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As palavras
têm a sua história
Dioniso I Baco
§ 28. Zeus desceu, numa chuva de ouro, sobre Sémele. lilha de Cadmo
(o rei de Tebas), tornando-a mãe de Diónysos (lat. Dionysus, port. «Dioniso»),
cujo nome muitos explicam como «filho de Zeus». Sabemos hoje que ja por
volta de 1500 a.C. Dioniso era venerado na ilha de Creta como deus da vege
tação e da fecundidade num culto extático e popular; antigamente julgava-
-se que era um deus importado em data relativamente recente. A religão aris
tocrática de Homero relegou-o para o segundo plano, mas, ao aburguesar-se
a vida helênica no século VI a.C., revigorou o seu culto, sem que o deus con
seguisse integrar-se no grupo dos deuses olímpicos propriamente dito.
Circulavam muitos mitos sobre a sua infância, que aqui deixamos de lado.
Só mencionamos a sua expedição semi-militar aos países orientais, inclu
sive a índia, que resultou numa marcha triunfal. Jã acompanhado de uma
turma extática, composta de homens (os chamados «sátiros», meio-homens,
meio-bodes, com dois chifres na testa e pernas de bode) e mulheres (as cha
madas «mênades», que se entregavam com frenesi à música, dança e orgia).
Aspirava-se ao estado de delírio coletivo nas festas noturnas de Dioniso, nas
quais participavam principalmente mulheres, as chamadas «bacantes», assim
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denominadas por ser «Bacon (gr. Bakklw s: lat. Bacchus) um apelido muito
usado do deus. Na vida cotidiana, Dioniso ou Baco era o lautor do vinho e
da embriaguez, a ponto de se usarem os suhst. gr. hákkhns e lat. bacchus
metonimicamente no sentido de «vinho» O culto de Dioniso /Baco foi
adotado pelos romanos já no século V a.C\, que cedo o equipararam ao
deus itálico lAbcr Patcr■( = «Pai Libertador [dos cuidados]»?), o protetor da
viticultura.
A. A palavra «sátiro» (gr. satyros) quer dizer «com falo /pênis ereto».
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C». O naturalista Plínio (Naturahs Historia, III, 8) dá-nos a seguinte infor
marão sobre a origem da palavra -Lusitânia»:
A. O subst. gr. drám a deriva do verbo gr. dráõ (= «fazer, efetuar, cum
prir»), com o qual se relaciona o adj. gr. draslikós (= «drástico, enérgico*).
Muitos julgam que o emprego primordial desta categoria de palavras não
é profana, mas sacral. O verbo dráõ empregava-se originariamente sobre
tudo no sentido de «render um culto religioso, praticar uma cerimônia reli
giosa». Com efeito, a origem do drama grego não se pode separar do culto
prestado a Dioniso. Aliás, também o teatro medieval tem raizes nitidamente
litúrgicas e bíblicas.
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gênero literário. O mesmo poeta teria introduzido o costume de disfarçar
os coristas em «sátiros», que, como ja vimos (cí. supra, § 28), eram mcio-
-homens e meio-bodes. Ora, a palavra grega que significava «bode» era trágos.
Dai o canto executado pelas coritas veio a ser chamar-se tragõidta (lat. tra-
goedia', port. «tragédia»), palavra composta de trágos (= «bode») e óidè
(= «canto»; cf. o subst. port. «ode»).
Non I A pal.isKi -diluambo- (gt ththxtutnbin>)<: tlc ungem ubvcura Alguns vêem nela
um «tnpudeo» Ktimologia pouco convincente
\ou 2 O subst gi kltoros (=«coro») significava ui iginariamenlc -pista- [de
dam,'a canto], relacionando-se com os subst gr. khtutos e lat ln>rti4S (= -sitio
cercado-, d ]} IM* A) Mais laide, porem, loi se aplicando ao conjunto
dos que dançavam, e cantavam, linalmente, passou a designar também o baile
e o canto executado.
Noiv 3 Ü coro dam;ava e cantava na «orquestia» (gi orkhfslru), palavra relacionada
com o verbo gr cikhotniu ( «movimenlai-se»l No século XVII o termo veio
a sigmticui a parte do teatro, reservada aos músicos, e só no secu Io XVIII Iicou
com o sentido de «coniunto dos músicos [instrumentais]-.
§ 30. É muito provável que o relerido Arion, para variar os seus diti
rambos, neles inserisse trechos métricos, já não cantados, mas declamados.
A designação de tal declamador era Hypukrités (= «responsor»); o termo
sugere que o declamador respondia a perguntas que lhe eram propostas pelo
dirigente do coro, o chamado corifeu (gr. korypháios; lat. coryphaeus). A ino
vação, por mais importante que fosse, não resultou na ação dramática
propriamente dita. Para tal era necessário que o responsor já não contasse
«epicamente» as aventuras do seu herói, mas passasse a representá-lo «dra
maticamente». identificando-se com ele e «entrando-lhe na pele». Por outras
palavras, o «responsor» épico devia transformar-se em «ator» dramático.
Ao que parece, o passo decisivo neste sentido foi dado pelo poeta Téspis de
Atenas, que em 534 a.C. introduziu um ator na cena. Para possibilitar um
diálogo, outros dramaturgos introduziram um segundo ator e, mais tarde,
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um terceiro. Salvo uns poucos I mementos, pei dn íimi se as oliras dos him ia
dores da tragédia. Só chegaram aos nossos dias sele pe<,us ■oinpleias <lr
Esquilo (525-456 a.C\), sete de Sojoeles (4Ó6 406 ,i < ) e de/enov e <l<* I; 111 ipides
(480-406 a.C.).
A. O subst. gr. hypnkrilés (lal. hvpocnto', poi t «liipoc riia») passou <ouio
vimos do signilicatlo de «responsor» ao de «aloi ». < o n i o um atoi deve ser
capaz de simular e dissimular tudo, a palavra In ou, nas línguas modernas,
com o sentido de «hipócrita», evolução semánlíi a que se deve pi uiupalmeote
ao seu emprego pelos autores do Novo Testamento.
D. A palavra «cena» deriva do subst. gr. skené (lat. scaena), que signi
fica a «tenda, barraca», em que se guardavam os requisitos teatrais. Origi-
nariamente, a skené era uma instalação provisória, como o indica o próprio
termo; com o tempo, passou a ser uma construção permanente, que servia
também de fundo para o palco (gr. proskéniun).
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