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Português

A Farsa de Inês Pereira:


Gil Vicente:
 Terá nascido por volta de 1460-1470 e estipula-se que faleceu no ano
de 1536.
 Paula e Luís Vicente, seus filhos, criaram uma composição com todas as
obras do pai, exceto as cortadas pela Inquisição. “Compilação de todas
as obras de Gil Vicente”.
 Foi um homem que viveu muito perto do poder, homem de confiança de
D Leonor e D João III.
 Foi dramaturgo, encenador, ator.
 Publicou cerca de 50 obras.
 Séc XV-XVI: época dos Descobrimentos/Renascimento, com o reino
bastante rico mas Gil Vicente não demonstra contentamento com isso, e
escreve a Farsa com o intuito de criticar os grupos sociais.
 Em 1536 foi publicada a sua ultima obra, “Floresta dos Enganos”.
 1523-data da 1ª representação da Farsa, no Convento de Tomar.
 A peça não é dividida em atos e cenas, porém considera-se uma nova
cena sempre que entram ou saem personagens.
 A “Farsa de Inês Pereira” é a maior de Gil Vicente, mas possui uma
reduzida extensão.
 “Ridendo castigat mores”

As personagens desta farsa são personagens-tipo, ou seja, personagens que


se mantém-se inalteráveis ao longo da obra e que representam o grupo social
a que pertencem bem como as práticas castigáveis desse grupo, exceto Inês
que é uma personagem moldável ao longo da obra, amadurecendo. O espaço
de tempo foi muito curto para o amadurecimento que sofreu.

Farsa- Peça dramática cómica com um número reduzido de personagens e


falar-se-á de situações ridículas e de potenciação de uma crítica social. A
intenção de uma farsa é uma sátira. Tinham como objetivo fazer rir.

Os historiadores lançam um desafio a Gil Vicente, pois dizia-se que Gil Vicente
plagiou obras de outros dramaturgos, estes historiadores dão-lhe um mote ou
um provérbio e o objetivo é que Gil Vicente escreva uma obra através do
mesmo.
“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”.
“Sem casamento, que enfadamento…”
 Possui 3 cenas.
Inês pereira demonstra-se revoltada e ansiosa por casar, para ter liberdade e
não ter mais tarefas domésticas (monólogo).
Compara-se com uma panela sem asa porque considera que é inútil.
Compara-se com outras raparigas porque elas podem sair e ela não.
Inês não faz a tarefa que a mãe lhe pediu (esta já esperava por isso).
Inês considera que vive em cativeiro. A mãe considera que a filha está a ser
dramática e pede-lhe para ter calma porque em breve vários maridos e filhos
apareceriam.
Mais tarde chega Lianor Vaz, bastante agitada, dizendo à mãe de Inês e a Inês
que foi assediada por um membro do clero.
 Naquela época, quando uma mulher era abusada sexuadamente,
deveria puxar os cabelos a ela própria e arranhar-se para mostrar
repúdio e tornar-se mais feia para o agressor a deixar em paz.
A mãe de Inês começa a desconfiar do seu discurso pois Lianor não apresenta
marcas de o ter feito.
Lianor contra argumenta dizendo que tinha cortado as unhas e o cabelo
recentemente, estava rouca e com tosse e por isso não conseguia gritar e
estava coxa, logo não conseguia correr.
Lianor afirma que um almocreve ao passar a salvou.
Isto leva-nos a acreditar que terá resistido com pouca convicção, poderá ter-se
deixado seduzir.
 O objetivo de Gil Vicente com este episódio é criticar o voto de castidade
dos membros do Clero. O seu objetivo era levar os membros desse
grupo social a modificarem os seus comportamentos, mas sempre de
forma lúdica, pois Gil Vicente acreditava que de forma lúdica, a
mensagem passaria mais facilmente.

“Pretendente apresentado e logo rejeitado…”


 Neste capítulo Inês deixa claras as suas condições para o seu marido
ideal. (184-188).
Afirma que não se importa que o seu marido tivesse uma baixa condição
monetária, o que é mostrado como uma oposição ao pensamento da mãe, que
é descrita como a voz da razão, considerando que o futuro marido da sua filha
deve ser rico, para a conseguir sustentar.
 Inês tem uma atitude jocosa/agressora para com a carta.
Na carta, Pero Marques deixa claro que quer casar com Inês. Inês
primeiramente quer saber sobre a carta, mas quando começa a lê-la, percebe
que Pero Marques não é o seu género.
Pero Marques diz na carta que já a tinha visto numa festa e ela não tinha
querido dançar e cantar com ele, o que é mentira, fazendo com que Inês o
chame de mentiroso.
 Inês concorda que Pero Marques a venha conhecer a casa, com o
objetivo de sair do tédio e rir-se dele.
A mãe avisa-a para se arranjar para o ver, pois apoia Pero Marques e quer que
a filha case.
Pero Marques vem a pentear-se no caminho e Inês goza com ele, dizendo que
se vem a pentear com um ancinho.
Pero Marques demonstra não ter qualquer capacidade social, não sabendo
sequer o que era uma cadeira.
A mãe de Inês deixa-os sozinhos em casa para que possam conversar.
 Inês troça dos comportamentos de Pero Marques, humilhando-o e
ridicularizando-o.
 Inês mostra-se altiva relativamente a Pero Marques.
Pero Marques não parece notar as críticas de que é alvo. É ignorante no
sentido de não saber estar.
Apesar de este ter sido rejeitado, demonstra preocupação com a mesma,
referindo que Inês não tem luz e a noite está a chegar.
Inês Pereira diz que qualquer outro homem aproveitaria a oportunidade de
estar sozinho com ela para a elogiar, mas Pero Marques não o faz. (verso 386)

Adjetivos para Pero Marques: lavrador rico, ingénuo, simples, bem-


intencionado, atrapalhado, está verdadeiramente interessado em Inês,
desnorteado, atencioso, persistente.

Crítica social: as aparências nem sempre devem estar em linha de conta.


Existe uma certa oposição entre a cidade e o campo, indicando que as pessoas
do campo são simplórias, havendo um claro preconceito e desigualdades
sociais da época.
“Aparece um escudeiro e é solteiro...”
No verso 400 Inês afirma não se importar que o seu marido seja feio, quer
apenas que ele seja discreto, saiba tocar viola…
A mãe a seguir procura dar a sua ideia de casamento, que o mais importante é
a condição económica.
Verso 428: eles dizem que o pretendente que trazem a Inês resultou de uma
grande procura e de que eles fazem muito bem o seu trabalho, e que ele é sem
dúvida o melhor para ela.
Eles dizem-lhe que não há mais nenhum pretendente possível para que ela
escolha o Escudeiro.
Na última fala de Vidal, mostra as capacidades de oratória de Brás da Mata.
Todas as pessoas que o ouvem ficam boquiabertas/deliciadas. (verso 498).
Nota importante: os judeus dizem ao Escudeiro aquilo que Inês gosta para
que ela acredite que o mesmo é perfeito para ela.

“Casamento celebrado, casamento malogrado?”


O Escudeiro não possui riqueza, pretendente assim capaz com Inês por
motivos económicos.
O Escudeiro duvida que Inês seja assim tão bonita, pois, se fosse, já teria
casado. Tem dúvidas sobre o seu carácter e a sua castidade.
A arrogância e o desprezo do escudeiro em relação a Inês são de natureza
semelhante aos preconceitos de Inês por Pero Marques.
A mãe aconselha a filha a ser discreta pois é mais fácil que ela seja amada
assim.
O Escudeiro e Fernando armam um plano de modo a convencer Inês a casar-
se com ele.
Assim que chegam a casa de Inês, Brás da Mata começa de imediato a elogiar
Inês, demonstrando os seus dotes de oratória.
Latão e Vidal apoiam constantemente o seu pretendente.
Versos 587-591: Brás da Mata refere as suas qualidades que estão muito de
acordo com o que Inês pretendia (proposital).
Versos 610 e 611: ironia por parte do Escudeiro, onde ele afirma que a viola
está muito bem temperada (afinada) e que não é preciso temperá-la (duplo
sentido, indicando que o Escudeiro nem sequer tem alimentos para os
conseguir temperar).
 A mãe tenta avisar Inês de que Brás da Mata não é um bom partido,
mas ela não a ouve. A mãe de Inês não gostava do mesmo pois
incomodava-a o facto de eles serem de classes socais distintas e de ter
gostado mais do 1º pretendente (Pero Marques).
Versos 678-679: a Mãe de Inês deixa bem claro que não aprova o casamento.
Verso 700: A Mãe acaba por ir aceitando.
Verso 723: É demonstrado o real interesse dos dois judeus no casamento: o
dinheiro. Foi esse o grande motivo pelo qual apoiaram os dois.
 Latão e Vidal representam os casamenteiros interesseiros, pois pedem
logo pelo dinheiro de Inês.
 Os judeus estiveram muito ligados ao dinheiro.
 O dramaturgo pretende dar a conhecer a opinião da população sobre os
judeus: materialistas.
Versos 764-768: A Mãe de Inês dá o seu consentimento no casamento e
oferece a sua casa como presente.

“Que casamento e que tormento!”


Quando Inês Pereira e Brás da Mata ficam sozinhos, esta começa a cantar e o
seu marido proibi-a de tal coisa. Proibi-a de olhar pela janela e de ir à missa,
deixando-a completamente presa.
Relação de Inês com o Escudeiro: tirania, violência, autoritarismo, opressão,
prepotência.
Avisa o Moço de que vai partir para Marrocos para batalhar e diz-lhe para ficar
a tomar conta de Inês. O Moço deixa Inês trancada em casa a lavrar, onde esta
se queixa do erro que cometeu e espera poder sair daquela prisão e promete
que se ficar livre irá escolher bem o seu marido.
3 Meses foi o tempo entre o qual o Escudeiro parte para a guerra e Inês recebe
a carta; Inês acreditava que tinha passado menos tempo.
Após a partida do escudeiro, Inês já revela alterações na sua personalidade.
Inês revela-se desiludida por não viver a vida que ambicionava.
Reconhece que escolheu mal o marido.
O Moço tem mais liberdade que ela.
Mais tarde o Moço aparece e entrega-lhe uma carta do seu irmão onde lhe diz
que o seu marido morreu de forma cobarde nos combates, ao fugir de uma
batalha.
Inês, feliz, despede o Moço.
Versos 935-937: Inês afirma que irá aproveitar a sua vida com um marido muito
manso e que possa dominar.

“Bem casar para livre estar!”


Inês sente-se livre.
Inês mente a Lianor Vaz, fingindo estar triste com a morte do marido.
Lianor aconselha-a a encontrar outro marido e a esquecer o antigo.
O facto de Lianor Vaz ser mulher naquela época permitiu-lhe ter um maior
conhecimento sobre o que seria um melhor homem para Inês.
Inês aceita casar com Pero Marques devido à sua fortuna e ingenuidade.
Lianor Vaz demostra-se pragmática, anuncia que Pero Marques está mais rico
por ter herdado uma nova fortuna.
Lianor Vaz casa os dois, mostrando ser uma alcoviteira competente.
Pero Marques demonstra mais uma faz a sua falta de competências sociais e o
seu comportamento ingénuo ao não saber as palavras que tem de dizer
durante o casamento.
Pero Marques demonstra-se respeitador, promete dedicar-se a Inês, promete
conceder-lhe liberdade para esta se divertir e “folgar”.
Quando estão sozinhos, Inês pede imediatamente a Pero Marques para sair o
que lhe é facilmente concedido.
Aparece a Inês um Ermitão de Cupido, seu antigo apaixonado, a pedir esmola.
Este afirma no seu discurso que não teve sorte no amor (por causa da Inês).-
versos 1041-1042 e 1070.
Verso 1057: Inês pede ao seu marido que não vá com ela ter com o Ermitão.
Inês recorda-se dele por ser um seu antigo apaixonado que lhe costumava
mandar camarinhas, mas Inês não o quis pois ainda era criança.
Combinam um encontro na ermida.
Inês pede a Pero Marques que a leve à romaria para ter um encontro com o
Ermitão.
Inês pede ao seu marido que a leve as costas para atravessar o rio, pois
naquela época dizia-se que por causa do frio, as mulheres podiam ficar
estéreis.
Versos 1116-1117: alusão das lousas e objetos bicudos aos chifres do marido
traído.
A música que mais à frente cantam faz também referência à traição de Inês-3
tipos de cómico.

Conclusão das personagens depois do excerto:


Pero Marques: não percebe que Inês teve um encontro, facilmente enganado,
vítima da vingança de Inês. Dominado pela esposa, obediente, o asno que
carrega Inês.
Inês Pereira: alcança a liberdade desejada, mostra ser leviana, diverte-se.
Conclusão: a experiência negativa do primeiro casamento ensinou-a a ser
astuta.
Ermitão: revela que ainda ama Inês. Crítica aos elementos do Clero que não
têm vocação, vida mundana, assédio às mulheres, incumprimento do voto de
castidade.
 O facto de o Ermitão aparecer no final da obra, demonstra que a
felicidade de Inês está relacionada com o adultério.
Nota: Inês aprendeu a lição: mais vale um camponês humilde, que lhe faça
todas as vontades (“asno que me leve”), do que um marido de comportamento
refinado, mas que a maltrate (“cavalo que me derrube”).

 A mãe de Inês considerava que a principal característica do seu genro


deveria ser a sua condição monetária, apoiando que esta se casasse
com Pero Marques. A mãe de Inês queria que esta ascendesse no
grupo social com o casamento.
 Inês não se importa com a condição monetária, mas sim com dotes de
oratória, ser um homem nobre, porque ela queria que alguém a levasse
para os bailes da corte, e devia tocar viola.

Inês solteira-jovem fantasiosa que deseja casar-se para se libertar do jugo


materno, detesta as tarefas domésticas e é alegre e galhofeira, queixosa,
fantasiosa, jovem, preguiçosa e dramática, trocista e irónica para com o
primeiro pretendente, rejeita-o.

Inês casada e viúva-ingénua, submissa e infeliz, arrependida, vingativa,


hipócrita (ao chorar pelo seu marido, quando na verdade fica feliz), e
inteligente.
Inês casada em segundas núpcias-pragmática e calculista, livre e feliz,
libertina e adúltera (pois inicia um relacionamento com o Ermitão de Cupido),
desrespeitosa, satisfeita e realizada.

Mãe- cristã, preocupada com a educação da filha, no sentido de se tornar uma


esposa prendada e recatada; intransigente, obrigando Inês a realizar tarefas
domésticas e a proibi-la de sair de casa. É a favor de Pero Marques e contra
Brás da Mata. É a voz do bom senso e da razão, sendo o oposto de Inês.
Experiente e sábia.

Lianor Vaz- é uma casamenteira contratada pela mãe e por Inês. É amiga da
mãe, é honesta e desinteressada pelo dinheiro, conselheira e persistente e um
pouco fingida.

Pero Marques- ingénuo, rústico, simplório, ignora as regras de convivência


social, apaixonado e bem-intencionado, ridicularizado e rejeitado, respeitador,
condescendente, “asno”.

Brás da Mata – Possui um pajem a quem não paga, que se queixa ao longo
da peça. Braz da Mata tem interesse no casamento com Inês por questões
financeiras. É trocista e preconceituoso, fidalgo pelintra, calculista e
dissimulado (cria um plano para conseguir convencer Inês a casar com ele),
bem-falante, galanteador, autoritário, agressivo, egoísta (deixa Inês e o Moço
falidos), cobarde e elegante.
 Brás da Mata é uma personagem-tipo, é um nobre falido, representando
a nobreza em decadência e representa também todos os homens que
cometem violência doméstica.
 Em termos de violência doméstica esta farsa é intemporal.

Os judeus, Latão e Vidal- sem escrúpulos e oportunistas (exagerando


nas qualidades do pretendente), materialistas e astutos. Brás da Mata
encomenda-se a eles, e apesar de saberem que este é um impostor, aceitam-
no, dizendo-lhe todas as coisas que Inês valorizava num homem, para assim
conseguirem um bom pagamento.

Fernando, o Moço-denunciador do carácter e intenções do Escudeiro,


conivente com as suas mentiras, sendo despedido quando Inês é libertada;
representa os criados que não eram pagos pelos seus nobres-nobreza
envergonhada.

Ermitão- castelhano e antigo apaixonado de Inês; tornou-se ermita pelo amor


fracassado por Inês, vive mendigando, solitário e triste, galante orador,
transgressor do dever de abstinência, amante de Inês.
 Cada personagem vai permitir a Gil Vicente denunciar o comportamento
com o objetivo da moralização.
O que era criticado em cada personagem?
A igreja foi alvo de censura através do clérigo que tentou assediar Lianor Vaz e
o Ermitão que não cumpre os votos de castidade e não tem vocação.
Brás da Mata representa os homens falidos da época, e o seu criado a falta de
dinheiro.
Pero Marques representa o claro preconceito entre pessoas da cidade e do
campo.

 Esta peça representa o quotidiano da vida doméstica, liberdade


restringida, casamento por emancipação e adultério – mulheres.
 Casamentos arranjados, cerimónia de casamento com festa, prática
religiosa-costumes.
 Decadência da nobreza, desconsideração da vida popular, devassidão
do Clero- classes sociais.

Alguns recursos expressivos:


Interrogação retórica (“ou sam algum caramujo/oue não sai senão à porta?”).
Metáfora (“Deos vos salve, fresca rosa,/e vos dê por minha esposa”)
Comparação (“Moça da vila será ela/com sinalzinho postiço,/e sarnosa no
toutiço,/como burra de Castela).
Ironia (“Logo eu adivinhei/lá na missa onde eu estava,/como a minha Inês
lavrava”).
Metomínia.

Resumo geral da obra:


Inês Pereira é uma jovem que está farta das tarefas domésticas que tem de
cumprir, vendo assim no casamento uma oportunidade de se emancipar.
Idealiza o noivo como sendo educado, cavalheiro, discreto, saiba tocar viola.
Lianor Vaz, uma casamenteira, apresenta-a a Pero Marques, que tem planos
de se casar com ela. É lida a carta que o mesmo envia a Inês e esta aceita que
ele venha a sua casa para a conhecer apenas porque se quer rir dele. Quando
Pero Marques chega, comporta-se de modo ridículo e demostra não ter
nenhum traquejo social. Quando se encontram a sós, Inês ridiculariza-o e
rejeita-o, no entanto Pero Marques continua a demonstrar carinho e
preocupação por ela, indo embora. São contratados mais 2 casamenteiros,
Latão e Vidal, que oferecem Brás da Mata como pretendente, (os dois sabiam
que o mesmo não tinha quaisquer escrúpulos, apenas o fizeram pelo dinheiro
que iam receber) que dizem ser o homem ideal para ela. Brás da Mata
comporta-se da forma com que Inês idealizava o seu futuro marido, e, mesmo
sem o apoio da mãe, decide casar com ele. Os dois casam-se e a mãe de Inês
presenteia-os com a sua casa. Com os dois a sós, Brás da Mata demonstra o
seu verdadeiro perfil, violento e autoritário, proibindo Inês de sair de casa.
Quando vai para guerra, deixa o Moço a tomar conta de Inês e mais tarde esta
recebe uma carta do seu irmão que a informava que o seu marido tinha
morrido. Inês despede o Moço e agradece por estar livre. Lianor Vaz propõe a
Inês que se volte a casar, desta vez com Pero Marques e esta aceita. Pero
Marques dá-lhe a liberdade que ela sempre desejou. Um dia Inês encontra-se
com um Ermita que lhe pede esmola, Inês reconhece-o como sendo um seu
antigo apaixonado. O Ermitão afirma que só se encontra naquela vida devido à
rejeição de Inês e estes decidem combinar um encontro. No dia marcado, Inês
pede a Pero Marques que a leve à ermida fingindo que era por motivos
religiosos e pede-lhe que a leve às costas enquanto atravessam um rio. No
caminho para lá, cantam uma música que demonstra a traição de Inês para
com Pero Marques.

Objetivos da sátira:
• A farsa analisa criticamente as instituições e os grupos socais da
sociedade portuguesa da época ade Gil Vicente.
• Refletir sobre a realidade social portuguesa na época de Gil Vicente;
• Analisar criticamente os grupos e as instituições de uma sociedade;
• Denunciar os vícios e os erros em tom humorístico;
• Corrigir os comportamentos condenáveis.
Tema da Farsa de Inês Pereira:
• A decadência de costumes;
• A duplicidade e a falsidade;
• O casamento;
• A condição da mulher
Alvos de crítica:
• As jovens casadoiras;
• Os alcoviteiros;
• Os religiosos;
• Os rústicos;
• Os escudeiros.
Estratégias da sátira:
• Personagens-tipo;
• Caricatura;
• Comicidade;
• Ironia e sarcasmo;
• Diálogo.
O cómico nesta Farsa tem dois objetivos essenciais:
 Causar o riso, através do qual se “castigam” os costumes da sociedade
e os vícios das personagens, de acordo com o cunho jovial da farsa.
 Acentuar o nítido contraste entre as personagens e as situações por elas
vividas (Pero Marques/Escudeiro; Lianor Vaz/Judeus; Mãe/Inês).

Tipos de cómico:
Cómico de situação:
 Resulta das circunstâncias da atuação da personagem que provocam o
riso, existindo uma inadequação entre a ação da personagem e a
realidade em que se encontra (situações de mal-entendidos, ignorância
sobre certos preceitos socais e regras de convivência).

Cómico de carácter:
 Resulta da inadequação da personagem ao contexto em que se
encontra que decorre da sua personalidade e que provoca o riso.

Cómico de linguagem:
 Corresponde ao vocabulário usado e ao próprio discurso da personagem
que provocam o riso, existindo uma inadequação entre o código
linguístico e o contexto em que este se realiza (uso de registos de língua
desajustados, ironia, trocadilhos, calão…)
Nota: muitas vezes os tipos de cómico ocorrem em simultâneo.

Exemplos:
Cómico de carácter e cómico de situação:
 Quando a Mãe sugere a Pero Marques que se sente numa cadeira;
 Quando Pero Marques procura as peras que tinha levado para Inês;
 Quando Pero Marques se encontra a sós com Inês e não a seduz, mas
se preocupa;
 Quando Pero Marques leva Inês às costas para ser traído.
Cómico de carácter:
 A figura ingénua, ignorante e grosseira de Pero Marques;
 A personagem do Escudeiro, fanfarrão e galanteador, mas hipócrita,
pelintra, cobarde (era suposto ele estar a lutar, mas esconde-se e foge
da guerra cobardemente), tirano e violento.
Cómico de linguagem:
 A linguagem do rústico Pero Marques: vocabulário e maneira de falar;
 O discurso galante do Escudeiro: linguagem metafórica e rebuscada;
 As fórmulas da liturgia hebraica utilizadas por Vidal e Latão;
 Os seus termos grosseiros e trocadilhos;
 Ironia e jogos de palavras do Moço quando entrega a viola ao Escudeiro:
“Ei-la aqui bem temperada/ nam tendes que temperar”.

Valor modal e modalidade:


Modalidade:
Epistémica: exprime o grau de certeza acerca da verdade de uma proposição.

Valor Modal:
Valor de certeza: Gil Vicente é considerado o pai do teatro português/ Estou
certo de que as suas obras nos obrigam a refletir sobre a vida/ Os alunos não
leram a obra.
Valor de probabilidade: Talvez esta matéria seja interessante./ É provável que
os alunos gostem da obra./ O teu livro deve estar na sala.

Modalidade:
Deôntica: exprime imposições (obrigações/proibições) ou autorizações.
Valor Modal:
Valor de obrigação: É obrigatória a leitura da obra./ Temos de entregar o
trabalho./ Não escreves no livro!

Valor de permissão: Quem acabou o teste já pode sair./ Deixo-os ouvirem


música na aula.

Modalidade:
Apreciativa: Exprime uma opinião, positiva ou negativa, sobre uma situação.
Infelizmente, perdi o meu livro favorito./ Seria bom que dramatizássemos a
Farsa de Inês Pereira./ Enfrentar o público será um pesadelo.

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