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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO DO CAMPUS DE SANTA RITA

PROF. MSC: NEWTON DE OLIVEIRA LIMA.

DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA.

CARGA HORÁRIA: 90 H/A.

ALUNO: ERICLESTON LOPES DE QUEIROZ MEDEIROS.

TURMA 2º PERÍODO MANHÃ.

AVALIAÇÃO DA III UNIDADE. 10 PONTOS

 1)      Explique no que consiste a norma hipotética fundamental e como ela assegura a


validade lógica do Direito. 2.5 pontos.

2)      Explique a formulação da legitimidade da coerção jurídica a partir de Kelsen


tendo a vista o caráter obrigatório da norma. 2.5 pontos.

3)      Na transformação da normatividade jurídica, indique e discorra sobre o


fundamento lógico da unidade sistêmica. 2.5 pontos.

4)      No fundamento da imputação jurídica indique em o que consiste a objetividade


normativa e, por outro lado, qual o papel do sujeito de direito na relação imputativa
em Kelsen. 2.5 pontos.
Respostas:

1) A norma hipotética fundamental, ou, norma fundamental dita por Kelsen seria a
norma superior a todo o ordenamento jurídico, uma norma fundadora de toda a
constituição, presente no objetivo central de todo o ordenamento. Seria por meio
desta norma que se encontraria a lógica, a coesão e a validade no ordenamento.

A saber, colocaremos a critica com a ideia de moral no direito. Kelsen admite que o
direito possa abranger a moral, no entanto não necessariamente, pois a moral não se
constitui um caráter universal, e assim para que se possa escapar de uma moral
impositiva e não legitima, existiria uma norma lógica que estaria acima de qualquer
moral e responsável pela legitimação das normas, ou seja, uma norma fundamental.
Com isso quero dizer que por estar presente na vontade geral a norma fundamental
legitima todo ordenamento não sendo necessário que se pressuponha um valor
moral ao ordenamento. Contudo em uma visão mais critica admitamos que Kelsen
ainda prende-se aos valores de um mínimo de liberdade, de manutenção da ordem e
da paz tão presentes em Kant, o que juntamente com o principio racional lhe ajudará
a elaborar sua teoria, assim também observamos que há um mínimo de valores, mas
que estes já ganham um contorno diferente.

Mas o interessante é que apesar de a norma fundamental ainda ser norma, esta não
estaria positivada por nenhum poder, nem poderia ser limitada por nenhum
legislador ou juiz. Admitindo-se que ela legitime o ordenamento, mas não depende
de processo formal nem positivação para ser legítima. Com isso queremos
reconhecer o caráter superior desta norma em relação as demais. Já agora livres de
grande parte das limitações que se podem atribuir a esta norma, podemos atentar ao
ponto que Kelsen se desvencilha da corrente jus naturalista do direito conservando
uma ideia de pressuposto lógico presente nas normas para que estas se tornassem
tanto um objeto de estudo do direito, como norma legitima.
É, portanto a partir desses novos pressupostos lógicos que o direito ganha validade e
que a norma ganha significado e legitimidade, fazendo-se sua interpretação através
da ciência do direito e de uma norma fundamental pressuposta.

2) Segundo Kelsen a coerção jurídica estaria legitimada justamente por já existir uma
norma que determina um ato como ilícito, e que por convenção social seria um ato
nocivo a sociedade e que por isso deve ser sancionado e coagido. A norma é a
garantidora da paz e da liberdade, na sociedade e para o individuo. É por meio da
coerção estabelecida na norma que se pode sancionar um ato ilícito e por meio disto
garantir que o individuo cumpra com a norma.

A norma é obrigatória por que assim estabelece o ‘dever ser’ e este ‘dever ser’
regrará o ser em suas atitudes, caso o individuo descumpra com esse ‘dever ser’ a
norma por ser obrigatória e por instituir este ‘dever ser’ permitirá ao Estado
sancionar o ato ilícito. Ora se a norma é obrigatória ela deve ser obedecida, se não é
obedecida deve-se obrigar, ou, sancionar o individuo para que a obedeça.

Em Hans Kelsen a coerção tanto é legitima para que se faça valer a norma quanto
para que se atenda um anseio da sociedade. Como está presente no trecho:

“Finalmente, o conceito de sanção pode ser estendido a todos os atos de coerção


estatuídos pela ordem jurídica, desde que com ele outra coisa não se queira
exprimir se não que a ordem jurídica, através desses atos, reage contra uma
situação de fato socialmente indesejável e, através desta reação, define a
indesejabilidade dessa situação de fato.” (Hans Kelsen, 1881-1973, P.28).

Sendo assim a norma ganha seu caráter obrigatório tanto pela vontade da sociedade
quanto pelo seu pressuposto lógico. Em síntese a norma instituidora da ordem, é
legitima de coerção por instituir os pressupostos lógicos e garantir liberdade e a paz
social. Mas oque não se pode esquecer é que mesmo uma norma sendo arbitrária e
fira os direitos da liberdade - ou mesmo o que depois ficará conhecido como
dignidade humana – esta ainda não perderá seu caráter normativo.

É nesse sentido de que a norma por ser lógica possui caráter obrigatório e coercitivo
que podemos entender então que a lógica esta acima de qualquer valor, ou seja, a
coerção é válida independente de valor ou moral, mas sim pela logica e
obrigatoriedade da norma. É neste ponto que voltamos a uma das principais
características da teoria pura do Direito, a existência da GRUNDNORM ou norma
fundamental, a qual fornece a logica ao sistema e, portanto logica a norma, é através
desse pressuposto - que deve estar presente em toda e qualquer norma – que a
norma adquiri a legitimidade de coerção, mas também de coesão e validade.

3) Tento em mente que o ordenamento jurídico Segundo Kelsen, não admite a


existência de antinomias reais no ordenamento, podemos então afirmar que o
fundamento lógico da GRUNDNORM garante coesão ao sistema. Para ficar mais
claro podemos dizer que todo o ordenamento é feito segundo um pressuposto
lógico, e esse pressuposto lógico estará presente em todas as normas garantindo
assim uma unidade.

Nesse pensamento é possível ainda aprofundarmos na que Kelsen admite que pode
existir um aparente conflito entre normas, mas que por meio da norma fundamental
estes conflitos podem existir. Por exemplo, quando uma norma anterior entra em
conflito com uma norma posterior, deduziríamos que Lex posterior derogat priori. E
assim por meio de decisões lógicas garantimos que o ordenamento se mantenha
coeso.

No entanto ainda há outro ponto interessante que é o da ligação lógica entre as


normas no sentido de uma descreve um determinado comportamento e outra
específica uma sanção, como fica claro neste trecho.
“Já num outro contexto fizemos notar que, quando uma norma prescreve uma
determinada conduta e uma segunda norma estatui uma sanção para a hipótese da
não-observância da primeira, estas duas normas estão essencialmente interligadas.”
(Hans Kelsen, 1881 – 1971, p. 39)

Ou seja, é ainda interessante notar que em seu livro Hans Kelsen acaba interligando
as normas, pois atribui a elas uma série de objetivos - há as que atribuem direitos e
deveres - e na medida em que uma atribui um direito a um indivíduo a outra atribui
uma obrigação.

Podemos observar isto muito bem em várias de nossas normas da constituição de


1988 em que as normas mais gerais ficam situadas na constituição e outra lei trata
dos casos específicos.

4) A objetividade normativa é exatamente o que garantirá a maior diferença entra a


causalidade e a imputação, sendo o Direito detentor do principio da imputação e a
causalidade apenas uma análise de causa e efeito. A imputação estará junto ao
direito e, portanto será objeto de estudo da ciência jurídica junto a norma. Ora se é a
própria norma que garante a imputação, esta será objeto da norma.

Além do mais, as normas são feitas imbuídas de objetivos, que no caso seria o
‘dever - ser’ e este ‘dever - ser’ é tanto ação como omissão. Portanto a imputação
age sobre o ‘dever - ser’ na medida em que para cada ato ilícito corresponderá a
uma imputação. Aí entramos em um assunto delicado que nos faz ligar todo o
assunto, o agir da imputação que apenas age em detrimento de um ato e não em
detrimento do ser. Quando um indivíduo age de forma ilícita para este ato ilícito é
imputável determinada norma, mas apenas se o individuo age em sua plena
capacidade. Um indivíduo com sua capacidade limitada não é imputável, mas sim
suas ações.

Kelsen afirma que as ações não são separáveis dos indivíduos como afirmava a
teoria tradicional, mas ainda sim a imputação discorre no ato e não no sujeito. O
sujeito de direito é nesta relação imputativa o aplicador do ato, por tanto
responsável por ele se em plena capacidade.

JOÃO PESSOA
SETEMBRO DE 2013

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