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8 de março de 2021

INTRODUÇÃO AO
ESTUDO DO DIREITO
8 de março de 2021

A NORMA JURÍDICA

As Normas Jurídicas são regras imperativas pelas quais o Direito se


manifesta, e que estabelecem as maneiras de agir ou de organizar, impostas
coercitivamente aos indivíduos, destinando-se ao estabelecimento de
harmonia, da ordem e da segurança da sociedade humana.
As normas impõem regras de conduta para que possam ser atingidas
condições ideais de ordem e de segurança, indispensáveis ao convívio do
homem numa sociedade. Vale dizer-se que elas estabelecem uma linha ideal
de comportamento que, sendo obedecida criteriosamente por todos os
indivíduos, ou punindo todos aqueles que prefiram se desviar dela, influirá de
maneira decisiva, amoldando o modo de agir de cada pessoa e, assim,
estabelecendo uma sociedade organizada.
Pela própria finalidade, toda norma é dotada de imperatividade, isto é, de
comando. Dela emerge sempre uma ordem, cuja obediência se impõem, tendo
em vista principalmente o fim colimado, que é a paz e a segurança de todos os
indivíduos que constituem a coletividade, o grupamento social.
No que concerne à imperatividade da norma, há que se fazer, todavia,
uma bipartição, tendo em vista o maior ou menor rigor do seu enunciado, a
dependência ou não em relação a um fato.
Assim é que ressaltam dois tipos de comandos, perfeitamente
caracterizados, denominados, respectivamente, “imperativo categórico” e
“imperativo hipotético”.
O imperativo categórico, como a própria denominação nos faz concluir, é
taxativo, não permite qualquer flexibilidade quanto ao entendimento de sua
aplicação. Ele determina incisivamente que se deve agir de uma maneira e não
dá margem a qualquer alternativa.
As normas de imperativo categórico são geralmente expressas ela
fórmula: DEVER SER “A”.
É uma fórmula simples, ou seja, constituída de um só elemento,
denominado: enunciado, dispositivo ou consequência.
Assim, há uma obrigação, um dever a ser cumprido incondicionalmente
pelo destinatário da norma. Essa obrigação, esse dever, tanto poderá ser no
sentido positivo, fazer alguma coisa, como no sentido negativo, não fazer
alguma coisa, isto é, deixar de fazer alguma coisa.
8 de março de 2021
É missão fácil exemplificar-se uma norma imperativo categórico positivo
ou de imperativo categórico negativo, tomando-se por base a moral, os
costumes e a religião.
Quando as normas dizem: “ Respeite a fila”, “Silêncio”, “Honrar pai e
mãe” etc., praticamente está determinando uma forma de conduta pela qual
alguém deverá agir da maneira indicada em relação a outrem.
É imperativo categórico positivo, porque ordena ao destinatário da norma
que proceda como indicado pela mesma, sem quaisquer alternativas. Deve ser
assim, dessa maneira!
Quando, por outro lado, a norma diz: “É proibido fumar”, “É proibido falar
com o motorista” etc., está exigindo, exatamente, que o sujeito deixe de fazer;
que se abstenha de realizar algo em relação a alguém, daí o imperativo
categórico negativo.
Transportemos tais exemplos para a fórmula indicada (DEVE SER “A”),
encontraremos então os correspondentes imperativos categóricos, quais
sejam: DEVE SER “respeitada a fila”; DEVE SER “feito silêncio”, DEVEM SER
“honrados pai e mãe”; NÃO SE DEVE “fumar”; NÃO SE DEVE “falar com o
motorista”.
O imperativo hipotético é menos taxativo, já admitindo uma certa
flexibilidade, pois o comando que emerge da norma somente se aplica à
hipótese prevista pela mesma. Isso significa que a maneira de agir somente
tornar-se-á obrigatória quanto perfeitamente enquadrada na hipótese
correspondente, ou nas demais hipóteses previstas. Fora isso não há
obrigatoriedade por parte do destinatário da norma. Há, portanto, uma
razoável flexibilidade do comando normativo.
Também as normas de imperativo hipotético têm a sua fórmula, que é a
seguinte: SE FOR “B”, DEVE SER “A”.
Trata-se nesse caso de uma fórmula composta, isto é, constituída de mais
de um elemento ou partes.
Há, na fórmula, duas partes. Cada uma dessas partes possui denominação
própria. SE FOR “B”, é a hipótese, suposto ou fato, enquanto que DEVE SER “A”,
é o enunciado, dispositivo ou consequência.
A diferença entre as duas fórmulas é que na de imperativo hipotético o
enunciado ou dispositivo fica na dependência de acorrer uma hipótese ou fato,
enquanto na de imperativo categórico não depende de nenhuma ocorrência,
havendo uma ordem pura e simples para ser obedecida em quaisquer
circunstâncias.
8 de março de 2021
Inspirados na concepção formalista do Direito, exposta magnificamente
por HANS KELSEN, segundo a qual o Direito é norma e, como tal, uma
vinculação íntima e lógica de um fato a uma consequência, vários autores
atribuem ser a norma jurídica um exemplo típico de norma de imperativo
hipotético, no que têm razão, pois, em regra, é assim, embora sejam
conhecidas exceções.
Não resta a menor dúvida de que a maioria das normas jurídicas se
enquadra no tipo representado pela fórmula do imperativo hipotético; não,
porém, a totalidade delas.
Para ilustrar o acima dito, analisemos algumas normas jurídicas
rigorosamente de imperativo hipotético:

a) Diz o artigo 1.223, do novo Código Civil:


“ Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do
possuidor, o poder sobre o bem (...)”.

Usando a fórmula SE FOR “B”, DEVE SER “A”, conclui-se que, se for
cessado o poder sobre o bem, ainda que contra a vontade do possuidor, deve
ser perdida a posse desse bem.
Nesse caso, a perda da posse dependerá de ocorrer a hipótese ou o fato
que é a cessação do poder sobre a coisa. Não havendo cessação desse poder
sobre a coisa, perda da posse não haverá, no exemplo dado. Logo, a cessação
do poder sobre o bem é a hipótese, suposto ou fato, enquanto que a
consequência, dispositivo ou enunciado é a perda da posse.
Ainda utilizando o mesmo novo Código Civil, constata-se outro exemplo:

b) Diz o artigo 1.521, inciso I:


“ Não podem casar: I. os ascendentes com os descendentes, seja o
parentesco natural ou civil”.

Temos agora o exemplo de imperativo hipotético de sentido negativo, isto


é, ordem hipotética proibitiva.
Transportemos o exemplo à fórmula SE FOR “B”, DEVE SER “A”.
Constatamos então a presença, nesse caso, de duas hipóteses ou fatos distintos
para uma única consequência ou disposto. Se for “ascendente e o parentesco
natural” (1ª hipótese), ou se “for ascendente e o parentesco civil” (2 ª
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hipótese), “não pode casar”, ou seja, deve ser “proibido o casamento” com o
descendente (consequência).
Em todos os demais ramos do Direito, e não apenas no Direito Civil,
encontraremos normas predominantemente de imperativo hipotético.
Citemos, apenas para ilustrar, dois deles:

a) Diz o artigo 14, parágrafo 2º, da Constituição Federal:


“Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros, (...).”

Logo, “se for estrangeiro” (hipótese ou fato), “deve ser proibido alistar-se
como eleitor” (consequência).

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