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A REVOLTA DOS BRINQUEDOS – ROTEIRO

Faixa 1 – Sobe cortina, eleva música, disolve quando a Menina Má estiver

sentada bocejando.

Luzes laterais – quando os personagens põem a cabeça por trás das pernas

Dissolve luzes leterais

Geral Branca – quando os personagens sairem de trás das pernas

Contra Verde – quando começar a tocar a música de psicose

Focos – abrem os quatro e fecham quando cada personagem estiver saindo do

seu foco respectivo.

Geral e Contra Amarelo explode

Contra Verde dissolve – quando o fantoche começa a falar

Ficar atento para quando os personagem irem para baixo do pal, acender luz

Fantoche – Boneca, boneca!

Boneca – Que é Fantoche?

Fantoche – Dormiu!

Boneca – Dormiu?

Soldado – Está na hora?

Fantoche – Está Soldado.

Soldado – Você tem certeza? Vê lá hein? Não quero confusões. Já se


esqueceram daquela noite? Você deu o sinal antes da hora, olha aqui o
resultado.

Fantoche – Quem manda você ser bobo?

Soldado – Bobo não. Você tem a sua caixa pra ser esconder, e eu?

Fantoche – Você? Ué! Você não é o herói? O que você faz dessa espada?
Boneca – Ora, Boneca. Não seja bobo! Pastilhas coisa nenhuma, era só uma
só. Foi a tomada da pastilha.

Soldado – Sim. A tomada da pastilha! Naquela madrugada cinzenta, o batalhão


dos soldados de chocolate atacou o batalhão dos caramelados... o comandante
caramelada...

Fantoche – Chega, chega, você já contou isso milhões de vezes!

Boneca – Ah, deixa ele contar outra vez, é tão bonito! Meu herói!

Fantoche – Isso não interessa, a verdade é que é tarde, nossa dona já dormiu
e estamos perdendo tempo.

Boneca – Vamos chamar os outros. Acorda Ursinho. Acorda!

Ursinho – O que houve?

Soldado – Acorda logo, seu preguiçoso.

Ursinho – Acorda? Acordar para que?

Fantoche – Meu prezado amigo Urso, é chegado o nosso grande dia. Aliás,
noite.

Ursinho – Mas noite de que?

Boneca – Oh, seu burro.

Ursinho – Burro, não! Urso.

Soldado – É o dia da nossa revolta!

Ursinho – Revolta, que revolta?

Fantoche – Não digam mais nada por favor, se não eu acabo dando nesse
Urso.

Ursinho – Bater em mim? Que ursada!

Fantoche – Ursinho do meu coração, vê se entende sim? Também se ele não


entender... a nossa revolta! A revolta dos brinquedos contra a maldade de
nossa dona!

Soldado – Vai ver que ele não sabe quem é a nossa dona.

Boneca – É ela, Ursinho.


Ursinho – Será que ela não está ouvindo agente?

Fantoche – Oh, seu...

Ursinho – Não me chame de burro!

Fantoche – Não é burro nem meio burro. O que é, e que ela está dormindo e
por isso nós estamos livre.

Soldado – Chega de conversa, vamos ao que interessa, antes de mais nada,


chamemos o boneco. ( segura o Boneco) Pode soltar que eu acho que já está
acordado!

Fantoche – O que será que ele tem?

Boneca – Ah! É verdade, que bobos que vocês são. Vocês não sabem que ele
é de corda, ele não anda.

Fantoche – Por que você não disse logo? Fizemos tanta força e só agora você
se lembrou.

Soldado – É, mais onde está a chave? Não estou vendo não...

Fantoche – É, vamos procurar pessoal.

Ursinho – Achei! Achei! Não é isto?

(pega a buzina)

Todos – ô, Ursinho! Isto é chave?

Boneca – Fantoche! Fantoche! Apanhe a chave.

Fantoche – Eu não, vai Soldado.

Soldado – Ursinho, apanhe.

Ursinho – Logo eu...

Boneca – Soldado, vá você, você não é o herói...

Faixa 2 – Explode quando o Soldado, a Boneca, o Fantoche e o Ursinho


estiverem em fileira, Dissolve quando o Soldado pega a chave, isto na terceira
tentativa.

Contra Amarelo dissolve


Contra Verde explode

Geral Branca 50%

Volta cena original quando o Soldado pega a chave

Soldado – Mais uma de minhas vitórias.

Fantoche – Deixa de ser mole, Soldado, segure o boneco direito.

Soldado – Quem é mole?

Fantoche – Você, seu Soldado de chocolate.

Soldado – Ursinho, segure aqui. Você sabe com quem está falando?

Fantoche – Com o Soldado de meia tigela. (Brigam) (Urso cai com o Boneco)

Fantoche – Você não serve pra nada, hein, Ursinho.

Ursinho – Ué! O boneco cai por cima de mim e vocês ainda estão reclamando.

Fantoche – A corda, Ursinho. A corda!

Ursinho – Ué, eu não estou dormindo?

Fantoche – É a corda do Boneco, seu Urso Burro. (Dão a corda ao Boneco)

Boneco – Puxa, até que enfim. Pensei que não iam me dar corda, hoje. Pra
que esse movimento todo?

Boneca – Você não ouviu? Chegou o dia da nossa libertação!

Soldado – Sim, libertação. Vingança contra as maldades de nossa dona.

Boneco – Tudo isso já sei. Agora eu quero detalhes. O plano. O plano de ação.

Fantoche – Isso é simples. O plano? Bem, o nosso plano é o seguinte: bem...


bem... qual é o plano, hein, Soldado?

Soldado – O plano é... o plano é... é, nós tínhamos um plano não é, Ursinho?

Ursinho – É, nós tínhamos um plano. Escuta aqui, o que é plano, hein?

Fantoche – Lá vem o Ursinho de novo.


Soldado – Por que é que você não ficou dormindo, hein?

Ursinho – Era isso que eu queria.

Boneco – Deixa de conversa fiada. O que eu quero saber é o que vamos fazer
com ela. Qual vai ser a nossa vingança?

Boneca – Vamos puxar bastante os cabelos dela; é assim que ela faz comigo
todos os dias.

Soldado – Nada de puxar cabelos. Isto não é vingança. Vamos encerra-la


naquele castelo como fizeram com Maria Espoleta na tomada da pastilha.

Fantoche – Eu acho melhor encerra-la nesta caixa...

Boneco – Estas Vinganças não estão boas não. Vamos pensar coisa melhor.
(espera)

Faixa 3 – Explode, dissolve quando o ursinho começa e gritar e sobe no cubo


da direita do palco.

Ursinho – Pronto, descobri! Vamos quebrar todos os brinquedos dela.

Fantoche – Ô ursinho do meu coração, o que é que você pensa que a agente
é? Por acaso não somos nós os brinquedos dela?

Ursinho – Ah, sim, é verdade.

Boneca – A primeira coisa a fazer é prendermos a nossa dona. A vingança a


gente resolve depois.

Soldado – Eu comando o ataque! Vamos entrar em forma para a chamada!


Batalhão, sentido! Batalhão, sentido! Direita volver! Ordinário marche! Meia
volta volver! Alto!

Atenção para a chamada. Boneca de louça.

Boneca – Presente.

Soldado – Fantoche.

Fantoche – Presente.

Soldado – Ursinho.

Ursinho – O que é hein?


Soldado – Ursinho.

Ursinho – Presente.

Soldado – Boneco de corda.

Boneco – Preeeee...

Soldado – Pronto, acabou-se a corda.

Boneco - ...sente.

Soldado – Bruxa de pano.

Boneco – Vai ver que a nossa dona deixou a Bruxa lá fora no jardim.

Soldado – Não importa, depois nós tratamos de procura-la. Atenção para o


ataque. Batalhão, sentido. Direita volver, em frente, marche.
Atacarrrrrrrrrrrrrrrrr!!!

Fantoche – Então, Soldado. É só dar ordens? Assim qualquer um ataca.

Soldado – Quem comanda não luta. Os grandes soldados como eu só dão


ordens.

Boneco – De longe não é?

Soldado – Olha o Ursinho fugindo. Que é isso Ursinho, nem bem começamos o
ataque, você já que fugir? Já está pensando em retirada, será possível.

Ursinho – É, mas acontece é que você que devia ir na frente, fica atrás
empurrando.

Boneco – Assim nós não conseguimos coisa nenhuma. Temo é que combinar o
que vamos fazer. Proponho que seja feito um julgamento em regra. Um
julgamento com juiz, advogado e tudo.

Boneca – Muito bem, muito bem! Nós somos brinquedos mas o julgamento
será de verdade.

Ursinho – Mas será eu ela deixa?

Soldado – Ela tem que deixar. O julgamento é de verdade e ela tem que
aceitar.

Ursinho – Se ela não quiser a gente amarra com uma corda de pular.
Fantoche – A gente?

Ursinho – Bem, quer dizer... a gente... vocês amarram, eu não!

Boneca – Logo vi ... essa valentia não podia durar muito.

Fantoche – Vai ser um julgamento formidável: um julgamento como nunca se


viu na Brinquedolândia. Mais importante do que o julgamento de Catarina, a
grande.

Ursinho – Catarina, aquela macaca que tinha aqui em casa?

Fantoche – Que macaca que nada. Catarina, a grande.

Ursinho – A macaca não era grande?

Fantoche – Eu serei o advogado de acusação!

Soldado – Advogado, você? Essa é boa! Advogado Fantoche! Isso é coisa que
nunca se viu!

Fantoche – Nunca se viu? Ora, isso é coisa que não falta no mundo da gente
de verdade, aliás, vocês brinquedos sem tradição, brinquedos que precisam de
corda, soldados de chocolate, bonecas que se quebram à toa, não podem
compreender que eu seja um fantoche ilustre descendente de importante
família de bonecos de mola. É preciso que voes saibam que a caixa em que
viveu meu bisavô, era de ouro e do mais puro marfim. Marfim dos elefantes
brancos da Índia e era o brinquedo preferido do sultão de chá de tala.

Ursinho – Chá de que?

Fantoche – De tala.

Ursinho – Que tala?

Fantoche – Não amole, Ursinho. Este era o nome do sultão.

Boneca – É, acho que ele dá para advogado, fala pelos cotovelos.

Fantoche – Mais respeito, menina, mais respeito.

Boneco – Bem, é preciso também um juiz, quem viria a ser o juiz?

Soldado – Pra juiz, qualquer um serve. O Ursinho mesmo está bem.

Fantoche – Fica o Ursinho então.


Boneca – Agora está faltando o advogado de defesa. Alguém precisa defende-
la.

Soldado – Defende-la? Pelas maldades que ela faz com a gente. Não tem
direito de defesa.

Boneca – Você está enganado, Soldado, todos tem direito a defesa. No mundo
da gente de carne e osso, por maior que seja a maldade praticada a pessoa
tem sempre direito a defesa. E isso é muito bom...

Fantoche – Fica então escolhido pela vontade geral, para advogado de defesa
meu ilustre colega, Boneco de corda.

Boneco – A vontade não foi muito geral... mas, enfim já que é preciso eu
aceito.

Boneca – Então, já temos o advogado de defesa, o de acusação e o juiz?

Ursinho – É verdade! O que é juiz?

Fantoche – Juiz, Ursinho, é uma pessoa muito importante, que fica sentado
numa cadeira parecida com um trono e que todo mundo fala só quando ele
deixa falar. Quando ele não quer que alguém fale, ele bate com um martelo...

Ursinho – Na cabeça do tal que falou?

Fantoche – Usa uma roupa muito comprida e um chapéu preto muito alto com
uma coisa branca em volta... e fica cochilando o tempo todo do julgamento.

Ursinho – Cochilando? Que bom! Então vamos começar já.

Soldado – Ah, você está pensando que é só dormir? Você é quem vai dizer o
que vamos fazer com a nossa dona. Por exemplo Ursinho, ela só pega você
pelas pernas de cabeça para baixo e joga contra a parede.

Boneca – E comigo? Me dá corda com tanta força que eu já fui duas vezes
para o conserto. Se eu não fosse um brinquedo caro ninguém teria me
consertado.

Fantoche – Pois olhe, eu até gosto de ir para o conserto. No ultimo ponta pé


que ela me deu eu fiquei oito dias na loja. A gente conhece tanta gente, vê
tanta coisa... a loja era tão bonita... tinha aquele trenzinho de corda, que corria,
corria e apitava nas curvas... tudo azul. E um navio, tão bem feito que acho até
que podia andar no mar... e aquela boneca linda de olhos cor de mel.

Soldado – Ih, assim acho que você não dá para advogado de acusação.
Parece até que gostou do pontapé.
Fantoche – Do pontapé não. Eu gostei foi da loja. O pontapé até que doeu
muito. Mas podem estar certos que da minha acusação ela não escapa de jeito
nenhum. Vou falar do que ela tem feito para todos nós. O que faz com os livros
e cadernos da escola...

Soldado – É bom não esquecer o que ela tem feito comigo. Me atirou da janela
do quarto e eu fiquei dois meses capengando. Imaginem eu, um soldado
capengando.

Todos – É, não há dúvida. A nossa dona é má, antipática e orgulhosa.


Precisamos castiga-la.

Ursinho – Uai, uai, uai...

Todos – O que foi ursinho?

Ursinho – Ela acordou!!! A menina acordou!

Menina – Ah, vocês me pagam, vamos ver agora quem vai ser o juiz?

Faixa 4 – Explode. Dissolve quando a Menina Má estiver sentada no cubo do


meio e for pega pelo Boneco de Corda.

Contra Amarelo dissolve

Contra Verde

Piscam os quatro focos enquanto estiver acontecendo a correria

Boneco – Socorro, socorro, minha corda está acabando. Me dêem cordaaaa!!!

Fantoche – Olha a menina ali. Olha a menina ali.

Boneco – Acudam. Eu não posso mais. Acudam que a corda está acabando.

Menina – A corda está acabando? Vocês vão ver quem é que manda aqui.

Fantoche – Vamos depressa, gente, se não a revolta fracassa.

Boneco – Eu preciso de mais corda.

Fantoche – Já estou dando.

Boneco – Não é essa corda que eu estou falando. É a corda de amarrar!

Menina – Soltem-me seus atrevidos, me pegaram a traição, isso é covardia.


Soldado – Atenção! Bruxa de pano, traga a corda. Boneca, traga o banco da
prisioneira.

Menina – Sua bruxa. Eu devia ter deixado você com os sapos e os grilos nos
jardins. Você me paga.

Todos – Eita...!

Bruxa – Não acredito que volte a me maltratar. Tão cedo você não se livrará
para fazer suas maldades.

Menina – Isso é o que você pensa. Não pense que vou ficar amarrada aqui a
vida toda.

Todos – Que vai ficar, vai.

Bruxa – Você vai ser julgada. Vai pagar por tudo que nos tem feito de mal por
sua ingratidão.

Ursinho – Tá bem amarrada????

Todos – Está Ursinho...

Menina – Que ingratidão? Vocês são os brinquedos muito sem graça. De mais
a mais, não tenho que dar satisfações a bruxas de panos feitas de farrapos.

Todos – Eita...!

Bruxa – Eu sei que sou uma bruxa de pano sem importância. Mas tenho o
coração melhor que o seu. Não sou ingrata.

Boneca – Não está cansada de maltratar a pobre Bruxinha, que mal ela lhe fez,
que mal lhe fizemos nós? Não somos nós a sua distração quando você vem do
colégio?

Menina – Vocês eram minha distração. Estou farta de vocês, farta, ouviram?

Boneco – Senhoras, acabemos com a discussão. Vamos começar o


julgamento, sentem-se.

Fantoche – Comecemos então o julgamento.

Boneco – Quem deve começar o julgamento é o juiz.

Todos – Ué, onde está o juiz. Ursinho, Ursinho! Juiz! Juiz!


Todos – Oh! Oh! Oh!

Ursinho – Vamos ao tribunal.

Menina – A roupa do meu pai, vá tirar isso já.

Ursinho – Silêncio! Quem manda no tribunal agora é o juiz!

Fantoche – Escuta aqui ursinho, onde é que você aprendeu essa estória de
tribunal?

Ursinho – Ué! Todas as vezes que o pai dela vai para o trabalho, ele diz que
vai para o tribunal. Então, se nós vamos fazer um julgamento, e eu sou o juiz,
isso aqui é um tribunal.

Comecemos, comecemos...

Fantoche – Então Sr. Juiz, comece.

Ursinho – Como é que se começa?

Boneco – Assim que se faz: diga. Está aberta a sessão.

Ursinho – Está aberta a sessão.

Menina – Isto é ridículo. Se eu pudesse me soltar.

Ursinho – Soldado, para a segurança do tribunal, veja se as cordas estão bem


amarradas.

Soldado – Não há perigo Sr. Juiz, pelas cordas o tribunal está seguro.

Ursinho – Tem a palavra o senhor advogado de acusação.

Fantoches – Meus senhores. Creio que sem medo de errar, poderia afirmar
que nunca acusador tarefa tão fácil como a que me foi destinada. Nunca houve
um caso como esse, nunca houve dona como a nossa.

Todos – Muito bem, muito bem.

Boneco – Protesto, protesto Sr. Juiz.

Fantoche – Protestar por quê? Eu ainda não disse nada.

Menina – Não disse e nem vai dizer. Porque eu vou quebrar vocês todos.

Todos – Eita...!
Ursinho – Pra mim chega de ser Juiz.

Menina – Pois volte pra ver o que lhe acontecerá.

Ursinho – Ninguém quer ser Juiz, não?

Todos – Nãooooooooo...

Ursinho – Eu preferia só assistir.

Soldado – Assista como juiz e não discuta.

Menina – Você seu soldado de meia tigela...

Todos – Eita...!

Menina – Com toda sua valentia também vai apanhar e muito, você só não,
todos vocês...

Boneca – Antes disso vai ter que se soltar daí.

Bruxa – E eu duvido muito que você consiga.

Menina – Sempre essa bruxa atrevida. Seu lugar devia ser lá fora na cozinha,
como pão de chão.

Todos – Eita...!

Fantoche – Sr. Juiz, mais uma prova da ruindade dela.

Boneco – Protesto, protesto, houve provocação. Como a nossa dona está


amarrada, todos estão abusando.

Boneca – Que é isso, boneco? Você se passou agora para o lado dela?

Boneco – Nada disso. Você já se esqueceu que eu sou o advogado de defesa?


Eu tenho que defende-la.

Menina – Então por que não me solta?

Boneco – Ah, isso eu não posso fazer, só o juiz.

Ursinho – Isso eu não faço.

Fantoche – Senhores, deixem-me continuar a acusação. Ela tem feito coisas


incríveis... a pouco quebrou a cabeça do soldado que é bem dura, segundo,
ofende a Bruxinha a toda hora, terceiro, maltrata a Boneca de Louça. E a mim,
quebra sempre a mola de minha caixa e fico sem poder sair. Esta é a pior de
suas maldades. E vocês já viram os livros e os cadernos de escola?

Boneco – Protesto, protesto. Exijo prova dessas acusações! Senhor juiz... ué,
onde está o senhor juiz?

Todos – Juiz, juiz, juiz...

Boneca – Onde você se meteu, hein, Ursinho?

Boneco – Senhor juiz, enquanto o senhor dava seus passeios de velocípede,


eu exigia do meu colega, Fantoche, as provas das acusações...

Ursinho – Eu saí porque vocês são muito chatos. Já estou cansado de


julgamento.

Menina – Por mim vocês todos podiam ir lá pra fora e não voltar mais.

Boneco – Nós iremos sim, mas só depois do julgamento. Não se assuste...

Menina – Afinal de contas, vocês já pensaram no que vão fazer comigo? Se


vocês me soltarem não sobra nem caco de vocês... só quero saber qual vai ser
a sentença desse juiz caçador de moscas.

Todos – Eita!!!

Ursinho – Mas respeito nesse tribunal, se não, vão todos pro xadrez.

Soldado – Para o xadrez? Quem é que manda é você?

Ursinho – Eu mesmo. Se vocês não andar direito vai preso pro quartel.

Boneco – Ué, e o julgamento? Vou chamar o pessoal.

Menina – Psiu, Boneco.

Boneco – O que é?

Menina – Venha cá, não tenha medo. Não vê que estou amarrada?

Boneco – O que é que você quer?

Menina – Quero conversar um pouco, você não é meu advogado, não vai me
defender? Precisamos falar sobre isso.

Boneco – Bem, diga lá o que quer. Eu fico aqui de longe.


Menina – Ora, nós não somos amigos?

Boneco – Amigos? Você não se lembrava disso quando quebrava a minha


corda...

Menina – Você acha que era de propósito? O que acontecia era o seguinte.
Quando eu chegava do colégio eu queria brincar com a boneca. A mamãe
sempre me dizia: minha filha, cuidado com a boneca, não vá amarrotar o
vestido dela, não estrague os seus cabelos... ora, assim era impossível brincar
com ela.

Boneco – E a Bruxa? Ela não tem vestido bonito, nem cabelos para estragar e
no entanto, sempre que você pode, você a maltrata.

Menina – Ora, a Bruxa, nem me fale nela. Ela foi presente da cozinheira.
Nunca me interessou. Eu com tanto brinquedo caro ia brincar com uma bruxa
de pano? Ela só serve pra gente atirar nos cantos e pisar em cima.

Boneco – E eu? Que é que eu tenho com isso? Eu não sou nem a boneca,
nem bruxa, então por que me maltratava?

Menina – Bem, você... quando eu ia brincar com você já estava irritada porque
não podia brincar com a Boneca, nem coma Bruxa, então eu pegava a sua
corda e fazia força, mais força e quebrava sua corda. Mas era sem querer.

Boneco – Era melhor então que você quando ficasse irritada fosse brincar com
os outros... o Fantoche, o Soldado, mas não comigo.

Menina – Ah, mas eu preferia você. Você era o meu brinquedo predileto.

Boneco – Que você está querendo?

Menina – Eu? Nada. Só porque digo que gosto de você estou querendo alguma
coisa?

Boneco – Bem, como você gosta quebrando a gente... eu pensei...

Menina – Olhe... eu gosto tanto de você, que seria capaz de perdoa-lo se você
me soltasse.

Boneco – Bem... perdoar só não chega, é preciso que nunca mais me quebre...

Menina – Não há dúvida! Garanto que nunca mais o quebrarei.

Boneco – Ta bem, vou solta-la. E os outros? Que é que vai fazer com os
outros?
Menina – Os outros? Ora, os outros eu jogo fora, fico só com você.

Boneco – Ah, logo vi quanto fui enganado por essa falsa bondade. Acha que eu
ia trair meus companheiros? O fato de eu ser o seu advogado de defesa não
quer dizer que vá trair meus amigos.

Menina – Agora me arrependo de não ter te partido todo em vez de só quebrar


sua corda. Boneco antipático.

Boneco – Boneca, Ursinho, Fantoche, venham todos!

Todos – O que foi, o que foi?

Menina – É mentira! Tudo que ele vai dizer é mentira. Esse boneco é
mentiroso. Ele queria trair vocês.

Todos – Boneco!?

Boneco – Não é verdade! Você sabe que não é verdade. Ela pediu que a
soltasse. Quando perguntei o que ela faria com vocês, disse-me que jogaria
todos fora. É claro que eu não podia aceitar uma coisa desta.

Soldado – Então não tem mais julgamento. Vamos castiga-la de uma vez.

Boneco – Isso mesmo e eu não sou mais o advogado dela.

Bruxa – Não! Devemos continuar o julgamento. Que ela era má, nós já
sabíamos. Isso foi apenas uma prova a mais. Vamos continuar o julgamento e
você deve continuar ser o advogado de defesa.

Fantoche – Está bem. Continuemos, então.

Ursinho – Está reiniciada a sessão.

Fantoche – O senhor advogado de defesa pediu provas daquelas maldades


que citei. Pois bem, Soldado, mostra a cabeça. Queira examinar, senhor juiz.

Soldado – Ai, não ponha a mão aí, é só pra olhar.

Fantoche – Bruxa de Pano, diga ao senhor juiz o que ela faz com você.

Bruxa – O pior que ela faz comigo não é dizer que eu sou feia, feita de trapos e
outras coisas. O pior, é que todas as vezes que ela me deixa no canto do
jardim, com os sapos e os grilos... eu tenho horror a sapos, pulam a noite
inteira em cima de mim. E os grilos fazem cri... cri... cri nos meus ouvidos o
tempo todo. E o frio? E o orvalho?
Boneca – O que é orvalho, Bruxa?

Bruxa – Orvalho, são as lagrimas da noite triste caindo pelas rosas.

Ursinho – Como castigo proponho que ela seja entregue ao tal de orvalho.

Fantoche – Calma, Ursinho, ainda é cedo para o castigo. Boneca de Louça,


mostre ao senhor juiz o que ela fez com você.

Boneca – Não posso mostrar.

Soldado – Não pode por quê?

Boneca – Estou toda doida, querem ver? Eu apanhei tanto que até a roupa
rasgou.

Todos – Coitadinha, coitadinha.

Boneca – Imagine eu, uma boneca de luxo com a roupa toda remendada.

Fantoche – Vamos ver agora os livros e os cadernos dela. Bruxa de Pano, vá


busca-los.

Menina – Oh, não! Já não chega o que vocês estão fazendo comigo? Não
quero ninguém mexendo nas minhas coisas. Vocês não tem nada com os
meus estudos. Brinquedos atrevidos.

Ursinho – Silêncio, silêncio, quem fala somos nós, Bruxa de Pano, cumpra as
ordens.

Boneca – Vamos Bruxinha, eu vou com você.

Menina – Já estou farta de tudo isso. Se vocês não me soltarem, eu grito.

Boneco – Não adianta gritar, ninguém vai te ouvir.

Menina – O meu livro de estórias. Pelo amor de Deus, não estraguem os meus
livro de estudos.

Bruxa – Você só tem amor pelos seus livros de estórias. Vejam, ela escreveu
um palavrão.

Ursinho – Se é assim, não tem mais julgamento, vamos castiga-la.

Todos – vamos agarrá-la, vamos castiga-la, não vamos mais ser os brinquedos
dela...
Menina – vamos ver quem vai ser castigada, vou faze-los em pedaços. Vamos
ver quem manda aqui.

Faixa 5 – Explode, vai até o fim da faixa.

Dissolve toda luz

FIM

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