Você está na página 1de 48

Sentido e Referência

 Semanticistas têm diferentes visões do que


seja o significado e de como se constrói a
significação.
 Semântica textual, cognitiva, lexical,
argumentativa, discursiva...
 Nosso foco: semântica formal, da enunciação
e cognitiva.
O que é semântica? A semântica é uma área da
linguística voltada ao estudo do significado em
diversos níveis, analisando inclusive o conteúdo
e o contexto. Dessa forma, estuda-se a relação do
significado com o significante, que tem a ver
com a forma das palavras, seja essa forma a sua
grafia, seja o seu som.
 Incide sobre a relação entre significantes, tais
como palavras, frases. Sinais e símbolos, e o que
eles representam, a sua denotação.
 é o estudo dos signos, que consistem em
todos os elementos que representam
algum significado e sentido para o ser
humano, abrangendo as linguagens
verbais e não-verbais. A semiótica busca
entender como o ser humano consegue
interpretar as coisas, principalmente o
ambiente que o envolve.
 Relação entre as expressões linguísticas e o
mundo.
 Propriedade central das línguas – “ser sobre

algo” – referencialidade.
 Condições de verdade.

“Há uma flor em minha casa que...”


“Se não conhecemos as condições
em que uma sentença é verdadeira,
não conhecemos seu significado”.
Descrição de todas as situações em
que tal sentença é verdadeira.
Relevância: o estudo do processo a
partir do qual chegamos ao
significado.
 Derivamos significados porque cada parte da
sentença contribui de forma sistemática
para a construção de um significado.
 Podemos analisar as línguas naturais
composicionalmente (exemplo da linguagem
das abelhas).
 A língua pode ser recomposta infinitas vezes,
criando infinitas possibilidades significativas.
 Um sujeito com um predicado:
São Paulo é poluída – descrevemos que o
indivíduo sobre o qual o sujeito fala pertence ao
conjunto das entidades sobre as quais o
predicado fala.
Maria gosta de falar com Joana.
Inés perdeu o equilíbrio novamente.
“Sete Quedas por nós passaram/ e não soubemos
amá-las” (Carlos Drummond de Andrade).
S {cidades poluídas}
 Denotação de sentenças coordenadas:
São Paulo é poluída e perigosa = São Paulo é
poluída e São Paulo é perigosa.

São
Paulo

Condição de verdade = soma das duas situações


introduzidas pelas orações coordenadas.
 João matou o bandido.
 O bandido matou João.

-Sem atenção à estrutura sentencial, não


haveria como diferenciá-las.
- Expressões nominais que representam um
indivíduo no mundo: nomes próprios,
descrições definidas (“o maior rio do mundo”),
pronomes pessoais (eu, vocês, mim) – atribuem
propriedade ao indivíduo denotado.
O maior escritor brasileiro é inteligente.
Indivíduo denotado por 1 {indivíduos
inteligentes}.
A quarta sinfonia de Beethoven é eterna.
 Nada é eterno.
- Nada não denota conjunto vazio.
- O conjunto vazio está presente em todos os conjuntos e não
impede que a presença de outros.
- Eterno não pode ser atribuído a nenhuma entidade
- O conjunto das coisas eternas é vazio.
 Nenhum escritor brasileiro é bonito
- Existe uma não-relação.

Noção de referência que vai além do falar sobre indivíduos.


 “Sigo perseguindo sonhos que me escapam
como borboletas”
Condição de verdade:
1)Eu tenho sonhos.
2) Eu persegui sonhos.
3) Eu persigo sonhos.
4) (????)Eu persegui vários sonhos.
5) Os sonhos me escapam.
6) Um sonho já me escapou.
7) (????)Vários sonhos já me escaparam
8) (????)Sou iludida
1)O organizador do livro “Introdução à Linguística
I” é José Luiz Fiorin.
2)O indivíduo que organizou o livro “Introdução à
Linguística I” é o indivíduo nomeado pela
expressão “José Luiz Fiorin”.
3)José Luiz Fiorin é José Luiz Fiorin.
- 2 explicita o significado de 1 e 3 teria de ser
sinônima de 1. Mas não é assim...
- 1 é informativa, precisa ser verificada no mundo.
- 3 é verificável a priori (é óbvia).
- Qual é o problema?
- A=a (ok!) – A=b (informação nova).
 Não podemos pensar só em que objeto a
expressão faz referência no mundo, temos
que acrescentar o sentido (Frege).
1)O organizador do livro “Introdução à
Linguística I” é José Luiz Fiorin – mesma
referência, sentidos diferentes.
3)José Luiz Fiorin é José Luiz Fiorin – mesma
referência e mesmo sentido.
1)Electra ama seu irmão.
2)Orestes é irmão de Electra.
3)Electra ama Orestes.
1)Electra não sabe que o homem na frente dela é seu irmão.
2) Electra sabe que Orestes é seu irmão.
3) O homem na frente de Electra é Orestes.
4) Electra sabe e não sabe que o homem na frente dela é Orestes
(?????)
Verbos como saber, acreditar, sonhar, imaginar, etc.
criam contextos em que a substituição por uma
expressão com a mesma referência não é possível.
Contextos opacos ou intensionais.
- Electra não sabe que o “homem na frente dela” é um modo de
representação de seu irmão.
 Toda palavra é composta por letras.
 Sócrates é uma palavra.
 Sócrates é composto por letras.
 Tarsky e Frege – modelo matemático de
linguagem (pode ser associado à visão
chomskiana de língua).
 Quantificadores:
Todos os alunos são inteligentes....Universal Afirmativa
Todo indivíduo x que é aluno// é inteligente.
Algum aluno é inteligente – Particular Afirmativa
Existe um indivíduo aluno// ele é inteligente.
 Tabela de condições de verdade:
O sol está brilhando/O dia está quente/O sol está brilhando
e/ou o dia está quente.
p q p∧q (conjunção
lógica)
V V V
F V F
F F F
V F F
p q p∨q (disjunção lógica)
V V V
V F V
F V V
F F F
- Maria é o funcionário mais eficiente deste setor.
- Maria é a funcionária mais eficiente deste setor.
Imagine o seguinte resultado eleitoral:
Célia – 2512 votos
Hildo – 1877 votos
José Bolinha -721
Qual a diferença entre dizer que
Célia foi o vereador mais votado e
Célia foi a vereadora mais votada.
“Frege (1892) observou que existe um tipo de conteúdo em certas
sentenças que não é afetado, quando essas sentenças são negadas, ou
são colocadas em uma forma interrogativa, ou mesmo como uma
condicional antecedendo outra sentença” (Cançado, 2010, p. 2).
a. José emprestou o carro dele para Pedro.
a'. Não é verdade que José emprestou o carro
dele para Pedro.
a''. José emprestou o carro dele para Pedro?
a'''. Se José emprestou o carro dele para Pedro,
Pedro deve estar contente.
(2) a. O João parou de fazer caminhadas.
a'. O João não parou de fazer caminhadas.
a''. Se o João parou de fazer caminhadas...
a'''. O João parou de fazer caminhadas?
A pressuposição envolve uma família de
sentenças: sua versão afirmativa (oração
principal da família), sua versão negativa, sua
versão interrogativa e sua versão condicional.
 Pré-suposição.
 Pano de fundo de uma asserção.
 Parte do conhecimento partilhado pelo falante
e pelo ouvinte.
- Maria parou de fumar.
Implica para o ouvinte e o falante que
- Maria fumava.
Mesmo que a neguemos, ela segue verdadeira
Maria não parou de fumar.
Alface é hipônimo de vegetal.
Televisão é hipônimo de meio de comunicação.
(o sentido de um contido no sentido do outro)
 Noção de hiponímia extendida para
sentenças:
1)Suzana continua a amar seu primeiro
namorado.
2)Suzana amava seu primeiro namorado.

2 está contida em 1.
2 é hipônima de 1.
1 acarreta 2.
 A relação de hiponímia pode ser estabelecida
entre sentidos.
 A relação de acarretamento só pode ocorrer
entre referências.
 “Uma sentença acarreta outra sentença se a
verdade da primeira garante a verdade da
segunda e a falsidade da segunda garante,
necessariamente, a falsidade da primeira”.
 Determina nossos padrões de inferência.

Sabine é professora.
Sabine é carioca.
Sabine é uma professora carioca.
Tico é um pardal.
Tico é um ser vivo.
Se Tico não for um ser vivo, não é um pardal.
O office boy pagou a conta. Há uma conta. Se não
há conta, o office boy não a pagou.
a) A Maria parou de fumar.
b) A Maria parou de fumar? (não acarreta,
rompe a preservação da verdade).
c) A Maria não parou de fumar.
d) Eu lamento que a Maria tenha parado de
fumar.
e) Se a Maria parou de fumar, então sua saúde
deve ter melhorado.
- O Pedro parou de bater na mulher.
- Mas o Pedro nunca bateu na mulher!

 Fazer pressuposições e negá-las são


maneiras de construir o discurso.
Adolfo e Berenice foram amantes quase a vida
inteira. Fazia mais de trinta anos que estavam
amigados. Estão os dois de noite assistindo
televisão quando em uma cena de novela
aparece uma cerimônia de casamento: noiva,
padrinho, marcha nupcial, etc. Emocionada, ela
olha para Adolfo e diz:
- Olha, meu amor! Que coisa linda é o
casamento...Puxa vida, bem que a gente podia
se casar, né?
- Xiii...nestas alturas da vida, quem é que vai
querer a gente?
Todos nós sabemos que o poeta Olavo Bilac
é, na literatura brasileira, um dos principais
representantes do movimento literário do
Parnasianismo, que se apresentou, entre
outros aspectos do seu ideário, como uma
reação ao romantismo. Suponha que, num
concurso público foi proposta a seguinte
questão dissertativa.

Por que Olavo Bilac é romântico?


“Não se deixe explorar pela concorrência!
Compre na nossa loja!”

- Por que essa propaganda é potencialmente


prejudicial ao comerciante que a utiliza?
 Frege entende por „sinal‟ qualquer coisa que
se remete a nome, combinação de palavras ou
letras. Por „referência‟, entende tudo que se
remete a um objeto, ou seja, a referência é o
próprio objeto designado pela expressão
semântica. E por „sentido‟, como o
modo de manifestação do objeto, qual ele se
apresenta.
 Antes de qualquer desenvolvimento é de
extrema importância apresentar o que Frege diz
sobre: nome próprio, sinal, referência e sentido.
Por nome próprio Frege entende uma expressão
que se refere a um objeto determinado ou
algumas descrições definidas - que são
combinações de palavras ou sinais -, são alguns
exemplos de nomes próprios, na concepção
fregeana: „Ulisses‟, „Aristóteles‟, „A capital de
São Paulo‟, „Venus‟,
O autor da obra Ética a Nicômaco‟ entre outros. Segundo Frege “(...)
ica claro que, por ‘sinal’ e por ‘nome’, entendo qualquer designação
que desempenhe o papel de um nome próprio, cuja referência seja
um objeto determinado (...), mas não um conceito ou uma relação”
FREGE, 2009, p.131). Todo nome próprio tem um sentido e tem
que se referir a um objeto. Frege entende por „sinal‟ qualquer coisa
que se remete a nome, combinação de palavras ou letras. Por
„referência‟, entende tudo que se remete a um objeto, ou seja, a
eferência é o próprio objeto designado pela expressão semântica. E
por „sentido‟, como o modo de manifestação do objeto, qual ele se
apresenta.
 Para melhor esboçar essa problemática que Frege
levanta em torno dos nomes próprios, partiremos da
seguinte pergunta: a igualdade da referência pressupõe
a igualdade do sentido? Se utilizarmos o exemplo da
“estrela da manhã” e “estrela da tarde”, nos quais
ambos referem ao planeta Vênus, afirmaríamos que os
nomes podem se referir ao mesmo objeto, já que no
inicio do texto apresentamos uma formulação em que
todos os nomes próprios têm que ter um sentido e
referir a um objeto e, que essa referência seja acerca de
um objeto determinado.
 Nessa situação responderíamos a pergunta acima
com um simples, não. Ou seja, a igualdade da
referência não pressupõe a igualdade do sentido,
isto é, “estrela da manhã” e “estrela da tarde”
tem sentidos diferentes e referem ao mesmo
objeto. Frege diz que o sentido de um nome
próprio não garante a referência, ou seja, podem
existir nomes próprios com sentido e sem
referência, dado que o sentido sempre se refere a
um objeto.
 O exemplo que Frege apresenta para esboçar sua
teoria é a partir das seguintes expressões “o corpo
celeste mais distante da terra” e “a série que converge
menos rapidamente” (FREGE, 2009, p. 133). As
expressões têm sentidos, mas não conseguimos
determinar as suas referências; utilizando o próprio
termo que Frege emprega em seu artigo, “é muito
duvidoso que também tenha uma referência”
(FREGE, 2009, p. 133). Logo, apreender um sentido
não assegura a existência de sua referência.
A referência (ou "referente"; Bedeutung)
de um nome próprio é o objeto que ele
significa ou indica (bedeuten), enquanto
seu sentido (Sinn) é o que o nome
expressa. A referência de uma frase é seu
valor de verdade, enquanto seu sentido é o
pensamento que ela expressa. Frege
justificou a distinção de várias maneiras.
 Os signos da linguagem formal de Frege não
podiam ser “signos vazios”, isto é, tinham que ter
significado. Em outras palavras, as expressões da
linguagem que Frege estava construindo
precisavam ter o que hoje chamamos de valor
semântico. O valor semântico de uma expressão ϕ
é um item não-linguístico, que chamarei aqui de v,
que será associado a ϕ. A expressões de tipos
diferentes correspondem itens não-linguísticos
diferentes. Por exemplo, considere-se a sentença
O valor semântico do nome próprio
“Aristóteles” é um indivíduo, o filósofo grego
Aristóteles, e do predicado “x é grego” pode ser
considerado um conceito, o conceito ser grego,
ou então, como é feito nos atuais livros de
lógica, o conjunto de todos os gregos. Em outras
palavras, o valor semântico de um nome próprio
é um indivíduo que pertence ao universo de
discurso e o valor semântico de um predicado é
um subconjunto do universo de discurso.
 Frege começa o artigo SSR com o famoso
problema da identidade. A pergunta de Frege
é a seguinte: a identidade é uma relação entre
objetos ou entre nomes de objetos? A seguir, é
examinada cada uma dessas alternativas.
Considerem-se as sentenças:
 A Estrela da Manhã é a Estrela da Manhã
 A Estrela da Manhã é a Estrela da Tarde
 Note que os conteúdos cognitivos de a) e b) são
diferentes. Em a), temos uma mera tautologia,
pois afirmamos apenas que um determinado
objeto é idêntico a si mesmo. Por outro lado, a
verdade de b) é o resultado de uma descoberta
astronômica, a saber, que a última estrela vista
pela manhã e a primeira estrela vista ao
entardecer são um único e mesmo corpo celeste,
o planeta Vênus. b) não afirma uma trivialidade
como a).
 Entretanto,se em uma sentença mudamos o seu
nome/símbolo, e não alterarmos a referência,
seu valor de verdade permanecerá. p. ex. em “O
Satélite natural da terra” e “A Lua”, são modos
diferentes de nos referirmos a um mesmo objeto
real, que, no entanto, permanece o mesmo,
mantendo assim o valor de verdade intocável.
Frege expõe essas noções:
 Talvez se possa conceder que uma expressão, que seja
gramaticalmente bem construída e que tenha a função nome
próprio, tenha sempre o mesmo sentido. Entretanto, por esse
meio não fica estabelecido que ao sentido corresponda também
uma referência. A expressão “o corpo celeste mais afastado da
Terra” tem um sentido; mas é bastante duvidoso se ela tem
também uma referência. A expressão “a série menos
convergente” tem um sentido; mas prova-se que ela não tem
referência, à medida que se pode encontrar para cada série
convergente uma outra que seja ainda convergente. Portanto,
mesmo que se apreenda o sentido, não se tem ainda com
segurança uma referência. (FREGE, 1999 p. 23.)
O sentido de um nome próprio será apreendido
por qualquer um que conheça suficientemente a
linguagem ou o conjunto das designações à qual
ele pertença; nesse caso, contudo, a referência,
caso ela exista, sempre será focada apenas
parcialmente. O conhecimento completo da
referência exigiria que pudéssemos dizer
imediatamente se um dado sentido a ela
pertence. Jamais chegamos a esse ponto.
(FREGE, 1999. p. 22-23)
 Um nome próprio tem como referência o
objeto que ele designa ou nomeia. Um termo
conceituai refere-se a um conceito, se o
termo for usado como é apropriado em
lógica.

Você também pode gostar