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Introdução e Teoria Geral

do Direito

Aula 4: O mundo ético

Prof. José Eduardo


Silvério Ramos
Doutor em Direito Tributário (PUC-SP)

Advogado @SilvérioRamosAdvogados
ITGD - Roteiro da “Aula 4: O mundo ético”
REFERÊNCIAS:
Clóvis de Barros Filho, veiculado pelo canal Casa do Saber, Disponível em:
<http://youtu.be/Jsjn49FxJLc> acesso em fevereiro 2019.
REALE, Miguel. Variações sobre ética e moral. O Estado de S. Paulo. Out, 2001. Disponível
em <http://www.miguelreale.com.br/artigos/veticam.htm> acesso em fev. 2019.
REALE, Miguel. Lições preliminares do direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. Capítulo IV –
O mundo ético.

1) O que é moral? Para uma breve noção de moral assista ao vídeo de Clóvis de Barros
Filho, veiculado pelo canal Casa do Saber, Disponível em:
http://youtu.be/Jsjn49FxJLc
2) Existe distinção entre ÉTICA e MORAL? Para pensar e responder esse questionamento
leia o artigo de Miguel Reale “Variações sobre ética e moral”, publicado no O Estado
de São Paulo, em 2001, disponível em
http://www.miguelreale.com.br/artigos/veticam.htm
3) Leia o Capítulo IV – O mundo ético, do livro de Miguel Reale, Lições preliminares do
direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, para compreender:
I. Juízos de realidade e valor
II. Estrutura das normas éticas
III. Formas da atividade ética @joseeduardosilverioramos 2
O que é moral?

Para uma breve noção de


moral assista ao vídeo de
Clóvis de Barros Filho,
veiculado pelo canal Casa
do Saber, Disponível em:
http://youtu.be/Jsjn49FxJLc

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REALE, Miguel. Lições preliminares do
direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
Capítulo IV – O mundo ético.
O MUNDO ÉTICO:
• Juízos de realidade e valor
• Estrutura das normas éticas
• Formas da atividade ética.
JUÍZOS DE REALIDADE E DE VALOR
As normas éticas não envolvem apenas um juízo de valor sobre os comportamentos humanos, mas
culminam na escolha de uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade. Da tomada de
posição axiológica ou valorativa resulta a imperatividade da via escolhida, resultado de um complexo
processo de opções valorativas, no qual se acha, mais ou menos condicionado, o poder que decide.
A característica da imperatividade do Direito é essencial para compreensão da experiência jurídica
ou moral.
Apesar de não se poder negar que, no ato de aprovar uma lei, haja sempre certa margem de decisão
livre, e, às vezes, até mesmo de arbítrio, na realidade a obrigatoriedade do Direito vem banhada de
exigências axiológicas, de um complexo de opções que se processa no meio social, do qual não se
desprende a autoridade decisória.
Toda norma enuncia algo que DEVE SER, em virtude de ter sido reconhecido um valor como razão
determinante de um comportamento declarado obrigatório.
Juízo é o ato mental pelo qual atribuímos certa qualidade a um ser, a um ente. Se, p. ex., digo que “a
Terra é um planeta”, estou ligando ao sujeito “Terra” uma qualidade: a de ser planeta, e não estrela ou
cometa. A ligação feita entre o sujeito e o predicado é tida como necessária, sem o que não temos,
propriamente, um juízo. A ligação entre o sujeito e o predicado pode ser de duas espécies: (i)
indicativa ou (ii) imperativa. @joseeduardosilverioramos 8
JUÍZOS DE REALIDADE E JUÍZOS DE VALOR
Em todo juízo lógico, cuja expressão verbal se denomina proposição, há
sempre um sujeito de que se predica algo. A união entre o sujeito e o
predicado pode ser feita pelo verbo copulativo SER ou, então, pelo verbo
DEVER SER, distinguindo-se, desse modo, os juízos de realidade (SER) dos de
valor (DEVER SER).
Representando esses dois tipos de juízos (de realidade e valor):

“S” quer dizer “sujeito”, e “P” indica o “predicado” da proposição @joseeduardosilverioramos 9


JUÍZOS DE VALOR – domínios da Ética: Moral e Direito
Nos domínios da Ética (Moral e Direito), os juízos de valor assumem caráter
de obrigatoriedade conferido ao valor que se quer preservar ou efetivar.
O legislador descreve uma hipótese e ocorrendo o fato (SER),
correspondente à hipótese, determina que algo deva ser (DEVER SER), com
a previsão de diversas consequências, caso se verifique a ação ou a
omissão, a obediência à norma ou a sua violação.
Ex. Código Civil:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.

HIPOTESE FATO @joseeduardosilverioramos 10


HIPÓTESE x FATO
FATO
HIPÓTESE Acontecimento acabado; evento, ocorrência: a
Possibilidade considerada válida antes de sua fiscalização das barracas ilegais é agora um fato.
confirmação; suposição. Coisa cuja realidade pode ser comprovada; verdade,
realidade: "contra fatos não há argumentos".
Situação ou ação que pode se realizar ou não; Etimologia (origem da palavra fato). A palavra fato
eventualidade: tenho a hipótese de mudar de com esses sentidos deriva do latim "factum", com o
emprego. sentido de "feito, façanha".
Etimologia (origem da palavra hipótese). Do grego Sinônimos de Fato
hypóthesis.eos. Fato é sinônimo de: acontecimento, ocorrência,
evento, realidade, verdade.
Sinônimos de Hipótese Antônimos de Fato
Hipótese é sinônimo de: pressuposição, Fato é o contrário de: inverdade, mentira
pressuposto, presunção, eventualidade, conjectura,
suposição Fonte Dicionário Online de Português, disponível em
Antônimos de Hipótese https://www.dicio.com.br
Hipótese é o contrário de: verdade, realidade, fato
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HIPÓTESE LEGAL
Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e FATO JURÍDICO
causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral,
comete ato ilícito (art. 186, CC)

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ESTRUTURA DAS NORMAS ÉTICAS
Toda norma ética expressa um juízo de valor, ao qual se liga uma sanção,
uma forma de garantir-se a conduta que, em função daquele juízo, a
conduta é declarada (1) permitida, (2) determinada ou (3) proibida.
A necessidade de ser prevista uma sanção, para assegurar seu
cumprimento, revela-nos que a norma enuncia algo que deve ser.
A previsão de um dever, suscetível de não ser cumprido, põe-nos diante
de um problema que envolve a substância da estrutura normativa. É que
toda norma é formulada no pressuposto essencial da liberdade que tem o
seu destinatário de obedecer ou não aos seus ditames.
Uma norma ética se caracteriza pela possibilidade de sua violação,
enquanto que não passaria pela cabeça de um físico estabelecer uma lei
no pressuposto de sua não-correspondência aos fatos por ele explicados.
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ESTRUTURA DAS NORMAS ÉTICAS
Compreende-se a diferença radical quando se pensa que a norma tem por objeto
decisões e atos humanos, sendo inerente a estes a dialética do sim e do não, o
adimplemento da regra, ou a sua transgressão. É essa alternativa da conduta positiva ou
negativa que explica por que a violação da norma não atinge a sua validade. A regra,
embora transgredida e porque transgredida, continua válida, fixando a responsabilidade
do transgressor.
A imperatividade de uma norma ética, ou o seu dever ser não exclui, mas antes pressupõe
a liberdade daqueles a que ela se destina. É essa correlação essencial entre o dever e a
liberdade que caracteriza o mundo ético, que é o mundo do dever ser, distinto do mundo
do ser, onde não há deveres a cumprir, mas previsões que têm de ser confirmadas para
continuarem sendo válidas.
A norma ética estrutura-se como um juízo de dever ser, estabelecendo (i) uma direção a
ser seguida e (ii) a medida da conduta considerada lícita ou ilícita.
Ex. Código Penal.
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: II - em legítima defesa;
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem.
Homicídio simples: Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
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ESTRUTURA DAS NORMAS ÉTICAS
As palavras guardam o segredo do seu significado. O termo “regra” vem do latim regula.
Da palavra latina originária regula derivaram dois vocábulos para o português: “régua” e
“regra”. Que é régua? É uma direção no plano físico. Que é regra? É a diretriz no plano
cultural, no plano espiritual.
(...) a palavra norma, que lembra aquilo que é normal, traduz a previsão de um
comportamento que, à luz da escala de valores dominantes numa sociedade, deve ser
normalmente esperado ou querido como comportamento normal de seus membros.
A norma é, em geral, configurada ou estruturada em função dos comportamentos
normalmente previsíveis do homem comum, de um tipo de homem dotado de tais ou
quais qualidades que o tornam o destinatário razoável de um preceito de caráter genérico.
A regra representa um módulo ou medida da conduta. Cada regra nos diz até que ponto
podemos ir, dentro de que limites podemos situar a nossa pessoa e a nossa atividade.
Qualquer regra, que examinarem, apresentará esta característica de ser uma delimitação
do agir; regra costumeira, de trato social, de ordem moral ou jurídica, ou religiosa, é
sempre medida daquilo que podemos ou não podemos praticar, do que se deve ou não se
deve fazer.
OBS. Normas e regras são sinônimos na linguagem do Direito. @joseeduardosilverioramos 16
NORMA JURÍDICA prescreve condutas: (1) permitida, (2) determinada ou (3) proibida.
(1) Conduta permitida: Código Penal. Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o
fato: II - em legítima defesa; Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem.
(2) Conduta determinada: Código Penal. Omissão de socorro. Art. 135 - Deixar de prestar
assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou
extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo;
ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
(3) Conduta proibida: Código Penal. Homicídio simples: Art. 121. Matar alguém: Pena -
reclusão, de seis a vinte anos.
Matar alguém (art.
121, CP). Pena
reclusão 6 a 20 anos

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FORMAS DA ATIVIDADE ÉTICA
Quanto às espécies das normas éticas, essas podem ser discriminadas
em função das diferentes finalidades que os homens se propõem.
A ética formal de Kant, a Ética do dever pelo dever, é substituída pela
Ética material de valores, do filósofo alemão Max Scheler, de modo que
toda e qualquer atividade humana, enquanto intencionalmente dirigida à
realização de um valor, deve ser considerada conduta ética.
Sob o prisma do conteúdo axiológico das atividades éticas, é possível
discriminar as espécies fundamentais de normas em função de alguns
valores.
Os valores mais relevantes são o BEM INDIVIDUAL e o BEM COMUM

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BEM INDIVIDUAL E BEM COMUM
Todos procuram alcançar o que lhes parecer ser o “bem” ou a felicidade. O fim que se
indica com a palavra “bem” corresponde a várias formas de conduta que compõem, em
conjunto, o domínio da Ética. Esta pode ser vista sob dois prismas fundamentais:
a) o do valor da subjetividade do autor da ação: o ato é apreciado em função da
intencionalidade do agente, o qual visa, antes de mais nada, à plenitude de sua
subjetividade, para que esta se realize como individualidade autônoma, isto é, como
pessoa. A Ética, vista sob esse ângulo, que se verticaliza na consciência individual,
toma o nome de Moral, que, desse modo, pode ser considerada a Ética da
subjetividade, ou do bem da pessoa.
b) O do valor da coletividade em que o indivíduo atua: quando a ação ou conduta é
analisada em função de suas relações intersubjetivas, implicando a existência de
um bem social, que supera o valor do bem de cada um, numa trama de valorações
objetivas, a Ética assume duas expressões distintas: a da Moral Social (Costumes e
Convenções sociais); e a do Direito.

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Próximas aulas:

Aula 5 – Direito e Moral

Referência: Miguel Reale. Lições Preliminares de Direito. Capítulo IV - DIREITO E MORAL


A teoria do mínimo ético; Do cumprimento das regras sociais; Direito e coação; Direito e
heteronomia; Bilateralidade atributiva; Breves dados históricos; Confronto com as normas
de trato social.

Aula 6 – Conceito de Direito


Referência. Miguel Reale. Lições Preliminares de Direito.
Capítulo V – CONCEITO DE DIREITO – Sua estrutura tridimensional. A intuição de Dante;
Acepções da palavra “Direito”; Estrutura tridimensional do Direito.
Capítulo VII – Sanção e Coação – A Organização da Sanção e o Papel do Estado

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