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Normas de competência – novo

“Posições jurídicas” é noção que englobará todas as posições de um sujeito (e também


de objetos e situações relevantes para o direito) em relação a alguma norma: direitos,
deveres, ônus, responsabilidade, válido, nulo etc.

Desde o nascimento (com vida), os sujeitos de direito são titulares de inúmeras posições
jurídicas, as quais vão mudando de diferentes maneiras.

Uma delas é a ocorrência de fatos que atraem a incidência de normas, fazendo surgir
alguma posição jurídica.

Exemplos:

João bateu no carro de Maria causando-lhe danos; João passou a ter a posição jurídica
de devedor de uma indenização e Maria passou a ter a posição jurídica de credora dessa
indenização.

Paula, empregada de Joana, engravidou e, com isso, passou a ter a posição jurídica de
provisoriamente estável no emprego, incluindo 120 dias após o parto e Joana passou a
ter a posição jurídica de ser obrigada a assegurar essa estabilidade.

Outra maneira fundamental de alterar posições jurídicas é através do exercício de uma


posição jurídica sui generis: o poder ou competência legal.

Essa posição jurídica consiste em autorizar determinado sujeito a mudar a posição


jurídica de algum sujeito (de si mesmo, ou de outro, que é o caso mais importante aqui),
através de uma mera declaração unilateral de que esta alteração está feita.

Essa é, aliás, um uso muito especial da linguagem e que está na base da construção
coletiva da realidade social (v. Searle), o que explica que ele esteja presente nos mais
diversos tipos de contextos, além do jurídico.

Exemplos paradigmáticos:
O patrão diz para seu empregado “Você está despedido” e ele passa a ter a posição
jurídica de “despedido”, apenas com essa declaração.

A Prefeitura declara que uma obra está interditada e esta obra se torna interditada com a
mera declaração da Prefeitura.

O Presidente da República diz que um trecho de um projeto de lei está vetado e o trecho
passa a ter a posição jurídica de vetado.

O chefe de departamento declara a reunião do departamento aberta e passa a existir uma


reunião do departamento em andamento.

Um juiz determina a intransferibilidade de um bem e este bem se torna intransferível


com a mera declaração.

Como se vê, a existência desta posição jurídica aqui nomeada “competência legal”, ou
seja, o poder de produzir uma nova posição jurídica apenas por declará-la existente,
requer a existência de normas que fixem:

O tipo de situação fática à ocorrência da qual a competência concreta de alguém existirá

O tipo de sujeito a quem a competência é atribuída

O tipo de efeito a ser produzido

O tipo de ato não carece ser indicado, porque será sempre uma declaração, cujo
conteúdo será determinado pelo tipo de efeito que a norma autoriza o sujeito a produzir.

Tem-se, assim, que toda norma de competência é dotada da seguinte forma lógica.

 Se for dada uma situação concreta do tipo F, então é hipoteticamente


possível um sujeito do tipo S produzir um efeito jurídico (uma
transformação da posição legal de alguém ou de alguma coisa) do
tipo J.

 A sentença em amarelo diz-se a parte antecedente da norma


 A sentença em azul diz-se a parte consequente da norma

 E o operador lógico ‘Se..., então’, em rosa, une ambas as partes em um


vínculo de implicação.

O operador “é hipoteticamente possível” é diferente dos operadores deônticos


tradicionais e não se mostra redutível a algum deles. Ele assinala, precisamente, a
possibilidade do efeito ser produzido, na hipótese de o sujeito vir a declará-lo como tal.

É importante distinguir entre a produção de uma nova posição jurídica, no plano na


realidade puramente institucional, e a realização de situações empíricas a ela associadas,
ou seja, a materialização da posição jurídica criada.

Enfim, é fundamental atentar para uma distinção importante. O exercício de um poder


sempre se faz através de algum “procedimento”, num sentido pré-teórico de sequência
lógico-normativa de atos (noção a ser analisada em seguida).

Os atos que integram essa sequência são regidos por normas específicas, as quais serão
aqui denominadas, de modo deliberadamente genérico e não rigoroso, de “normas
procedimentais”.

Nem os atos que integram essa sequência se confundem com os atos de exercício da
competência, nem as normas que regem esse procedimento se confunde com as normas
de competência.

Assim, as normas procedimentais relativas a determinada competência podem mudar,


sem afetar em nada a norma de competência em tela.

Por exemplo: o art. XXX da CF atribui ao TTT a competência de, enquanto que as
normas que disciplinam o procedimento legislativo estão espalhadas em vários,
incluindo o art. CCC da CF.

Se o art. CCC mudar, a norma de competência continua a mesma.

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