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Aula 1

A sociedade europeia de Estados herdou elementos de seu passado medieval e


greco-romano, e transmitiu muitas de suas instituições e práticas a nossa atual
sociedade mundial. Quais eram os seus princípios básicos e suas instituições e
práticas organizacionais?

Cap. 13: A Europa Medieval

A natureza da sociedade medieval

A sociedade medieval europeia difere muito da Antiguidade Clássica, mas


correspondeu a um período extremamente criativo que permitiu o desenvolvimento
de uma série de instituições modernas, tais quais a democracia parlamentar
(inglaterra; John Lackland).

O período medieval no ocidente foi marcado por grandes dificuldades, como as


invasões e o declínio da vida urbana, do comércio e da agricultura. Ainda assim,
houve tentativas de se estabelecer pontes com o período anterior. Entre elas,
destacam-se o SIRG, fundado por Carlos Magno e, principalmente, a máquina
administrativa da ICAR, instituição que melhor representava a continuidade e a
universalidade. Em outras palavras, a Cristandade representou a comunhão dos
europeus medievais em um cenário politicamente e culturalmente fragmentado.

As origens da nacionalidade e do Estado

As Relações de Suserania e Vassalagem inviabilizavam a construção de uma


unidade política única, na medida em que impediam que o Rei medieval detivesse o
monopólio sobre o uso da força (poder militar pulverizado entre os nobres); A
Europa Medieval não era um sistema de Estados.

O governo e a autoridade funcionavam de maneira diferente nas duas metades da


Cristandade, e isso afetou o desenvolvimento do SI. Nos últimos séculos da IM, os reis da
França gradativamente adquiriram um grande poder e puderam se firmar como uma
autoridade efetiva. Na Inglaterra, os reis plantagenetas puderam efetivar a autoridade real
antes que em outros lugares. Esses novos estados embrionários, no entanto, ainda eram mais
áreas administrativas do que domínios linguísticos e culturais → A lealdade centrava-se na
coroa e em quem a usava.

Na metade oriental da Cristandade, a Igreja lutava para reafirmar sua supremacia


diante do poder temporal do imperador. Dessa disputa, originou-se, em parte,
nossas ideias sobre a separação da Igreja e do Estado, e da separação dos
poderes.
As grandes famílias reais não tinham noção alguma de estar limitadas a uma
“nação”. A estrutura administrativa do SIRG e o intenso patriotismo local das
cidades italianas prejudicaram o desenvolvimento do Estado-nação na porção
oriental da Cristandade.

O desenvolvimento comercial e urbano característico da baixa idade média


ocidental permitiu o início de um processo de centralização política e de
fortalecimento das monarquias nacionais. No entanto, os estados embrionários do
Ocidente ainda não constituíam unidades políticas e culturais por completo. Esses
estavam, na verdade, mais próximos de regiões administrativas.

Não estava à altura das grandes famílias medievais (como os Plantagenetas e os


Hohenstaufen) aspirar a organizar a Europa sobre uma base hegemônica, tal como
viria a acontecer posteriormente.

Em função das ligações com a terra, as noções de pertencimento e solidariedade se


davam em dimensões muito mais locais.

Atitudes medievais com relação à guerra e à justiça

A fragmentação política contribuiu para tornar a cristandade medieval em uma era


de violência difusa e local.

A justificativa para uma guerra entre cristãos tornou-se uma preocupação para a
Igreja, que debateu as fontes de legitimidade para os conflitos que ocorressem no
interior da Cristandade (São Tomás de Aquino abordou o tópico). Isso demonstrava
a necessidade de colocar o uso da força a serviço da manutenção da ordem,
especialmente em um cenário fragmentado.

As empreitadas militar comumente possuíam justificativas legais, relacionadas à


legitimidade do domínio de um nobre sobre determinado território. Por conta disso, a
Justiça e a argumentação jurídica estavam presentes no cotidiano medieval.

No Medievo, cada pessoa possuía direitos baseados em sua posição econômica e


social, e o fazer Justiça relacionava-se à afirmação de tais direitos.

Os métodos para se alcançar o veredito sobre alguma controvérsia legal no


Medievo permanecem relevantes para a atual sociedade internacional: um deles era
o julgamento e veredito por parte dos pares (semelhante ao que ocorre no Conselho
de Segurança da ONU); e o outro o duelo, que muitas vezes estendia-se até se
tornar uma guerra.

A Expansão da Europa
As consequências da expansão europeia e de seu posterior declínio são alguns dos
aspectos mais importantes da ordem global.

Os movimentos de expansão medieval possuíam inspiração primordialmente


religiosa, mas também havia motivos comerciais.

O desenvolvimento da Sociedade de Estados europeia foi condicionado por suas


origens medievais.

A expansão do sistema internacional europeu foi uma continuação da expansão da


Cristandade medieval.

Cap. 14: O Renascimento na Itália (O Stato)

O Renascimento, fenômeno essencialmente italiano, foi importante tanto do ponto


de vista cultural quanto pela evolução do conceito de Estado e das relações entre os
Estados (especialmente entre 1420 e 1527).
● 1420: Fim do Cisma do Papado
● 1453: Chegada de intelectuais bizantinos que ajudaram a reviver a cultura
clássica
● 1492: Viagens de Colombo; deslocamento do centro da cristandade para a
fora da Itália
● 1527: Saque de Roma pelo imperador Habsburgo, estabelecendo o domínio
Habsburgo e francês na região até o século XIX.

A essência do Renascimento foi o Humanismo, ou seja, o movimento concentrou


suas atenções no Homem e em suas realizações potenciais.

Destacam-se, como pontos fundamentais do Renascimento no contexto trabalhado,


o acesso direto à experiência clássica e a
construção de um espírito crítico e
investigativo, que veio a ser aplicado às artes
da Guerra e do Estado.

Os humanistas italianos, embriagados pela


Grécia e Roma antigas, prestigiaram
especialmente a estrutura política da
República romana, e não o Império, tal como
faziam os medievais.

A Itália daquele período era notavelmente


semelhante à antiga Hélade.

Os Estados Italianos
A Itália na época, era uma colcha de retalhos de cidades e principados Suas 5
principais potências eram Nápoles, Roma, Florença, Milão e Veneza e entre essas
interpunha-se uma multidão de Estados menores.

A Capital do Renascimento Italiano foi Florença, controlada na prática pela rica


família Médici.

● O principal nome da família, Lorenzo, foi um astuto estadista, preocupado em


controlar não apenas Florença, mas também toda a cena política italiana.

● Roma era o centro político da Itália. Os Papas romanos, notadamente os


Borgia, viam-se ao mesmo tempo como lideranças espirituais e políticas,
como estadistas (a César Bórgia, político astuto e eficaz, Maquiavel dedicou
seu O Príncipe).
● Veneza, antigo assentamento bizantino, proporciona a ligação econômica
entre o Levante e a Cristandade para além dos Alpes.

O Stato
A contribuição da Itália do Renascimento foi desenvolver novas técnicas de
aquisição e consolidação do poder real dentro de um território e estendendo-se para
além dele. A esse poder era dado o nome de Stato, semelhante ao que nós
entendemos como status-quo ou Estado, no sentido de uma autoridade
governamental ou da forma política de uma nação.

O problema central dos governantes italianos era como conferir legitimidade ao


Stato. Para isso, cabiam os conselhos de Maquiavel, que enxergava a política com
olhos desprovidos de moralismo.

Exércitos Contratados

As operações militares passaram a ser uma questão de realismo, e não mais de


direitos, como fora no medievo. Tornou-se claro, no período, que os ganhos
materiais eram os tendões da guerra, e que o poderio militar era um braço do
poderio econômico.

Para assegurar seu poder, as cidades italianas se valeram da contratação de


exércitos mercenários, visto que o modelo medieval não mais servia.

A Diplomacia Residente
Os príncipes italianos foram de grande importância para o diálogo diplomático na
Europa

Ao contrário do que ocorria no Medievo, em que se valia principalmente de relatos e


rumores transmitidos por viajantes, as famílias italianas instituíram uma longa teia
de informações que visava detectar ameaças e oportunidades estratégicas e
econômicas. Para isso, contava-se com agentes enviados ao exterior de forma fixa,
cuja missão era enviar e receber informações dos governantes. Essa é a origem do
sistema moderno de diplomatas e embaixadas.

O Equilíbrio de Poder

Os governantes dos Statos italianos ansiavam por expandir e reforçar o seu poder,
e reconheciam a necessidade de vigilância contra outros que poderiam representar
uma ameaça. Assim, através do diálogo diplomático, instituiu-se a meta anti-
hegemônica consciente de um equilíbrio de poder, algo até então inédito.
● O controle sobre a expansão veneziana, promovido por Milão e Florença,
demonstrou, em última instância, que não era interessante para nenhuma
cidade-estado caso outra assumisse a proeminência na península.

Texto de Resumo
Cap. 15: O Renascimento na Europa - O Stato fora da Itália
transformar a suserania medieval de seus domínios em Statos territoriais, pondo
eles próprios na qualidade de senhores absolutos de seus domínios.

● Toda a dissolução da autoridade da Idade Média seria obrigada a ceder ao


poder real.

O rei que melhor aprendeu os modos italianos foi


Luís XI de França, que reduziu sistematicamente o
poder das grandes famílias nobres, da Igreja e do
Parlamento.

No SIRG, acabaram-se formando uma série de


Statos ao invés de apenas um, muito em função da
estrutura política do Império.

Maximiliano de Habsburgo fez uso de seu poder


como Imperador eleito para construir um Stato
Habsburgo pessoal, por meio de métodos italianos
e de casamentos dinásticos, o que o permitiu a ele
criar uma ampla faixa de domínios hereditários e
de alianças na Europa central. Ainda assim, os
Habsburgos ainda não almejavam a construção de um projeto de hegemonia
continental.

O fato de a Alemanha não ter se constituído em um reino único, e sim em um


conjunto fragmentado e equilibrado de statos foi comemorado por França, visto que,
caso contrário, o SIRG se tornaria uma força hegemônica na Cristandade

● Tornou-se política francesa, então, apoiar qualquer grupo ou movimento que


ajudasse a manter o império dividido.
No intuito de evitar a dominação francesa na Itália, o Papa estabeleceu a Santa
Liga, uma coalizão anti-hegemônica cimentada por um casamento entre a família
real espanhola e os Habsburgo. Tal medida representou uma tentativa de se
estabelecer, em escala continental, um equilíbrio de poder, tal qual ocorrera na
península itálica.

Em suma, a expansão das ideias renascentistas na Europa pôs o continente na


direção de um novo sistema fragmentado em Statos territoriais que não
reconheciam nenhuma autoridade geral. Desse modo, mostrou-se necessário
coordenar as relações externas, no intuito de evitar a supremacia de um reino sobre
os demais. -> Medida de coesão e estrutura estratégica para a Europa
Aula 2:

Cap. 16: A Tentativa Hegemônica dos Habsburgo

Os Efeitos da Reforma sobre o Sistema de Estados Europeu


A Reforma distorce de forma inesperada as artes do Estado ligadas ao
Renascimento.

A primeira parte da reforma relaciona-se ao alemão Martinho Lutero, que divulgou


suas teses em 1517. Possuía um caráter mais moderado. Foi um movimento nativo
da metade oriental da cristandade e encontrou aceitação principalmente entre
alemães e escandinavos.

A segunda parte, ligada ao francês João Calvino, foi mais radical, na medida em
que, além de negar o Papa e certas doutrinas, rejeitava a estrutura da Igreja
universal, apontando para o aumento no poder das congregações.

● Esse princípio foi estendido por alguns calvinistas como próximo a ideais
republicanos, pois indicava que o poder político, assim como o religioso, era
inerente ao povo.

● Cresceu em influência na parte ocidental da Cristandade, especialmente na


Grã-Bretanha, nos países baixos e em terras francófonas.

A principal inspiração dos protestantes era a Bíblia (back to the fonts), e a


interpretação dos textos indicava a defesa de uma Europa desintegrada, composta
por Estados livres e independentes.

Embora a Contra-Reforma católica não tenha sido suficiente para restaurar a


unidade na Cristandade, essa deu à parte da Igreja que permaneceu fiel ao papado
um novo poder.

● Os Habsburgo se tornaram porta-vozes daqueles que preservaram a visão


imperial de uma Cristandade unida.

Com a emergência das Reformas, uma série de guerras religiosas se espalhou pela
Europa, na qual, movidos por suas consciências individuais, vizinhos se voltaram
contra vizinhos.

As reações dos governantes europeus


Poder-se-ia esperar que o aumento das tensões sociais promovido pelos conflitos
religiosos levaria ao enfraquecimento dos projetos nacionais, pois impediria a
criação de um sentimento fraterno para com outros cidadãos e para com o Príncipe.
No entanto, não foi isso que aconteceu: A diminuição da influência da Igreja
universal veio a fortalecer os Príncipes, e não enfraquecê-los. Além disso, o apoio
dos luteranos incentivou a independência dos príncipes alemães.

Os recém criados Estados, diante da emergência de conflitos religiosos, se punham


diante de uma escolha: Deviam os príncipes se aliar aos Habsburgos, maior
potência da época e comprometida com a Contra-Reforma ou enfrentá-los, por
quaisquer motivos?

● Em diversos casos nos quais esse dilema se fez presente - França,


Inglaterra, Espanha, SIRG…) prevaleceu o conceito renascentista de
Ragione di Stato, ou seja, o sentido prático das ações.

A Reforma não era, originalmente, anti-hegemônica, mas tornou-se em função da


aliança dos Habsburgos com a Igreja Católica. Na verdade, a principal contribuição
da Reforma foi ter deixado os Estados emergentes na Cristandade mais diferentes e
menos dependentes de uma autoridade central.

O Papel do Império Otomano

A expansão otomana na Europa oriental e no Mediterrâneo dificultou a construção


de um sistema de Estados na Cristandade

Os turcos-otomanos viam nos Habsburgo os principais adversários para a sua


expansão na Europa.

● Como potência anti-hegemônica, a França decidiu realizar acordos com os


invasores muçulmanos (1536)

● Nesse contexto, os turcos fizeram uso de Estados contrários aos Habsburgo


para espalhar a desordem na Europa cristã e enfraquecer seus principais
rivais

● Com isso, foi evitado o desenvolvimento de uma hegemonia na Europa, de


modo que o continente caminhou crescentemente para um cenário marcado
por múltiplas potências que lutavam entre si.

Desse modo, durante alguns séculos o Império Otomano foi, de fato, uma
importante peça no cenário europeu. No entanto, suas notáveis diferenças culturais
impediram sua definitiva integração na sociedade internacional da Europa. Isso
traria consequências futuramente, especialmente no século XIX.

A Hegemonia dos Habsburgo


O contexto de internacionalização dos ideais renascentistas de política, a eclosão
das guerras religiosas e o temor em relação aos turcos favoreceram o
desenvolvimento de uma
hegemonia, pois havia a ideia de
que uma certa ordem era
necessária para substituir o antigo
modelo. Somado a isso, os
territórios controlados pelos
Habsburgos eram esparsos, de
modo que suas políticas deveriam
ser articuladas em relação à
Europa como um todo.

A postura dos Habsburgo se


mostrava conservadora em
diversos aspectos: pretendiam, inspirados no passado medieval, unir a Cristandade
contra os invasores muçulmanos, em plano externo, e contra as heresias, no plano
interno; defendiam a legitimidade dinástica, a partir da qual poderiam sustentar seu
projeto.

Essa tentativa hegemônica, no entanto, não se concretizou, muito por conta da


postura diante dos protestantes.

Aula 3: O regime do sistema internacional de 1560


A Europa de Cateau-Cambresis

1 - A cena internacional

A paz dinástica

A Europa de Cateau-Cambrésis nasceu sob o duplo signo da bancarrota e da


heresia, e nunca fugiu às poderosas influências que assistiram ao seu nascimento.
Em 1557, a insolvência ameaçava tanto os Valois
(Henrique II) quanto os Habsburgos (Felipe II), e a
paz entre as duas casas tornou-se uma questão de
tempo. Além disso, o avanço do Protestantismo
também era uma grande ameaça. Não havia sentido
em permanecer em uma guerra ao mesmo tempo em
que a dissidência religiosa ameaça a coesão interna
do reino.

As negociações de Paz, no entanto, foram dificultadas


pelo falecimento de Maria Tudor, rainha da Inglaterra
e esposa de Felipe II dos Habsburgo. A Aliança entre
a Inglaterra e a Espanha foi um feito de grande
importância do Reinado de Carlos V, pai de Felipe II,
e agora as relações entre os dois países estavam
abaladas, pois não se sabia qual seria a postura da
nova rainha, Isabel I, em termos de religião e política
externa. A preocupação de Felipe era mais relevante ainda tendo
em vista a influência que a França de Henrique II exercia na
Bretanha, especialmente na Escócia.
● A negociação de paz entre Inglaterra, França e Espanha só
seria possível com a devolução de Calais por parte da França
para a Inglaterra. Quando esse tópico foi finalmente posto em discussão, as
negociações se iniciaram, e tinham como palco o castelo abandonado de
Cateau-Cambresis.

O Primeiro tratado de Cambrésis, assinado em 2 de abril de 1559, refere-se


justamente à questão de Calais. A Inglaterra, apesar da insistência, não recuperou a
cidade, tendo que se contentar apenas com uma indenização por parte da França.

O Segundo Tratado, de maior relevância, foi assinado em 3 de Abril de 1559 e se


referiu ao fim das Guerras Italianas, com a expulsão francesa da Península, que foi
o campo de batalha entre Espanha e França por mais de meio século.
Apesar das dificuldades em se pôr em prática os termos dos tratados, a Europa
Ocidental se encontrava em paz na primavera de 1559. No entanto, esse cenário
mudaria com a morte de Henrique II, que deixou sua mulher, Catarina de Medici.
Seu filho, Francisco II, assumiu com 15 anos.

Por questões dinásticas e um tanto quanto massantes, a França viu a oportunidade


de ver sua influência aumentar exponencialmente na Escócia, o que recuperaria o
prestígio perdido com o Tratado de Cambresis. Nesse cenário, Isabel I se viu
obrigada a contrariar os termos acordados e intervir militarmente na Escócia.

As ações de Isabel preocuparam a Europa, Felipe II


em especial. Caso os Ingleses fossem derrotados,
tanto Escócia como Inglaterra cairiam em mãos
francesas, e os domínios Habsburgo na Holanda
estariam ameaçados. No entanto, como poderia ele,
um católico, auxiliar uma protestante como Isabel? Tal
dilema, religião x interesse de Estado, seria um marco
da política européia da época.

A aventura francesa na Escócia, no entanto, não


surgiu efeito, muito por conta das rebeliões
huguenotes que se iniciavam no Reino da França.
Além de consolidar o poder de Isabel nas ilhas
Britânicas, isso fortaleceu os termos do tratado de
1559.
● Essa realidade foi condicionada, também, pela
notável diminuição do poder da coroa francesa
após a morte de Henrique II, de modo que
havia a necessidade, por parte dos franceses, de evitar novos conflitos com a
Espanha. Em outras palavras, a principal causa da instabilidade europeia no
século foi desativada.

As décadas que seguiram os tratados foram marcadas pela proeminência de Felipe


II nos assuntos europeus. Diferente de seu pai, Carlos V, cujos domínios centravam-
se no SIRG, Felipe tinha a base de seu poder fortemente firmada na Espanha.
● A origem do poder espanhol estava nas riquezas adquiridas com tributos e
com as colônias na América. Essas, no entanto, eram muito mal
administradas.
● A paz conquistada com os tratados não foi homogênea: No Mediterrâneo e
no sudeste da Europa, o imponente Império Otomano causava problemas
para os Habsburgo; no norte, a distante e desconhecida moscóvia começava
a se envolver nos assuntos do Mar Baltico, buscando acesso ao mercado da
região.
As Lutas Confessionais

Embora a paz dinástica estabelecida em 1559 tenha fornecido esperanças de uma


era de tranquilidade na Europa, isso nitidamente não ocorreu. As lutas religiosas
intensificaram-se, reacenderam antigos ódios e fomentaram novos, lançaram uma
nuvem de desconfiança e insegurança sobre o continente.

Desde a época de Carlos V, o advento do Protestantismo havia ajudado a dividir


uma cristandade ameaçada externamente pelo avanço do Islã. Ainda que a Europa
- em especial o SIRG - tenha encontrado certa tranquilidade com o Tratado de
Augsburgo (1555), isso não foi o suficiente para amenizar as disputas religiosas
O Calvinismo, organizado e disciplinado, logo substituiu o Luteranismo na
vanguarda da Reforma. Com a abertura das fronteiras após Cambrésis, os
Calvinistas partiram de Genebra e se espalharam pela Europa, muito por conta do
impressionante poder de divulgação dos escritos de João Calvino. Como reação à
investida calvinista, os príncipes católicos
endureceram em muito a censura.
● Em seus primeiros anos, o Calvinismo
definiu-se fundamentalmente como uma
religião urbana e letrada, visto que dependia
fortemente da palavra escrita.
Posteriormente, os seguidores de Calvino
também conseguiram aumentar sua
influência nos campos.
● O avanço do Calvinismo, no entanto, não
pode ser explicado apenas por questões
econômicas. Essa religião representava um
desejo de auto melhoramento e
autodisciplina que transpassa as barreiras
sociais, por isso cresceu em popularidade.

No intuito de frear o avanço do Calvinismo, a Igreja Católica retoma as reuniões do


Concílio de Trento em 1562. Estavam lançadas as bases para a grande disputa
religiosa do final do século XVI na Europa, uma disputa que mergulhou todo o
continente, tanto em âmbito individual quanto coletivo, em um cenário de tensões e
dilemas.

Essa disputa fragilizou o sistema internacional estabelecido na Europa. Mercadores,


diplomatas, estudantes, todos sentiam o aumento da desconfiança e da incerteza na
medida em que viajavam o continente.

2 - A Economia Europeia
O Baltico e o Leste

Embora as guerras entre Habsburgos e Valois tenham, de fato, abalado o comércio


e as finanças da Europa, não se pode dizer que a Europa do final do século XVI foi
um período de estagnação ou retrocesso do Capitalismo, visto que os principais
desafios para o crescimento econômico permaneciam os mesmos do início do
século: a debilidade das suas instituições financeiras, a inadequação e o elevado
custo dos métodos de transporte prevalecentes e a natureza primitiva da maior
parte das suas técnicas agrárias e industriais.

A integração econômica do Leste Europeu está relacionada ao período pós peste


negra. Na medida em que a população voltava a aumentar, aumentava também a
pressão sobre a terra, o que levou à expansão da agricultura nas regiões a leste do
Rio Elba. Havia, no entanto, uma grande distinção entre as duas metades porções
da Europa: enquanto, na metade ocidental, a servidão feudal entrava em declínio,
na porção oriental ela se fortalecia, na medida em
que os senhores impunham medidas mais severas
para prender os servos à terra.
● Essa não era a única diferença. Na Europa
oriental, ao contrário do que se via no outro
lado do Elba, as cidades não apresentavam
um ritmo de crescimento tão acelerado.
Somado a isso, a nobreza da terra ainda
possuía muito poder, visto que a autoridade
real não havia se consolidado totalmente.
● Na Moscóvia, em específico, observou-se o
aumento do poder central, especialmente a
partir de Ivan IV, concomitante ao
fortalecimento do regime servil.
● Em suma, percebia-se a criação de uma
espécie de relação colonial entre oeste e leste.
Os ricos nobres do oriente intensificaram a
exploração de suas terras para fornecer matérias primas para a indústria
incipiente no ocidente. Em troca, esses recebiam produtos manufaturados.
Essa relação condenou as terras da Europa Oriental a um longo período de
atraso econômico e estagnação social.

Essa configuração da economia europeia, além de favorecer o crescimento


econômico do Ocidente (garantia de madeira, fibras, metais e cereais), levou ao
deslocamento do centro de gravidade econômico da Europa do sul para o norte, em
função da proximidade com as rotas comerciais do Mar Báltico.

O Atlântico e o Mediterrâneo
As riquezas advindas das colônias americanas só começaram a aflorar no
continente europeu a partir da década de 1550, visto que Espanha e Portugal
precisavam de tempo para consolidar, em suas colônias, uma estrutura burocrática
que tornaria viável a exploração econômica.

Havia, por parte dos espanhóis, a justificativa de que Deus conferiu a eles a missão
de catequizar os nativos do Novo Mundo e, em troca, permitiria que eles
explorassem o ouro e a prata daquelas terras. As demais potências contestavam
essa prerrogativa a partir do princípio de liberdade dos mares.

As colônias americanas eram, em última análise, a base do poder de Felipe II, de


modo que se formou, no século XVI, uma grande interdependência entre colônia e
metrópole, uma economia hispano-atlântica de fato.
● No coração dessa economia estava a cidade de Sevilha, detentora do
monopólio sobre o comércio no Atlântico. Monopólio esse que era apoiado
pelo Consulado dos Mercadores de Sevilha, um dos mais poderosos grupos
de pressão do século XVI.

Embora o volume das trocas fosse inferior ao do comércio no Báltico, o comércio


atlântico garantia o fornecimento de prata, essencial para as transações comerciais
no interior da Europa e para garantir o pagamento a soldados e banqueiros.
Percebe-se, então, que as riquezas americanas serviam para “lubrificar” a economia
europeia, e um pequeno atraso no fornecimento de prata poderia levar a uma onda
de falências.
● A bancarrota no qual se encontravam França e Espanha em 1550 fora
causada, em parte, por um momento de estagnação no comércio
transatlântico.

A partir da década de 60, viu-se a retomada do comércio atlântico, que entraria em


seu auge ao longo dos próximos 30 anos. Isso levou a importantes transformações
na economia europeia: o centro de gravidade econômico se afastou do centro e se
moveu em direção às periferias; a economia ligada à terra tornou-se menos
importante que a economia ligada ao mar, em benefício dos portos ingleses e
franceses.

Com a emergência de uma Europa fundamentalmente atlântica, as cidades italianas


do Mediterrâneo perderam muito da importância de outrora. Veneza optou por retirar
recursos de sua marinha e investir na indústria têxtil, o que garantiu um retorno
financeiro expressivo a curto prazo. Gênova, por sua vez, procurou fortalecer os
laços com a coroa espanhola, para impedir que o Mediterrâneo fosse totalmente
excluído dos benefícios do comércio atlântico.
● Os Genoveses se tornaram aliados indispensáveis dos espanhóis,
oferecendo apoio financeiro e naval em troca de concessões e preferências.
A Prata e os Preços

A segunda metade do século XVI foi a era da prata na Europa. O metal branco
advindo das Índias inundavam o continente e o ouro se tornava cada vez mais raro.

A prata que circulava na Europa estava, a grosso modo, restrita às grandes cidades
e relacionada aos negócios de Estado e à compra de artigos de luxo. No meio rural,
o mais comum eram moedas de cobre e de liga.

O período também foi marcado por um notável aumento no custo de vida,


especialmente na Espanha. Alguns intelectuais, como pensadores da universidade
de Salamanca e Jean Bodin, levantaram a hipótese de que a excessiva circulação
de prata pode ter sido a causa para o aumento dos preços. Isso, no entanto, não
pode ser posto como verdade absoluta, visto que esse fenômeno se dava de forma
diferente em cada país.
● Um dado curioso é que o aumento no preço dos cereais foi muito maior do
que o aumento no preço dos manufaturados. Logo, pode-se levantar também
a hipótese de que a inflação estaria relacionada ao crescimento populacional,
que aumentou a pressão sobre a terra.

O aumento na população aumentou exponencialmente o número de esfomeados,


desempregados e moribundos, contribuindo para o agravamento das tensões
sociais.

Em suma, pode-se afirmar que a Europa do século XVI viveu, ao mesmo tempo, o
desenvolvimento da economia, motivada pela integração do Leste e do Atlântico, e
o aumento na desigualdade e na miséria, motivado pelo crescimento populacional e
pela inflação.

3 - O Problema do Estado

A Monarquia

O século XVI assistiu ao aumento no poder das Monarquias em seu conjunto. Os


motivos para isso foram o fortalecimento do Rei, o aumento na eficácia da estrutura
burocrática, um maior número de facilidades financeiras e o endurecimento do
controle sobre as igrejas nacionais.

Para conferir legitimidade ao seu poder, o monarca investia na construção de um


discurso que o apontava como um perfeito representante da vontade de Deus e da
nação. Somado a isso, os adornos e as cerimônias da Monarquia passaram a ser
tratados com muito mais atenção, pois serviriam para realçar o esplendor do Rei e
da Realeza.

A Monarquia na Europa dos anos 1550 ainda era, no entanto, uma instituição frágil,
e os reis muitas vezes ainda se viam dependentes de nobres poderosos, tendo que
agir, portanto, com grande cautela.
● Um pequeno abalo no poder régio poderia pôr a perder um projeto dinástico
de anos.

Esses notáveis da vida política de um reino adquiriam seu poder a partir de suas
possessões territoriais e de sua influência local. Diferente dos nobres feudais, eles
não se valiam das relações de vassalagem, e sim de uma complexa rede de favores
e interesses sutis. No caso francês, destacavam-se entre eles os Guise, os
Montmorency e os Bourbon.

O bom monarca do século XVI era aquele que conseguiria usar o seu capital político
para arbitrar a rivalidade entre essas facções de notáveis, enfraquecendo-as ou
favorecendo-as quando fosse necessário, de modo a governar não acima delas,
mas através delas. Em outras palavras, o bom monarca era uma figura de equilíbrio
entre os distintos grupos de pressão.

A monarquia espanhola, dotada de grandes territórios na Europa e no Novo-Mundo,


tinha em seu auxílio uma grande e complexa estrutura burocrática, que veio a ser
copiada nas outras casas dinásticas. O grande símbolo dessa estrutura era a figura
do secretário de estado, um funcionário competente, disciplinado e que cuja
lealdade era ao Rei, e não a um grupo social ou facção política.

O desenvolvimento de uma estrutura burocrática sólida foi essencial para a


consolidação do poder real. Cercado por funcionários competentes e leais, o
monarca aumentava a eficácia de seu governo e conseguia se sobrepor às facções
que disputavam o poder.

Os Estados Sociais
As assembléias poderiam representar empecilhos para a consolidação do Rei.
Muitas vezes, a voz do parlamento era mais forte do que a voz da própria
Monarquia. Ainda assim, elas poderiam ser vantajosas para atribuir legitimidade a
uma medida pouco popular. O bom Monarca saberia ponderar os pontos positivos e
negativos e usar as assembléias ao seu favor.

Ficou claro, nos anos 60, que o fortalecimento das dissidências religiosas poderiam
aumentar as tensões entre o Rei e os Estados, assim como entre o Rei e a
Aristocracia.
● Os Estados se tornaram palcos para que a Aristocracia expressasse seu
ressentimento, tanto em relação à ascensão de funcionários públicos ao
poder quanto em relação à retirada de seus poderes pelo Rei. Eram, dessa
forma, um meio de oposição política à monarquia, oposição essa justificada
por prerrogativas históricas.

Conforme aumentavam as insatisfações da Nobreza diante do crescente poder


régio, crescia a busca por preceitos jurídicos que garantissem a manutenção dos
privilégios desse grupo. Nesse contexto, juristas da época apontavam para a
necessidade de retomada de leis consuetudinárias, fundamentadas na tradição
regional, em oposição aos preceitos do Direito Romano, que tendiam a beneficiar o
Príncipe. Era, portanto, uma espécie de Constitucionalismo Aristocrático que visava
a defesa dos interesses dos Nobres.
● A partir disso, as assembleias representativas podiam fazer uso da tradição
para justificar maior participação nos assuntos de Estado.

A Unidade Nacional e a Diversidade Religiosa

Somada às dificuldades econômicas e à emergência do Constitucionalismo


Aristocrático, a desunião religiosa tornou muito mais complexa a tarefa do monarca.

A religião era considerada como a base de uma sociedade bem organizada e a


preservação da unidade religiosa era vista como intimamente relacionada à
sobrevivência do Estado. Desse modo, a emergência dos conflitos religiosos foi uma
ameaça real à soberania do Rei e à unidade nacional.

A principal ameaça à ordem na Europa era a união das causas religiosas com as
causas políticas da aristocracia. O Calvinismo, nesse sentido, torna-se ainda mais
preocupante, visto que converteu um número grande de nobres.

O Estado de meados do século dezasseis era, de facto, uma instituição


vulnerável, desprovida de uma base financeira sólida e com um funcionalismo
inadequado. A sua integridade era posta em perigo por dissidentes religiosos
e por nobres indisciplinados, que viam no “constitucionalismo” e na
discordância religiosa uma oportunidade de promover os seus objectivos
privados. Em momentos como este havia razões suficientes para os príncipes
recearem a combinação da agitação aristocrática, popular e religiosa.

Aula 4: A Guerra dos 30 Anos

História das Guerras: Demetrio Magnoli


A Guerra dos 30 anos (1618-1648) foi, por muito tempo, lembrada como a pior
guerra da história europeia. Teve um número de mortes impressionante, dizimou
cidades e vilas inteiras, destruiu colheitas e rebanhos, condenou a Alemanha, um de
seus principais palcos, a um retrocesso de mais de 200 anos.

Para muitos historiadores, a guerra foi uma crise geral que marcou o século XVII
como um século de estagnação e decrescimento econômico, um período que será
lembrado como um tenebroso intervalo entre o século do Renascimento (XVI) e o
século das Luzes (XVIII). Resta saber se a guerra foi a causa ou a principal
consequência dessa crise.

O século XVII foi um século de atraso, guerras, pestes, diminuição no comércio e na


população, e de reação cultural às inovações trazidas pelo Renascimento e pela
Reforma. A Guerra foi, dessa forma, o ponto mais baixo de um momento
especialmente caótico da história europeia.

No final, o conflito permitiu o nascimento de uma nova ordem internacional, na qual


os interesses nacionais sobrepõem-se aos princípios religiosos medievais. os
Estados absolutistas, que se desenvolveram com a crise do feudalismo e o
crepúsculo da Idade Média, ainda tinham na religião a base de suas políticas. Com
o fim da Guerra dos 30 anos, essa base passou a ser o pragmatismo e razão de
Estado.

Guerra Civil Alemã e Conflito Internacional

A Guerra dos 30 anos foi, ao mesmo tempo, uma guerra civil alemã, entre regiões
que queriam autonomia diante do poder imperial e outras que sustentavam o
Império, e um conflito internacional entre os aliados do imperador habsburgo do
SIRG e uma coligação protestante de principados alemães mais a França católica.

Nesse longo conflito, a maior parte das campanhas foi travada na Europa Central.

Havia dois pólos distintos, mas as alianças tendiam a se modificar e a obedecer a


certos conflitos bilaterais específicos.

Os dois blocos do conflito:


● Um bloco encabeçado pela dinastia Habsburgo do rei Fernando da Estíria,
na Áustria e da Hungria, eleito imperador do Sacro Império Romano
Germânico (e depois por seu filho Fernando III), que se aliava com as
regiões católicas da Alemanha, especialmente o rei da Baviera,
Maximiliano I, e se unia, por laços de parentesco e de afinidade política e
religiosa, à maior potência internacional da época: a Espanha, governada por
Felipe III (e depois por Felipe IV). Esse bloco católico recebia também, em
geral, o apoio do papa e da Polônia. De uma maneira esquemática, esse
bloco representava a aliança católica, que chegou a sonhar, num espírito
jesuíta e contra-reformista, em abolir a heresia protestante da Europa. Mas
durante longos períodos ele recebeu também o apoio dos luteranos, como a
Saxônia, e até mesmo dos calvinistas de Brandemburgo.

● Um bloco com os rebeldes protestantes da Boêmia e de diversas regiões


germânicas, especialmente o Palatinado de Frederico V, apoiado pelos
Países Baixos, pela Suécia, pela Dinamarca, pela Inglaterra e pela França
católica. Embora esse bloco lutasse pelo direito dos protestantes, a
“liberdade da Alemanha”, como declarava, contou com apoio fundamental da
França, que, ao ingressar diretamente no conflito em sua fase final, decide
com a Suécia o resultado da guerra.

Durante muitos anos, a França optou por não atuar diretamente no conflito. Sua
principal intenção era criar um terceiro bloco, que se opusesse aos Habsburgo da
Espanha e do SIRG e aos protestantes alemães, suecos e holandeses.
● Em função de seu interesse nacional- enfraquecer os Habsburgo -, os
franceses defenderam os direitos dos protestantes em seu território, mesmo
sendo um país católico.

Entre os vencedores, destacam-se a França e a Suécia, mas não apenas. O


principal derrotado, sem dúvidas, foi o projeto da Contra-Reforma de restaurar o
poder universal do Papado e derrotar o protestantismo na Europa Central e do
Norte. (Espanha e Áustria também saíram derrotadas)

Cada país envolvido possuía seus próprios interesses políticos e econômicos, de


modo que a religião não foi a única distinção no conflito.

A principal potência a emergir após Westfália, do ponto de vista comercial, naval e


militar, foi a Holanda. No entanto, em poucas décadas essa posição seria
transferida para a França e a Inglaterra.

Guerra de Religiões e Guerra Econômica

A Guerra dos 30 anos pode ser entendida como a última de uma série de conflitos
religiosos que tiveram início quando Lutero pregou suas teses, em 1519. Após uma
série de disputas que seguiram isso, uma paz momentânea foi alcançada com o
Tratado de Augsburgo, de 1555.

A Paz de Augsburgo, que dava a cada um dos príncipes germânicos o direito de


escolher entre Catolicismo e Luteranismo, permitiu um breve período de trégua nas
guerras religiosas no SIRG, ao mesmo tempo em que essas ocorriam na Inglaterra
e na França (vide a Noite de S. Bartolomeu). No entanto, no século seguinte, esses
conflitos eclodiram com toda a força.

Nesse momento, já havia nações protestantes estabelecidas, como a Suécia, a


Inglaterra e os países baixos. Essas temiam a hegemonia das monarquias católicas
de Espanha e do SIRG, que pretendiam restaurar a unidade da fé. Logo, esses
países necessitavam de um sistema de alianças.

A expansão do Capitalismo Mercantil nos séculos XVI e XVII levou ao acirramento


das disputas econômicas, especialmente as ligadas ao tráfego marítimo. Diante
disso, a guerra não era apenas um anseio por independência religiosa, mas também
um interesse da burguesia nascente.
● A vitória dos países protestantes, especialmente para holandeses, suecos e
alemães, representou a conquista de uma preponderância comercial dos
países do Norte, diante da derrota da supremacia espanhola e mediterrânea.

O Sacro Império e a Fragmentação da Alemanha

No século XVII, o que se chama hoje de Alemanha era uma grande colcha de
retalhos com mais de 1000 unidades políticas distintas onde se falavam distintos
dialetos germânicos.

O Sacro Império Romano Germânico não era um Estado territorial nem possuía
fronteiras definidas, e abrangia, além das regiões alemãs, diversas nacionalidades
eslavas (na verdade, haveria maior população eslava do que alemã no seio do
Império), além da Hungria. Numa estrutura de tipo feudal, sobrepunham-se
suseranias e soberanias em múltiplas entidades políticas; algumas grandes regiões,
como a Bavária e a Saxônia, outras sem sequer contigüidade territorial. Isso sem
falar de uma série de pequenos principados, ducados ou cidades autônomas e
regiões eclesiásticas controladas por bispados, arcebispados e abadias, além de
pequenos feudos de algumas centenas de cavaleiros imperiais.
Esse conjunto amplo de pequenos, grandes e médios estados dividia-se segundo
lealdades político-religiosas.

Quando criado, em 962, o SIRG tinha como pretensão reivindicar o legado de


Carlos Magno e do próprio Império Romano, de modo a ser sucessor direto da
civilização romana e cristã. Sete, entre os inúmeros nobres do Império, tinham o
poder de eleger o imperador.

Espanha: Império em Decadência

A Espanha era a principal herdeira do grande império de Carlos V, o primeiro a


abranger todos os continentes. Após a renúncia de Carlos em 1555, com a Paz de
Augsburgo, as partes do império se dividiram entre ramos da família Habsburgo. A
decisão pela intervenção no conflito entre os nobres germânicos e o Imperador
levou a Espanha a uma situação de esgotamento militar e financeiro e isolamento
internacional.

Com isso, após Westphalia, a Espanha se tornou uma potência de segunda classe,
cada vez mais subordinada à influência francesa.

A Península Ibérica, que quase permaneceu imune ao Renascimento, também


pouco assimilou da Ilustração e, assim como careceu de uma verdadeira revolução
burguesa democrática, também não acompanhou a revolução industrial,
permanecendo como uma economia essencialmente agrária e pastoril até o século
XX. As raízes desse atraso residem, em grande parte, nas batalhas perdidas pela
Espanha na Guerra dos Trinta Anos, na qual participou
para tentar fazer a Europa retroceder a um estado de
coisas já impossível de ser restaurado.

Holanda: A Província Rica e Rebelde

A luta pela independência das sete Províncias Unidas dos


Países Baixos, numa longa guerra com a Espanha iniciada
1568, apoiava-se numa forte identidade religiosa calvinista
e numa rede de alianças internacionais.

A interferência holandesa na guerra dos 30 anos foi


decisiva, fornecendo tropas bem treinadas, apoio financeiro e uma série de técnicas
militares inovadoras para a época. Com o fim da guerra, a Holanda emergiu como
um dos países mais poderosos, contando com uma grande frota militar e comercial,
uma série de colônias ultramarinas e impressionante desenvolvimento urbano e
cultural

O Tratado de Westphalia foi fortemente influenciado por um jurista holandês, Hugo


Grotius, que escreveu um importante documento, no qual apontava que a liberdade
dos mares era um princípio necessário das relações internacionais.
Até as guerras anglo-holandesas, as Províncias Unidas eram a nação comercial
mais rica e promissora do mundo.

França: A Maior Nação Católica ao Lado dos Protestantes

Após a vitória na Guerra dos 30 Anos, a França viveu um de seus períodos de maior
opulência, marcado pela figura de Luís XIV.

A participação francesa no conflito, de


caráter tardio, foi marcada pelas ações do
Cardeal de Richelieu, que assumiu a
chancelaria do país e continuou uma
política de relativa tolerância interna para
com os protestantes e uma orientação
externa baseada nos interesses nacionais
franceses, rompendo com o pressuposto do
alinhamento confessional nas alianças
internacionais.

A França pretendia ser um terceiro pólo no


conflito, atraindo ao mesmo tempo lideranças católicas e protestantes. No entanto,
vendo-se cercados por seu principal inimigo, a Espanha, os franceses se viram
obrigados a formar alianças e entrar de vez no conflito.

Outros Países

A Suécia encontrou na G30 uma oportunidade de consolidar seu domínio sobre o


Báltico. Para isso, contou com o apoio de um rival histórico, a Rússia, que estava
interessada em neutralizar a Polônia.

A Inglaterra, envolvida na guerra interna entre os apoiadores do rei Carlos I e o


exército de Oliver Cromwell, teve uma participação bem discreta na G30.

A Guerra e suas Fases

A Guerra começou em 1618, com a Defenestração de Praga, quando


representantes do imperador Habsburgo foram atirados de uma janela na Boêmia,
por ameaçarem fechar igrejas protestantes na região. A Boêmia, com isso, rompeu
com o Império.

O novo imperador, Fernando II, reuniu-se com


seus aliados católicos e invadiu a Boêmia.
Com os rebeldes derrotados, declarou o
catolicismo a religião oficial da região,
rompendo, assim, com os termos da Paz de
Augsburgo.

Esse fortalecimento dos católicos ligados ao


Império atemorizou muitos principados
alemães protestantes e, especialmente, os
países que eram rivais da Espanha e da
Áustria, como as nações protestantes —
Suécia, Dinamarca, Holanda e Inglaterra. Mas também a França, que como maior
nação católica da Europa disputava a supremacia na cristandade diante da
Espanha, do Império e do Papado.

O que era uma controvérsia entre alemães se tornou uma questão internacional que
envolvia o controle do centro da Europa e também das rotas comerciais marítimas e
terrestres. A luta entre os principados alemães protestantes e o Império Habsburgo
não era apenas uma disputa religiosa, mas estava em jogo o controle da Europa
num contexto estrutural de crise e estagnação.

O que era uma guerra civil no SIRG se tornou o maior conflito europeu da idade
moderna, na medida em que conjugou uma série de conflitos particulares (França x
Espanha, Holanda x Espanha, Reforma x Contra-Reforma).

1ª Fase: Boêmia (1618 - 1621)

Inicia-se com a defenestração de Praga, com a qual Frederico V, novo rei da


Boêmia, rompe com o Imperador. Os rebeldes boêmios são posteriormente
derrotados na batalha da Montanha Branca por tropas espanholas e imperiais.
Frederico V se exila na Holanda.

2ª Fase: Palatinado (1621 - 1624)

ocorre devido à ocupação dessa região, após a expulsão de Frederico V, porque o


Império e a Espanha, embriagados com seu Sucesso, resolvem acabar com os
direitos até então gozados pelos protestantes — o que inquieta não apenas aos
protestantes alemães, como a Suécia, a Dinamarca, a Inglaterra e as Províncias
Unidas. O avanço dos espanhóis e das tropas do papa na Suíça, por onde
atravessa o eixo vertical da Europa que une o mar do Norte e o Mediterrâneo por
terra, seguindo o percurso fluvial do rio Reno até sua foz, preocupou a França que,
retomando os Alpes, abriu novo front da guerra.

3ª Fase: Dinamarca (1625 - 1630)

A Dinamarca, financiada pela França, iniciou uma ofensiva contra o Império em


apoio a Boêmia e ao Palatinado. No entanto, a ofensiva foi derrotada.

O Imperador Fernando II, ainda mais fortalecido, publica o Édito da Restituição, no


qual retira as concessões feitas aos protestantes na Paz de Augsburgo. Richelieu,
em contraste a essa atitude, concede liberdade de culto aos Huguenotes, os
protestantes franceses (Graça de Alais).

4ª Fase: Suécia (1630 - 1634)

É nessa fase que ocorre realmente a internacionalização da guerra. O rei sueco,


Gustavo Adolfo, lidera um modernizado e poderoso exército contra a Polônia
católica, recebendo apoio russo. Nessa fase ocorre a primeira grande vitória
protestante, com a ocupação de Munique.

Gustavo Adolfo morreu em 1932, interrompendo uma bem sucedida campanha na


Alemanha. No mesmo ano, morreu Frederico V.

5ª Fase: França (1634 - 1648)

É apenas nesse momento em que a balança do conflito começa a pender contra o


Império e os espanhóis. Em um hábil decisão diplomática de Luís XIII, através de
Richelieu, os franceses entram na guerra ao lado dos suecos e holandeses, no
intuito de conquistar os territórios que ambicionavam e derrotar a Espanha.

Nessa última fase, a guerra atinge um pico de destruição. O novo imperador,


Fernando III, recua cada vez mais e começa a fazer concessões. Seu aliado
espanhol, Felipe IV, entra em colapso, com rebeliões eclodindo em Portugal e na
Catalunha e a Holanda ocupando suas colônias.

Estava preparado o terreno para os tratados de paz.

O Fim da Guerra e os Acordos de Westfália


O término da guerra foi sendo negociado no curso de anos, durante os quais
centenas de negociadores de 149 unidades políticas representadas, com séquitos
de milhares de pessoas, realizaram duas conferências simultâneas mas em cidades
diferentes, exigindo que uma vasta rede de correspondência se organizasse entre
ambas cidades westfalianas e o conjunto das capitais envolvidas.

Em 1648, a Espanha enfim concede independência à Holanda, mas prossegue, até


1659, a guerra contra a França.

Os maiores significados do final da guerra para países e blocos de países foram,


principalmente: o fim do Império Habsburgo e da Espanha como potências centrais
(que disputam hegemonia), a emergência da hegemonia holandesa e depois
britânica e o advento do máximo esplendor do absolutismo francês com o Rei Sol.

Sem dúvida, o mais importante resultado do final da guerra foi o surgimento


de um sistema internacional de Estados. Estabelece-se um pressuposto de
reciprocidades, um direito internacional com pactos regulando relações
internacionais, com a livre navegação nos mares e a busca do não
comprometimento do comércio e de civis na guerra. Os Estados deixam de
sujeitar-se a normas morais externas a eles próprios e impõem uma lógica de
dominação pragmática, que passou a ser conhecida desde então pela
expressão “razão de Estado”.

As relações internacionais são secularizadas, ou seja, estabelecidas em


função do reconhecimento da soberania dos Estados, independentemente de
sua confissão religiosa.

Toda a política moderna e contemporânea, baseada no reconhecimento da


legitimidade dos Estados e na constituição de um conjunto político de nações
que se reconhecem como parte de um sistema em que rege um direito
internacional, deriva do modelo criado e formalizado a partir da Paz de
Westfália.

Com os tratados, os vitoriosos receberam concessões territoriais. A França ganha a


Alsácia e mais algumas outras terras; A Suécia consolida seu domínio sobre o Mar
Báltico; As Províncias Unidas e a Confederação Suíça são confirmados como
repúblicas independentes.

Brandenburgo ganha alguns territórios e forma, com isso, as bases para o que viria
a ser o principal Estado alemão: A Prússia.

Centenas de unidades políticas do império tem sua soberania garantida, levando ao


fortalecimento do federalismo. Várias cláusulas defendem a maior liberdade de
comércio.
A Paz de Augsburgo é confirmada, não só na Boêmia como em todo o Império, e
estendida aos calvinistas, garantindo a devoção privada, liberdade de consciência e
direito de emigração. Tais disposições têm exceção e não se aplicam nas terras
hereditárias dos Habsburgo, onde os príncipes devem abandonar suas terras se
mudarem de religião.

O fim da guerra produziu um armistício na guerra das religiões. A unidade


germânica fragmentou-se entre Áustria e Hungria, que permaneceram sob domínio
Habsburgo, e os muitos estados alemães, em que o mais poderoso era a Prússia
dos Hozenrollern.

A Espanha foi fortemente prejudicada.

A prática de um “equilíbrio de poder” passou a estabelecer-se entre as potências


européias e a garantia de uma Alemanha pluri-religiosa conformou um novo regime
de tolerância negociada que encerrou finalmente, após mais de um século de guerra
religiosa, a hostilidade bélica entre as diferentes confissões reformadas e o
catolicismo.

O modelo do pacto federativo que consegue estabilizar as diversas regiões e


religiões da Alemanha é o mesmo que vai inspirar as relações entre as nações
europeias. Desde essa época, o destino da Alemanha já era uma peça-chave do
destino europeu e seu ordenamento.

A Guerra dos Trinta Anos, travada sobretudo na Alemanha, envolveu toda a Europa
e mudou a regra do jogo político internacional. A entrada da França na guerra, em
aliança com a Suécia e a Holanda, estabeleceu a base da hegemonia continental
francesa e do predomínio naval e comercial da Holanda. A fragmentação da
Alemanha e sua unificação nacional tardia, só obtida sob Bismarck na segunda
metade do século XIX, está na raiz dos grandes conflitos europeus do século XX.
A Guerra dos 30 anos: O que é Legitimidade? - Henry
Kissinger

O Cardeal de Richelieu colocou em prática os princípios estabelecidos por


Maquiavel, pilotando um novo conceito de administração centralizada e de política
externa voltada à balança de poder.

Inventou a ideia de que o Estado era uma entidade abstrata e permanente, existente
em si. Suas necessidades não eram determinadas pela personalidade do
governante, por interesses familiares ou pelos princípios universais da religião. Sua
estrela guia era o interesse nacional definido por princípios calculáveis, a Razão de
Estado.
● Isso fica claro quando se observa que a França, católica, apoiou a coalizão
protestante na G30, motivada unicamente por seus interesses nacionais.

O projeto político de Richelieu era esse: manter a Europa central dividida. Caso a
Europa Central estivesse unida, estaria em posição de dominar todo o resto do
continente. Por isso o apoio aos rebeldes protestantes.
● Pelos próximos dois séculos, esse foi o princípio que guiou a política externa
francesa. De fato, enquanto a Alemanha esteve dividida, a França se
manteve preeminente no continente.

A Paz de Westfália

A Paz surgiu de uma série de acordos assinados separadamente em duas cidades


diferentes da Westfália (Munster para os católicos, Osnabruck para os protestantes).

A paz seria construída não a partir de uma unidade doutrinária, e sim a partir da
busca pelo equilíbrio entre os rivais.

Ficou consagrada a igualdade dos Estados soberanos, a despeito de diferenças em


termos de poder militar e regime político.

O Estado, não o império, a dinastia ou a confissão religiosa, foi consagrado como


pedra fundamental da ordem europeia. Ficou estabelecido o conceito de soberania
do Estado. Foi afirmado o direito de cada um dos signatários escolher sua própria
estrutura doméstica e sua orientação religiosa, a salvo de qualquer tipo de
intervenção.

Para além das exigências do momento, começavam a ganhar corpos os princípios


de um sistema de relações internacionais, um processo motivado pelo desejo
comum de evitar a recorrência de uma guerra total no continente. Trocas de caráter
diplomático (instalação de embaixadas) foram concebidas para dar maior
regularidade às relações e promover as artes da paz. O direito internacional
desenvolveu-se, voltado para o cultivo da harmonia.

O conceito westfaliano tomava a multiplicidade como seu ponto de partida e unia


uma múltipla variedade de sociedades, cada uma aceita como realidade, numa
busca comum por ordem. Em meados do século xx, esse sistema internacional já
havia se expandido por todos os continentes e continua a constituir o arcabouço da
ordem internacional atual.

A Paz não determinava um arranjo específico de alianças ou uma estrutura política


europeia permanente. O conceito ordenador da Europa passou a ser o balanço de
poder.

A estrutura estabelecida com a Paz representou a primeira tentativa de


institucionalizar uma ordem internacional com base em regras e limites formulados
em comum acordo e a ser baseada numa multiplicidade de forças e não na
supremacia de um único país.

Buscava-se impedir que a guerra generalizada, motivada por universalismos,


voltasse a devorar o continente.
Da Universalidade ao Equilíbrio - Henry Kissinger
(Diplomacia)

O que os historiadores chamam sistema europeu de equilíbrio de poder


nasceu no século XVII do colapso final da aspiração medieval à
universalidade — conceito de ordem mundial que era o amálgama das
tradições do Império Romano e da Igreja Católica: um só Deus reinava no
céu, assim, um só Imperador deveria mandar no mundo secular e um só
Papa deveria reger a Igreja universal.

No entanto, isso não ocorreu. O Imperador romano germânico não exercia


um poder centralizado - vide a fragmentação política do SIRG - e as demais
nações europeias, ainda que prestassem lealdade ao Papa, não reconheciam
a autoridade secular do Imperador.

Na primeira metade do século XVI, Carlos V dos Habsburgos, holandês de


nascença, conquistou o título de Imperador e, mediante uma série de alianças
dinásticas, fez seu poder crescer a um ponto em que seria possível aspirar à
criação de um império europeu centralizado.

Nesse exato momento, o enfraquecimento do papado sob o impacto da


Reforma frustrou a perspectiva de um império europeu hegemônico. A
Reforma propiciou aos príncipes rebeldes maior liberdade de ação religiosa e
política. A ruptura destes com Roma tolheu a universalidade religiosa; a luta
com o imperador Habsburgo mostrou que os príncipes não mais
consideravam a vassalagem ao imperador uma obrigação religiosa.

Diante da impossibilidade de se estabelecer uma unidade, os novos Estados


buscaram princípios que poderiam guiar suas ações. Esses princípios seriam
a Razão de Estado e o Equilíbrio de Poder. estabeleceu que o bem-estar
do estado justificava os meios empregados para alcançá- lo; o interesse
nacional suplantava a noção medieval da moralidade universal. O equilíbrio
de poder trocou a nostalgia de um monarca universal pela ideia consoladora
de que cada estado ao promover seus próprios interesses egoístas
contribuiria de alguma forma para a segurança e progresso de todos os
demais.

O Estado europeu que melhor utilizou esses princípios foi a França. Os


franceses tinham a noção de que o enfraquecimento e desintegração do
SIRG seriam benéficos para eles, pois o uma Germânia unida facilmente a
derrotaria. Assim, a França orientou sua política externa no intuito de garantir
a manutenção da fragmentação germânica.

A figura que melhor representa essa figura foi o astuto Cardeal de Richelieu.
Ele criou o conceito de ``raison d'état ``e o praticou inflexivelmente em favor
do seu país. Sob seu patrocínio, a raison d’état substituiu o conceito medieval
de valores morais universais como princípio funcional da política francesa.

Richelieu assumiu a chancelaria do Rei Luís XIII durante a Guerra dos 30


anos, em um momento no qual o Imperador Habsburgo, Fernando II, buscava
destruir a heresia protestante e estabelecer o controle sobre o Império.

Tendo em vista que a França era um país católico, Richelieu deveria ter
apoiado as ações de Fernando II no intuito de combater a heresia. No
entanto, ele colocou os interesses nacionais franceses acima de metas
religiosas. Sua condição de cardeal não o impediu de perceber que na
tentativa do Habsburgo em restabelecer a religião católica havia uma ameaça
geopolítica à segurança da França. Para ele, não se tratava de uma ação
religiosa, e sim de manobra política da Áustria para ter o domínio da Europa
Central e, com isso, reduzir o status da França à segunda categoria.

Os Habsburgos, caso compreendessem a Razão de Estados, poderiam


facilmente alcançar a supremacia europeia. No entanto, eram rígidos,
moralistas, incapazes de abrir mão de suas convicções religiosas.

Um bom exemplo da diferença de postura entre as duas figuras pode ser


visto em 1624. Neste ano, fortalecido pelas vitórias contra os dinamarqueses
na G30, Fernando publica o Édito da Restituição, no qual abole todas as
concessões feitas aos protestantes na Paz de Augsburg. Richelieu, diante
disso, faz o exato oposto: Garante aos protestantes franceses a plena
liberdade de culto, naquilo que ficou conhecido como Anistia de Alais.

Protegido seu país das convulsões internas que dilaceravam a Europa


Central, Richelieu voltou-se a explorar o fervor religioso de Fernando II em
favor dos objetivos nacionais franceses. Seu objetivo era desgastar ao
máximo o SIRG.

A defesa da Razão de Estado exige frieza e pragmatismo. Richelieu tinha


essas qualidades
Fernando II submetia seu Estado à vontade de Deus; Richelieu fazia o
oposto.

Findada a G30, as visões políticas de Richelieu guiaram a diplomacia


francesa pelos próximos séculos, especialmente porque o medo de uma
Alemanha unificada permanecia. Entretanto, permanecia também o
questionamento: Até que ponto se pode ir para garantir que os interesses do
Estado sejam alcançados (pi)

Richelieu legou aos sucessores de Luís XIII uma França fortalecida, uma
Alemanha dividida e uma Espanha em frangalhos. Ainda assim, a vida dos
sucessores do rei não foi tão fácil assim, visto que os princípios realistas do
Cardeal se tornaram a regra, e não a exceção, na política europeia.

No mundo inaugurado pelo Cardeal, os Estados não agiam a partir de


preceitos morais: o bem do Estado era o bem maior que deveria ser
alcançado.

Os filósofos do Iluminismo entendiam o sistema internacional como parte de


um universo funcionando como um grande relógio que, sem nunca parar,
andava inexoravelmente em direção a um mundo melhor.

O vazio criado na Europa Central pela Guerra dos Trinta Anos seduziu os
países vizinhos a cair sobre ele. A França pressionou do oeste. A Rússia
avançava do leste. A Prússia expandia-se no centro do continente. Os
maiores países continentais não sentiam nenhuma obrigação especial em
relação ao equilíbrio tão louvado pelos filósofos. A Rússia acreditava-se muito
distante. A Prússia, a menor das grandes potências, era ainda fraca demais
para afetar o equilíbrio geral. Cada rei se escudava na ideia de que fortalecer
seu reino era a melhor contribuição possível à paz geral, e deixava para a
ubíqua mão invisível a tarefa de justificar sua faina sem limitar suas
ambições.
Questão Guia I: Contexto de sistema internacional do século
XVI, comparação entre autores.

Elliot: Europa diversificada


Paul Kennedy: nem tanto assim

Necessidade de observar as guerras constituintes, guerras que permitem a


construção de um novo sistema internacional. As guerras habsburgo do início
do século XVI tem como ponto de chegada Cateau-Cambrésis e a paz de
Augsburg (cujos regius)
● Esse momento marca a saída de Carlos V e a divisão dos Habsburgo
(Espanha e SIRG)
● Cria um período de relativa paz na Europa, que será quebrada com a
Guerra dos 30 anos

As guerras são momentos de ruptura na história internacional → Um sistema


internacional sucumbe e outro surge no lugar. É isso que se deve entender nesse curso,
fundamentalmente.
Watson: Capítulo 18: A idade da Razão e do Equilíbrio

O século XVIII foi um período de ordem e progresso na Europa, em que a


sociedade internacional de Estados funcionava sem maiores atritos. Houve
guerras, obviamente, mas essas eram menores e voltadas para pequenos
ajustes no SI. Não houve, tal qual no século XVII, grandes conflitos que
envolvessem todo continente.

O acordo de Utrecht, de 1714, inaugurou esse período de estabilidade no


SI. Os termos do tratado, apoiados principalmente por Inglaterra e Holanda,
que temiam as pretensões hegemônicas da França, defendiam a existência
de um equilíbrio de poder móvel e contínuo no continente, de modo a impedir
que um único Estado se distanciasse dos outros.
● O acordo de Utrecht pôs fim à Guerra de Sucessão Espanhola.
Nessa guerra, havia a possibilidade de o rei de França assumir também
o trono da Espanha, o que o daria excessivo poder.

O equilíbrio de Utrecht era menos bipolar e girava em torno de cinco grandes


potências: França, Áustria, Grã-Bretanha, Prússia e Rússia. Todas as
potências se sentiam satisfeitas com o estado das coisas vigente, ainda que
Rússia e Prússia, as mais novas ingressantes no cenário europeu, sentissem
que mereciam mais.
● Dentre esses cinco, a França era a mais forte.

O século XVIII foi o século da Razão e da Matemática e os Estadistas


buscavam se distanciar das paixões das ruas, das igrejas e das casas
dinásticas. Para eles, o sistema de Estados funcionava tal qual um diagrama
de forças de Newton: se o equilíbrio móvel fosse continuamente ajustado,
todos os Estados seriam controlados e mantidos sob contenção.

Os Estados menores também compriam um importante papel na preservação


do equilíbrio, e esses deveriam ter o direito à independência tal qual as
potências

O Equilíbrio de Utrecht era móvel, publicamente proclamado e


conscientemente defendido; Nesse modelo, ligações dinásticas, laços
comerciais, alianças formais e proximidades culturais não seriam
levadas em conta no esforço conjunto de se impedir a construção de
uma hegemonia.
-Aparentemente, há uma contradição entre Watson e Kissinger: este diz que o equilíbrio de poder só
se tornou objetivo central em Viena (1815), e que antes era um subproduto da ação dos estados

O Iluminismo guiou a ação de muitos estadistas europeus, mesmo que os


estados ainda fossem governados por monarcas de poder absoluto. O Estado
já se distinguia do governante, a quem já não se conferia a apoteose pessoal
de Luís XIV. Muitos reis, inclusive, buscavam governar de maneira mais ou
menos esclarecida, tais como Frederico da Prússia e Catarina, da Rússia. A
progressiva distinção entre os interesses do Estado e a vontade do príncipe
ajudou o sistema a funcionar de maneira mais responsável.

A sociedade internacional europeia era administrada a partir de quatro


princípios constituintes: em primeiro, o direito internacional, as regras
do jogo e os códigos de conduta derivados de uma cultura comum; em
segundo, o conceito de legitimidade, normalmente dinástica, mas
modificada por tratados; em terceiro, o diálogo diplomático contínuo
conduzido por meio de embaixadas residentes permanentes; e em
quarto lugar, a guerra limitada, como um meio de ajuste de última
instância. Todas as quatro instituições foram legadas pelo sistema
europeu ao atual sistema global e dão forma a importantes elementos
do mesmo.

O direito internacional

Tanto soberanos quanto súditos (especialmente os burgueses) viam com


maus olhos a liberdade irrestrita do Renascimento italiano, pois essa era
demasiado desordenada e imprevisível. Então, era necessário que houvesse,
na sociedade internacional, autoridade, lei e ordem. Caso contrário, uma
carnificina generalizada como a Guerra dos 30 anos poderia voltar a ocorrer.

Nesse sentido, o sistema hegemônico era até interessante, pois facilitaria a


imposição da ordem. Isso, no entanto, fora de cogitação. Logo, os Estados
deveriam obrigar-se por meio de regras que eles negociam juntos e que
codificaram e padronizaram as práticas realmente existentes.

Essas práticas foram inspiradas pelas regras medievais que regulavam a


guerra e o comércio, assim como por tratados oriundos da antiguidade
clássica. Mas, acima de tudo, essas práticas eram respostas empíricas a
circunstâncias cambiantes
Pode-se dizer que a comunidade europeia do século XVIII era um clube de
soberanos e o direito internacional era o livro de regras dos membros. Esse
livro de regras foi baseado não na vontade divina, mas sim na razão humana:
elas poderiam -e deveriam- ser modificadas para que pudessem se manter a
par com as práticas cambiantes. Tinham a função de tornar a vida
internacional mais ordenada e mais previsível, mais segura e mais civilizada,
e também de induzir maior conformidade na prática dos Estados e convencê-
los a modificar seu comportamento

O direito internacional europeu era sobretudo uma codificação de práticas


consuetudinárias entre os Estados , ainda que houvesse alguns princípios
postos como universais.

A principal questão que surgia era a seguinte: o direito, embora mutável,


levava tempo para modificar-se. Era, portanto, rígido, se comparado ao
equilíbrio móvel. Como garantir que as normas estabelecidas
acompanhassem a defesa do equilíbrio de poder?

A Legitimidade

Após Utrecht, a legitimidade advinda da hereditariedade e do apoio interno


não era mais suficiente. Era necessário, também, que o soberano tivesse o
reconhecimento dos demais membros do “clube dos soberanos”. O que
condicionava o apoio do clube era a praticidade do equilíbrio. Em outras
palavras, para que uma autoridade tivesse sua soberania respeitada, era
necessário tanto a legitimação interna (advinda da herança ou do devido
processo legal) quanto o reconhecimento dos demais Estados.

Ao ser aceita no clube, a autoridade teria a sua soberania respeitada pelos


demais membros, e esses também iriam encorajar os súditos a fazerem o
mesmo. Por conta disso, Utrecht enfraqueceu em muito a subversão e a
stasis.

A legitimidade conferida pela hereditariedade e por tratados era uma fórmula


de conveniência, mais que de direito absoluto. Ela favorecia a ordem e a
previsibilidade e também era flexível o suficiente para permitir a realização
das mudanças que fossem consideradas necessárias.
O Diálogo diplomático

O diálogo diplomático pós-Utrecht era multilateral e contínuo. A diplomacia


tornava-se cada vez mais profissionalizada, e o diplomata cada vez mais
renomado.
Os congressos permitiam que os diálogos entre soberanos se desse de
forma mais aberta, pois eram eventos nos quais estadistas e diplomatas se
reuniam para resolver coletivamente um conjunto de questões que exigissem
consentimento amplo.

Essa nova configuração das relações diplomáticas tornou possível a


operação das relações constantemente cambiantes entre Estados membros e
facilitou a manutenção do equilíbrio de poder, bem como a revisão contínua
do direito internacional e de outros aspectos da sociedade dos Estados.

O uso da força

O equilíbrio de poder do século XVIII preservava a liberdade dos soberanos,


mas nem sempre preservava a paz. A guerra tinha a função de promover
ajustes no sistema internacional, fortalecendo o equilíbrio de poder. Tinha,
portanto, uma escala muito menor do que as guerras do século passado.

Guerras pequenas, como essas, contribuíam para o desenvolvimento da


Europa, ao contrário dos grandes conflitos, que arrastavam todo o continente
para a destruição.

Comentários sobre o Sistema de Estados Europeu

Os três autores analisados - Voltaire, Vattel e Heeren - viam o equilíbrio de


poder como a característica determinante do sistema de Estados. Esse
equilíbrio era proposital e não era dirigido contra uma potência específica,
mas contra a hegemonia proveniente de qualquer quadrante, de modo a
proteger a independência dos fracos contra os fortes.

Os pensadores do século XVIII pensavam a sociedade europeia de Estados


como uma comunidade estreita, uma sociedade federativa unida por tratados,
uma república diplomática. Para que essa sociedade funcionasse, deveriam
haver valores comuns e um passado comum de tradições e costumes - uma
unidade de cultura. Um grau mais ou menos nivelado de desenvolvimento
material era também importante.
Para que o sistema de Estados funcionasse de forma harmônica, o Império
Alemão exercia um importante papel, na medida em que funcionava como
uma esponja, absorvendo e equilibrando as pressões das grandes potências,
fosse por meio de alianças ou da concessão de territórios.
● A Alemanha era composta por tantos pedaços que pequenas
mudanças poderiam alterar o equilíbrio de poder no continente. Era,
portanto, perigosa para ninguém, mas importante para todos.
● Pode-se dizer que a Alemanha era, para o SI Europeu, a mesma coisa
que a Grécia era para o S Macedônico: ambos eram compostos por
pequenas unidades políticas e podiam funcionar como esponjas.

Como maneira de administrar comunidades diversas, o sistema europeu


funcionava de maneira bem satisfatória, especialmente quando comparada
aos sistemas medievais e à stasis devastadora do século XVII. Nesse
período, a ciência, a riqueza pessoal e os padrões de vida progrediram
bastante em toda a Europa.

Havia, no entanto, um problema no SI: o comprometimento para com a


preservação do equilíbrio de poder levava à transferência de territórios de um
soberano para outro independentemente das tradições e dos desejos dos
habitantes. Em outras palavras, os soberanos do século XVIII consideravam o
equilíbrio da Europa mais importante do que o consentimento dos
governados.

Dessa forma, o SI Europeu assegurava a independência de seus Estados


membros, mas não assegurava a sua integridade territorial.

Immanuel Kant considerava que não importava muito sob que soberano um
pedaço de território e seus habitantes viessem a ficar, desde que o Estado
fosse adequadamente esclarecido e justo. Era possível pensar assim na
época, visto que o nacionalismo ainda não era uma força ativa.

Kant pensava que o próximo passo para a sociedade de Estados era


abandonar de vez as guerras. Essa proposta, a paz perpétua, reconhecia
que não era desejável ou possível abolir as soberanias em prol de um único
governo imperial. Dessa forma, era necessário que os Estados mais
poderosos e esclarecidos se unissem numa liga e num acordo perpétuo, de
modo a manter a paz e realizar as necessárias correções no equilíbrio por
meio de negociações e de redistribuição dos territórios.
A Paz Perpétua de Kant foi um dos primeiros exemplos na SI de uma
proposta apresentada não por um estadista, mas por um pensador, tendo
como base o raciocínio teórico e não a experiência prática (idealismo). Suas
ideias foram substancialmente adotadas, ainda que com algumas
modificações.

A comunidade dos Estados do século XVIII foi extremamente bem sucedida.


Ela foi bem administrada de maneira bem consciente pelos seus membros,
que valorizavam a independência dentro de um quadro geral equilibrado e
anti-hegemônico.

As circunstâncias excepcionais favoreceram muito o sucesso desse


sistema. O século XVIII foi um interlúdio de tranquilidade, tanto em
termos políticos quanto ideológicos, no qual as regras práticas do
sistema, como a redistribuição dos territórios, podiam ser aplicadas
sem maiores complicações. Nenhuma potência era forte o suficiente
para fazer uma tentativa hegemônica. A stasis religiosa já havia sido
superada; as paixões destruidoras do nacionalismo ainda estavam por
vir.

Ainda que esse cenário de tranquilidade tenha sido superado, muitos


dos conceitos provenientes da arte do Estado do século XVIII
permanecer relevantes para a nossa sociedade atual.
Kennedy: As finanças, a geografia e a vitória nas
guerras (1660 - 1815)

Como foi visto com a leitura de Watson, o sistema internacional europeu do século
XVIII foi marcado pela multipolaridade, no qual os Estados, cada vez mais, agiam de
acordo com os seus interesses nacionais, e não por motivos transnacionais ou
religiosos. Dessa forma, a principal característica do SI anterior - uma bipolaridade
entre o eixo austro-espanhol e a coalizão protestante- não mais existia, sendo
substituída por um sistema mais frouxo de alianças instáveis e de curto prazo →
países que tinham sido inimigos numa guerra muitas vezes se aliaram na
guerra seguinte, o que dava ênfase a uma Realpolitik calculada, e não a
convicções religiosas profundas na determinação de suas políticas.

O que tornava esse novo sistema mais interessante era a ascensão e a


queda de certas potências: O Império Otomano, a Espanha, os Países Baixos
e a Suécia passaram para o segundo plano, enquanto a Polônia foi
totalmente eclipsada. Os Habsburgos conseguiram se manter; a Prússia
ascendeu ao primeiro patamar da Europa; a França tornou-se o mais
poderoso Estado europeu.

O período foi marcado pelo notável crescimento da Inglaterra, que ampliou


suas colônias e o poder de sua marinha, e a Rússia, que expandiu seus
domínios nas estepes asiáticas. Dessa forma, as principais potências do
período eram: França, Áustria, Rússia, Prússia e Grã-Bretanha

Essas cinco potências atingiram a proeminência no período não por conta do


progresso militar, mas sim por conta de fatores financeiros e geográficos.

A Revolução Financeira

A guerra era um mecanismo necessário para a manutenção do equilíbrio de poder.


Os exércitos que as lutavam tornavam-se cada vez mais organizados e, portanto,
caros. Diante disso, sobressaíram-se nos conflitos aqueles países que conseguiram
modernizar suas instituições financeiras a fim de custear os conflitos. Além disso, o
desenvolvimento da economia e o crescimento do comércio levava à escassez de
dinheiro, o que também apontava para a necessidade de modernização financeira.
● Entre os exemplos de desenvolvimento do comércio no período, está a
substituição das feiras sazonais de origem medieval por centros permanentes
de troca.

O sistema duplo de levantar - através de empréstimos e juros - e gastar, ao mesmo


tempo, grandes quantidades de dinheiro de modo a financiar as guerras favoreceu o
desenvolvimento conjunto do Estado - Nação e do Capitalismo. Esse contexto
permitiu com que Amsterdã, que se preocupava mais com a estabilidade econômica
dos clientes do que com fatores religiosos ou políticos, se tornasse a capital
financeira da Europa no período.

Embora a França fosse de modos gerais, mais poderosa que a Inglaterra, o sistema financeiro
desse último era ligeiramente melhor, o que proporcionou um aumento na disponibilidade de
capital interno em relação ao primeiro → Essa superioridade financeira obviamente
favoreceu o desenvolvimento da indústria na Inglaterra.

A organização financeira e tributária da França era frouxa e irregular, de modo que


sofria de corrupção inerente. Além disso, não havia uma noção de contabilidade
nacional: desde que a monarquia pudesse custear suas necessidades imediatas,
não havia preocupação com o aumento constante da dívida nacional. O sistema
inglês, controlado pelo parlamento, não enfrentava tantos problemas.
● Na França, os donos do capital gastavam com compra de títulos de nobreza;
na Inglaterra, eles investiam nos negócios e na indústria.

A imaturidade financeira da França, tanto em tempos de guerra quanto de paz,


foram pouco a pouco dilapidando a economia nacional e pavimentando o caminho
para 1789. É certo que as convulsões internas e externas que durariam até 1815
fizeram com que a economia francesa se atrasasse ainda mais em relação à de sua
maior rival.

Muitos Estados, mesmo em tempos de paz, enfrentava inúmeras dificuldades para


financiar os seus custos. Ainda assim, o elemento financeiro não foi o único
determinante para a sorte das nações (enquanto a Holanda, um grande centro
financeiro, saiu da primeira prateleira européia, a Rússia, economicamente
atrasada, entrou).

Geopolítica

A busca pelo equilíbrio móvel fazia com que o SI tivesse uma natureza
intrinsecamente competitiva, na qual alianças instáveis poderiam alterar de maneira
notável a sorte dos agentes estatais. Nesse contexto, o fator geográfico, isso é, a
localização estratégica dos Estados ao longo de conflitos multilaterais, tornou-se
bem importante.
Um exemplo muito claro é o caso da Holanda: embora tenha saído da G30 como
uma potência principal, as dificuldades no comércio marítimo impostas pela
Inglaterra, somada a necessidade de se armar diante da proximidade com a frança
de Luís XIV, aumentaram em muito os gastos do país, que se tornou, diante disso,
uma potência secundária.

Embora a França fosse, em função de seu tamanho, população e riqueza, a


principal força na Europa, sua posição geográfica impedia uma empreitada
hegemônica, na medida em que uma possível coalizão, caso formada, a atacaria
por todos os lados. Napoleão, de fato, conseguiu canalizar as vantagens francesas
e impor sobre a Europa um projeto conquistador, mas as questões geográficas
novamente frustraram os planos franceses.
● Os Habsburgos austríacos, com seus territórios esparsos, também sofriam
limitações geográficas para seus projetos. Além disso, o crescimento da
Prússia e da Rússia também representavam um empecilho.

A Áustria, descentralizada, etnicamente variada e economicamente atrasada, era


uma potência de primeira classe marginalizada, e assim permaneceu até 1918.

A Prússia atingiu o primeiro patamar continental por uma série de fatores: o gênio
militar e estratégico de Frederico o Grande, a eficiência do exército prussiano, a
relativa estabilidade fiscal e os famosos burocratas da guerra. Além disso, o colapso
do poderio sueco, a desintegração da Polônia e a dispersão dos Habsburgo também
ajudaram. A própria ascensão da Rússia fez com que as atenções da Europa
central fossem desviadas para o Leste, permitindo com que os prussianos
ocupassem os vácuos de poder deixados na região. Ainda assim, a Prússia ainda
estava em desvantagem econômica, militar e diplomática em relação às demais
potências, e assim ficaria até 1860.

Em contraste, Rússia e Estados Unidos, duas potências distantes, desfrutavam de uma


invulnerabilidade relativa e estavam livres das ambivalências estratégicas que afligiam os
estados centro-europeus → EUA e Rússia tinham apenas uma frente de expansão.

A independência dos EUA traria consequências para a história dos padrões de


poder no mundo: Passou a existir, fora da Europa, um importante centro de
produção, riqueza e poderio militar. Esse poderia se tornar um importante ator no
equilíbrio de poder global, de maneira que as outras sociedades extra-europeias,
como Índia e China, que estavam economicamente em declínio, não conseguiriam
ser.

A ascensão da Rússia czarista teve um impacto muito mais imediato sobre o


equilíbrio europeu. O “cartão de visitas” da Rússia, para as outras potências, foi a
vitória contra os suecos na batalha de Poltava, em 1709.
Pedro, o Grande, criou uma poderosa marinha para complementar suas bases no
Báltico. Quando Catarina a Grande morreu, em 1796, o império russo já era
gigantesco, e quem mais sofreu com suas conquistas foi a Polônia e o Império
Otomano.

A Rússia era um país de contradições: possuía um exército maior que a França; um


suprimento gigantesco de matérias primas e terras aráveis; devido a sua extensão
territorial, era basicamente impossível conquistá-la. Por outro lado, era um país
extremamente atrasado em muitos aspectos: pobreza espantosa, atraso tecnológico
e educacional, más comunicações, reacionarismo e casmurrice dos czares,
especialmente em questões financeiras.

Apesar de tantos problemas, o exército russo constitui uma formidável força


ofensiva, o que permitiu que o império de Pedro e Catarina assumisse uma posição
de destaque no cenário internacional.

Rússia e EUA, esses dois gigantes continentais, ainda esperariam alguns séculos
para, nas palavras de Tocqueville, “determinar os destinos do globo”. No período
entre 1660 e 1815, foi a Grã-Bretanha que fez os progressos mais decisivos,
derrubando finalmente a França de sua posição de maior potência. Também nesse
caso a geografia teve um papel vital. Seguem as palavras de Alfred Mahan, oficial
da marinha:

“...se uma nação está situada de maneira a não ser obrigada a defender-se por
terra, nem induzida a buscar ampliação de seu território por terra, ela tem, pela
simples unidade de suas metas voltadas para o mar, uma vantagem em
comparação com um povo cujos limites são continentais.”

Essa afirmação indica que a Grã-Bretanha tinha o privilégio de nunca poder ser
flanqueada, além de basear suas atividades comerciais e militares no mar e possuir
um pujante império marítimo

comércio + colônias + marinha = superioridade inglesa

A Vitória nas Guerras: 1660 - 1763

No momento em que Luís XIV, o Rei Sol, sobe ao trono, o cenário


internacional estava favorável à França, visto que seus principais rivais
estavam enfraquecidos. Diante disso, a diplomacia francesa dos ministros
Colbert e Le Tellier puderam fortalecer a posição geográfica do país e tornar
o exército mais poderoso. Além disso, os conflitos religiosos que perseguiam
a França nos anos anteriores não representavam mais uma ameaça. Era,
portanto, uma situação de estabilidade interna e externa.

Luís, com seus exércitos fortalecidos e diante de adversários enfraquecidos,


estava pronto para atacar. Seu primeiro alvo foram as Províncias Unidas.
Esse movimento reacendeu o alerta na Europa, e prontamente uma coalizão
anti-hegemônica foi formada. Iniciou-se, então, a guerra dos nove anos (1689
- 1697), que terminou sem vencedores, mas enfraqueceu Luís e fortaleceu a
Inglaterra pós revolução gloriosa (1688).

A isso, segue-se a guerra de sucessão espanhola , que marca a derrota do


projeto hegemônico de Luís. As condições para a paz foram postas nos
tratados de Utrecht (1713) e Rastadt (1714). Ao todo, a grande beneficiada
desse processo foi a Grã-Bretanha.
● A marinha inglesa, superior, exerce um importante papel na derrota da
França.

Concomitante a isso, importantes mudanças ocorriam no Báltico. O jovem rei


sueco, Carlos XIII, embora detentor de um poderoso exército, falhou em não
se atentar para as reformas que Pedro I implementava na Rússia. Com isso,
ele é derrotado pelo exército russo no que ficou conhecida como a Grande
Guerra do Norte, e foi obrigado a ceder parte considerável de suas
possessões bálticas com o tratado de Nystad (1721)
● É nessa guerra em que ocorre a batalha de Poltava (1709), o
rebaixamento da Suécia à condição de potência de segunda classe e a
entrada definitiva da Rússia no cenário europeu.

*Guerra dos 7 Anos

O que foi

A Guerra dos Sete Anos foi um dos principais conflitos militares ocorridos no
século XVIII. Esta guerra envolveu vários reinos europeus entre os anos de
1756 e 1763, sendo que os conflitos também se estenderam para os
territórios coloniais na África, Ásia e América do Norte.

Países e impérios envolvidos:

A Guerra dos Sete Anos foi ampla e colocou em conflito as seguintes


monarquias:
Bloco Francês: Reino da França (líder), Império Austríaco, Império Russo,
Reino da Suécia, Saxônia, Reino da Espanha, Reino de Nápoles e Ducado
de Württemberg.

Bloco Britânico: Reino da Grã-Bretanha (líder), Reino da Prússia, Reino de


Portugal, Reino de Hanôner, Estado de Hesse-Cassel, Ducado de Brunsvique

Causas principais:

Disputas pela supremacia colonial (domínio marítimo e comercial) pelas


Índias e colônias da América do Norte. Estes conflitos ocorreram,
principalmente, entre França e Grã-Bretanha.

Fortes divergências, entre as potências europeias, sobre o domínio de


territórios na África, América do Norte e Ásia.

Luta entre o Império Austríaco e o Reino da Prússia para estabelecer o


controle sobre a Silésia (região entre a Polônia, Alemanha e República
Tcheca).

Forte preocupação dos franceses, russos e austríacos com o crescente


aumento de poder de Frederico II, rei da Prússia.

Quem venceu a Guerra dos Sete Anos

Após sete anos de conflitos militares em territórios europeus e coloniais,


foram contabilizados milhares de mortos, feridos e elevadíssimos gastos e
prejuízos materiais.

No geral, podemos dizer que os reinos da Grã-Bretanha e da Prússia saíram


vencedores da Guerra dos Sete Anos.

Foi o Tratado de Paris, assinado em 10 de fevereiro de 1763, que colocou fim


à Guerra dos Sete Anos.

As principais consequências foram:

Podemos citar como a principal consequência desta guerra a Independência


dos Estados Unidos. Após o conflito, a Grã-Bretanha, embora tenha saído
como vencedora, presenciou uma forte crise econômica gerada pelos altos
custos da guerra. Para reerguer sua economia, os britânicos optaram por
elevar a carga de impostos e tributos de suas colônias norte-americanas.
Este foi um dos principais motivos da revolta dos colonos norte-americanos,
que passaram a organizar o processo de independência, que ocorreu de fato
em 1776 (Independência dos Estados Unidos).

Estabelecimento de diversos tratados pós-guerra, que redefiniram o controle


de várias áreas na Europa e nos territórios coloniais.

Com o fim da guerra, começa a ficar clara uma mudança no centro de


equilíbrio: da França para a Europa central.

Combinação anglo-prussiana superior em liderança, capacidade de


resistência financeira, habilidade militar e naval. Inglaterra aumenta a dívida,
mas tinha o lucro do comércio além-mar. Todas as economias foram
abaladas, e a solução para isso eram as colônias, que determinavam, em
última instância, o equilíbrio de poder.

Na década seguinte à guerra, as potências se preocupam em resolver


questões internas. Na época da independência americana, a Inglaterra estava
mais fraca, e deter os colonos empreendia uma campanha continental.
Naquele momento, os ingleses estavam diplomaticamente isolados.

A campanha da Guerra de Sucessão Bávara (1778 - 1779), quando a Prússia


se opôs à tentativa austríaca de expansão, foi extremamente cautelosa e
rápida, demonstrando que os países não estavam interessados em participar
de um conflito de maiores proporções, como a Guerra dos 7 Anos.

Na década que antecedeu 1792, não foram reveladas as tensões que


estavam para explodir no continente. As querelas entre as potências eram
questões regionais sem ligação entre si, e não parecia haver nenhuma
ameaça ao equilíbrio geral.

Neste período ocorreu, principalmente a partir da diplomacia actuante de Pitt,


a recuperação geral da Inglaterra como potência. A perda das colônias
americanas não afetou o comércio transatlântico dos ingleses, e as
exportações para lá cresciam; o tamanho da marinha duplicou; a
produtividade crescia e as finanças do Estado melhoraram.
Uma das principais razões para desacreditar um conflito de grandes
proporções naquele momento era o agravamento da situação da França.
Ainda que sua posição diplomática parecesse mais forte do que nunca, os
custos exorbitantes da guerra e o fracasso das reformas financeiras
combinaram-se com o crescente descontentamento político e o mau-estar
social para minar a estabilidade interna da França. Diante desse cenário, os
franceses pareciam cada vez mais incapazes de desempenhar um papel
decisivo nas questões internacionais.

A radicalização da política francesa após a queda da Bastilha preocupou


algumas lideranças externas, mas a convulsão interna do país fez com que
acreditassem que a França não seria, naquele momento, capaz de abalar a
política internacional. No entanto, os rumores de tentativa de restauração da
monarquia francesa e a agitação nas fronteiras tornou necessária a
intervenção militar.

A Primeira Coalizão (1793-94) fracassou. A França, ainda que enfraquecida,


demonstrava um entusiasmo que as potências adversárias não tinham, pois
não levavam o conflito à sério. A segunda coalizão também falhou e a
Áustria, abandonada pela Rússia, viu-se obrigada a receber o impacto de
Napoleão sozinha. Sem um aliado continental, os ingleses tentaram pensar
na paz, mas o general francês nada tinha a perder, e preferiu continuar a
guerra. Diante disso, a opinião pública inglesa muda.

A fase final das guerras é a mais rigorosa para todos (1803-15). Devido ao
seu poderio industrial, a Inglaterra suportou melhor o custo da guerra que
Napoleão, e os franceses começam a demonstrar, principalmente a partir de
1809, sinais de fraqueza. Abalados pela desastrosa campanha na Rússia,
(1813) os soldados perdem vigor e, em 1814, o imperador abdica.

Após o governo dos cem dias, veio a derrota definitiva em Waterloo e o


acordo de Viena (1815). O equilíbrio de poder foi restabelecido, ao menos no
continente. Em mar, a Inglaterra era mais soberana do que nunca, e seu
poder apenas aumentaria no século que se iniciava.
Revolução Francesa

Causas Estruturais
● Crise econômica (altos impostos / custos da monarquia) → Corrosão das bases
de legitimidade do regime.
● Privilégios feudais (isenção fiscal da alta nobreza)
● Crise do campesinato (tributos feudais / estiagem)
● Revoltas aristocráticas (revolta dos notórios) → Volta dos privilégios após
tentativa frustrada do Rei Luís XVI de revogá-los.

Causas Conjunturais
● Guerra dos 7 anos (derrota para a inglaterra / custos do conflito)
● Apoio à Revolução Americana → Endividamento da coroa
● Grande Fome: estopim da Revolução

Tratado de Eden Rayneval


● Obtenção de novos empréstimos
● Isenção de impostos sobre produtos ingleses
● Falência das fábricas francesas e aumento do desemprego
● Descontentamento da burguesia e do povo

Os Estados Gerais

● Convocação da assembleia para encontrar uma solução legítima para a


crise
● O 3 estado exigia que a votação fosse contada por deputados e não
por Estado.
● O rei ordenou o fechamento da assembleia para impedir a derrota
● O 3E forma uma guarda nacional e uma assembleia constituinte → rompimento
do uso legítimo da força.
● 14/07/1789: Tomada da Bastilha: início simbólico da Revolução
● Noite do Grande Medo: aprovação do fim dos privilégios feudais e
perseguição aos nobres

Declaração dos Direitos

● Fim da distinção de nascimento (liberdade/igualdade/fraternidade)


● Base iluminista com limites (não se aplica a estrangeiros e mulheres)
● Não há a defesa de uma igualdade plena

Assembléia Nacional Constituinte (89-92)

Constituição Civil do Clero (90)


● Confisco dos bens da Igreja → Clérigos como funcionários públicos
○ Os juramentados aceitam seguir a carta; os refratados não

1ª Constituição (91)
● Monarquia Constitucional (Rei = Executivo)
● Voto censitário
● Emigração de parte da alta nobreza

Tentativa de fuga do Rei (91)


● N dá certo :(
● Declaração de Pillnitz: Áustria e Prússia ameaçam invadir a França
○ Início das coligações contra a França Revolucionária

Girondinos e Jacobinos

● Invasão austro-prussiana (92)


○ Jacobinos (Robespierre, Marat, Danton) decretam pátria em
perigo
● Comuna insurrecional de Paris: Gov. Jacobino provisório na luta contra
os invasores.
● Prisão de Luís XVI
● Derrota dos invasores e proclamação da República
○ A vitória confere legitimidade aos jacobinos
● Execução do Rei
○ Revolta da Vendéia e expansão das coligações
■ A Revolta da Vendéia foi um conflito gerado a partir de
camponeses e artesãos que agiram contra a burguesia e a
Revolução Francesa,
■ A Revolta da Vendéia foi motivada pelo imenso
recrutamento de cidadãos que a República estava fazendo
na região de Vendéia, na França. Apoiados pela nobreza,
camponeses e artesãos tomaram o controle do local, mas
apesar de algumas vitórias, foram aniquilados pelas tropas
republicanas.

Convenção Nacional (93-94)

● Maior proximidade com o Iluminismo


● Mudança nos costumes e alteração no calendário → Passa a se basear no
trabalho

Constituição do Ano 1
● Sufrágio universal masculino
● Comitê de Salvação Pública: controlava o executivo
● Comitê de segurança nacional: segurança interna
● Tribunal Revolucionário

Assasinato de Marat (93) → Radicalização Jacobina

Terror (93 - 94)

● Liderança de Robespierre/Violação dos direitos constitucionais


● Crise econômica → Perda de legitimidade
● Descristianização da França (culto à Razão)
● Abolição da escravidão nas colônias → Fomenta a Revolução Haitiana

FIm da Ameaça Interna


● Queda de apoio ao Terror e a Robespierre
● 9 Termidor (94): Queda de Robespierre
● Fim do governo jacobino e aliança do Pântano com os girondinos

Diretório

Governo Girondino
● Fim dos comitês
● Criação do diretório: 5 diretores girondinos
● Terror Branco: repressão velada aos movimentos opositores
● tentativa de pacificação interna → dificultada pela baixa legitimidade
● Retomada do voto censitário
● Vitória sobre a 2ª Coalizão → Destaque para o jovem Napoleão, que ganhou
grande apoio militar
Golpe do 18 de Brumário (99)
● Napoleão surge como figura de estabilidade (fator de aglutinação)
● Assume o poder na França a partir de alianças entre os girondinos e o
exército
● Põe fim ao processo revolucionário
Hobsbawm: A Era das Revoluções

Capítulo 4: A Guerra

Entre 1792 e 1815, houve guerra quase ininterrupta na Europa, e as


consequências da vitória ou da derrota nessas guerras transformaram o
mundo. Além disso, é importante pensar nas consequências do processo
bélico efetivo, das medidas políticas e econômicas resultantes delas.

Especialmente nos primeiros anos das guerras, destacou-se o conflito entre dois
poderes muito distintos: os poderes e os sistemas. A França como Estado aliou-se a
Estados do mesmo tipo; a França como revolução inspirou outros povos do mundo a
combater a tirania, atraindo a revolta das forças reacionárias e conservadoras.
Conforme o conflito se desenvolvia, a distinção entre esses dois poderes diminuía, de
modo que a guerra internacional ficava menos mesclada à guerra civil → Era, ao
mesmo tempo, um conflito entre Estados e um conflito entre sistemas sociais.

Em termos sociais, o único Estado que, em função de sua inclinação


revolucionária, poderia oferecer apoio ideológico ao lado francês eram os
EUA. No entanto, eles se mantiveram neutros ao longo da maior parte do
conflito.

De um modo geral, quase toda a intelectualidade europeia expressou apoio à


Revolução. Ainda assim, mesmo que o apoio de figuras ilustres como
Beethoven e Schiller tenha inflamado a campanha revolucionária, essas não
tinham grandes poderes políticos e militares.

Nas áreas contíguas à França, nas quais as condições sociais eram


semelhantes e as trocas culturais permanentes (como Suíça e Países
Baixos), o sentimento político pró-França e pró-jacobino era forte. Na
Inglaterra, que via a França como seu eterno inimigo, o jacobinismo foi pouco
influente.

Na Península Ibérica, nos domínios dos Habsburgo, na Alemanha, na


Escandinávia e na Rússia, o jacobinismo era uma força insignificante, que
atraía apenas alguns jovens ardentes e intelectuais iluministas (entre esses,
estava o grego Rhigas, que lutou pela libertação de seu país).
De um modo geral, o Jacobinismo dependia do apoio das classes médias e
instruídas para se firmar em um país. Nos países onde isso não era
interessante, seja por motivos políticos, sociais ou econômicos, os ideais dos
revolucionários franceses permaneceram tímidos.
● Os irlandeses esclarecidos, por exemplo, viram a Revolução com bons
olhos, pois esperavam que os franceses pudessem livrá-los do jugo
inglês. Nesse caso em específico, o interesse foi político, e não
necessariamente ideológico.

O apoio aos ideais jacobinos era bem maior nos países próximos à França.
No resto da Europa, ele era mais dependente de fatores políticos e sociais
locais.

O apoio dos jacobinos não franceses tinha sim alguma importância militar,
dentro e fora da França. Territórios conquistados pela França que tivessem
um grande número de apoiadores provavelmente se tornariam estados
satélites ou seriam anexados.

O jacobinismo irlandês, no entanto, foi muito mal aproveitado: uma


combinação de revolução irlandesa com invasão francesa poderia ter forçado
a Inglaterra a escolher a paz. A baixa organização impediu que o movimento,
mesmo dotado de grande apoio popular, se concretizasse.

Os ideais franceses também tinham inimigos no exterior. Esses inimigos eram


muitas vezes camponeses que se lançavam, sob o estandarte da igreja e do
rei, em movimentos espontâneos de resistência popular anti francesa. Os
integrantes desses movimentos normalmente utilizavam táticas de guerrilha,
e foram notavelmente bem sucedidos: nenhuma área fora das fronteiras da
França manteve um governo jacobino por muito tempo.

Socialmente falando, pode-se dizer que houve uma guerra da França e de


seus territórios vizinhos contra o resto. Em termos de relações de poder entre
Estados, o assunto se torna mais complexo. Nesse caso, o conflito
fundamental é entre França e Grã-Bretanha. Os interesses ingleses eram de
natureza quase totalmente econômica: eles tinham interesse em eliminar seu
principal competidor para alcançar o predomínio comercial. Na Europa, os
ingleses almejavam menos conquistas territoriais e mais a manutenção do
equilíbrio de poder. (vide Guilherme de Orange e Pitt)
Ambas as potências viam como única solução a destruição da rival. Porém,
criou-se um impasse, na medida em que os ingleses tinham pouca vantagem
no continente e os franceses, por sua vez, pouca vantagem no mar (possível
paralelos com a guerra do Peloponeso).

As outras potências anti francesas estavam engajadas em formas menos intensas de


luta. No início, todas lutavam para derrubar a Revolução, mas não às custas de suas
próprias ambições políticas. A partir de 1792-5, isso se tornou impraticável. → A
participação das potências nas coalizões era motivada por questões políticas e
estratégicas.

Os interesses diplomáticos dos Estados europeus deram aos franceses um


número de aliados em potencial. Muitos príncipes germânicos de menor
expressão que estavam interessados na diminuição do poder do imperador
ou na contenção do avanço prussiano viram a aliança francesa com bons
olhos
● A Saxónia, vítima do crescimento prussiano, foi o mais fiel aliado de
Napoleão.

Ainda que, no papel, o lado antifrancês era muito mais poderoso do que o
lado francês, a história desses conflitos é uma história de quase ininterrupta
vitória francesa. Isso se deve muito à própria Revolução: enquanto os
Estados oponentes mandavam para o campo de batalhas soldados bem
equipados e treinados e faziam uso de estratégias ortodoxas, a França
revolucionária se valia da organização improvisada, da mobilidade, da
flexibilidade e, acima de tudo, da pura coragem dos combatentes, dispostos a
morrer pela causa.
● Além disso, a pouca idade dos quadros militares franceses também
contribuiu para a vantagem militar (Napoleão chegou ao posto de
general aos 24 anos).

II - Resumo sobre as guerras


III

No decorrer da guerra as fronteiras políticas da Europa foram redesenhadas


várias vezes. A mais importante dessas mudanças foi uma racionalização
geral do mapa político europeu, especialmente na Alemanha e na Itália. Em
termos de geografia política, a Revolução Francesa pôs fim à Idade Média.

A Revolução Francesa pôs fim à Idade Média. O típico Estado moderno, que
esteve se desenvolvendo por vários séculos, é uma área ininterrupta e
territorialmente coerente, com fronteiras claramente definidas, governada por
uma só autoridade soberana e de acordo com um só sistema fundamental de
administração e de leis. (Desde a Revolução Francesa tem-se entendido
que o Estado moderno deva representar também uma só “nação” ou
grupo linguístico, mas naquela época um Estado territorial soberano não
implicava isto.) O típico Estado feudal europeu, embora pudesse às vezes
parecer com esse modelo, como por exemplo na Inglaterra medieval, não
requer essas condições. Ele era padronizado muito mais com base na
“propriedade”.

Exatamente como a expressão “as propriedades do Duque de Bedford” não


implica que elas devessem constituir um único bloco, nem serem todas
diretamente administradas por seu dono, ou mantidas sob os mesmos
arrendamentos ou termos, nem que os subarrendamentos devessem estar
excluídos, o Estado feudal da Europa Ocidental também não excluía uma
complexidade que pareceria totalmente intolerável hoje em dia.

A Revolução e as consequentes guerras aboliram muitas dessas relíquias,


em parte devido ao zelo revolucionário pela padronização e unificação
territorial, e em parte pela exposição dos Estados pequenos e fracos,
repetidas vezes e por um período excepcionalmente longo, à gula de seus
vizinhos maiores.

Em suma, a Revolução promoveu, em grande parte, a superação da


fragmentação feudal em prol da unidade territorial: o SIRG sucumbiu; a
maioria das cidades-estado desapareceram. Ao final da guerra, restaram
pouquíssimas cidades alemães livres.

Igualmente importantes foram as mudanças institucionais introduzidas direta


ou indiretamente pela conquista francesa. No auge de seu poderio (1810), os
franceses governavam diretamente, como parte da França, toda a Alemanha
à esquerda do Reno, a Bélgica, a Holanda e o norte da Alemanha na direção
leste até Luebeck, a Savóia, o Piemonte, a Ligúria e a Itália a oeste dos
Apeninos até as fronteiras de Nápoles, e as províncias da Ilíria desde a
Caríntia até a Dalmácia, inclusive. A família francesa e os reinos e ducados
satélites cobriam ainda a Espanha, o resto da Itália, o resto da Renânia-
Vestfália e uma grande parte da Polónia. Em todos estes territórios (exceto
talvez o Grão-Ducado de Varsóvia), as instituições da Revolução Francesa e
do Império napoleônico foram automaticamente aplicadas ou então
funcionavam como modelos óbvios para a administração local: o feudalismo
foi formalmente abolido, os códigos legais franceses foram aplicados e assim
por diante. Estas mudanças provaram ser bem menos reversíveis do que a
mudança de fronteiras. Assim, o Código Civil de Napoleão continuou sendo,
ou tornou-se novamente, a base do direito local na Bélgica, na Renânia
(mesmo depois de sua reintegração à Prússia) e na Itália. Uma vez
oficialmente abolido, o feudalismo não mais se restabeleceu em parte
alguma.

Visto que para os adversários inteligentes da França era evidente que tinham
sido derrotados pela superioridade de um novo sistema político, ou pelo
menos por seu próprio fracasso em adotar reformas semelhantes, as guerras
produziram mudanças não só através da conquista francesa mas também
através da reação contra ela. Nesse sentido, destacam-se a Espanha e a
Prússia. (nessa última, foram organizadas uma série de reformas
educacionais, econômicas e legais com o propósito de reverter a derrota
diante dos franceses.

Basicamente todo Estado da Europa continental teve suas instituições


alteradas diante das guerras, ainda que de maneira mínima.

Mas as mudanças de fronteiras, leis e instituições governamentais não foram


nada comparadas com um terceiro efeito destas décadas de guerra
revolucionária: a profunda transformação da atmosfera política. Quando a
Revolução Francesa eclodiu, os governos da Europa encararam-na com
relativo sangue frio: o simples fato de que as instituições mudassem
repentinamente, ocorressem insurreições, dinastias fossem depostas ou reis
assassinados e executados não era algo que em si mesmo chocasse os
governantes do século XVIII, que estavam acostumados a isso e
consideravam estas mudanças em outros países primordialmente do ponto
de vista de seu efeito sobre o equilíbrio do poder e sobre suas próprias
posições relativas. Mas em 1815 prevalecia uma atitude totalmente diferente
em relação à revolução, que dominava a política dos Estados.

Sabia-se agora que a revolução num só país podia ser um fenômeno


europeu, que suas doutrinas podiam atravessar as fronteiras e, o que
era pior, que seus exércitos podiam fazer explodir os sistemas políticos
de um continente. Sabia-se agora que a revolução social era possível,
que as nações existiam independentemente dos Estados, os povos
independentemente de seus governantes, e até mesmo que os pobres
existiam independentemente das classes governantes.

Um revolucionário grego, Kolokotronis, expressou o sentimento geral: “a


Revolução Francesa e os feitos de Napoleão abriram os olhos do
mundo. Antes, as nações sabiam de nada, e as pessoas pensavam que os
reis eram deuses sobre a terra e que tinham que dizer tudo que eles faziam
era bem feito. Devido a esta mudança de agora, é mais difícil dominar o
povo.”

IV

As operações militares propriamente ditas matavam pessoas, direta ou


indiretamente, e destruíram equipamento produtivo mas, como vimos, nada
faziam a ponto de interferir seriamente no curso normal da vida e do
desenvolvimento de um país. As exigências econômicas da guerra e a guerra
econômica tinham consequências muito maiores.

Pelos padrões do século XVIII, as guerras revolucionárias e napoleônicas


eram excessivamente caras, e de fato seus custos chegavam a impressionar
os contemporâneos, talvez mais do que as perdas humanas que provocavam.
Certamente a queda no ônus financeiro da guerra na geração pós-Waterloo
foi muito mais notável do que a queda nas perdas de vidas humanas.

Como se pagaria este custo? O método tradicional tinha sido uma


combinação de inflação monetária (novas emissões para pagar as contas do
governo), empréstimos e um mínimo de tributação especial, pois os impostos
criaram descontentamento público e (quando tinham que ser concedidos por
parlamentos ou cortes) problemas políticos. Mas as extraordinárias
exigências e condições financeiras das guerras transformaram tudo.
Anotações: As guerras revolucionárias e napoleônica

Eric Hobsbawm é um autor que trabalha mais com história contemporânea


do que com política internacional.

A tradição inglesa mistura elementos de realismo e de idealismo, muito por


conta da maturidade do pioneirismo liberal do país.

A Inglaterra, primeiro país a se lançar na Indústria, tinha interesses na


manutenção do sistema westfaliano, pois ele garantiria a estabilidade
continental e permitiria aos ingleses se concentrar em sua expansão
ultramarina e em seu comércio. (as guerras atrapalham os negócios),

Reinhart Koselleck põe como marcos de início e fim do Absolutismo


Clássico a guerra civil religiosa (stasis), como é percebido por Hobbes, e a
Revolução Francesa.

O período das Revoluções marca a transformação dos súditos dos reis


absolutistas em cidadãos. É, segundo ele, o marco de início da
contemporaneidade.
Hobs propõe uma chave de leitura para o século XIX maior que uma centúria
(1770 - 1914)
Os autores anteriores a Hobsbawm punham como marco inicial da
contemporaneidade o Congresso de Viena (mobilizações sociais x
restauração conservadora).

Hobs valoriza a perspectiva social dos processos revolucionários - os


protagonistas desses movimentos são populares, e não heróis como
Napoleão.

A era dos impérios foi um marco para a integração mundial - criou-se um


sistema mundial centrado na libra esterlina e no padrão ouro, garantido pelo
desenvolvimento do telégrafo, das ferrovias, etc.
Watson: O Império Napoleônico (cap. 20)

Como foi visto até aqui, desde que


Estados geograficamente soberanos
substituíram a estrutura ocidental da
cristandade medieval, uma propensão à
hegemonia foi inerente ao sistema
europeu.

As legitimidades estabelecidas pelos


Acordos de Westphalia e Utrecht eram
anti-hegemônicas. No entanto, mesmo
estadistas anti-hegemônicos estavam
cientes de que a hegemonia acarretava
algumas vantagens; e pretendiam que a defesa consciente do equilíbrio de
poder e do dinheiro internacional proporcionasse algumas dessas vantagens
de outros modos.

Havia, por parte dos Estados do clube dos soberanos, uma propensão
hegemônica que pôde ser contida pelos mecanismos do SI de Utrecht. A
Revolução Francesa, no entanto, trouxe novas energias para a Europa, e
Napoleão soube explorá-las melhor do que ninguém. A ordem imperial de
Napoleão foi o momento de maior unidade europeia desde a queda de Roma.
Trouxe mudanças radicais tanto nas relações entre as comunidades do
sistema europeu quanto no governo interno e na estrutura social daquelas
comunidades. Embora tenha durado um período curto, a era napoleônica
induziu mudanças duradouras.

o século XVIII foi um momento de grande crescimento material na Europa.


Dois Estados bem sucedidos, a Inglaterra e a Holanda, já não eram mais
governadas por um monarca absoluto, e a crescente influência das classes
comerciais na política permitia um notável enriquecimento. As práticas
políticas e econômicas de Holanda e Inglaterra funcionavam como um
fermento alhures, e as classes médias na França inspiraram-se em tais
países, clamando por mudança.

Na maioria dos Estados europeus, a classe média ameaçava, de baixo, o


governo dos príncipes soberanos e da sua sociedade internacional. Embora
alguns monarcas mais esclarecidos empregassem burgueses de classe
média na máquina do Estado, esse grupo se sentia fortemente excluído do
governo, e sentia a necessidade de ter voz ativa nos negócios públicos.

A Revolução Francesa foi justamente um ato de autoafirmação da classe


média, o mais dramático da história europeia. Os membros do terceiro
estado, liderado pela burguesia, derrubaram o antigo regime com uma força
explosiva que modificou profundamente as relações entre as várias
comunidades europeias, que, desde Vestfália, tinham sido organizadas numa
sociedade de Estados semelhantes num certo tipo de equilíbrios. O grande
aumento de poder que a Revolução liberou no Estado mais importante do
sistema foi reforçado pelas ideias, colocadas em termo universais, que dela
desenvolvia e disseminava e que eram atraentes aos equivalentes
insatisfeitos do terceiro estado em outros Estados do continente. A Revolução
produziu, e seus líderes efetivamente estimularam, uma stasis geral na
Europa a leste da França.

A auto-afirmação da classe média na Europa assumiu duas formas: a


demanda por participação no governo e o nacionalismo. Os membros do
terceiro estado já não aceitavam que um Estado pudesse ser composto de
qualquer coleção aleatória de territórios, herdados ou atribuídos. A soberania
do povo implicava que o único Estado legítimo fosse um Estado baseado na
vontade de um tipo específico de entidade coletiva, chamada de “nação”. Na
Europa central e oriental, essa era uma ideia realmente revolucionária, e tinha
um efeito desestabilizador sobre todos os anciens regimes da área.

A Revolução liberou um maremoto de entusiasmo nacional. Os exércitos


revolucionários, que eram recrutados por meio da mobilização geral,
contavam com homens que se diziam dispostos a morrer pela Pátria. Esse
entusiasmo era uma vantagem em tanto, tendo em vista os soldados pouco
inspirados das coligações. Se essas energias pudessem ser canalizadas e
controladas, a França permaneceria praticamente imbatível.

Essa força foi canalizada por Napoleão. Nascido na Córsega, ele abraçou a
Revolução e cresceu para impor sobre sua turbulência o controle do Stato
Italiano. Dotado de genialidade militar ímpar, ele transformou todos os
aspectos da arte da guerra, e conseguiu angariar para si um poder absoluto e
ilimitado. Foi, em grande medida, o último e o maior dos déspotas
esclarecidos.
Um príncipe que fez a si mesmo, Napoleão usava métodos não muito
diferentes daqueles recomendados por Maquiavel para trazer a maior parte
da Europa para dentro de um Superstato. A criação e a manutenção de seu
império dependiam do sucesso militar; a guerra não era um último recurso,
mas uma forma de ele ter o que queria; nas negociações, era taticamente
elástico, utilizando a diplomacia para subornar, ameaçar e convencer os
Estados coligados contra ele, sem nenhuma preocupação com a validade de
suas promessas.

Nas áreas de seu domínio, Napoleão estabeleceu reinos e principados


satélites, controlados por familiares, marechais militares, figuras que eram
subordinadas a ele.

Conseguiu compreender que a chave para o controle da Europa estava na


Grande Esponja, o SIRG. Áustria e Prússia representavam grandes
potências, mas Napoleão conseguiu facilmente levar todos os Estados
menores para sua área de influência.
● Diante da hegemonia, esses dois Estados foram reduzidos de inimigos
de Napoleão a seus quase aliados.

Para garantir a legitimidade, Napoleão fez questão de preservar os elementos


revolucionários de sua imagem, ainda que fosse mais um autocrata do que
qualquer coisa. Muitos de seus símbolos e de suas reformas faziam com que
fosse comparado a um imperador romano. A águia em seu emblema confirma
isso → A influência clássica também era uma fonte de legitimação.
● Outros exemplos interessantes de busca pela legitimidade foram o
respeito à Igreja Católica e o seu casamento com uma princesa
Habsburgo, que o legitimou como herdeiro da tradição hegemônica e
tornou a nova dinastia aceitável para a realiza europeia.

A ordem imperial de Napoleão não teve a oportunidade de assentar-se e de


se tornar aceitável pela passagem do tempo. Desde Utrecht, a sociedade
internacional europeia havia se tornado comprometida para com o princípio
do equilíbrio anti-hegemônico, e o Império era demasiado forte para permitir
um equilíbrio de poder sadio. Diante disso, a Grã-Bretanha, Rússia, Prússia e
Áustria se uniram contra Napoleão em 1813 e declararam que se opunham
ideologicamente às doutrinas da Revolução, das quais Napoleão se
declarava o paladino. Esses Estados defendiam especialmente a legitimidade
dos soberanos depostos.
No auge do poderio de Napoleão, os únicos Estados que eram mais ou
menos independentes de seu império eram a Inglaterra, a Rússia e o Império
Otomano.

A Inglaterra, já em vias de industrialização, era capaz de subsidiar os


exércitos continentais, e sua poderosa marinha poderia manter a ilha a salvo
de Napoleão.

A Rússia era muito remota e demasiadamente imensa do ponto de vista


geográfico para ser conquistada. Além disso, não possuía uma classe média
independente disposta a apoiá-lo; os camponeses, por sua vez, estariam
empenhados na defesa da “Santa Rússia” e não lhe dariam ouvidos.

O Império Otomano estava demasiadamente longe da esfera de influência da


Revolução, e qualquer empreitada francesa na região seria frustrada pelo
poderio naval britânico.

A atração do poder de Napoleão se dava especialmente sobre seus súditos, a


quem oferecia melhor governo. Muitos na classe média da Alemanha e da
Itália - estados ainda não consolidados - compartilhavam da visão de Kant de
que não importava em que Estado se estava, se houvesse uma constituição
razoável ou se o governante despótico fosse esclarecido e justo → O governo
de Napoleão era impressionantemente esclarecido e proporciona oportunidades
encorajadoras para a classe média. Na Alemanha, homens como Goethe e Beethoven
começaram por dar boas vindas à extensão do poder napoleônico. Em Estados onde já
existia um sentimento nacional consolidado, o governo francês era muito menos
popular. (Espanha e Holanda)

O maior problema para Napoleão dentro de seu sistema imperial era a nova
força do nacionalismo. As pessoas atraídas por seu governo querem ser
tratadas como iguais e não sentiam lealdade para com um pequeno Estado
soberano, mas para com sua nação. Diante disso, muitos europeus se
ressentiam de sua posição subordinada em seu arcabouço imperial.

Quando as forças coligadas finalmente conseguiram derrubar Napoleão, já


não havia mais como retornar para o padrão anterior. Muitas das vantagens
de uma ordem hegemônica se mantiveram; a classe média estava mais forte
em suas manifestações. o sentimento nacional popular tornou-se
incontrolável, para o bem e para o mal
Se o Império de Napoleão tivesse sido consolidado, muito provavelmente a
paz e a prosperidade seriam consolidadas (esse é o benefício de um sistema
centralizado). Além disso, provavelmente haveria maior ascensão social. No
entanto, os cidadãos desse império seriam submetidos por um governo
francês de métodos franceses, e teriam de escolher entre a assimilação e a
cidadania de segunda classe. Na era de nacionalismos que se iniciava, isso
seria impensável.

A g30 representa o ponto de inflexão em que a religião deixa de ser o fator


preponderante e passa a ser a razão de estado. Westfália permitirá o
surgimento de um sistema de estados, de modo a preservar, racionalmente, o
equilíbrio de poder entre os participantes.

Para melhor compreender a HRI, cabe construir uma linha de hegemonias:


Portugal/Espanha → Holanda → França → Inglaterra

Após a Revolução, as massas começaram a exercer um papel na política → O século


XIX foi o momento de ascensão dos nacionalismos.

Ao final da era napoleônica, havia um desgaste geral das tropas


napoleônicas. O general lutava em várias frentes: na Espanha, na Itália, na
Rússia… isso acabaria por enfraquecê-lo, culminando em sua derrota
definitiva em Waterloo.

Do fim da era napoleônica, surge o concerto europeu: um momento


extremamente estável da política internacional europeia, centrado em cinco
potências: Rússia, França, Prússia, Rússia e Inglaterra.
● Era interessante manter a França como um país de primeira prateleira, no
intuito de preservar o equilíbrio e impedir que surgisse um “novo Napoleão” →
Influência póstuma da razão de estado.
● A Inglaterra se torna a maior potência europeia e mundial.

As classes médias da Europa sairão fortalecidas das guerras.

Com o fortalecimento dos nacionalismos, a manutenção do equilíbrio não é


mais o reflexo exclusivo dos interesses do soberano: os interesses do povo
agora deverão ser levados em conta, para o bem ou para o mal.

O concerto europeu foi um dos momentos mais pacíficos da história europeia.


Para além da Guerra da Crimeia

Deve-se entender as guerras da Revolução e de Napoleão como uma


revolução internacional, que colocava em confronto nos campos de batalha
sistemas sociais e políticos distintos - tanto no terreno da política de potência
quanto no âmbito da política dos princípios, ou seja, da guerra tradicional e da
guerra ideológica.

As guerras provocaram a stasis na Europa, uma stasis centrada na disputa


entre distintos sistemas político-sociais.

Nos primeiros momentos das guerras, a França como Revolução é mais


importante que a França como Estado, que se tornaria o personagem
principal dos conflitos apenas com Napoleão.

Nesse sentido (dicotomia Estado x Ideologia), pode-se traçar paralelos entre as guerras
da Revolução e a Segunda Guerra → Ex: República de Vici vs resistência de de
Gaulle.
A partir da chave de interpretação da ‘Guerra Internacional’, pode-se dividir as
guerras em três fases:
● (1792 - 1795), quando os dois universos contrapostos na França, o da
Revolução e o do ancien régime entram em guerra e se confrontam
enquanto tais, sem que nenhuma das partes cultivasse um desenho
específico de hegemonia mundial
● (1796 - 1807) que envolve a classe dirigente do governo Termidor, e,
em seguida, Napoleão Bonaparte quando se desencadeou um
verdadeiro assalto a hegemonia europeia que foi, ao mesmo tempo,
uma coerente tentativa de exportar (numa variante moderada) as
instituições e os princípios da revolução
● (1808 - 1815) quando o tom dominante da guerra na Europa se torna o
conflito entre o domínio imperial napoleônico e a nova realidade,
inédita, e nesse sentido, “revolucionária” dos nacionalismos de
oposição à França
Congresso de Viena

Os acordos de Viena representaram uma paz conciliatória e não vingativa em relação a


França → Isso foi uma das chaves para o sucesso do equilíbrio de Viena.
● Viena foi mais racional, ilustrada e pragmática

Com a institucionalização da Confederação Germânica, diminuiu o número de


unidades políticas alemãs. A Europa central ficou mais centralizada.

Cinco documentos foram assinados entre 1814 e 1815. O terceiro tratado marcou o
início da Santa Aliança, especialmente a partir de Alexandre I, que considerando
que os governantes possuíam uma missão divina de sustentar a paz europeia e
combater os ideais liberais no continente.

O quinto tratado instituiu a Quádrupla Aliança (Grã Bretanha, Áustria, Prússia e


Rússia). Teve grande participação inglesa, sendo, portanto, mais pragmático do que
a missão cruzadista de Alexandre I.

Não somente o mapa da Europa foi redesenhado. Foram desmantelados ou


remodelados os regimes políticos internos de vários Estados. Foram definidas
novas relações de potências e novos alinhamentos internacionais e, foram fixados
ainda os princípios e regras da nova ordem internacional (Legitimidade e
Equilíbrio de Poder)

Kissinger se atenta para o fato de que a paz de Viena foi extremamente bem
sucedida, garantindo um período de 100 anos de pacificação interna (com exceção
da Guerra da Crimeia e da Guerra Franco Prussiana). Não houve conflitos
generalizados nesse período.

O mercado financeiro também foi importante para a manutenção da paz


(fundamentos econômicos e políticos)

Os autores realistas, como Raymond Aron, trabalham com conceitos como


homogeneidade e heterogeneidade: um sistema internacional mais homogêneo
seria um SI mais pacífico?

A ordem internacional de 1815 a 1871 (Kissinger) era uma ordem precária e


instável. Dois princípios que os vencedores da guerra constituinte decidiram colocar
na base da organização política da EUropa pós-napoleônica:
● O princípio da legitimidade (princípio de que os tronos destituídos pelas
guerras usurpadoras de Napoleão deveriam ser restaurados e as velhas
dinastias soberanas restabelecidas pela graça de Deus.
● O princípio do equilíbrio princípio de que deveria ser evitado , de diferentes
maneiras, que uma grande potência se tornasse capaz de tentar no futuro
uma aventura hegemônica do tipo daquela projetada e implementada por
Napoleão.

Niall Ferguson considera que a Guerra Russo-Japonesa foi o início da quebra da


exclusividade europeia nas Relações Internacionais → Essa perspectiva, e a de outros, está na
origem do conceito de “Choque de Civilizações”, de Huntington.

O princípio da legitimidade implicava na tentativa de congelar as principais


conquistas da revolução em um desenho de restauração dos velhos ordenamentos
dinásticos do regime, dirigido contra as experiências de governo constitucional ou
popular produzidos pela revolução e exportadas pelos exércitos napoleônicos pela
europa (legitimidade garantida pela Santa Aliança).
● Esse princípio foi combatido pelas revoluções liberais que varreram a Europa
no século XIX

O princípio da legitimidade buscava a existência de um efetivo balanceamento entre


as grandes potências que pudesse garantir a paz na Europa.; e um vasto controle
hegemônico da parte das mesmas grandes potências de uma ampla e bem
determinada esfera de influência que efetivamente ficasse submetida a seus
domínios.

A Paz dos Cem Anos foi uma paz entre os vencedores e, ao mesmo tempo, uma
Paz dos vencedores.

A Paz buscava organizar a Europa a partir de núcleos de poder expressivos. Nesse cenário, a
Alemanha deveria se tornar mais centralizada. → de modo a aprimorar a busca pelo
equilíbrio de poder, a Paz instituiu unidades políticas mais centralizadas e mais fortes, vide o
Reino dos Países Baixos.

Com as mudanças territoriais, o eixo fundamental da Alemanha passou do oriente


para o ocidente. O SIRG é instinto e substituído pela confederação germânica.

A Grã Bretanha interessada principalmente no equilíbrio da Europa e no seu próprio


predomínio mundial, consolidou a sua presença no continente por intermédio do
crescimento do Reino de Hannover onde George III era soberano; Ao mesmo
tempo, reforçou sua posição no Mar Mediterrâneo e no Mar do Norte (Heligoland),
assim como em outras regiões do planeta.

A Rússia de Alexandre I recebeu o reconhecimento de posse da Finlândia e do


Reino da Polônia. Na península italiana foram restabelecidos os antigos regimes e a
velha fragmentação política sob a decisiva hegemonia direta e indireta do império
austríaco. Somente o Reino da Sardenha conseguiu manter alguma autonomia em
relação à Áustria, e é a partir de lá que se daria a unificação. Na península ibérica
Portugal permaneceu sob forte influência da Grã Bretanha enquanto a Espanha foi
restituída aos Bourbons.

No nosso caso, houve a implementação do projeto do império luso-brasileiro: os


Braganças no Rio mesmo após a derrota de Napoleão e o Congresso de Viena.

Influenciou também as Revoluções Atlânticas: “Napoleão Bonaparte, a ti devo a


América, a liberdade e a independência. Tua espada desfechou o primeiro golpe à
cadeia que ligava os dois mundos”

O pós Viena vai abrir caminho para a Inglaterra, que vai desempenhar um
importante papel na manutenção do equilíbrio e vai se tornar por excelência a
grande potência comercial e marítima do mundo. Ao mesmo tempo em que defendeu as
independências (criação de parceiros comerciais), promoveu a colonização (mercado
consumidor) → Do livre comércio para o monopolismo colonial.

A restauração da França Bourbon foi também o resultado calculado de uma paz de


equilíbrio para evitar as ambições expansionistas da Prússia em direção a Alsácia e
Lorena com o resultado do aumento excessivo de sua potência. A Própria França foi
cercada por um sistema de Estados velhos e novos: Países Baixos, Confederação
Germânica, Reino da Sardenha, estabelecidos para bloquear eventuais projetos
expansionistas.

Os verdadeiros derrotados foram os governos constitucionais, liberais e


democráticos.

O SI de Viena era pouco homogêneo. Dentro de um mesmo sistema, havia posturas


divergentes , vide Rússia e Grã-Bretanha. Ainda assim, os países continentais
ligavam-se entre si por um sentido de valores partilhados. Havia equilíbrio físico,
mas também equilíbrio moral. A compatibilidade entre instituições contribui para
fortalecer os laços do SI

Dois Revolucionários: Napoleão III e Bismarck

Contexto da ordem de Viena do pós guerras napoleônicas.

Há, pelo final do século, um processo de enfraquecimento da ordem de Viena, em


um primeiro momento pela Guerra da Crimeia e, em um segundo momento, pela
Guerra Franco-Prussiana (Bismarck destrói o equilíbrio de Viena).
Isso contrasta com a interpretação de Paz dos 100 Anos, ou, ao menos, mostra que
ela não é totalmente correta. - a ideia da paz indica que o SI se manteve estável
durante um século; não foi isso que aconteceu.

Para Kissinger, Bismarck é um “novo Richelieu”, usando sua política realista para dilapidar o
sistema construído por Metternich → A diplomacia de Metternich tinha a intenção de
manter a Áustria politicamente relevante no século XIX, visto que, entre os grandes
atores, ela foi a que mais se enfraqueceu, sobretudo diante da Prússia.

A própria Áustria contribuiu para enfraquecer o sistema, visto que escolheu não se
aliar à Rússia na Crimeia, rompendo com a Santa Aliança

A ordem de Viena era precária desde o início

GB não adere à Santa Aliança, preferindo exercer um estreito controle sobre a


evolução política da Europa por intermédio da Quádrupla Aliança e por intermédio
de consultas periódicas. (os ingleses viam a necessidade de ajustes periódicos no
sistema)

Mantém-se dois tipos de conflitos na política internacional, mesmo na primeira


metade do século XIX: conflitos de potências e conflitos ideológicos internos
(guerras civis e o confronto entre sistemas).

Embora a ordem de Viena tenha sido precária e instável, foram necessários cem anos para
destruí-la totalmente. → a ordem dos vencedores e a ordem entre os vencedores entraram em
crise ao mesmo tempo.

Duas faces da desagregação da ordem internacional de Viena

Enquanto projeto de ordem interna internacionalizada (defesa internacional do


princípio de legitimidade dinástica) e manutenção de um complexo de relações de
potências entre os Estados (no sentido do princípio de equilíbrio de poder, dentro e
fora da Europa)

Se os mecanismos de repressão da Santa Aliança contra os diferentes desafios


constitucionais foram eficazes nos anos de 1820, a revolução nacional grega (1821-
1829) teve conclusão exitosa, abrindo uma brecha profunda na ordem de Viena e na
intensidade de suas regras

As independências nas Américas marcam o declínio dos países ibéricos, que nunca
mais voltariam a ser atores importantes no tabuleiro europeu.

O rei constitucional Luís Felipe de Orleans apoia o nascimento da Bélgica independente


(1830-31) → Será que isso tem algo a ver com o medo do fortalecimento alemão?
Formação de uma outra quadrupla aliança em 1834 (GB, Portugal, Espanha,
França), países constitucionais em oposição ao desenho conservador das potências
da Santa Aliança

Criação, também em 1834, da união aduaneira alemã (Zollverein), o primeiro passo


na direção da unificação alemã
● Permite com que a Prússia passe por uma modernização industrial violenta.
● Muitos dizem que esse processo seria o principal causador da unificação,
mais do que a genialidade política de Bismarck.

O biênio de 48/49

Abolição da monarquia e instauração da república na França com a eleição de Luís


Bonaparte

Fortalecimento das motivações nacionalistas, constitucionalistas e democráticas na


Alemanha e na Itália como premissas dos processos de unificação; explosão da
questão da nacionalidade no Império Habsburgo.

Guerra da Criméia (53-56)

Conflito entre o Império russo de um lado, e uma aliança composta pelo Império
Otomano, a França, a Grã-Bretanha e o Reino da Sardenha, do outro lado. O
confronto teve origem na disputa entre a Rússia e a França de Napoleão III pelo
controle dos lugares santos da cristandade no território Otomano. Quando a Turquia
aceitou a proposta dos franceses, a Rússia iniciou o ataque contra a França.

A principal novidade é a tomada de decisão da Áustria, que rompe com a Santa


Aliança.

A unificação do mundo alemão sob a Prússia de Bismarck: Três guerras


curtas e vitoriosas

A primeira combatida com a Áustria no quadro da Confederação alemã contra a


dinamarca para a obtenção dos ducados de Schleswi e Holstein (64)

A segunda combatida contra a Áustria (66) e com a Aliança da Itália que levou a
dissolução da COnfederação alemã e ao nascimento do primeiro núcleo do futuro
império alemão (a confederação dos estados do norte, além da posterior crise do
Império austrícaco (a dupla monarquia austro húngara)
A terceira contra a França de Napoleão III que se conclui com a fundação em
janeiro de 1871 do segundo Reich.

Bismarck adota a Realpolitik: o interesse nacional acima de qualquer tipo de valor

O nascimento do segundo reich foi um divisor de águas, não somente na ordem


internacional pós napoleônica, mas também em relação à história internacional de
longa duração. A partir daquele momento, foi enterrado o princípio do centro fraco
proposto em Vestfália, sob a realidade de uma nova e poderosa entidade política
instaurada no centro da europa. Isso pavimentou o caminho para a grande guerra.

A Alemanha imperial podia reclamar com extraordinário energia uma radical


reestruturação das hierarquias do poder internacional.

A partir dos anos 1890, as elites políticas, econômicas e militares da Alemanha


deslocaram a política bismarckiana do concerto europeu para dar lugar a dinâmicas
expansionistas e agressivas da jovem potência.

O impetuoso crescimento da maquina economia e industrial alemã como base do


Estado - entrou em competição direta com a potência econômica já consolidada que
era a Inglaterra

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