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Ficha de leitura

Nome do estudante : Shelton Cardoso

Dados Bibiliograficos:

KHOSA, Ungulani Ba Ka (2008). Orgia dos loucos. Maputo, Alcance editores.

Dados da obra:

Orgia dos Loucos, de Ungulani Ba Ka Khosa, é composto por nove contos que retratam aspectos de um
momento da realidade moçambicana, como a seca, a fome, o aparecimento dos novos costumes, a
discrepância entre campo e cidade, bem como a repressão policial e o desencanto entre a população.

Resumo:

O primeiro conto, “O Prêmio”, descreve a experiência de uma mulher em trabalho de parto, enfrentando
intensa dor e desconforto. Ela passa por uma série de sensações físicas e mentais enquanto sofre,
descrevendo imagens surreais e memórias interiores. Seu marido a ajuda a se vestir e eles saem de casa.
No hospital, ela dá à luz a um bebê, mas fica desapontada por não ganhar um prêmio por causa do horário
do nascimento (um enxoval para crianças nascidas nas primeiras horas do dia 1 de junho). No final, ela
desmaia e o texto termina com a sensação de tempo perdido.

O segundo conto ,”A Praga”, retrata a desesperada luta pela sobrevivência de uma família de pescadores
durante um período de crise provocado por uma doença que assola Moçambique. O narrador, uma
criança, testemunha de perto os efeitos da epidemia, incluindo a morte de sua irmã mais nova. A narrativa
revela as dificuldades enfrentadas pelos pescadores para ganhar a vida e se manterem vivos enquanto
lutam para superar a praga. Ao longo da história, a praga é descrita como um elemento impiedoso que
afeta tanto humanos quanto animais, reduzindo-os a esqueletos aterrorizantes. A fome e a morte são a
herança da família de pescadores ao longo das gerações. O infortúnio se torna regra, entrecortado por
raros lampejos de calmaria e fartura.

O terceiro conto ,”A Solidão do Senhor Matias”, narra a história de um homem solitário que vive em
uma vila isolada no interior de Moçambique. Com a morte de sua esposa, Matias encontra-se sozinho e
sem nenhum propósito na vida. Ele passa seus dias tocando violão e observando a natureza ao seu redor,
até que decide tomar uma atitude drástica que muda completamente sua vida. Ao longo da narrativa, é
possível observar a nostalgia e a melancolia presentes na rotina solitária de Matias. Ele relembra sua
juventude e o tempo em que era mais feliz, ao lado de sua esposa e de seus amigos. A paisagem da vila,
por sua vez, é descrita de forma detalhada, com ênfase nos elementos naturais como árvores, céu, animais
etc. A mudança na vida de Matias se dá quando ele decide construir uma ponte sobre um rio que separa a
vila de outros locais. A ponte acaba se tornando um elemento simbólico de conexão entre pessoas e
lugares, com a qual Matias se envolve profundamente. A construção da ponte também o faz experimentar
uma sensação de utilidade e realização há muito tempo esquecida.

O quarto conto, “Fragmentos de um diário”, é composto por uma série de anotações de uma mulher que
se encontra em estado de solidão e depressão após perder o marido. Ela relata suas tentativas de superar a
dor da perda enquanto lida com a solidão e o isolamento em sua própria casa. Ao longo dos registros, a
protagonista expõe seus pensamentos mais íntimos e as lembranças que a atormentam, tais como a morte
do marido, as dificuldades financeiras e as relações complicadas com amigos e familiares. Ela também
descreve o ambiente ao seu redor e suas percepções sobre as pessoas que a cercam. Conforme a narrativa
avança, é possível observar uma progressiva deterioração da saúde mental da protagonista, que começa a
ter pensamentos mais perturbadores e delírios.

O quinto conto, “A Orgia dos Loucos”, fala sobre a história de uma vila que se torna cenário de um surto
de loucura coletiva. A trama é narrada por um professor que testemunha os eventos que levam as pessoas
da vila a agirem de forma irracional e descontrolada. A narrativa começa com a descrição de um ambiente
conturbado e tenso, com pessoas agitadas e nervosas, tudo culmina na morte misteriosa de um senhorio
local. A partir desse evento, as pessoas começam a agir de forma estranha e inesperada, realizando atos
violentos e animalescos. As pessoas na vila se tornam cada vez mais instáveis emocionalmente e se
entregam a uma espécie de orgia coletiva, fazendo coisas bastante estranhas e inapropriadas. É descrito
um cenário caótico, recheado de sangue e gritos, onde reinam a raiva e a loucura. Enquanto isso, o
professor tenta entender o que está acontecendo, lutando para preservar sua sanidade mental e sua própria
vida.

O sexto conto, “Morte Inesperada”, narra a história de uma jovem que sofre com uma doença
incapacitante. O protagonista da história é um homem que conheceu a jovem desde sua infância, uma
menina que enfrentou constantemente dificuldades físicas em sua vida. A história gira em torno do
sofrimento da jovem, suas cicatrizes e limitações. O narrador descreve as tentativas de ajudar a jovem
enfrentar sua doença com palavras de conforto e encorajamento. A jovem vive uma rotina isolada,
vivendo dentro de casa, sem amigos ou atividades, o que a faz se sentir solitária e triste. Seu sofrimento
físico e isolamento social são retratados de forma profunda e emocionante na narrativa. O conto apresenta
também a reação da comunidade ao redor da jovem após sua morte súbita. Algumas pessoas ficam com
raiva, enquanto outras recorrem à religião para buscar conforto. No final, a morte da jovem é vista como
um alívio para seu sofrimento físico.

O sétimo conto, “O Exorcismo”, apresenta a história de um menino chamado Nzadi, que começa a
demonstrar um comportamento estranho e inexplicável, aparentando estar possuído por um espírito
maligno. A mãe de Nzadi, desesperada e em busca de ajuda, chama um padre local para realizar um
exorcismo e tentar livrar seu filho da presença maligna. A narrativa aborda a tensão entre as crenças
tradicionais africanas e o cristianismo, trazendo à tona questões de espiritualidade e religião. A mãe de
Nzadi é retratada como uma mulher devota e tradicional, que busca ajuda na religião cristã para
solucionar o problema do seu filho. Por outro lado, o padre encarregado do exorcismo reluta em acreditar
que o menino esteja realmente possuído por um espírito maligno e questiona a eficácia do ritual. Ao
longo do conto, são descritas as tentativas do padre para realizar o exorcismo, enquanto Nzadi continua a
apresentar comportamentos inexplicáveis.

O oitavo conto, “A revolta”, o autor descreve a relação opressiva entre os negros subalternos e os colonos
portugueses em Moçambique, cujas tensões levam a um levante sangrento. No início do conto, o narrador
apresenta uma cena em que trabalhadores estão descansando e conversando, quando chegam os policiais
que os agridem, humilham e maltratam. Reunidos num clima de insatisfação generalizada com as
condições opressivas de trabalho, os trabalhadores unem-se numa rebelião contra as ações dos colonos
portugueses, clamando por direitos e protestando contra a injusta exploração laboral, na qual se
encontravam submetidos.
O nono conto “Fábula do futuro”, traz uma reflexão sobre as mudanças que ocorreram em Moçambique
devido à colonização portuguesa e sobre o destino do país. Neste conto, é contada a história da África
após a independência, vista à luz da grande expectativa que antecedeu a conquista da independência por
muitos países africanos. A narrativa se inicia com a descrição de um pássaro, a águia, que tem a
capacidade de ler o futuro e sabe, entre outras coisas, que o povo africano está destinado a sofrer muito
por causa da ação do homem branco. O autor retrata por meio do pássaro a ideia de que a independência
dos países africanos poderia trazer grande esperança, mas que, infelizmente, muitas dessas expectativas
não se concretizaram. A partir daí, o conto passa a descrever uma cena na qual o narrador, o "príncipe dos
pássaros", reúne-se com outros pássaros para discutir a situação de Moçambique. Eles se questionam
sobre se a independência trouxe mudanças concretas para a vida dos moçambicanos. Uma das conclusões
é que a libertação do país do domínio colonial teve poucas consequências positivas para o povo. O conto
termina com a mensagem de que os animais devem continuar lutando para proteger a natureza e as
comunidades que vivem nela, e para garantir que o futuro não seja tão sombrio quanto as águias previram.
Citação crítica
Contextualização e Temas Principais:
"Orgia de Loucos" é uma obra literária que oferece uma exploração profunda e por vezes brutal das
realidades da vida em Moçambique, especialmente durante o período de guerra civil que assolou o país
após a independência de Portugal. Os temas predominantes na obra incluem a brutalidade da guerra, a
desumanização do conflito armado, as lutas da população comum para sobreviver em meio à violência e
as tensões culturais e políticas que moldaram a nação moçambicana.
Narrativa e Estilo:
Ungulani Ba Ka Khosa apresenta uma narrativa poderosa e direta, que não recua diante de cenas e
descrições fortes. Seu estilo literário é marcado por uma prosa crua e realista que transporta os leitores
para o centro da ação e da tragédia. A escrita de Khosa é frequentemente visceral, transmitindo a
intensidade das emoções e dos eventos retratados nos contos.
Personagens Complexos:
Os personagens em "Orgia de Loucos" são apresentados de maneira vívida e complexa. Eles são
frequentemente confrontados com circunstâncias extremamente difíceis e reagem de maneiras humanas,
muitas vezes contraditórias. Através desses personagens, o autor examina o impacto psicológico da
guerra, bem como as formas pelas quais as pessoas buscam significado e conexão em meio ao caos.
Crítica Social e Política:
Este livro de Ungulani Ba Ka Khosa é uma crítica social e política contundente. Ele aborda questões
cruciais relacionadas à guerra civil moçambicana, à exploração de recursos naturais, à corrupção e à
exploração das populações locais. O autor também destaca a desigualdade, a marginalização e o
sofrimento do povo moçambicano.
Conclusão:
"Orgia de Loucos" de Ungulani Ba Ka Khosa é uma obra literária intensa e impactante que oferece um
olhar cru e honesto sobre a realidade de Moçambique durante um período tumultuado de sua história.
Através de histórias interligadas e personagens fortemente desenvolvidos, o autor consegue transmitir as
complexidades e contradições da experiência moçambicana em tempos de guerra e transição política. É
uma leitura essencial para quem deseja compreender a história e a cultura de Moçambique, bem como os
desafios enfrentados pelo país durante um período de turbulência e mudança.

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