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o mundo.

Sobre a data da sua chegada a Matorsine não existem


registos nem ceTtezas. Tornou-se, isso sim, costume ve­
lo ai na vizinhança da mercearta do Manuel que, ninguém
sabe como, emergira ãü n o meio daquelas casas de caniço e
de madeira e zinco. Vive numa arrecadação, que aluga nas
traseiras da casa da dana Zefa, perita na confecção de uputso
e proprietária de uma banca da peixe no bazar do Diaman­
tino. EJeacordo com d testemun ho de un s, que juram tarem
O Do mad or de Burros
presenciado o facto, desembarcou do comboio de Marracu-
A população do bairro de Matorsine está em armas. ]à não ene n aquela hora das nove da manhã, na companb ia de dois
é como noutros tempos, em que todos se demoravam e jum entos, que viajaram clandestinos abordo do vagão de
saudar-se, a recontar novidades. Mão! Vizinhos e amigDS dei­ carga, com a cumplicidade do fiscal, ao qual Toto untou as
xaram de se falar; brandem agora uns contra os outros pala­ mãos e fechou os olhos com um cabrito.
vras da ira, ameaças da morte. Os asnos, como é de se ver, vivem ao relento, num des­

O centro da discórdia reside na pessoa de Jaime Toto, um campado sombreado de mafurreiras, junta ao Èontanário
forasteiro que paraali se plantou, vindo dos matos de Marra- público da zona Para ai ele traz-lhES ramagens e folhas de
cnene para dividir o povo com truques e artimanhas. plantas que coiectados m ortes das proximidades.

Toto é um pErsonagem pitoresco. Até ã data de emigrar Homem de iniciativa, empreendedor e observador, Toto

para a, cidade vivera lá nas baixai do rio Incomáti, dividida: não se demorou a descobrir que existiam importantes lacu­

as suas actividades entre o trabalho eventual nas plantações nas na rede comercial do bairro. Se da cantina do branco a

dos chineses ou por conta-própria. Já desde a adolescência população obtinha o pão e o vinho, havia carência de esta­

revelara virtudes que espantavam até os mais velhos. Ere belecimentos que fornecessem carne fresca e barata A que

pessoa de escutar e compreender a linguagem dos animais. se consom e é a dos talhos da cidade, cara e, na maioria dos

Aos balidos dos cabritos respondia com igual sinal e as bes­ casos, congelada e sem paladar.

tas vinham, mansas, ajoelhir-se a seu5 pés; aos cantes dos Estabeleceu com as autoridades dn matadouro municipal
pássaros, assobiava uma contrassenhae era só ver os biches um contrato que o habilita a fornecer-se de miudezas das
virem ãs dúzias empoleirar-se nos ramos das árvores das cabeças ali abatidas. Com o apoio de um ajudante delimi­
proximidades; ãs galinhas da casa não necessitava de afu­ tou zonas de ãbasteeimento em produtos frescos. Assim,
gentar com pedi'adas, cacarejavaameaças e elas afastavam-se, simultaneamente gerente e trabalhsdor da sua própria em ­
obedientes, para ir bicar longe. Comas cães executa números presa, cobre todo d Matorsine, o Vulcana e o Chamancuio.
e acrobacias circenses que põem risos nas bocas das pessoas Muzinga, o ajudante, tem com o zonas de influência a Min-
e deleitam as crianças. Eum mago dotado de esquisitos pode­ kokweni, o Sílex e parte do bairro do Cemitério.
res com que submete eavassala as bestas. NaquelahoradeóciDdastrêsdatarde.em queascom aáres
Não criou raizes Eá na aldeia A conselho dos mais velhos se Espneguiçam á sombra das árvores ou nas varandas das
desceu ã cidade para aí investir seus dotes, cs quais, bem casas, e soltam as línguas em conversas sem maldade, é habi­
aplicados, fariam dele u m homem de fama e fortuna. E bem tual ouvir-se o sinal de aproximação de Toto.
podia - porque não? - ser contratado por esses circos sui- — FiiiuuuL Fiiiàáál. Fiiiuuu! — é o assobio, estridente, que
afTÍcanos que demandam a capital e dai viajar para conhEcer se eleva sobrE es cercas de caniço. — Fiiiuuu! FiiiâãâJ...
— Eu homem das tripas — palavra passa palavra As donas exploração das virtudes com que os deuses o prendaram é,

-de casa dEÚtam as Esteiras e os afazeres para, de pratos e tige­ afinal de contas, a razão principal da sua vinda para a cidade.

las nas mãos, cercarem o talheis o ambatante. Para isso trouxera de Marracuerte os animais, que até pouca
ou nenhuma valia— dizia— faziam ao antigo dono. Estavam
— Hão precisam de se empurrar. O fornecim ento chega
por lá a engordar sem fazer coisa que se visse. Então, e como
para todas — anuncia, diligente, com os olhos a luzirem de
provarbialmente sentenciava o avó, as coisas pertencem a
alegria. O negócio é promissor. Ao lado do burro, servE a
quem as utiliza, vad daí, naquela noite sem lua, soltou os nós
clientela com presteza e astúcia. Uma mão faz de balança, a
às cordas que aprisionavam cs biches. E em meu cs tempo do
outra retalha um pedaço.
que ievaa nascer o dia, embarcou-os no comboio das seis e,
— São dois escudos — comunica à cliente acabada de ser­
ala, LourEnço Marques! Para trás ficou o alarido sobre o de­
vir. Os caixotes transbordam de miudezas e vísceras: desde
saparecimento dos burros. Aqui estão SEguros, bem tratados
as bexigas — regalo da miudagem e matéria-prima com quE
e a render o que devem. Também ande já se viu um burro
se improvisam botas de futebol — aos intestinos, à dobrada
dorminhoco, a empanturrar- se à tu sta da dono, setn lhe dar
para assar nas brasas, bem ao gosto das mulheres.: sem Es­
proveito nenhum? O que ficou a ca mentar-se lá na terra
quecer os testículos de boi cozidos com água, aperitivo ex­
tanto se lhe dá com o se lhe deu.
clusivo para os cavalh eítc s, que deles não prescindem e que
Tornou-se vedeta nos meios da diversão e do entreteni­
tão bem escorregam com uma caneca de fermentado.
mento, pela originalidade e pela bizarrioe dos númEras que
— Fiiiuuul Fiiiiáâí... — o assobio faz-se de novo ouvir,
executacam o burro, agore vestido com o artístico nom e de
desta feita para anunciar a partida para outros mercados,
Swing.
on dea sua chegada é saudada com alegria
Mas tardes dDS fín s de semana é comum vê-lo nas pracetas
O burro, pacharrerHB, obedece ao comando do mercador
dos bairros ou em improvisadas palcos entre as esquines do 5
sem hesitaçÕES. Conhece-lhe a voz e adivinha-lhe os desejos.
quarteirões. Multidões para ai acorrem, rodeiam u 5 artistas e
Sacode-se de moscas com a longa cauda, evidência de mesti­
acotovelam-se para testemunhar aquelas maravilhas.
çagem com amas mulas vagabundas, na vizinh an ça da casa
— Queres saber do teu futuro? Pergunta aqui aa Surfíjg -
dos pais em bilcDmpfeni. Flecte as pernas traseiras e aiivta-
convida a assistência. Um curioso deita uma moeda no bocal
sede pressões intestinais com uma volumosa evacuação, Es­
do chapéu pendurado por um cordel ao pescoço animal.
verdeada e sólida, composta de folhagem competentemente
Com as mãos em concha, Toto Envolve um ouvido do par­
triturada e digerida O carrego dos caixotes sobre os lombos
ceiro e ai transmite a mensagem do cliente. Entre os dedos
étrsbalho leve. Tarefas de maior envergadura desempenhara
fum ega um cigarro, o que lhe confere o estila e a distinção
lá em Nkompfeni dendeToro o trouxera. Ao anterior propri­
dos prestidigitadores. Mão era ainda termin ade o discurso e
etário, preferia este, que até lhe dá o comer à boca
já o burro se encabritavo, escouceando o ar. Sacode a cabeça
Muzinga é também todo trabalhos. Desde que divergem
com vigor e desespero, e abana freneticamente as longas ore­
rotas às portas do matadouro, cobre as suas áreas onde a
lhas.
clientela engrossa em cede dia que passa E os Eiacros! O cair
— Hciiiimmm!... Hoiiimmm!... Hoiiim m m l...
da noite é o m om ento da contabilidade. Contados e somados
as ganhes diários até ao último centavo, a este passo, Eá para — D animal está escandalizado, oh-oh-oh! Está chocada

o fim do ano poderão adquirir uma carroça para atrelar aos com a sua má sorte. Uma desgraça está a caminho. Se tem

bicho s e transportar mais mercadoria Para já é acumular di­ problemas de dividas è melhor pagá-las. Só assim é que pode

nheiro, fazer economias. contrariar a força dessa nuvem negra quE paira sobre a sua
vida.
Não fica por aqui a actividade do vendedor de tripas. A
A revelação espanta as presentes. E conhecido o facto de o nos despoletadores da guerra que iria dividir o bairro de Ma-

alvejado ser um caloteiro de mão-cheia, que deve dinheiro a torsine. Um pequeno-nada que, com um pouco de tolerância

toda a gente, e até deve a comida que come. e compreensão, teria passado ignorado, por insignificantE e
caricato.
— HDÍiimmm!... Hoiümmml... EfDiiimmm!... — é Swíqg b

estrebuchar de novo, na adivinhação do futuro doutro Es­ Pois, vin h a o senhor enferm eiro Maurício peta largo do

pectador. fontanário a caminho de casa, em animada conveTsa, ao lado,


a dona Vieentina, vizinha e comadre de longa data. Passam
— Que os dEuses noa abençoem! Está aqui uma mulhEr
pelas mulheres quE, junto às torneiras, disputavam vez de
como poucas. Você, mamã, tem á sua frente uma vida cheia
encher as latas. Prosseguem a curta jornada pelo descam­
de brilha. Ou vai ganhar na lotaria ou há casamento à porta.
pado onde se Encontram açaimados os burras de Tato. Mas
Em troca só peço mais umas maedinhBS aqui no chapéu zi­
eis que a macho se empertiga sobre as patas traseiras, retesa
nho.
o corpo e, despudoradamente, desembainha dos genitais o
A sessão prolonga-se horas fora. Para cada cliente um
falo enorme e põe-sa a trotar atrás da comadra Vieentina,
diagnóstico e, como é da praze, o ansiado prognóstico do
com o o faria se perseguis seum afêm eadasuaespécie. Hum
futuro. Em cada praça ou esquina, aglomera-se gente á volta
pânico justificado, ela grita por socorro e escapule-se paraa
de ambos, animal e mensageiro, para ihes admirar ds dotes
segurança de u m quintal próximo, cheia de ânsias e palpita­
e agradecer-lhes as revelações. E Tutu acumula fama e fo r­
ções.
tuna. O seu n o m e e citado nas cunvErsas, seus podEres Exal­
— Ah-ah-ah, o burro parece que viu nela uma da raça...
tados com paixão.
Conosco nunca tal aconteceu, ah-ah-ah... — galhofa geral
Para estas exibições prefere o macho. Com a fêmea ma­
das mulheres do fontanário, que não m orriam de amores
tar a-se atentar ensinar-lhe alguns números simples, mas
peia dona Vieentina, toda ch eíb de ares e poses, cnmD se fc sse
naquela cabeça não entrava masmo nada. Ainda tem na mE-
uma branca de elite.
m ória o trabalhào daquele dia em que, dEpois do truqu e do
Aos oUids do enfermEiro Maurício isto é o cúmulo da
cigarro, a idiota pós- se a espernear e desatou numa chtn fri-
desrespeito, uma enormidade, um insulto mcomensuràvel
nada que até parecia que a estavam a degolar sem anestesia.
à sua pessoa, a pessoa da comadre e á comunidade. D debo­
Teve de lhe meter umas pauladas entre os lombos paraa dis­
chado do asno atrevera-se, al: diante de si, em pleno dia, a
ciplinar. Era a mais burra de todas as burras que conhecia,
adiantar-se, aatraves ser-lhes o caminha eexibir equeíainde-
chiçÉJ
cência toda sem olhar ao seu estatuto e ã sna posição.
Vão humores neste tom, faz jã seis mesES. A vida corre
Já muitas haviam feito aquelas bestas mais o dono, noas
igual, numa mon aton ia quebrada aqui e acolá por um pe­
desta feita foram longe demais. Existe uma medida para tudo
queno escândalo que, peiss bocas das pessoas, cresce e gan ha
e para tudo tem de haver limites, arre! Apressa-se a penetrar
as proporções de um escândalo mundial: é um ladrão que foi
no quintal daquela casa para prestar a adequada assistência à
apanhado a roubar patos e espancado; é o adúltero que foi
vítima. A comadre arfa ainda, cheia de aflições, e tem os alhos
surpreendido em cama alheia, justiçado e esfaqueado; éap o-
esbugalhados de medo.
líc ia de choque nos assaltos ás bhangas a destilar ias de aguar­
dente. E, enfim, o dia a dia do povo. Ah, se o burro a alcança, sabe Deus Mosso Senhor as c on ­
sequências! Nem quer imaginar. D que vale é que deram
Ea a tarde daquele sábado de Páscoa a meio. N d ar su spen-
rédea curta ao monstro. Aquela Era uma visão que, com cer­
dia-se o clamar absurdo de canções de bebedores de uputsD
teza, iria atormentá-Ea noites fora, feita fon te de insônias ade
ou de música de gira-discos e rádios. Nadafaziasuspeitar que
pesadelos.
dai a m om entos iriam ter lugar as ocorrências, os fenôm e­
O senhor enfermEÍro Maurício é um cidadão insuspeito, bebem e comem à custa de adular o nutrido representante da

respeitador e pronto a dar a mão ao seu semeihante, se para lei. Um dos conselheiros ergue-se a custo e toma a palavra.

iaso for o caso. Seu maior desgcstn é ter coltlc vizinhos esta Saúda a 5 participantes e delega ao senhor Maurício a missão

muLtidão debroncos analfabetos que deixam passar tudo dE- de anunciar a razão e o fundamento daquela concentração.

babto dos olhos, sem dizer palavra, conformados num fata­ Este não se faz de demoras. Tosslca, para aclarar o timbre da

lismo que até irrita. Sabe, porque a sua vasta cultura assim voz e disse:

Iho diz, que a maior felicidade das comunidades é não terem — M eus caros vizinhos e amigos. Desde há meses a esta
neces si-dade de pensar, tEmquem o faça por elas. Neste bairro parte, temos estado a assistir neste bairro à ocorrência de
calcula á roda de noventa e cinco por cento a percentagem factos que, peía sua netureza, ferem e contrariem os p rin ­
dos deixa-andar, dos não-pensurtes — o regedor incluído—, cípios morais e sanitários com que se pauta a nossa vida.
uns cordeiros amansados. Leva assim a ombros o calvário Sabemos todos que a paz e o entendimento que respiramos
de ter de raciocinar pelos outros e ditar decisões pela boce fazem de nós, do nosso bairro, o mais respeitado, o mais ad­
do mes ma regedor, o qual só a abre para comer e beber, e a mirado entre todo s destes subúrbios desta bela cidade que é
quem ele, d senhor Maurício, intimida com o peso da ciência Lourenço Marques, aquele que, graças ã no ssa apertada vigi­
que desbDbina Chegara o tempo de se impor a ordem, o res­ lância, tem merecido do governo os mais vibrantes elogios.
peito e d civismo no lugar. Sente imensa pena pelo ocorrido Mas esses tempos já pertencem ao passado. A nossa paz foi
com a comadre Vicentina, mas ela que se tranquilize, porquE violada, a nossa fratern idade conspurcada pela maledicência
a hora do dEsforçc é chegada. Desde há umas semanas para e pelo boato. E tudc graças a quê e a quEm? Tudo graças à
cá que está envolvido numa secreta campanha de recolha de acção maléfica de forasteiros que, abusando da nossa hospi­
informações, corroboradas de factos e denúncias, sobre as talidade, aqui se infiltraram par alançarem a semente daimo-
suspeitas actividades do charlatão do Tofo, para lhe por rirn ralidade, do banditismo, da exploração, da mentira e, d qu eé
à carreira O vergonhoso acontecimento desta tarde viera mais grave, infecta o bairro com a náusea dos excrementos
masmn a-propósito; era o erro fatal com quE se enterrarão e a podridão dos produtos que negooeiam, ainda por cima,
inimiga. sem as devidas licenças e atestados.

Dados os seus poderes e influências, ainda pela voz do O enferm eiro Maurício éu m político. Aquele discurso tem
representante das autoridades, convocou um e banja, a qual um alva e uma intenção. Ele sabe dirigir as palavras. Avança
feria lugar na praça das cerimônias públicas. A conferência por aproximações. Prepara aquelas cabeças ocas com im a­
fo i concorrida. Constituiu o marco que, oftcialmEnte, ini­ gens e flutuações para, por Am, cair sobre a vitima, aniquilá-
ciou as hostilidades e cavou □ abismo que dividiu aquele la sem dó nem piedade, com o aplauso e a completa concor­
povo, até aicoeso e fratErno. dância-da assistência. Aprendera, onde não se lembra, que

Debaixo da sombra do baobá que se alevanta na praça as multidões arrastam-se. D que énecessário é conhecer ss

maior do bairro, junto ao palácio do regedor, as multidões tárticas.

confluem envolvidas em nuvens de poeira e no meia de uma — Pontuemos o s problemas — a vo z sobe em crescendo, as
grande algaraviada. Cada um toma o seu lugar, os homens mãos no ar, a esquematizar situações, a materializar mem ó­
em banquinhos, as mulheres em esteiras. Há Expectativa no rias. Os olhos do auditório revelam curiosidade pelo fErvor
arr atensãopEga-5ecoma5 mão 5. do orador, mas as palavras lEva-as o vento porque os pensa­

À mesa de honra, lá junto ao tronco da árvore, desfilam mentos das pessoas voam distantes. — Quero aqui lamentar

as figuras gradas dD meio: o regedor e seus conselheiros. que em tão má hora acolhemos no nosso seio esse vendilhão

Nas primeiras filas as acólitos e simpatizantes, aqueles qua de tripa podre que consigo trouxe esta série de desgraças
que, com a vossa licença, passo a enumerar. Em primeira
lugar, o problema sanitário. O senhor Toto — ou lá como meus senhores!... — e suspende os braços na ar, cheio de fin ­
se chama — na companhia doa seus burros, transporta gido pesar.
desde o matadouro até ao nesse bairro produtos em adi­ Um sonoro coro de gargalhadas interrom pe-lhe o dis­
antado estado de putrefacção, para aqui os vir vender. Traz curso. Todo o dramatismo que pretendera pâr no caso di-
atrás de si nuvens de moscas que, como todos vocês sabem, luía-se assim na falta de seriedade dos vizinh os. — "Mas tam -
são vectores de doenças transmissíveis. Ao longo dos cami­ bém com o pode ser assim? Custa a crer que ele esteja a falar
nhas, os burros deixam o chão atapetado de excrementos verdade. Onde já se viu uma pobre mosquinha transportar
que só dá nojo ver. Até corta o apetite, meus senhores. Ora suspensa nas patas tão grande carga como é a bosta de um
bem, as moscas, poisando sobre os excrementos e sabre a burro, que até pode ser do tamanho de u m pão intEiro, mais
tripa, carregam nas patas micróbios quE contaminam a águe ou menos, e oonfbtm e a refeição da animal? Como podE ele
que bebemos e os alimentos que consumimos. Sem falar falar desta maneira? Mesmo da um burrD pequenino..."-co­
n o cheiro nauseabundo que se Espaihano ar. Tenho Estado chicho doutra mu Lher no meio da assembléia.
a trotar de alguns membros desta comunidade com desar­
— O senhor está a quebrar-se de que existe muita sujidade
ranjos intestinais contraídos assim. — Faz uma pausa para
de burro aqui, não é isso? Pois fique a saber que quem fica a
auscultar os efeitos dos da palavreado. Aqueles broncos nem
ganhar com issoéacom unidede. Isso de cheiras eu cá nunca
pareciam estar ali presentes. Um burburinha surda inicia-
senti nada, e não ma parece que sejaproblema para ninguém.
se lá nas fundos: uma caneca de fermentado começara a
Digam-me, com que é que se estrumam os hortas nos quin -
circular entre a assistência. Cada um baixa a cabeça para bei­
tais das vossas casas? De que se alimenta a alface, a cebola,
jar a recipiente e deie sorver os golES de dirEtto. Parecia que
o tomate e os couves que se vendem zli nc bazar? já não
a iniciativa produzia melhores efeitos do que a lenga-lenga
precisamos de ir ácidade para comprar esses pós que só nos
do enfermeiro. "Ele está praqui com Este palavreado todo que
envenenam as terras. Deus foi misericordioso ao Enviar esta
não diz nada a ninguém. Isso de vectores que cheiram mal,
dádiva para nós. E por aquilo que sei, e não seí pouco, o se­
de excrementos transmissíveis e da imDraiidade dos produ­
nhor enferm eiro mais os seus amigos até mandam apanhar
tos é paleio tá do hospital masé. For causados moscas ainda
o esterca com padiolas para espalhar ai nos canteiros, ou
ninguém m orreu aqui no bairro. Se se quEixa dos cheiros,
estou a mentir? — é a TiaZefa, frontai, sem papas nalíngua.
elejáD lhou para aqueles baldes todos a transbordar? Onde
Hà já muito que queria apanhar este presunçoso peia frente
es tio os homens da Câmara para os despejos? OndE estão
para lhe dizer duas palavras. Epor Toco, pagador pontual das
os carros do iixo para a recolha dos montes de desperdícios
rendas e hei fornecedor de produtos para os petiscos tão ne­
dos bazares e das casas? Agora a culpa disso é toda do Tolo...
cessários nasuabhanga.
pfiu!1' — comentário duma m ulher ao ouvido doutra, em
— Em segundo lugar, coioca-se o problema da poluição
tom de segredo.
son ora Já não se pode descansar neste lugar. Nem durante
A caneca continua a circular, a bebida a fazer das suas. Os
o dia, muito menos á n o ite — continua a ignorar o ataque. A
ânimo 5 alevantam-se. Sussurros a cochichos abafam a voz
saliva sabe-lhe a amargo.
do orador.
— Ah, lá isso á verdade, senhor enfermeiro - aplaude al­
— A porcaria é tanta, que noutra dia embarquei no ma-
guém no meio da concentração. Tem um rosto avalhEntado,
chimbombo para a cidade, a caminho do trabalho. De repEntE
as bochechas caídas e alhos de dorminhoco. — Hem de dia,
notei que os outros passageiros franziam ds narizes com o
nem de noite.
cheiro pestüento que exalava a bordo. Verifiquei que era eu
— E como estão a vee:: há aqui muita gente que sente
o causador daquela aflição: a sola do meu sapato estava toda
o problema com o eu, mas que não fala porque nunca teve
coberta do... iodo desses animais. Vejam ao que chegámos,
aportun idade ou porque está com medo. É lamentável que Aonde jé se chegou! Que d bom Deus noa açudai Quem
depa is de um dia de trabalho e canseira:, regres sem o s a casa diria que estes papalvos pudESSEm um dia abrir as mal­
para sofrer a tortura do barulho que, noite fora, os burros cheirosas bocas para insultá-lo ali diante de tDda a com uni­
fazem. Durante o diaé esse concerto de assobiadelas; á ncite dade, de desrespeitar as sumas autoridades, condignamente
é uma zurraria infern ai até ao amen hecer. Onde está d nosso representadas pela personalidade do regador? Ah, este se
direito ao descanso? O que é feito daquelas noites de par e mesmo a ver, isto é obra planeada, e façanha — mais uma!
sossego, não m edirem? — desse terrorista e boateiro do vendedor de tripas; cobras o
— Com a sua licença, senhor enfermeiro — é a voz duma mordam, camufi ado agitador que veio subverter a sãmenta-
m ulher com cara de ratazana e um corpo minúsculo. Ajeita lidade destes pobres cidadãos.
a capulana e investa. — Isso que está a dizer não é verdade. (D enferm eiro Mauricio range os dentes sem, contudo, se
Antes úa chegada de Toto não comíamos os petiscos com descompor.
que hoje na s regalamos. Nós gostamos, e os nossos maridos
□ regEdor continua a cortar as unhas com os dentes, jé a
também. Para comprarmos umas tripinhas antes tínhamos
pensar na hora de encerrar a conferência. Está a fardar para a
de ir á cidade onde tudo é caro. Não temos dinheiro que vo-
hora do almoço que hoje, por sinal, é tripa de vaca e sumo de
cemecé tem para esses hixos. E com o quer o senhor que se
canhu de colheita atrasada.
adivinhe que o homem das tripas está a chegar se eie não
— Em quarto lugar — prossegue d orador, a saltar a ordem
es 5obiax ? O senhor não as sobiava para. ch amar a sua muEher
de anunciação dos crimes hediondos, para lhes acrescer o
sair do quintal quando namoravam? Alguém sa queixe li por
número e a gravidade do vasto repartório üde que tem em
causa disso? Quanto aos zurros dos burros, deütemo-Losem
m ente — quero chamar a atenção para a ladroagem de que a
paz; está na seu direito, é a sua maneire de falar. E até é uma
população e ítá a ser vitim a Esíb tal serva-se -de artimanhas
erir.de bênção para muitas de nós. Não somos como muitos
para vos extorquir dinheiro. Não passade um charlatão que
que tem despertadores. Os burros zurram e acordam os nos­
uaa e abusa das vossas fraquezas, das vossas crenças, para
sos maridos a tempo de se prepararem e chegarem a horas
encher os bolsos com d vosso dinheiro. Jáassisti a várias des­
nos empregos. Alguns até foram expulsos dos serviços por
sas macacadas em que ele põe a burro aadivinhaj problemas.
atraso antes da chegada dE Toto. E — aqui faz uma pausa da
Onde já se viu uma basta, que até é chamada burro po tque é
hesitação — aliviam as mulheTes de muitas coisas. Alguns
burro mesmo, com capacidade para puxar pela cabeça e ler a
maridos, aqui as vizinhas não m e deixam mentir, parece que
vida de uma peasoa? E demais! Só crê nisto quem quer...
a diabo lhes toma o corpo pela madrugada. É a essa hora que
— O senhor pensa que falou? — indagaa voz irada de uma
os burros começam a zurrar e a anunciar a hora de sair da
recém-pedida em casamento. — Sabe, par acaso, quem adivi­
cama. Isto arrefece os ânimos dos esposos e assim adiam os
nhou que eu ia &Er pedida? Não sabe? Hô-hô, que pena! Pois
programas para iogo à n oitE.
foi esse que o senhor chama de besta. Estava eu já desespe­
— Tem razão a comadrE — concordância em unísson o das
rada por um marido equem m e abriu os caminhos fo i o Toto
mulheres. Eem fartas estavam dessas sessões matinais que
com a forçad o anim al Muitos curandeiros, daqui da zona e
as derreavam e enfraqueciam pelo resto do dia.
doutras localidades, jé haviam Lavado as mãos ao meu caso. E
— Isso do sonoro o senhor nunca mencionou quando or­ chama o senhor a isso uma intrujice...
ganiza Essas festas que terminam de manhã, lã em sua casa.
— Tem razão a tia, sim senhora — eco de alinhamento
Falar mal dos outros não custa nada, muito abrigado — de­
e de solidariedade na defesa úa integridade moral e artística
nuncia um vizinho de lado do enfermeiro, como retaliação
de Toto e seus parceiros. — Para a3ám de noa poupar o di­
par nunca teT sido convidado para as festas em casa daquele.
nheiro de ir aos adivinhos lá nos matos, alimenta acesa nos
espíritos d chama dzs n n iu s crenças, das nossas ilusões, aii- anças com fracturas que até mete pena. A algumas nem as
v'Lados das angústias e põe em nós outras espEranças. Se nos médicos podem valer, acabam por m orrer...
mente, que mal vem ao m undo por isso? Nãc temos Duvido A tictica agora é de intimidação. Quem não tem medo de
desde crlancas piores e mais grosseiras mentiras? Que vida m orrer ou de perder um filho? Um silêncio pesado instala-
é a nossa neste bairro pobre senão uma grande mentira? ae n a atmosfeTa da assembléia. Mas mentes corre o medo da
Porque é falsD que todos gostamo s de vivEr como o Estamos luta. Todos concordam, as parques infantis são perniciosas
a fazer. Parque é uma farsa esta reunião em que sarna s ah s- e perigosos, fon tes de lágrimas a de desgraças.
mado s para apedrejar um homem, cujo único crim e é querer
A caneca continua a passar de mão em mão, mas já com
ganhar honestam ente o seu pão. E digam-me, quem diverte
mais celeridade. Embora o calor do medo da manhã seja
as nossas crianças aos fins de semana? Easahistória de levá-
brando, as sedes começam a apertar, pois é sabido, por expe­
las ao Museu, ao Jardim Zoológico ou à Baixa para ver a es­
riência, que um gole chama logo por outro gole.
tátua do M ouzinho é já peta caduca e não faz ahsolu temente
— Estamo 5a to meter um grande erro. Nesta reunião falta
nenhum sentido para ninguém. Onde estão os parques in­
uma pEssoa. — Todos radam as cabeças e detêm os olhos na
fantis? Onde estão as bandas de música qua na cidade tocam
figura de Mbhiza, barbeiro da zona, especialista em cortes de
sem parar? Arranjem outra vitimar não culpem ds burros...
cabelo modernes, nomeadamente, a poupa e as suíças àEEvis.
— Não é bem assim, ó compadre — protesta de um sujEÍto
— Náa se concebe como é que se pode julgar um homem na
chamado Rungo, pedreiro de profissão, abstêmio de álcool e
sua ausência. Ele ainda não m orreu ou já? Onde estáo Tato
solteirão. Correta empedernido, um unhas-de^fome incapaz
paraescutar aquilo de qu eo acusam? Como esperam que ele
de contribuir com dinheiro para coisa alguma. Reside no
se dEfEnda? Que cobardia á esta a que estamos hoje aqui a
bairro desde há muito tem po e discorda do anterior intervE-
assistir? O que é da nos sa tradição de nos sentarmos todos e
niente com uma veemência fanática. — As bandas alugam-
discutirmos os problemas que nos afectam a fim de lhes en­
se. Isso dos baloiços dã cabo das crianças. Sei de cabaças e de
contrar as causas e as soluções?
pernas partidas por causa dessas brincadeiras. D meu chefE
A mesa de honra acusa d toque. Fora dele, do regedor,
deobras ainda falou nisso noutro dia...
na única ocasião em que abriu a boca para falar na reunião
— Chefe de obras... chefe de obras, mas É uma bosta!...
preparatória, a sábia opinião de que se deveríam discutir os
Olhem só quem falou! Você que nem é capar de dDar um
problemas de TotD à revelia deste. No seu governamental
pela do nariz à caridade, está aqui feito protector das crian­
ponto de vista, a presença do arguido iria apen as criar obstá­
ças dos outros . Ainda há meses quando fai do falecimento do
culos ao decurso tranquilo das sessões. O enfermeira fuzila-
filho do Tifos, o bairrD inteiro soüdarizou-se e contribuímos
o com um alhar esguelhado, de já tardia reprovação, mas náa
todo 5 com dinheiro para ajudar o infeliz. E você onde estava?
pronuncia palavra. Ü regedor pros segue a tarefa h igiénica de
O m elhor é caiar essa boca, bem caladin ha, porque está aqui
podar os apêndices ungueais.
nesta reunião multo deslocado do seu meio... — trovejade
— Isso ê contra os princípios da lei, um a violação aos ca s-
raiva o vovó Sumaila, homem obeso, de barriga rotunda que
t umes. Não é das nossas raízes...
acompanha os movimentos dc resto do CDrpo na exaltação
— O que á que as raízes têm a ver com tripas? — vocifera
da intervenção. E de língua acerada, a boca municiada de pa­
um tal SEnhor Salvador, neutro Embora no que à filiação
lavrões, virtudes próprias dos alfaiatES.
em partidos diz respeito. Interveio apenas para alimentar a
— E estou aqui eu paia confirm ar as palavras do Rungo
presunção e pelo prazer de chamar atenção para a sua pes soa.
— aparte do enferm eiro, dE indicador espetado no ar, igno­
Sujeito bem parecido, veste sempre i moda. E a perdição das
rando os insultos e o despropósito do costureiro. — Durante
moças do fontanária. — Estamos aqui a discutir uma ques-
o período de férias escolares, Eá no hospital são bichas de cri­
tán muita particular, e você vem -m e Logo com as suas rai­ For isso conhece de [eis e seus meandros, como nenhum
zes... Ainda não é meio-dia e já está bêbado... outro na zona.

Aquele era um ataque pessoal ao barbeiro, oam quem riva­ — Estamos a fugir daquilo que para aqui nos trouxe —
liza nas conquistas. Nunca se deram bem. As mulheres cava­ volta a ouvir-se a vnz do Enfermeiro que, durante aquelas in ­
vam o abismo que os separava tervenções assoprara confidências aos ouvidos do vegedor.

— Tem razão o SEnhor Salvador quando afirma que se Deliberaram aos cochichos, e o resultado desta segredada

está a discutir uma questão m uito particular. Porque é, do consulta parece iminente. — Concordemos em que a Tato

fácto, muito confrangedor ver as autoridades crucificarem venha para o próximo encontra. Convém, no entanto, que

um homem que ganha o seu pão numa actividade honesta. terminem os a discussão dos assuntos em agenda. Em sexto

Ele madruga para a bicha das tripas; anda de caminho em lugar. — outra vez a gralha nos ordinais — existe a delicada

caminho, da bairro em bairro, à chuva, ao sol, a negociar. E questão dos acontecimentos que chocam a moral pública.

você, meu caro, o que faz durante essas horas? Só a jogar Como se não bastas se o enormíssimo escândalo, a pouca ver­

damas, a fazer batota com cartas ou, o que ainda ê mais gtavE, gonha de termos no nosso seio elementos — um punhado

a namorar menininhas... — poiido e fleumático, o barbeiro de vadios! — que molestam as nossas mulheres, as nossas

desanca e explana o seu ponto de vista, compara actividades filhas e irmãs, temos ainda de tolerar demonstrações públi­

de cidadãos para chamar a atenção á parcialidade da mesa cas de IntimídadES de quarto. Forque é sabido que há pes soas

sobre a grande injustiça de que está a ser vítima o proprietá­ aqui entre nós, que abusam de mulheres ai n o fontenário,

rio dos burros. O visado recolhe estrategicamente ao sdêncio nos caminhos e até em casa de pessoas respeitáveis.

donde emergira. Aquele estafermo do rapador de pelos era Faz uma pausa para auscultar os efeitos da pedrada. Al­
ainda bem capaz de chegar aonde não devia com aquele dis­ guns homens, por fingido ou genuíno espanto pela revela­
curso que já estava a macular-lhe a cias se e areputação. ção, voltam-se para as companheiras. Destas, umas por re­

— Tem razão o M bhiza O que estamos aqui a fazar é m orsos antigos ou rEcentES, desviam os olhos para as pontas

o mesmo que esfaquear um m orto — filosófica e fúnebre das sandálias. Ao senhor Salvador bate de novo o coração de

opinião de um velbote mestiço, com pele de cartolina hú­ emoção, passa a Língua pelos tábios, de repente ressequido'.

mida, toda em rugas. Fala a cuspir perdigotos de saliva, de Ajusta o traseiro ao banquinho e mantém a boca fechada.

uma boca onde os dentes são já escassos e os pouquíssimos O discurso do enfermeiro quer aludir aos requebros do
que sobram exibem a cor da ferrugem. Sentara-se na ponta janota do cartista e ás supostas entrevistas entre amantes na
de uma fila, no meio da concentração, n o estratégico ponto casa da tia Zefa, a pretexto de tomarem uma bebida.
onde se inicia □ circuito da caneca. Camufla entre as pernas — Não necesaito de recordar a ninguém o espectáculo dos
do banquinho onde se senta um garrafão de fermentado. A burros de suaexceléncia o senhor Toto, aí debaixo dos nos­
sua tarefa é prover — e prover-se, eatà visto — do indispensá­ sos olhos. E só ir ao fnntanário. Daí vê-se tudD. Umadeprava-
vel uputso os demais camaradas ali pres antes. çãn, um insulto à moral. Que educação á essa que queremos
— A Justiça manda dizeT que c acusado tem de estar aqui dar aos nossos filhos se contemplamos, mudos e cegos, a
presente para ser ouvido. É de seu direita. essa violação dos bons princípios com que oa educaram?

Consta que o velbote fora um sagaz escrivão num tribunal — Senhor enfermeira, com a aua licença. Nãa atire pedras
de terceira vara, mas que perdera o posto em consequência aos telhados dos outros, quando tem o seu de vidro — re­
de uma lemEntável con fu são ao fazer a tran scrição de umas corda o barbeiro, a ajeitar o colete. Embora deteste que se
sentenças. Na sua versão o réu saiu absolvido e d ofendido saiba, á homem de muitas leituras, a sua falaproverbial, m ui­
condenado a dois anos dE prisão com multas e repreensões. tas vezes obscura. — LA está outra vez o senhor a incriminar
gente inocente de ooisas e acros que não pode provar que noutra noite tivera um pesadelo arrepiante: sonhara com a
praticaram. figura disforme do compadre

O inim iga senhor Salvador teve ontra crise emocional que Maurício, com uma cabeça de burro, a fazer-lhe caretas e
lhe deu vontade de saltar aquelas Atas da frente para o abra­ propostas de muito pouco decoro. Ela a fugir à visão, mas
çar. Era uma srida, uma defesa a-propósito. Afinal o enfezadi- ele sempre atrás, ás patadas e a zurrar em tom alto, com o os
nho do Mbhiza não era tão má pessoa como estava a parecer. asr.os de Toto.
Neste capítulo, está de seu Lado, aquilo é tudo boataria e in­ — E no dia em que nns rEunirmDS com o Tato-, quEremos
venções do enfermeiro. o Trindade presente. Não se esqueçam de o convocar — pro­
— lia m inha barbearia domino a vista e muitas casas. posta da tia Zefa, cuja casa fora atingida pelas ferinas palavras
Os meus espelhos reflecbem muita coisa que, se o senhor do enfermeiro.
quiser, posso relatar. Concordo consigo quando afirma que — Se não mantivermos a calma e a bam-senso não sere­
os burros fazem das suas ao relento. Se assim procedem é mos capazes de analisar seja o que for — é o Enfer melro de
parque é da natureza do5 animais ser assim. Não se Escon­ novo, mas desta vez mais cordato e conciliador. — O caso
dem, sãa francos e abertos. Não é c que sucede com algumas aqui é o Toto e os burros dele. Não se falou de ninguém mais
pessoas, respeitáveis cidadãos aqui do nossa bairro. E pena em especial, são apenas generalidades.
não estar presente neste encontro o senhor Trindade que,
— Ah, agora o senhor diz que não falouL... m uito obrigado
confesso, não iria gostar m uito das minhas revelações.
— sarcasmo solto do meio da assistência
Ah, que afronta a deste barbeiro com cara de enjoado!
— Acho bem a reunião terminar aqui. Falou-se muito e
Porque não cale já essa boca imunda? — aflige-se de novo o
não ae disse nada — protesto de um da prim eira fila. Via-se
porta-voz do regedor. São do conhEcimEnto de toda a gente
quetínhaimensas dificuldades em abrir o c-lh.o esquerdo, tit-
as suas visitas a horas tardias da noite ao domicilio da coma­
mefacto e lacrimejante, trabalho e arte de un 5bandidos quE a
dre Vicentina, esposa do grande amigo e compadre de longa
surpreenderam àsaidada bar, ao Lado da cantina do Manuel.
data, o senhor Vencistau Trindade. Este, na maioria das vazes
Na ocorrência perdeu dois dentes incisivos e o salário m en ­
encontra-se au sen te de casa em viagens para Michafutene e
sal. Evidentemente que a esposa não acreditou n a h istóriae
BDVole, onde se abastece de m olhos de caniço, carvão e bar­
levantou-se uma grande altercação de que todos no bairro
rotes que revende na serração da zona A pretexta de propor­
foram testemunhas. A esta hora ela está em casa de uns tios
cionar tratamentos à solitária comadrE, compadre Maurício
na Manhiça a convalescer dos ferim entos que o esposo in­
lã se demora, noites dentro, em injecçõez e terapias afins. Já
compreendido lhe proporcionou.
doutra vez □ senhor Trindade regressou incógnito, a pé, por
(D regedor interrompe, desgosto so, a tarefa a que metera
causa de uma avaria da camioneta e, não foss e a presteza da
ombros (ou os dentes, conform e o ponto de vista) e Ergue-
adúltera que fez o amante saltar pela janela das traseiras, de
se pesadão, para proferir o discurso com que se encerrou a
sapatos e calças nas mãos, o sangue do enferm eiro terii ma­
ceTÍmónia:
culada a brancura dos lençóis do comerciante.
— E lamentável que nós, pessoas adultas e responsávEÊs,
E Mbhiza, o barbeiro, tudo viu pelo reflexo dos espelhos
não tenhamos conseguido chegar a um consensD sobre um
e tudo narrou com muitas partes acrescidas, á força de uma
problema que, afinal de contas, a todos diz respeito. Discutir-
imaginação sempre m uito solta e f e T t il nestes e semelhantes
se a questão que para aqui nos trouxe era uma tentativa de
casos.
encontrarmos uma solução para essa e outras que de futura
à dona VicEntina trEmEm as mãos. Volta a arfár, comD
poasam peTturbar o curso norm al da nossa vida. Ouvimos
no diado burro. Aquela visão persegue-a com insistência Já várias opiniões, acaloradas umas, mais ponderadas outras,
m is conclusões, nenhumas! Os debates foram, não se pode não compareceram com o medida de estratégica provocação.
negar, inuítD frutuosos e apontam para o caminho por onde Foram intencionalmente largados no lergo defronte da casa
devemos pesquisar oa erros, assim como o modo de os corrr- do enferm eiro para, entre muitas coisas, conspurcarem o

Etr- chão, zurrarem e cometerem imoralidades. O fermentado

— Custa a crer que EEj a o balDfa do regedor a falar. Naqu ele correu solto, as tripas também, porque as havia guardadas

seu feitio, sempre voltado para dentro de si próprio, a boca nas cozinhas de muitas casas. Uma vioiarepenicou, às unhas

de pouquíssimas palavras, ninguém era capaz de lhe atribuir do mestre Antónia Melodia, para fustrar asessão. Foram en­

tamanba sensatez. Naquela hora de aflição do enferm eiro toadas canções contia os mau s ca stumes, contra a oportu­

Maurício, fora capaz de o socorrer e tirá-la do escaldão do nismo, a corrupção e a indecência.

embaraço e da humilhação. Também sabe de muitas dele: co­ Do lado da senhor Maurício movimenta-se a hoste dos
nhecem-se. aclamadores da antiga ordem social, composta peto própria

— 0- bom-senso recom endas que se prossigam as dis­ caudilho, aríete e tradutor dos interesses do pova e do go­

cussões noutra ocasião e em atmosfera mais tranquila. Cada verno, salvaguarda dos princípios morais e higiénicD-sani­

um deve retirar-se daqui consciente de que somoa todos tários; pelo pedreiro e grada economista Rungo; pelo con-

cidadãos úteis deste bairro. Afinal de contas e o bem-estar seTvador com olhos de dorminhaco, p e li dona Vicentina e

de todos □ que está em causa. Aqueles que prevaricaram ou por uma multidão de desocupados que oon stituem a equipa

puseram em tíscd a nossa harmonia ou atentaram contra a de ÉutEboI do lugar, o Botafogo financiada e presidida pelo

dignidade dos seus próxim os terão de sujeitar-se aos rigores regedor.

da lei. Demarcaram-se deste modo os campas, definiram-se as

E assim o regedor pôs üm ã reunião, retórico, ambíguo partida s e ss pa siçães.

e ameaçador. A multidão dispersa no maio de um alarido de No seio de cada hoste fermentam actividajdes secretas. A
vozes. Clamam vitória os do partido da tia Zefa e do barbeiro, ala da dona Zefa — registada coma o Partido de Metorsine-
que frustraram a malevolência dos opositores, empenhados Cantina-do-Manuel — é anda fremEnte de agitação. O cen­
em tácticas para envolver inocentes nos males de que en­ tro das actrvidades reside no aliciamento de testemunhas
ferm a a comunidade. das incursões nocturnas do senhor Maurício. Destronado a

ULulam de alegria os da ala do senhor Maurício que que­ chefe — diziam — a reacção fragmentar-ae-á e reduzir-se-

rem virar o bica aa prega, apontar o dedo acusador às víti­ á a u m bando de maltrapilhos assustados e em debandada.

mas, brandindo calúnias a ameaças, com o claro intuito dE Ele ê a espinha dorsal, a sustentãculo dos retrógrados seus

encontrar pretextas com que se lavem de culpas pela ca­ concidadãos. Como tarefas complEmen tares, porque nada se

tastrófico curao das negocias do bairro. E mais: esfregam pode deixar ao acaso, a dona Zefa tomou à responsabilidade a

as mãos, de contentamento antecipado, pelo aniquilamento recrutamento de raparigas, cujos depoimentos, melhorados

definitivo do prevaricador, a fomentador-mor da agitação e pelo dedo assessor da jurista deposta que, de caneca numa

seu s apaniguados, os burros incluídos, evidentemente. mão e caneta noutra, vai registando o reporto rio de acusa­
ções com que se irá sustentar o banco da cantina
Depois da hora do almoço, a festa Foi rija em casa da
tia Zefa. Lá compareceram figuras altas da oposição local: A mensagem da convocatória surpreendeu o senhor

a barbeiro, o ex-escrivão (um magricela de rosto descar­ Trindade na serração, por intermédio de um mensageiro,

nado que se intitula professor primário reform ado}, o alfai­ identificado mais tarde cama agente secreto da facção da

ate Sumaila, muitas damas e seus obscuras esposas, Tato dona Zefa. Não se vá dar o caso de as autoridades, pelas

em pessoa e a sombra do ajudantE Muzinga. Os animais múltiplas e complexas tarefas que têm em mão, sobretudo
nesta época de campanha, esquecer-se de tão vital pormenor, do Trindade sobre as suas ligações com a desprotegida e fra-
com o era a compaxência daquele na reunião que se adiviri ha. gilissima senhora Vicentin a.
Ele não pôde esconder a surpresa pelas ocorrências que du­ E naquela sexta-feira, antevéspera do dia aprazado para a
rante a sua ausência tiveram lugar no bairro. A esposa fora reunião, tiveram lugar em Matorsine ocorrências inéditas.
omissa neste ponto, a seu ver, banal e insignificante, nada Ia confirmar-se o adágio de que um mal nunca vem só, traz
que merecesse a pena relatar ao marido. sempre outro pior na cauda.
O lado conservador, que responde pela nom e de PartidD- Um personagem estranha fo i visto, desde as primeiras
de-Matorsine-Fontanáiio não se delira iludir com a forçada horas da manhã, a bater de porta em porta, para indagar pelo
autoridade, que pode manipulai a seu favor, para VEncer domicilio de Toto. Consta que desembarcou do comboio da
os opositores. Tem também os seus infütrados no seio des Marracuene no apeadeiro de Vuicano. Seguiu pistas e acabou
da Cantina. Deve a estes a denúncia das maquinações Lá em por saber que aquele e os burros res Ldiain na zona.
curso.
— Somos primos muita chegados lã dE Marracuene.
A provável presença do senhor Trindade e das raparigas, Tenho notícias urgentes e importantes paia Ibe transmitir.
prontas a fazer a delação sobre as rotinas eos cornetim entes Coisas de- família... — dizia a forasteiro, no acto de se apre­
nocturnos dos filiados. Entre outros abusos, eram ameaças sentar aos residentes. Por intermédio ria prestáveis arautos,
que punham sombras negras na reputação e no fu tu ro da que os há sempre, a notícia chegou aos ouvidos do pro­
ala. Enfrentar o inimigD em público era um acto suicida Em­ curado. Mais adiantaram que o parente de Marracuene era
bora, á claro, ninguém fosse dar crédito às calúnias que por um sujeito espadaúdo, com quase dois metros de altura, de
lá se ir iam propalar, seguro é, de qualquer modo, evitar que cábelo cortado tente, com cara quadrada ondE se salientavam
a reunião se realize com a brevidade pretendida pelo cegueta umas quebradas de boi. Mais disseram que tinha uns olhi-
do regedor. Há necessidade de ganhar tempo a fim de se nhos frios, de símio, escondidos no fundo das órbitas euns
encontrarem os antídotos eficazes para a neutralização dos braços compridos, peludos e m uito musculosos. Toto não
Inimigos. Ele, o senhor Maurício, não pode, assim sem uma necessitou de mais detalhes. Pela descrição, outro não pode­
cibal justificação, anunciar o adiamentD ou mesmo o cance­ ría ser senão Spanela, o legítimo proprietário das burros. E,
lamento do encontro. O gesto só serviría para levantar sus­ em menos tempo do que teve a recitar um pai-nosso, emba­
peitas e, atá, minar o moral dos partidários, ansiosas pelo rim lou os haveres e as economias etn duas maletas, transpôs os
breve das hostilidades. portões da casa dadonaZefa e pôs-se ao largo, para não mais
à revelia do s demais membros, concebe um plano de acção voltar a ser visto ou dele ouvir-se falar. à dona da casa, a
pessoal de emergência. Seria contraproducente se tornasse esta hora no bazar, deixou um garatujado bilhetinha em que
púbiicas as manobras, contudo, crê que o resultado final anunciava o regresso inesperado para a terra natal motivado
merecerá a aprovação e o aplauso de todos. Para a consecução pelo falecimento súbito da mãe.
da operação conta com a colaboração dos senhores Salvador Quando Spanela, finalmente, bateu às portas na v izi­
e Rungo, incondicionais filiados e catequistas principais da nhança da dona Zefa, ia d sol do maio-dla a pique. Mas casas
ideo logia da ala. O ponto crucial consiste em fazer desapare­ encontrou donas-de-casa de ar maçado, pouco dispostas a
cer, temporariamente, o cabecilha e prom otor daquela con­ conceder informações sobre um concidadão a estranhos.
vulsão, Toto e os burros, assim com o todos os vestígios de Podia ser, sabe-sa lá, um desses espiões que não fazem outra
qualquer envolvim ento dos membros da falange conserva­ coisa senão espiolhar a vida alheia para tirar sabe Deus que
dora nos actos de que são acusados. Como fora determinado, proveito! Uma vizinha de lado da dona Zefa lamentou ter de
sem Toto n ão h á íu gar pai a discussões. E, por eon sequ ãn cia, inform ar ao inquiridor que sim, conhEciao Toto, mas que
nada transpirará — pelo menos publicamente e na prasen ça
este vivia Lápara os Lados do campo de futebol, à saída deste estaca, no que é imitado pelas bestas que vinham à rédea
zuna, a cemin h o do bairro de Vuicano. E Spanela andou du­ frouxa a seguir-lhe o passo.
rante a manhã toda por aJi, as voltas, como que perdido no — Temos estado a vigiar este lugar desde as primeiras
meio de um labirinto romano. Era umaestratégia inteiigen te horas da manhã. Estávamos á espera que aparecesse para o
para afastar c intruso da porta de Tato. Assim., todos ganha­ determos em flagrante esclarece d segundo agente, com uni­
riam tempo para o identificar e conhecer-lhe os propósitos. form e daguarda-fiscal.
Mas Toto iajám uito longe.
— Nada tenho a rcspori der ãs autoridades. Vim apenas re­
Spanela adia para mais tarde a laboriosa tarefa de achar o cuperai os meus burros.
paradeiro da vedeta. A sue missão principal é, afinal, recu­
— Ah, então confirm a que os burros são seus...
perar as burros e CDmeLes regressar a Marracuene, o mais
— São, sim senhor. Que m al há nisso?
tardar no comboio das cinco. Mão necessitou de pTocurar
— Há sim, e muito. Você acaba de declarar que é d elemento
muito. Orienta-se pelos montes de esterco. Dir-se-ia a que
queopera em tráfico de tripas e organiza espectáculos sem as
co nhecia aqu ela bosta, pelo cheiro e peio tamanho, ou afin ai
devidas licenças. Já está apanh ado.
os animais não eram seus desde que nasceram?
— Acho que há aqui uma confusão. Não tenho nada a ver
à sombra de duas mafurreiras os burros ruminam as
com essas coisas — protesto do acusado.
reservas da véspera. Durante a manhã ninguém lhes trouxe
— Então nega uma realidade que está aqui patente, q u e é a
aração de folhagem e agitavam-se com um início de fome. Os
dia a dia aqui no bairro? Coragem náa te falia...
vizinhos espreitam petos caniqo s e petas janelas; perguntam-
se par que razão não veio o dono buscá-los para o abasteci­ — Mas não sou eu quem está envolvido nisso. Há de ser

m ento de tripés. Se ainda fosse num fim de semana com pre­ outra pessoa, com carteia.

endia-se... — Se não está envolvido nisso, porque razão traz os bichos

Ao farejar Spanela, os burros empeTtigam-se e põem-se atrela? O que faz aqui e para onde ievaos animais? — circula

em pé. Zurram sem parar, numa saudação amigáveL, mani­ de perguntas a apartar-se á volta da intimado.

festação de uma convivência e intimidade que vem de longa — Os animais pertencem-me. Foram-me roubados Eá em
data. E com emoção, raiva e quase com lágrimas nos olhos Hkompfeni há mais de seis meses.
que ele SDlta as cordas que os aprisionam aos troncos das — Nlrompfeni... Nknmpfeni... isso é nome que se dê a uma
árvores. terra? Imaginação não falta a este gatuno. Pode provai que os
Não diría que a mis são fracassara de todo, porque tem os animais são seus?
animais de volta à sua posse. Ter-lhe-ia dado imenso pra­ — N ãotenhooam igo nenhum documento. Os burros não
zer encontrar o ladrão. Havia muitas contas pendentes entre são como as pessoas que tém caderneta
ambos. Para isso trouxera a naifa, disfarçada no bolso tra­
— Das duas uma: ou vocêé o cabecilha dos malandros que
seiro das calças. Muitos adivinharam os contornos daquEÍa e
por aqui operam ou é um ladrão refinado. Por uma ou por
recearam pela sorte de Toto.
outra, vai preso. Ainda não ma strou a sua documentação...
laE ieam eia distância entre a casa do enferm eiro Maurício
Spanela Está a cam ir ho do colapso, fmbativel em brigas lá
e o fbntanário quando o escândalo estalou. As raparigas lar­
em Nkompfeni e territórios adjacentes, nunca se dera bem
garam as iatas debaixo das torneiras a verter água. Dos quin­
com gente uniformizada. Fios de u m suor frio correm pes­
tais saltaram curiosos. Os caminhos ench aram-se de gente.
coço abaixo e inundam-lhe o peito e as castas: as mãos, essas,
— Faça o favor de parar e identificar- se — uma voz forte e tremem de um nervosismo que não consegue controlar.
autoritária saída da esquina de um beco intima Spanela. Este Com gestos atabalhoados retirados bolsos uma caderneta in-
dígena de páginas desbotadas e cantas ratados. Na ope ração,
a naifa com que iria executar Xoto salta da esconderijo e cai
ao 5 pés do5 agentes.

— A-há! Ora cá está!... — exclama o que se mantivera até ai


calado, fardada e com divisas de terceiro-sargenta. — E esta
navalha é para quê? Vi logo que estava aqui um des ses que
procuramos.

A burra verga as patas traseiras e emite um silvo anal, d

qual precede uma abundante emanação fecal, esverdeada e


quente. Os policias, pnr respeita e pela conservação da pns-
tura, ignoram o incidente.

Spanela é algemada e introduzido na cabine de um jipe


celular queseencontravacamuflado na esquine de um cami­
nhe próxim o. E a comitiva policial desaparece no meio da cu­
riosidade da multidão e de uma nu vem de poeira

Soube-se mais tarde que as burros fo tim entregues aos


cuidada 5 da Liga de Defesa dos An imais. Nos exames efectu-
ado5, os médicos veterinários descobriram nos ouvidas de
Swrqg beatas e cinzas de cigarras, com o se de cinzeiros se
tratasse.

Deste mado, graças ao sensível tacto e à visão patítÊca do


sen hor Maurício, a paz fo i restabelecida em Matorsine, umas
tréguas temporárias, dizem as do Partido da Cantina. No
conjunto de medidas destinadas a reforçar a disciplina no
bairro, foram interditas quaisquer aglomerações de gente —
excepção feita às da cemitério e dos velórios-, ban ida a circu­
lação de asnos na son a e decretada rigorosa vigilância a bar­
beiros maçõnicos e a matronas fomentadoras de meretrício,
disfarçadas de vendedeiras de uputso.

Consta que Spanela foi julgado por exercício ilegal de acti-


vidades comerciais e de entretenimento, por crueldade con­
tra animais e possa de arma branca, e sentenciado a dois anos
de prisão maior, agravados de multas em dinheiro. Làna pe­
dreira da Moamba onde cumpre a pena, jura, pela alma do
avó Tchowama, SEpuitedo nas matas de Nkompíeni, que não
m orte antes de deitai as gadanhas ao pescoço de Xoto.

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