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Itaberaba
2016
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Itaberaba
2016
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Banca Examinadora
Cíntia Damasceno
Especialista em
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Dedico este trabalho a minha mãe, Maria Jesus de Oliveira e ao meu querido pai, José
Antonio Hora de Oliveira (in memoriam).
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado sabedoria e forças para vencer as
dificuldades durante todo esse percurso universitário.
A minha mãe – guerreira - que sempre me incentivou a vencer e torceu por mim. Aos
meus irmãos, pelo apoio, compreensão e paciência.
Aos meus amigos e familiares pelo incentivo. Aos meus colegas de faculdade, pelo
companheirismo.
Aos meus professores por terem colaborado para que eu pudesse chegar até aqui. Em
especial à professora Dra. Maria Anória de Jesus Oliveira que me fez galgar novos
horizontes e assim me possibilitou escolher com certeza sobre o tema que eu pesquisaria
neste trabalho.
RESUMO
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS.............................................................................................................50
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nas diferentes situações de tensão no meio social. Dá ênfase a voz feminina para protagonizar
suas próprias histórias. É necessário ressaltar, o quanto é relevante abordar essa temática nos
escritos de Sobral, pois há a valorização da mulher negra, no viés literário e sua grande
contribuição para a literatura:
No entanto, sendo o Brasil um país de território extenso, com uma população
heterogênea, portanto com histórias, culturas e aculturações díspares, ao lidar
com a Literatura Feminina, ou de autoria de mulheres, há de se acautelar e
não generalizar uma só representação do feminino na Literatura. Por mais
que a escrita da mulher brasileira tenha transformado a face da Literatura
Latino-Americana contemporânea. (ALVES, 2010, p.184)
Portanto, vale mencionar que a especificidade negra brasileira recai sobre o fato
de ser elaborada a partir da perspectiva do dominado e do oprimido. Segundo Sobral
(2013) em entrevista dada ao blog Afropress, autora afirma sobre sua produção literária:
Aos jovens negros eu diria: tomem posse, revisitem biografias, procurem
quem possa perpetuar a nossa memória, vistam as palavras como roupas de
guerra, leiam tudo, disseminem a informação, ocupem o nosso espaço nesse
planeta. A inclusão da população negra na vida pública do país pode
alavancar, sem sombra de dúvida, o desenvolvimento do país.
De acordo com Marisa Lajolo (2001) não há definição restrita para o termo
literatura e também: “(...) a literatura do século XXI, é marcada pela metalinguagem e
intertextualidade”. (LAJOLO, 2001, p.21) Já Roland Barthes (1977), declara que a
literatura é a utilização da linguagem não submetida ao poder, que consequentemente
deve-se ao fato de que a linguagem literária não necessita de regras de estrutura para se
fazer compreender. Dessa forma, o autor traz algumas concepções fundamentais para
compreender o texto literário, como "as relações entre Linguagem literária e poder
social, a língua como objeto de submissão e alienação" (BHARTES,1977 p.14).
Conforme Antonio Candido (1955, p.74) em O escritor e o público, "A literatura é pois
um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na
medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a".
A pesquisa realizada para este trabalho é de cunho bibliográfico, feita por uma
abordagem qualitativa. Nela foram utilizados livros, páginas de sites da internet, artigos,
dissertações e teses. Diante desses recursos, foi realizada uma análise literária em que se
buscou entender quais são os perfis das personagens protagonistas negras da obra
Espelhos, Miradouros, Dialética da Percepção. O percurso metodológico utilizado,
parte da pesquisa bibliográfica que segundo Boccato (2006, p.266), constitui-se em:
Desde que o povo africano chegou ao nosso país, este sofre discriminação. A
escravidão se configurou como sistema político altamente violento que dentre outras
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marcas promoveu represália a cultura dos povos africanos que para o Brasil vieram. A
partir de então, o negro passou a enfrentar maus tratos psicológicos, físicos e morais.
Enquanto a escravidão era parte integrante do sistema econômico-social-cultural e
ideológico brasileiro, a escravização dos povos africanos implicava subalternização
destes grupos sociais e no tratamento destes como cativos, sem direito a cidadania e
muito menos a condição de humanidade. Isto ocorreu, pois:
Vale dizer que a escrita feminina negra até hoje, sofre preconceitos,
principalmente por alguns segmentos do campo literário, como críticos, teóricos etc.
Muitas vezes, tal silenciamento ocorre pela via da exclusão (ou melhor, não inserção),
pois afirmam que a literatura afro é baseada em achismos e feita somente por cunho
ideológico, costumam a rotular de maneira pejorativa como se não tivesse consistência.
Nos livros, por exemplo, enquanto a mulher branca era retratada como uma
criatura frágil e totalmente dedicada ao bem-estar de suas famílias, por outro lado, as
mulheres negras e libertas eram designadas de "criolas", por seus donos e capatazes. As
negras precisavam lutar pelos seus objetivos, para sobreviver em sociedade e conquistar
seu espaço e muitas precisaram se escolarizar para romper com as barreiras do racismo
e do preconceito.
Esse corpus se constituiria como uma produção escrita marcada por uma
subjetividade construída, experimentada, vivenciada a partir da condição de
homens negros e de mulheres negras na sociedade brasileira. Contudo, há
estudiosos, leitores e mesmo escritores afrodescendentes que negam a
existência de uma literatura afro-brasileira. (EVARISTO, 2009, p.17).
Com relação ao livro vale dizer que o mesmo é dividido em três partes, a
começar pela primeira parte intitulada de Sete espelhos contendo sete contos como se
fossem espelhos que refletem a realidade; na segunda parte Sete miradouros, também
com sete contos com o objetivo de que o leitor contemple as histórias de forma
reflexiva. Na última parte Sete dialéticas da percepção há também sete contos com o
intuito de aflorar a discussão e o diálogo inquietando assim o público leitor.
levou o título de Escritora imortal da Academia de Letras do Brasil - ALB cadeira nº 34,
Academia de Letras do Brasil, dentre outros.
Possui três obras: Não vou mais lavar os pratos, que é um livro de poesias,
publicado em 2011; Espelhos, miradouros, dialéticas da percepção, um livro de contos,
publicado também em 2011 e Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz, livro de
poesias, lançado em 2014.
Minha relação com a arte é e sempre foi o mais intensa possível. A arte traz
em seu bojo um grande poder e age como um importante instrumento de
educação da sensibilidade. Creio na força do artista como um representante
da sua geração e intérprete das intenções e desejos de todo um povo, são
mesmo os artistas os responsáveis pela quebra de padrões e paradigmas em
todos os movimentos históricos.
Vale dizer que a escritora foi à primeira atriz negra formada no Departamento de
Artes Cênicas da Universidade de Brasília e sua primeira peça teatral foi Uma Boneca
no Lixo (1998), em que utilizou como requisito para concluir seu curso de graduação.
As suas principais peças foram: Uma Boneca no lixo (1998), Dra. Sida (2002), Petardo
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(2004) e Comédia do Absurdo (2005). E ainda há o espetáculo Não Vou Mais Lavar os
pratos, adaptação para o teatro de seu livro de poemas, que carrega o mesmo nome.
Vale lembrar que Cristiane Sobral, em todas as suas obras, coloca em destaque
os personagens negros protagonizando a cena, ainda que sejam histórias representando o
racismo pelo qual o negro sofre constantemente no Brasil.
Pixaim quer dizer cabelo crespo. A palavra tem registro escrito na língua
portuguesa desde pelo menos 1887, e vem da língua tupi, dos índios
brasileiros, com o significado original de “cabeça enrugada”. E por que se
escreve com x e não com ch? Porque é uma palavra de origem tupi. Como
regra geral, usa-se em português a letra xis (e não ch) em palavras
de origem tupi, africana, árabe ou persa.
Logo, ao ler o título do conto Pixaim subtende-se que a temática tratada será
referente ao cabelo. Este conto relata a história de uma garota de dez anos que reside em
um subúrbio na zona oeste do Rio de Janeiro, em que a mesma por ser negra e de
cabelos crespos sofria preconceito. Família e vizinhos não aceitavam a sua aparência e
assim ela era forçada a seguir padrões estéticos impostos pela sociedade, como por
exemplo, o alisamento do cabelo. Este, a qualquer custo teria que ficar "liso e bom" para
seguir o padrão estético do branco.
porém, tentava escapulir das seções de "embelezamento” mas não tinha escolha, pois o
seu querer não era respeitado:
Ele se convence de que o único remédio para curar sua inferioridade, obter
sua salvação, estaria na assimilação dos valores do branco superpotente. Essa
fase de absorção do branco pelo negro é chamada de embranquecimento
cultural.
Vale lembrar que não assumir o cabelo crespo é uma forma de evitar a
discriminação já que a sociedade possui um código estético em que a feiura está ligada
ao "cabelo duro", aos negros e a inferioridade. É o que a mãe da jovem faz. Não aceita o
cabelo natural da filha porque a sociedade não o vê com bons olhos. "Minha mãe me
amava muito mas não sabia lidar com as nossas diferenças"(SOBRAL,2011, p.21). O
que fica evidente também em outro trecho do livro:
pois era obrigada a sentar por horas até que o henê fosse aplicado em suas madeixas
com uma temperatura bem quente. O intuito era que esticasse e crescesse, pois esse era
o desejo de sua mãe. A menina chorava, tentava fugir mas o que lhe acontecia era
apanhar com vara de marmelo e logo voltar a sessão de tortura.
Vale dizer também que o cabelo está sujeito a influência de grupos sociais, em
que é veiculado e propagado um discurso midiático por meio da indústria da moda e
beleza que elege o que deve ou não ser valido como estética pela sociedade e como
normalmente de costume o cabelo afro não é visto como algo belo.
Em relação as canções por exemplo, cada vez mais são direcionadas pelo
sensacionalismo. Há muitas músicas com letras apelativas e "ritmo contagiante” em que
perpetua-se um discurso colonialista, em que muitas possuem o racismo ora camuflado,
ora escancarado. A música de Chiclete com Banana que surgiu no ano de 1993, e que
tem como título "Meu cabelo duro é assim" e tem como compositores Paulinho
Camafeu, Bell Marques e Wadinho Marques trata da questão capilar e faz referência ao
termo Pixaim popularmente utilizado para se referir ao cabelo crespo:
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Nega não precisa nem falar, nega não precisa nem dizer
Na letra da música em questão, o sujeito, por não ter o cabelo liso, faz uma
comparação com a mulher negra, guiando-se pela ideologia de que ter o cabelo crespo é
se igualar ao negro, e o cabelo do negro é costumeiramente apelidado de pixaim. Esta
música faz referência ao racismo, generalizando como se todo negro tivesse um cabelo
crespo, e isso não é verdade, pois há negros que possuem sim cabelo liso. Infelizmente,
ainda há muitas músicas que são de uma ideologia que pregam o racismo e inferiorizam
o negro mas é necessário lembrar também que, nem todas as músicas que relatam sobre
o negro são com o intuito de inferiorizá-los e criticar sua afro descendência, pois há
compositores que os valorizam, auxiliando e contribuindo para uma formação de
identidade negra positiva de modo a influenciar uma visão positiva do negro no meio
coletivo e social.
Sobral com o conto Pixaim, ao retratar a história de uma jovem que desejava
manter suas raízes capilares naturais, evidencia que, se por um lado o cabelo é para a
personagem principal um elemento de opressão, por outro é um símbolo de luta e
resistência em favor da cultura negra, por isso o conto traz o relevante esclarecimento
de que a diferença não deve ser sinônimo de inferioridade e feiura e que essa visão
preconceituosa de que o diferente é inferior, tem que ser debatida e cerceada assim
como o mito da superioridade racial deve ser extinguido, pois muitas vezes o
preconceito e o racismo partem da própria família que se guiando pelo ideal de beleza
midiático não aceita as diferenças do próximo.
Segundo Stuart Hall, "A identidade torna-se uma celebração móvel: formada e
transformada continuamente em relação as formas pelas quais nos rodeiam”. (2005,
p.12,13). Assim pode-se afirmar que, dependendo do meio em que o sujeito estiver
inserido, ele formará sua personalidade, seus conceitos e ideologias escolhendo assim
de que forma escolherá viver e quais posicionamentos a tomar. Ou seja, essa questão da
mulher negra se assumir ou não enquanto identidade negra, irá depender do meio e
pessoas com as quais convive.
Apesar de não assumir suas raízes e sua cor, Socorro não deve ser julgada pois a
sua trajetória de vida contribuiu para que tomasse tais atitudes. Além disso, é um direito
das mulheres escolher a estética que melhor se adeque, e como ela vá se sentir bem. O
que não deve ocorrer é que deixe de assumir sua negritude por mera vergonha ou
preconceito da sociedade.
Socorro ao tentar sair de casa para curtir uma balada enfrenta o verdadeiro caos
que é o trânsito da cidade grande e acaba sendo fechada por um motorista de ônibus. Ela
desce de seu carro branco, insulta e xinga o motorista, que não aceita tais provocações
calado e então desce do ônibus, e a chama de negra. A partir desse instante, Socorro
jamais pensara que um frase seria tão transformadora viesse mudar sua vida por
completo:
[...] Fala negrona! Fez a escova progressiva né? Cuidado com essa
progressiva, isso é a maior regressão na vida de um ser humano. A verdade é
que o motorista enxergou Socorro, uma mulher completamente cauterizada,
de um modo nunca antes visto. (Sobral 2011, p.32)
Diante de tais adjetivos que lhe foram endereçados, Socorro sente-se triste, fica
espantada e chocada pelas palavras ditas por Jorge e começa a chorar baixinho. Mas,
revoltada com tudo que ouviu entra em seu carro, pega uma tesoura e começa a cortar
seu cabelo. A medida em que ela cortava, aos poucos ia assumindo à sua identidade. E
assim ela passa a se valorizar e se enxergar como negra e bela:
vez, parecia uma mulher integrada a sua identidade, negra e linda. Suas
pernas foram finalmente descobertas pela meia calça rasgada e o rosto não
apresentava mais vestígios da maquiagem, desfeita pela força das águas.
Socorro ficou paralisada. Sentia a dor indescritível do seu nascimento, vivia o
seu mistério profundo. (SOBRAL,2011, p.33).
preto formam a população negra do país, que passou de 48,1% em 2004 para
53% em 2013.
Ióli é uma simpática criança negra de aproximadamente sete anos e meio, olhos
pequenos castanho escuros, acinzentados e cabelos crespos. Reside em um bairro
suburbano que se encontra em condições precárias, faltando os serviços básicos de
saúde e educação que uma criança precisa. Ióli é uma menina carente, que sente a falta
e companhia de sua mãe e nunca frequentou à escola por falta de oportunidade.
A autora representa a situação de algumas crianças brasileiras, que vivem em
total abandono e convivem com a dor. Mas apesar disso não perdem o encantamento,
nem tampouco a ingenuidade da infância. Sonha com uma condição de vida melhor,
sente uma forte melancolia, tem família em desequilíbrio social, seus irmãos vivem
abandonados, sem pai e mãe. A garotinha vive de acordo com o que o meio fornece, a
menina nascera com os pés chatos e as pernas tortas e precisava usar botas ortopédicas
que são doadas pela vizinha, porém, o número era menor que o seu pé, o que a
machucava e provocava muitas dores.
Sobral retrata nesse conto o comportamento e as vivências da personagem. E o
que está em evidência é a forma precária que a menina vive e o fato de ser ignorada pela
sociedade. A partir disso, percebe-se que é um problema que perpassa anos e anos da
história, em que a criança, o índio, a mulher, o negro e pobre, eles não possuem a
visibilidade necessária. Mas, as minorias cada vez mais criam estratégias de serem
visibilizados socialmente. O caos social muitas vezes é atribuído a estes grupos.
Todavia, eles são as vítimas disso e não seus autores.
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Diante de tantos problemas e racismo, Ióli passa por um vazio existencial que a
acompanha em todos os momentos de sua vida. Um mundo que ela não queria
pertencer, se refugiava entre suas brincadeiras de criança, no quintal de terra batida,
tentando silenciar a dor que sentia pela ausência da mãe, pelas perdas.
Ióli, como qualquer criança, deseja passar momentos e viver com sua mãe.
Compartilhando assim fraquezas, vitórias e felicidades. Usufruir de uma vida em
família, tomar café na mesa com seus irmãos, colocar sua cabecinha inocente de
criança, para sua mãe poder acariciar seus cabelos. Sendo assim, a pequenina, pegava
sua boneca, apertava-lhes, pois não tinha o direito de chorar, por que esse lugar, não
havia momentos para choro e só ficava as lembranças. Em certo momento da narrativa,
o irmão gritou e gesticulou totalmente descontrolado: “Mamãe morreu! Ninguém chora,
ninguém grita aqui, mamãe morreu! “(Sobral, 2011, p.37).
Ióli ficara surpresa e assustada com a notícia. Ela correu assustada para o
cantinho da casa e começou a chorar. Naquele instante, ela percebeu que sua infância
acabava de morrer junto com sua mãe, e consequentemente seus sonhos e desejos,
inclusive o desejo de algum dia comer bife com batata e arroz. Nesse momento, teve a
convicção que isso jamais iria acontecer. A garota ficou a pensar o quanto sua vida
mudaria e que a possibilidade de mudanças não aconteceria. O preconceito, a
discriminação, a falta de amor e de respeito, se faria presentes em sua vida e pessoas
que algum dia poderiam de fato lhe dar amor, a negariam.
A autora induz mais uma vez a reflexão sobre questões culturais, sociais e
históricas de famílias negras, que se perpetuam desde a escravidão, momento histórico
em que muitos navios negreiros desembocaram no Brasil trazendo populações negras. É
preciso pensar e fazer uma releitura de como esses povos sofriam, a exemplo das
crianças que eram separadas de suas mães ainda quando bebês. Muitas crianças
morriam com tanto sofrimento pois, lhes tiravam o que era mais precioso os vínculos
familiares, principalmente, os maternos. Com relação as famílias negras africanas após
abolição, no texto História - O destino dos negros após a Abolição de Gilberto
Maringoni 1927, disponível no site Desafios do desenvolvimento, relata que:
A força de atração destas propostas imigrantistas foi tão grande que, em fins
do século, a antiga preocupação com o destino dos ex escravos e pobres
livres foi praticamente sobrepujada pelo grande debate em torno do imigrante
ideal ou do tipo racial mais adequado para purificar a ‘raça brasílica’ e
engendrar pôr fim a identidade nacional.
eram descriminados pela sua cor e estavam entre à população pobre. Com isso cresceu
o número de desempregados, trabalhadores temporários, mendigos e crianças
abandonadas nas ruas. Após a abolição da escravatura não houve nenhum incentivo para
integrar os negros a sociedade baseada no trabalho assalariado. Vale dizer que a
permanência do povo africano no Brasil fez com que os negros formassem suas
famílias. Com isso deram origem a filhos mestiços, crioulos, e assim surgiram os
mulatos, pardos e caboclos. O Brasil tornou-se um país miscigenado. Porém, muitas
pessoas não aceitam e outras não entendem que tal miscigenação funda-se a partir da
negritude e se perpetua assim o racismo. Conforme o site Carta Capital, no texto de
Paulo Daniel, A população negra brasileira, cita que:
Enfim, o conto deixa como convicção que a miséria e a pobreza não será a única
saída para Ioli assim como tantas crianças negras que moram nas ruas da sociedade
brasileira. Ióli vem tirar essa macula que age por pessoas que sofrem na pele tal
preconceito. A fim de resgatar o passado e o presente de crianças negras que lutam para
se afirmarem no país.
- Filho alheio é como cobra, a gente cria e cresce para nos morder.
Sabe-se lá o que essa menina vai ser no futuro, se foi jogada fora é porque é
filha de árvore podre. (SOBRAL,2011, p.49)
O conto de Sobral traz à tona alguns problemas sociais como abandono paterno e
materno, preconceito, racismo, situações essas que são propensas a ocorrer na vida de
pessoas negras já que uma parte da sociedade brasileira é preconceituosa e racista. A
autora questiona também a sociedade que ainda acredita que a população negra é
inferior aos demais.
O total de brasileiros que aceitam adotar crianças negras dobrou nos últimos
cinco anos, apontam números do CNA (Cadastro Nacional de Adoção). Hoje,
16,6 mil pretendentes habilitados à adoção aceitam receber crianças negras
— o que equivale a 47% do total de 35,6 mil pretendentes. Em 2010, havia
8,4 mil pessoas habilitadas abertas à adoção de crianças negras — o que
equivalia a 31% do total de 27,6 mil pretendentes.
De acordo com os dados, as crianças negras estão tendo uma maior visibilidade
e sendo adotadas, mas ainda há muito o que conscientizar a população de que a criança
negra é igual ao qualquer outra e também tem o direito de ser adotada, de ter um lar,
assim como crianças de pele branca. Cristiane Sobral com esse conto traz o drama dos
bebês abandonados e as diversas dificuldades, pelas quais passam em seu processo de
adoção, mostrando como as pessoas são racistas e mesquinhas e por uma cor de pele
deixa-se de amar o próximo e o que predomina é a maldade e os comentários sórdidos
em uma sociedade que valoriza o branco tido sempre como superior.
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O conto de Sobral traz à luz da sociedade um tema muito importante para a vida
da mulher negra na contemporaneidade que é a solidão, as tormentas intelectuais e as
mazelas de uma vida fora dos padrões estéticos de uma sociedade cruel e
preconceituosa. Os maus hábitos alimentares da protagonista nomeada de Socorro,
como aquela do conto Cauterização, revelam uma ansiedade e uma recusa de viver,
tendo desistido de lutar, jogando assim seu destino à própria sorte. Vale lembrar que há
outra personagem do livro que se chama Socorro. Provavelmente pela ideia de pedido
ou ajuda que o nome evoca.
Neste conto, Sobral questiona uma sociedade que continua agindo de forma
medíocre, nos fazendo por vezes invisíveis, marginalizados e sem nenhuma chance de
lutar por dias melhores. A escritora induz o leitor a um universo reflexivo sobre a
origem do caos dentro de nós. Sobre nossas lutas internas e principalmente sobre a
intimidade das pessoas que por vezes passam despercebidas por nossa vida. A autora faz
com que o leitor perceba que o resultado de uma atitude de recusa, de uma vida
indiferente, às vezes, prega peças com surpresas desagradáveis:
[...] Que cenário triste. Sentei no chão da sala e chorei como se estivesse
perdendo um ente querido. Ah, Socorro, por que a destruição? Seria solidão?
Nos contos, aparece uma atitude em defesa dos valores culturais do povo negro e
como é de praxe para ser considerado um autor de literatura afro-brasileira, o indivíduo
precisa muito mais que ter a pele negra, ele tem que reivindicar para si essa condição e
comprometer-se com a inversão de valores que atualmente se tem sobre o que é ser
negro. E como salienta Duarte (2008, p.15): “Literatura é discursividade e a cor da pele
será importante enquanto tradução textual de uma história coletiva e/ou individual”.
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Sobral, em seu conto, reflete sobre o que é ser uma mulher negra no Brasil e ter
que conviver/resistir aos padrões de uma parte da população aos quais todos estão
acostumados a ter como únicos válidos e o indivíduo que não os segue é considerado/a
um ser feio e para ser aceito deve que se adequar.
[...] ele, um mulato de cabelo liso, meio fulo, cheio de traços brancos na
cara, traços “finos” no fim dos trinta, cheio de marcas da traição materna
oculta pelo tempo e motivo da picuinha eterna entre os dois. Para ela
recalcada pelo amor menor que recebera da mãe, mais cuidadosa com o filho
do amor impossível, o irmão era indigno. A irmã era Jupira, mulher
arrogante, usava os gritos para impor a sua vontade, humilhava o meio irmão
como podia, e, ele, acuado, jamais reagira aos múltiplos insultos. Jupi era um
homem sem atitudes, e adotava, desde sempre, um comportamento marginal.
Vivia pelas beiradas. Naquela casa, as mulheres falavam mais alto.
(SOBRAL, 2011, p. 41).
Este conto questiona padrões de uma sociedade que ainda revela-se acreditando
que exista uma superioridade racial, neste caso, a população branca. Os familiares dos
dois irmãos não alimentam tal falsa convicção de que há tratamento diferenciado entre
41
um e outro, mas o que demonstra é que tanta implicância pode ser algo pessoal,
enraizado no âmago de um coração machucado e rancoroso como de Jupira:
O irmão Jupi não demonstrava essa angústia velada, apesar de se sentir menos
importante por não ter um padrão racial definido, ao contrário de sua irmã Jupira, que
ao invés de valorizar os traços oriundos de sua raça, preferiria adotar os padrões
estéticos do branco, utilizando-se de uma peruca com cabelos lisos, para esconder sua
real condição estética.
Diante dessa situação, ambos sentem na pele o preço alto da discriminação e
diminuição do seu valor individual, por carregarem consigo traços distintos. Nesse
aspecto, o conto revela um tema muito importante para a vida do negro na
contemporaneidade que é essa busca incessante por uma identidade própria,
desvinculada dos padrões estéticos do branco, tentando mais uma vez apagar da história
o mesmo processo de embraquecimento defendido e imposto durante tantas décadas
atrás.
Jupi revela-se nesse conto como aquela mulher sem estima, castigada pela
sociedade, desprezada pela família e que internalizou a falsa ideia de inferioridade.
Mostra-se, inconformada não consigo ou com a sociedade, mas sim com seu meio irmão
e não perde a oportunidade de mais uma vez destilar seu rancor. “[...] Seus olhos negros
imensos estavam dilatados de ódio enquanto gritava sem piedade: Negro sem valor,
parasita filho da puta! vê se te manca, tá pensando o quê?” (SOBRAL, 2001, p. 42).
O conto revela uma mulher que não se apresenta aqui como ser resignado, que
busca alcançar seus objetivos e que se auto afirma dia após dia na luta incessante por
uma mudança social no que tange ao preconceito. Enfatiza, pela fala de seu meio irmão,
fortes indícios de um preconceito velado, que se materializa no ódio revelado a qualquer
um que lhe pareça ter traços estéticos por ela almejado:
[...] você nunca me aceitou porque eu sou mais claro, o meu cabelo é bom, e
eu não estou nem aí, não dou a mínima pra essa porcaria, enquanto você
gasta os tubos pra esconder a sua carapinha, preta complexada. [...] Sou filho
de um amor escondido de minha mãe com um branco que soube lhe dar amor
e prazer, ao contrário da estupidez legitima do seu pai, que você herdou junto
com o seu pixaim. (SOBRAL, 2011, p. 43).
Por fim, a autora revela por meio da fala de Jupi, a realidade que sempre vem à
tona: o preconceito racial, sendo algo que vai muito mais além que a cor da pele, pois
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se revela no meio, se amplifica pela discórdia histórica vivida por negros, brancos,
mestiços, moços e velhos. Uma estupidez apresentada de forma absurda:
Eu sou esse mestiço trágico, filho da mentira, só eu sei o preço que pago por
isso, porque não sou branco nem preto, e isso todo mundo vê. Estou e sempre
estive no meio dessa confusão, no meio de qualquer coisa, assim como somos
meio-irmão. Mas eu sou um ser humano, isso eu sempre soube ser.
(SOBRAL, 2011, p. 43).
Jupi tinha a consciência do que era ser meio irmão de Jupira pois sofria
diariamente com os preconceitos e piadinhas diariamente realizadas por sua própria
irmã, mas convivia com tantas humilhações e ficava quieto para evitar qualquer tipo de
discórdia, pois diferente de sua irmã o que ele tinha é caráter.
Portanto, como diz Sobral (2001, p. 44), “[...] Era sem dúvida um osso meio
duro de roer”. O conto revela essa luta incessante pela afirmação identitária, por um
olhar mais singular das particularidades do ser humano em detrimento a padrões
estéticos incorporados ao longo dos tempos. O conto “A Discórdia do Meio” se revela
como mais uma defesa dos valores culturais do povo negro. A autora demonstra aqui
que para ser considerado ser humano, seja ele negro, branco, índio ou mestiço, o
indivíduo precisa muito mais que ter a pele marcada por um traço estético. Tem que
reivindicar essa condição e comprometer-se com a luta contra qualquer forma de
preconceito e discriminação.
Este conto é narrado em primeira pessoa e traz uma reflexão sobre o universo
misterioso que é o psicológico do ser humano. Intitulado de O buraco negro faz
referência a situação pela qual a personagem feminina e principal do conto está
passando por um momento de depressão. Um momento em que é representado o
universo complexo das certezas e incertezas, frustrações, decepções, e dissabores que
acaba por transportar o ser humano para um campo reflexivo. Com simples descuido,
tais reflexões e pensamentos permitem prevalecer a negatividade. Logo, é posto em
risco toda a estrutura física e intelectual do ser:
Estive muito tempo dentro de um buraco estranho e escuro de onde eu pude
ouvir as vozes das pessoas que caminhavam lá fora. Era um espaço invisível
aos olhos dos outros, que jamais me imaginariam assim, caída. Muitas vezes
tentei sair, gesto inútil, pois não tinha forças. Cada vez mais agarrada as
paredes deste poço profundo, percebi como uma depressão pode ser adesiva.
(SOBRAL,2011, p.45).
A depressão adesiva de que trata o conto, refere-se a uma depressão que estava
aderente, colada, fazendo parte de sua vida. Descreve esse espaço psicológico
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conturbado que somente a autora pode transitar, local em que os pensamentos pairam,
um local fundo, escuro, que a sufocava, e já não tinha forças para sair daquela situação
de tristeza e melancolia. Estava no fundo do poço. Mas o que seria depressão? A
depressão tem sido uma das temáticas mais debatidas pelos meios de comunicação, em
espaços acadêmicos e abordada em livros. Conforme Teodoro (2010, p.20)
Depressão é um transtorno mental, causado por uma complexa interação
entre fatores orgânicos, psicológicos, ambientais e espirituais, caracterizado
por angústia, rebaixamento do humor e pela perda de interesse, prazer e
energia diante da vida.
Logo, a depressão é desenvolvida pela forma com que cada sujeito lida com as
emoções desencadeadas pelas situações pelas quais passam durante a vida. A
invisibilidade com a qual a autora Cristiane Sobral se refere no trecho do conto abaixo,
revela que independente do esforço que fizesse, nada faria com que lhe salvasse daquela
depressão e saísse daquele buraco escuro e sem perspectiva de vida, um espaço invisível
que somente ela via e sentia.
Ela cria a metáfora de que viva com depressão é o mesmo que estar em um
buraco negro, sem alegria, sem perspectiva. Um lugar que as pessoas não conseguiriam
imaginar que um dia ela pudesse estar, no fundo do poço, em um buraco escuro: “[...]
Era um espaço invisível aos olhos dos outros, que jamais me imaginariam assim, caída”.
(SOBRAL,2011, p.45).
Essa luta interna vivida pela personagem causava grande dor e sofrimento, a
escuridão desse espaço corrompia a reflexão positiva, criava mitos e barreiras que a
cada instante sobressaíam a tentativa de recuperação. E mesmo estando em contato
direto com outras pessoas, muitos não entendiam o estado em que ela se encontrava.
Vale dizer o quão difícil é uma pessoa libertar-se de um estado depressivo, pois
"acostuma-se" com a dor e o sofrimento, como é relatado no trecho acima "começa a
curtir as pedras do poço" e assim é complicado encontrar forças para lutar contra a
tristeza. Mas, felizmente a esperança surge, e para enfrentar tal problema há a
possibilidade de mudar a realidade melancólica e angustiante. Ao falar em depressão
associa-se a "frescura" ou a algo das populações abastadas. Cultua-se a ideia de que o
“pobre não tem depressão”. Todavia desde a escravidão fala-se em banzo. O banzo é
originado do termo quimbundo mbanza que significa aldeia, e o que os negros sentiam é
saudade de sua aldeia na África e isso ocasionava o estado de banzo, ou seja, estado
depressivo. De acordo com Moura em seu Dicionário da Escravidão Negra no Brasil
define o banzo como:
Estado de depressão psicológica que se apossava do africano logo após seu
desembarque no Brasil. Geralmente os que caíam nesta nostalgia profunda,
acabavam morrendo. Atribui-se tal estado depressivo à saudade da aldeia da
qual provinham, de modo que o banzo atingia somente a primeira geração de
escravos, isto é, aqueles diretamente importados da África (MOURA; 2004,
p.63).
Muitos escravizados ficavam em estado de banzo por estar distante de sua terra
natal o que gerava uma tristeza muito grande e então os negros se suicidavam das mais
variadas formas dentre eles estavam: a utilização de venenos vegetais e enforcamento. E
segundo Sobral quando cita em seu conto a frase "reparar na beleza das flores" seria
então uma solução para curar a depressão, passando assim a enxergar o lado positivo de
coisas negativas, tentar compreender a verdade, os fatos, encarar novamente a vida,
ainda que em meio as dificuldades. Já que quando se está imersa na dor não se consegue
enxergar o mundo de uma forma diferente: “Quanto mais eu olhava pra dentro dessa
caverna escura, mais altas cresciam as suas paredes em torno de mim. Não conseguia
enxergar o mundo ao meu redor. Tão imersa que estive na minha própria dor”.
(SOBRAL, 2011, p. 45).
reconhecer que precisa mudar, e busca com suas próprias forças a saída para seu estado
de profunda depressão. O seu choro passa a servir como desabafo, para aliviar tamanha
dor, e assim descobre que a terra úmida, encharcada por suas lágrimas é o terreno
propício para que se plante aquelas flores colhidas nos momentos de extrema reflexão
do eu:
Tempos depois, num dia de sol, sentada numa das esquinas do meu
precipício, após a ressurreição, como quem contempla a própria sepultura,
observei que várias pessoas paravam para admirar o jardim que brotou com a
minha própria dor. Não apenas fiquei de pé, como também fui capaz de
caminhar. Finalmente, era chegado o momento de seguir adiante e
empreender novas obras. (SOBRAL, 2011, p. 45).
E foi lutando e tentando tirar proveito daquele sofrimento e dor para as reerguer
que, finalmente a jovem sai daquele estado de depressão. Este conto traz a reflexão de
como a depressão é nociva ao ser humano desestruturando desde o estado físico ao
mental do ser humano. Sabe-se que é difícil sim superar dificuldades, mas a reflexão
silenciosa e individual é o melhor caminho na busca das mudanças. Todavia, para além
das questões individuais, as coletividades também corroboram com o adoecimento das
pessoas em estado de depressão. Portanto, é preciso ter em mente que todo ser humano
é fruto de suas escolhas, assim como também fruto do meio, de questões sociais e
históricas. É preciso ter a consciência de que cada um deve conhecer a si mesmo, seus
dramas, virtudes e limites para poder lidar com qualquer situação que aconteça em sua
vida. Até mesmo para se fortalecer contra as questões construídas na sociedade ao longo
do tempo.
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feito. Tendo a consciência de que sou importante e posso contribuir para uma melhoria
social, seja ela econômica, cultura. Como educadora devo ensinar aos meus alunos que
preconceito e racismo são atos intoleráveis, pois, ninguém é melhor do que ninguém.
Com relação a obra Espelhos, Miradouros, Dialéticas, da Percepção, as
mulheres negras ali representadas tinham o desejo de se colocar no lugar onde elas
tinham por direito, são elas que lutam pelo empoderamento, rompendo com paradigmas
e estereótipos que lhes foram rotulados. Valorizando assim sua cultura identitária e
emancipando-se enquanto mulher negra no meio social, ideológico e político,
revelando-se através dessa Literatura Negra Brasileira.
No que tange as inquietações vivenciadas por mulheres negras representadas na
obra de Sobral, vale lembrar que estas são propulsoras de movimentos negros
importantes que muito contribuíram e influenciaram para me tornar a mulher que sou
hoje. Uma mulher negra capaz de discutir e interferir em diálogos que envolvem a
maneira de como irei me comportar no mundo e que sou dona de minhas próprias
escolhas, podendo decidir o que eu acho melhor para minha vida. Assim como também
tenho o direito de escolher com quem me relacionar. Todo esse direito de liberdade
deve-se ao fato dos variados movimentos de reinvindicação realizadas pelas mulheres
que decidiram lutar em favor da liberdade, como é o caso do Movimento Feminista,
movimento esse que trouxe muitas conquistas e direitos, melhorando a vida das
mulheres.
Ao que se refere a pesquisa deste trabalho, para mim foi de grande importância
tratar sobre algo que ainda é tão atual. Através dessa obra de Cristiane Sobral foi
possível fomentar o quanto as mulheres negras precisam desse apoio, de valorização e
questionamento deste posicionamento político- ideológico da mulher negra.
No que tange as mulheres negras retratadas na obra de Sobral, através de contos,
são personagens que não se diminuem por não se sentirem inferior a ninguém pela cor
da pele, tendo a consciência que são iguais as mulheres brancas, podendo viver tomando
suas próprias decisões, adquirindo e construindo seus objetivos. Mas, aos longo dos
contos Sobral deixa claro toda a opressão que as protagonistas viviam seja em relação a
estética capilar, ao físico ou até mesmo sentimental, mulheres que tornaram-se libertas e
não subalternas.
Essa pesquisa me fez entender que as mulheres buscavam através de seu perfis a
imagem de mulher destemida e determinada, servindo de exemplo para que outras
mulheres negras tomem tal posição de empoderamento perante a sociedade. Ou seja, nas
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constrói através da cultura em que ela vive, pois ela aprende aquilo que recebe de
ensinamentos, foi o que aconteceu com essas mulheres que eram criticadas física,
esteticamente e psicologicamente quando apenas viviam a favor de saciar as vontades
de uma sociedade racista e preconceituosa.
Por fim, com relação as protagonistas da obra nota-se que cada uma delas tinha
um só objetivo, o anseio de concretizar um sonho considerado possível, de ir e buscar
seus ideais e valores, saindo das rédeas da discriminação e passando a agir pela via da
luta e da resistência, coragem e ousadia para garantir seu empoderamento feminino.
Vale lembrar que mesmo diante de todas as questões aqui discutidas, abro portas
para a continuação dessa pesquisa pois ela não se encerra aqui. Há muito o que se
discutir e pesquisar ainda. Sugiro que mais leitores apreciem a obra Espelhos,
Miradouros, da Dialéticas da Percepção para maiores debates sobre o assunto aqui
proposto, e que as escolas venham possibilitar que os alunos leiam essa obra, e que ela
seja trabalhada por eles a fim de que obtenham o conhecimento de que nem sempre a
mulher conquistou o seu espaço na sociedade, e que houve e ainda há muitos desafios a
serem enfrentados por elas.
Pretendo inclusive, em breve poder destrinchar ainda mais a discussão dessa
pesquisa em uma dissertação de Mestrado, para trazer o caminho revolucionário da
mulher negra que apenas servia, e que ao perceber o que realmente acontecia e
descobrir o poder que ela tinha em suas mãos, parte para o combate e não reivindica
mais apenas em sua imaginação, mas que agora vai realmente em busca do que lhe foi
tirado, realizando movimentos, protestos e criando grupos feministas até conseguir
ocupar o seu lugar de domínio.
Finalizo aqui, relembrando que há discriminação e preconceito e racismo que
muitas mulheres estão sujeitas em seu cotidiano, mas que assim como muitos direitos
foram conquistados há muito preconceito a ser quebrado e é isso que vale a pena lutar
todos os dias por uma sociedade mais justa e igualitária.
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REFERÊNCIAS
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Acesso em: 03 de setembro de 2016 às 10h04min.
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