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PANASQUEIRAS HILARIANTES DA MAGNA MATER,

por artur felisberto.

Figura 1: folias e panasqueiras gregas hilariantes.

What precipitated the transition from goddess religions to god religions is still subject
to much debate and controversy, but the adoption of a sedentary lifestyle because of
agriculture may have fundamentally reoriented society towards patriarchal organization and
the subsequent rethinking of goddess religions. It is certain, however, that urbanization
dramatically precipitated gender inequality as human life suddenly assumed a double quality:
public life and private life. The domination of public life, that is, administration, rule, and
military organization, by men certainly produced a reorientation of religious beliefs. The
Cretans, however, do not seem to have evolved either gender inequality nor adapted their
religion to a male-centered universe. The legacy of the goddess religion seems to still be alive
today. Both Greece and Crete are Greek Orthodox Christian. In Greece, however, only women
regularly swear by the name of the Virgin Mary, while in Crete both men and women swear by
her name, particularly the epithet, "Panagia," or "All-Holy."

Panagia < Pan-| Hagia < Kakia | < Pan-Hagist > panahistos > panasichos
> « panasca», legítimo equivalente semântico de «maricas» e maricon
< «maricas» < marisha, lit. “filha do mar”, ou mariazinha,
substituto da verdadeira Maria, em teatros e no mar alto!
Maricon seria uma forma ainda mais sarcástica com que a gíria se referir uma
mariazinha do sexo masculino.
Hag-isteuô, perform sacred rites, < hag-istos, ê, on, hallowed, Et.Gud. s.v. hagisteia.
> hagios, devoted to the gods: I. in good sense, sacred, holy. II. in bad sense, accursed,
execrable.
A panasquice dos cretenses antigos ficou famosa e vá lá saber-se se tal se deve
ou não à influência do arcaico matriarcado que tenderia a deixar escapar de quando em
vez uma certa influência efeminizante da educação dos jovens de sexo masculino. De
qualquer modo o actual culto cretense de Panagia pode corresponder a uma
sobrevivência dum culto muito mais arcaico da Deusa Mãe que por ter andado mais ou
menos notoriamente relacionado com a homossexualidade dos curibantes dos cultos
ululantes de Cíbele pode ter criado no resto da cultura helénica uma reacção de
ridicularização de tal modo que Panagia pode ser a origem de «panasca».

Figura 2: Folias apanascadas e Dionísícas gregas.


Cíbele era a mesma que a Magna Mater dos latinos cujas festas eram
denominadas Hilárias.
Hilaritas < Hilar-thias, lit. “deusa Hilar”, Senhora da «hilaria», a festa da
alegria e do riso; da hilaridade e da gargalhada!
Hilária <= Hil (>Engl. Hill = monte) < Kyr > *Kyrias, as festas pascais da
Senhora do Monte que era Cibele.
Dos gritos destas festas pode derivar o grito cristão do Kyrie Eleison…e a
saudação nazi!
«Hilário» é seguramente um nome que deriva do nome dos jovem «caloiro» e
«hilário», romeiro das festas Hilárias.
Hilaria (sc. hiera), ta,= Lat. hilaria, festival of rejoicing in various cults, e.g.
Isis,; esp. of Magna Mater. <= [Greek] hilaris, e, and hilarus, a, um, adj., = hilaros
[cf. Sanscr. hlâd, rejoice; Gr. chlaros; Engl. glad], cheerful, of good cheer, lively,
gay, blithe, merry, jocund, jovial.
Attis' death and subsequent rebirth into his mother's celestial kingdom as an
'Eternal Boy' was celebrated annually in Rome during the three day period of: March
24 (Dies Sanguinis - 'The Bloody Day'), March 25 (Hilaria - 'The Day of Joy'), and
March 26 (Requietio - 'The Day of Rest').
Figura 3: Hilaritas is the
personnification of cheerfulness, rejoicing
and mirth. She is usually seen holding
Cornucopiae and a long palm.

These dates correspond with the


spring equinox and represent the exact
period of Rhodes' own physical decline and
eventual death on March 26. And it was
quite possibly on Dies Sanguinis itself that
he passed on his symbol-laden dagger to the
Cape Coloured artisan - Attis doubtlessly
used a similar instrument for his self-
castration. 1

Por isso é que a academia de Coimbra inventou o «fado Hilário», que teria sido
seguramente uma arcaica ou antiga alusão aos folguedos das caloirices hilariantes
coimbrãs:
O Hilário disse um dia
Que ninguém será formado
Quando a velha academia
Deixar de cantar o fado!
Enfim, caloirices e paneleirices podem ocorrer na mesma altura e são tudo a
mesma confusão!

Figura 4: Convites para as folias académicas e platónicas gregas.


Ora bem! Não e fácil entender a etimologia do termo «paneleiro», (• s. m.
fabricante ou vendedor de panelas de barro; • oleiro;• (vulg.) pederasta;•
1
http://www.cecilrhodes.net/eternalboy.html
homossexual.) nem mesmo atendendo ao facto de que os vasos gregos foram ricos em
pinturas com este tema. Já o facto de ter sido culturalmente corrente na antiguidade
clássica aceitar a origem helénica desta moda, que aliás os gregos atribuíam aos
estrangeiros (Ai, quem dera que o mal fora sempre um exclusivo alheio!) pode ser a
origem do termo mas, ainda pela relação mítica com Pan, o deus de desejos
desenfreados e de gostos nem sequer um pouco esquisitos. Sendo o vício mais fácil de
apanhar nos ginásios e balneários, seria muito espalhado entre os atletas pelo que,
durante os jogos pan-helénicos a loucura divina seria total!
Os jogos pan-helénicos seriam também conhecidos por festas de Pan. Então,
*Pan-halias e os romeiros destas festas seriam os *Pan-halia-lus.
*Pan-halia-lus > *Panaliarios > «paneleiros»!
Porém o mais seguro é que os «paneleiros» fossem os curibantes eunucos e
efeminados, dedicados aos cultos de Cíbele e Magna Mater que seriam denominados
panhilarios, ou seja os que transportavam os falos nas hilariantes festas hilárias. Pois
bem, outro nome para Pan é Hylaeos que foi seguramente um deus da luz cujo epíteto
Hylaeos o aproximava dum deus solar como Hélio.
“Enquanto as flautas tocavam, os tambores batiam, e os padres se castravam
com facas, a excitação religiosa espraiava gradualmente como uma onda entre a
multidão de espectadores, e mais do que uma pessoa fez o que mal teria pensado fazer
quando veio ao festival apenas como espectador de feriado. Pois, homem após
homem, com a palpitação da música nas veias, os olhos fascinados pela visão do
sangue fluindo, saltado adiante se despiram aos gritos e agarrando uma das espadas
que já estaria por perto e pronta de propósito, se castraram naquele mesmo lugar.
Mas assim que noite caiu, a tristeza dos adoradores virou alegria. Pois de
súbito uma luz brilha na escuridão: o túmulo foi aberto e estava vazio: o Deus tinha
ressuscitado; e assim que o padre tocava com bálsamo os lábios dos veladores
chorosos, ele sussurrava suavemente aos seus ouvidos a alegre novidade da salvação.
A ressurreição do deus era saudada pelos seus discípulos dele como uma promessa
que também eles sairiam triunfante da corrupção da sepultura".

Figura 5: Cenas de proxenetismo, homossexualidade e pedofilia, num vaso grego. 2


Na amanhã, no dia 25 de Março considerado o equinócio da Primavera a
ressurreição divina era celebrada com uma explosão selvagem de euforia. Em Roma,
e provavelmente em outros lugares, a celebração tinha e forma de Entrudo. Era o
Festival da alegria (Hilaria). Uma licença universal prevalecia. Qualquer homem
poderia dizer e fazer o que lhe desse na real gana. As pessoas andavam nas ruas sem
disfarce. Nenhuma dignidade era demasiado alta ou por demais sagrada para que o
cidadão mais humilde não a pudesse assumir com impunidade.
2
Rectificação e restauro cibernético do autor.
Como estas festas (hilarias) tinham a forma carnavalesca das arcaicas
festividades rústicas de fertilidade agrícola em honra de Saturno, de Dionísio e do
atrevido e travesso Pan e como eram de alegria (gay) total e geral (pan-ta em grego)
podemos inferir que elas foram entendidas na Lusitânia como sendo festas de alegria
geral ou seja, *Pan-hilarias e os seus participantes eram *pan-hilarios que com o
tempo evoluíram para «paneleiros» muito antes das modernas e anglo saxónicas festas
de alegria gay que já pouco ou nada têm a ver com a gaia ciência.
Como todos os termos de calão se aguentam numa língua pela profunda e
enraizada tradição popular há que entender como é que foi que o nome da pederastia
passou a ter a par do específico «panasca» e «panaca» o nome comum de fabricante de
panelas que para evitar confusão pode passar a «panilas»!

Figura 6: Cenas sequenciadas, quase em banda desenhada com legendas de prostituição


homossexual, que desacreditam a tese da homossexualidade grega de postura sexual baseada
exclusivamente nas diferenças de idade. (Desenho de vaso grego da obra “Griechische und
etruskische Trinkschalen des Königlichen Museums zu Berlin” de Eduard Gerhard).
Na verdade a conotação da pederastia com «paneleiros» e fabricante de potes e
panelas de barro pode ter aparecido porque a pederastia seria frequente entre os artistas
de olaria e pintura de cerâmica como o comprova a vasta iconografia homossexual de
vasos gregos.
Outro reforço de conotação fonética seria o termo dórico para a pederastia
iniciática, comum entre os espartanos que as regulavam por leis severas e lhe davam o
nome inspirador de eispnelas (= mentor e inspirador).
Eispnelas < esp-henalas > spanilas > «panilas» <= (que faz) «panelinha»
=> «paneleiro» < *Pan-hilario.
De Pan surgiria o «asco» cristão aos «panascas», genérico que assim derivou
do próprio nome das festas dionisíacas (Ôskhophoria = Pan Ôskho > «panasca»)!
«Asco» < Lat. ascra, escara + oso = ascoroso donde asco, por deriv. regres. ou Ár.
hasc. repugnância ou Gr. aíschos, fealdade ? s. m. nojo; • aversão;• rancor;• antipatia.
Aischos, eos, to, shame, disgrace, Hom. Sol.3, etc. 2. in pl., disgraceful deeds. II. ugliness,
deformity, of mind or body, etc. ; ai. peri tên katêxin Hp.Art.14; ai. onomatos Aischros, a,
on, also os, on APl.4.151 : (< aischos):--  in Hom., causing shame, dishonouring,
reproachful, neikessen . . aischrois epeessin etc. Adv. aischrôs, enenispen au = II. opp. kalos:
3

Figura 7: Simpósio etrusco com uma rara cena de erotismo homossexual. De facto, os
estruscos, se não partilhavam por origem comum, copiavam quase todas as práticas culturais da
Magna Grécia. No entanto, em relação à homossexualidade revelavam-se comedidos e mais
patriarcais do que os gregos.
Claro que o significado primordial de aíschos terá estado com Homero e
relacionado com “feitos militares vergonhosos” e não com a metafórica fealdade por
deformidade física de Platão! Obviamente que ambas as situações podem provocar a
mesma reacção de repulsa psicológica e evitamento relacional implícito no actual
conceito português e daí a possibilidade de confusão, que já viria não apenas de Platão
3
1. of outward appearance, ugly, ill-favoured, of Thersites, Hom. Il. 2.216, cf. HH 3.197, Hdt. 1.196 (Comp.),
etc. ; deformed, Hp.Art.14 (Sup.); aischrôs chôlos with an ugly lameness, IBID=au=Hp. Art. 63: but commonly,
2. in moral sense, shameful, base, Hdt. 3.155, Aesch. Seven 685, etc.; aischrois gar aischra pragmat' ekdidasketai
Soph. El. 621; aischron [esti], c. inf., Hom. Il. 2.298, Soph. Aj. 473, etc.; aischron, ei puthoito tis
IBID=au=Soph. Aj. 1159; en aischrôi thesthai ti Eur. Hec. 806 ; ep' aischrois on the ground of base actions, S.
Fr.188, Eur. Hipp. 511:--
to ai. as Subst., dishonour, Soph. Phil. 476; to emon ai. my disgrace, Andoc. 2.9; to kalon kai to ai. virtue and
vice, Aristot. Rh. 1366a24, etc. Adv., shamefully, Soph. El. 989, Plat. Sym. 183d, etc.: Sup. aischista Aesch. PB
959, Soph. OT 367.
3. ill-suited, ai. ho kairos Dem. 18.178; ai. pros ti awkward at it, Xen. Mem. 3.8.7; aischron kai atechnon Hp.
Fract.30. -- Liddell-Scott-Jones Lexicon of Classical Greek.
mas, de todos os escritores da boa vida burguesa mais recente, entre a vergonha por
desonra moral e, por «escara» ou aleijão!
Mas além de aíschos, aliás aischos, o grego tinha também aischros e
aischrotês termos suficientes para deles derivarem «asco, escaras e asqueroso» sem
que fossem necessários os malabarismos das etimologias regressivas propostas pelo
dicionário Universal da Texto Editora.
«Asco» < «acroso» < «ascoroso» < «asqueroso» < Lat. ascra, escara + oso
= ascoroso donde asco, por deriv. regres. ou Ár. hasc. repugnância
ou Gr. aíschos, fealdade ou Gr. aischrotês (>/ *escrotesco >/ «grotesco») =
ascrosice!
(Notar que a incerteza da etimologia deste termo luso só pode resultar de
académicos pouco atentos ao grego porque o termo não deve ter sido trazido pelos
latinos mas pelos gregos porque a intensa vida evolutiva que tem tido na língua lusa só
é compatível com uma longa ancestralidade deste termo).
Figura 8: Da folia olímpica
só para homens à panasquice ia o
“salto duma cobra”!
Of things, evil, pernicious,
freq. in Hom., etc., as daimôn,
thanatos, moira, aisa, kêres, nousos,
helkos, pharmaka, odunai, abusive,
foul, Paul.Al.M.1. -- Liddell-Scott-
Jones Lexicon of Classical Grek.

De resto o grego teve um vasto léxico relacionado com as variantes regionais


próprias duma civilização antiquíssima desde os arcaicos tempos cretenses e micénicos
e que, pela particular geografia, criava nichos culturais por tudo quanto era insular e
península! A este propósito refira-se que os típicos shame, shameful, shamefully da
língua inglesa só podem ter derivado de semântica idêntica.
Figura 9: Orgia de sátiros.

Engl. shame < sc(e)amu < (schêma) < Grec. aschêm-ôn, on, gen. onos,
misshapen, ugly.
Pois bem, parece que a raiz de todos estes termos seria mesmo *aischo- de que
aisch(o)-ros seria era uma forma adjectiva com suprelativo em aischo-teros.
Regul. Comp. and Sup. -oteros, -otatos are late, elsewh. aischiôn, aischistos
(formed from a Root aischo-), double Sup. aischistotatos, Sup. aischistôs Mnasalc. -- Liddell-
Scott-Jones Lexicon of Classical Greek.

It is calculated that the French of the sixteenth century had four hundred names for
the parts genital and three hundred for their use in coition. The Greek vocabulary is not less
copious and some of its pederastic terms, of which Meier gives nearly a hundred, and its
nomenclature of pathologic love are curious and picturesque enough to merit quotation.

To live the life of Abron (the Argive), i.e. that of πάσχων, pathic or passive lover.

The Agathonian song.

Aischrourgía = dishonest love, also called Akolasía, Akrasía, Arrenokoitía, etc.


Ora, se a raiz semântica indubitável destes termos teria sido *aischo-, quase o
português literal «asco», então importa descobrir a etimologia deste.
Semanticamente refere-se acima que Aischros, seria antónimo de kalos. A
tentação de arriscar que estamos diante duma oposição entre o «sol diurno» Kul[(os) <
Kur > *Kar] e o «sol nocturno» do fogo dos infernos Iscur [> Ask(u)ros >] Aischros
é grande mas fiquemo-nos pelo conceito mítico que lhe é subjacente e muito mais
arcaico que é o nome do primevo deus do fogo, da morte e da escuridão medonha dos
infernos que foi Kakos.
Entre os latinos Cacus era ainda um deus reconhecido ainda que relativamente
excrementício! O pedantismo grego tinha-o já transformado num demónio da morte,
da desgraça da má sorte da doença e da fealdade!
Ora bem, é então que conseguimos compreender o termo «panasca».
Acho- < *aischo- < Hahishus
< *Kaku-ishus, lit. filho de Kakus, um diminutivo do Grec. kakos (= feio).
O medo era «asco» porque derivado de ash o fogo dava segurança aos humanos
enquanto metia medo aos animais selvagens! Assim sendo o fogo foi antes de mais um
factor de poder humano sobre os animais e um símbolo obvio de potência sexual pela
mais que natural conotação com os anseios sexuais que de calafrios passam a
«*calaquentes» com o ardor dos amantes apaixonados e nos sexos entumecidos pelo
desejo.

Figura 10: *Panascálias.


Um reforço desta semântica resultaria do facto de evidência objectiva de a
vergonha desonrosa que estava na semântica inicial do *aischo- homérico determinar
o mesmo rubor facial do calor das fogueiras, sobretudo quando sexualizada!
Uma destas vias de desonra sexual, encontramo-la, qual fóssil semântico, no
termo aischrotês que parece ter sido eufemismo felácio e ter a sonoridade que pode ter
levado à adopção do termo luso «broche» por simpatia fonética! Num ambiente de
caserna o «pajem» que fazia broche de conveniência ao seu “senhor da guerra” não
poderia senão ser motivo de chacota, vergonhosa desonra pela atitude de submissa e
subalternidade que o facto patenteava.
Aischrotês, feiúra, deformidade. Conduta imunda; euphem. para fellatio, Sch.
-- Liddell-Scott-Jones Lexicon de grego Clássico.
The word “askos” translates in
Greek to a sack made from an animal hide.
Goat skins were used for holding wine but the
skins of smaller animals were used for
holding oil. It is widely believed that the
askos, which first makes its appearance near
490 BC, served in antiquity as an oil
container, perhaps eclipsing the popularity of
shapes such as aryballoi and alabastra.
Dietrich von Bothmer has suggested that
while the askos may have contained oil, it is
also likely that it contained vinegar and was
used in conjunction with the lekythos,
literally, as oil and vinegar containers on the
Athenian table.
Figura 11: Attic Red-Figure Askos.

Kako-sitia, Ion. -iê, hê, = lack of appetite.


Porém, tal postura só se tornaria verdadeiramente «asquerosa», no sentido
moderno e moralista do termo, que já começava a ser a do grego da época clássica, se
o jovem pajem não conseguisse disfarçar o prazer que a perspectiva de ter que fazer
um felacio lhe provocava nas cores do rosto quando se contavam anedotas de caserna.
Mas, uma das atitudes mais comuns dos jovens iniciados nestas urgências sexuais de
depravados guerreiros separados do lar seria, tal como continua a ser por razões
fisiológicas óbvias, o «vómito»! Assim se compreende que o asco sexual pelo felacio
tenha adquirido muito cedo conotação vomitiva. Pois bem, ainda antes da formação do
termo *aischo-, ou mesmo do descarado eufemismo para o felacio aischrotês, já os
gregos tinham um conceito relacionado com dispepsia que precede o vómito kakos-
itia, coisa feia como caca, com uma estrutura étmica semelhante: kako-(sitia, Ion. -iê)
< Kaki-istia < *Kaku-ishus.
Assim, se asco em sentido técnico moderno significa aversão vomitiva quiçá
não seria assim na origem deste termo, mas sim num universo semântico comum
muito mais arcaico.
Que teriam estes conceitos a ver com os vasos gregos denominados «ascos»?
O facto de serem vasos de azeite que como todas as gorduras é naturalmente
enjoativo e se saber que quando ingerido puro e em quantidade tem efeito vomitivo em
crises dispépticas pode ter sido a causa associativa da fixação da semântica dos
«ascos» que antes de serem galhetas de azeite nas abastadas mesas gregas teriam sido
vasos farmacêuticos de óleos purgativos e vomitivos.
Do termo «pânico» se diz que deriva do medo súbito que provocavam as flautas
dos pastores durante a solidão das noites pagãs. Mas... as flautas são uma gaita... por
mera mania psicanalítica das coincidências significantes. Ora, o medo do desejo de ser
seduzido constitui o núcleo do complexo de perseguição com que se tece a trama da
paranóia que é assunto assente na psiquiatria como sendo de origem homossexual no
homem tal como histérica da mulher ninfomaníaca constitui uma máscara primitiva de
sedução culposa!

Figura 12: Um pastor cheio de medo da fúria eréctil do deus Phalus foge com vergonha do
divino amor de Pan, que assim se transformou em “tentação do diabo”.
De qualquer modo, tanto o fogo do desejo como o medo do seu poder
destruidor podem caber no mesmo conceito primevo ashkio > «asco» e daí ser
«panasca» (um termo do género neutro que apenas funciona com gente do sexo
masculino com forma feminina é ... apenas uma mera coincidência linguística! 4) o que
tem medo de (desejar ser seduzido por) Pan (já que o ser ou não efectivamente
seduzido (e, na pior da hipóteses, possuído) é assunto que está apenas no desígnio
deste deus sexualmente omnipotente!
Pelo menos no caso do termo antes referido aischrotês, se poderia referir que o
aspecto explícito da vergonha sexual já era conhecida dos gregos. Ora, se nos
ativermos a uma equação do tipo:
Pan + aischrotê, os que sentiam vergonha de ter de sacrificar felacios ao
insaciável e caprino deus Pan > Panascrotes > «panascotes» > «panascas»!

4
Panasca = • s. m. erva umbelífera para forragens;• (prov.) terreno alagadiço em que cresce erva;• pastinaga.
seguramente uma oportuna confusão com panisco = • (Lat. panicu, painço), s. m. género de plantas a que
pertencem o painço e o escalracho reforçada por ter sido conhecida também por pastinaga, seguramente um
trava-línguas que faria qualquer popular mais sisudo dizer asneiras!
ChouWang = Chinese god of Sodomy.
Bang-an < *Wen-Tan = Philippine goddess of Love.
ChouWang + an < Chu-*Wen-Tan < Chu-Pan-Tan > Pantanshu > «Pantanas»
=> Pan-tanaz  Santanaz!
Pantanas = • s. f. dissipação; • estrago; • dar em pantanas: arruinar ou
arruinar-se.
Mais correctamente por tudo de «pantanas» é virar tudo do avesso e pôr tudo
“de pernas para o ar”, ou seja, inverter as posições ditas naturais, como parece
acontecer na sodomia! Obviamente que Pan era um deus dum cabrão e teria sido o
mesmo que Egipan.
Seguindo o relato de Heródoto o deus de Mendes — nome grego de Djedet, no
Egito — era representado com rosto e pés de bode. Heródoto conta que todos os bodes
eram reverenciados pelos mendesianos e como na época em que esteve lá, uma mulher
copulou em público com um bode. Mas, na verdade, a divindade venerada em Mendes
era um carneiro Banebdjed ("Ba, senhor de Djed", ou seja, "o senhor de Mendes"), que
representava a alma de Osíris. Dito de outro modo, o deus de Mendes era um carneiro
de cornos alongados e por isso parecido com um Capricórnio.
Mendes era uma variante de Minus e um deus fálico como Pan e pode ter tido o
nome de Egipan por ressonância fonética ou pode ter chegado a algum local da Grécia
como Egipiano. O mito que lhe é atribuído terá sido inventado depois.
Hijo de la ninfa-cabra Aix, Égipan ayudó a Hermes a recobrar los tendones de
Zeus cuando Tifón se los arrancó. Como durante el atque de Tifón intentó escapar del
monstruo transfigurándose pero quedando a mitad de camino entre una cabra y un
pez, Zeus lo catasterizó con éste aspecto en la constelación de Capricornio. El sonido
de su caracola producía el pànico en quien lo oía.
Bode = κα- | τσi / kry < Kyr > phri > pri | -κα.
Τσi < Te-Zi(os), “filho da cabra Amalteia”.
Después de nacer, y perseguido por Crono, Rea confió a Zeus a unas Ninfas o
a las hijas de Meliseo, Adrastea e Ida. En cualquiera de los casos, Zeus se amamantó
gracias a una cabra monstruosa, la cabra-Ninfa Aix, aunque en ocasiones se la
confunda con Amaltea, una Ninfa de los fresnos que pasa por ser una de sus nodrizas.
Un día en el que estaba jugando con ella le arrancó un cuerno que entregó luego a
su nodriza, Amaltea, prometiéndole que de él manaría cuanto quisiera, creando así
el cuerno de la abundancia. Este pasó luego a manos de Aqueloo quien, enfrentado a
Héracles, lo usó como trueque por el suyo propio que había perdido en la lucha
cuando se hallaba metamorfoseado en toro. Cuando estuvo listo para enfrentarse a
Crono, sacrificó a la cabra y utilizó su piel para crear la égida, especie de capa,
manto o peto de cuero que tenía la virtud de infundir el terror a quien la viese.
A arte de aterrorizar os inimigos era usada pelas sacerdotisas das cobras
cretenses da deusa Ka-mar-tea filha de Geia, a terra Ki, e por isso *Ki-ash.
Aix < Aish < Hi-ash < Ki-ash => Vesta.
Fruto da oralidade, a mitologia sofreu as consequências da termodinâmica
informativa mas estribou-se sempre em regras mnésica do tipo da mera associação de
ideias que na mitologia se encontram interligadas de forma menos aleatória do que
como cerejas num açafate. Por outro lado o rigor linguístico na hermenêutica dos
textos antigos serve pouco para ajudar os tradutores porque as palavras encontram-se
mesclada por todo o lado e nunca houve rigor linguístico a não ser desde que
apareceram os mestres escolas e foram fundadas as academias modernas.

HOMOSSEXUALIDADE PEDERÁSTICA CLÁSSICA

Figura 13: A homossexualidade grega como instituto da pederastia assente no


pressuposto da diferença de idades que excluiria a sexualidade explícita entre jovens do mesmo
sexo começa a ser hoje posta de lado como sendo um preconceito erudito iniciado na época
clássica e renovado durante o renascimento europeu mas que poderia ter sido desmentido
facilmente pela iconografia dos vasos gregos que foram reproduzidos e divulgada muito cedo.
Este exemplo escandaloso e “pouco honorável” aparece já no segundo livro da obra
monumental dos começos do século 19, “Collection of Etruscan, Greek and Roman Antiquities
from the Cabinet of the Hon. William Hamilton” de Sir William Hamilton & Pierre d'
Hancarville.
Evidentemente que a diferença de idade terá sido desde sempre uma boa
desculpa para a homossexualidade situacional de substituição, em regime patriarcal de
restrição ao acesso das fêmeas, e uma possível razão do preconceito clássico da
pederastia baseada por um lado na diferença de estatuto social do “eraste”, geralmente
rico ou abastado, e na diferença de idades do “erómeno”, um adolescente que apesar
de estar já no auge da infância ainda manifestava uma sexualidade pouco definida e,
por isso, suficientemente equívoca entre a inocência infantil e a receptividade sexual
feminina, ambas com estatuto de inferioridade económica e social.
A figura seguinte parece demonstrar que os adolescentes mais velhos sempre
tiveram a tendência de imitarem e reproduzirem os comportamentos dos homens mais
velhos fazendo o papel de homenzinhos que os mais novos procuravam imitar
entrando no mesmo jogo que transforma o sedutor em seduzido!
Figura 14: Três jovens “erastes” em busca de “erómeno” ou antes um trio de matulões
laureados sendo levados pela conversa inocente de uma criança “escolada”? 5

Figura 15: Adulto cortejando uma criança adolescente; Figura 16: adulto cortejando
um jovem adulto; Figura 17: Um jovem adulto cortejando uma criança adolescente.

5
(Ciberneticamente manipulado a partir de imagem da obra monumental “Auserlesene Griechische
Vasenbilderde” de Eduard Gerhard, tal como todas as figuras seguintes até ao capítulo PEDERASTIA
INICIÁTICA NO MUNDO ANTIGO).
Figura 18: Neste vaso grego a regra do cortejamento homossexual entre idades
extremas parece ser a regra envolvendo sempre a dádiva de presentes.

Figura 19: Neste vaso grego, a par da regra do cortejamento homossexual entre idades
extremas, assistimos a um cortejamento entre jovens da mesma idade.
Como seria de esperar, os preconceitos que funcionavam como espartilhos
formais das relações éticas baseada no princípio do dever ser (como se desejava que as
coisas parecessem que eram) acabavam por influenciar a maneira como o senso
comum observava os comportamentos correntes.
Assim, era aceitável como “politicamente correcto” que “ao atingir a
maturidade, aos dezoito anos, o “eromeno” cortava os seus cabelos comprido e
deixava a casa de seu “eraste” e muitos passavam a ter o seu próprio “eromenos”.
Que alguns gregos maiores de dezoito anos tivessem por herança ou raro privilégio
aristocrático estatuto patrimonial bastante para manter “eromeno” não se nega. Porém,
admiti-la como frequente seria aceitar que o seu formalismo violava a essência do
preconceito da superioridade moral do “arastes” enquanto mentor educativo do
“erómeno”.

Figura 20: Nesta vaso grego o cortejamento homossexual segue a regra do contrates
das idades e a dadiva de presentes ocorre sempre do mais velho para o mais novo.

Figura 21: Neste vaso grego não é seguro que se trate de uma cortejamento
homossexual explícito mas antes uma troca de galhardetes entre jovens recém-laureados!
Dito de outro modo, a existência de jovens “erates” na época de Platão
comprovam não apenas a corrupção do estatuto arcaico original da pederastia
iniciática, de origem cretense, como, sobretudo, a artificialidade do preconceito da
homossexualidade clássica que tenderia a ser como é e sempre terá sido: independente
de formalismos culturais pré-concebidos.
Estes, mais não eram do que falsas desculpas culturais mitificadas para o mal-
estar ético da persistência generalizada da pederastia de origem matriarcal no
subconsciente duma sociedade que se reconstruía olimpicamente sobre a superioridade
ética do patriarcado, que no mundo semita tinha como corolário explícito o tabu da
homossexualidade entre adultos e a penalização da sodomia como rebaixamento
humilhante do homem ao estatuto inferior de mulher.

PEDERASTIA INICIÁTICA NO MUNDO ANTIGO

Durante los veinte años que duró el mandato del emperador Adriano (117 a 138
dC) se produjo en Roma y sus provincias un nuevo interés por la cultura griega, la cual
había perseguido en sus diferentes estadíos el ideal de la belleza humana. Dicho interés
era fomentado por el propio emperador quien, conocido como un mandatario itinerante
y debido a su cultura personal, en tan poco tiempo se desplazó hacia numerosos puntos
alejados de su Imperio, dedicando especial atención a la edificación de obras
arquitectónicas y la restauración patrimonial de su adorada Atenas. (…) En uno de
aquellos viajes, conoció el emperador a un joven bitino de nombre Antinoo, el cual le
pareció ser la encarnación de la belleza misma. En el marco de lo que en la
Antigüedad clásica se conocía como Pederastía (la relación entre un hombre maduro
y un joven adolescente, en la que el mayor era maestro y guía y el menor discípulo y
compañero, y en la que había también un involucramiento amoroso y sexual), el
joven y Adriano permanecieron juntos durante los siguientes años, hasta la misteriosa
muerte de aquel. (…) Tal parece que Adriano pretendió asimilar a Antinoo al Panteón
Olímpico. Ese hecho dio lugar a diferentes reacciones. En Grecia, debido al origen del
joven, se recibió el nuevo mito con agrado, pues se veía en él un resurgir de la cultura
helénica. Lo mismo pasó en Egipto, pues la obvia vinculación con Osiris hacía que
aquella región tan distinta se sintiera partícipe y protagonista. Adriano envió imágenes
a los confines del Imperio, desde Britannia hasta Asia Menor. Sin embargo fue en
Roma, centro del poder y la religión, en donde Antinoo generó desagrado y malestar.
El hecho de que se considerara dios a un simple plebeyo de las provincias, cuando solo
el emperador y su esposa eran quienes recibían tal honor, hizo que se sintiera el
forzado mito como una injusticia. Por otra parte, los intrigantes que esperaban
ansiosos las consecuencias del hiperbólico accionar de un emperador que no podía
separar lo público de lo privado y que lloraba a su amante delante de sus súbditos, no
entendían que, auténtico o no, el mito servía a Adriano para unificar un Imperio
demasiado grande y heterogéneo. Esa fue, sin embargo, una de las acusaciones que se
hizo a posteriori, al propio emperador: utilizar al joven muerto como una excusa para
acrecentar su poder. Por Mercedes Giuffré. Octubre de 2001.
O termo pederastia (do grego antigo παιδεραστία, de paidika; ἐρώμενος =
“amado” e ἐραστής = "amante"), era vista, dependendo das situações, ora como uma
questão de fascínio estético, ora inserida na educação dos adolescentes do sexo
masculino, rapazes de boas famílias e de boa posição social, por parte dos pedagogos.
Geralmente estes pedagogos - varões maduros - tinham o papel de mestres, ensinando-
lhes algum ofício, e era muitas vezes motivo de orgulho para uma família que seu filho
homem pudesse conseguir um mestre de prestígio, e desta forma ascender socialmente.
Obviamente que em sociedades sem os preconceitos sexuais vitorianos
modernos a própria forma do relacionamento variava entre a mera simpatia, o
estritamente erótico e a sexualidade consumada, como contrapartida mais ou menos
tácita da mesma.
No Banquete de Platão verificamos que, mesmo quando a sexualidade entre
mestre e aluno aparecia como quase inevitável ela poderia nem sequer acontecer mais
para desgosto do aluno do que do mestre! Em bom rigor na relação sexualmente
falhada entre Sócrates e Alcibíades ficamos sem saber se foi o descaramento atiradiço
de Alcibíades que inverteu os papeis tradicionais ἐραστής / ἐρώμενος irritando ou
inibindo o mestre se foi este que aproveitou os excessos de ardor do aluno para lhe dar
uma lição de moderação e sabedoria de vida e de respeito pelos bons costumes e pelos
direitos dos idosos em particular. Em qualquer dos caso estamos já perante uma
pederastia atípica e decadente em que a contrapartida sexual aparece como objectivo
demasiado explícito e primário já nem sequer apenas para o mestre quanto sobretudo
para o aluno! Em qualquer dos casos Alcibíades comporta-se como um jovem
moderno “mordido pela cobra”, rico e mimado, lançado no jogo do furto descarado de
fruta madura.
Depois disso convidei-o a fazer ginástica comigo e entreguei-me aos
exercícios, como se houvesse então de conseguir algo. Exercitou-se ele comigo e
comigo lutou muitas vezes sem que ninguém nos presenciasse; e que devo dizer?
Nada me adiantava. Como por nenhum desses caminhos eu obtivesse resultados,
decidi que devia atacar-me ao homem à força e não o largar, uma vez que eu estava
com a obra em mãos, para logo saber de que é que se tratava. Convido-o então a
jantar comigo, exactamente como um amante armando cilada ao bem-amado. E
também nem nisso ele me atendeu logo, mas na verdade com o tempo deixou-se
convencer. Porém quando veio da primeira vez, depois do jantar queria partir. Eu
então, envergonhado, larguei-o; mas repeti a cilada, e depois que ele estava a jantar
eu pus-me a conversar com ele pela noite dentro, ininterruptamente, e quando ele
quis partir, observando-lhe que era tarde, obriguei-o a ficar. Ele descansava então no
leito ao lado do meu, no mesmo em que jantara, e ninguém mais no compartimento ia
dormir senão nós. Bem, até esse ponto do meu discurso ficaria bem fazê-lo a quem
quer que seja; mas o que se segue a partir daqui, vós não mo teríeis ouvido dizer se
em primeiro lugar, como diz o ditado, a verdade não estivesse antes de mais no vinho,
sem as crianças ou com elas; depois, porque obscurecer um acto excepcionalmente
brilhante de Sócrates, quando se saiu a elogiá-lo, me parece injusto. E ainda mais,
porque o estado do que foi mordido pela víbora é também o meu. (...)
Como com efeito, senhores, como a lâmpada se apagara e os servos estavam
fora, decidi que não devia fazer nenhum floreado com ele, mas francamente dizer-lhe
o que eu pensava; e assim o interpelei, depois de o sacudir:
- Sócrates! Estás a dormir?
- Absolutamente - respondeu-me.
- Sabes então qual é a minha decisão?
- Qual é exactamente? - Retornou-me.
- Tu pareces-me ser - disse-lhe eu - um amante digno de mim, o único, e
mostras-te hesitante em declarar-te a mim. Eu porém é assim que me sinto: eu acho-
me inteiramente estúpido por não te aquiescer não só nisso como também em algum
caso em que precisasses ou de minha fortuna ou dos meus amigos. A mim, com efeito,
nada me é mais digno de respeito do que o eu tornar-me o melhor possível, e para
isso creio que nenhum auxiliar me é mais importante do que tu. Assim é que eu, a um
homem como tu muito mais me envergonharia recusar os meus favores diante da
gente ajuizada do que se os concedesse diante da multidão irreflectida.
E este homem, depois de me ouvir, com a perfeita ironia que é bem sua e do
seu hábito, retorqui-me: - Caro Alcibíades, é bem provável que realmente não sejas
um vulgar, se chega a ser verdade a que dizes a meu respeito, e se há em mim algum
poder pelo qual tu te poderias tornar melhor; sim, uma irresistível beleza verias em
mim, e totalmente diferente da formosura que há em ti. Se então, ao contemplá-la,
tentas compartilhá-la comigo e trocar beleza por beleza, não é em pouco que pensas
levar-me vantagem, mas ao contrário, em lugar da aparência é a realidade do que é
belo que tentas adquirir, e realmente é “ouro por cobre” que pensas trocar. No
entanto, ditoso amigo, examina melhor; não te passe despercebido que nada sou. Em
verdade, a visão do pensamento começa a enxergar com agudeza quando a dos olhos
tende a perder a sua força; tu porém estás ainda longe disso. E eu, depois de ouvi-lo:
- Ora ai está, quanto ao que é de minha parte nada do que está dito é diferente
do que penso; tu porém decide de acordo com o que julgares ser o melhor para ti e
para mim.
- Bem, tomou ele, nisso sim, tens razão; daqui por diante, com efeito,
decidiremos fazer, a respeito disso como do mais, o que a ambos nos parecer melhor.
Eu, então, depois do que vi e disse, e que como deixei escapar alguma flechas,
imaginei-o ferido; e assim que eu me ergui sem ter-lhe permitido dizer-me nada mais,
despi-me e vesti esta minha túnica – apesar de ser inverno - estendi-me por sob a
manta deste homem, e abraçado com estas duas mãos a este ser verdadeiramente
divino e admirável fiquei deitado a noite toda. E não me vais dizer, ó Sócrates, que
também nisto estou a exagerar. Ora, não obstante tais esforços meus, quanto mais
neste homem cresceu o desprezo pela minha juventude, ludibriando-a, insultando-a
justamente naquilo que eu pensava ser alguma coisa, senhores juízes; sois com efeito
juízes da sobranceria de Sócrates - pois ficai sabendo, pelos deuses e pelas deusas,
quando me levantei com Sócrates, foi após um sono em nada mais extraordinário do
que se eu tivesse dormido com o meu pai ou meu irmão mais velho! -- Banquete de
Platão.
A estoicidade de Sócrates poderá ter sido real mas obviamente que foi aqui
retratada por Platão como um exemplo de exagerada grandeza moral mas no contexto
de que, outro qualquer mortal, que não Sócrates, se não se tivera antecipado a
Alcibíades pelo menos dificilmente lhe teria resistido tanto tempo!
Mas, por esta altura, Atenas estava a passos largos de distância do mundo
antigo oriental e já a caminho da modernidade ocidental futura. Na verdade este relato
é quase “um conto da cidade dos Anjos”.
Este episódio de pederastia académica atípica é pouco representativo da
pederastia iniciática que continuaria a acontecer em todo o oriente antigo até aos
tempos actuais mas já perto do que começava a acontecer a ocidente com o estoicismo
e acabou por acontecer quando o cristianismo conseguiu esconder a pederastia nos
mosteiros e conventos, não tanto para evitar escandalizar as criancinhas mas sobretudo
para evitar o escândalo público entre adultos carenciados de brincadeiras de crianças.
Entretanto deram-se aos recentes escândalos em alguns seminários e casas paroquiais e
foi o suficiente para a pederastia saltar para a primeira página dos jornais e passar de
pecado nefando a crime hediondo! O lixo sexual que até ai andava escondido debaixo
dos tapetes das nunciaturas apostólicas passou a ser remexido por todos lado e para
espanto geral descobriu-se que a pedofilia pedagógica já não existia e, pelo contrário e
para vergonha geral, a pedofilia ocorre maioritariamente no meio familiar e não nas
igrejas e instituições. Donde se conclui facilmente que a pedofilia, tal como o incesto,
antes de se tornar uma indecência terá sido um pecado original da espécie humana e
corrente entre alguns primatas mais viciosos.
Assim, também se pode inferir que a pederastia / pedofilia pedagógica era a
versão civilizada da pederastia / pedofilia iniciática antiga que já era, por sua vez uma
evolução dos ritos arcaicos de passagem!
Nos “rituais de passagem” orientais a sexualidade iniciática nem sequer entraria
como contrapartida tácita duma relação mestre aluno nem mesmo como mero acidente
inevitável de percurso por via duma espécie de relação de transferência psicanalítica
passada ao acto. Os ritos de passagens seriam, como toda a ritualidade antiga, um
mecanismo sagrado que tinha por função precisamente a de evitar que a
inevitabilidade da transferência provocasse estragos afectivos nos neófitos e mal-estar
social.

DIONÍSIO O DEUS DA PEDOFILIA INICIÁTICA

Figura 22: Cortejo báquico aberto por uma criança!


Sendo assim, na época antiga os mistérios já pouco mais eram do que uma
espécie de exorcismo caricato, pálida imagem dos segredos místicos arcaicos com os
quais se consumava a iniciação dos adolescentes violentando a sua inocência com um
corte simbólico de carga sexual condenando-os assim ao rigor da vida adultícia, na
caça e na guerra! Suspeita-se ainda que em épocas mais recuadas alguns dos “rituais
de passagem” fossem carregadamente sexuais precisamente como forma rudimentar de
educação sexual que permitia aos adolescentes acabados de sair das saias protectoras
do matriarcado já extinto iniciarem-se nas responsabilidades da vida reprodutiva como
condição de sustentabilidade do poder baseado na família patriarcal!
Nos mistérios dionisíacos da época clássica já tudo seria meramente simbólico e
dito possivelmente duma forma (que poderá ter sido bem muito mais vernácula em
tempos idos!):
*Em nome dos deuses da fertilidade se imola a inocência mordendo-a com a
cobra sagrada*!
*Comei e bebei do corpo místico de Baco que será doravante a vossa
salvação*!
Ou então, alguma fórmula de sabedoria ao gosto do senso comum, do género:
*faz-te à vida meu filho pensando na eterna porque nesta...meio mundo
sobrevive a comer o outro meio *!
E é então que os mitos da inocência perdida fazem algum sentido na vida de
Dionísio, o deus da loucura divina por desgostos de amor!
Dionísio não foi seguramente o único deus dos ritos de Passagem mas foi
seguramente um dos mais comuns em todas as culturas na forma genérica de “deus
menino”. A sociedade egeia conhecia bem a homossexualidade cretense usada
espontânea e naturalmente como forma de controlo demográfico e que a sociedade
patriarcal passou a usar como alternativa sexual ao acesso limitado à mulher reservada
aos negócios de casamento. Naturalmente que se a homossexualidade continuou a
existir teria que ser regulada simbolicamente pela mitologia e coube a Dionísio o papel
de patrono dos ἐρώμενος, as crianças e jovens “amados” e sujeitas à pedofilia
iniciática. Os gregos clássicos já começavam a entender o quando de vergonhoso se
envolvia nestas práticas e expressavam isso mesmo nos seus mitos onde se recusavam
a falar abertamente do assunto que reservavam para o segredo dos mistérios.
"O Lago Alcião[perto Nemea, Argos], através do qual os argivos dizem que
Dionísio desceu aos infernos para trazer Semele, acrescentando que a descida aqui
lhe foi mostrado por Polimno...Os ritos nocturnos realizados a cada ano em honra de
Dionísio não devem divulgam para o mundo em geral." -- Pausanias, Descrição da
Grécia 2 37
Mas quando falam não contam a verdade toda senão por insinuações e por
símbolos.
"Quando Liber [Dionísio] recebeu a permissão de [Zeus] seu pai para trazer
de volta do Mundo Inferior a sua mãe Semele e, na busca de um lugar de descida,
tinha vindo para a terra do argivos, conheceu um certo Hiplipno, um homem digno da
sua geração, que iria mostrar a entrada em resposta à solicitação de Liber. No
entanto, quando Hiplipno o viu, com a idade de um simples menino mas superando
todos os outros em notável beleza de formas, perguntou-lhe se o poderia recompensar
sem perdas. Liber, no entanto, ansioso por sua mãe, jurou que, se ele a trouxe de
volta, lhe iria fazer o que quisesse, em termos, no entanto, que um deus poderia jurar
a um homem sem vergonha. Imediatamente, Hiplipno mostrou-lhe a entrada. Então,
quando Liber veio a esse lugar e estava prestes a descer, ele deixou a coroa, que
tinha recebido como um presente de Vênus [Afrodite], naquele lugar que, em
consequência é chamado Stephanos (corôa)". -- Pseudo-Higino, Astronomica 2 5
(trad. Grant).
É interessante notar que a coroa de Santo Estêvão ficou sendo um símbolo dos
ritos de passagem não se sabendo bem a que propósito, se bem que seja um facto que,
as coroas de parras, de eras e seguramente de louros, acabaram por ser comuns nos
jogos olímpicos e nos concursos de todo o tipo relacionados com festividades gregas
onde os ritos de passagem estavam sempre implícitos. Assim, não seria inteiramente
ao acaso que em Creta os erómenos eram chamados kleinos ("glorioso")...seguramente
porque acabariam por triunfar nos concursos dos ritos de passagem.

Ver: MISTÉRIOS ANTIGOS DO VINHO DE DIONÍSIO (***) &


LAMEGO (***)

Os cristãos, que já pouco ou nada teriam a respeitar nestes ritos e a tudo se


achariam no direito de dizer para retirar dignidade aos deuses clássicos, acabariam por
levantar o véu da verdade. De facto não precisamos de suspeitar que os cristãos
estariam a inventar vergonhas para conspurcar os deuses antigos porque a realidade
costuma superar a ficção e seria possivelmente ainda mais vergonhoso do que o pudor
cristão o poderia descrever.
"São consagrados Falos a Dionísio...Esta é a origem destes falos:
Dionisio estava ansioso por descer aos infernos, mas não sabia o caminho.
Então um certo homem de nome Prosimno prometeu contar-lhe...mas não sem alguma
recompensa...paga de favor que não era muito decente, embora para Dionísio fosse
decente o suficiente. Era um favor de luxúria, esta recompensa a que Dionísio foi
convidado e a que o deus se dispôs a conceder o pedido, de tal modo que, no caso do
seu retorno, a isso se comprometeu a cumprir o desejo de Prosimno, confirmando a
promessa com um juramento.
Tendo aprendido o caminho, ele partiu e (muito mais tarde) voltou. Mas ele
não encontrou Prosimno porque entretanto morrera. No cumprimento do voto para
com o seu amante Dionisio apressa-se para o túmulo e se entrega à sua luxúria
antinatural. Cortando um ramo de uma figueira que estava à mão, ele o moldou à
semelhança de um falo, e, em seguida, fez uma teatralização do cumprimento da sua
promessa para com o homem morto. Como memoriais místicos desta paixão
configurados são feitos falo a Dionísio nas cidades. "Pois, se não fosse a Dionísio que
estivessem realizando a procissão solene e cantando o hino fálico, eles estariam
agindo ainda mais vergonhosamente", diz Heráclito. " -- Clemente de Alexandria,
Exortação aos gregos 2 30 (trad. Butterworth) (retórica Gregas Cristãs c2nd AD).
[NB A seguinte passagem é de crítica de um escritor cristão dos deuses pagãos.]
Na verdade é bem possível que o jovem Dionísio na sua procura dolorosa da
mãe bruscamente perdida em dramáticas condições simbólicas, como que de
combustão ante parto, se tenha afeiçoado a um tal Prosimno que por ter nome cretense
seria adestrado na arte da sedução pedófila...e poderia ser apenas uma variante adulta
do culto do deus menino cretense ou seja uma antigo erómeno!
Prosimno < Phrosh-Mino < Kurish-Mino => Minotauro.
> Horismino > «Erómeno»!
"Hermes levou [o recém-nascido Dionísio] para Ino e Atamas, e persuadiu-os
a cria-lo como uma menina." Pseudo-Apolodoro, Bibliotheca 3 28.6
E um Dionísio depressivo, precocemente órfão e criado como rapariga até pode
ter conquistado em Prosimno uma mãe de substituição...onde o falo materno
inexistente acaba por se encontrar num pénis real que assim se transforma num amante
sincero que desgraçadamente o deus da tragédia humana acabaria também por perder
fosse pelos azares da vida fosse pela lei natural da pederastia. Súbita e renovadamente
abandonado ao desespero depressivo é bem possível que Dionísio tenha encontrado no
falo de figueira um objecto afectivo de substituição que agora sim adquire as
características de um fetiche que a mitologia acaba por sacralizar.
Dionísio continuará um deus andrógino e efeminado porque as leis da
sexualidade condicionada, agora sobretudo pelo patriarcado, o irão exigir na medida
em que nem todos os jovens se irão sair bem dos ritos de passagem.
Seneca, Hercules Furens 472 ff (trans. Miller) (Roman tragedy C1st A.D.):
"But dainty Bacchus [Dionysos] does not blush to sprinkle with perfume his flowing
locks, nor in his soft hand to brandish the slender thrysus, when with mincing gait he
trails his robe gay with barbaric gold."
Suidas s.v. Androgynos (trans. Suda On Line) (Byzantine Greek lexicon C10th
A.D.): "Androgynos (androgynous): [A word applied to] Dionysos, as one doing both
active, male things and passive, female ones [in sexual intercourse]. Alternatively
‘effeminate’ (anandros), and hermaphroditic (hermaphroditos) [also men who have
lost their virility including eunuchs]. Also [in the genitive plural, meaning those who
are] weak and have the hearts of women."
Suidas s.v. Appapai (quoting Aristophanes, Frogs 57): "Appapai (Oh god!):
An expression of affirmation. For when Herakles asks [Dionysos] ‘Were you loved
[physically] by a man?’, this is his response."
Claro que a pederastia é maioritariamente familiar e sempre o terá sido!
Oh, pai! E assim Dionísio confirma para Hércules que já tinha sido desejado e
molestado por homens desabafando como que num lapso psicanalítico que teria sido o
próprio pai o primeiro a faze-lo ao concebe-lo pala barriga da perna numa implícita
referência ao coito intercrural ou femoral.
Obviamente que, na época clássica, o arcaico direito de rapto referido por
Bernard Sergent, no seus livro Homosexualité et initiation chez les peuples indo-
européens, já tinha desaparecido há muito assim como o sacrifício de crianças que
apenas os fenícios e (quiçá, os judeus da Samaria) praticavam.
A pederastia iniciática acabava nos ritos de passagem em que o adolescente
punha a sua vida terrena à prova em rituais simbólicos de morte e ressurreição solar
para ganhar o direito à vida eterna na glória do heroísmo.
Mercedes Giuffré. Octubre de 2001: El fin de la pederastía: El mencionado
episodio de la caza del león habría acontecido poco tiempo antes de la conflictiva
muerte, en Egipto. Durante su transcurso, Antinoo habría demostrado a los presentes
que se había convertido en un hombre, adelantándose y acometiendo valerosa y
virilmente a la fiera y dejando a Adriano el estacazo final. Este hecho marcaría la

6
Pseudo-Apollodorus, Bibliotheca 3. 28 (trans. Aldrich) (Greek mythographer C2nd A.D.): "Hermes
took him [the newborn infant Dionysos] to Ino and Athamas, and persuaded them to bring him up as a girl."
superación del joven y el fin de la pederastia, que habría precipitado luego los
conocidos acontecimientos. "Cediendo, como siempre, le prometí [a Antínoo] el papel
principal en la caza del león. No podía seguir tratándolo como a un niño, y estaba
orgulloso de su fuerza juvenil". (Yourcenar, Marguerite. pág 154.)
A este propósito, e não apenas de passagem, importa aqui referir a duplicidade
hipócrita que a literatura beata, iniciada pelos padres da Igreja, vieram introduzir no
contexto da moralidade ascética ocidental iniciada pelo estoicismo militarista romano
em contracorrente com as mais antigas tradições orientais.
Éste Antinoo, aunque saben que es un hombre, y un hombre en modo alguno
honorable sino libertino a más no poder, recibe honores por miedo hacia quien dio
semejante orden. Pues cuando Adriano estuvo en la tierra de los egipcios murió
Antinoo, el esclavo de su placer, y entonces ordenó que se le rindiera culto, ya que aún
después de su muerte estaba enamorado del joven"; San Atanasio Contra los paganos,
Madrid, Ciudad Nueva, 1992, pág. 53.
De qualquer modo, a pederastia pedagógica era bem mais generalizada e
institucionalizada do que se desejaria acreditar sobretudo depois de posições como as
de Santo Atanásio a respeito do pupilo do imperador Adriano. Quer Santo Atanásio
quisesse ou ignorasse a pederastia era uma instituição educativa oriental antiquíssima e
mais respeitada a oriente do que a ocidente.
Obviamente que nesta postura puritana há tanto de beatice acética, herdada do
estoicismo latino e do puritanismo farisaico, quanto de apologética hipócrita baseada
no superioridade moral do cristianismo como principal argumento contra indignidade
dos deuses romanos e a decadência da cultura imperial dominante. É certo que todas as
fontes hoje disponíveis nos revelam que os essénios e Jesus também praticavam os
cultos de mistérios orientais com as necessárias adaptações à tradição judaica mais
popular, ainda presente na Samaria, mas rejeitada pela classe sacerdotal, imposta pelos
persas e pelos pragmáticos fariseus e “outros doutores da lei” mosaica recentemente
inventada como rígida pelos padrões acéticos do maniqueísmo para bom grado de
quem ganha a vida das condenações e dos impostos a aplicar aos que sucumbem
debaixo dos pesados fardos lei.
Seja como for, o cristianismo do sec. IV fez tudo o que pode para enterrar nas
cinzas, a que Tito e seus seguidores votaram Jerusalém e a Palestina, o verdadeiro
cristianismo de Jesus ao ponto de condenarem uma das seitas mais próximas da
família de Jesus, a dos Ebionitas, por seguirem um Evangelho Segundo S. Mateus
numa versão hebraica que espantava muitos padres de Igreja por parecer, em muitos
aspectos mais original do que a que oficial.
Santo Atanásio de
Alexandria (295-373), (...) foi um
dos defensores do ascetismo
cristão, tendo inaugurado o género
literário da hagiografia, com a Vida
de Santo Antão do Deserto, escrita
primeiramente em grego e logo
traduzida para latim, tendo-se
difundido com grande rapidez pelo
Ocidente do Império Romano.Este
género baseava-se nas Vitæ de
autores romanos pagãos (v. g., as
Vidas dos Doze Césares, de
Suetónio); porém, o que Atanásio
procura fazer é tornar as Vitæ um
modelo a ser seguido por todo o
rebanho cristão, e é nesse sentido
que é visto como criador do género;
o que relata não tem que ser
necessariamente verdadeiro, antes
Figura 23: Santo Atanásio de deve infundir no crente cristão a
Alexandria (295-373) vontade de cultivar esse mesmo
modelo de vida.
Mas Santo Atanásio não fez mais do que todos os que antes e depois dele fazem
para viverem como querem impondo leis e restrições como muito bem ou mal
entendem para que o mundo à sua volta seja feito à imagem e semelhança dos seus
medos e conveniências com a aparência de mandamentos de Deus e nem sequer, ou
muito menos, para bem e libertação da humanidade!
Na verdade a pederastia sobreviveu e floresceu nos mosteiros e seminários
cristãos até aos nossos dias. Apenas a maioridade dos “direitos do homem” permitiram
às sociedades modernas comprarem o direito ao alegre orgulho da liberdade entre
adultos com a cedência do respeito pelo direito das crianças e dos jovens a serem
sexualmente iniciados por pedagogos escolhidos por si, já que passou a supor-se que a
modernidade os tornou retardados e incapazes de escolhas adequadas nesta matéria.
Hoje, a ignorância em moda, o que resta de puritanismo possidónio e a hidra de sete
cabeças chamada hipocrisia levaram os alegres panascas a não quererem confundir-se
com os envergonhados pederastas de esquina de rua com os quais nem no sétimo
patamar do Inferno de Dante, que é o dos impuros de todos os tipos, se querem ver
misturados.
A pedofilia pedagógica já não existe no século XXI porque é um crime penal
grave desde o final do século XX! Como sempre, a ilegalidade e a repressão estão a
transformar a pederastia e a pedofilia moderna num negócio sórdido de horrores e
perversões!
Vilipendiado pelo opróbrio e votado ao ostracismo qualquer “molestador de
crianças” é hoje mal intencionado e perseguido em conjunto com os pedófilos
violentos, criminosos ou psicopatas.
Ter medo de que alguém possa comer criancinhas ao pequeno-almoço é uma
piada de mau gosto tão corrente como acusar os políticos indesejáveis de quererem
resolver o problema de envelhecimento populacional dando injecções a velhinhos atrás
da orelha! A condenação geral da moderna pedofilia, traumaticamente posta a nu pela
moderna moralidade consumista do mundo pós-moderno ocidental constitui, na sua
virulência persecutória, uma espécie de tributo à moralidade anti-sexual antiga, paga
pelo liberalismo vigente que alcançou o triunfo do direito à reserva da vida privada,
para livre usufruto do prazer sexual, virtualmente aberto a qualquer tipo de
promiscuidade sem limites entre adultos livremente consentidos, com a reserva da
exclusão dos crianças bem como, no limite, de todos os adultos em situação física ou
material de não poderem exercer livremente o seu direito de livre consentimento
sexual. Dito de outro modo a pedofilia moderna é, pelo menos na lógica dos
defensores da liberdade sexual absoluta, a aceitação de que as crianças não podem
aceder ao livre mercados sexual como adultos antes de atingirem a capacidade
negocial duma escolha livre e consciente, ou seja, antes de atingirem a maturidade do
desenvolvimento da sua identidade sexual.
Mas, afinal, como já se entendeu ainda é cedo para saber se estamos em
presença duma vitória moral da humanidade, semelhante há que acabou com os
sacrifícios humanos, particularmente de crianças, ou se constitui o preço corrente
duma sociedade em transição para a liberdade sexual que por um lado ainda teme que
os adultos contaminem a suposta inocência das crianças ou se é o que resta de má
consciência judaico-cristã duma arcaica concepção da homossexualidade como forma
intrínseca de libertinagem que pode macular a virgindade angelical que se considera
natural nas crianças mas que é sobretudo o que resta da memória cultural do pecado
original! Saudosos da sua própria inocência perdida os pais sentem pelos filhos a
ansiedade antecipado de os verem crescer para a sexualidade enquanto começo duma
vida livre e fora de casa! Depois, é a realidade dura e crua de todos os tempos de ter
que criar os filhos para a vida; virgens que outros irão desflorar, filhos criados com
muito amor e carinho mas que outros poderão ou não amar para que o ciclo da vida
continue! Mas a vida em sociedade civilizada nunca é exclusiva e necessariamente
reprodutiva e muito menos nos tempos modernos.
O direito ao prazer sexual separado da reprodutividade social parece ser uma
conquista da modernidade mas, para muitos, ainda há muito de libertinagem no uso
deste legítimo direito que tanto custou às gerações passadas!
Assim, a utopia do direito ao prazer que, quando abusivo, muitos pensam ser
um mero direito ao inferno da loucura em contraposto aos sete pecados mortais do
catolicismo, é realmente e pelo contrário, quando usado com temperança a única forma
de evitar a neurose!
Há que assumir de uma vez por todas que os paradoxos teológicos que tantas
heresias e guerras santas provocaram ou são meros pretextos para jogos de poder ou
meros artifícios para fugir à responsabilidade do amor à verdade no rigor da vida.
Os antigos preparavam os neofítos para a adultícia com rituais de passagem que
o cristianismo sacramentou com o crisma. As sociedades modernas limitam-se a
revisões no código penal e a promessas relativas a uma futura educação sexual
obrigatória nas escolas e geram arremedos de ritos de passagem em praxes académicas
descontroladas e sem qualquer ligação a uma tradição institucional séria.
No entanto, mais decisivo do que tudo isto é o facto de a pedofilia iniciática dos
antigos se enxertar em rituais de passagem pascal, herdeiros de arcaicos, tão
misteriosos quão místicos, ritos de transição da puberdade para vida adulta. Ora, como
a puberdade antiga era mais precoce, por necessidade social resultante duma menor
longevidade geral ou porque havia menos saber social a aprender, a verdade é que o
que pode escandalizar os menos atentos é o facto de estas iniciações em épocas antigas
se terem dado em idades que actualmente fazem ainda parte da nossa retardada
puerícia social!

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