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Conceição Evaristo
Conceição Evaristo nasceu em Belo
Horizonte, em 1946. De origem humilde, foi
para o Rio de Janeiro na década de 1970.
Graduada em Letras, trabalhou como
professora da rede pública carioca. É Mestre
em Literatura Brasileira e Doutora em
Literatura Comparada. Participante ativa dos
movimentos de valorização da cultura negra
em nosso país. Escritora versátil, cultiva a
poesia, a ficção (romance e conto) e o
ensaio.
Sequência das ações
As ações se desenvolvem em um povoado de trabalhadores
descendentes de antigos escravos, chamado Vila Vicêncio, e numa cidade grande,
não nomeada. A época não é bem definida, mas se sabe que o avô da protagonista,
muito velho, fora escravo. A obra não é dividida em capítulos, mas em parágrafos
que apresentam a história de Ponciá Vicêncio desde menina até a idade adulta. A
narrativa em terceira pessoa mostra a trajetória de Ponciá e, ao mesmo tempo,
apresenta flashbacks da vida da protagonista, de sua família e de seu povo.
Ao mesmo tempo que a história de Ponciá é contada, duas outras histórias iam
sendo escritas para se unirem no final: a história de Luandi, irmão de Ponciá, e a de
Maria, mãe de ambos.
A narrativa inicia fazendo referência à infância de Ponciá,
quando temia o arco-íris, pois “diziam que
menina que passasse por debaixo do arco-íris virava menino”. Vivia na
roça, gostava de ser menina e de brincar no milharal. “Um dia, nessa
brincadeira, viu uma mulher alta, muito alta que chegava até o céu”. Era
uma “mulher transparente”. Quando contou para a mãe, a mãe falou
para o pai cortar o milharal, e Ponciá nunca mais viu a mulher
transparente. Outra lembrança muito marcante da infância era Vô
Vicêncio, o primeiro
homem que conhecera (“guardava mais a imagem dele do
que do próprio pai” – “ela pouco via o pai, pois ele trabalhava lá nas terras dos
brancos”). “Vô Vicêncio era muito velho. Andava encurvadinho com o rosto quase no
chão. Era miudinho como um graveto. (...) Vô Vicêncio faltava uma das mãos e vivia
escondendo o braço mutilado para trás.
Ele chorava e ria muito.” Quando o avô morreu, ela era ainda criança de
colo. Naquele dia, ouviu o pai falar para a mãe que “Vô Vicêncio
deixava uma herança para a menina”. Quase um ano após a morte de avô, Ponciá
começou a andar: “andava com um dos braços escondido às costas e tinha a mãozinha
fechada como se fosse cotó”.
Ponciá fora criada praticamente sozinha, vivendo com a mãe. Tinha um irmão,
com quem pouco brincava, pois este acompanhava o pai no trabalho da roça. Ficava
muito tempo na beira do rio, onde pegava barro para moldar objetos que aprendia
com a mãe: panelas, potes e bichinhos de barro. “Um dia ela fez um homem baixinho,
curvado, magrinho, graveto e com um bracinho cotó para trás (...) Como Ponciá
Vicêncio havia guardado todo o jeito dele na memória?”. Mais tarde, passaram a dizer
que ela “se parecia muito com ele em tudo, até no modo de olhar. Diziam que ela,
assim como ele, gostava de olhar o vazio”.
Observações complementares