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PARTE B

Leia a composição lírica de Pero Gomes Barroso.1


Moir’eu aqui de dessoriam2
e dizem ca3 moiro d’amor;
e haveria gram sabor4
de comer, se tevesse pam;
5 e, amigos, direi-vos al:5
moir’eu do que em Portugal
morreu Dom Ponço de Baiam.6

E quantos m’ est’ a mi dirám7


que nom posso comer d’amor,
10 dê-lhis Deus [a]tam gram sabor
com’ end’ eu hei;8 e v[e]erám
que há gram coita9 de comer
quem dinheiros nom pod’ haver
de que o compr’ e nom lho dam.

(1) Esta cantiga segue a transcrição feita por Graça Videira Lopes na obra Cantigas de Escárnio e Maldizer dos
Trovadores e Jograis Galego-Portugueses, Lisboa, Editorial Estampa, julho de 2002, p. 422.
(2) de dessoriam: de fraqueza, de esvaziamento (de fome).
(3) ca: que.
(4) gram sabor: ter vontade, ter gosto.
(5) al: outra coisa.
(6) Dom Poço de Baiam: fidalgo português, rico-homem das cortes de D. Sancho I, D. Afonso II e D. Sancho II;
possível referência irónica.
(7) m’est’a mi dirám: me dizem.
(8) end’eu hei: disso tenho eu.
(9) coita: sofrimento; ânsia.

Apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

1. Identifique o género da cantiga trovadoresca, justificando a sua resposta.

2. Explique de que forma se pode considerar esta cantiga como uma crítica à noção de coita de amor presente na
lírica trovadoresca.

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