casa que não tenha uma.
Os outros dois quartos vamos deixar para os nossos futuros
filhos.
Ainda não falamos sobre quando os bebês virão, mas eu
sonho em vê-la grávida de mim.
— Que bom que você chegou, amor. — Ela enlaça meu
pescoço animada assim que passo pela porta que dá acesso ao
quintal dos fundos.
— Você está linda, futura esposa. — Olho-a da cabeça aos
pés.
Clara está usando um vestido branco um pouco acima dos
joelhos com uma saia rodada de renda e com alças finas nos
ombros.
Os cabelos estão soltos em ondas, com uma tiara que
segura um mini véu, imitando os que as noivas usam.
Hoje estamos fazendo nosso chá de cozinha.
— Você também está lindo, futuro marido — diz, colando
nossos lábios.
Circulo sua cintura com um dos braços, a tirando do chão e
aprofundando o beijo.
Eu estou vestindo uma bermuda cargo branca e uma
camiseta da mesma cor com uma gravata borboleta estampada
nela.
— Vem, vamos ver os presentes que já ganhamos — fala
quando a coloco de volta no chão, pois se continuar com a
intensidade do beijo, nossa família vai ficar chocada.
Ela sai me puxando pela mão, parecendo radiante.
Seus cabelos dourados brilham conforme os raios solares
batem neles e seus olhos transmitem tanta felicidade que é
impossível não sorrir ao olhar para ela.
Eu estou muito feliz também.
Falta um mês para o nosso casamento e eu estou contando
os segundos para ela carregar o meu sobrenome, além de mudar a
aliança de mão.
Convidamos toda nossa família e amigos mais próximos
para a comemoração de hoje e para o casamento.
Ela não quer nada grandioso, então, assim como aconteceu
no casamento do Heitor com a Fernanda, nossa cerimônia vai ser
um evento mais intimista, realizado no quintal dos seus avós
paternos.
Minha irmã também está aqui hoje.
Ela e minha mulher são grudadas, Juliana completou o trio
de amigas junto da Cintia e ver as duas tão unidas traz uma
sensação muito boa dentro de mim.
Já meus pais eu não fiz questão de convidá-los para
nenhum dos eventos.
Como esperado, a senhora minha mãe surtou quando soube
que eu estava em um relacionamento com uma mulher vinte anos
mais nova do que eu, e pior, que não tinha nascido em berço de
ouro e nem carregava um sobrenome tradicional.
Se antes meu convívio com eles já era escasso, hoje em dia
é praticamente inexistente.
Mas a falta que eles poderiam me fazer, é preenchido pelo
amor da dona Selma e seu Jaime que sempre me trataram como os
filhos biológicos.
Passo os próximos minutos com Clara sentada no meu colo
em uma das poltronas que tem no jardim, com ela me monstrando
empolgada alguns dos presentes que já recebemos para a nossa
casa e sobre os últimos preparativos do nosso casamento.
— Eu estou tão ansiosa para nos tornarmos oficialmente
marido e mulher — ela diz, deitando a cabeça em meu peito, ainda
em meu colo.
Da onde estamos sentados, conseguimos ver a interação de
todas as pessoas.
— Eu também estou, Pequena. — Beijo a aliança em seu
dedo anelar na mão direita.
— Eu te amo muito, Ricardo.
— Eu também te amo, ontem, hoje e para sempre. —
Levanto seu rosto para que olhe dentro dos meus olhos.
— Claraaa, come isso aqui, amiga, pelo amor de Deus,
devia ser pecado alguém fazer uma comida tão gostosa. — Cintia
se aproxima praticamente saltitando com um prato de bolo que
parece ser de chocolate com cereja na mão.
Além do chá de cozinha que estamos fazendo,
aproveitamos o dia para escolhermos as comidas da festa de
casamento.
Então o Fernando, irmão da esposa do Heitor, que tem um
restaurante e será o responsável por essa parte, trouxe várias
opções de doces e salgados para escolhermos.
Clara coloca uma grande colherada na boca, mas em
seguida pula do meu colo e sai correndo para dentro da casa.
— Clara? — Vou atrás dela, chamando atenção de todos. —
Clara? — A encontro no banheiro que fica dentro do nosso quarto,
ajoelhada no chão e com a cabeça praticamente toda dentro do
vaso sanitário.
— Filha? — Camila aparece na porta, com o Henrique
grudado em suas costas.
Os dois com olhares preocupados enquanto ajudo a segurar
o cabelo e véu da minha noiva.
Clara, fica um pouco mais ainda nessa posição e começo a
me preocupar, pois apesar de ser médico e estar acostumado a
conviver com pessoas doentes, não tenho psicológico para ver a
minha menina assim.
— Toma um pouco de água, princesa. — Henrique oferece
um copo para ela, assim que limpa a boca com uma toalha de rosto
e se senta no chão com as costas na parede.
— Está se sentindo melhor? — pergunto, me sentando ao
seu lado, colocando sua cabeça em meu peito.
— Agora estou. — Sua voz sai fraca.
— Será que o bolo estava estragado, você ama, chocolate
— falo, fazendo carinho em seus ombros nus.
— Ele não estava estragado, é que não ando muito bem do
estômago.
— Desde quando? — sua mãe pergunta.
— Já faz alguns dias, mãe. — Clara levanta a cabeça,
olhando para Camila.
Acho estranho saber dessa informação, pois dormimos
juntos todos esses dias e eu não percebi nada.
— Você devia ter me falado, eu tinha te receitado algo —
falo, a ajudando a ficar de pé.
— Acredito que a sua receita não ajudaria no diagnóstico da
Clara, Ricardo — Camila comenta, olhando para a filha com os
olhos marejados.
— O que está acontecendo, meu amor? — indago quando
vejo que minha mulher também está chorando. — Você está me
preocupando, Clara? — Continuamos ainda dentro do banheiro.
— Ai, meu Deus, seu filho da puta, eu vou te matar, Ricardo!
— Henrique rosna, ameaçando vir para cima de mim, mas é barrado
pela esposa que chora, mas com um sorriso nos lábios.
— Bebeu, Henrique? O que eu fiz agora? — pergunto sem
entender a reação de ninguém.
— Você engravidou a minha filha, seu cuzão.
— Que? Eu... Clara?
— Eu estou grávida, Ricardo — ela diz, colocando minha
mão, em sua barriga ainda plana.
Ela está grávida, Ricardo.
Grávida.
Repito várias vezes em minha mente, parecendo que minha
alma saiu de dentro do corpo.
Ouço de longe Camila falando para o marido para deixar
nós dois sozinhos.
— Você está grávida? — Sinto um mix de emoção ao saber
dessa notícia.
— Estou — responde com a voz embargada.
Nós deixamos de usar camisinha há muito tempo quando
Clara passou a usar outro método anticoncepcional, mas como
médico eu sei que nenhum é 100% garantido.
Antes de conhecê-la nunca pensei em ter um filho, muito
menos achei que tinha vocação para ser pai com o exemplo paterno
que tive na minha infância.
Contudo, desde que essa menina voltou para a minha vida
de forma diferente, eu almejei ter tudo com ela, incluindo um bebê.
— Você não ficou feliz em saber dessa notícia? — Sua voz
sai trêmula.
— Porra, Clara! Eu estou muito emocionado em saber que
você está carregando um bebê nosso, eu não tenho palavras para
descrever tudo o que estou sentindo, mas tenha certeza de que são
sentimentos muito bons. Quando você descobriu? Por que não me
falou da suspeita?
— Eu comecei a ter uns enjoos estranhos essa semana, aí
ontem fiz o teste de farmácia e o exame de sangue. Iria te contar
hoje à noite, quando estivéssemos sozinhos.
— Eu te amo tanto, mulher — Encho sua boca de beijos, a
fazendo sorrir entre eles.
— Eu também e ainda não acredito que vamos ser pais. —
Seus olhos brilham.
— É o nosso amor que se multiplicou. — Faço carinho em
sua barriga. — Nossa, virei um romântico brega, né, quase o seu
pai.
— Bobo. Mas falando em meu pai...
— Nem me fale, vamos lá enfrentar a fera, ou melhor o
vovô. — Saímos abraçados de dentro do banheiro, voltando para o
quintal para dar a notícia a todos.
A comemoração será em dobro, além do nosso casamento,
vamos festejar a chegada de mais um membro na família.
— Eu espero que seja trigêmeos, para o Heitor ver que não
é só ele que tem uma porra forte.
— Pelo amor de Deus, Ricardo. — Ela bate em meu ombro,
mas não consegue controlar a gargalhada.
Antes de passarmos pela porta e anunciarmos a novidade, a
paro ficando de frente para ela.
— Eu não sei fazer declarações elaboradas e muito
românticas, mas eu quero que você nunca esqueça o quanto eu te
amo e prometo te fazer feliz pelo resto das nossas vidas. — Tento
controlar a emoção na voz, mas é impossível quando tenho a
mulher da minha vida na minha frente, carregando meu filho no
ventre.
— Eu também te amo e você já me faz muito feliz.
— Eu mudei muito depois que nos reencontramos, Clara. —
Coloco uma mecha de cabelo atrás da sua orelha. — Mas não
porque você me impôs algo, e sim porque o antigo Ricardo não fazia
mais sentido.
Colo nossos lábios, lhe dando um beijo com todo o amor
que tenho dentro de mim.
Eu não planejava me apaixonar, muito menos um dia ser um
homem de família, mas o destino tratou de colocar em meu caminho
um amor proibido que enterrou o doutor mulherengo, que pensava
que não precisava de uma família para chamar de sua.
Eu não poderia estar mais enganado.

Fim!!
Leia também...
A história de Amor e Recomeço do Doutor Heitor Bittencourt
com a Fernanda.
Baixe Aqui!
Hate To Lovers - Convivência Forçada - Age Gap –
Opostos

Heitor Bittencourt é um renomado médico neurologista,


dentro do hospital leva seu trabalho muito a sério e é respeitado por
todos, fora é um homem que nunca se apaixonou e não tem planos
de mudar isso tão cedo.
Ele vive sua solteirice sem pensar no amanhã.
Só que esse mesmo homem que pega e não se apega vai
ter sua vida mudada com a chegada inesperada de duas
pessoinhas que ele nem sabia que existiam.
Fernanda Nascimento é uma autora de romances com
uma vida amorosa inexistente que trabalha duro para conseguir
sobreviver com a carreira que ama.
Uma mulher solitária que cresceu com a indiferença dos
pais e à sombra de sua irmã mais velha, apesar da relação
complicada, ela sempre amou sua família e não pensou duas vezes
ao acolher a irmã grávida que apareceu em sua porta pedindo
ajuda.
Um acidente obrigará essas duas pessoas, com vidas e
personalidades opostas, a conviverem, porém eles não estão
dispostos a dar o braço a torcer.
Ela detesta o jeito arrogante dele.
Ele a subestima pela diferença de idade entre eles.
Será que pessoas tão diferentes podem se apaixonar?
Agradeço primeiramente a minha família pelo apoio
incondicional, sem eles, a Autora Helen Tussia não existiria.
A Autora Edvânia Voitzszn por ser a minha “gêmea literária”,
aquela que segura a minha mão não importando a situação que eu
esteja passando.
A Autora Mari Sales por me dá luz quando eu só enxergava
escuridão e todas as meninas do Desafio Mari Sales.
Um agradecimento muito especial à leitora Luana
Bittencourt, a pessoa responsável pela Clara ser a protagonista
desse livro, foi através de um direct dela, que a premissa desse
romance surgiu.
A Millena (@meuslivros_minhavida) e a Thalita
(@voandopelaestante) por aceitarem ser minhas betas mais uma
vez, e principalmente pela nossa amizade.
A todos que estão envolvidos na parte editorial ou de
divulgação. Vocês fazem muita diferença nesse lançamento.
Além de todas as pessoas que me mandaram mensagem de
apoio e carinho, tentando de alguma forma me ajudar a resolver o
problema que tive com a minha conta. Todo o apoio que recebi me
ajudou a não surtar e desistir,
E a você leitor, que chegou até aqui comigo. Cada palavra
foi escrita com muito carinho, com o intuito de chegar ao seu
coração. Espero que essa obra tenha te emocionado e despertado
muitas emoções durante a leitura.
Um beijo a todos e até o próximo livro
Helen Tussia nasceu em São Paulo, Capital, em 13 de
novembro de 1991, onde vive atualmente com seu filho, avó e
cachorros.
Formada em Administração de empresas, Serviços Jurídicos
e cursando Marketing Digital, administra o Instagram literário Lendo
e Fuxicando.
Além de ser uma leitora que ama livros de romances fofos e
que aquecem o coração, é totalmente apaixonada pela literatura
nacional.
Instagram:
https://instagram.com/autorahelentussia

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