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O PENSAMENTO POLÍTICO DA IDADE MÉDIA

I. PENSAMENTO POLÍTICO DA IDADE MÉDIA

1.1. Santo Agostinho (354-430 d.C)

A queda do Império Romano no Ocidente em 476, vai originar o surgimento e a expansão do


Cristianismo, é neste período de profunda alterações no domínio das ideologias e das
doutrinas políticas, que aparece o Santo Agostinho, considerado o primeiro grande filósofo
cristão e que chegou a ser Bispo de Hipona.

Santo Agostinho viveu no período do Feudalismo, a Idade Média tem no Feudalismo uma
estrutura social, política, económica e religiosa, onde as relações estabelecidas eram de
vassalagem, onde o rei era o senhor mais poderoso.

A sociedade feudal era bastante hierarquizada e a nobreza era detentora de grandes extensões,
além de poder arrancar os impostos pelos camponeses.

O Clero, por sua vez, era constituído pelos mebros da igreja Católica que detinha o poder
espiritual. A igreja era o representante de Deus na Terra, e influenciava o modo de pensar, as
formas de comportamento. Detinha também o poder económico porque detinha inúmeras
terras.

Neste período quem detinha mais terras, também tinha mais poder, e todos os poderes
jurídico, económico e político estavam concentrados nas mãos dos senhores feudais.

Concluindo, o Estado Medieval caracterizou-se pela expansão do cristianismo, pela enorme


revolução agrária, pelo surgimento das universidades. Perdeu um pouco do poder politico em
favor das estruturas intraestaduais e supra estaduais (o papado – que representava a
conveniente encarnação do poder espiritual e temporal, o papa como representante de Jesus
Cristo na Terra), tais como o feudalismo (domínios dos senhores feudais, detinham porções de
terra, com poderes de natureza política, militar, judicial, fiscal, fazendo parecer as vezes estar-
se e perante Estados dentro do próprio Estado.

O Poder Espiritual (de Deus) se sobrepunha ao Poder Temporal (dos homens), sendo o Papa
considerado o rei dos reis, detentor do poder espiritual na Terra.

1.2.Pensamento Político de Santo Agostinho

Santo Agostinho, foi fortemente influenciado pelo pensamento de Platão. No seu pensamento
ele apresenta o modelo de duas cidades, a cidade de Deus e a Terrena.

A cidade de Deus, iria reunir os eleitos, aqueles que vivem de acordo com a lei de Deus, estes
conseguiriam alcançar a paz e a justiça, o amor perfeito e a realização pessoal.

Enquanto que a cidade Terrena era o reino do satanás, em permanente conflito, sem harmonia,
vivia-se num Estado turbulento.

Entendia ele, que as duas cidades estavam em permanente conflito, o Estado devia tentar
alcançar a cidade de Deus.

Era um pessimista antropológico. E duvidava da capacidade de generação do homem.

Num segundo momento ele aborda a questão da autoridade política, e entende que esta é uma
dádiva de Deus, daí que ele entenda que o dever de obediência é absoluto na relação
governados/governantes.

Não compete aos homens discutir se os governantes são bons ou maus, ou se as formas de
governo são justas ou injustas. Entendia ele que a paz era um bem supremo na cidade,
contudo este facto não impede uma guerra justa, isto é, se a cidade de Deus fosse atacada, eles
tinham o direito de se defender.

No 3º momento ele debruça-se sobre a relação entre a Igreja e o Estado, as relações entre o
poder eclesiástico e o poder civil são concebidos de forma separada e independente; ele
considerava perigoso a ingerência do poder civil sobre o poder eclesiástico, e vice versa.
Neste pensamento de Santo Agostinho, não se vislumbra a supremacia papal.

Concluindo, Santo Agostinho, debruçou-se sobre o problema da ordem e segurança, ordem e


justiça, o valor fundamental da paz, fez a distinção entre a paz justa e a paz injusta, tinha uma
concepçao negativa do homem, uma visão repressiva do Estado, recusa o progresso histórico
e a evolução do mundo, para ele o homem era o foco de um mau comportamento.

2. São Tomás de Aquino (1225-1275)

São Tomás de Aquino era filho de nobres, o pai pertenceu a corte de Frederico II, padre
dominicano, estudou na Universidade de Nápoles e depois em Paris, onde se doutorou aos 35
anos.

As convicções filosóficas e políticas de São Tomás de Aquino foram fortemente


condicionadas pela sua concepção cristã, teocêntrica do mundo e da vida, bem como pela
assimilação e cristianização da filosofia aristotélica e pelos elementos da nova situação
histórica, étnica, social e política que caracterizaram a Escolástica nos séculos XII e XIII.[1]

2.1. Pensamento Político de São Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino, fez a síntese entre o cristianismo e o pensamento aristotélico. Foi um
autor jusnaturalista, que defendia a existência de uma ordem única na natureza, criada pela
providência divina, especialmente no homem e sua provisão.

Os aspectos do seu pensamento resumem-se me:


a) Existência de leis criadas por Deus onde diz que Deus criou o mundo e o homem de
acordo com as leis do universo.

De acordo com este autor, existem as seguintes leis:

a) Lei Dívina – estas são as normas reveladas directamente pela divindade pelas
escrituras , e estas normas são superiores à todas as outras, mas não são suficientes para reger
a vida da cidade.[2]

b) Lei Natural – é a participação da lei eterna na criatura, o mesmo que dizer que são
normas ditadas pela razão divina enquanto cognoscíveis pela razão humana, isto é, era preciso
procurar fazer o bem, e evitar fazer o mal(concepção tomista – o bem deve ser feito e o mal
evitado).

c) Lei eterna – é a lei promulgada por Deus, e que tudo ordena, em tudo está, tudo rege. A
Lei Eterna é uma directriz para tudo, é uma ordem imperativa, é regente do todo, a partir da
razão divina que a tudo inspira. Isto é, é a lei geral criada para todos os seres do universo.

d) Lei Humana – é o complemento ou particularização da lei natural, “toda a lei criada pelo
homem, só teria natureza de lei, se estiver em consonância com a lei natural, só seria justa, só
seria justa se não contrariasse a natureza”.

No 2º momento este autor debruça-se sobre a necessidade da comunidade política para a


realização do homem, o homem é um animal político, daqui decorre que a sociedade política
tem uma origem natural, ele realçava a necessidade do homem estar integrado num Estado, o
que não significa que o Estado se sobreponha ao homem, pelo contrário, tendo sido criado a
semelhança de Deus, ele tinha dignidade e um conjunto de direitos, para ele, o homem não era
uma peça do mecanismo estadual, tem autonomia e independência, tem fins próprios, um
próprio direito de acção ligado à Deus, por isso não pode ser esmagado pelo Estado.
Num 3º momento São Tomás de Aquino debruça-se sobre o bem comum como o fim do
Estado. Defendia que os homens deviam ter o mínimo de bens que pudessem assegurar a sua
subsistência, porque só assim ele poderia de facto prosseguir os fins eternos que motivam a
sua existência.

São Tomás avança que o homem só encontra a sua realização na cidade. Defende que o
Estado é o bem comum. Só o Estado é a sociedade perfeita, não no sentido de uma perfeição
absoluta igual a de Deus, mas mas no sentido em que se basta a si própria, que possui todas as
virtudes para satisfazer as necessidades do homem. O bem comum, o bem da comunidade, é
pois o objetivo do Estado, e pressupõe que cada um dos homens possa, não apenas viver, mas
viver bem.

São Tomás de Aquino avança com a doutrina da origem popular do poder, e defende que o
poder tem uma origem divina, e que só através do povo é que o poder pode ser transferido
para os governantes.

Aceita a classificação de Aristóteles das formas de governo, e apresenta a tirania como a pior
destas formas, e defende que a melhor forma era a monarquia, e avança um governo misto,
concebido por Aristóteles e construído por Políbio e Cícero, em que se conjuga a monarquia
com a aristocracia e o poder popular.

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