Você está na página 1de 3

UNIVERSIDADE DA INTEGRAÇÃO INTERNACIONAL DA LUSOFONIA AFRO-

BRASILEIRA (UNILAB)

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA

DISCIPLINA: LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL 1

CURSO: QUÍMICA

DISCENTE: DAMASCO MARCELINO LAISON BANDA

DOCENTE: LUCAS PORTO


Página |1

DOI: 10.5007/21757917 .2018V23N1P99

RESENHA DE, PAULINA CHIZIANE. VENTOS DO APOCALIPSE. MAPUTO,


EDIÇÃO DA AUTORA, 1993 CHZIANE, PAULINA. O SÉTIMO JURAMENTO.
LISBOA, CAMINHO 2000.

O livro de Paulina Chiziane, introduz a discussão, literariamente, o contexto da guerra


pós-colonial ocorrida em Moçambique e analisar seus reflexos no âmbito político, social e
humano.

Karingana wa karingana, a expressão que se traduz por “era uma vez”é a utilizada por
Paulina Chiziane para introduzir a narrativa de ventos do Apocalipse.

A autora faz com o leitor um pacto de contação de historias assim como o fazem os
escritores de contos de fadas. Mas as historias de Paulina são contadas ao redor da fogueira,
por vozes roucas já cansadas; vozes daqueles que viram muito mais sofrimento do que
achavam que podiam aguentar, e mesmo assim ainda tem forca para contar historia à beira do
fogo. As historias de Paulina são contadas por vozes que anunciam ventos mórbidos.
Ventos do Apocalipse, publicado em 1995, é o segundo romance da escritora
moçambicana Paulina Chiziane. Nele retrata o sofrimento e as mazelas trazidas pela Guerra
Civil que se seguiu a Independência de Moçambique proclamada em 25 de junho de 1975.
. O livro começa com histórias sendo contadas ao redor de uma fogueira. Essa
contação de histórias inicial já serve para nos habituar ao clima da obra. As histórias contadas
no início possuem os seguintes títulos: O marido cruel, Mata que amanhã faremos outro e A
ambição de Massupai. A temática desses contos será trabalhada ao longo da obra, que retoma
esses temas de maneira extremamente detalhada.

O livro é dividido nesse cenários das histórias sendo contadas ao redor da fogueira,
em Parte I e Parte II. A parte I consiste em abordar a história de dois personagens: Sianga e
sua esposa Minosse. A parte II consiste em retratar a jornada de um povo expulso pela guerra
do seu local de origem até chegar em um outro lugar para refazer sua vida.

A narrativa é muito contundente e envolvente, mostrando como um povo que


anteriormente vivia da terra, tinha prosperidade, se tornou um povo massacrado, excluído.
Dói na alma ler certas passagens do livro, como esse trecho que coloco abaixo:
Página |2

“O sofrimento é milenar na história do homem negro e este jamais se conformou.”


É exatamente o que o livro tenta retratar e o faz com muita precisão. O sofrimento do povo
negro, que ocorre há séculos e continua a ocorrer até os dias de hoje.
A obra também traz a tona a maneira como as mulheres eram tratadas (e ainda o são)
pela sociedade. Se o homem sofria, a mulher sofria dez vezes mais, pois ela era considerada
propriedade do marido que a comprava. O homem, nessa sociedade, pode ter relações
polígamas. O livro aborda o sofrimento das mulheres nesse tipo de relação naquele contexto.
Porém, em meio a tantas mazelas e tanto sofrimento, podemos perceber a
solidariedade que existe entre as classes mais pobres. Mesmo com tão pouco, dividindo o que
tem entre si, repartindo:

“ O fardo da vida torna-se leve quando a humanidade reside no coração de cada homem,
quando a fraternidade atinge o universo ultrapassando as barreiras do sangue.”
O livro também fala das ajudas humanitárias que os moçambicanos receberam
durante a guerra, principalmente dos europeus. Ao mesmo tempo que os europeus os
ajudavam , eles os colonizavam, tiravam a cultura dos nativos e isso é muito bem abordado
durante toda a trama, como podemos perceber pelo trecho abaixo:
“Hoje, gente oriunda das antigas potências colonizadoras diz que dá a sua mão
desinteressada para ajudar os que sofrem. É preciso acreditar na mudança dos homens, eles
sabem disso, mas a sabedoria popular ensina que filho de peixe é peixe e filho de cobra cobra
é. Toda a gente sabe que, neste mundo cruel, ninguém dá nada em troca de nada.”

O livro aborda também a resistência que os moçambicanos tentam fazer à entrada de


cultura estrangeira, a luta pelo direito de cultivar os seus deuses nativos.

Entre tanto, esta obra trata de assuntos muito pertinentes e nos faz refletir sobre o
sofrimento, sobre solidariedade, sobre feminismo. Com a colaboração de vários
pesquisadores, sobretudo das suas obras. Em suma que este trabalho merece crédito e
apreço desde as notas introdutórias, por sua coerência, do início até o fim. Vale à pena ler e
mergulhar no universo desse livro.

Resenha Livro: 2001- 05 de Fevereiro de 2022.

ISBN: 978-902-47-9663-2

Malangatana, Minhas Máscaras, 1983.


www.editora-ndjira.blogspot.com

Você também pode gostar