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Português e o
mente, seja em relação ao quefOI: Quase toda
a gente [ ] vive na aflição e na inibição de
. . .
2 5 d e Abri l
alguma - o que nada tem a ver com a liber
dade de imaginação ou com a experimenta
ção linguística, e é apenas o resultado de
décadas de meias palavras cifradas . . . [e]
o preço que se paga de tan ta gente, em sécu
los, ser descendente de familiares do Santo
Ofício, ou de cristãos-novos que venderam
a família à fogueira».
Jorge de Sena, Nota, ExorcislI/os ( 1 972)
aparecimento de novos projectos de criadores agora com 40 anos, dos agentes responsáveis
individuais, na música, nas artes plásticas, na pela « segunda vaga» de « teatro independente» ;
dança e no teatro, cujos horizontes estéticos se 2°) a afirmação de uma geração de actores <mão
cruzam com as linguagens de artistas de outras integrados» com 30 anos; 3°) e o aparecimento
115 latitudes. É também por essa altura que surgem de uma geração de <movÍssimos» , mais no sen-
tido de mentalidade teatral tida por «alterna divulgação das novas dramaturgias europeias e
tiva» , afirmando a sua «juventude» por oposição norte-americana), ou o veterano TEC (dirigido
aos profissionais «mais velhos» , do que no por Carlos Avilez, actual director do Teatro Naci
sentido de associação por critérios rigoro onal D. Maria II). Outros criadores juntaram-se
samente etários 1 0 . a personalidades artísticas como Ricardo Pais
O segundo destes grupos constituiu, como (encenador actualmente dirigindo o Teatro
se veio a confirmar, uma espécie de «geração Nacional de S. João no Porto) e António Lagarto
-sandwich» que, formada no decurso dos anos (um dos primeiros cenógrafos da sua geração a
70 e com uma experiência profissional já assi alcançar projecção internacional) , sendo de
nalável, se «rebela» agora contra o sistema hie relevar, ainda que noutra perspectiva, o apelo
rárquico do «establishment» teatral, tentando que constituiu o trabalho desenvolvido pela
«ser independentes dos independentes» , isto é, dupla Rogério de CarvalholJosé Manuel Casta
tentando uma postura autónoma face aos « gru nheira, um encenador de origem africana e um
pos independentes» que passava por formas de cenógrafo-arquitecto que construíram, desde
trabalho menos comprometidas, tanto ideoló finais de 70, um território muito próprio no
gica como esteticamente (vaga do free-lan âmbito do teatro amador, sem i-profissional e
cismo), pela procura de repertórios mais con depois profissional.
troversos e pela adopção de vias alternativas de Muito diferentes entre si artística, filosófica
trabalho (televisão, dobragens, publicidade, e até politicamente, os criadores destas duas
teatro musical, projectos individuais, opção por gerações cronologicamente mais próximas, se
grupos da descentralização) que possibilitas não diferem, radicalmente, no tipo de teatro que
sem reconhecimento público e sucesso indivi promovem, diferem, sobretudo, nas suas refe
dual ou, pelo menos, minorassem a precaridade rências teatrais (Victor Garcia deixou uma forte
da oferta de trabalho, sobretudo em Lisboa e marca nos criadores da primeira e segunda gera
Porto, os centros urbanos onde se concentram ções do « teatro independente» que com ele tra
as mais importantes entidades passíveis de ofe balharam ou não) e na diferente crença no mer
recer regular trabalho teatral e onde estão sedi cado. Mas todos estes áiadores, desde os mais
ados os orgãos mediáticos potenciadores de <<integrados» aos mais « heréticos» , que tinham
visibilidade. em comum a crença num teatro assente na pala
Os actores mais relevantes desta geração de vra, na encenação, na imagem e na força do tra
<<DOVOS notáveis» procuraram afirmação como balho de actor, não tiveram, apesar dos casos de
encenadores em projectos pontuais subsidiados grande carisma, vida fácil ou tranquilidade de
pelo Estado ou albergados pelo ACARTE, ou ade trabalho até cerca de 1996.
riram, pontualmente, a propostas e projectos de Com efeito, em virtude de uma crescente
grupos de referência como a Cornucópia (diri mentalidade liberal, de uma permanente indefi
gida pelo actor Luís Miguel Cintra e pela ceno nição de critérios e da ausência de uma assu
plasta Cristina Reis), o Bando (dirigido pelo mida política teatral - ou cultural - que visasse
artista plástico-encenador, João Brites, promo objectivos mais largos que a tímida (ainda que
tor de um teatro épico da imagem), a Comuna muito urgente) promoção da restauração patri
(dirigida por um encenador, João Mota, com monial e a pseudo-moralização das relações
acentuada vocação pedagógica), o Novo Grupo entre Estado e criadores -, as Companhias, para
(dirigido por João Lourenço e voltado para a sobreviver, foram compelidas a adaptar-se de 1 16
Em 1984, Madalena Azeredo Perdição inicia as •____..,.... ... .'dl.l,.. -.I..,....·�·�·�··�..,.I.m.,.., ....... .�
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alterações desde 1 979, tal fenómeno ter-se-á de
actividades do Serviço de Animação, Criação
Artis1ica e Educação pela Arte/ACARTE,
T E AT RO DE € t\l O FH'f lDAD r S imputar ao empolamento da oferta e procura de
espectáculos mediáticos que caracterizaram as
na Fundação Calouste Gulbenkian.
Pioneiro centro de produção e programação que programações ligadas ao importante evento cul
viria a facultar o desenvolvimento de novas tural e institucional que foi Lisboa 94: Capital
linguagens e de novos criadores.
Europeia da Cultura,
A partir de 1990, o teatro português vê,
então, alargar o seu espectro de criadores e
constata a emergência de alguns fenómenos
identitários relevantes, A este fenómeno dão
particular atenção os festivais já existentes ou
os que surgem/ desaparecem entretanto, como
o Citemor ( 1 974; 1 992) , o festival luso-italiano
Sete Sóis-Sete Luas, o Festival Outros
Teatros/FITOff ( 1 992), o Festival X, o Festival
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Atlântico (para além de outras Mostras, Bienais,
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etc.), ou estruturas de produção, criação e divul
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gação (Cassefaz, Clube Português de Artes e
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promoção de espectáculos de curtíssima dura J{/nelas Para Dentro (1985), de Costa Ferreira, Raul So/nado: A \lida Nilo
se Perdeu (1991), de Leonor Xavicr auA Fala da fIt!emórin (1993), de Fer
ção - por vezes menos de uma semana, ainda nando Gusmão) o capítulo relativo ao Conservatório Nacional será bas
que as produções sejam dispendiosas -, em pro tante interessante. O faJecido professor Eurico Lisboa falava, com fre
quência, aos seus ahmos, entre várias histórias de pilhagem c delapida
duções de pequeno formato (monólogos, por
ção do património do Conservatório Nacional, da grande humilhação a
exemplo) , e em colaborações institucionais ou que tinham sido sujeitos os professores daquela escola de teatro que,
Ulll
em co-produções. a um, tinham sido votados num célebre ((leilão de professores" ,
pelos estudantes reunidos em assembleia geral. Era a época áurea dos
O resultado deste tipo de acção, estatistica saneamentos políticos (ou tidos por tal), outro capítulo da História
1 23 mente estimulante mas frustrante em termos de recente que continua mergulhada em incomodado silêncio.
J Esta estrutura trans[ormar·se·ia, em 1990, no CENDREV; pela junção
do Centro Dramático de Évora COm o Teatro da Hainha .
.J lembremos mais alguns desses grupos que têm tido, nos últimos
26 de Ma rço • • lN ORMAÇÕES
vinte e cinco anos, a seu cargo as tarefas árduas da dinamização cu]· • • 0 1 3 4 7 1 0 7 8
tural e da sensibilização, difícil, das autarquias para a importância da a lO de Maio
educação e da cultura na dinâmica local do desenvolvimento intc·
grado: Tcatro em Movimento (Bragança); Filandorra Teatro do Noro·
cstc; Trigo LimpolACERT (Tondela), GICC (Covilhã); Aquilo (Guarda),
• •
Acta, Companhia de Teatro do Algarve (Faro), etc.
aos 30 anos.
12
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A este respeito, é elucidativo o n.O 13 da referida revista Actor (número /