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processo e o fundamento
constitucional da tutela de
urgência
DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV
PROF. MARCELO LIMA GUERRA
“Em nosso parecer, bastaria a norma constitucional haver adotado o
princípio do due process of law para que daí decorressem todas as
conseqüências processuais que garantiriam aos litigantes o direito a
um processo e uma sentença justa. É por assim dizer, o gênero do
qual todos os demais princípios constitucionais do processo são
espécies”. (Nélson Nery Jr.)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal
Daí apenas se pode extrair é que, qualquer invasão que se faça nas esferas
jurídicas dos sujeitos de direito (bem como a recomposição dessas mesmas
esferas, quando já invadidas), seja o resultado de um “método” – o “processo”
– inspirado em certos valores, disciplinado por normas legais.
Em que consiste esse método, quais são os valores que devem inspirar as
normas que o disciplinam, são elementos não indicados pela norma que se
extrai do referido dispositivo constitucional, ao menos numa interpretação
literal.
O sentido de ‘devido processo’:
O mesmo se pode dizer, por exemplo, e com maior amplitude ainda, com relação
à disciplina dos processos judiciais constante no CPC/1973 e aquela constante no
CPC/2015.
Tal exigência foi acolhida no inc. XXXV do art. 5o da Constituição Federal como
um dos valores constitucionais do processo, gozando, portanto, de status de
direito fundamental e integrando, obviamente, o modelo constitucional de
processo brasileiro, e será aqui considerada como o núcleo do quanto assegurado
pelo direito fundamental à tutela efetiva
No ordenamento brasileiro, assim como em qualquer outro ordenamento do
mundo ‘civilizado’ atual, a prestação de tutela jurisdicional não pode ser
instantânea.
Quer dizer, não é autorizado pelo ordenamento que a tutela jurisdicional seja
prestada antes de determinado momento, antes de serem cumpridas certas etapas,
isto é, antes de ser realizado um certo percurso.
Já a duração patológica, não existe qualquer justificativa normativa para que ela
exista, em face do que ela deve, em condições ideais, simplesmente não existir.
A duração do processo, mesmo aquela fisiológica, pode trazer obstáculos à
realização da máxima coincidência possível (ou efetividade da tutela
jurisdicional), ou seja, pode impedir, no todo ou em parte, que o processo dê à
parte que tem razão tudo aquilo e exatamente aquilo que o ordenamento lhe
assegura obter através do processo (= realização do postulado da máxima
coincidência possível).
●
A palavra (= termo) 'cão’ designa, por outro lado, o conjunto dos
itens individuais que possuem as propriedades constitutivas do
conceito também designado pela palavra ‘cão’.
●
A importância fundamental destas distinções é a seguinte:
●
É fundamental estar atento para quando se está falando de
“palavras”, de “conceitos” e de “fenômenos” ou “coisas”.
●
A falta de clareza quanto a isso tem sido fonte de infindáveis
discussões inúteis, em particular no direito.
●
Quando um item individual possui as propriedades constitutivas de
um conceito, diz-se que ele é uma “instância” desse conceito, ou
que “se subsume” a ele.
●
A coleção de itens individuais que são dotados das propriedades
(características, características) que constituem determinado
conceito é denominada, em lógica, de “classe”.
Os conceitos podem ser instanciados por:
●
O conceito designado pela construção linguística ‘campeão da Copa
do Mundo de futebol de 1970’ é instanciado por apenas um item
individual.
●
O conceito designado pela construção linguística ‘primeiro ser
humano a habitar em Júpiter’, é instanciado por nenhum item
individual.
●
Ambiguidade x Vagueza
●
A ambiguidade é fenômeno relativo a termos: diz-se que um termo
é ambíguo, quando ele expressa dois ou mais conceitos distintos.
Ex.: ‘banco’, ‘manga’ etc.
●
A vagueza é fenômeno relativo a conceitos: que um conceito é vago
quando, em alguns casos é difícil ou impossível determinar se um
determinado item se subsume ou não nesse conceito. Ex.: “alto”,
“tempo reduzido”, “quente”, “careca”.
●
O que é X?: Diferentes respostas para diferentes perguntas
●
1. ‘X’ significa o mesmo (expressa o mesmo conceito) que ‘Y’
●
2. X possui as propriedades constitutivas do conceito Y
●
3(a). X é conceito incluído no conceito Y
●
3(b). X é conceito que melhor se compreende do conceito mais
preciso Y
(1) Definição de um termo: a indicação do conceito ao qual ele, o termo,
está associado (definição nominal).
(2) Definição de um item individual: a indicação do (essencial ou
principal) conceito do qual esse item seria uma instância (definição real).
(3) Definição de um conceito:
(a)indicação de um conceito mais amplo (mais básico) no qual este
conceito estaria incluído (análise conceitual básica).
a aplicação de penas
Base normativa desta caracterização mínima da
jurisdição
(a) O F é um G
(b) Um F é um G
(c) Os Fs são Gs
A característica comum de todas as sentenças com as formas
indicadas é que elas padecem de uma ambiguidade padrão: todas
elas servem tanto para dizer algo de um ou alguns itens individuais,
como para dizer algo de um conjunto de itens individuais que
instanciam determinado conceito. E este problema está,
precisamente, no termo ou expressão utilizada para substituir a
variável ‘F’ da forma lógica acima. Exemplos esclarecerão
rapidamente esse ponto.
2. “O F é um G”
Considere as sentenças:
2a] A baleia é uma jubarte
2b] A baleia é um mamífero.
No primeiro caso, se atribui a um item individual, que alguém vê nadando no oceano, a posse de uma
série de propriedades que constituem o conceito (tipo natural) designado pela expressão (convencional)
‘jubarte’.
No segundo caso, se atribui a todo e qualquer item individual que possuam as propriedades que
constituem o conceito (tipo natural) designado pela expressão ‘baleia’, a posse de uma série de
propriedades que constituem o conceito (científico-taxonômico) designado pela expressão (convencional)
‘mamífero’
2a*] O item individual referidos (diretamente) pela expressão ‘O F’ possui a série de
propriedades que constituem o conceito (tipo natural, científico, operacional etc.) designado
pela expressão ‘G’, convencionalmente instituída para veicular tal conceito.
2b*] Os itens individuais, quaisquer que ele sejam, que pertençam à classe definida pelas
propriedades que constituem o conceito (tipo natural, científico, operacional etc.) designado
pela expressão ‘O F’, possuem a série de propriedades que constituem o conceito (tipo natural,
científico, operacional etc.) designado pela expressão ‘G’, convencionalmente instituída para
veicular tal conceito.
“Clearing the air”
Por isso elas não são verdadeiras, nem falsas, porém úteis ou inúteis para
determinado contexto e para determinado fim.
(a) existência
(b) satisfação
Daí se identifica, naturalmente, duas classes de tutelas jurisdicionais:
(i) aquela relativa à existência de direitos subjetivos
(ii) aquela relativa à satisfação de direitos subjetivos
Classificação das tutelas jurisdicionais
Segundo o critério aqui utilizado, não há necessidade de criar nenhuma outra classe de tutela
jurisdiciona
Classificação das tutelas jurisdicionais
A tutela lato sensu declaratória, por sua vez, se submete a uma divisão
posterior:
A tutela constitutiva é aquela com a qual direitos subjetivos são criados ou extintos,
pela eficácia da própria sentença constitutiva. Assim, quando João leva ao conhecimento
do juiz que os direitos que Pedro alega existir, na realidade não existem, porque decorrem
de um contrato nulo, em sendo anulado tal contrato pelo juiz, através de sua sentença
constitutiva, extintos estarão os direitos e correspondentes deveres que dele derivavam. É
sempre nesse sentido que opera a tutela constitutiva: operando uma alteração na mera
realidade jurídica, invalidando ou complementando (em casos bem mais raros) atos e
negócios jurídicos, de modo a, com isso extinguir ou fazer surgir direitos subjetivos.
As tutelas meramente declaratórias e constitutivas são prestadas com a
emissão de uma única providência jurisdicional, a saber, uma sentença
declaratória e uma sentença constitutiva, respectivamente.
A tutela executiva é aquela consistente na satisfação concreta de
determinado direito subjetivo.
Ela pode ser prestada (ser o efeito) tanto por uma única providência
jurisdicional (por exemplo, a imposição de uma multa coercitiva), como
por uma técnica jurisdicional constituída ppor várias providências
articuladas (por exemplo, penhora de empresa).
Não é correto falar na existência de uma “tutela condenatória”,
prestada pelas assim chamadas sentenças condenatórias, como
integrando a tutela lato sensu declaratória, junto às tutela
meramente declaratória e constitutiva.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
O segundo dado relevante é este: a tutela de urgência será concedida por providência
atípicas (não tipificadas), mas sempre que forem satisfeitos os requisitos estabelecidos
no próprio art. 300, a saber:
Juntando ambos os dados, pode-se afirmar, sem grande esforço hermenêutico, que o
efeito jurídico que caracteriza a tutela de urgência é o combate às situações descritas
como perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.
Tutela jurisdicional e tutela de urgência
Dos diversos dispositivos que disciplinam a tutela de urgência, se verifica que ela será
sempre prestada quando ainda não se sabe se determinado direito, meramente alegado,
de fato existe ou não. Com efeito, a tutela de urgência será sempre prestada antes ou no
curso de um outro processo, que vise, esse sim, à tutela (definitiva) de um direito
subjetivo – seja para declará-lo existente ou não, seja para satisfazê-lo concretamente.
A conclusão que se extrai daí, facilmente, é que a tutela de urgência não consiste num
efeito jurídico que se traduza numa proteção de qualquer forma a um direito subjetivo.
Até porque, antes do final de um processo em que se tem um direito controvertido, não
há que se falar, rigorosamente, em “direito a ser tutelado”.
Tutela jurisdicional e tutela de urgência
Diante disso, tem-se que a tutela de urgência, por fundamental que ela seja, também não
pode, assim como a tutela condenatória, ser colocada ao lado das tutelas declaratória e
executiva, como uma categoria própria de tutela jurisdicional de direito subjetivo,
propriamente dita.