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Lic.

Ângelo dos Santos


Teoria Geral do Direito Civil - “TGDC”

CAPÍTULO V – RELAÇÃO JURÍDICA


5.1 – Legitimidade da temática da relação jurídica;
5.2 – Conceito de relação jurídica;
5.3 – Estrutura jurídica da relação jurídica;
5.4 – Elementos da relação jurídica

5.2 - Conceito de relação jurídica

A expressão relação jurídica pode ser entendida e estudada em dois (02) sentidos:
sendo um sentido amplo e outro restrito ou técnico.

Relação jurídica em sentido amplo: é toda a situação ou relação da vida social


relevante para o Direito (juridicamente relevante), isto é, produtiva de feitos jurídicos
e, portanto disciplinada pelo direito.

Relação jurídica em sentido restrito ou técnico: é toda a relação da vida social


disciplinada pelo Direito, mediante atribuição a uma pessoa de um direito subjectivo e
a imposição a outra de um dever jurídico ou de sujeição.

Para além da conceitualização em dois sentidos, há ainda a Relação Jurídica em


sentido abstracto e concreto.

Relação jurídica em sentido abstracto: é uma relação virtual que equivale a


determinado tipo tal como ele está regulamentado na lei, quer dizer, corresponde ao
tipo negocial legal.

Relação jurídica em sentido concreto: é uma relação jurídica individualizada em


que as regras da relação abstracta ganham vida num caso concreto, mediante
aplicação a este caso concreto do tipo regulamentado na lei, ou seja é uma relação
jurídica existente na realidade.

INSTITUTO JURÍDICO

Entende-se como sendo o conjunto de normas legais legais que estabelecem a


disciplina de uma série de relações jurídicas em sentido abstracto, ligados por uma
afinidade, normalmente a de estarem integradas no mesmo mecanismo jurídico ou ao

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serviço da mesma função. Designa o conjunto de preceitos legais relativamente às


relações jurídicas de um determinado tipo.

5.3 - Estrutura da Relação Jurídica

A estrutura da relação jurídica é o seu centro ou cerne é o vínculo, o nexo, a ligação


que existe entre os sujeitos. A relação jurídica se desencadeia essencialmente tendo
por base elementos internos e externos.

São elementos da estrutura externa da relação jurídica: Sujeitos, Objecto, Facto


Jurídico e Garantia. Ao passo que são elementos da estrutura interna: o direito
subjectivo, um dever jurídico e uma sujeição.

5.3.1 - O Direito Subjectivo

O Direito Subjectivo pode definir-se como o poder jurídico (reconhecido pela ordem
jurídica de a uma pessoa) de livremente exigir de outrem um comportamento positivo
(acção) ou negativo (omissão) ou de por um acto livre de vontade, produzir
determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa
(contraparte ou adversário).

DIREITO POTESTATIVO

São poderes jurídicos de, por um acto livre de vontade, só de per si ou integrado por
uma decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que inclusivamente se impõem à
contraparte.

Os direitos potestativos podem ser constitutivos (aqueles que produzem a


constituição de uma relação jurídica por acto unilateral do seu titular, como por
exemplo servidão de passagem art.º 1.550.º; comunhão forçada art.º 1.370.º direito
de preferência art.º 1.117.º, 1.380.º, 1.499.º, 1.535, e 1.555.º todos do CC) ,
modificativos (aqueles que tendem a produzir uma simples modificação numa
relação jurídica existente e que continuará a existir, embora modificada, como por
exemplo mudança de servidão art.º 1.568.º CC) e extintivos (aqueles que tendem a

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produzir a extinção de uma relação jurídica existente, como por exemplo do


arrendamento pelo senhorio art.º 1.047.º CC, revogação do mandato art.º 1.170.º CC,
direito de obter divócio art.º 78.º C.F).

5.3.2 - O Dever jurídico e a sujeição

O lado passivo da relação jurídica traduz-se num dever jurídico ou numa sujeição.
Numa acepção muitíssima lata podemos englobar as duas situações na noção de
obrigação.

No dever jurídico, que corresponde aos direitos subjectivos propriamente ditos, o


sujeito do dever tem a possibilidade prática de não cumprir expondo-se embora a
sanções.

5.3.3 - Relação jurídica simples e relação jurídica complexa

Ao referir-se ao conteúdo da estrutura da relação jurídica, o direito subjectivo


propriamente dito e o dever jurídico ou o direito potestativo e a sujeição, estamos a
considerar a relação jurídica simples ou singular.

Tratando-se de relações emergentes de contratos obrigacionais, esse quadro,


estrutura ou sistema de vínculos emergentes do contrato, numa posição recíproca de
instrumentalidade e interdependência, coordenadas pela sua procedência do mesmo
contrato e pela sua colocação ao serviço do fim contratual amplamente entendido, é
uma relação jurídica em sentido amplo ou complexa.

A relação jurídica complexa, contém elementos essenciais nomeadamente: Ónus


Jurídico e Expectativa Jurídica.

Entende-se por Ónus Jurídico, como sendo a necessidade de adopção de um


comportamento para a realização de um interesse próprio. O onerado não deve, pode
livremente praticar o u não um certo acto, mas se o não praticar não realizará certo
interesse.

Por sua vez, a Expectativa Jurídica é a situação activa, juridicamente tutelada,


correspondente a um estádio dum processo complexo de formação sucessiva de uma
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direito, ou seja, é a possibilidade juridicamente tutelada, de aquisição de um direito,


estando já parcialmente verificada a ralação jurídica complexa, constitutiva desse
direito.

5.4 - Elementos da Relação Jurídica

Anteriormente já nos referimos sobre os elementos da estrutura externa da relação


jurídica. São estes que iremos nos ocupar de definir agora, nomeadamente: sujeitos,
objecto, facto jurídico e a garantia.

5.4.1 - Os sujeitos da Relação Jurídica

Noção e Modalidade

Sujeitos da Relação Jurídica são pessoas entre quem se estabelece o enlace, o


vÍnculo respectivo. São os entes susceptível de serem titulares de direitos e
obrigações, ou seja, de serem titulares de relações jurídicas.

Sujeitos são aqueles a quem são atribuídas posições, activas ou passivas, em


situações jurídicas.

É de todo importante que se tenha em atenção o posicionamento de certas correntes


doutrinárias, segundo a qual, existem situações jurídicas em que, pelo menos
aparentemente parece faltar um dos sujeitos jurídicos, como é por exemplo o caso da
doação (art.º 952.º CC) e sucessão mortis causa ( al. a) do n.º 2 do art.º 2033.º CC).

5.4.2 - O Objecto da Relação Jurídica

Noção, objecto e conteúdo

fala-se de objecto da relação jurídica para referir o objecto do direito subjectivo que
constitui o lado activo da mesma relação.

O objecto de uma relação jurídica é precisamente o “quid” sobre que incidem os


poderes do seu titular activo.

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Assim, diz-se, o objecto é aquilo sobre que recaem os poderes do titular do direito,
ao passo que o conteúdo, é o conjunto dos poderes ou faculdade que o direito
subjectivo comporta.

O objecto da relação jurídica se distingue entre objecto imediato e objecto mediato.

Neste sentido, objecto imediato é o conjunto (ou binómio) direito-vincula..o, de que,


respectivamente, é titular o sujeito activo e a que está adstrito o sujeito passivo.

Este conjunto, ou cada um dos seus elementos, não faz sentido em si mesmo; tem de
se reportar a algo, o bem que o Direito assegura ao sujeito activo e por intermédio do
qual se realiza o seu interesse. Esse bem constitui o objecto mediato da relação
jurídica.

Fazendo apelo a conhecimentos já adquiridos, esse bem é, nas relações


obrigacionais, a conduta a que o devedor fica obrigado, a prestação, e, nas relações
reais, a coisa sobre que incide o poder do sujeito activo. Coisas e prestações
constituem os bens de maior significado, como objecto mediato da relação jurídica,
mas não o esgotam.

Por seu turno, o objecto mediato é a própria coisa que deve ser entregue ao credor,
na verdade, ao contrário do titular dos direitos reais, o credor só tem direito à coisa
através da prestação do devedor.

Com efeito, adoptada a técnica dos elementos da relação jurídica em sentido amplo,
torna-se possível subordinar o estudo de toda a relação jurídica a essa mesma ideia,
enquanto na outra concepção ele se reparte entre o seu conteúdo e os seus
elementos. Não sendo um ponto fundamental, não parece, contudo, possível reduzir
o problema a pouco mais do que uma questão de terminologia.

5.4.3 - O Facto Jurídico


Noção

É todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante. Esta


relevância jurídica traduz-se na produção de efeitos jurídicos.

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A multiplicidade de factos constitutivos da relação jurídica torna-se evidente ao


assinalar que integram esta categoria, tanto eventos da própria natureza, como outros
em que intervém o homem, nomeadamente através de uma manifestação da sua
vontade.

Assim, fala-se em factos jurídicos naturais ou involuntários e factos jurídicos


humanos voluntários. Para os primeiros reserva-se, em sentido próprio, a expressão
facto jurídico (stricto sensu), ou seja, são estranhos a qualquer processo volitivo, ou
porque resultam de causas de ordem natural ou porque a sua eventual voluntariedade
não tem relevância jurídica; os segundos são como actos jurídicos que resultam da
vontade como elemento, ou seja, são manifestações ou actuações de uma vontade;
são acções humanas tratadas pelo direito enquanto manifestações de vontade..

Em sentido rigoroso, quando se considera um certo evento como elemento da relação


jurídica, este reporta-se ao facto constitutivo. Entretanto, com a relação jurídica
interferem factos jurídicos dotados de eficácia diversa, quer modificando uma relação
já existente, quer extinguindo-a. Para os identificar, em contraposição aos factos
constitutivos, dizem-se estes modificativos e extintivos.

5.4.4 - A Garantia da Relação Jurídica

É o conjunto de providências coercitivas, postas à disposição do titular activo de uma


relação jurídica, em ordem a obter satisfação do seu direito, lesado por um obrigado
que o infringiu ou ameaça infringir. Ou seja, é a possibilidade própria das relações
jurídicas, de o seu titular activo pôr em movimento o aparelho sancionatório estadual
para reintegrar a situação correspondente ao seu direito, em caso de infracção, ou
para impedir uma violação receada.

A garantia consiste, em termos gerais, na tutela específica que o Direito confere a uma
relação social, ou seja, abarca todos os meios coercitivos postos pelo sistema jurídico
à disposição do titular do poder, para ele obter a realização efectiva do seu interesse.
A garantia existe assim em estado latente na relação jurídica, apta a ser actuada
quando o sujeito passivo não adopte voluntariamente a conduta a que se encontrava
vinculado.

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A mais significativa manifestação da garantia, em particular nas relações jurídicas


civis, é o direito de acção, ou seja, o poder atribuído ao titular do direito de recorrer
aos tribunais – como órgãos soberanos do Estado – para obter o seu reconhecimento
e, tanto quanto possível, a realização efectiva do interesse correspondente. Mas,
como a seu tempo se verá, além deste meio coercivo em que intervém um órgão do
Estado – os tribunais – e que se diz pública, subsistem, ainda hoje, embora a título
excepcional e com alcance muito menos significativo, meios de tutela do titular do
direito que consistem numa actuação deste e que, por isso, constituem a chamada
tutela privada.

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