de São Tomé, em São Tomé e Príncipe, país africano de língua portuguesa que se tornou Biografia independente de Portugal em 1975, após 500 anos de colonização. Ela cresceu em meio às lutas políticas pela independência de seu país. Formada pelo King’s College de Londres, Conceição é jornalista e trabalha para a BBC de Londres. Até o momento, publicou dois livros de poesia: O Útero da Casa, Livros em 2004, e A Dolorosa Raiz do Micondó, de 2006. Este último foi agora editado no Brasil pela Geração Editorial. O micondó, ou imbondeiro, é uma árvore considerada sagrada por muitos povos africanos. Espécie de baobá, é conhecida como árvore da Análise vida, devido à sua incrível longevidade, que chega a seis mil anos. Portanto, em muitas comunidades, as gerações passam e as árvores sagradas permanecem, assistindo a tudo. Sóya Há-de nascer de novo o micondó — belo, imperfeito, no centro do quintal. À meia-noite, quando as bruxas povoarem okás milenários e o kukuku piar pela última vez na junção dos caminhos. Sobre as cinzas, contra o vento bailarão ao amanhecer ervas e fetos e uma flor de sangue. Rebentos de milho hão-de nutrir as gengivas dos velhos e não mais sonharão as crianças com gatos pretos e águas turvas porque a força do marapião terá voltado para confrontar o mal. Lianas abraçarão na curva do rio a insónia dos mortos quando a primeira mulher De A dolorosa raiz do micondó lavar as tranças no leito ressuscitado. Reabitaremos a casa, nossa intacta morada. Análise “Sóya” significa “lenda”. No poema, a árvore é uma referência de futuro e de esperança. O vendedor Os olhos vagalumem como pirilampos no encalço dos fregueses Do fio que é a mão esvoaçam sacos de plástico precários, multicores balões A Feira do Ponto é o seu pátio. Ao fim do dia, parcimonioso, devolve a bolsa das moedas a um adulto e recupera a idade.
De A dolorosa raiz do micondó
Toda a poesia de Conceição Lima é Análise marcada pela realidade de seu país. Observe a descrição breve e precisa que ela faz de uma cena de trabalho infantil em “O vendedor”. A lenda da bruxa San Malanzo era velha, muito velha. San Malanzo era pobre, muito pobre. Não tinha filhos, não tinha netos Não tinha sobrinhos, não tinha afilhados Nem primos tinha e nem enteados Ela era muito pobre e muito velha Muito velha e muito pobre era. Era velha, era pobre san Malanzo Pobre e muito velha Velha e muito pobre Era velha e pobre Era pobre e velha Velha pobre. Pobre velha Velha Pobre De A dolorosa raiz do micondó Feiticeira. Do mesmo modo, “A Lenda da Bruxa” Análise apresenta uma personagem de rua, a velha san Malanzo, tida como feiticeira. Em São Tomé e Príncipe, “san” quer dizer senhora. Diferentemente do que ocorreu em Angola e Moçambique, não houve Características guerra em São Tomé e Príncipe. Mas certamente a luta armada nos territórios insurretos ganhou reverberação nas ilhas são-tomenses, na forma de repressão e humilhações. A mão Toma o ventre da terra e planta no pedaço que te cabe esta raiz enxertada de epitáfios. Não seja tua lágrima a maldição que seqüestra o ímpeto do grão levanta do pó a nudez dos ossos, a estilhaçada mão e semeia girassóis ou sinos, não importa se agora uma gota anuncia o latente odor dos tomateiros a viva hora dos teus dedos.
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O tema de humilhação e opressão é tratado quando o poema faz um Análise convite a plantar, construir, seguir em frente, tomando como ponto de partida uma semente marcada pela dor e pelo sofrimento. Características Por fim, vem uma sátira aos burocratas em “Certos Pequenos Tiranos”. Certos pequenos tiranos A certos pequenos tiranos comove-os o enigma na pétala de uma orquídea e o langor da linha na palma da própria mão. Algures, um estranho brinquedo falece na secretária onde existem. Por vezes articulam breves sentenças e estão sempre em atritos com o mesmo orçamento. Mas crêem no amparo de feitiços e amuletos e segregam uma teia de invencível apatia que tolhe as impressoras, as portas dos armários e contrai as linhas das quatro paredes.
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Porque os emociona a própria bondade tomam por amor a vénia dos vassalos os pequenos tiranos que publicam altos amigos como títulos de jornal e distribuem grãos de favor como quem outorga um foral. São meticulosos no arrumar dos papéis pois na simetria das coisas enterram a luz das ideias. Mortifica-os a idade, são hipocondríacos e só por distracção morrerão em África. Dói a doçura da savana espezinhada nesses pequenos tiranos A pátria em seus ombros é divisa, cartão de visita No borrão do carimbo dispara a AKA que nunca empunharam.
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O poema fala daqueles personagens que são figuras Análise universais: corruptos, traficantes de influência, emotivos e até carinhosos, quando lhes convém. Certamente não são espécimes existentes apenas em São Tomé. Glossário • calema – onda forte • palayê – vendedora • san – senhora • sóya – conto, lenda, fábula • oká – árvore associada a forças maléficas • kukuku – coruja • marapião – árvore a cuja madeira se atribui propriedades exorcizantes • ússua – dança de pares, similar à quadrilha • zêtê d’ochi – azeite doce • tempi – não encontrei significado • ubaga tela – suponho seja “panela de barro”; ubaga é panela, tela é terra • calulu – prato típico de São Tomé e Príncipe • mlajincon – manjericão • luchan – lugarejo, aldeia