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MARSÍLIO DE PÁDUA: primeira proposta de um Estado laico e independente do

Papado.
Vida e Obra
Marsílio foi um cidadão de Pádua, viveu entre os anos de 1275-1342, viveu 67 anos.
Viveu no contexto das lutas entre o Papado e o Império romano-germânico. Foi formado
em Medicina, ensinou na célebre Universidade de Pádua até 1312. Era defensor da paz e
teve como uma das principais obras «O Defensor da Paz» (1324).
Ideias principais
A comunidade política
Na visão de Marsílio, o Estado é um «conjunto de cidades e províncias unidas sob um
único governo»; o melhor regime político é uma «república temperada». A comunidade
política é vista como «communitas civilis» - isto é, uma sociedade de homens tendo em
vista a manutenção da paz, tanto entre eles como com os estrangeiros.
O Estado tem por base uma associação de homem, que criam por meio de uma
«conjuntura da natureza e da arte», por outras palavras, pela conjugação da inclinação
natural dos seres humanos para viver em sociedade («animais políticos») e pela arte da
«persuasão e exortação de homens prudentes e eloquentes», que convencem os membros
da comunidade a consentirem em formá-la, organizá-la e viverem sob as suas leis.
É por parte dos cidadãos que se constituem – todos – em «legislador humano» («legislator
humanos»), em que o poder, ou autoridade política advém. O poder vem de Deus para o
povo, e só deste pode seguir, se for essa a vontade a vontade do povo, para os governantes,
perfilhando assim a concepção ainda recente, de S. Tomás de Aquino.
Constituem (a parte preponderante) do Estado, os governantes – nomeadamente, o rei ou
o imperador: cabe-lhes exercer o poder político, em representação do povo. Nasce assim
a doutrina do governo representativo: valentior pars totum universitatem repraesentat,
quer dizer, «a parte preponderante representa todo o conjunto dos membros»
Marsílio conclui que se a comunidade política se afunda no consentimento dos cidadãos,
deve ser apenas a vontade colectiva a escolher, em cada caso, o seu príncipe, rei ou
imperador e a legislar. Era então o que se designava por «monarquia política», à qual
chamamos hoje «monarquia electiva». (não se tratava, porém, de sulfrágio universal, mas
de uma eleição por um colégio restrito: Marsílio tinha manifestamente em vista o colégio
dos príncipes eleitores do Imperador germânico).
Superioridade do Imperador sobre o Papa. Defesa do Estado laico.
Marsílio segue Santo Agostinho e antecipa-se a Hobbes: os homens são naturalmente
maus («homine sunt proni ad malum»). De tal forma que o governo tem de ser único e
forte («potestas coactiva»): não pode haver divisão entre o Imperador e o Papa (ou entre
o Estado e a Igreja).
A unidade e a eficácia da governação e, como consequência delas, a paz entre os homens,
só podem ser garantidas pela plenitude do poder civil («plenitude potestatis»). O único
capaz de assumir integralmente a função de defensor pacis é o Imperador (ou o Estado),
pela razão de ele possuir a força política. Na ordem estadual, com efeito, o Papa e o Bispo
não podem exercer nenhuma potestas coactiva: esta pertence exclusivamente ao Estado.
Se o Imperador for religioso («legislator fidelis»), ele só presta contas a Deus: abaixo
dele, todos lhe obedecem e lhe prestam contas e os sacerdotes devem comportar-se como
clerics laicos.
O exercício da jurisdição sobre os processos matrimoniais (anulação de casamentos,
dispensa de parentesco, legitimação de filhos, etc.), deveria ser feito pelo Imperador e aos
tribunais e não ao Papa e aos tribunais eclesiásticos. Assim viria a ser, num futuro
longínquo.

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