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sentada bocejando.
Luzes laterais – quando os personagens põem a cabeça por trás das pernas
Ficar atento para quando os personagem irem para baixo do pal, acender luz
Fantoche – Dormiu!
Boneca – Dormiu?
Soldado – Bobo não. Você tem a sua caixa pra ser esconder, e eu?
Fantoche – Você? Ué! Você não é o herói? O que você faz dessa espada?
Boneca – Ora, Boneca. Não seja bobo! Pastilhas coisa nenhuma, era só uma
só. Foi a tomada da pastilha.
Boneca – Ah, deixa ele contar outra vez, é tão bonito! Meu herói!
Fantoche – Isso não interessa, a verdade é que é tarde, nossa dona já dormiu
e estamos perdendo tempo.
Fantoche – Meu prezado amigo Urso, é chegado o nosso grande dia. Aliás,
noite.
Fantoche – Não digam mais nada por favor, se não eu acabo dando nesse
Urso.
Soldado – Vai ver que ele não sabe quem é a nossa dona.
Fantoche – Não é burro nem meio burro. O que é, e que ela está dormindo e
por isso nós estamos livre.
Boneca – Ah! É verdade, que bobos que vocês são. Vocês não sabem que ele
é de corda, ele não anda.
Fantoche – Por que você não disse logo? Fizemos tanta força e só agora você
se lembrou.
(pega a buzina)
Soldado – Ursinho, segure aqui. Você sabe com quem está falando?
Fantoche – Com o Soldado de meia tigela. (Brigam) (Urso cai com o Boneco)
Ursinho – Ué! O boneco cai por cima de mim e vocês ainda estão reclamando.
Boneco – Puxa, até que enfim. Pensei que não iam me dar corda, hoje. Pra
que esse movimento todo?
Boneco – Tudo isso já sei. Agora eu quero detalhes. O plano. O plano de ação.
Soldado – O plano é... o plano é... é, nós tínhamos um plano não é, Ursinho?
Boneco – Deixa de conversa fiada. O que eu quero saber é o que vamos fazer
com ela. Qual vai ser a nossa vingança?
Boneca – Vamos puxar bastante os cabelos dela; é assim que ela faz comigo
todos os dias.
Boneco – Estas Vinganças não estão boas não. Vamos pensar coisa melhor.
(espera)
Fantoche – Ô ursinho do meu coração, o que é que você pensa que a agente
é? Por acaso não somos nós os brinquedos dela?
Boneca – Presente.
Soldado – Fantoche.
Fantoche – Presente.
Soldado – Ursinho.
Ursinho – Presente.
Boneco – Preeeee...
Boneco - ...sente.
Boneco – Vai ver que a nossa dona deixou a Bruxa lá fora no jardim.
Soldado – Olha o Ursinho fugindo. Que é isso Ursinho, nem bem começamos o
ataque, você já que fugir? Já está pensando em retirada, será possível.
Ursinho – É, mas acontece é que você que devia ir na frente, fica atrás
empurrando.
Boneco – Assim nós não conseguimos coisa nenhuma. Temo é que combinar o
que vamos fazer. Proponho que seja feito um julgamento em regra. Um
julgamento com juiz, advogado e tudo.
Boneca – Muito bem, muito bem! Nós somos brinquedos mas o julgamento
será de verdade.
Soldado – Ela tem que deixar. O julgamento é de verdade e ela tem que
aceitar.
Ursinho – Se ela não quiser a gente amarra com uma corda de pular.
Fantoche – A gente?
Soldado – Advogado, você? Essa é boa! Advogado Fantoche! Isso é coisa que
nunca se viu!
Fantoche – Nunca se viu? Ora, isso é coisa que não falta no mundo da gente
de verdade, aliás, vocês brinquedos sem tradição, brinquedos que precisam de
corda, soldados de chocolate, bonecas que se quebram à toa, não podem
compreender que eu seja um fantoche ilustre descendente de importante
família de bonecos de mola. É preciso que voes saibam que a caixa em que
viveu meu bisavô, era de ouro e do mais puro marfim. Marfim dos elefantes
brancos da Índia e era o brinquedo preferido do sultão de chá de tala.
Fantoche – De tala.
Soldado – Defende-la? Pelas maldades que ela faz com a gente. Não tem
direito de defesa.
Boneca – Você está enganado, Soldado, todos tem direito a defesa. No mundo
da gente de carne e osso, por maior que seja a maldade praticada a pessoa
tem sempre direito a defesa. E isso é muito bom...
Fantoche – Fica então escolhido pela vontade geral, para advogado de defesa
meu ilustre colega, Boneco de corda.
Boneco – A vontade não foi muito geral... mas, enfim já que é preciso eu
aceito.
Fantoche – Juiz, Ursinho, é uma pessoa muito importante, que fica sentado
numa cadeira parecida com um trono e que todo mundo fala só quando ele
deixa falar. Quando ele não quer que alguém fale, ele bate com um martelo...
Fantoche – Usa uma roupa muito comprida e um chapéu preto muito alto com
uma coisa branca em volta... e fica cochilando o tempo todo do julgamento.
Soldado – Ah, você está pensando que é só dormir? Você é quem vai dizer o
que vamos fazer com a nossa dona. Por exemplo Ursinho, ela só pega você
pelas pernas de cabeça para baixo e joga contra a parede.
Boneca – E comigo? Me dá corda com tanta força que eu já fui duas vezes
para o conserto. Se eu não fosse um brinquedo caro ninguém teria me
consertado.
Soldado – Ih, assim acho que você não dá para advogado de acusação.
Parece até que gostou do pontapé.
Fantoche – Do pontapé não. Eu gostei foi da loja. O pontapé até que doeu
muito. Mas podem estar certos que da minha acusação ela não escapa de jeito
nenhum. Vou falar do que ela tem feito para todos nós. O que faz com os livros
e cadernos da escola...
Soldado – É bom não esquecer o que ela tem feito comigo. Me atirou da janela
do quarto e eu fiquei dois meses capengando. Imaginem eu, um soldado
capengando.
Menina – Ah, vocês me pagam, vamos ver agora quem vai ser o juiz?
Contra Verde
Boneco – Acudam. Eu não posso mais. Acudam que a corda está acabando.
Menina – A corda está acabando? Vocês vão ver quem é que manda aqui.
Menina – Sua bruxa. Eu devia ter deixado você com os sapos e os grilos nos
jardins. Você me paga.
Todos – Eita...!
Bruxa – Não acredito que volte a me maltratar. Tão cedo você não se livrará
para fazer suas maldades.
Menina – Isso é o que você pensa. Não pense que vou ficar amarrada aqui a
vida toda.
Bruxa – Você vai ser julgada. Vai pagar por tudo que nos tem feito de mal por
sua ingratidão.
Menina – Que ingratidão? Vocês são os brinquedos muito sem graça. De mais
a mais, não tenho que dar satisfações a bruxas de panos feitas de farrapos.
Todos – Eita...!
Bruxa – Eu sei que sou uma bruxa de pano sem importância. Mas tenho o
coração melhor que o seu. Não sou ingrata.
Boneca – Não está cansada de maltratar a pobre Bruxinha, que mal ela lhe fez,
que mal lhe fizemos nós? Não somos nós a sua distração quando você vem do
colégio?
Menina – Vocês eram minha distração. Estou farta de vocês, farta, ouviram?
Fantoche – Escuta aqui ursinho, onde é que você aprendeu essa estória de
tribunal?
Ursinho – Ué! Todas as vezes que o pai dela vai para o trabalho, ele diz que
vai para o tribunal. Então, se nós vamos fazer um julgamento, e eu sou o juiz,
isso aqui é um tribunal.
Comecemos, comecemos...
Soldado – Não há perigo Sr. Juiz, pelas cordas o tribunal está seguro.
Fantoches – Meus senhores. Creio que sem medo de errar, poderia afirmar
que nunca acusador tarefa tão fácil como a que me foi destinada. Nunca houve
um caso como esse, nunca houve dona como a nossa.
Menina – Não disse e nem vai dizer. Porque eu vou quebrar vocês todos.
Todos – Eita...!
Ursinho – Pra mim chega de ser Juiz.
Todos – Nãooooooooo...
Todos – Eita...!
Menina – Com toda sua valentia também vai apanhar e muito, você só não,
todos vocês...
Menina – Sempre essa bruxa atrevida. Seu lugar devia ser lá fora na cozinha,
como pão de chão.
Todos – Eita...!
Boneca – Que é isso, boneco? Você se passou agora para o lado dela?
Boneco – Protesto, protesto. Exijo prova dessas acusações! Senhor juiz... ué,
onde está o senhor juiz?
Menina – Por mim vocês todos podiam ir lá pra fora e não voltar mais.
Todos – Eita!!!
Ursinho – Mas respeito nesse tribunal, se não, vão todos pro xadrez.
Ursinho – Eu mesmo. Se vocês não andar direito vai preso pro quartel.
Boneco – O que é?
Menina – Venha cá, não tenha medo. Não vê que estou amarrada?
Menina – Quero conversar um pouco, você não é meu advogado, não vai me
defender? Precisamos falar sobre isso.
Menina – Você acha que era de propósito? O que acontecia era o seguinte.
Quando eu chegava do colégio eu queria brincar com a boneca. A mamãe
sempre me dizia: minha filha, cuidado com a boneca, não vá amarrotar o
vestido dela, não estrague os seus cabelos... ora, assim era impossível brincar
com ela.
Boneco – E a Bruxa? Ela não tem vestido bonito, nem cabelos para estragar e
no entanto, sempre que você pode, você a maltrata.
Menina – Ora, a Bruxa, nem me fale nela. Ela foi presente da cozinheira.
Nunca me interessou. Eu com tanto brinquedo caro ia brincar com uma bruxa
de pano? Ela só serve pra gente atirar nos cantos e pisar em cima.
Boneco – E eu? Que é que eu tenho com isso? Eu não sou nem a boneca,
nem bruxa, então por que me maltratava?
Menina – Bem, você... quando eu ia brincar com você já estava irritada porque
não podia brincar com a Boneca, nem coma Bruxa, então eu pegava a sua
corda e fazia força, mais força e quebrava sua corda. Mas era sem querer.
Boneco – Era melhor então que você quando ficasse irritada fosse brincar com
os outros... o Fantoche, o Soldado, mas não comigo.
Menina – Ah, mas eu preferia você. Você era o meu brinquedo predileto.
Menina – Eu? Nada. Só porque digo que gosto de você estou querendo alguma
coisa?
Menina – Olhe... eu gosto tanto de você, que seria capaz de perdoa-lo se você
me soltasse.
Boneco – Bem... perdoar só não chega, é preciso que nunca mais me quebre...
Boneco – Ta bem, vou solta-la. E os outros? Que é que vai fazer com os
outros?
Menina – Os outros? Ora, os outros eu jogo fora, fico só com você.
Boneco – Ah, logo vi quanto fui enganado por essa falsa bondade. Acha que eu
ia trair meus companheiros? O fato de eu ser o seu advogado de defesa não
quer dizer que vá trair meus amigos.
Menina – É mentira! Tudo que ele vai dizer é mentira. Esse boneco é
mentiroso. Ele queria trair vocês.
Todos – Boneco!?
Boneco – Não é verdade! Você sabe que não é verdade. Ela pediu que a
soltasse. Quando perguntei o que ela faria com vocês, disse-me que jogaria
todos fora. É claro que eu não podia aceitar uma coisa desta.
Soldado – Então não tem mais julgamento. Vamos castiga-la de uma vez.
Bruxa – Não! Devemos continuar o julgamento. Que ela era má, nós já
sabíamos. Isso foi apenas uma prova a mais. Vamos continuar o julgamento e
você deve continuar ser o advogado de defesa.
Fantoche – Bruxa de Pano, diga ao senhor juiz o que ela faz com você.
Bruxa – O pior que ela faz comigo não é dizer que eu sou feia, feita de trapos e
outras coisas. O pior, é que todas as vezes que ela me deixa no canto do
jardim, com os sapos e os grilos... eu tenho horror a sapos, pulam a noite
inteira em cima de mim. E os grilos fazem cri... cri... cri nos meus ouvidos o
tempo todo. E o frio? E o orvalho?
Boneca – O que é orvalho, Bruxa?
Ursinho – Como castigo proponho que ela seja entregue ao tal de orvalho.
Boneca – Estou toda doida, querem ver? Eu apanhei tanto que até a roupa
rasgou.
Boneca – Imagine eu, uma boneca de luxo com a roupa toda remendada.
Menina – Oh, não! Já não chega o que vocês estão fazendo comigo? Não
quero ninguém mexendo nas minhas coisas. Vocês não tem nada com os
meus estudos. Brinquedos atrevidos.
Ursinho – Silêncio, silêncio, quem fala somos nós, Bruxa de Pano, cumpra as
ordens.
Menina – O meu livro de estórias. Pelo amor de Deus, não estraguem os meus
livro de estudos.
Bruxa – Você só tem amor pelos seus livros de estórias. Vejam, ela escreveu
um palavrão.
Todos – vamos agarrá-la, vamos castiga-la, não vamos mais ser os brinquedos
dela...
Menina – vamos ver quem vai ser castigada, vou faze-los em pedaços. Vamos
ver quem manda aqui.
FIM