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Resumo de História (Págs.

63 a 71)
Pág. 63-Formação do sistema feudal
Após o declínio do poder central romano, a Europa Ocidental testemunhou a complexa
formação do sistema feudal. Nesse processo, os grandes proprietários de terras ascendiam
politicamente, fragmentando o controle e compartilhando-o entre si. Essa estrutura fundiu
elementos das instituições romanas, como o colonato, com as tradições germânicas,
exemplificadas pelo comitatus.
Os proprietários de terras assumiram a proteção de seus domínios e habitantes, estabelecendo
vínculos de dependência pessoal, notadamente através da vassalagem. Este arranjo implicava
um pacto de lealdade entre um vassalo (o subordinado) e um suserano (frequentemente um
grande proprietário de terras), em que o vassalo recebia um feudo em troca de obrigações,
principalmente de caráter militar.
Com o tempo, os vassalos ascendiam à posição de senhores feudais, concedendo feudos a outros
aristocratas e ascendendo como suseranos. Esse processo gradualmente minou a autoridade
central, especialmente em regiões distantes do império, onde muitos indivíduos não mantinham
laços diretos com o monarca e, por conseguinte, questionavam suas decisões.

Pág. 64-A organização e o trabalho nos feudos


No sistema feudal, a agricultura era a atividade econômica central, executada pelos camponeses
que compunham a maioria da população. Eles trabalhavam nas propriedades agrícolas dos
senhores, conhecidas como senhorios, sob um regime de servidão.
As terras do senhorio eram tipicamente divididas em três partes. O castelo, central e fortificado,
abrigava a família senhorial, cavaleiros e nobres. As categorias de terra incluíam o manso
senhorial, onde toda produção pertencia ao senhor feudal; o manso servil, onde os servos
podiam cultivar para sua própria subsistência, pagando taxas ao senhor; e as terras comunais,
utilizadas para pastagem e extração de recursos como madeira.
Nos domínios agrícolas, cultivavam-se legumes e produziam-se diversos itens como queijo,
vinho, manteiga e tecidos. Cada propriedade buscava ser autossustentável, com os servos
dedicados a várias atividades, desde a agricultura até a produção de artigos como tecidos e
utensílios domésticos.
Devido ao foco na subsistência interna, o comércio na Europa feudal era limitado, resultando
em uma diminuição significativa das atividades comerciais durante esse período.

Pág. 65-A sociedade feudal


A sociedade feudal se estruturava em três estamentos principais: o clero, a nobreza e o
campesinato, com uma hierarquia rígida, determinada pelo nascimento e regulada em grande
parte pela Igreja. Os clérigos desempenhavam o papel de intermediários entre Deus e os
humanos, unindo a população através da fé cristã e exercendo autoridade não só na esfera
religiosa, mas também em assuntos cotidianos, educacionais e econômicos.
A nobreza, composta por indivíduos detentores de terras e poder político, recebia uma educação
militar sólida. Existiam duas camadas: a alta nobreza, formada por príncipes, duques e condes, e
a pequena nobreza, representada por viscondes, barões e cavaleiros. Estes últimos, muitas vezes,
viviam dos recursos de seus senhores e se dedicavam ao treinamento militar.
A maior parte da população vivia no campo, onde havia três tipos principais de trabalhadores:
os servos, os vilões e os escravizados. Os servos, vinculados à terra sob o regime de servidão de
gleba, sustentavam a nobreza e o clero através do pagamento de tributos como a corveia, a talha
e as banalidades. Os vilões, não ligados à terra, podiam buscar trabalho nos domínios senhoriais
e, alguns, conseguiam adquirir terras ou prosperar comercialmente.
Em resumo, a sociedade feudal era marcada por uma estrutura hierárquica rígida, onde o poder e
os privilégios estavam concentrados nas mãos da nobreza e do clero, enquanto os camponeses,
especialmente os servos, sustentavam essa estrutura através de seu trabalho agrícola e do
pagamento de tributos.

Pág. 66-Transformações no mundo do trabalho e expansão comercial


A partir do século XIII, a sociedade medieval passou por mudanças significativas,
impulsionadas pelo crescimento demográfico e pela evolução tecnológica na agricultura. O
mundo do trabalho viu o declínio das obrigações servis e o surgimento de novas relações
comerciais, levando muitos camponeses a abandonarem a agricultura para se dedicarem à
produção artesanal nas cidades.
Nas áreas urbanas, as corporações de ofício surgiram como forma de organizar os artesãos e
controlar a concorrência e os preços dos produtos. No entanto, no século XIV, a Europa
enfrentou uma crise devastadora, marcada por mudanças climáticas, escassez de alimentos e a
propagação da peste bubônica, resultando em uma queda significativa da população.
As condições adversas levaram os camponeses a exigirem melhores condições de trabalho,
enquanto revoltas camponesas, como as jacqueries na França, desafiavam a ordem feudal. Nas
cidades, surgiram tensões entre os mercadores ricos e os mestres das corporações, refletindo a
crescente disparidade social.
Enquanto isso, a burguesia mercantil buscava eliminar taxas feudais e padronizar medidas e
pesos, apoiando os esforços dos reis na centralização política. A expansão marítima abriu novos
mercados, fortalecendo a posição da burguesia e contribuindo para a transformação do sistema
feudal.

Pág. 67-Distintas formas de exploração do trabalho no continente africano


Em regiões como a Mesopotâmia e o Egito antigo, o trabalho agrícola e na construção de
templos e tumbas podia ser realizado por homens livres ou escravizados, dependendo da origem
e situação jurídica do indivíduo. Com a expansão islâmica a partir do século VII, o norte da
África testemunhou novas formas de exploração, moldando configurações sociais e econômicas
distintas.
Nas sociedades africanas tradicionais, a família era fundamental para a socialização, abrangendo
um conceito amplo que incluía um homem com múltiplas esposas, filhos, sobrinhos, pais e
avós. Os clãs, unidades sociais e políticas básicas, eram liderados por chefes de linhagem, e a
divisão do trabalho e do poder político era influenciada por diferenças de gênero e idade. A terra
era trabalhada de forma coletiva, com a riqueza associada ao controle do trabalho familiar, não à
propriedade da terra.
Essa organização social não era definida por território, mas pela existência de grupos familiares
liderados por chefes, geralmente os homens mais velhos da linhagem. Quando a terra se
esgotava, as famílias buscavam novas terras férteis.

Pág. 68/69-O trabalho dos escravizados/Expansão islâmica na África


Os árabes e os reinos islâmicos, desde o Marrocos até o Irã, foram os pioneiros na demanda por
escravos estrangeiros, especialmente da África subsaariana. O comércio transaariano
desempenhou um papel crucial na ascensão, queda e consolidação de muitos estados na África
Ocidental.
Nas áreas conquistadas pelo Islã, os escravizados tornaram-se cada vez mais commodities,
sendo comercializados e trocados como propriedade. Apesar de o Alcorão raramente se referir à
escravidão, enfatizando os méritos da manumissão, os muçulmanos justificavam-na como um
meio de levar pagãos à luz da verdadeira fé.
A associação entre procedência, cor da pele e escravidão assumiu novos contornos, com
estereótipos elaborados para diferentes povos. Os africanos, especialmente os negros, foram
desumanizados e inferiorizados. A demanda principal no mundo islâmico era por mulheres e
meninas como empregadas domésticas, artistas ou concubinas.
Estima-se que entre os séculos VII e XV, cerca de 5,4 milhões de pessoas foram traficadas pelo
Saara, com o comércio persistindo até o século XX. A resistência à escravidão ocorreu de várias
formas, desde fugas individuais até revoltas coletivas, enquanto aspectos culturais africanos
foram preservados entre os descendentes de escravos nos países árabes e muçulmanos.

Pág. 70-O tráfico transatlântico de africanos

O comércio transatlântico de escravos africanos, que se estabeleceu no século XVI, teve a


liderança inicial da Coroa portuguesa, em parceria com as elites do Reino do Congo, antes de
outras potências europeias como Holanda, Inglaterra e França lucrarem também com o tráfico
humano para suas colônias americanas. Tanto os reis quanto os comerciantes africanos lucraram
financeiramente, utilizando o comércio de escravos para se livrar de inimigos e obter ganhos em
troca dos cativos, mas esses lucros não se traduziram em desenvolvimento material para os
reinos africanos, resultando em mais guerras, ataques e fragmentação política.
As operações do comércio de escravos foram marcadas por extrema violência, resultando na
morte de milhares durante capturas, transporte e travessia transatlântica, caracterizada por
condições precárias e maus-tratos. O tráfico negreiro gerou a diáspora africana, forçando
milhões a migrarem para ilhas do Atlântico, países europeus e, principalmente, para a América,
alimentando a expansão de Estados predadores na África Ocidental e o aumento da
militarização em regiões como Oyo, Daomé e Achanti.
Entre os séculos XVI e 1866, aproximadamente 12,5 milhões de africanos foram escravizados e
enviados para trabalhar nas colônias europeias na América, principalmente em plantações de
açúcar, que representavam cerca de 80% dos destinos dos escravizados na América. O impacto
do tráfico foi desigual nas sociedades africanas, variando de acordo com as atividades
econômicas regionais e as relações estabelecidas com os europeus.

Pág. 71-Escravidão e racismo


Nos séculos XVIII e XIX, emergiram as primeiras teorias raciais na Europa, em meio ao
desenvolvimento de disciplinas como história natural, química e fisiologia. Um marco
significativo foi o livro Systema Naturae, de Lineu, publicado em 1735, que classificou os seres
humanos em quatro variedades - americano, europeu, asiático e africano - atribuindo
características físicas e morais distintas a cada uma. Essa classificação biológica reforçou a
noção de "raças" humanas separadas e hierarquizadas.
Esses preconceitos, embasados em classificações físicas e biológicas, foram fundamentais para
justificar ações de subjugação e discriminação. Os estereótipos raciais elaborados nessas teorias
tornaram-se parte do discurso europeu, sendo utilizados para legitimar práticas como o tráfico
transatlântico de escravos.
Outro marco importante foi a publicação de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, em
1859. Embora sua obra tenha revolucionado o entendimento da evolução biológica, os
pressupostos científicos foram incorretamente aplicados a uma análise pseudocientífica da
espécie humana. Isso contribuiu para perpetuar estereótipos raciais e discriminação, distorcendo
os conceitos de evolução e seleção natural para justificar hierarquias raciais.
Essas ideias, embora baseadas em supostos científicos, foram essenciais para sustentar sistemas
de opressão e exploração ao longo da história, impactando profundamente as relações sociais e
políticas em todo o mundo.

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