Você está na página 1de 6

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Rio Grande do Norte – campus Pau dos Ferros

Disciplina: História I Professor: Gabriel Pereira de Oliveira

2022

REDAÇÃO
Prazos:
- Entrega da versão inicial da redação (cada estudante deve apresentar na plataforma
Google Classroom a versão inicial da redação): até 14 de outubro de 2022
- Entrega da versão final da redação (cada estudante deve entregar pessoalmente ao
professor o manuscrito ou apresentar na plataforma Google Classroom a versão final da
redação): até 27 de outubro de 2022

DIRETRIZES PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL


- a redação final pode ser manuscrita ou digitada;
- não é necessário incluir título na redação;
- os textos devem ser organizados com início, meio e fim, sem
obrigatoriamente precisar ter uma proposta de intervenção ao final;
- os textos manuscritos devem ter entre 20 e 30 linhas e não precisam de
referências bibliográficas;
- os textos digitados devem seguir as normas da ABNT e ter entre 400 e 800
palavras, sem contar notas de rodapé, bibliografia e demais elementos não-
textuais;
- os textos digitados devem ser entregues em formato Microsoft Word ou
Google Docs, em letra Times New Roman, tamanho 12, parágrafos com
recuo de 2cm, texto com margem superior 3cm / inferior 2cm / esquerda 3cm
/ direita 2cm; espaçamento 1,5;
- citações com extensão maior do que três linhas devem ser recuadas em
4cm, espaçamento simples e ficar com letra reduzida ao tamanho 10;
- o conteúdo do texto deve ser original. Cada referência a outros textos deve
vir com a indicação por meio de nota de rodapé ou referência no formato
(sobrenome, data);
- as notas e referências bibliográficas devem seguir as normas da ABNT;
 Proposta da redação
Trecho de - BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998.
Os nossos antepassados, desde a Idade Média até o coração dos
tempos modernos, tinham da realeza uma imagem muito diferente da nossa.
Em todos os países, os reis eram então considerados personagens sagradas;
pelo menos em certos países, eram tidos como taumaturgos1. Durante muitos
séculos, os reis da França e os reis da Inglaterra (para usar uma expressão já
clássica) “tocaram as escrófulas2”: significando que eles pretendiam,
somente com o contato de suas mãos, curar os doentes afetados por essa
moléstia; acreditava-se comumente em sua virtude medical. Durante um
período apenas um pouco menos extenso, os reis da Inglaterra distribuíram
a seus súditos, mesmo para além dos limites de seus Estados, anéis (os
cramprings) que, por terem sido consagrados pelos monarcas, haviam
supostamente recebido o poder de dar saúde aos epilépticos e de animar as
dores musculares.
Não se podia pensar em considerar os ritos de cura isoladamente, fora
de todo esse grupo de superstições e legendas que formam o “maravilhoso”
monárquico; isso teria sido condenar-se antecipadamente a vê-los apenas
como uma anomalia ridícula, sem ligação com as tendências gerais da
consciência coletiva. Esses ritos serviram-me de mecanismo para estudar,
particularmente na França e na Inglaterra, o caráter sobrenatural que por
longo tempo foi atribuído ao poder régio, aquilo que poderíamos chamar a
realeza “mística”. A realeza! Sua história domina toda a evolução das
instituições europeias. Até nossos dias, quase todos os povos da Europa
ocidental foram governados por reis. Durante longo período, o
desenvolvimento político das sociedades humanas em nossos países

1
Quem faz milagres.
2
Inflamação de gânglio linfático ou nódulo linfático submandibular e cervical, que hoje se diz estar
associada à tuberculose.
resumiu-se quase unicamente às vicissitudes3 do poder das grandes dinastias.
Ora, para compreender o que foram as monarquias de outrora, para sobretudo
dar-se conta de sua longa dominação sobre os espíritos dos homens, não é
suficiente apenas esclarecer até o último detalhe o mecanismo da
organização administrativa, judiciária, financeira que essas monarquias
impuseram a seus súditos; nem é suficiente analisar abstratamente ou
procurar extrair de alguns grandes teóricos os conceitos de absolutismo ou
de direito divino. É necessário também penetrar as crenças e fábulas que
floresceram em torno das casas principescas. Em muitos pontos, todo esse
folclore diz-nos muito mais do que o diria qualquer tratado oficial.
Os reis da França e da Inglaterra puderam tornar-se médicos
milagrosos porque já eram, havia muito tempo, personagens sagradas:
“sanctus enim et christus Domini est” (“o rei é santo; é o ungido do Senhor”),
dizia Pierre de Blois, a fim de justificar as virtudes taumatúrgicas de seu
monarca, Henrique II. Os capetíngios sempre se afirmaram como autênticos
herdeiros da dinastia Carolíngia; e os carolíngios, em autênticos herdeiros de
Clóvis e dos descendentes deste. Os reis normandos da Inglaterra
reivindicaram a sucessão dos príncipes anglo-saxões, considerando-a um
bem patrimonial. Dos chefes das antigas tribos de francos, anglos ou saxões
aos soberanos franceses ou ingleses do século XII, a filiação é direta e
contínua. Portanto, deve-se primeiro olhar para as velhas realezas
germânicas; por meio delas, tocamos um fundo de ideias e de instituições
extremamente arcaicas e que foram fundamentais para sustentar o poder da
realeza medieval.
Diferentemente do que acontecia no caso dos chefes temporários de
guerra, livremente escolhidos em razão de seu valor pessoal, os reis eram
entre os germânicos escolhidos apenas em certas famílias consideradas

3
Sucessão de mudanças. Variabilidade. Inconstância.
nobres – sem dúvida, em determinadas famílias hereditariamente dotadas de
uma virtude sagrada. Os reis eram considerados seres divinos ou, pelo
menos, originados dos deuses. “Os godos”, diz Jordanes, “atribuindo suas
vitórias à feliz influência que emanava de seus príncipes, não quiseram ver
neles simples homens; deram-lhes o nome Ases, isto é, semideuses.”
Reencontra-se a palavra Ases nas antigas línguas escandinavas; ali ela servia
para designar os deuses ou certas categorias destes.
Dessa fé na origem sobrenatural dos reis, decorria um sentimento
lealista. Não era lealdade a este ou àquele indivíduo: mas à família ou
dinastia real. Atalarico escrevia ao senado Romano: “Assim como aquele
que nasce de vós é dito de origem senatorial, assim também aquele que vem
da família dos descendentes de Amala – diante da qual toda a nobreza perde
o brilho – é digno de reinar”; e o mesmo príncipe, misturando conceitos
germânicos com um vocabulário romano, falava do “sangue dessa família,
consagrado à púrpura”. Essas famílias predestinadas eram as únicas capazes
de dar chefes verdadeiramente eficazes, pois apenas elas detinham aquela
ventura misteriosa na qual as pessoas viam, mais que no talento militar deste
ou daquele comandante, a causa do sucesso dos chefes.
As pessoas da Idade Média, ou pelo menos a sua maioria, tinham das
coisas da religião uma imagem muito viva e material. Como poderia ser de
outra forma? A seus olhos, não havia uma separação entre o mundo em que
viviam e o mundo maravilhoso para o qual os ritos cristãos abriam a porta;
os dois universos penetravam-se mutuamente; se um gesto agia no além,
como imaginar que sua ação não se estendia também a esse mundo?
Certamente, a ideia de intervenções dessa ordem não chocava ninguém, pois
ninguém tinha noção exata das leis naturais. Portanto, os atos, os objetos ou
os indivíduos sagrados eram imaginados não apenas como fontes de forças
aptas a atuar no outro mundo, mas também como fontes de energia para
influenciar a vida cá na Terra. Aliás, os padres, carregados de rituais
sagrados, eram também por muita gente considerados uma espécie de
mágicos. Nessa qualidade, eram às vezes venerados e às vezes odiados.
O conceito de realeza sagrada e maravilhosa atravessou toda a Idade
Média sem nada perder de seu vigor, muito pelo contrário: todo esse tesouro
de legendas, de ritos curativos, de crenças meio eruditas, meio populares,
que constituía grande parte da força moral das monarquias não cessou de
crescer. Porém, em certos momentos, após a morte de Carlos Magno no
reinado dos primeiros capetíngeos, por exemplo, o caráter sagrado
correntemente reconhecido à pessoa do rei e a força da monarquia
diminuíram. Na prática, os próprios reis foram em momentos de crise como
esse pouco respeitados pelos súditos. No entanto, o que deve surpreender o
historiador dos séculos X e XI não é a fraqueza da realeza francesa, o
surpreendente é que essa realeza tenha-se mantido e tenha conservado
suficiente prestígio para poder mais tarde, a partir de Luís VI, com a ajuda
das circunstâncias, desenvolver rapidamente suas energias latentes e, em
menos de um século, transformar-se em grande potência dentro e fora da
França.

PROPOSTA DE REDAÇÃO
Ao contrário do que pressupunha a historiografia europeia do século XIX,
outros documentos que não os de caráter oficial ou escrito podem ser fontes
históricas de grande relevância. Relatos supersticiosos, naquela perspectiva,
jamais poderiam ser úteis à escrita da história na medida em que se
distanciavam dos ditos preceitos racionais e científicos tão valorizados após
o fim da chamada Idade Média, vista muitas vezes como uma época de
trevas. Porém, já no século XX, Marc Bloch teve uma visão diferente a
respeito desse período e de fontes ditas não oficiais.
Com base nisso, redija um texto dissertativo-argumentativo tratando das
seguintes questões:

1) Explique por que é importante, na visão do historiador francês Marc


Bloch, analisar materiais ligados ao chamado mundo maravilhoso e místico
das curas para entender a história medieval.
2) Analise comparativamente a importância do caráter sagrado para a realeza
manter seus prestígios no período medieval e como grupos atuais tentam se
promover e se afirmar no meio político e econômico por meio de um discurso
religioso, mostrando-se como grandes salvadores da comunidade seja em
relação a problemas específicos de saúde ou sociais de modo mais amplo.

Você também pode gostar