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P745 Poesia (cabe) na escola : por uma educação poética / Eliane Debus,
Debus,
Jilvania Lima dos Santos Bazzo,
Bazzo, Nelita Bortolotto, organizadoras
organizadoras.. -
1. ed
ed.. - Campina Grande - PB : EDUFCG, 2018.
208 p.
ISBN: 978-85-8001-229-3
Inclui referências
I . Educação infantil.
infantil. 2. Poesia - História e critica.
critica. 3. Literatura -
Estudo e ensino. 4. Livros e leitura. I. Debus, Eliane Santana Dias.
II. Bazzo, Jilvania Lima dos Santos. III. Bortolotto, Nelita.
CDU: 37
Catalogação
Catalogação na publicação por: Onélia Sil
Silva
va Guimarães CR B-14/071
CONSELHO EDITORIAL
Anubes Pereira de Castro (CFP)
Benedito Antôn
An tônio
io Luciano (CEEI)
(CEEI)
Erivaldo M oreira Barbosa (CCJS)
(CCJS)
Janiro da C osta Rego (CTRN)
Marisa de Oliveira Apolinário (CES
(CES))
Marcelo Bezerra Grilo (CCT)
Naelza de Araújo
Ara újo Wanderl
Wan derley
ey (CSTR)
Railene H
Railene Hérica
érica Carlos Rocha (CCT
(CCTA)
A)
Rogério
Rogé rio Hu
Humbmb erto Zeferino
Zeferino (CH)
Valéria Andrade (CDSA)
Sumário
J i l v a n i a L i m a d o s S a n t o s B a z z o
N elita B o r t o l o t t o
E liane D ebus
F e r n a n d o J osé F r a g a de A z e v e d o
L u c a s M a t e u s V i e i r a d e G o d o y S t r i n g u e t t
R a f a e l a M a c h a d o L o n g o
O pavã
pavãoo era um galã
Trabalhava como ator
Namor
Nam orava
ava um
uma a peru
peruaa
Filha do pe ru doutor
peru
Que receitava remédios
Pra
Pra tosse, coceir
ira
a e dor.
(Had
(H adooc
oockk Eze
Ezequ
quiel)
iel)
Introdução
1 Es
Esse
se fato pode ser oobser
bservado
vado na antologia Pás
Pássar
saros
os e bicho
bichoss na
n a voz
vo z de po
poetas populares. Para
etas populares.
saber mais, ver: Pinheiro (2004).
50 Poesia
Poe sia (cabe
(cabe)) na Escola
40 embaixo
E aquelas queempurrando
vão em cima
Pensam que vão ajudando.
2 Para saber
sabe r mais, ver: Pinhei
Pin heiro
ro (20
(2004
04).
).
Cordel
Cord el para crianças
crianças 51
Mas não se trata aqui de dizer que esta poesia é melhor do que aque
la. Ambas têm o seu valor e devem ser lidas e apreciadas pelas crianças.
Trata-se, isso sim, de estar atento ao brotar da poesia em diferentes contextos
e situações e, sobretudo, não desperdiçar a beleza de uma tradição poética
das mais ricas.
No s úl
Nos últim
timos
os 20 anos,
ano s, tem
te m surg
su rgid
idoo um n ú m er
eroo significa
signi ficativo
tivo de fo
fo
lhetos direcionados para o leitor mirim. E o viés mais escolhido por poetas
e poetisas é a retomada de narrativas tradicionais, como contos de fadas e
algumas fábul
fábulas.
as. O u tra vertente —não
—não m uito distante da primeira
prim eira —re
—refe
fere
re-s
-see
a criações em que predominam personagens animais vivendo situações as
mais diversas.
Apresentaremos, neste artigo, um conjunto de narrativas em versos
de cordel, de poetas e poetisas contemporâneos, voltado para o leitor infan
til. A apresentação visa chamar a atenção para a riqueza e diversidade dessa
pr oduç
prod ução
ão que
qu e cada
cad a vez m
mais
ais ga
ganh
nhaa espaço,
espaç o, sobr
so bret
etud
udoo p o r meio
me io da publ
pu blic
ica
a
ção de grandes editoras. A seguir, nos deteremos na indicação de algumas
sugestões de abordagem de um folheto em sala de aula.
que
ju
juve seude)
vent
ntudpode
e).. Uaportar
m prim aos
pr imei rofolhetos
eiro gr upoo -voltados
grup que nã opara
qu e não a pinfância
é p rop
ro ri en te(etem
riaa m ente tealguns
m átic o,para
át ico, u m aa
vezz que ppode
ve ode contem
con templar
plar qqualqu
ualquerer te
tema
ma - refe
refere
re-s
-see ààss adapt
adaptações
ações de ddiv iver
ersa
sass
obras literárias: romances (nacionais ou não), contos, contos de fadas, con
tos populares e fábulas. Destacamos, dentre os que tivemos acesso: O tronco
do Ipê, recontado por Arievaldo Viana; Romance de Iracem Iracema: a: a virge
virgem m dos
lábios de mel, por Alfredo Pessoa de Lima; Pinó quio,, de Manoel Monteiro;
Pinóquio
rge e Carolina, em que Rouxinol de Rinaré
Jorge
Jo Rinaré reconta o romance A viuv viuvinh a,
inha,
3 Um a pes
pesqui
quisa
sa PIBIC-UF CG rea
reali
lizada
zada nos acer
acervo
voss do PNB E entre 2008 e 2011 constatou
que foram selecionados 17 narrativas de cordel, em suporte de livro, conforme Alves e Lima
(2016).
Cordel
Cord el para crianças
crianças 53
O papagaio dizia,
Dum oco de catingueira
“Eu falo todas as línguas,
Mas digo cada besteira!
Mais antes cantasse igual
Ao sabiá
sabiá da palm
palmeira.”
eira.”
(Antônio Lucena, 2017, p. 5)
Co m o se pode observar
Com observar ne nessse rápido apanh
apanhado,
ado, a produção
produçã o contem
porâ
po râne
neaa é p o r demais
dem ais pro
profíc
fícua
ua,, embo
em borara o nível estético
estét ico de m ui
uito
toss folhetos
folh etos
seja desigual. Observaremos agora, mais detidamente, um folheto que, por
um lado, pode oferecer algumas dificuldades ao leitor pela diversidade de
animais apresentada; mas, por outro, pode ser um estímulo à descoberta
da diversidade do reino animal. Trata-se do folheto O sabiá da palmeira palm eira , de
riência
animais.deDuas
encantamento que aovoz
ações formam eixodesse pássaro primeiro,
do folheto: provoca nos mais do
o canto diversos
sabiá
pode
po de ser lido
li do com
co m o uma
um a met
m etáf
áfor
oraa de uma
um a das fun
funçõe
çõess da arte,
art e, a de susp
su spen
en
der os ouvintes de seu cotidia
cotidiano
no e mobilizá-
mobilizá-los
los para a con
contemplação
templação daquel
daquelee
canto. A segunda ação, ao final da narrativa, é a da cobra que mata o sabiá
da palmeira, privando todos daquela importante experiência estética.
As duas estrofes iniciais enunciam o que motiva o sabiá e, reciproca
mente, o que a vozvoz prov
provoca
oca na própria
pró pria natureza que o mobiliza:
mobiliza:
Um sabiá
sabiá mavi
mavioso
oso
Morava numa palmeira
De lá ouvia os sussurros
Das águas da cachoeira,
Pelo que se deleitava...
E cantava a tarde inteira.
4 Antôn
An tônio
io Lucena, dentre
den tre os
os poetas populares
populare s paraibanos, destacou-se por acumu acumular
lar a função
de escritor e de xilogravuri
xilogravurista.
sta. Tratava-se
Tratava-se do que
qu e se poderia cha
chama
marr de um legítimo poeta popupo pu
lar pelos temas, pelo modo de abordagem, pela visão de mundo que veicula em seus folhetos.
Sobressai em sua obra o tom bem-humorado, o modo fantasioso e brincalhão de tratar seus
temas. Alguns de seus folhetos: As proezas
proeza s de
d e João Gri
Grilo N eto, O ião que dançou lambada no
lo Neto,
m aior São João do m und
undo,
o, O Jec
Jeca
aqque
ue cas
casou
ou com u um
m ajega!, O pa stor que
qu e virou bo de,, Revolta de
bode
Lampião
Lam pião pa ra governar o céu,
céu, Zefm ha & Sebasti ão e Vaque
Sebastião Vaqueir
iro
o velho
velho && pa trão,, dentre outros.
patrão
A mata
m ata toda
tod a exultava
exultava
- da sequoi
sequoiaa ao manacá —
Enquanto o vento parava
Naa copa
N co pa do jato
ja tobá
bá,,
Para ouvir a sinfonia
Do canto do sabiá.
Da mais seleta fruteira
Um cacho bem madurinho
Pra o sabiá da palmeira.
N ão falta
Não falt a ao poem
po emaa a explicit
exp licitação
ação do jogo
jog o inte
in terte
rtext
xtua
ual,l, como
com o se ob
o b
serva nas estrofes que seguem, em que aciona o poema de Gonçalves Dias e
a canção de Dorival Caymmi:
N e m o Doriv
Ne Do rival
al Caym
Ca ymee
Das terras do vatapá,
Chegou à fama que teve
M eu saudoso sabiá..
sabiá....
O ut
utro
ro sabiá
sabiá daquele
daquele
O mundo não criará.
Mas
N
No não deixou
o sabiá palmde falar
da palmeira!
eira!
O sabiá do sertão
Faz coisas que me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar
c antar passa
passa nov
novee
Como que se preparando
Pra só cantar quando chove...
(Biu Gomes)
O
Se sabiá, tododedia,
alimenta mosquito
De gafanhoto, pimenta,
N u n ca d im
Nu imin
inuu i o grito.
grit o.
Eu tomo tanto remédio,
Não
N ão posso c a nt
ntaa r bbon
onitito.
o.
(Manoel Xudu)
É bonito um Sabiá
Nuu m a galha
N galh a de aroeir
aro eiraa
Entoando
Entoan do uma cançã
cançãoo
Com a sua voz brejeira
N u m a doce
do ce sinfo
si nfonia
nia
Bordada de poesia
Encantadora e fagueira.
(Daudeth Bandeira; José de Sousa Dantas)
Asasborboletas
N
Nas flores das azuis
tre
trepa
pade
deira
iras,
s,
Uma, batendo as asinhas,
Comentava
Com entava à companheir
companheira: a:
“como é bon
bo n it
itoo o gorjei
gor jeioo
D o sabiá
sabiá da palmeir
palmeira!” a!”
À medida que for lendo, já pode ir discutindo/conversando: por
e x e m p l ° >
dos seres humanos”. Ainda, segundo Slade (1978, p. 18, grifo do autor), no
jogo dramá
dra mátic
tico:
o:
Pode haver
haver momentos
mom entos intensos do que poderíamos nos dignar a cha
mar de teatro, mas no geral trata-se de drama, e a aventura, onde o
fazer, o buscar e o lutar são tentados por todos. Tod
odos
os são fa
fazed
zedore s,
ores,
tanto como ator como público, indo para onde querem e encarando
qualquer direção que lhe apraz durante o jogo.
Slade (1978)
Slade (19 78) lembra
lem bra ain
ainda
da que
q ue a “[.
“ [.....]] tarefa do professor é a de aliado
amoroso”, diríamos, também, que de estimulador, de incentivador, jamais
a do que julga e compara, criando hierarquias entre os participantes. Nesse
sentido, na criação e recriação de um jogo, é da maior importância refazer as
ações, as cenas, mudando os participantes/personagens.
Vejamos, a seguir, uma sugestão de atividade com o folheto que po
derá desencadear um jogo dramático. Os passos sugeridos não devem servir
de camisa de força, antes de roteiro que pode e deve ser alterado a depender
da situação e do envolvimento da turma6.
a) Imagin
Im aginarar e realizar
realizar um
umaa espéci
espéciee de sinfon
sinfonia
ia de vozes
vozes de diferent
diferentes
es
pássaros. Pode-se, prim
pr imeir
eiro,
o, elencar
elen car os pássaros
pá ssaros cujos cacanto
ntoss a turm
tu rmaa
conhece; a seguir, os alunos começam a imitá-los. A seguir, pode ser
ampliada a participação a partir de levantamentos realizados pelos
alunos em casa, em pesquisas, bem como com o uso de apitos de
madeira que contribuem para a imitação.
b) Em u m segund
seg undoo m omen
om entoto,, seria acop
acoplada
lada a si
sinf
nfon
onia
ia com o canto
can to do
sabiá. O som da sinfonia poderia ir abaixando, ficar como fundo e,
então, surgir a voz do sabiá. A partir daí, teríamos a entrada das estro
fes do folheto, adaptadas ou não, na voz dos participantes. A ordem
pode
po de ser alterada, algumas estro
estrofes
fes ppod
odem
em ser deixadas e até acrescidas
acrescidas
outras, em verso ou não. Seria interessante que os alunos escolhessem
as estro
estrofes
fes a serem lidas.
lidas. Pode-se faze
fazerr um intervalo entre
ent re uma
um a leitura e
outra, com destaque para a voz do sabiá e as vozes da sinfonia.
*' Hm Poes
Poesia
ia n
naa sala de aula, Pinheiro (2007) sugere algumas atividades de jogos dramáticos
.i partir de poemas infantis de Cecília Meireles e outros autores.
c) Com
Co m o o folheto final
finaliza
iza com a morte do sabiá
sabiá,, pode-se debater com
os leito
leitores
res que outras possibilidades
possibilidades de conclusão a nnarrativa
arrativa poderia
ter. Discutir as possibilidades e depois encená-las, por exemplo: al
gum pássaro ou animal convencer a cobra de não matar o sabiá, ten
do em vista
vista o bem que traz para toda a comunidade.
com unidade. Q ue animaanimal( l(ai
ais)
s)
pode
po deria
ria(m
(m)) parti
pa rtici
cipa
parr desse diálogo? C o m o seria ess
essee diál
diálogo
ogo,, quais
os argumentos usados? Podemos fazer várias tentativas de improvi
sação, fundir algumas soluções encontradas etc. Outra possibilidade
seria uma ação dos animais para impedir a cobra, caso não houvesse
acordo. Por fim,
fim, terminaria
term inaria o jogo num
n umaa festa
festa em que o sabi
sabiáá agrade
cesse a todos e todos cantassem e dançassem.
Atividades com
comoo essa
essa po
pode
dem
m ser
ser fei
feita
tass e refei
refeitas
tas ao lon
longo
go de várias
várias au
au
las e, ao final, podem ser apresentadas em outras salas de aula. O mais ade
quado é a apresentação para turmas menores, que, inclusive, podem entrar
no jogo. Como se trata de um jogo dramático, não há propriamente perso
nagens principais e secundários. Todos jogam, se divertem, criam, evitando,
assim, certo caráter de exibicionismo que pode acontecer no âmbito escolar.
Considerações finais
7Vários artigos nossos apontam esta perspectiva. Afora o livro Cordel no cotidiano escolar ,
escri
scrito
to em parceria com Ana
A na Cristina M ar
arinh
inhoo Lúcio (2012), veja também
tam bém os seguinte
seguintess arti
artigos
gos::
62 Poesia (cabe) na Escola
Referências
_______ . O que ler? Por quê? A literatura e seu ensino. In\ DALVI, M. A.;
_
REZENDE, N. L. de; JOVER-FALEIROS, Rita (Org.). Leitura literária
na escola. São Paulo: Parábola, 2013.
Alves (2008, 2013, 2016), em que tratamos de diferentes de modo de trabalhar a literatura
de cordel como literatura no espaço
espaço esc
escola
olar,
r, em diálogo ou nnão
ão com
co m outros
outro s gêneros lite
literári
rários.
os.