Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2022
REDAÇÃO
Prazos:
- Entrega da versão inicial da redação (cada estudante deve apresentar na plataforma
Google Classroom a versão inicial da redação): até 14 de outubro de 2022
- Entrega da versão final da redação (cada estudante deve entregar pessoalmente ao
professor o manuscrito ou apresentar na plataforma Google Classroom a versão final da
redação): até 27 de outubro de 2022
1
Quem faz milagres.
2
Inflamação de gânglio linfático ou nódulo linfático submandibular e cervical, que hoje se diz estar
associada à tuberculose.
resumiu-se quase unicamente às vicissitudes3 do poder das grandes dinastias.
Ora, para compreender o que foram as monarquias de outrora, para sobretudo
dar-se conta de sua longa dominação sobre os espíritos dos homens, não é
suficiente apenas esclarecer até o último detalhe o mecanismo da
organização administrativa, judiciária, financeira que essas monarquias
impuseram a seus súditos; nem é suficiente analisar abstratamente ou
procurar extrair de alguns grandes teóricos os conceitos de absolutismo ou
de direito divino. É necessário também penetrar as crenças e fábulas que
floresceram em torno das casas principescas. Em muitos pontos, todo esse
folclore diz-nos muito mais do que o diria qualquer tratado oficial.
Os reis da França e da Inglaterra puderam tornar-se médicos
milagrosos porque já eram, havia muito tempo, personagens sagradas:
“sanctus enim et christus Domini est” (“o rei é santo; é o ungido do Senhor”),
dizia Pierre de Blois, a fim de justificar as virtudes taumatúrgicas de seu
monarca, Henrique II. Os capetíngios sempre se afirmaram como autênticos
herdeiros da dinastia Carolíngia; e os carolíngios, em autênticos herdeiros de
Clóvis e dos descendentes deste. Os reis normandos da Inglaterra
reivindicaram a sucessão dos príncipes anglo-saxões, considerando-a um
bem patrimonial. Dos chefes das antigas tribos de francos, anglos ou saxões
aos soberanos franceses ou ingleses do século XII, a filiação é direta e
contínua. Portanto, deve-se primeiro olhar para as velhas realezas
germânicas; por meio delas, tocamos um fundo de ideias e de instituições
extremamente arcaicas e que foram fundamentais para sustentar o poder da
realeza medieval.
Diferentemente do que acontecia no caso dos chefes temporários de
guerra, livremente escolhidos em razão de seu valor pessoal, os reis eram
entre os germânicos escolhidos apenas em certas famílias consideradas
3
Sucessão de mudanças. Variabilidade. Inconstância.
nobres – sem dúvida, em determinadas famílias hereditariamente dotadas de
uma virtude sagrada. Os reis eram considerados seres divinos ou, pelo
menos, originados dos deuses. “Os godos”, diz Jordanes, “atribuindo suas
vitórias à feliz influência que emanava de seus príncipes, não quiseram ver
neles simples homens; deram-lhes o nome Ases, isto é, semideuses.”
Reencontra-se a palavra Ases nas antigas línguas escandinavas; ali ela servia
para designar os deuses ou certas categorias destes.
Dessa fé na origem sobrenatural dos reis, decorria um sentimento
lealista. Não era lealdade a este ou àquele indivíduo: mas à família ou
dinastia real. Atalarico escrevia ao senado Romano: “Assim como aquele
que nasce de vós é dito de origem senatorial, assim também aquele que vem
da família dos descendentes de Amala – diante da qual toda a nobreza perde
o brilho – é digno de reinar”; e o mesmo príncipe, misturando conceitos
germânicos com um vocabulário romano, falava do “sangue dessa família,
consagrado à púrpura”. Essas famílias predestinadas eram as únicas capazes
de dar chefes verdadeiramente eficazes, pois apenas elas detinham aquela
ventura misteriosa na qual as pessoas viam, mais que no talento militar deste
ou daquele comandante, a causa do sucesso dos chefes.
As pessoas da Idade Média, ou pelo menos a sua maioria, tinham das
coisas da religião uma imagem muito viva e material. Como poderia ser de
outra forma? A seus olhos, não havia uma separação entre o mundo em que
viviam e o mundo maravilhoso para o qual os ritos cristãos abriam a porta;
os dois universos penetravam-se mutuamente; se um gesto agia no além,
como imaginar que sua ação não se estendia também a esse mundo?
Certamente, a ideia de intervenções dessa ordem não chocava ninguém, pois
ninguém tinha noção exata das leis naturais. Portanto, os atos, os objetos ou
os indivíduos sagrados eram imaginados não apenas como fontes de forças
aptas a atuar no outro mundo, mas também como fontes de energia para
influenciar a vida cá na Terra. Aliás, os padres, carregados de rituais
sagrados, eram também por muita gente considerados uma espécie de
mágicos. Nessa qualidade, eram às vezes venerados e às vezes odiados.
O conceito de realeza sagrada e maravilhosa atravessou toda a Idade
Média sem nada perder de seu vigor, muito pelo contrário: todo esse tesouro
de legendas, de ritos curativos, de crenças meio eruditas, meio populares,
que constituía grande parte da força moral das monarquias não cessou de
crescer. Porém, em certos momentos, após a morte de Carlos Magno no
reinado dos primeiros capetíngeos, por exemplo, o caráter sagrado
correntemente reconhecido à pessoa do rei e a força da monarquia
diminuíram. Na prática, os próprios reis foram em momentos de crise como
esse pouco respeitados pelos súditos. No entanto, o que deve surpreender o
historiador dos séculos X e XI não é a fraqueza da realeza francesa, o
surpreendente é que essa realeza tenha-se mantido e tenha conservado
suficiente prestígio para poder mais tarde, a partir de Luís VI, com a ajuda
das circunstâncias, desenvolver rapidamente suas energias latentes e, em
menos de um século, transformar-se em grande potência dentro e fora da
França.
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Ao contrário do que pressupunha a historiografia europeia do século XIX,
outros documentos que não os de caráter oficial ou escrito podem ser fontes
históricas de grande relevância. Relatos supersticiosos, naquela perspectiva,
jamais poderiam ser úteis à escrita da história na medida em que se
distanciavam dos ditos preceitos racionais e científicos tão valorizados após
o fim da chamada Idade Média, vista muitas vezes como uma época de
trevas. Porém, já no século XX, Marc Bloch teve uma visão diferente a
respeito desse período e de fontes ditas não oficiais.
Com base nisso, redija um texto dissertativo-argumentativo tratando das
seguintes questões: