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AS

PRECIOSAS
RIDÍCULAS
Adaptação teatral da obra original de
Molière feita por Amandha de Souza
Campos.

Dramatis Persnonae

1
1. Du Croisy: pretendente rejeitado
2. La Grange: segundo pretendente rejeitado
3. Gorgibus: Bom burguês, pai de Magdelon e tio de
Cathos
4. Marotte: Criada das preciosas ridículas
5. Marquês de Mascarille: Falso marquês, criado de La
Grange
6. Visconde de Jodelet: falso visconde, criado de Du
Croisy
7. Magdelon: filha de Gorgibus, uma preciosa ridícula
8. Cathos: prima de Magdelon, segunda preciosa ridícula
9. Lucile: amiga de Magdelon e Cathos
10. Celimène: amiga de Lucile; figurante

CENA I

2
LA GRANGE E DU CROISY

DU CROISY
Senhor La Grange!

LA GRANGE
O quê?

DU CROISY
Ficou satisfeito com nossa visita hoje?

LA GRANGE
E temos motivos para isso?
Fiquei escandalizado com a atitude daquelas provincianas
cheias de frescura!
Elas nos desprezaram. Ficaram o tempo todo cochichando,
bocejando e esfregando os olhos ... Ah! pelo amor de Deus elas
nos trataram muito mal!

DU CROISY
Você se aborreceu mesmo com atitude delas, não é?

LA GRANGE
Lógico! Ninguém gosta de ser tratado dessa maneira. Por isso
decidi: Vou me vingar! E conto com sua ajuda para pregar-lhes
uma peça que lhes faça compreender sua tolice e lhes ensine a
conhecer melhor a sociedade que apreciam.

DU CROISY
O que está pensando em fazer?

LA GRANGE

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Um criado meu chamado Mascarille tem um talento precioso
... É um farsante! Adora se passar por homem de condição! Vive
dizendo que é bom nos galanteios e nos versos, e despreza os
outros criados.

DU CROISY
Sim! Mas e o plano?

LA GRANGE
Meu plano? Vamos para outro lugar que eu te conto!

CENA II

GORGIBUS, DU CROISY E LA GRANGE

GORGIBUS, entrando
Então? O que vocês acharam da minha sobrinha e da minha
filha? Qual o resultado da visita?

LA GRANGE
Pergunte a elas. Elas responderão melhor do que nós! Passar
bem! (Sai La Grange e Du Croisy)

GORGIBUS, só
Ué parece que eles não estão satisfeitos! O que será que
aconteceu? Eu preciso saber o que se passa ... (gritando) Marotte!

CENA III

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MAROTTE E GORGIBUS

MAROTTE
Chamou senhor?

GORGIBUS
Onde estão suas amas?

MAROTTE
Nos aposentos delas senhor

GORGIBUS
Pois diga a elas que desçam imediatamente

MAROTTE
Sim, senhor (Sai)

CENA IV
GORGIBUS, só
Alguma estas duas devem ter aprontado! Se bem as conheço
é capaz de terem desfeito destes dois senhores tão bem
educados! ...Coitados! Saíram daqui tão desanimados e
cabisbaixos ... Ah! mas isso não vai ficar assim! Eu lhes darei uma
bronca ...

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CENA V

MAGDELON, CATHOS E GORGIBUS

GORGIBUS
Ah! Aí estão vocês! As belas madames salames (Com ar de
ironia). Posso saber o que fizeram aqueles dois Senhores para que
saíssem daqui com ar tão desanimado?

MAGDELON
Ah papai! Como que o senhor queria que nós tratássemos
aqueles dois sujeitos?

CATHOS
Por acaso o senhor queria que nós nos adaptássemos àquelas
personalidades?

GORGIBUS
E por que não? Qual é o problema?

MAGDELON
Eles são estranhos! Onde já se viu começar um
relacionamento pelo casamento?

GORGIBUS
E por onde queriam começar? Pelo concubinato? Para mim
não há nada mais honroso do que ver vocês duas se casarem.

MAGDELON
Ah meu pai! O senhor me envergonha falando dessa
maneira!

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GORGIBUS
Que é isso minha filha? Falo sério! O casamento é coisa
sagrada e séria e quem começa por aí porta-se como gente de bem.

MAGDELON
Meu Deus! Se todos pensassem dessa forma, adeus romance.
Papai, só depois das outras aventuras é que se chega ao casamento.
É preciso que um amante saiba expressar os seus belos
sentimentos, ser romântico e nos falar coisas lindas! Nós
precisamos nos conhecer melhor. E não começar um romance
justamente pelo fim!

GORGIBUS
Mas que diabos esta menina está falando?

CATHOS
Minha prima tem toda razão meu tio! Como podem ser bem
recebidos indivíduos sem galanteria como eles? Sou capaz de jurar
que bilhetes amorosos, carinhos, recados galantes e lindos versos
são para eles terras desconhecidas. Como pode? Vir em visita
amorosa naqueles trajes ridículos? Meu Deus! Que amantes
seriam estes?

GORGIBUS
No mínimo estão malucas! Pois tratem de aceitá-los por
maridos! É uma ordem! Ai, sinto-me exausto de tê-las em minhas
costas e a guarda de duas jovens é pesado demais para um homem
de minha idade.

CATHOS
Eu considero casamento meu tio uma coisa muito chocante
como suportar a ideia de dormir junto com um homem
verdadeiramente nu?

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MAGDELON
Por favor papai, deixe que, pelo menos tomemos fôlego entre
o mundo elegante de Paris. Deixe-nos à vontade para escolher
nossos romances ...

GORGIBUS
Não adianta insistir. Ou se casam brevemente ou palavra de
honra: entrarão para um convento, quanto a isso não há dúvida
(Sai)

CENA VI

CATHOS, MAGDELON E MAROTTE

CATHOS
Meu Deus! O que iremos fazer? O teu pai é muito
materialista, é um cabeça dura! Ele não vai abrir mão de nos casar
com aqueles dois grosseirões ...

MAGDELON
Mas o que podemos fazer?

MAROTTE, entra
Está aí fora um rapaz que quer vê-las

MAGDELON
E quem é ele? Como se chama?

MAROTTE
Disse-me que era o Marquês de Mascarille.

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MAGDELON
Ah, um marquês! Vá dizer que já iremos recebê-lo. Com
certeza é algum homem de espírito que ouviu falar de nós ...

CATHOS
Mal posso esperar para vê-lo!

MAGDELON
É melhor recebê-lo nesta sala. Vamos arrumar pelo menos os
cabelos (a Marotte) Leve-nos depressa aqui ao lado o conselheiro
das graças

MAROTTE
Nossa mãe que bicho é esse?

CATHOS
Traga o espelho, ignorante, e procure não o sujar pela
comunicação de sua imagem. (Saem)

CENA VII

MAROTTE E MASCARILLE

(Mascarille entra e fica olhando a sala)

MAROTTE
Senhor, as patroas não se demoram

MASCARILLE
Não há pressa. Aqui estou comodamente instalado para
esperar quanto tempo for preciso (senta-se no sofá)

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MAROTTE
Aí vem elas.
CENA VIII

MAGDELON, CATHOS E MASCARILLE

MASCARILLE, levantando-se
Senhoras, venho fazer uma humilde visita; soube que são
novas na cidade; ouvi falar coisas maravilhosas a respeito de
vocês, e vim apreciar essa beleza de perto. Estou encantado com
tanta delicadeza. (faz uma reverência)

CATHOS
Oh! obrigada o senhor é muito gentil ...

MAGDELON
Nós é que estamos encantadas com tamanha gentileza ...

MASCARILLE
Ora bem, mas o que dizem de Paris?

MAGDELON
O que poderíamos dizer? Esse lugar é mágico! Paris é o
centro do bom gosto, da finesse de espírito e da galanteria ...

CATHOS
É uma verdade incontestável!

MASCARILLE
Recebeis muitas visitas? Muitos homens de espírito?

CATHOS

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Pobre de nós! Ainda não somos conhecidas, mas estamos a
caminho, e uma de nossas amigas íntimas já nos prometeu trazer
aqui alguns senhores da alta sociedade.

MASCARILLE
Ninguém melhor do que eu para ajudá-las. Todos eles me
visitam e posso dizer que ao acordar encontro-me rodeado de pelo
menos meia dúzia ...

CATHOS
Por Deus senhor! Faça-nos esta gentileza, porque afinal é
preciso conhecer todos esses senhores se se pretende pertencer à
nata social. São eles que, em Paris, dão vida às reputações. Quanto
a mim, o que considero particularmente é que essas visitas nos
ensinam mil coisas que são essenciais à uma inteligência
requintada ... Ficamos por dentro de todos os acontecimentos da
classe alta!

MAGDELON
Eu considero ridículo o indivíduo que se gabe sem conhecer
as mínimas quadrinhas que se fazem diariamente ... Eu, pelo
menos morreria de vergonha se me perguntassem por alguma
novidade que ainda não soubesse!

MASCARILLE
É realmente vergonhoso não sermos os primeiros a saber do
que se faz; mas não se preocupem : quero trazer aqui uma centena
de homens de espírito e vos prometo que antes de qualquer outra
pessoa vocês saberão de cor todos os versinhos que se fizeram em
Paris!

CATHOS
Ah! Eu amo terrivelmente os enigmas!

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MASCARILLE
Que ótimo! Hoje mesmo escrevi quatro que vos darei a
adivinhar!

MAGDELON
E os madrigais? São extremamente agradáveis quando bem
trabalhados, evidentemente ...

MASCARILLE
Ah! quer dizer que a senhorita gosta de música? É minha
vocação particular! Agora mesmo ando ocupado em passar para
madrigais toda a história de Roma.

MAGDELON
Olha só? Não me diga! Que maravilha! por favor, reserve-me
pelo menos um exemplar.

MASCARILLE
Prometo-vos reservar um para cada uma. Permita-me recitar
um improviso que fiz ontem em casa de uma duquesa de minhas
relações?

MAGDELON
Ficaremos honradas!

MASCARILLE
Óh! Óh! com esta eu não contava:
Enquanto sem pensar no mal eu te fitava,
A sorrelfa teu olhar me furta o coração.
Pega o ladrão! pega o ladrão! pega o ladrão!

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CATHOS
Ah! meu Deus! Não poderia ser recitado de maneira mais
galante!

MASCARILLE
Observaram este começo? Oh! Oh! é qualquer coisa de
extraordinário: Oh! Oh! como um homem que vê claro de repente:
Oh! Oh! A surpresa: Oh! Oh!

MAGDELON
Sim acho este Oh! Oh ... é admirável!

MASCARILLE
Pode parecer insignificante ...

CATHOS
Ah! meu Deus! Que dizeis? Não há dinheiro que compre
coisa como esta ...

MASCARILLE
Agora temos a ária que compus para estes versos.

CATHOS
Tem estudado música?

MASCARILLE
Eu? Nunca!

CATHOS
Então, como consegue?

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MASCARILLE
As pessoas de qualidade sabem tudo sem nada aprender

MAGDELON
É uma verdade incontestável, minha prima! Chama-se a isto
conhecer a suma das coisas; a grande suma; a suma da suma! Tudo
isso é maravilhoso!

MASCARILLE
Tudo o que eu faço me ocorre naturalmente sem estudo ...

MAGDELON
A natureza vos tratou como mãe apaixonada. Sou a menina
dos seus olhos ...

MASCARILLE
O que vocês duas fazem no tempo livre?

CATHOS
Até agora não temos feito muita coisa.

MASCARILLE
Ofereço-me para levá-las um dia destes ao teatro.
Representarão uma novidade e gostaria muito que vissem.

MAGDELON
Será uma honra! Não há como rejeitar!

MASCARILLE
Será uma boa hora para torná-las conhecidas pela sociedade
parisiense ...

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MAGDELON
Nem me fale: mal posso esperar! Paris é admirável; mil
coisas se passam aqui todos os dias que se ignoram nas
províncias ...

CATHOS
Ainda bem que estamos bem instruídas. Não nos faltará
exclamações convenientes a tudo o que foi dito.

MASCARILLE
Pelo visto a senhorita já fez comédia?

MAGDELON
Bem! talvez haja alguma coisa de verdade nisto!

MASCARILLE
Ah! é preciso que ninguém nos ouça. Tenho uma que penso
em levar à cena.

CATHOS
Oh! E a que tipo de comediantes pretendeis entregá-la?

MASCARILLE
Aos grandes! Só eles são capazes de fazer valer as coisas, os
outros são ignorantes que recitam como se fala; não sabem dar
ênfase à frase nem tão pouco expressar o belo verso.

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CENA IX

MAROTTE, MASCARILLE, CATHOS E MAGDELON

MAROTTE
Senhora, com licença ... Querem lhe falar.

MAGDELON
Quem?

MAROTTE
O visconde de Jodelet.

MASCARILLE
O visconde de Jodelet?

MAROTTE
Sim, senhor.

CATHOS
É vosso conhecido?

MASCARILLE
Meu melhor amigo!

MAGDELON
Faça-o entrar imediatamente ...

MASCARILLE

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Faz tempo que não nos vemos e sinto-me encantado com essa
eventualidade ...

CENA X

JODELET, MASCARILLE, CATHOS, MAGDELON E MAROTTE

MASCARILLE
Ah! Visconde!

JODELET, ao passo que se beijam


Ah! Marquês!

MASCARILLE
Ah! Que Felicidade em encontrar-te!

JODELET
Que alegria em ver-te aqui!

MASCARILLE
Mais um beijo, por favor.

MAGDELON, a Cathos
Minha adorável prima, começamos a tornar-nos conhecidas.
O mundo elegante se movimenta para nos ver.

MASCARILLE
Minhas senhoras, permita que eu vos apresente a este
fidalgo; não tenho dúvidas de que ele é digno de frequentar vossa
casa.

JODELET

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Estou lisonjeado e encantado em vê-las. Permita-me (beija a
mão das duas) Oh, vocês têm mãos de fadas! São macias quanto ...
Ah! ... almofadas?!

MAGDELON
Oh, obrigada! Assim nos deixa sem graça ...

CATHOS
É uma honra recebê-lo em nossa casa. Este dia deve ser
assinalado em nossos almanaques como o dia de bem
aventurança. Por favor, queira se sentar.

MASCARILLE
Não repare no aspecto físico do Visconde senhoritas. Ele está
assim pálido porque acaba de sair de uma doença.

JODELET
São as consequências das fadigas da guerra ...

MASCARILLE
Sabiam senhoritas que o Visconde é um bravo dos quatro
cortados? E já nós encontramos, os dois em plena ação de guerra?

JODELET
Sim, é verdade, em lugares tremendamente quentes!

MASCARILLE, olhando para as duas


Sim, mas não tanto quanto aqui ... Ai, ai, ai ... Ufff!! (Se abana
com o chapéu)

JODELET

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Nós nos conhecemos no exército, e, a primeira vez que nos
vimos, ele comandava um regimento de cavalaria nas galeras de
Malta!

MASCARILLE
É verdade; mas tu ingressaste na carreira antes de mim.
Quando eu, ainda era oficial inferior, o senhor já comandava dois
mil cavalos!

CATHOS
Ai, eu tenho uma ternura furiosa pelos homens de armas!

MAGDELON
Eu também os adoro; mas exijo que o espírito suavize a
bravura ...

MASCARILLE
Você se lembra Visconde, daquela meia lua que tomamos ao
inimigo no cerco de Arras?

JODELET
Meia - lua? Era bem uma lua inteira. Foi lá que recebi um
ferimento na perna, de um tiro de granada. Tenho até hoje a
cicatriz. Por favor, apalpe bem aqui! Percebe alguma coisa?

CATHOS, depois de ter apalpado o lugar


A cicatriz é realmente grande!

MASCARILLE, à Magdelon
Dai-me cá sua mão, apalpe deste lado, na cabeça, aqui atrás;
achou?

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MAGDELON
Sim, noto qualquer coisa!

MASCARILLE
Foi um golpe de mosquete que me deram na última
campanha de que participei!

JODELET, descobrindo o peito


Aqui tem outro golpe que me atravessou de lado a lado no
ataque a Gravelines

MASCARILLE, pondo a mão sobre o botão das calças


Vamos mostrar-vos uma chaga furiosa

MAGDELON
Não é necessário; acreditamos sem olhar.

MASCARILLE
São marcas de orgulho, que revelam o que somos.

CATHOS
Não duvidamos do que os senhores são

MASCARILLE
Visconde, vieste de carruagem?

JODELET
Por quê?

MASCARILLE

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Levaríamos estas senhoritas a passeio fora dos muros da
cidade, para que possam conhecer Paris mais a fundo.

MAGDELON
Não podemos sair hoje. Mas poderemos chamar algumas
amigas e fazer uma reuniãozinha particular! O que vocês acham?

MASCARILLE
Acho uma ótima ideia!

JODELET
Não poderia ser melhor!

MAGDELON, gritando
Marotte!

MAROTTE
Chamou, senhora?

MAGDELON
Quero que convide as damas que moram aqui perto para que
venham em nossa humilde reunião. E quero que você nos sirva
algumas coisinhas para comer também ...

MAROTTE
Sim, senhora (Sai)

MAGDELON
As meninas não devem demorar

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MASCARILLE
enquanto elas não chegam farei um improviso (medita)

JODELET
Gostaria de imitá-lo, mas estou um pouco incomodado com
minha veia poética, pela quantidade de sangrias que ultimamente
eu tenho feito.
MASCARILLE
Que diabos está me acontecendo ? Faço sempre muito bem o
primeiro verso, mas custo fazer os outros. Não sei trabalhar com
pressa, há de ser isto. Inventarei um improviso descansado, que
será o mais belo do mundo. Mas, mudando de assunto Visconde,
faz tempo que não vês a condessa?

JODELET
Não a visito há mais de três semanas.

MASCARILLE
Sabías que o duque procurou-me esta manhã e queria levar-
me ao campo para a caça ao veado?

CATHOS
Estão chegando as amigas

CENA XI

JODELET, MASCARILLE, CATHOS, MAGDELON, MAROTTE,


LUCILE E CELIMÈNE

MAGDELON
Oh, sejam bem vindas em nossos humildes aposentos
(cumprimentam- se com beijos) Mandamos procurar-vos para que
viessem completar os vagos da assembleia ...

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LUCILE
Foste muito gentil em nos chamar

CATHOS
Estes senhores são o Marquês de Mascarille (cumprimentam)
e este é o Visconde de Jodelet (cumprimentam)

MASCARILLE
É apenas uma reunião improvisada; mas haveremos de dar
outras por estes dias

CATHOS
Vamos minhas caras, queiram se sentar! Fiquem à vontade !

(Todos começam a conversar entre si)

MASCARILLE
Acabo de me lembrar de um musical que é mais ou menos
assim: (começa a cantar de forma totalmente desafinada) Lá! lá! lá!
(Dança sozinho)

MAGDELON
Seu porte é de uma elegância ...

CATHOS
E com jeito de bailar de um príncipe!

Mascarille
(Toma Magdelon para dançar, ao mesmo tempo que dança e canta
descompassadamente e desafinado)

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Lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, (A Magdelon) Oh, como danças bem! A
senhorita parece flutuar!!
Lá, lá, lá, lá, lá ...

CENA XII

DU CROISY, LA GRANGE, MASCARILLE, CATHOS,


MAGDELON, LUCILE, CELIMÈNE, JODELET E MAROTTE

LA GRANGE, Segurando um bastão


Ah Ah patifes que fazem por aqui? Estamos há três horas à
procura de vocês ...

MASCARILLE, recebendo pancadas


Ai, ai, ai, não tinha me falado que apanhar fazia parte do
plano!

JODELET, também recebendo bastonadas


Ai, ai, ai ...

LA GRANGE
Vocês não têm vergonha? Se passando por homens de
importância? Ah essa é boa! Vocês não têm onde cair mortos! Seus
miseráveis!

DU CROISY, dando uma pancada na cabeça de cada um


Isso é para que os dois conheçam o seu lugar! E quanto às
senhoras; como podem receber nossos lacaios melhores do que
nós?

MAGDELON

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Vossos lacaios?

LA GRANGE
Sim, nossos lacaios; e não é bonito nem honesto corrompê-
los deste modo.

MAGDELON
Oh céus! Mas que insolência!

LA GRANGE
Estas vestes que eles usam são nossas! E eles usaram para
conquistar vocês! Tirem imediatamente tudo o que é nosso!

JODELET
Adeus nossa elegância!

MASCARILLE
O marquesado e o viscondado irão por água abaixo!

DU CROISY
Ah grandessíssimos farsantes! Tiveram então a audácia de
concorrer conosco! Pois agora, se quiser tornarem-se sedutores irão
conseguir por conta própria!

LA GRANGE
É demais: não apenas nos substituir, mas nos substituir com
nossas próprias roupas!

MASCARILLE
Oh, fortuna! Como és inconstante!

DU CROISY

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Agora, minhas senhoras, podem continuar vosso namoro da
maneira que quiserem, e garantimos meu amigo e eu, que não
iremos de forma alguma ficar com ciúmes.

(SAEM DU CROISY, LA GRANGE, LUCILE, CELIMÈNE E


MAROTTE)

CATHOS
Oh céus! Que confusão!

MAGDELON
Arrebento de raiva!

CATHOS
Espero que tenham uma boa explicação para nos dar

MASCARILLE
É! Bem ... Ah! Eu ...

CENA XII

GORGIBUS, MAGDELON, CATHOS, MASCARILLE E JODELET

GORGIBUS
Ah, grandes assanhadas! Que decepção! Meteram-nos em
bons lençóis pelo que vejo! já soube de tudo o que aprontaram! Os
cavalheiros que se foram me contaram as bonitas coisas que
andaram fazendo ...

MAGDELON
Ah meu pai! Pregaram-nos uma peça profundamente
dolorosa!

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GORGIBUS
Ó sim, infames foi uma peça dolorosa, mas as culpadas são
vocês! É um efeito de suas teimosias! Eles ficaram ressentidos com
o tratamento que lhes deram; e coitado de mim que sou forçado a
suportar essa afronta!

MAGDELON
Ah só a morte impedirá que nos vinguemos! E vocês
canalhas, como ouçam permanecer neste lugar depois de tudo que
fizeram? Fora daqui!

MASCARILLE
Tratar um Marquês desta maneira? Ah não ! Isso não se faz !
Aí está o mundo! A menor desgraça faz com que sejamos
desprezados pelo que há pouco nos amavam. Vamos, camarada,
vamos em busca de fortuna em outro lugar; por aqui, percebo que
o que vale são as aparências, e que nenhuma consideração
consegue merecer-lhes a virtude inteiramente nua (Saem)

CENA XIII

GORGIBUS, MAGDELON E CATHOS

GORGIBUS
Suas malditas! Viram o que conseguiram? Agora estão
satisfeitas? Vamos ser objeto de chacota e de risada perante todo o
mundo! Foi o que conseguiram com suas extravagâncias!
Raspem-se daqui bandidas; e raspem-se para sempre! (Saem as
preciosas ridículas correndo e apavoradas)
(Só)
E vós que sois a causa de toda esta loucura, quimeras
insensatas, perniciosos passatempos de espíritos desocupados,

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romances, versos, canções, sonetos e sonatas, quisera que vos
levassem todos para o diabo!
(Sai Gorgibus furiosamente)

APAGAM SE AS LUZES DO PALCO

PANO

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