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Prezado professor,

Nosso sentimento é de alegria e exultação no Senhor por oferecer-lhe


a Revista de nº 48 da Série Lições da Palavra de Deus, cujo tema é:
Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica.

Embora estejamos vivendo em um mundo de tantas descobertas, e


tão evoluído do ponto de vista dos avanços da tecnologia, o homem
ainda traz consigo as marcas daquele ato colossal que o distanciou do
projeto original idealizado por seu Criador. Desde a Queda, os filhos
de Adão tornaram-se implacavelmente egoístas, agressivos, violen-
tos, inseguros, invejosos, ciumentos e, não raro, tristes, infelizes e
deprimidos.

Esta revista traz um conjunto de 13 vícios e males que atormentam


a vida do homem e de seus pares. Por intermédio destas lições, você
entenderá a origem, as manifestações e os traços característicos de
males comuns a todos, porém, nem sempre admitidos por quem os
manifesta. Você aprenderá também sobre como identificar e superar
estes distúrbios, que trazem tantas dores e prejuízos à pessoa indivi-
dualmente e, em geral, aos seus relacionamentos.

Que o Senhor nos abençoe.

Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em


mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua
presença.
Salmo 42.5

Elba Alencar
Diretora Executiva da Central Gospel
Pr. Gilmar Chaves Presidente
Silas Malafaia

Vice-presidente
Silas Malafaia Filho
Pastor, educador, psicanalista e Diretora Executiva
conferencista; Elba Alencar

Gerente Financeiro
Bacharel em Teologia — IBAD, Talita Malafaia Silveira

Pindamonhangaba, SP; Gerente Editorial


Gilmar Vieira Chaves

Licenciatura Plena em Pedagogia Marketing


Flávia Andrade, Renata Gonçalves, Liérgina
com Habilitação para Supervisão Martins, Raquel Frazão, Fernando Lima e
e Administração Escolar — Pamella Caputi

Universidade Católica de Mato Capa, projeto gráfi co e diagramação


Eduardo Souza
Grosso;
DEPARTAMENTO EDUCACIONAL
Coordenadora das revistas infantis
Pós-graduado em Metodologia Albertina Lima Malafaia
do Ensino Superior — Faculdade Coordenadora das revistas de
Salesiana de Ensino Superior, adolescentes, jovens e adultos
Jane Castelo Branco
Lorena, SP;
Copidesque
Jane Castelo Branco
Pós-graduado em Docência do
Fotos
Ensino Superior — Universidade Shutterstock
Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ; 4º Trimestre/2016

Mestre em Teologia —
Universidade da Flórida, USA;

Superintendente da Escola LOJAS NO RIO DE JANEIRO


Penha
Dominical da Assembleia de Deus Rua Honório Bicalho, 102
em Jacarepaguá. Penha – (21) 3888-4511 e (21) 2671-4290

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1 A Ditadura do Orgulho 4

2 Ira, Combustível para Mágoas e Ódios 11

3 Estresse, um Portal para a Morte 18

4 Depressão, Melancolia da Alma 25

5 Angústia, o Gemido Silente 32

6 Autoestima, um Ajuste no Foco 39

7 Ansiedade, Tolice dos Homens 47

8 Culpa, a Prisão da Mente 54

9 Luxúria, o Desejo Proibido 61

10 Cobiça, o Número Um dos Pecados 68

11 Medo, a Moenda do Maligno 75

12 Ciúme, o Cabo da Tormenta 82

13 Inveja, a Senda da Autodestruição 89


Lição 1

Aula dada em
DIA MÊS ANO
A Ditadura do Orgulho
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
2 Crônicas 26.3,4,16-21
3 - Era Uzias da idade de dezesseis anos quando começou a reinar e cin-
quenta e cinco anos reinou em Jerusalém (...).
4 - E fez o que era reto aos olhos do Senhor, conforme tudo o que fizera
Amazias, seu pai.
16 - Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corrom-
per; e transgrediu contra o Senhor, seu Deus, porque entrou no templo
do Senhor para queimar incenso no altar do incenso.
17 - Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e, com ele, oitenta sacerdo-
tes do Senhor, varões valentes.
18 - E resistiram ao rei Uzias e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete quei-
mar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que
são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque trans-
grediste; e não será isso para honra tua da parte do Senhor Deus.
19 - Então, Uzias se indignou e tinha o incensário na sua mão para queimar
incenso; indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à
testa perante os sacerdotes, na Casa do Senhor, junto ao altar do incenso.
20 - Então, o sumo sacerdote Azarias olhou para ele, como também todos os
sacerdotes, e eis que já estava leproso na sua testa (...).
21 - Assim ficou leproso o rei Uzias até ao dia da sua morte; e morou, por ser
leproso, numa casa separada, porque foi excluído da Casa do Senhor; e
Jotão, seu filho, tinha a seu cargo a casa do rei, julgando o povo da terra.

4 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
Que tens tu que não O ESTUDO DIÁRIO
tenhas recebido? E, se 2ª feira – Provérbios 11.2; 29.23
o recebeste, por que te A soberba precede a ruína

glorias como se não o 3ª feira – Tiago 4.1-6


Deus resiste aos soberbos
houveras recebido?
4ª feira – Mateus 23.8-12
1 Coríntios 4.7b O que se exaltar será humilhado
5ª feira – Romanos 12.9-16
Não sejais sábios em vós mesmos
6ª feira – 2 Coríntios 10.13-18
Não nos gloriaremos fora de medida
Sábado – Gálatas 6.1-5
Prove cada um a sua própria obra

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
discernir os dois sentidos da palavra orgulho (positivo e
negativo);
saber que a Bíblia trata o orgulho como um pecado abomi-
nável;
identificar os sintomas do orgulho;
conhecer as consequências do orgulho na vida do rei Uzias.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
O aconselhamento preventivo e o aconselhamento terapêu-
tico são diametralmente diferentes. No primeiro, o objetivo é
prevenir para que as feridas e os traumas não se estabeleçam.
No segundo, o objetivo é tratar os problemas que já acontece-
ram, os males que deviam ser evitados, mas já se instalaram.
O aconselhamento preventivo deve preceder o terapêutico,
ser uma constante na igreja e fazer parte de uma estratégia
elaborada por ela, objetivando um crescimento contínuo tanto
em quantidade numérica como em qualidade de vida cristã
em seus vários aspectos.
Por isso, é interessante que todo educador cristão conheça
os principais sistemas de psicologia e também a postura de
pastores e teólogos, a fim de conduzir o estudo dessa revista
da melhor maneira possível.
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 5


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Uzias é um dos reis mais emblemáticos da história da mo-
narquia judaica. Sua trajetória monárquica iniciou-se quando
ele tinha 16 anos de idade, e seu tempo de reinado colocou-o
entre os mais longevos de Judá — 52 anos (792—740 a.C.)
—, superando, inclusive, os governos de Davi e Salomão. Sua
história combina momentos de grandes conquistas e notabi-
lidade; no entanto, ao mesmo tempo, é um dos relatos mais
tristes da Bíblia Sagrada.
Assim como subiu de forma meteórica e alcançou grande
sucesso por seus feitos, Uzias caiu de forma trágica por conta
do orgulho que permitiu abrigar em seu coração (Pv 16.18).

1. OS DOIS SENTIDOS DA PALAVRA ORGULHO


O orgulho faz parte da vida do ser humano quase que
de forma inseparável. Embora, em princípio, cause surpresa
a muitos, o termo pode ser aplicado em dois sentidos diame-
tralmente opostos. Vejamos a seguir.
1.1. Considerado positivamente
Todo ser humano em algum momento de sua vida sente-se
orgulhoso — de si mesmo ou de alguém com quem tem laços
de afeição e estima — por certos feitos ou por determinados
objetivos alcançados. Este é um tipo de orgulho benéfico, seja
no âmbito profissional, social e até nas ocupações eclesiais. Vis-
to dentro desse ângulo positivo, ele tem a conotação de senso
de dignidade, autovaloração e autorrespeito.
1.2. Considerado negativamente
Este é o sentido em que o termo é aplicado nas Escrituras
Sagradas. O orgulho faz com que o indivíduo sinta excessivo
amor por si próprio, um senso desarrazoado de superioridade
no que se refere ao talento individual, beleza, riqueza ou qual-
quer outra virtude que possua ou julgue possuir.
O orgulhoso, erroneamente, sente-se superior aos outros,
em algum sentido, e os trata de maneira desdenhosa, arro-
gante e presunçosa. Porém, a Bíblia exorta-nos à convivência
humilde e à valorização do próximo (Fp 2.3).

2. A BÍBLIA TRATA O ORGULHO COMO UM


PECADO ABOMINÁVEL
O primeiro pecado na esfera humana atende pelo nome
de orgulho. Este sentimento expressa o que há de pior e mais

6 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


perverso no coração do homem. Seu efeito destrutivo asse-
melha-se ao de uma bomba, que devasta e destrói de manei-
ra impiedosa. Ele é a matriz de uma série de outros males e
origina-se no próprio diabo, o deus deste século (2 Co 4.4),
que o dissemina no mundo como parte dos seus propósitos
malignos de roubar, matar e destruir o ser feito à imagem e
semelhança do seu Criador (Jo 10.10; Gn 1.26,27).
2.1. Foi o elemento principal na queda de Lúcifer na
esfera angelical
Não satisfeito com sua elevada
condição diante dos seres criados,
Lúcifer assentou em seu coração Foi pelo orgulho que
que subiria ao céu, acima das es- o demônio tornou-se
trelas de Deus, e estabeleceria ali o demônio. O orgulho
o seu próprio trono. Seu alvo era conduz a todos os
tornar-se semelhante ao Altíssimo outros pecados: é o mais
(Is 14.12-14). Porém, Deus o lan- completo estado de alma
çou do alto da sua presunção de anti-Deus (C. S. Lewis).
honra e poder, precipitando-o em
um abismo de vergonha e derrota
(Is 14.15-19).
2.2. Foi o fator predominante na queda de Adão e Eva
O diabo insinuou que Adão e Eva teriam os seus olhos
abertos e se tornariam tão conhecedores do bem e do mal
quanto Deus, caso comessem do fruto proibido (Gn 3.1-5).
Estes argumentos desencadearam neles o orgulho de serem,
de alguma forma, iguais ao Criador. Tendo comido do fruto
proibido, contraditoriamente, viram-se nus e resolveram fugir
da presença de Deus, como se isto possível fosse (Gn 3.6-11).

2.3. Leva ao desejo de tomar para si a glória que é


exclusiva de Deus
Todo homem, independente da sua condição social, em al-
gum tempo de sua vida, pode ser dominado pela desgraça do
orgulho, como aconteceu com o rei Nabucodonosor (Dn 4.29-
32). Todavia, aqueles que possuem (ou acham que possuem)
riquezas, inteligência, beleza ou cargos de elevada importân-
cia são mais propensos à queda, pelo desejo de usurparem a
posição que Deus reserva a Si somente (Is 42.8).
2.4. Está em rota de colisão com o caráter de Deus
O orgulho é um dos principais traços de Satanás, o inimigo
de nossas almas. João, o discípulo amado, denomina concupis-
cência dos olhos o encantamento pessoal pelos tesouros deste
mundo, a ávida busca pelos aplausos, honra e glória dos ho-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 7


mens (1 Jo 2.16). Herodes, quando aplaudido e chamado de voz
de Deus e não de homens, exaltou-se, não deu glória a Deus,
consequentemente, expirou comido por vermes (At 12.21-23).

2.5. Deve ser combatido pelos salvos


O coração humilde é o contraponto do orgulho. No Salmo
131.1-3, Davi revela um dado importante do seu caráter, pois,
mesmo tendo se tornado rei de todo Israel, nunca desejou de
forma obstinada as posições de destaque (Sl 131.1).
2.6. O orgulhoso será punido e humilhado
Aquele que possui olhos altivos e trata o próximo com
indiferença e escárnio será severamente punido (Sl 18.27;
Sf 2.10,11; Is 2.12; Ml 4.1).
O Mestre dos mestres afiançou que o orgulhoso deve arre-
pender-se e mudar. Caso isto não ocorra, ele será, mais cedo ou
mais tarde, humilhado diante dos olhos do mundo (Mt 23.12).

3. SINTOMAS DO ORGULHO
As doenças físicas, de modo geral, podem ser identi-
ficadas por meio das suas manifestações (visíveis ou não).
Assim também ocorre no plano emocional e espiritual. O pe-
cado do orgulho também pode ser corroborado por suas ca-
racterísticas. Vejamos a seguir alguns sinais que identificam
uma pessoa orgulhosa.
3.1. Possui um exagerado senso de superioridade
O orgulhoso não se contenta em ser igual ao seu seme-
lhante, ao contrário, ele precisa sentir-se melhor e maior. Sua
visão de si é superestimada, ele acha que é mais importante
do que os outros. Porém, a Bíblia ratifica que Deus possui um
caráter constante e que, em hipótese alguma, faz acepção de
pessoas (At 10.34, Rm 2.11).
3.2. Pensa que está sempre com razão e os outros errados
A pessoa orgulhosa tem grande dificuldade em aceitar que
está equivocada, porque simplesmente não é capaz de admitir
seus erros (Mt 7.3). Ela é assim no trabalho, em casa, na escola
ou na igreja. Ela fala como se fosse dona absoluta da verdade
em todas as questões. Por conta deste tipo de conduta, não
consegue desenvolver relacionamentos bons e duradouros.
3.3. Não tolera receber críticas
Por ter um conceito muito elevado de si mesma, a pessoa
orgulhosa não consegue receber com naturalidade as críti-
cas; quando as recebe, tende a reagir agressivamente, como
foi o caso do rei Uzias (2 Cr 26.19).

8 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Os orgulhosos não conseguem compreender que as opi-
niões diferentes ao seu respeito podem, no fim das contas,
ajudá-los a melhorar. Por sentirem-se acima da média, nun-
ca pedem desculpas e comumente apresentam justificativas
para seus atos, responsabilizando os outros por seus erros e
insucessos (Gn 3.9-13).
3.4. É resistente às mudanças necessárias
Pelo fato de sentir-se autossuficiente (e quase perfeita),
tal pessoa tende a ser resistente às mudanças. Há uma lógica
perversa nesse tipo de comportamento; entretanto, compre-
ensível, uma vez que os orgulhosos consideram-se superiores
aos demais — se alguma mudança for necessária, que ocorra
em relação aos outros, pois, sendo inferiores, são os que preci-
sam mudar de direção.

3.5. Incomoda-se com o sucesso dos outros


O orgulhoso sente-se confrontado e profundamente des-
confortável diante das boas notícias de conquista do seu se-
melhante (especialmente se for de alguém próximo).
Tal pessoa, ao invés de alegrar-se na alegria do outro (Rm
12.15a), entristece-se, permitindo que sentimentos mesqui-
nhos tomem conta do seu coração. Pensar em alguém que seja
melhor do que ela em alguma coisa é algo inadmissível.

3.6. Costuma ser preconceituosa


O orgulhoso nada de braçadas no preconceito. Seu senti-
mento de superioridade faz com que promova distinção entre
os demais, seja em relação à raça, etnia, intelectualidade, con-
dição social, religiosa ou financeira.
O orgulho é o embrião do preconceito. Esse sentimento
deletério, que teima em ocupar mentes e corações, é fruto da
pequenez espiritual e da ignorância sobre si, sobre o próxi-
mo, sobre o caráter de Deus e sobre Seus planos para com a
humanidade.

4. CONSEQUÊNCIAS DO
ORGULHO NA VIDA DO
REI UZIAS O demônio ri. Ele não tem
problema algum em ver
Quando o homem age movi- alguém se tornar moralmente
do pelo orgulho, ele iguala-se a puro, corajoso e disciplinado,
Lúcifer e a Adão. Suas escolhas contanto que consiga
tornam-se apenas reedições do
estabelecer nele a ditadura
pecado perpetrado nas regiões ce-
lestiais e no Éden. Uzias, a despei- do orgulho (C. S. Lewis).
to de suas monumentais conquis-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 9


tas, ao exaltar-se em seu coração, experimentou o infortúnio,
a dor e a decadência. Vejamos algumas consequências do or-
gulho na biografia deste grande monarca (2 Cr 26.3-5,16-21):
corrupção — a palavra vem do latim (corruptus) e significa
quebrado em pedaços. Tem o sentido de apodrecido. Os atos
de Uzias, baseados em seu orgulho, levaram-no à destrui-
ção total (2 Cr 26.16);
desonra — todo aquele que estabelecer conexão com o or-
gulho e fizer dele plataforma para sua vida experimentará,
como Uzias, o abismo da vergonha e da desonra (2 Cr 16.18);
enfermidade e humilhação — o orgulho fez adoecer pra-
ticamente todas as dimensões do seu ser, ou seja, corpo,
alma e espírito. Dominado pelo pecado do orgulho, o rei foi
severamente punido pelo Senhor e seu corpo ficou tomado
pela lepra até sua morte. Sua saúde escapou-lhe, devido à
soberba do seu coração (2 Cr 26.19);
isolamento do convívio social — o orgulhoso será sempre
alguém solitário, uma vez que as pessoas não desejam con-
viver com esse tipo de personalidade. Dominado pela enfer-
midade, resultante do seu pecado, o rei foi submetido a um
processo de exclusão social severo e cruel (2 Cr 26.20);
exclusão da casa do Senhor — Deus resiste ao orgulhoso e
impede-o da grandiosidade da Sua presença (Tg 4.6). Além
de excluído do convívio da família e de seus consortes, o
rei sofreu a pior separação de todas: ele foi banido da casa
do Senhor (2 Cr 26.21).

CONCLUSÃO
Jesus disse que os humildes são bem-aventurados (Mt 5.3).
Significa dizer que, no contraponto de uma vida caracterizada
pelo orgulho, há um estilo de vida alicerçado na humildade que
conduz à suprema alegria de um viver feliz, sereno e seguro.
Como disse o escritor e teólogo Matthew Henry, a humilda-
de é uma disposição graciosa da alma por meio da qual somos
esvaziados de nós mesmos, a fim de sermos cheios do Senhor
Jesus Cristo. Ser humilde é ser despretensioso aos próprios
olhos; é reconhecer que Deus é grande, e todo homem insig-
nificante; é entender que Ele é santo, e todo homem pecador.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com a lição de hoje, cite ao menos dois sinais
que identificam uma pessoa orgulhosa.
R.: Possui um exagerado senso de superioridade; pensa que
está sempre com razão e os outros errados, dentre outros.

10 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 2

Aula dada em
DIA MÊS ANO Ira, Combustível para
Mágoas e Ódios
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios 4.17,18,20-24,26,27,29,31,32
17 - E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam
também os outros gentios, na vaidade do seu sentido,
18 - entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela igno-
rância que há neles, pela dureza do seu coração.
20 - Mas vós não aprendestes assim a Cristo,
21 - se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade
em Jesus,
22 - que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se
corrompe pelas concupiscências do engano,
23 - e vos renoveis no espírito do vosso sentido,
24 - e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verda-
deira justiça e santidade.
26 - Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira.
27 - Não deis lugar ao diabo.
29 - Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa
para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem.
31 - Toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias, e toda malícia
seja tirada de entre vós.
32 - Antes, sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoan-
do-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 11


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Sabeis isto, meus amados
2ª feira – Salmo 37.1-9
irmãos; mas todo o homem
Deixa a ira e abandona o furor
seja pronto para ouvir,
3ª feira – Provérbios 15.1,8
tardio para falar, tardio O homem iracundo suscita contendas
para se irar.
4ª feira – Provérbios 22.24,25
Tiago 1.19 Não acompanhes o iracundo
5ª feira – Provérbios 29.8,11,22
Um tolo expande toda a sua ira
6ª feira – Colossenses 3.1-8
Despojai-vos também da ira
Sábado – Tiago 1.19,20
Todo o homem seja tardio para se irar

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
fazer distinção entre os termos raiva, ira e ódio;
saber o que as Escrituras falam a respeito da ira;
refletir sobre os imperativos paulinos relativos ao modo
como o cristão deve responder à ira: irai-vos e não pequeis;
não se ponha o sol sobre a vossa ira; não te deixes vencer
do mal, mas vence o mal com o bem.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Muitos acreditam que a honra de um homem está na ca-
pacidade de ele responder à altura a ofensa sofrida; está na
habilidade de ele não levar desaforo para casa ou, ainda, está
em seu espírito belicoso. Mas, quando foi que alguém, de fato,
conseguiu resolver os problemas da vida alimentando iras?
Quando foi que a ira ofereceu uma luz no fim do túnel para os
conflitos humanos?
Afinal, que emoção é esta? Em que momento a ira deixa
de ser virtude e passa a ser pecado? Como vencê-la em nós?
Quais valores associam-se direta e indiretamente a essa emo-
ção?
No decorrer desta lição, veremos que muito mais coragem
é necessária para resistir ao homem perverso, para andar in-
finitas milhas de compaixão, para caminhar em silêncio sob o
som de vozes maledicentes e para perdoar setenta vezes sete.
Deus lhe abençoe na condução do tema.
Boa aula!

12 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Nem sempre a ira deve ser considerada como algo peca-
minoso, uma vez que Jesus a manifestou quando expulsou os
vendilhões do templo (Mt 21.12,13), e o apóstolo Paulo decla-
rou: Irai-vos, mas não pequeis (Ef 4.26).
Vista de maneira positiva, a ira pode ser um recurso da
psiquê humana para sinalizar quando algo está errado e os
limites da bondade, da justiça e do bom-senso estão sendo
violados. No entanto, essa emoção, se não controlada, pode
tornar-se destrutiva, trazendo grandes prejuízos para o indi-
víduo. É o que veremos a seguir.

1. RAIVA, IRA E ÓDIO: DEFINIÇÃO DE TERMOS


Raiva, ira e ódio são termos frequentemente usados
como sinônimos; deste modo, faz-se necessária uma adequa-
da conceituação, a fim de entendermos o que de fato a ira é.
Vejamos a seguir.
1.1. Raiva
Trata-se de uma emoção primitiva e pouco elaborada. Uma
criança que se vê privada de alimento, por exemplo, pode
encolerizar-se — e isso é natural. Ao chorar de raiva, a criança
espera chamar a atenção de alguém que lhe possa suprir a fal-
ta; nesse caso, a emoção funcionaria como um fator protetivo.
Sozinha, a raiva não tem o poder de atingir outras pessoas,
mas é uma porta que se abre à evolução de outras emoções
(mais nocivas). Em essência, a raiva é tão inocente quanto um
animal selvagem; contudo, se não contida, poderá causar danos.
1.2. Ira
A ira solicita de suas vítimas uma reação imediata (e quase
sempre desmedida) contra aquilo que representa uma ameaça
(real ou imaginária) à sua integridade (física e/ou emocional).
É o popularmente conhecido bateu-levou — uma pessoa que
ouve impropérios, por exemplo, se tomada pela ira, tenderá a
devolver a afronta com a mesma intensidade, na tentativa de
minimizar a dor sentida (nesse caso, dor psicológica).
A ira, apesar de intensa e perigosa, de modo geral, tem
curta duração; e, assim como a raiva, se não for expurgada
ou controlada, poderá causar severos danos (físicos e emocio-
nais) ao indivíduo.
1.3. Ódio
O ódio, diferente da raiva e da ira, não é passageiro; ele é
alimentado pelo tempo, pelas noites de ira que se sobrepõem

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 13


— uma à outra — durante a vida (Ef 4.26) — como veremos
adiante. O ódio é pernicioso por não reconhecer limites e por
eliminar a capacidade de suas vítimas analisarem o contexto
de forma isenta e prática.

2. O QUE AS ESCRITURAS FALAM A


RESPEITO DA IRA
As Escrituras dão-nos ciência de que há dois tipos de
ira: uma que se deriva do caráter humano pecaminoso (Ef
4.31; Cl 3.8) e outra que advém na natureza santa do Criador
(Mt 3.7; Rm 1.18; 9.22).
No Novo Testamento, duas palavras gregas são usadas
para designar ira: orgē e thymos. Vejamos:
orgē — indica uma disposição mental vinculada ao desejo
de vingança futura; muitas vezes, designa indignação. O
vocábulo aparece no texto bíblico tanto para descrever a ira
do homem (Ef 4.31; Cl 3.8) como a ira de Deus (Mt 3.7; Rm
1.18; 9.22);
thymos — indica uma explosão repentina de cólera ou
furor, decorrente de indignação interior, que cessa rapi-
damente. É característico, portanto, daquilo (ou daquele)
que logo se inflama, mas que se apaga no instante (Ap
14.10,19; 15.1,7; 16.1,19; 19.15).

2.1. A ira de Deus


Críticos do cristianismo costumam dizer que a ira de Deus
é uma contradição. Perguntam-nos eles com desdém: como
um Deus de amor pode ferir a terra com a vara de Sua boca
(Is 11.4)?
Paulo, ao escrever aos Romanos, afirmou que a ira de Deus
manifesta-se sobre toda a impiedade e injustiça praticada pe-
los homens (Rm 1.18); aos efésios, ele disse que a ira de Deus
é derramada sobre todos aqueles
que vivem na desobediência (Ef
5.6); aos colossenses, ele declarou
Ao expulsar os vendilhões que o Senhor derrama Sua ira so-
do templo (Mt 21.12,13), bre aqueles que cometem pecado
Jesus expressou Sua (Cl 3.6).
absoluta indignação contra O mal e a injustiça não existem
a impiedade e injustiça em si mesmos; existem homens
cometidas pelos homens. perversos e homens injustos, ou
seja, pessoas que se dispõem a se-
O ato de Jesus revelou, de
guir na contramão dos desígnios
forma clara e inequívoca, o divinos. Se pudéssemos resumir o
coração do Pai, que dá ao mal pensamento paulino, dentro desse
a resposta adequada. contexto, este seria: (1) Deus é o
único Ser capaz de responder ide-

14 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


almente à injustiça e ao mal praticado pelos homens; e (2) o
alvo da Sua ira é o ato perverso, não aquele que o pratica.

3. A NINGUÉM TORNEIS
MAL POR MAL
A ira divina resulta em algo
Paulo, em Efésios 4.26, auto- bom — a paz (Is 11.6-9).
riza seus leitores a irarem-se. Dis- Quando o ser humano se
se ele: Irai-vos. Porém, no mesmo vinga, sua ira costuma gerar
versículo, sem qualquer interlúdio, mais violência, sofrimento e
ele completa sua instrução: e não
pequeis; não se ponha o sol sobre amargura. Os juízos de Deus,
a vossa ira. contudo, promovem a paz na
Embora pareça humanamente terra, porque contêm a justiça
impossível realizar tal tarefa, em verdadeira e eliminam os que
Romanos 12.21, o apóstolo ensina estão do lado da injustiça e da
a como colocá-la em prática: não te perversidade (RADMACHER;
deixes vencer do mal, mas vence o ALLEN; HOUSE. Central Gospel,
mal com o bem.
Analisemos os imperativos pau- 2010a, p. 1042).
linos mais detidamente nos tópicos
seguintes.
3.1. Irai-vos
João Crisóstomo (347—407), arcebispo de Constantino-
pla, reconhecido por sua habilidade oratória, disse certa vez:
Quem quer que fique irado por uma razão justa não é culpado.
Porque, se faltasse a ira, a ciência de Deus não teria anda-
mento, os julgamentos não seriam acertados, e os crimes não
seriam reprimidos.
Quando somos afetados pela injustiça, perdemos a capa-
cidade de racionalização e iramo-nos. A ira é uma emoção, e
nenhuma culpa pode ser imputada ao ser que, limitado pela
condição humana, emociona-se. Significa dizer que a ira, em
si, não é pecado.
Neste ponto, bem caberia um questionamento: por que,
então, não devemos responder com atos de ira, quando so-
mos nós os injustiçados e feridos? Vejamos a seguir.
3.2. Mas não pequeis
A ira, energia que o Criador concede-nos para responder-
mos de modo adequado à injustiça, muitas vezes, empurra-
-nos ao justiçamento, ou seja, à fabricação de um tipo de
compensação que se adeque aos nossos critérios, valores e
razões. Quando isso acontece, cometemos pecado.
A única ocasião em que um ato indignado de ira é justifi-
cado dá-se quando esse é praticado em defesa de uma vítima
da injustiça (que não nós). Nenhum ato violento de ira, que

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 15


objetive anular os efeitos de uma injustiça cometida contra
nós, pessoalmente, é legitimado pelo Evangelho. Ao contrá-
rio, como cristãos, somos instados
a oferecer a outra face aos nossos
ofensores e a caminhar com eles a
Quando somos vítimas segunda milha (Mt 5.39,40); além
da injustiça, tendemos disso, somos orientados a respon-
der ao mal com o bem (Rm 12.21)
a responder de forma e a deixar a vingança aos cuidados
exagerada a tal estímulo; e do Senhor (Rm 12.19) — como disse
isso acontece por causa do Tiago, a ira do homem não opera a
orgulho. Nesse ponto, a ira justiça de Deus (Tg 1.19,20).
torna-se um pecado, pois
3.2.1. Assumir a ira é, antes de
se impõe como afirmação
tudo, reconhecer que ela habita
absoluta do ego. É fato: a
nossa mente
ira não controlada revela as
entranhas do ego que não A ira é deflagrada toda vez que
admite ser contrariado. alguém ou algo ameace nosso bem-
-estar (de forma real ou imaginária);
por isso, bem faríamos se, antes de
transformarmos a emoção (ira) em
ato, respondêssemo-nos sinceramente: as palavras e atitudes
alheias atingem quais áreas do nosso ser? O que, no outro,
desperta, em nós, a sensação de suscetibilidade? Se nos ira-
mos com nosso semelhante, a ira é nossa, nosso é o problema
e em nós está a solução.
3.3. Não se ponha o sol sobre a vossa ira
Quando Paulo disse: não se ponha o sol sobre a vossa ira
(Ef 4.26b), em outras palavras, ele instruía seus leitores a não
irem para a cama com o suposto direito de ficarem aborreci-
dos, a não dormirem com qualquer
tipo de razão suicida. O apóstolo sa-
bia que, se assim agissem, eles abri-
Assim como a vida procede riam espaço para a ação do diabo
do amor, a morte procede do — é importante destacar que o vo-
ódio (da ira que se acumula cábulo grego diabolo (dia = separa-
noite após noite). Deste do + bolo = jogar) designa o ser que
modo, é possível afirmar que joga separado, fragmenta e desune.
quem dorme com a ira, em E é exatamente nos vãos, brechas
certo sentido, casa-se com e lacunas que o inimigo de nossas
morte, pois faz fenecer os almas finca suas raízes, fazendo-as
florescer em nosso inconsciente.
bons pensamentos, os bons
Por esse motivo, o apóstolo fez
sentimentos e as tal exortação. Dormir com a ira
boas intenções. equipara-se a aninhar ovos de ser-
pente na alma. E quem insiste em

16 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


fazê-lo não sai incólume, pois, quase sempre, torna-se um ser
desconfiado, mal-humorado e paranoico.
3.4. Vence o mal com o bem; vence o mal com o amor
Costumamos ser passivos com a injustiça cometida con-
tra o próximo anônimo, mas tendemos a reagir com violência
contra qualquer palavra ou prática contrária às nossas expec-
tativas. Mais uma vez, Paulo, corroborando a mensagem de
Jesus, apresenta-nos a solução: o amor, pois este não se ira
facilmente (1 Co 13.5 – NVI).
3.4.1. Todo aquele que enfrenta e vence a ira pode seguir
livre em seu caminho
Muitos cristãos interpretam o mandamento do amor como
um peso — isso porque o enxergam sob a lente da moralida-
de. Talvez seja este o grande engano de Satanás, pois amar
nossos inimigos não é um dogma, mas o único caminho pos-
sível para a verdadeira liberdade — ninguém pode manter
cativo aquele que a ninguém odeia.

CONCLUSÃO
Há pessoas que abrigam iras por anos a fio, sem assumi-las
como realidade; e essas iras revelam-se no cotidiano por meio
de amarguras intensas, agressividades desmedidas e angús-
tias paralisantes.
Não nos iludamos, irmãos, a ira despersonaliza o irado, fo-
menta inimizades, e inviabiliza os relacionamentos, porque ne-
nhuma relação humana subsiste à impossibilidade do perdão.
Interrompamos os ciclos de ira hoje mesmo. Humildemente
percebamos que só seremos verdadeiros filhos de Deus no dia
em que conseguirmos amar nossos inimigos de todo coração e
quando, com sinceridade, pudermos orar por eles (Mt 5.44,45).
O mundo carece de cristãos fiéis, capazes de retribuir o
mal com o bem, de não tomar em suas mãos as injustiças
cometidas contra eles e de exercitar, dia a dia, a mansidão.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. No Novo Testamento, duas palavras gregas são usadas
para designar ira. Quais são elas e o que cada uma indica?
R.: (1) Orgē indica uma disposição mental vinculada ao desejo
de vingança futura; muitas vezes, designa indignação. (2)
Thymos indica uma explosão repentina de cólera ou furor,
decorrente de indignação interior, que cessa rapidamente.
É característico, portanto, daquilo (ou daquele) que logo se
inflama, mas que se apaga no instante.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 17


Lição 3

Aula dada em
DIA MÊS ANO Estresse,
um Portal para a Morte
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Gênesis 3.9-19
9 - E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?
10 - E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e
escondi-me.
11 - E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore
de que te ordenei que não comesses?
12 - Então, disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu
da árvore, e comi.
13 - E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isso? E disse a mulher:
A serpente me enganou, e eu comi.
14 - Então, o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita
serás mais que toda besta e mais que todos os animais do campo; sobre
o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias da tua vida.
15 - E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua se-
mente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
16 - E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concei-
ção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te
dominará.
17 - E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste
da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a
terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida.
18 - Espinhos e cardos também te produzirá; e comerás a erva do campo.
19 - No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; por-
que dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.

18 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Por isso, não
desfalecemos; mas, ainda 2ª feira – Romanos 8.26-28
Todas as coisas contribuem para o bem
que o nosso homem
exterior se corrompa, 3ª feira – Salmo 131
Fiz calar e sossegar a minha alma
o interior, contudo, se
4ª feira – Salmo 23
renova de dia em dia.
O Senhor é meu pastor, nada me faltará
2 Coríntios 4.16 5ª feira – Romanos 5.3-5
A tribulação produz a paciência
6ª feira – Salmo 119.10-16
De todo o meu coração te busquei
Sábado – Provérbios 4.7,8; 27.19; 23.7
Adquire, pois, a sabedoria

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
conhecer as reações mais comuns observadas diante de
um agente estressor e as classificações de estresse;
identificar as circunstâncias que conduzem a quadros de
estresse;
adotar medidas preventivas contra o estresse.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Nós, cristãos, assim como todos os demais seres humanos,
sofremos a ação de agentes estressores. Segundo dados da
OMS (Organização Mundial de Saúde), o estresse atinge nove
em cada dez habitantes do planeta.
O termo estresse, tomado emprestado da Engenharia, indi-
ca o máximo de pressão que determinado organismo ou ele-
mento pode sofrer, sem perder a sua forma original, ou seja,
sem se deformar. O estresse, na área da psiquê humana, de-
signa um estado de desequilíbrio em que o indivíduo atinge o
limite de suportabilidade das emoções.
As pressões externas exigem de nós respostas apropria-
das, e, à medida que as tensões se intensificam, perdemos a
capacidade de responder adequadamente a cada uma delas
— entramos em déficit (emocional, mental, físico, espiritual) e
ficamos deformados, isto é, estressados.
Sugerimos, professor, que no início da aula seja dada opor-
tunidade aos alunos para falarem de suas experiências pes-
soais de estresse, a fim de que eles consigam internalizar o
conteúdo da lição.
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 19


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
A experiência da Queda repercutiu na raça humana de for-
ma trágica. Expulso do Jardim, longe de Deus, o homem ficou
sem parâmetros de norteamento; e, desde então, ele não con-
segue viver em harmonia com a Natureza, com o próximo ou
consigo mesmo. Suas relações desordenaram-se em todos os
sentidos, e os conflitos passaram a fazer parte do seu cotidiano.
Além disso, o ser criado à imagem e semelhança de Deus
foi tomado pelo desejo insaciável de obter coisas, o que o fez
ficar sobrecarregado por múltiplos afazeres — e foi exata-
mente assim que o estresse tornou-se uma de suas marcas
identitárias.

1. O QUE É ESTRESSE?
Estresse emocional é a resposta que o corpo humano dá
a determinada circunstância que desafia ou ultrapassa sua ca-
pacidade de adaptação. Esta emoção, cuja origem tem causas
diversas, pode ser caracterizada
por sensações de medo, desconfor-
A ansiedade e o estresse to, preocupação, irritação, frustra-
são portais para a morte. ção, indignação ou nervosismo.
As reações mais comuns obser-
vadas diante de um agente estres-
sor são as que seguem:
reações mentais — esquecimento, incapacidade de con-
centração, falta de clareza nas tomadas de decisões, lenti-
dão do pensamento, preocupação excessiva, pessimismo e
ansiedade;
reações psicológicas — tristeza profunda, depressão, soli-
dão, isolamento, cansaço, irritação, agitação e mau humor;
reações físicas — o estresse exerce influência direta sobre
o corpo humano, podendo causar as chamadas doenças
psicossomáticas, que se manifestam como queda de ca-
belo, aumento do peso, perda do desejo sexual, problemas
de estômago (como gastrites e úlceras), dores nas costas e
envelhecimento precoce.

2. CLASSIFICAÇÕES DO ESTRESSE
A primeira experiência humana de estresse aconteceu
ainda no Éden: depois de ter comido do fruto proibido, Adão foi
tomado pelo medo, pela vergonha e pela angústia. A resposta
que ele deu à pergunta que o Criador lhe fez — onde estás
— revelou que ele estava cônscio de ter experimentado, pela
primeira vez, o gosto amargo do estresse: Ouvi a tua voz soar
no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (Gn 3.9,10).

20 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Na pós-modernidade, a correria, os
constantes desafios, as pressões, os
Nos dias em que somos
conflitos familiares, o trabalho exces-
sivo, os relacionamentos desgastantes tomados pelo estresse,
e as incertezas quanto ao amanhã con- podemos experimentar
tribuem, de forma significativa, para a paz que vem de Deus;
uma vida dominada pelo estresse. basta mantermos nossos
Os tipos de estresse dependem da pensamentos fixos Nele.
intensidade e do tempo necessário O profeta Isaías disse:
para que os processos de solução e
Tu conservarás em paz
adaptação ocorram. Vejamos as prin-
cipais subdivisões de agentes estres- aquele cuja mente está
sores nos subtópicos seguintes. firme em ti (Is 26.3).

2.1. Estressores circunstanciais


críticos
São os acontecimentos que envolvem um relativo grau
de ansiedade, tais como: a expectativa do casamento e suas
demandas, o nascimento de um filho, acidentes, perda da
libido, morte de um ente querido, dentre outros.
2.2. Estressores do cotidiano
São os acontecimentos que envolvem eventos rotineiros,
os quais exercem forte pressão sobre as emoções e interfe-
rem no bem-estar do indivíduo, fazendo com que ele se sinta
ameaçado, frustrado ou vitimizado. Por exemplo: aumento de
peso, insatisfação com a aparência, problemas de saúde com
parentes próximos, afazeres domésticos, inflação, corrupção,
perda do emprego e dificuldades financeiras.
2.3. Estressores de longa duração
São as situações que se estendem por períodos demasia-
damente longos e trazem consigo as experiências de sobre-
carga emocional. Como exemplos, citamos: excesso de tra-
balho, desemprego prolongado, divórcio, viuvez, falência,
sedentarismo e tarefas diárias rotineiras.

3. CIRCUNSTÂNCIAS QUE CONDUZEM


AO ESTRESSE
Ninguém se torna estressado acidentalmente. Há situ-
ações facilitadoras de quadros estressantes. Vejamos.
3.1. A falta de prioridades e a falta de planejamento
no uso do tempo
A falta de prioridades (ou a falha na delimitação destas)
abre uma grande porta para a tensão, o nervosismo, a irri-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 21


tação e o estresse. Deste modo, é imperativo estabelecê-las
e encaixá-las no tempo de que dispomos. O tempo, por sua
vez, deve ser interpretado como um bem que precisa ser
utilizado prudentemente, uma vez que os dias vividos não
voltam mais.
3.2. A falta e o excesso de trabalho
Assim como o desemprego pode gerar conflitos, o exces-
so de trabalho também pode causar desequilíbrio e levar
ao estresse. Quando enfrentamos situações dessa natureza,
bem faríamos se adotássemos a
postura do apóstolo Paulo que se
Jesus falou sobre a importância gloriou na tribulação, pois sabia
do planejamento (Lc 14.28,29). que a tribulação produz paciên-
As palavras do Mestre cia; e a paciência, a experiência;
ressaltam que o sucesso na e a experiência, a esperança. E a
esperança não traz confusão (Rm
vida de qualquer pessoa muito 5.3-5).
depende do modo como ela Lembremo-nos de que o mo-
vai organizar-se frente aos mento de crise permite-nos um
desafios do cotidiano, de suas relacionamento mais profundo
metas e alvos estabelecidos e com Deus; além disso, possibili-
planejados (MALAFAIA, Silas. ta-nos vivenciar a realidade de
Central Gospel, 2013, p.162). Suas promessas e ampliar a visão
em relação ao mundo espiritual.

3.3. A alimentação pobre em nutrientes


Sem uma alimentação adequada, o organismo não terá
energia suficiente para o enfrentamento dos desafios. Assim,
alimentar-se bem e ter uma relação equilibrada com os me-
dicamentos é algo de grande importância na prevenção do
estresse.
3.4. A dificuldade no relacionamento interpessoal
As relações familiares agastadas funcionam como uma
mola propulsora de tensão e insegurança (fontes canaliza-
doras de estresse). Assim também, os relacionamentos difí-
ceis no trabalho, na escola ou em qualquer outro espaço, não
raramente, conduzem ao estresse. Para que a pessoa tenha
bons relacionamentos, será necessário que ela resolva seus
recalques e traumas, resultantes da sua experiência de vida.
3.5. Vida espiritual fragmentada ou em rota de colisão
com a vontade de Deus
A falta de comunhão com o Altíssimo, a prática consciente
do pecado ou a falta de arrependimento e confissão são es-
tressores que enfraquecem toda estrutura psíquica do indiví-

22 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


duo, impedindo-o de viver em serenidade, calma e confiança
na providência e no cuidado do Pai celeste (Sl 119.10-16).

4. MEDIDAS PREVENTIVAS CONTRA O ESTRESSE


Há situações — tais como, fazer ou receber ligações fora
de hora, enfrentar o trânsito caótico das grandes cidades ou
administrar prazos de trabalho (muitas vezes inconciliáveis)
— que alteram o equilíbrio do indivíduo e podem descarregar
neurotransmissores predisponentes à agitação.
Essas causas precisam ser identificadas e combatidas opor-
tunamente; contudo a prevenção é sempre o melhor caminho
a ser tomado em qualquer circunstância. Assim, algumas pre-
cauções devem ser adotadas contra o esgotamento. Vejamos
a seguir.
4.1. Aprenda a conhecer-se
Como saber quem realmente somos? Por que fazemos o
que fazemos? Por que somos como somos? A sabedoria bíblica
considera que o conhecer a si mes-
mo é um dos objetivos mais nobres
e dignos a serem perseguidos. O Sá-
Senhor, dai-me força para
bio, em seus dias, anunciou alguns
provérbios e anexins que revelam a mudar o que pode ser
importância do autoconhecimento mudado, resignação para
(Pv 16.32; 27.19; 23.7; Ec 9.13-18). aceitar o que não pode ser
O conhecimento de si próprio é mudado e sabedoria para
uma medida indispensável para evi- distinguir uma coisa da outra
tar ou amenizar os quadros de ten- (Francisco de Assis).
são. Ter a consciência de que deter-
minado fato tira-nos o equilíbrio já é
um bom começo para a superação.
4.2. Procure remover as causas possíveis de serem
removidas
Há situações que podem ser resolvidas no imediato; no en-
tanto, existem aquelas que só podem ser definidas no médio
ou longo prazo e aquelas que, simplesmente, não serão so-
lucionadas. As que não podem ser removidas talvez possam
ser minimizadas; se não puderem, resta apenas aprender a
conviver com elas da maneira menos desgastante possível.
Vejamos alguns conselhos práticos que poderão ser úteis no
enfrentamento do estresse, deflagrado por causas diversas.

4.2.1. Evite o sedentarismo


Entende-se por sedentário o indivíduo que não pratica ati-
vidades físicas regulares. Infelizmente, o sedentarismo, em
quase todo mundo, é um grave problema de saúde pública.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 23


O exercício físico em níveis moderados pode melhorar em
muito a saúde e a sensação de bem-estar. Essa prática reduz
o risco de morte prematura e o risco de morte por doenças
cardiovasculares; além disso, diminui a possibilidade de o indi-
víduo desenvolver diabetes e hipertensão, evita vários tipos de
cânceres e ajuda no controle do peso e dos sentimentos de es-
tresse, ansiedade e depressão.
4.2.2. Organize-se, planeje o seu tempo
Gastar tempo em planejamento é um investimento seguro
na qualidade de vida. Descansar, tirar férias, desfrutar mo-
mentos de lazer com a família pode ser um grande antídoto
contra os estressores da existência.
4.2.3. Não negligencie suas emoções
O fator emocional é de grande importância para o homem,
pois afeta todo o seu ser. Os melhores investimentos na área
emocional são aqueles que contribuem para o desenvolvi-
mento de atitudes de otimismo, confiança e alegria.
4.3. Cuide de sua vida espiritual
Está cientificamente comprovado que as pessoas que têm
fé e cultivam a vida espiritual (por meio da oração e do estudo
bíblico) estão muito mais protegidas de doenças oportunis-
tas, mormente, das de cunho emocional.
Dar prioridade ao Reino de Deus, manter uma rotina de
meditação na Palavra e ter comunhão com o Senhor, confor-
me ensinou o Mestre dos mestres (Mt 6.25-34), é um grande
antídoto contra as perturbações do espírito e traz a paz que
excede todo entendimento (Fp 4.7).

CONCLUSÃO
O estresse é o somatório de repostas físicas, emocionais e
mentais, causadas por determinados estímulos externos. Na
medida certa, ele é um adjuvante necessário à superação de
certas exigências do meio. No entanto, na medida errada, ele
traz severos danos à saúde emocional, mental e física do ser
humano. Suas repercussões destrutivas far-se-ão sentir em
algum tempo da vida.
O melhor e mais recomendável é seguir sempre o exemplo
de Cristo e realmente descansar em Suas promessas.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com a lição de hoje, responda: quais são as reações
mais comuns observadas diante de um agente estressor?
R.: Reações mentais; reações psicológicas e reações físicas.

24 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 4

Aula dada em
DIA MÊS ANO Depressão,
Melancolia da Alma
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 42.1-11
1 - Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha
alma por ti, ó Deus!
2 - A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me
apresentarei ante a face de Deus?
3 - As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, por-
quanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?
4 - Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma (...).
5 - Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim?
Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença.
6 - Ó meu Deus, dentro de mim a minha alma está abatida (...).
7 - Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as
tuas ondas e vagas têm passado sobre mim.
8 - Contudo, o Senhor mandará de dia a sua misericórdia, e de noite a sua
canção estará comigo: a oração ao Deus da minha vida.
9 - Direi a Deus, a minha Rocha: Por que te esqueceste de mim? Por que
ando angustiado por causa da opressão do inimigo?
10 - Como com ferida mortal em meus ossos, me afrontam os meus adversá-
rios, quando todo o dia me dizem: Onde está o teu Deus?
11 - Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de
mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha
face e o meu Deus.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 25


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Aquele que habita no
esconderijo do Altíssimo, 2ª feira – Jó 3.11,13,20,21-26; 9.21
Desprezo a minha vida
à sombra do Onipotente
descansará. 3ª feira – Números 11.10-15
Mata-me, eu lhe peço
Salmo 91.1
4ª feira – Salmo 88.1-5
A minha alma está cheia de angústias
5ª feira – 1 Reis 19.1-4; Jonas 4.1-3
Toma agora a minha vida
6ª feira – Jeremias 20.14-18
Por que não me matou desde a madre?
Sábado – Mateus 26.37,38
A minha alma está cheia de tristeza

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
conhecer os sintomas e os tipos mais comuns de depres-
são;
compreender que a depressão é uma doença multifato-
rial e, a partir desse entendimento, conhecer suas possíveis
causas;
identificar o modo adequado de lidar com a depressão.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Por que, no mundo de hoje, com tanta tecnologia e avan-
ços científicos, uma doença como a depressão vem ganhan-
do espaço a ponto de ultrapassar as estatísticas do câncer e
doenças cardiovasculares? Por que já se fala em depressão
global? Por que em nações com as maiores rendas per capita
e os maiores índices de desenvolvimento humano, como a No-
ruega, a Dinamarca e a Suécia, há as mais altas incidências de
suicídio? Por que pessoas que têm suas necessidades fisiológi-
cas e psicológicas supridas costumam ser tão infelizes?
Porque, embora os cientistas do comportamento humano
não queiram dar o braço a torcer, o homem não é só matéria
e mente. É um ser espiritual e tem necessidades espirituais,
as quais não podem ser supridas por bens materiais. Só Deus
pode preencher o vazio que sentimos pela perda da comu-
nhão como Ele após a Queda (MALAFAIA, Silas. Central Gospel,
2013, p. 353).
Boa aula!

26 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O Salmo 42 apresenta o lamento de alguém que, por algum
motivo, distanciou-se da companhia amorosa do Altíssimo. A
leitura atenta do texto faz-nos concluir que esse afastamento
do Senhor levou o salmista ao extremo da tristeza, a ponto de
ele fazer de suas lágrimas seu alimento diário.
Sem uma explicação clara para sua tristeza, o autor des-
ses versos é mergulhado em um quadro claro de profunda
depressão.

1. DEPRESSÃO, MELANCOLIA DA ALMA


O número de pessoas que
sofre de depressão nos dias atuais
é alarmante. Estatísticas revelam Depressão é uma doença
que 20% da população mundial, psicossomática, que atinge
não importando os aspectos de or-
a mente, a alma, o coração,
dem econômica, social ou cultural,
sofrem com os sintomas dos males e, depois, fere o corpo.
depressivos. É tristeza da alma. É
De acordo com a Organização abatimento profundo.
Mundial da Saúde (OMS), esse nú-
mero aumentará 1% ao ano, em
média, e a previsão é que em muito
pouco tempo a depressão torne-se o principal problema de
saúde do ser humano em qualquer parte do globo terrestre.
Pode-se definir a depressão como melancolia da alma ou
tristeza da alma. Os portadores desse mal, assim como o au-
tor do Salmo 42, são tomados por profunda consternação,
abatimento e por um verdadeiro desencantamento pela vida,
que os levam à perda do valor próprio, ao desânimo e à de-
sesperança.
1.1. Sintomas da depressão
Em geral, os quadros depressivos podem ser detectados
pelos sinais que a pessoa manifesta em seus relacionamentos
cotidianos. Dependendo de cada situação, esses sinais podem
apresentar-se como: estado de melancolia e tristeza profun-
da; visão negativa e fatalista da vida; desejo de morte; perda
da esperança; baixa autoestima; insegurança; desconfiança
em relação às outras pessoas; fortes traços de ansiedade;
apatia; aflição; isolamento; solidão; desencantamento; desis-
tência e perda do controle emocional (caracterizada por in-
tensos sintomas físicos e por reações intercaladas de alegria
e choro compulsivo).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 27


1.2. Tipos de depressão
Há dois tipos mais conhecidos de depressão:
reativa (psicológica) — sendo psicológica, a abordagem
deve ser terapêutica. Neste caso, a ajuda de psicólogos,
psicanalistas e conselheiros é de grande utilidade;
estrutural ou orgânica (endógena) — sendo estrutural e
orgânica, a abordagem deve ser feita por meio de me-
dicamentos. Neste caso, a pessoa depressiva deve ser
encaminhada aos médicos da área da Psiquiatria ou da
Neurologia. Entretanto, a ação medicamentosa deve ser
combinada com o trabalho terapêutico, que é essencial à
cura definitiva.

2. CAUSAS DA DEPRESSÃO
Sabe-se, atualmente, que a depressão é uma doença
multifatorial, isto é, há várias causas envolvidas em seu sur-
gimento. Vejamos algumas delas nos subtópicos seguintes.

2.1. Transtornos e desequilíbrios na produção de


neurotransmissores
A serotonina, a dopamina e a noradrenalina são neuro-
transmissores responsáveis pelas sensações de bem-estar. A
serotonina é uma substância sedativa e calmante, conhecida
como elemento mágico, que melhora o estado de humor —
principalmente de pessoas com tendência à melancolia e tris-
teza —; além disso, age de forma polivalente regulando o trân-
sito intestinal, controlando a ansiedade e o ritmo do sono. A
dopamina e a noradrenalina, por sua vez, proporcionam ener-
gia e disposição ao corpo para a execução das tarefas diárias.
Emoções que fazem parte da nossa vida, como inseguran-
ça, medo e ansiedade, afetam a produção desses neurotrans-
missores e conduzem, sutilmente, ao desequilíbrio bioquímico
do sistema nervoso central, criando, assim, o cenário perfeito
para a instalação dos casos de transtornos da personalidade.

2.2. Causas diversas


De cunho psicológico — O medo infundado, a ansiedade
exagerada e a insegurança causam o adoecimento das
emoções, o que pode deflagrar
quadros depressivos.
De fundo mental — A falta de
Lançando sobre Ele toda a organização e controle mental
vossa ansiedade, porque do indivíduo pode conduzi-lo às
ele tem cuidado de vós emoções destrutivas, afetando
(1 Pe 4.7). assim a sua vida como um todo,
inclusive trazendo sérios riscos a
sua saúde física e emocional.

28 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Relacionadas às circunstâncias de vida — Como exemplos,
citamos: a falta de uma boa alimentação; o sedentarismo; os
relacionamentos desgastados ou rompidos; a perda da auto-
estima; o divórcio; a morte de um ente querido; as insatisfa-
ções e as perdas gerais da vida
(Sl 62.8).
Existenciais — Sentimentos cau- Quanto ao mais, irmãos,
sados pela impotência diante de tudo que é verdadeiro, tudo
uma situação ou diante de algo que é honesto, tudo que é
muito desagradável. A falta de justo, tudo que é puro, tudo
sentido para a vida, a falta de di-
reção, o senso de vazio existen-
que é amável, tudo que é
cial. de boa fama, se há alguma
Espirituais — A queda no Éden virtude, e se há algum
não afetou apenas o primeiro ca- louvor, nisso pensai (Fp 4.8).
sal (Gn 3.9-18). Todo homem traz
consigo a semente do mal, plan-
tada no jardim de Deus. Há também os pecados cometidos
pela pessoa, que levam à tristeza e à depressão. Vale ressaltar
que o acolhimento de mágoas no coração, a raiz de amargu-
ra, a falta de perdão e a ênfase nos frutos da carne podem
ser o passaporte para os quadros profundos de tristeza, de-
sânimo e abatimento (Hb 12.14,15; Gl 5.16-21).

2.3. Casos de depressão na vida de grandes


personagens bíblicos
Qualquer pessoa está sujeita a enfrentar a depressão em
algum momento da vida. Mesmo pessoas boas podem sucum-
bir diante do poder da tristeza e da fraqueza da fé.
Alguns grandes homens de Deus, apresentados nas Escri-
turas Sagradas, tiveram de lidar com esse sentimento que
tantos prejuízos traz à saúde e à vida das pessoas como um
todo. Entre eles destacam-se:
Jó — Vitimado por uma dor que estava além de suas pos-
sibilidades humanas, Jó viu a morte como um tesouro e a
única esperança para obter alívio para as suas emoções
em tormento (Jó 3.11,13,20,21-26; 9.21).
Moisés — Entre outros relatos contidos no Pentateuco, des-
tacamos o de Números 11.10-15. Sentindo-se esmagado
pelo peso da condução de Israel à Terra Prometida, Moi-
sés, após questionar ao Senhor, sentiu-se profundamente
triste e instou com Jeová que lhe tirasse a vida, pois não
queria ser testemunha ocular de sua própria miséria.
Josué — O filho de Num ficou profundamente deprimido
em decorrência da morte de Moisés e das implicações
deste fato: ele teria sobre os seus ombros a responsabi-
lidade de conduzir o povo à Terra Prometida (Js 1.1-9).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 29


Davi — No Salmo 88.3, o filho de Jessé revelou todo o sofri-
mento pessoal de uma alma em profundo estado de angústia.
Elias — Após grande demonstração de fé na vitória sobre
os profetas de Baal (1 Rs 18), Elias sentiu-se totalmente
esgotado pelas ameaças e perseguições de Jezabel, incita-
da contra ele por seu marido, o rei Acabe (1 Rs 19.1-4). Em
total demonstração de desânimo, o profeta pediu a Deus a
sua própria morte (v. 4).
Jeremias — O profeta das lágrimas, perseguido e tortura-
do pelos representantes da religião e pelas autoridades
políticas de Judá, manifestou todo o seu tormento quando
marcou o dia do seu nascimento como um dia infame e
maldito (Jr 20.14-18).
Jonas — O profeta desobediente e fugidiço, irado com o ar-
rependimento dos ninivitas, pediu ao Senhor para tirar-lhe
a vida, pois não conseguia conceber o fato de que houves-
se em Deus graça suficiente para alcançar tanto os seus
conterrâneos quanto os gentios (Jn 4.1-3).
Paulo — O apóstolo abortivo, sem que saibamos exatamen-
te o que lhe causou tamanho abalo (seja algum tumulto,
cilada armada por algum inimigo ou mesmo uma enfer-
midade mortal), revelou aos irmãos da igreja em Corinto
que sofrera tribulações acima das suas forças a ponto de
desesperar-se da própria existência (2 Co 1.8,9).
Jesus — No Jardim das Oliveiras, o nosso Mestre, acompanha-
do de Pedro e dos dois filhos de Zebedeu, sentiu-se triste e
angustiou-se até a morte. Sua alma foi tomada de agonia e
dor no mais elevado grau. Este acontecimento corrobora a
humanidade de Cristo e o fato de que ninguém está isento de
sofrer as aflições deletérias da depressão (Mt 26.36-38).

3. COMO LIDAR COM A DEPRESSÃO?


Em primeiro lugar, é preciso reportar-se à origem do
mal, uma vez que de nada adiantará o alívio dos sintomas sem
a devida interação com suas respectivas causas.
Uma pessoa deprimida é alguém doente que precisa ser
acolhida. Uma excelente forma de ajuda pode ser o encami-
nhamento dela para um especialista, que está preparado para
esse tipo de situação. O trabalho terapêutico a auxiliará na
compreensão da origem do seu distúrbio.
A abordagem bíblica, que penetre a esfera emocional e es-
piritual do indivíduo, também é muito importante no diagnósti-
co e na cura deste mal. A combinação de psicoterapias, psico-
fármacos (quando indicados por um especialista), reeducação
alimentar, prática de atividades físicas e abordagens bíblico-
-pastorais podem trazer grandes benefícios ao indivíduo.

30 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Além do que foi exposto anteriormente, seguem algumas
ações eficazes no combate à depressão:

3.1. Valorização da qualidade de vida


Desenvolver a confiança, a alegria e uma perspectiva oti-
mista sobre a própria existência fortalece significativamente
a estrutura emocional da pessoa e torna o seu sistema imuno-
lógico mais resistente.
Além disso, é de grande importância uma mudança radi-
cal nos hábitos diários no que tange à prática de atividades
físicas e de recreação, bem como o uso de alimentação rica e
balanceada. Neste caso, uma visita ao nutricionista pode ser
de grande valia.

3.2. Avançar para além dos limites do diagnóstico


Significa vencer o ciclo de estabilidade–recaída; não de-
sanimar; conhecer pessoas que superaram casos graves de
depressão; trocar informações sobre novas pesquisas e bus-
car ferramentas para despertar o entusiasmo e a vontade de
viver bem.

3.3. Desenvolver a disciplina da consagração pessoal


ao Senhor
A comunhão com Deus (por meio da oração e do estudo de
Sua Palavra) é uma das armas mais eficazes na desconstru-
ção de sentimentos destrutivos que podem encastelar-se na
alma humana (Ef 6.12,13).
No Salmo 62.5,6, percebemos que Davi trilhou seu próprio
caminho de libertação; ele compreendia que o homem cheio
do Espírito de Deus, mesmo não estando imune aos males da
alma, sempre estaria protegido.

CONCLUSÃO
O cristão corre os mesmos riscos de qualquer outro ser hu-
mano; no entanto, aquele que deposita em Deus o seu destino
terá a fé necessária para viver de maneira confiante. Mesmo
diante das inúmeras ameaças, resultantes do simples fato de
existir, o filho de Deus permanecerá inabalavelmente firme e
confiante (Sl 62.7,8).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com a lição de hoje, quais são os tipos de de-
pressão mais conhecidos?
R.: Depressão reativa (psicológica) e depressão estrutural ou
orgânica (endógena).

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 31


Lição 5

Aula dada em
DIA MÊS ANO Angústia,
o Gemido Silente
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 107.1-15
1 - Louvai ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para
sempre.
2 - Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo
3 - e os que congregou das terras do Oriente e do Ocidente, do Norte e
do Sul.
4 - Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acha-
ram cidade que habitassem.
5 - Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia.
6 - E clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas ne-
cessidades.
7 - E os levou por caminho direito, para irem à cidade que deviam habitar.
8 - Louvem ao Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com
os filhos dos homens!
9 - Pois fartou a alma sedenta e encheu de bens a alma faminta,
10 - tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em afli-
ção e em ferro.
11 - Como se rebelaram contra as palavras de Deus e desprezaram o conse-
lho do Altíssimo,
12 - eis que lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve
quem os ajudasse.
13 - Então, clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas
necessidades.
14 - Tirou-os das trevas e sombra da morte e quebrou as suas prisões.
15 - Louvem ao Senhor pela sua bondade e pelas suas maravilhas para com
os filhos dos homens!

32 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
Muitas são as aflições do O ESTUDO DIÁRIO
justo, mas o Senhor o livra 2ª feira – Salmo 138
de todas. No meio da angústia, tu me revivificarás
3ª feira – Salmo 118.1-5
Salmo 34.19 Deus ouve-nos no dia da angústia
4ª feira – Salmo 4
Na angústia me deste largueza
5ª feira – Romanos 8.22-35
Quem nos separará do amor de Cristo?
6ª feira – João 16.19-33
Tende bom ânimo; eu venci o mundo
Sábado – Tiago 5.7-13
Está alguém entre vós aflito? Ore.

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
reconhecer que a angústia é uma decorrência natural do
ato de existir;
identificar as principais causas da angústia;
entender como alguns personagens bíblicos enfrentaram
a tempestade da aflição;
saber o que é necessário fazer para atravessar a dor da
angústia.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Paulo, ao escrever aos romanos, em outras palavras, disse
que, desde a Queda, existir é experimentar um permanente
estado de angústia — gememos em nós mesmos (Rm 8.23).
Portanto, a realidade da angústia não nos deve impressio-
nar, tampouco deve aprisionar nossa consciência, pois não há
meios de extinguir tal emoção. O que podemos (e devemos)
fazer é, sem neurotizações, identificar sua origem: são orgâ-
nicas, psíquicas ou espirituais? Quando pudermos chamá-las
pelo nome, estaremos aptos a vivê-las sem somatizações.
É importante, também, entender que não se deve subtrair
o caráter necessário da angústia, pois ela nos convida a son-
dar nosso mundo interior.
O que a nós, cristãos, importa é saber que, no dia da an-
gústia, o Senhor nos livrará (Sl 81.7a; 50.15), basta colocar as
saudades e os gemidos inominados que nos afligem diante do
Senhor, para que Ele faça cumprir a Sua vontade em nós (Lc
22.42-44).
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 33


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O texto do Salmo 107 expressa a bondade de Deus em
relação às mais diversas situações em que os remidos po-
dem encontrar-se. A bondade e a misericórdia do Altíssimo
podem alcançar o homem esteja ele onde estiver: nos cárce-
res da vida, no leito de enfermidade ou em qualquer outra
circunstância que o faça sentir-se oprimido, profundamente
inquieto ou em agonia.
Esses termos (opressão, inquietude e agonia), inclusive, de-
finem bem os sentimentos de angústia encastelados na mente
do escritor desse cântico, que descreve a situação de apertura
na qual o povo de Israel, não raramente, estava inserido.

1. CRISE, UM AGENTE PROPULSOR DE


ANGÚSTIAS
A vida humana pode ser caracterizada pelos estágios
de crise que o indivíduo precisa atravessar. Vejamos.
Crise de desenvolvimento — ocorre em tempos previstos, à
medida que a pessoa passa pelas etapas da vida, a saber: da
infância (em suas várias divisões) à adolescência; da adoles-
cência à maturidade e desta ao envelhecimento e à morte.
Como podemos resolver esse tipo de crise? Ajustando-nos
aos novos momentos e resolvendo as situações das fases an-
teriores para que estas não sejam projetadas nas seguintes.
Crises acidentais ou situacionais — são as que acontecem
repentinamente; por isso, golpeiam com maior intensida-
de. Podem ser deflagradas pela fragmentação da família,
pelo divórcio, pela perda de um ente querido, de um cônju-
ge ou de um filho. Podem ainda ser causadas pela perda do
emprego ou, em alguns casos, pela falência.
Crises existenciais — são os conflitos filosóficos, que im-
pulsionam o homem à busca de sua própria identidade. Po-
dem ser observadas nas perguntas: Quem sou? Que estou
fazendo aqui? Para onde irei?

1.1. Definição do termo angústia


O sentimento de angústia é inerente ao ser humano. Não
importando as condicionantes de ordem psicossocial — ou
seja, se é rico ou pobre, homem ou mulher, letrado ou iletrado,
negro ou branco, jovem ou idoso —, as aflições fazem parte da
condição humana de maneira inseparável.
Nenhum ser racional está isento de sentir-se angustiado,
simplesmente porque ninguém está isento de enfrentar es-
ses tipos de crises, e porque a vida humana transcorre em um
meio comprometido com o mal, resultante da Queda, que se
materializa nas mais variadas formas de pecado (Gl 5.19-21).

34 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Sentir-se angustiado, portanto, é sinônimo de inquietude,
apertura, agonia, martírio, tortura ou profunda opressão no
coração; e tudo isso resulta do fato de se estar vivo.
1.2. Causas da angústia
1.2.1. Psicológicas
Em alguns casos, a angústia pode estar ligada a questões
familiares, oriundas de complexos e traumas vividos nos am-
bientes familiares, nos quais a percepção que a pessoa tem
dos fatos está distorcida.
1.2.2. Circunstanciais ou objetivas
O sentimento de angústia também pode decorrer de
situações reais de perigo ou opressão pelas quais todos
passam. Os profetas e os apóstolos foram pessoas muito
experientes na arte de enfrentar adversidades e inúmeras
perseguições.
1.2.3. Subjetivas
Às vezes, o sentimento de aflição pode ser uma consequên-
cia da prática de pecados pessoais. O salmista falou sobre os
que se rebelaram contra a Palavra de Deus e desprezaram
o conselho do Altíssimo. Ele disse que, por causa de seus
caminhos de transgressão e por causa das suas iniquidades,
eles são afligidos. Seus corações ficaram abatidos, tropeça-
ram sem que ninguém os pudesse ajudar (Sl 107.11,12,17).
Neste caso, o errante sente-se esmagado pela consciência
de ter violado a lei de Deus e pelo fato de sua comunhão com
o Senhor ter sido interrompida. Esse tipo de sentimento só
pode ser resolvido pelo arrependimento, confissão e aban-
dono da prática do mal (1 Jo 1.8,9).

2. PERSONALIDADES BÍBLICAS E A ANGÚSTIA


Como expresso anteriormente, o sentimento de angús-
tia a ninguém excetua. Mesmo as pessoas mais piedosas e
consagradas a Deus enfrentaram a tempestade da aflição em
vários momentos da vida, e das mais diferentes formas.
2.1. A experiência de José
O que dizer de José, que foi vendido por seus próprios ir-
mãos? O filho de Jacó enfrentou a angústia e o sofrimento
diante de um cenário hostil e totalmente desconhecido (Gn
37.27,28). Porém, o Senhor deu-lhe uma grande vitória mu-
dando o seu futuro: de escravo vendido a governador do Egito.
2.2. A experiência do salmista
O escritor do Salmo 107 tinha em mente a misericórdia
de Deus, que se aplica ao homem que vivencia o estado de

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 35


angústia. Ele entendia que, mesmo
diante de muitos perigos, encarce-
Jó disse: Por isso não rado ou navegando nas águas da
reprimirei a minha boca, solidão e da dor, o Eterno poderia
falarei na angústia do meu livrá-lo. Se ele clamasse, o Altíssimo
espírito, queixar-me-ei na o livraria; só o Senhor poderia levá-
amargura da minha alma -lo ao caminho direito (Sl 107.7,9).
(Jó 7.11). Entretanto, Deus 2.3. A experiência de Paulo
concedeu-lhe convicção
na medida certa para que O apóstolo aos gentios passou
exclamasse: Porque eu sei por muitas tribulações. Suas experi-
ências com a dor e as angústias co-
que o meu redentor vive,
tidianas foram o preparo necessário
e que por fim se levantará
para ele dizer o que está registrado
sobre a terra em Romanos 12.12: alegrai-vos na
(Jó 19.25). esperança, sede pacientes na tribu-
lação, perseverai na oração.

Em 2 Coríntios 4.8,9, Paulo diz que em tudo somos atribula-


dos, mas não angustiados. O verbo grego utilizado para an-
gustiados, nesse verso, é stenochoreo, que significa afligir,
oprimir, restringir, pressionar, esmagar. A ideia que ele pas-
sa aqui é a de alguém que está em uma situação de severo
aperto, de onde não há como escapar — como um animal
caçado. Porém, em uma série de quatro contrastes, ele de-
clara as grandes vitórias que obteve em Cristo: Em tudo
somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas
não desanimados; perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos.
Em 2 Coríntios 12.7-10, angus-
tiado por um espinho na carne, o
O fato de Paulo ter passado apóstolo abortivo suplicou a Deus
por tantas privações e lutas por três vezes que o livrasse da-
cooperou para que a vida quele incômodo; no entanto, con-
eterna fosse experimentada trariamente, o Senhor respondeu: a
por aqueles a quem ele minha graça te basta, pois, o meu
pregava o evangelho. Da poder aperfeiçoa-se na fraqueza.
mesma forma que a morte de Diante desta resposta, resignado
Cristo foi apenas um precursor e obediente, ele deixou-nos uma
pérola de grande valor, ao afirmar:
de Sua ressurreição para a
Pelo que sinto prazer nas fraque-
vida eterna (RADMACHER;
zas, nas injúrias, nas necessidades,
ALLEN; HOUSE. Central nas perseguições, nas angústias,
Gospel, 2010b, p.460). por amor de Cristo. Porque, quando
sou fraco, então, sou forte.

36 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


2.4. A vida do Senhor Jesus Cristo
Nem mesmo Jesus, o Senhor da vida, ficou isento de sentir-
-se angustiado. Em Lucas 22.39-46, no jardim do Getsêmani,
lemos que o Mestre levou consigo os Seus discípulos. Quando
chegou àquele lugar, convocou-os à oração e, pondo-se de joe-
lhos, orou a respeito da Sua morte.
A angústia de Jesus era tamanha, que Seu suor transfor-
mou-se em grandes gotas de sangue que corriam até o chão
(Lc 22.44). Este fato revelou a humanidade de Cristo, Deus e
homem simultaneamente na mesma pessoa, e a intensa dor
de Sua alma.

3. COMO VENCER EM TEMPOS DE ANGÚSTIA


Como expresso até aqui, a an-
gústia é um sentimento que acompa- Em alguns momentos, Deus
nha o homem em todos os momentos
não elimina nossas aflições
de sua vida, ou seja, desde o seu nas-
cimento até a morte. Ela é inescapável enquanto oramos, mas
ao ente humano. Toda tentativa de fortalece-nos diante delas
ignorá-la resultará em total desperdício para que as superemos.
de energia e ilusão. Entretanto, com Jesus disse aos Seus
procedimentos corretos, é possível mi- discípulos: no mundo tereis
nimizá-la e até derrotá-la em situações aflições, mas tende bom
pontuais da existência. ânimo; eu venci
No texto-base desta lição (Sl 107), o mundo (Jo 16.33).
o salmista diz que, para vencer a dor
da angústia, será preciso:
3.1. Redescobrir e celebrar a benignidade de Deus
(Sl 107.1-3)
O principal objetivo desses versos é revelar que a bondade
de Deus impulsiona-nos à recuperação; além disso, conduz ao
triunfo todos aqueles que, diante das adversidades orquestra-
das pelo inimigo, clamam pela intervenção divina.
3.2. Reafirmar que Deus atende às necessidades dos
que peregrinam pelos desertos (Sl 107.4-9)
Esse conjunto de versos fala especificamente sobre as ex-
periências históricas da nação de Israel no deserto do Sinai.
Contudo, pode falar também aos que sofrem no deserto da
aflição e que, por isso, encontram-se dispersos ou longe da
misericórdia de Jeová.
3.3. Estar ciente de que Deus socorre quem está no
exílio ou em prisões (Sl 107.10-16)
Aquele que tem experiência pessoal com Deus sabe clamar
a Ele nos momentos aflitivos, mesmo quando esses momentos

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 37


são consequências de suas próprias fraquezas, limitações e
erros. A misericórdia de Deus demonstra-se em Seus atos de
salvação, graça e livramento.
3.4. Declarar que Deus salva até mesmo o insensato
(Sl 107.17-22)
Aqueles que, por decisão pessoal, tomaram caminhos que
os distanciaram da verdade, quando clamarem de todo cora-
ção, serão salvos.
3.5. Reconhecer que Deus livra os que são
surpreendidos por tempestades (Sl 107.23-32)
Aqueles que estão vivendo nos oceanos da angústia en-
frentarão a força monumental de suas ondas que, muitas ve-
zes, fogem ao controle. No entanto, se não podem fazer muita
coisa, podem declarar que Deus salva; além disso, podem cla-
mar pela ajuda do Senhor do céu, da terra e dos mares.
3.6. Crer que há provisões de Deus para os que se
encontram em terra seca (Sl 107.33-38)
A falta de vida nas terras secas da angústia pode ter o seu
fim na fé em Deus, que converte os desertos em lagos e a
terra seca em nascentes, e ali faz habitar os famintos. Quan-
do o Seu povo clama por ajuda, o Senhor o livra e restitui a
fertilidade da sua alma.

CONCLUSÃO
No mundo atual, os remidos vivem sob as mesmas amea-
ças, os mesmos desafios e os mesmos perigos que os demais
homens. É possível que muitos passem por perseguições, tri-
bulações e adversidades que excedem ao seu potencial de
condução e administração. E isso tudo pode desencadear es-
tados aflitivos.
Atendamos, pois, ao convite de Jesus: Vinde a mim, todos
que estais cansados e oprimidos, e eu os aliviarei. Tomai so-
bre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e hu-
milde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma
(Mt 11.28,29).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. A vida humana pode ser caracterizada pelos estágios de
crise que o indivíduo precisa atravessar. Quais são as prin-
cipais crises vivenciadas pelos homens, de acordo com a
lição de hoje?
R.: Crise de desenvolvimento; crises acidentais ou situacionais
e crises existenciais.

38 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 6

Aula dada em
DIA MÊS ANO
Autoestima,
um Ajuste no Foco
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Juízes 6.11-16
11 - Então, o Anjo do Senhor veio e assentou-se debaixo do carvalho que
está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava
malhando o trigo no lagar, para o salvar dos midianitas.
12 - Então, o Anjo do Senhor lhe apareceu e lhe disse: O Senhor é contigo,
varão valoroso.
13 - Mas Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por
que tudo isto nos sobreveio? E que é feito de todas as suas maravilhas
que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do
Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos deu na mão dos
midianitas.
14 - Então, o Senhor olhou para ele e disse: Vai nesta tua força e livrarás a
Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu?
15 - E ele lhe disse: Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel? Eis que a minha
família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor na casa de meu pai.
16 - E o Senhor lhe disse: Porquanto eu hei de ser contigo, tu ferirás os mi-
dianitas como se fossem um só homem.
Juízes 13.4,5
4 - Agora, pois, guarda-te de que bebas vinho ou bebida forte, nem comas
coisa imunda.
5 - Porque eis que tu conceberás e terás um filho sobre cuja cabeça não
passará navalha; porquanto o menino será nazireu de Deus desde o ven-
tre e ele começará a livrar a Israel da mão dos filisteus.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 39


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Ninguém tenha de si
mesmo um conceito mais 2ª feira – Gênesis 3.1-13
A gênese do “eu”
elevado do que deve
ter; mas, pelo contrário, 3ª feira – Ezequiel 28.1-19
Lamentação sobre o rei de Tiro
tenha um conceito
4ª feira – Mateus 16.24-28
equilibrado (...).
Renuncie-se a si mesmo
Romanos 12.3a (NVI) 5ª feira – 1 Samuel 16.6-13
O Senhor não vê como vê o homem
6ª feira – 1 Coríntios 4.1-7
Que tens tu que não tenhas recebido?
Sábado – Marcos 12.28-31
O primeiro de todos os mandamentos

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
saber em que consiste o movimento da autoestima e o que
dizem seus críticos hoje;
entender de que forma o movimento da autoestima in-
fluenciou a teologia cristã;
responder, a partir da experiência de dois juízes bíblicos, à
seguinte questão: qual o posicionamento cristão adequado,
subjugar o ego ou fortalecê-lo?

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Sugerimos que, no início da lição, sejam definidos os ter-
mos autoimagem, autoconceito e autoestima, pois os citare-
mos várias vezes no decorrer da lição. Se possível, escreva-os
em um quadro, a fim de que a turma recorra a eles, sempre
que necessário.
1. Secularmente, compreende-se que a base da estruturação
psíquica de qualquer indivíduo seja a autoimagem, que se
forma a partir das interações afetivas. Esse processo tem
início quando o bebê entende que possui um corpo desvin-
culado do de sua genitora.
2. Da autoimagem nasce o autoconceito. Significa dizer que,
quanto mais saudável for a relação da criança com sua mãe
— ou desta com seu cuidador —, mais positivo será o julga-
mento que ela fará de si mesma.
3. A autoestima está diretamente relacionada ao modo como
o indivíduo concebeu sua imagem e (a partir dessa ima-

40 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


gem) qual conceito formou de si. Em outras palavras: para
ser satisfatória, a autoestima dependeria da qualidade de
ambos (autoimagem e autoconceito). Por isso, diz-se que a
autoestima pode ser tanto alta quanto baixa, tanto positiva
quanto negativa.
Boa aula!

COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O fato de sermos quem somos faz-nos plenos e felizes? Já
desejamos ser diferentes do que somos hoje — ou até mesmo,
se possível fosse, acordar sendo outra pessoa? As respostas a
essas perguntas talvez possam revelar o modo como temos
nos relacionado com Deus e com o nosso próximo.
Autoestima, autoimagem e autoconceito são termos comu-
mente utilizados nos centros de saúde da psiquê para fazer
referência à avaliação que o indivíduo faz (e mantém) de si.
Vale destacar que, em maior ou menor intensidade, o senso
de valorização pessoal determinará o estilo de vida de todo
ser humano, como já advertia o Sábio: Porque, como [o ho-
mem] imaginou no seu coração, assim é ele (Pv 23.7 – ACF).

1. O CONCEITO BÍBLICO DE AUTOIMAGEM


Josh McDowell, escritor e apologista cristão, disse que
ver a nós mesmos como Deus nos vê, nem mais nem menos, é
a base para a edificação de uma autoimagem saudável.
Em outras palavras, significa dizer que só seremos psiqui-
camente saudáveis no dia em que pudermos nos enxergar sob
a ótica divina, ou seja, no dia em que entendermos o que de
fato a Palavra diz a nosso respeito.

1.1. Lúcifer e o desejo de autossuficiência


Em Ezequiel 28.1-19, encontramos uma profecia contra
Tiro, o rei que acreditava ser um deus (Ez 28.2). Sua ruína
é descrita em termos que remontam a queda de Satanás (1
Tm 3.6).
O que nos chama a atenção nesse texto é o que se diz a
respeito de Lúcifer. O anjo de luz corrompeu sua sabedoria
por causa do seu resplendor; por isso, Deus o atirou à terra
(Ez 28.17). E o que fez Lúcifer na terra? Encheu o coração hu-
mano com aquilo que havia em seu próprio coração: o desejo
de ser Deus, o desejo de ser autossuficiente.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 41


1.2. A gênese do “eu”
O primeiro casal tinha consciência de Deus e da Criação,
mas não de que ambos eram seres independentes. A primeira
fala registrada de Adão, inclusive, parece evidenciar que ele
não se via como um ser distinto de Eva: Esta é agora osso dos
meus ossos e carne da minha carne (Gn 2.23).
Antes da Queda, o self (si mes-
mo) não era um inimigo a ser ven-
cido. Porém, quando Adão e Eva
A santidade do Altíssimo é, comeram do fruto proibido, rom-
por assim dizer, a síntese pendo assim, voluntariamente, o
de todos os Seus atributos. elo que os unia ao Criador, o ego
pecaminoso nasceu: homem e mu-
Foi a natureza imaculada do
lher perceberam-se nus (concebe-
Criador que levou Adão a se ram uma autoimagem individual;
esconder, pois ele — como conf. Gn 3.7) e sentiram a necessi-
se estivesse diante de um dade de justificar-se (Gn 3.12,13).
espelho — viu-se despido, ou Naquele instante, a fala de Adão
modificou-se radicalmente: o osso
seja, desprovido da santidade de seus ossos passou a ser (distinta-
que o unia ao Divino. mente) a mulher que Deus lhe dera
por companheira (Gn 3.12); e Eva
transferiu a responsabilidade de seu
ato para a serpente (Gn 3.13).
Ao contrário do que se costuma supor, a árvore do conhe-
cimento do bem e do mal (uma representação do livre-arbítrio
humano) não está plantada apenas nas páginas do Gênesis,
ela está fincada na consciência de todos os descendentes de
Adão, e seus frutos continuam à mostra, prontos a serem to-
mados (ou não).
Assim como no jardim de Deus a serpente induziu Eva à
desobediência, hoje, a todo instante, Satanás incita-nos a fa-
zer o mesmo, com o agravante de que nosso ego pecaminoso
— a herança edênica de toda humanidade — induz-nos mais
fortemente às mesmas sugestões do Maligno. Assim, através
das eras, do berço ao túmulo, continuamos procurando meios
de ajustar nossa autoimagem.

2. CONTRAPONTO ENTRE A PROPOSTA


SECULAR E A MENSAGEM CRISTÃ
Nos dias atuais, nessa tentativa de ajuste da autoima-
gem, profissionais da área da psiquê humana têm posto o foco
no que costumam chamar de fortalecimento do ego. E, com
muita frequência, deparamo-nos com pacientes e terapeutas
perdidos em muitas teorias e conceitos antibíblicos.
Mas, afinal, como surgiu a ideia de que precisamos fortale-
cer o ego? Até onde essa proposta é positiva? Vejamos a seguir.

42 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


2.1. O movimento da autoestima
Alguns estudiosos — como William James [(1842—1910),
um dos fundadores da psicologia moderna] e Carl Rogers
[(1902—1987), psicólogo estadunidense], dentre outros — de-
senvolveram teorias da personalidade na tentativa de mape-
ar os traços que definem o ente humano. Seus seguidores, a
partir das vastas pesquisas realizadas por tais teóricos, po-
pularizaram o que se convencionou chamar de movimento da
autoestima.
Esse movimento — iniciado na década de 1970 — apre-
goa que a autoestima é uma necessidade humana e que, por
ser assim, se não for atendida convenientemente, poderá de-
flagrar transtornos depressivos, ansiedade e dificuldades de
relacionamento. Esta foi uma defesa radical para a época, pois
educadores e pais, até então, não se preocupavam em estimu-
lar a autoestima das crianças, por temerem mimá-las.

2.2. A influência do movimento da autoestima na


teologia cristã
Os cristãos, de modo geral, consideravam a sobrevalori-
zação pessoal uma atitude pecaminosa — desenvolver teorias
capazes de atender às demandas do ego parecia uma ideia ab-
surda há décadas atrás. Contudo, se existe, hoje, algo que o
mundo e a Igreja partilham é a defesa da autoestima. Ape-
sar de muitos cristãos discordarem de algumas prerrogativas
dessa ideia — como a autoaceitação incondicional e o culto ao
eu, por exemplo —, outros irmãos têm unido esforços no sen-
tido de combater aquilo que consideram um inimigo comum:
a baixa autoestima, que se manifesta de diversas formas
(exemplos: depressão, ansiedade, inveja, medo, comodismo,
perfeccionismo, sentimento de inferioridade, insegurança,
murmuração etc.).

2.3. O que dizem os críticos do movimento da


autoestima hoje?
Estimular a autoestima faria com que esses sintomas dei-
xassem de existir? Roy Baumeister, professor de psicologia
da Universidade Estadual de Flórida, um dos maiores críticos
do movimento da autoestima, revisou extensivamente pesqui-
sas que associavam elevada autoestima a bom desempenho.
Ele descobriu que o sucesso (pessoal, escolar ou profissional)
eleva a autoestima, mas a autoestima elevada não necessa-
riamente conduz ao sucesso — a autoestima mostrou-se mais
uma consequência do que uma causa, disse o pesquisador.
Baumeister acrescenta: o autocontrole é infinitamente mais
importante que a autoestima (tanto para o indivíduo quanto
para a sociedade), pois é um processo, um tipo de ação e um

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 43


traço de personalidade. E força de vontade é um dos ingre-
dientes que nos ajudam a ter autocontrole. É a energia que
usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento,
e tomar decisões acertadas.
Essa teoria aproxima-se do ensinamento bíblico (1 Co
9.25,27; Gl 5.23).

2.4. Subjugar o ego ou fortalecê-lo? Qual o


posicionamento cristão adequado?
A busca de autorrealização não é citada como virtude em
qualquer texto bíblico; apesar disso, um grande número de
cristãos tem replicado tal discurso. Hoje, se alguém se le-
vantar contra o movimento da autoestima nas comunidades
eclesiásticas, possivelmente será acusado de promover uma
teologia precária. Precisamos nos lembrar, no entanto, de que
Jesus convocou Seus discípulos ao amor que doa de si, não ao
amor que satisfaz a si (Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23).
Se analisarmos detidamente
os evangelhos, veremos que não
Enquanto a psicologia há qualquer mandamento relacio-
humanista afirma que para nado ao amor-próprio; o que há
amarmos o outro é preciso, é uma afirmação de Jesus de que
antes, ter amor-próprio, devemos amar ao próximo como a
a Bíblia aponta-nos outro nós mesmos. Daí, concluímos que
já estamos ocupados com nossos
entendimento: antes de
próprios desejos, interesses e ne-
amarmos o próximo, devemos,
cessidades, e, por ser assim, deve-
primeiro, amar a Deus
mos devotar ao próximo o mesmo
(Mt 22.37; Mc 12.28b-30; cuidado e a mesma atenção que
Lc 10.27a), que nos revela devotamos a nós, com igual in-
quem de fato somos. teireza e intensidade (Mt 19.19;
22.39; Mc 12.31; Lc 10.27b).

3. A VERTENTE BÍBLICA: NEM MAIS,


NEM MENOS
O texto bíblico diz que o homem é a coroa da Criação
(Gn 1), feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27),
pouco menor do que os anjos (Sl 8.5); além disso, revela que
a todo aquele que o recebe e crê em Seu nome é concedido o
direito de tornar-se Seu filho (Jo 1.12,13). Contudo, ao mesmo
tempo, a Escritura diz que não há sequer um justo (Rm 3.10);
que todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justi-
ças, como trapo da imundícia (Is 64.6) e que em nossa carne
não habita bem algum (Rm 7.18).

44 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


O pensamento do teólogo e pas-
tor presbiteriano Francis Schaeffer
resume adequadamente a condição Reflitamos, pois: para onde
humana: o homem é pecador e ma- devemos olhar, a fim de
ravilhoso. encontrarmos o ponto focal
de nossa autoimagem?
3.1. Personagens bíblicos que A resposta é simples: para
tinham autoconceitos Aquele que sabe quem
distorcidos somos e que, ainda assim,
Muitos cristãos têm de si conceitos entregou-se em nosso
completamente distorcidos: uns se lugar para que vivêssemos
acham menores, inferiores e incapa-
zes; outros se consideram o máximo, eternamente: Jesus.
superiores e dignos. Não diferente do
que acontecia nos tempos bíblicos.
Vejamos, nos subtópicos seguintes,
exemplos de dois juízes que desenvolveram autoconceitos não
condizentes com os conceitos que Deus tinha a respeito deles.
3.1.1. Gideão
O Livro dos Juízes narra episódios de apostasia, nos quais
os filhos de Abraão, por diversas vezes, abandonaram o Se-
nhor; como resultado natural de seus atos, Israel tornou-se
escravo de diferentes nações. No entanto, Deus sempre levan-
tou juízes (libertadores) para livrar Seu povo das mãos inimi-
gas (Jz 2.16,18).
O cenário em que Gideão estava inserido não era dos mais
auspiciosos: todas as vezes que Israel semeava, os midianitas
invadiam a terra para destruir as plantações e dizimar os re-
banhos (Jz 6.3). Gideão foi interpelado pelo Anjo do Senhor em
um dia como esse (Jz 6.11-16).
Deus disse que o homem mais fraco, da família mais pobre
da tribo de Manassés, seria capaz de vencer não só os midia-
nitas, mas seu principal inimigo: seus medos cristalizados por
uma autoimagem corrompida.
Gideão vivia sob o chicote de um carrasco interior de ne-
gatividade, pois ainda não havia entendido que Deus não vê
como veem os homens (1 Sm 16.7), nem que Ele escolhe os
fracos deste mundo para envergonhar os fortes (1 Co 1.27).
Porque Gideão corrigiu a visão que tinha de si mesmo, o Se-
nhor permitiu que ele fosse vitorioso (Jz 7.1—8.28).
3.1.2. Sansão
O mais conhecido juiz hebreu cresceu sabendo que fora
separado por Deus, desde o ventre de sua mãe, para realizar
uma obra específica: libertar Israel da opressão filisteia (Jz
13.1-5). No entanto, as escolhas que Sansão fez a partir da
consciência desse fato revelam um homem que tinha de si um
conceito deturpado.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 45


O filho de Manoá, possivelmente, acreditava que Deus não
afastaria Seu Espírito dele (Jz 16.20); assim, fez o que parecia
bom aos seus próprios olhos, ou seja, violou, a seu bel-prazer,
as três condições previstas no concerto divino: tocou um leão
morto (Jz 14.8,9); participou de um banquete [hb. mishteh —
comumente eram servidas bebi-
das fermentadas nesses eventos
(Jz 13.4; 14.10)]; e teve a cabeça
Desde o Éden, o homem raspada (Jz 13.5; 16.19). Não há,
tende a desenvolver uma no relato bíblico, qualquer indica-
visão distorcida de si ção de que Sansão tenha desejado
mesmo: não são os outros os saber qual era a vontade de Deus
responsáveis por aquilo que em dada situação, ou qual era o
nos tornamos, mas sim os desejo de seus pais nas escolhas
que fazia, ou qual era a intenção
pensamentos que nutrimos
de seus amigos nos eventos que
(Pv 23.7) e as escolhas que os envolvia. Sansão julgava-se au-
fazemos (Gl 6.7). Diante dessa tossuficiente; e isto o levou à ruína
realidade, bem faríamos se (Jz 16.1-21).
sinceramente respondêssemos O filho de Manoá só obteve vi-
à seguinte pergunta: que fonte tória no dia em que, sem os olhos
alimenta nosso autoconceito físicos (Jz 16.21), enxergou-se do
modo como Deus o via: colhemos
e as projeções de nossa
o que plantamos (Gl 6.7); Ele faz
autoimagem? cumprir os Seus desígnios (Pv
19.21) e lembra-se de todos os
que o buscam (Jz 16.28).

CONCLUSÃO
A libertação do sentimento de inferioridade e/ou de supe-
rioridade passa, invariavelmente, pelo relacionamento com
Aquele que nos criou. A superação de nossos traumas acon-
tecerá no dia em que compreendermos quem de fato Deus é
e quem realmente somos, Nele — e este é um processo que
se dá no conhecimento de Sua Palavra e no relacionamento
pessoal com Cristo.
O Senhor quer pintar um quadro realista de Sua percep-
ção de nós, e este quadro nos desafiará, ternamente, a mu-
dar nossos pensamentos e ações, a fim de que cheguemos à
maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef
4.13 – NVI).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. O que apregoa o movimento da autoestima?
R.: Afirma que a autoestima é uma necessidade humana e
que, por ser assim, se não for atendida convenientemente,
poderá deflagrar transtornos depressivos, ansiedade e difi-
culdades de relacionamento.

46 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 7

Aula dada em
DIA MÊS ANO
Ansiedade,
Tolice dos Homens
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 127.1,2
1 - Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que edificam; se o
Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
2 - Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de
dores, pois assim dá ele aos seus amados o sono.
Mateus 6.31-34
31 - Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos ou que bebere-
mos ou com que nos vestiremos?
32 - (Porque todas essas coisas os gentios procuram.) Decerto, vosso Pai
celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas;
33 - Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coi-
sas vos serão acrescentadas.
34 - Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã
cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.
Filipenses 4.6-8
6 - Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam
em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de
graças.
7 - E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos
corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.
8 - Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto,
tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 47


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Lançando sobre ele toda a
vossa ansiedade, porque 2ª feira – Gênesis 2.17; 3.10
Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi
ele tem cuidado de vós.
3ª feira – Gênesis 16.1-15
1 Pedro 5.7 A ansiedade de Abrão e Sarai
4ª feira – Tiago 4.13-16
Não sabeis o que acontecerá amanhã
5ª feira – Eclesiastes 1.2; 11.10
É tudo vaidade
6ª feira – Lamentações 3.19-23
Os pensamentos e a esperança
Sábado – Salmo 34.5; 40.2
Esperei com paciência no Senhor

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
entender, à luz das Escrituras, a origem da ansiedade hu-
mana;
compreender, a partir das palavras de Jesus, que cultivar
ansiedades constitui-se na grande tolice dos homens;
saber como Paulo conseguiu vencer a ansiedade, mesmo
sabendo que poderia morrer a qualquer instante.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Anxietas, em latim, corresponde ao vocábulo ansiedade,
que tem o sentido de perturbação, sufocação, aperto e/ou tor-
menta, designando um estado de apreensão, desencadeado
pela antecipação de algo penoso ou ameaçador. Deste modo,
é possível afirmar: trata-se de uma emoção democrática —
pois alcança qualquer pessoa, independente de condição so-
cial, sexo, idade ou filiação religiosa —, que milita, invariavel-
mente, contra a alegria, a segurança e a serenidade.
Nesta lição, analisaremos as palavras de Jesus e de Paulo
relacionadas ao tema ansiedade. Delas extrairemos conselhos
práticos, que, se aplicados à vida, far-nos-ão usufruir a paz
que excede todo o entendimento (Fp 4.7).
Deus lhe abençoe na condução do tema.
Boa aula!

48 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Para muitos, nos dias atuais, não é possível obter sucesso
pessoal e/ou profissional sem competição, estresse, preocu-
pação ou permanente vigilância, ou seja, para estes, é im-
possível não viver em permanente estado de ansiedade. Iro-
nicamente, quando tais pessoas são questionadas sobre seus
sonhos de consumo para o futuro, estes quase sempre se re-
sumem em um só: viver de forma pacífica, em comunhão com
o Criador, junto aos filhos e netos, admirando a Natureza (e
com ela interagindo).
Muitos dos que veem nos imperativos de Jesus uma utopia
poética (Mt 6.25-33) relatam, via de regra, intensa frustração
e profundo arrependimento ao chegarem ao fim da vida, pois
— após terem acumulado aquilo que julgavam ser razoável
para uma velhice tranquila — percebem que seus corpos já
somatizaram tantas angústias, que não haverá tempo e saú-
de suficientes para fazerem aquilo que poderiam ter feito na
ocasião oportuna.
Mas, afinal, qual a origem da ansiedade humana? O que
as Escrituras dizem a respeito do tema? É o que veremos a
seguir.

1. A CAUSA PRIMEIRA DA ANSIEDADE:


O PECADO PERVERTEU NOSSO OLHAR
No dia em que o homem decidiu desobedecer ao Cria-
dor, seduzido pela possibilidade de conhecer o bem e o mal,
ele passou a viver em constante vertigem de queda, pois se
instaurou em sua mente a necessidade de antever o desco-
nhecido e de gerir a própria história — homem e mulher fize-
ram para si aventais com folhas de figueira e esconderam-se
entre as árvores de jardim (Gn 3.7,8),
pois não sabiam exatamente o que,
doravante, teriam de enfrentar.
Nesse dia, nasceu a ansiedade, A ansiedade, biblicamente
que, em si, não é pecado, mas uma falando, consiste no fato de
demonstração de falta de confiança o homem enxergar a vida
nos cuidados do Pai, um sentimen-
fora dos cuidados divinos.
to de apreensão frente ao absoluta-
mente desconhecido. A certeza da provisão de
alimentos e de vestidura
1.1. A ansiedade de Sara cotidiana (como acontece
Deus prometera a Abrão dar-lhe com pássaros e lírios) deixou
um herdeiro (Isaque), a partir de de ser natural para o homem
quem nos seria trazido o Salvador em relação ao seu Criador.
(Gn 15.3,4; Mt 1.1). Como os anos

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 49


passavam e Sarai não engravidava,
Depois de três mil anos, todas ela sugeriu que o patriarca tomas-
se Agar, sua serva egípcia, por mu-
as nações árabes ainda se
lher (Gn 16.1,2), a fim de que ela (a
sentem filhos do rejeitado serva) lhe gerasse um filho. Abrão
Ismael (Gn 21.14). Hoje, concordou com a sugestão e, pouco
sabe-se que árabes tempo depois, a escrava deu à luz
(descendentes de Ismael) Ismael (Gn 16.15).
e judeus (descendentes O olhar de Abrão e Sarai estava
de Isaque) têm um corrompido pelo pecado original, ou
relacionamento marcado por seja, ambos acreditavam que a eles
tensões e conflitos cabia a condução da própria histó-
(Sl 83.1-7); e a humanidade ria. Deste modo, eles anteciparam-
come o fruto da ansiedade -se ao cumprimento da promessa
divina e fizeram o que lhes parecia
de Abraão e Sara.
correto.
Pelo fato de não ter aguardado
a atuação do Altíssimo, o patriarca
precisou viver longe de seu filho, fazendo morrer as muitas
expectativas que alimentara em relação a ele (Gn 21.11-14),
pois, quando Isaque nasceu, conforme Deus prometera ao ca-
sal, Sara pediu a Abraão que se livrasse de Agar e Ismael (Gn
21.1-10).

2. ANSIEDADE: A GRANDE TOLICE HUMANA


Jesus disse que, neste mundo, teríamos aflições (Jo
16.33a) e que cada dia traria consigo o seu próprio mal (Mt
6.34); não há como evitá-los. Contudo, Ele também disse que
deveríamos ter bom ânimo (Jo 16.33b), pois conosco Ele esta-
ria até o fim dos tempos (Mt 28.20); então, o que temer?
Se deixarmos as palavras do Mestre criar vida em nós,
chegaremos à conclusão simples de que cultivar ansiedades é
a grande tolice dos homens. Vejamos o porquê nos subtópicos
seguintes.

2.1. Mente alguma é capaz de sondar os


planos divinos
Uma única pergunta é capaz de colocar em xeque qual-
quer pretensão humana em relação ao futuro: quem pode di-
zer, com certeza, o que o amanhã trará (Tg 4.13,16)? Nem
as previsões do mercado financeiro ou da meteorologia; nem
as muitas planificações orçamentárias ou de processos pro-
dutivos; nem a física quântica ou a filosofia são capazes de
antever, conter ou suspender o que Deus tem preparado para
os dias da humanidade (1 Co 2.9). Não significa afirmar que

50 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


devemos viver de modo displicente, sem qualquer planeja-
mento, pois o texto bíblico também nos exorta à prudência
(Pv 13.4); devemos, sim, estar cônscios de que nossa única e
melhor saída é manter os olhos fitos naquele que, no devido
tempo, nos dá o alimento (Sl 145.15).

2.2. Diante de inimigos, reais ou imaginários, ao invés


de fortes, a ansiedade torna-nos frágeis
Quantas pessoas têm-se permitido viver processos neuró-
ticos, deflagrados por complôs conspiratórios (reais ou ima-
ginários) durante toda uma existência? Alimentar ansiedades
com vistas a extinguir agentes persecutórios é tolice, pois
ninguém consegue, sem prejuízo à saúde física e/ou emocio-
nal, manter vigilância constante em relação aos inimigos de-
clarados ou anônimos. A pré-ocupação recruta nossas ener-
gias, desgastando-as, sem possibilidade de reposição.
Pedro, que aprendeu a descansar (depois de muitas dúvi-
das), incita-nos a lançar sobre o Senhor toda nossa ansiedade,
porque Ele tem cuidado de nós (1 Pe 5.7).

3. PAULO REINTERPRETA A ANSIEDADE


DENTRO DE UMA PRISÃO FRIA
Talvez seja difícil encontrar no texto bíblico alguém que
fale tão profundamente sobre ansiedade quanto Paulo. Quan-
do escreveu aos filipenses, ele estava preso, aguardando jul-
gamento (Fp 1.7). Lembremo-nos de que a igreja de Filipos foi
fundada quando o apóstolo seguiu para a Europa, depois de
obedecer à visão de deixar a Ásia Menor (At 16.9-12). Possivel-
mente Paulo escreveu uma carta aos seus amigos filipenses,
porque sabia que seria difícil para alguns cristãos continuarem
acreditando que Deus ainda operava em sua vida, estando ele
em uma prisão. O homem para quem o morrer era lucro (Fp
1.21) poderia ser decapitado a qualquer momento, mas isto
não o impediu de dizer: não andem ansiosos por coisa alguma
(Fp 4.6a – NVI).
Uma pergunta emerge deste cenário de angústias: como
Paulo conseguiu vencer a ansiedade, sabendo que poderia
morrer a qualquer instante, ou ainda, sabendo que a razão
de sua existência, Cristo (Fp 1.21), poderia não anular uma
possível sentença de morte? Vejamos a seguir.

3.1. Paulo entendia o poder da oração simples


Logo após instruir os filipenses a não andarem ansiosos, o
apóstolo exortou-os: as vossas petições sejam em tudo conhe-
cidas diante de Deus (Fp 4.6b). A expressão em tudo, nesse

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 51


verso, inclui todas as situações possíveis em uma existência:
de encontrar um objeto perdido a ser curado de uma doença
terminal, por exemplo. O apóstolo precisava que seus amigos
filipenses entendessem que, se a
causa da oração é simples [a ansie-
Paulo pessoalmente dade (Fp 4.6)], a resposta de Deus
compreendia que quando também é [a paz (Fp 4.7)].
colocamos nossa ansiedade
diante de Deus, em fé, 3.1.1. O entendimento de Paulo
Ele a converte na guardiã O apóstolo colocou sua vonta-
de nossos sentimentos e de diante de Deus, mas ele estava
emoções, ou seja, na paz que ciente de que o Senhor não atende
excede todo entendimento. todos os nossos pedidos exatamen-
te do modo como os fazemos — ele
tinha a mesma certeza de Davi: o
Altíssimo não prometeu nos livrar do vale da sombra da mor-
te, mas asseverou que nos faria atravessá-lo em segurança (Sl
23.4). Sua consciência estava pacificada pela certeza de que
a oração não necessariamente muda a realidade pela qual se
ora, mas pode transformar aquele que se dirige a Deus em
intercessões e súplicas.

3.2. Paulo sabia em que pensar


Jeremias disse que queria trazer à memória o que lhe pu-
desse dar esperança (Lm 3.21 – ARA); Paulo, em Filipenses
4.8, ampliou as palavras do profeta, ao falar sobre o que deve
ocupar nossa mente.
Sim, os pensamentos que alimentamos têm o poder de al-
terar o curso de nossos sentimentos. Enquanto olhamos so-
mente para os nossos problemas, mais convencidos ficamos
de nosso isolamento, desespero e nossa incapacidade de solu-
cioná-los. Entretanto, quando olhamos para o Senhor, somos
capazes de superar as adversidades, em vez de sofrer com
elas (RADMACHER; ALLEN; HOUSE. Central Gospel, 2010a, p.
1204). Como nos instruiu Jesus, lembremo-nos dos pássaros
e lírios; se Deus os alimenta e os veste, de nós Ele também
cuidará (Mt 6.26-30).

3.3. Paulo reduziu suas expectativas


Se pudéssemos listar o que de fato é essencial à vida,
talvez chegássemos à conclusão de que boa parte de nos-
sas aspirações e vontades não passam de vaidade (Ec 1.2).
Paulo sabia disso e, no cárcere, expôs uma das mais belas
certezas que nutria: o meu Deus, segundo as suas riquezas,
suprirá todas as vossas necessidades (Fp 4.19). Observe que

52 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


o apóstolo não disse que todos
os nossos desejos seriam aten- Quantas pessoas deixam-se
didos, mas, sim, todas as nossas
escravizar pelos desejos que
necessidades. Paulo, em outras
palavras, disse aos irmãos fili- nutrem no transcurso de toda
penses que não há razão para as uma existência? E, por conta
muitas preocupações, pois mais disso, alimentam a alma com
importante que acumular exces- ansiedades, somatizando
sos é ser abastecido com o indis- angústias cotidianas. As
pensável por Aquele que é fiel (2 palavras do apóstolo aos
Tm 2.13; 1 Co 1.9). filipenses corroboram as
instruções do Sábio: Afaste do
CONCLUSÃO coração a ansiedade e acabe
com o sofrimento do seu
Desde que o homem decidiu corpo, pois a juventude e
desobedecer ao seu Criador, ele
o vigor são passageiros
vive a certeza do “não saber”; o
que, em si, configura-se num trá-
(Ec 11.10 – NVI).
gico paradoxo, pois a serpente
havia dito a Eva, no Éden, que no
dia em que comessem do fruto proibido, homem e mulher
saberiam o bem e o mal (Gn 3.5) — apesar de saberem fazer
distinção entre um e outro (Gn 3.22); eles não sabem responder
adequadamente a um e a outro (Rm 7.19).
Adão não sabia o que lhe aconteceria depois de descobrir-
-se nu (Gn 3.9,10); Abraão e Sara não sabiam quando e como
a promessa de um herdeiro se cumpriria (Gn 16.1,2; 21.1). O
silêncio de Deus, muitas vezes, amedronta-nos e faz-nos agir
de forma absolutamente contrária à Sua vontade; portanto,
enquanto o Senhor não revela o modo como agirá em nossa
história, não andemos ansiosos.
Façamos como Davi que descansou (Sl 37.7) e paciente-
mente esperou por Ele (Sl 40.2), pois compreendia que, ape-
nas enquanto mantivermos nosso olhar fixo Nele, não sere-
mos confundidos pela insegurança da ansiedade (Sl 34.5).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. Considerando o que foi exposto na lição de hoje, responda:
como Paulo conseguiu vencer a ansiedade, mesmo saben-
do que poderia morrer a qualquer instante?
R.: Paulo reduziu suas expectativas; (2) Paulo entendia o po-
der da oração simples e (3) Paulo sabia em que pensar.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 53


Lição 8

Aula dada em
DIA MÊS ANO Culpa,
a Prisão da Mente
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 32.1-6
1 - Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é
coberto.
2 - Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em
cujo espírito não há engano.
3 - Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido
em todo o dia.
4 - Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se
tornou em sequidão de estio. (Selá)
5 - Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu:
Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a mal-
dade do meu pecado. (Selá)
6 - Pelo que todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar;
até no transbordar de muitas águas, estas a ele não chegarão.
1 João 1.8-10
8 - Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós.
9 - Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 - Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra
não está em nós.
Mateus 11.28,29
28 - Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
29 - Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humil-
de de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma.

54 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
Porque a tristeza O ESTUDO DIÁRIO
segundo Deus opera 2ª feira – Salmo 51.1-5
arrependimento para a O meu pecado está sempre diante de mim

salvação, da qual ninguém 3ª feira – João 16.1-8


Convencidos do pecado, da justiça e do juízo
se arrepende; mas a
tristeza do mundo opera a 4ª feira – Mateus 27.1-5
Judas retirou-se e foi-se enforcar
morte.
5ª feira – Lucas 22.33,57,58,60-62
2 Coríntios 7.10 Pedro chorou amargamente
6ª feira – Atos 3.10-19
Arrependimento e perdão de pecados
Sábado – João 20.19-23
Perdoar para ser perdoado

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
conhecer os principais tipos e causas da culpa;
compreender as consequências mais comuns do senti-
mento de culpa;
saber o que o texto bíblico diz a respeito desta emoção.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Professor,
Por que sofrem os homens? Existe algum propósito bené-
fico no sofrimento? É possível minimizar ou extinguir a dor
humana? Perguntas como essas fazem parte dos círculos de
discussões teológicas e filosóficas há séculos.
As respostas a essas perguntas não são menos complexas,
pois, diferente dos demais seres criados que sofrem apenas
dores físicas, padecemos aflições mentais: preocupamo-nos
com o futuro; torturamo-nos pelo passado e angustiamo-nos
com o presente.
Não fosse o bastante, muitas vezes o sofrimento não é cau-
sado por outrem, mas pelos apelos de nossa própria consciên-
cia: padecemos por conta daquilo que fizemos ou deixamos
de fazer. Se conversarmos com pessoas solitárias, deprimidas,
doentes terminais ou dependentes químicos, por exemplo,
descobriremos que, não raramente, a culpa está por trás de
suas dores. Deste tema nos ocuparemos nesta lição.
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 55


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Culpas explícitas, reservadas ou silenciosas são emoções
que se alimentam da energia psíquica do indivíduo, mantendo
a constância de seu sofrimento, fazendo-o sentir-se merecedor
de algum tipo de punição. Em maior ou menor intensidade,
todo sentimento de culpa pode ser pernicioso para aquele que
o nutre, podendo desencadear severas patologias psicofísicas.
A Psicologia e a Teologia entendem que a culpa é o ter-
reno sobre o qual ambas as áreas transitam, visto ser ela (a
culpa) uma das maiores responsáveis pelo sofrimento huma-
no. Desta realidade, surgem algumas perguntas: o sofrimento
advindo da culpa serviria a algum propósito construtivo? Se
sim, qual? Se não, o que fazer para canalizá-lo a um fim útil?

1. TIPOS DE CULPA
De acordo com o psicólogo e escritor cristão Gary
Collins, os diversos tipos de culpa podem ser agrupados em
duas categorias principais: objetiva e subjetiva. Vejamos.

1.1. Culpa objetiva


Ocorre quando há quebra de uma norma e o infrator é cul-
pado, independente de ele reconhecer sua falta ou não. A cul-
pa objetiva subdivide-se basicamente em quatro tipos:
legal — diz respeito à violação das leis de uma sociedade.
Neste caso, independente de o infrator ser apanhado ou
de arrepender-se de seu ato, atribui-se culpa a ele. Exem-
plos: infração do código de trânsito ou furto de objetos alheios;
teológica — está relacionada à desobediência às leis de
Deus, descritas em Sua Palavra: somos pecadores, inde-
pendente de aceitarmos ou não este fato (Rm 3.23);
pessoal — não se trata de quebra de um código legal ou de
violação a uma lei divina; neste caso, a pessoa transgri-
de os seus próprios padrões. Exemplo: um pai pode sentir-
-se culpado quando assume o compromisso de estar em uma
apresentação na escola de seu filho e, por razões profissio-
nais, não consegue comparecer;
social — não há infração de um código legal, nem violação
de uma lei pessoal. Trata-se da quebra de códigos estabe-
lecidos por um grupo social (igreja, trabalho, vizinhança
etc.). Neste caso, pode ou não haver sentimento de culpa em
relação ao ato. Exemplo: portar-se de forma grosseira diante de
seus pares ou espalhar boatos e mexericos.

1.2. Culpa subjetiva


Refere-se aos sentimentos de autocondenação, pesar, ver-
gonha e remorso, decorrentes de nossas ações e/ou intenções.

56 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Os sentimentos de culpa subjetiva podem ser:
apropriados — aparecem quando transgredimos leis ou
códigos sociais, desobedecemos à Palavra de Deus ou in-
fringimos as razões de nossa própria consciência. Nesses
casos, o remorso, a vergonha ou o pesar são proporcionais à
gravidade de nossas ações;
inapropriados — não são proporcionais à gravidade de
nossos atos. Exemplo: há pessoas que matam e não se sen-
tem culpadas, ao mesmo tempo em que outras se sentem
paralisadas pela culpa de terem pensado mal de alguém.
Nesta categoria, enquadram-se os complexos de culpa, con-
dição em que o indivíduo nutre culpas infundadas (muitas
vezes promovidas por materiais inconscientes recalcados),
as quais se traduzem em mágoas profundas, depressões e
vazios existenciais.

2. CAUSAS DA CULPA
Muito raramente alguém procura ajuda terapêutica ou
aconselhamento pastoral por conta de uma culpa objetiva.
O que costumamos encontrar são pessoas atormentadas por
sentimentos de culpa subjetivos. Mas, afinal, por que as pes-
soas sentem-se culpadas? Vejamos algumas razões a seguir.

2.1. Vivências anteriores e expectativas fantasiosas


De modo geral, tanto os padrões de certo-errado quanto os
sistemas de castigo e recompensa começam a ser transmiti-
dos na primeira infância. Em algumas famílias esses modelos
são tão rígidos, que a criança, em não conseguindo alcan-
çar as expectativas de seus pais (ou responsáveis), aprende a
culpar-se por seus insucessos — e esse padrão de comporta-
mento tende a estender-se pela vida adulta.

2.2. Sugestão social


Para o médico e escritor cristão Paul Tournier, estamos
imersos em uma atmosfera insalubre, na qual somos continu-
amente influenciados pelas críticas mútuas, e estas nos apri-
sionam: somos censurados, sentimo-nos culpados; e, assim,
em um implacável círculo vicioso, censuramos para sentirmo-
-nos menos culpados.

2.3. Atuação do Espírito Santo


Antes da Queda, o homem não experimentava o senti-
mento de culpa; porém, no dia em que comeu do fruto proi-
bido, instaurou-se nele a consciência de que havia praticado
algo que se opunha ao bem, algo que o fez sentir-se devedor.
Precisamos da culpa, pois ela expõe a verdade que gostaría-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 57


mos de ocultar: todos nós pecamos
C. S. Lewis afirmou: nenhum (Rm 3.23). João diz isso da seguinte
forma: se dissermos que não temos
homem sabe o quanto é mau pecado, enganamo-nos a nós mes-
até que tenha tentado de mos, e não há verdade em nós (1 Jo
toda maneira ser bom. Da 1.8) (RADMACHER; ALLEN; HOUSE.
mesma forma, talvez nunca Central Gospel, 2010b, p. 724).
saibamos o quanto precisamos Significa dizer que, para nós,
de liberdade até tentarmos cristãos, a conscientização de cul-
desfazer-nos de nosso fardo de pa pode advir da ação do Espírito
Santo, que convence o mundo do
pecados (RADMACHER; ALLEN; pecado, e da justiça, e do juízo (Jo
HOUSE. Central Gospel, 16.8), exigindo de cada um de nós
2010b, p. 724). arrependimento, que leva à salva-
ção (2 Co 7.9).

3. CONSEQUÊNCIAS DA CULPA
Como vimos no tópico anterior, as pessoas não pro-
curam ajuda terapêutica por conta de culpas objetivas, mas
porque: (1) desenvolvem mecanismos de defesa (modos de
pensar, que tendem a distorcer a realidade); ou (2) em se
sentindo inferiores, passam a reagir de modo autocondena-
tório. Vejamos a seguir.
3.1. Adoção de mecanismos de defesa
Com vistas a reduzir a ansiedade, a frustração e o estres-
se, decorrentes dos sentimentos de culpa, muitas pessoas de-
senvolvem mecanismos de defesa mentais. Geralmente quem
se utiliza de tais recursos não tem consciência do fato. Dentre
os vários mecanismos de defesa observados, destacamos:
fantasia — espécie de teatro mental em que o indivíduo cria
uma situação (total ou parcialmente) distinta da realidade;
negação — neste, a dor (ou o fato gerador desta) não é
admitida;
regressão — neste, há um retorno a fases anteriores do de-
senvolvimento, onde o indivíduo não tinha sobre si o fardo
pesado da culpa.

3.2. Atitudes autocondenatórias


Pessoas que nutrem culpas subjetivas geralmente desen-
volvem ansiedade, baixa autoestima e sentimentos de inade-
quação; além disso, tendem a ser pessimistas e inseguras —
todos esses sintomas são formas de autocondenação.
Pesquisas revelam que os efeitos da culpa acumulam-se
no corpo e, se não aliviados ou extintos, podem colapsar o or-
ganismo — alguns psiquiatras acreditam que esta é, também,
uma forma inconsciente de autopunição.

58 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


4. O QUE O TEXTO BÍBLICO DIZ A RESPEITO
DA CULPA?
De modo geral, quando se
fala em culpa, evocam-se os aspec-
tos subjetivos desta emoção. Os No texto bíblico, os vocábulos
autores sagrados, no entanto, pa- gregos traduzidos por culpa ou
recem fazer pouca (ou nenhuma) culpado [aition (Lc 23.4,14,22);
distinção entre culpa e pecado. enochos (Tg 2.10; 1 Co 11.27)]
Assim sendo, até que ponto
é salutar a provocação de senti-
estão relacionados à culpa
mentos de culpa em outrem, mes- teológica, isto é, uma pessoa
mo que a intenção seja estimular é considerada culpada quando
o crescimento cristão, evitar o or- viola a lei divina.
gulho ou minimizar a recorrência
de pecados?
É possível ajudar as pessoas a
lidarem com o pecado, sem produzir nelas sentimentos da-
nosos de culpa? Vejamos a seguir.
4.1. A tristeza que produz arrependimento
para salvação
Paulo, ao escrever aos Coríntios, fez distinção entre a tris-
teza do mundo e a tristeza segundo Deus: a primeira parece
equivaler ao remorso (e pode levar à depressão e a sentimen-
tos destrutivos); a segunda opera arrependimento para a sal-
vação (2 Co 7.8-10), ou seja, produz uma mudança positiva.
4.1.1. Remorso
Remorso não é sinônimo de ar-
rependimento; ao contrário, esta
emoção frequentemente associa-
-se à justiça própria e à moral re- O remorso trabalha em favor
ligiosa, operando tristeza segundo da fixação nas neuroses
o mundo, a qual conduz à morte (2 traumáticas, não libertando
Co 7.9b). o indivíduo para a vida,
Remorso é a dor psicológica que mas prendendo-o a dois
se ancora na fantasia da autojusti- pensamentos cíclicos e
ficação. Judas Iscariotes, depois de
irrespondíveis: o “e se”
trair Jesus (Mt 27.3 – NVI), tomado
por esta emoção, definiu que para e o “como eu pude”.
ele só havia uma saída: a autocon-
denação, que culminou em suicídio
(Mt 27.5).
4.1.2. Arrependimento
Pedro disse que estava pronto a ir com Cristo para a
prisão ou para a morte (Lc 22.33); porém, quando Jesus
foi preso, o pescador de Betsaida negou-o veementemen-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 59


te ao ser reconhecido como um de Seus discípulos (Lc
22.57,58,60).
Entretanto, ao contrário de Judas, Pedro experimentou
o genuíno arrependimento (gr. metanoeō = mudança de
pensamento) (Mt 26.75; Mc 14.72; Lc 22.52), que traz con-
sigo a certeza do perdão divino. Assim, possuído pela fé que
pacifica o coração quebrantado e pela certeza de que Deus
é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar
de toda injustiça (1 Jo 1.9), ele permaneceu junto dos demais
discípulos, sem saber ao certo o que lhe aconteceria a partir
de então (Mc 16.7; Lc 24.9,12).

4.2. O perdão divino


O perdão divino é um dos temas centrais da Escritura:
o Filho de Deus adentrou o tempo e o espaço para que o
homem, morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), pudesse
restabelecer a comunhão com o Criador. Todavia, o texto
bíblico indica que pelo menos duas condições precisam ser
satisfeitas a fim de que o perdão de Deus nos alcance: arre-
pendimento (At 3.19) e disposição para perdoar aquele que
nos tem ofendido (Jo 20.23; Lc 6.37).

CONCLUSÃO
Lembremo-nos irmãos: o sangue de Cristo tem poder
para libertar a nossa alma da opressão da culpa. Quando
admitimos nossa condição de pecadores, indignos da graça
divina, e confessamos nossos pecados ao Senhor, podemos
recomeçar do zero.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com a lição de hoje, cite algumas razões pelas
quais as pessoas sentem-se culpadas:
R.: Vivências anteriores e expectativas fantasiosas; sugestão
social e atuação do Espírito Santo.

GLOSSÁRIO
Mecanismos de defesa — Podem ser definidos como pro-
cessos psíquicos, cuja finalidade consiste em afastar um
evento gerador de angústia da percepção consciente. O
ego, como sede da angústia, é mobilizado diante de um
sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos
repressores que impedirão a vivência de fatos dolorosos,
os quais o organismo não está pronto para suportar. Todos
os mecanismos de defesa possuem duas características co-
muns: (1) negar, falsificar ou distorcer a realidade; e (2)
operar inconscientemente, sem que a pessoa se dê conta.

60 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 9

Aula dada em
DIA MÊS ANO Luxúria,
o Desejo Proibido
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
1 Tessalonicenses 4.4,5
4 - Cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra,
5 - não na paixão de concupiscência, como os gentios, que não conhecem a
Deus.
Marcos 7.16-23
16 - Se alguém tem ouvidos para ouvir, que ouça.
17 - Depois, quando deixou a multidão e entrou em casa, os seus discípulos
o interrogavam acerca desta parábola.
18 - E ele disse-lhes: Assim também vós estais sem entendimento? Não com-
preendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,
19 - porque não entra no seu coração, mas no ventre e é lançado fora, fican-
do puras todas as comidas?
20 - E dizia: O que sai do homem, isso é que contamina o homem.
21 - Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos,
os adultérios, as prostituições, os homicídios,
22 - os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a
blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 - Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem.
Mateus 26.41
41 - Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito
está pronto, mas a carne é fraca.
Tiago 4.7
7 - Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 61


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
Porque tudo o que
há no mundo, a 2ª feira – Salmo 101.1-3
Andarei com um coração sincero
concupiscência da carne,
a concupiscência dos 3ª feira – 1 Coríntios 6.12-18
Fugi da prostituição
olhos e a soberba da
4ª feira – Jeremias 13.23-27
vida, não é do Pai, mas
Não te purificarás?
do mundo.
5ª feira – Tiago 4.7-10
1 João 2.16 Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo
6ª feira – Colossenses 3.1-5
Mortificai, pois, os vossos membros
Sábado – Romanos 12.9-21
Vence o mal com o bem

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
saber que a luxúria desvirtua as funções e os limites esta-
belecidos por Deus para a prática sexual;
conhecer os depoimentos de alguns personagens icônicos
do Novo Testamento relacionados à luxúria;
conhecer os meios de vencer a luxúria.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
A lista dos sete pecados capitais — do modo como a co-
nhecemos hoje (gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça e
orgulho) — não consta no texto sagrado. Essa convenção re-
mete ao século quarto, quando o papa Gregório relacionou os
principais campos de batalha na interioridade humana.
Nesta lição, discorreremos sobre a luxúria, um dos pecados
mais prevalentes na sociedade contemporânea.
É importante considerar, no decorrer do estudo, que é im-
possível viver neste mundo sem pensar em sexo, porque esta
é uma prerrogativa essencial à sobrevivência das espécies.
Deste modo, acima de qualquer tentativa de doutrinamen-
to eclesiástico, é preciso levar os alunos a refletirem sobre a
necessidade de vivermos de forma digna, refletindo e espe-
lhando o padrão mais excelente de relacionamento humano.
O mundo precisa olhar para os discípulos de Jesus e aprender
o que é amar de verdade, a construir relacionamentos sólidos
e a desfrutar da sexualidade de forma qualitativa, sob as bên-
çãos do Eterno.
Boa aula!

62 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Dentro da Caixa de Pandora das paixões humanas, há uma
que, por sua estreita relação com a natureza caída do ho-
mem, é mais difícil de ser controlada ou vencida. Esta paixão
é denominada luxúria.

1. DEFINIÇÃO DO TERMO
Luxúria é um substantivo feminino, originado do latim
luxuriae, que tem por sinônimos os vocábulos concupiscência,
lascívia, libertinagem, libidinagem e sensualidade.
Caracterizada pela satisfação desregrada dos desejos se-
xuais, a luxúria é vista nas Escrituras Sagradas como um pe-
cado, porque desvirtua as funções e os limites estabelecidos
por Deus para a prática sexual.
1.1. Suas consequências imediatas podem ser trágicas
A luxúria é vista como um dos sete pecados capitais. A
Bíblia descreve-a como algo tão forte, que serve como ma-
triz para que outros desvios morais ocupem espaço na alma
humana, trazendo consequências desastrosas e, às vezes,
letais, como: prostituição, pornografia, gravidez indesejada,
estímulo ao aborto, doenças sexualmente transmissíveis, es-
tupro, pedofilia e abusos sexuais em suas múltiplas manifes-
tações e formas (masoquismo, sadismo, zoofilia, necrofilia,
gerontofilia etc.).

1.2. É um inimigo muito perigoso


No Salmo 81.12,13, o Senhor, cansado de ser rejeitado por
Seu povo, entrega os israelitas aos desejos do seu coração,
para andarem segundo os seus próprios conselhos.
Deus removeu deles a Sua graça (que os restringia), e eles
foram entregues à luxúria, o mais malévolo opressor — cair
em suas garras representava algo pior do que cair nas mãos
dos piores inimigos da nação.

1.3. É um pecado que mata


O pecado é algo individual; des- Uma vida que se deixa
te modo, não deve ser atribuído a dominar pela luxúria deixa
Deus, ao próximo ou ao diabo, pois atrás de si um rastro de
sua mola propulsora reside nas de- destruição total. Ela infecta
cisões de cada um. Sua chama re- a mente, corrompendo os
side no interior do homem, e este, relacionamentos mais
de acordo com seu próprio arbítrio,
íntimos e preciosos.
pode transformá-la em ato delibera-
do que, uma vez concebido, leva à

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 63


morte espiritual (Tg 1.14,15). Significa dizer que a prática
da luxúria aliena o homem de Deus, estado que somente
pode ser revertido por meio do arrependimento, confissão
e mudança de atitude.

2. DEPOIMENTOS DE ÍCONES DO NOVO


TESTAMENTO
2.1. O evangelista João
Em 1 João 2.15-17, o discípulo amado revela que o amor
aos prazeres mundanos afasta-nos da presença do Pai e do
Seu amor. Nesse texto, João não faz referência ao mundo fí-
sico, que é bom e deve ser admirado como algo que reflete
a grandeza do Criador, mas mostra que a dedicação a Deus
exige um compromisso de exclusividade. As ofertas do mundo
são passageiras e efêmeras, porém aquele que faz a vontade
de Deus permanece para sempre.

2.2. O intrépido Pedro


Em 1 Pedro 5.8, o pescador de Betsaida, irmão de André, dei-
xou-nos uma revelação muito clara sobre as operações do Malig-
no. Pedro apresenta-o como alguém que pleiteia insistente-
mente contra a alma do homem; como um leão sanguinário
e feroz. Satanás está sempre em derredor com o objetivo de
devorar e conduzir para a ruína eterna aqueles a quem con-
seguir enredar. Não raro, ele alcança seus objetivos malignos
convencendo o homem a ceder aos apelos do sexo moralmente
descompromissado e sem limites.

2.3. Paulo, o apóstolo aos gentios


Por reiteradas vezes, Paulo fez advertências contra as in-
clinações da natureza humana. Em Colossenses 3.5,10,11,
ele lista os pecados que atraem a ira de Deus sobre a pessoa.
Boa parte deles tem conotação sexual.
Os filhos de Deus, crucificados simbolicamente com Cris-
to, pela obediência, sepultaram o velho homem com as suas
práticas ilícitas. No verso 10, ele declara: e vos vestistes do
novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou.

2.4. Jesus, o Mestre dos mestres


Jesus não se manifestou apenas contra a prática da prosti-
tuição, fornicação ou adultério. Ele disse que o pecado acon-
tece antes: no pensamento e nas intenções (Mt 5.28-30; Mc
7.21-23). Onde houver espaço na mente para a luxúria, ali have-
rá também a culpa pelo pecado.

64 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


O Mestre pontuou, de maneira
dramática, que é melhor perder Tomás de Aquino comparou a
uma parte do corpo, como os olhos
ou as mãos, do que todo o corpo
luxúria a um leão que, vendo
ser lançado no fogo do inferno (Mt sua presa, em nada mais
5.28-30). E, no Evangelho de Mar- pensa, senão na carne que
cos (7.21-23), Ele identificou que é está para devorar. O que será
do interior do coração dos homens um grande prazer para o leão,
que sai toda sorte de maus pensa- mas uma trágica notícia para
mentos, adultérios e prostituição. sua vítima.

3. AFORISMOS BÍBLICOS
A prática da luxúria aparece várias vezes nas Escritu-
ras e, em todas as ocorrências, há uma severa advertência
contra quem a ela dá abrigo. Vejamos algumas afirmações bí-
blicas sobre o assunto.

3.1. Está sempre em oposição à vontade de Deus


A vontade do Senhor é que os Seus filhos vivam em san-
tificação e abstenham-se da prostituição (1 Ts 4.3) — ape-
sar de Paulo citar em particular a prostituição, todos os pecados
de natureza sexual estão inclusos nesse verso. A luxúria, sem
sombra de dúvidas, coloca o homem em rota de colisão
com a vontade de Deus e o afasta de Sua sublime presença
(1 Pe 4.2).
3.2. Fomenta a guerra entre a carne e o Espírito
Os desejos da carne lutam vigorosamente contra os movi-
mentos do Espírito (Gl 5.16,17; Rm 7.15). Há uma forte resis-
tência maligna contra tudo que milite em favor da santifica-
ção. Por conta dessa luta, o homem não consegue levar a efeito
todo o seu potencial (Gl 5.22).

3.3. Possui um grande poder de destruição


Pedro pede com instância que seus leitores abstenham-se
das concupiscências carnais (1 Pe 2.11,12). E salienta: ten-
do o vosso viver honesto entre os gentios, para que, naquilo
em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem
a Deus no Dia da visitação, pelas boas obras que em vós ob-
servem. Uma conduta limpa e justa não apenas os protege-
ria da língua afiada dos caluniadores e mexeriqueiros, mas
também os protegeria da destruição eterna.

4. COMO VENCER A LUXÚRIA


Quando alijados da presença de Deus, os homens tor-
nam-se escravos da carne e dos seus apetites mais mesqui-
nhos e perversos. A mente carnal faz do homem um perfeito

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 65


refém de seus apetites e vícios.
Diante dos fortes apelos sexuais,
A luxúria é um desejo
só a graça de Deus e as operações
desordenado que faz do ser do Espírito Santo poderão livrá-lo
criado à imagem e semelhança dos sofrimentos, dos escândalos e
de Deus alguém algemado a da vergonha.
um hábito maldito. Diante deste cenário, o que cada
um de nós pode fazer para colocar
sua vida em um ancoradouro segu-
ro? Como é possível derrotar o poder
da luxúria num mundo em que ela exerce tanto fascínio? Como
resistir ao diabo e manter-se no caminho da pureza e da san-
tidade?
4.1. Entender a devida honra dada ao corpo nas
Escrituras
A Igreja primitiva tinha grande dificuldade em manter a pure-
za sexual (1 Co 5.1). Por isso, Paulo exortou os coríntios a não
participarem de nenhuma prática sexual fora dos limites do
casamento. De acordo com o apóstolo, o corpo humano é o
templo do Espírito Santo e, como tal, deve ser mantido em
santidade (1 Co 6.18-20; 1 Ts 4.3-5).
Radmacher, Allen e House, editores do Novo Comentário
Bíblico do Novo Testamento, oportunamente pontuaram que
os cristãos devem ter um desejo pessoal pela pureza sexual
maior que o desejo que o mundo tem por experiências sexu-
ais. Devemos honrar o nosso corpo como algo criado por Deus
e santificá-lo de acordo com sua finalidade santa.

4.2. Investir no desenvolvimento do caráter cristão


Conforme Jesus disse, o que contamina o homem é o que
sai do seu coração corrompido, ou seja, do seu caráter defor-
mado (Mc 7.16-23).
Nossos pensamentos, desejos e afeições espúrias são a
fonte de nossa contaminação. Uma fonte pura oferecerá água
pura, assim como de um coração impuro jorrará paixões, ra-
ciocínios e desejos corrompidos e perversos. O maior inves-
timento que alguém pode realizar em vida é agregar valor à
sua própria essência.
4.3. Viver em estado permanente de oração e
vigilância
No Getsêmani, os discípulos do Mestre não conseguiram
permanecer acordados e em oração. O Mestre sabia da vinda
de uma grande provação a Ele e a Seus seguidores; por isso,
disse: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na ver-
dade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26.41).

66 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


A palavra carne, nesse verso, indica a fragilidade da na-
tureza humana. Sendo ela fraca, todos os discípulos de Jesus
precisam recorrer ao poder humano da vigilância e ao poder
sobrenatural da oração para resistir às astutas ciladas do ini-
migo (Ef 6.11,12).
4.4. Inclinar o coração à fé para resistir
Deus deu ao homem o poder de decidir entre um caminho
e outro. Ele pode seguir ou não os preceitos bíblicos, assim
como pode ter fé para manter-se puro em seu caminho. O
mal só pode assumir o controle com sua anuência e comis-
são.
A luxúria pode exercer o seu forte poder de sedução, po-
rém, ao homem cabe a resistência aos seus atrativos, pela fé
que uma vez foi dada aos santos. Como disse Tiago, o irmão
do Senhor: Sujeitai-vos a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de
vós (Tg 4.7).

CONCLUSÃO
Nos capítulos 11 e 12 do segundo Livro de Samuel, temos
um dos exemplos mais clássicos do poder destrutivo da luxú-
ria. Davi, o grande rei de Israel, do seu terraço, viu a beleza
de Bate-Seba e, desejando-a ardentemente, tomou-a para si.
Bate-Seba ficou grávida, e Davi planejou a morte do seu mari-
do. Por intermédio do profeta Natã, Deus revelou o seu duplo
pecado: ele tornara-se adúltero e assassino.
A partir de então, Davi nunca mais foi o mesmo homem: a
paz foi embora da sua família, trazendo-lhes a dor e o infortú-
nio. Como monarca, ele enfrentou muitas lutas internas e trai-
ções, inclusive a de seu filho, Absalão, assassino de seu irmão
e usurpador do trono do próprio pai.
Coloquemos em prática as exortações do apóstolo Paulo:
irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu po-
der. Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais
estar firmes contra as astutas ciladas do diabo (Ef 6.10,11).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, o que deve-
mos fazer para vencer a luxúria?
R.: Entender a devida honra dada ao corpo nas Escrituras; in-
vestir no desenvolvimento do caráter cristão; viver em es-
tado permanente de oração e vigilância e inclinar o coração
à fé para resistir.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 67


Lição 10

Aula dada em
DIA MÊS ANO Cobiça, o Número Um
dos Pecados
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Atos 20.29-35
29 - Porque eu sei isto: que, depois da minha partida, entrarão no meio de
vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho.
30 - E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas
perversas, para atraírem os discípulos após si.
31 - Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei,
noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.
32 - Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a
ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os san-
tificados.
33 - De ninguém cobicei a prata, nem o ouro, nem a veste.
34 - Vós mesmos sabeis que, para o que me era necessário, a mim e aos que
estão comigo, estas mãos me serviram.
35 - Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxi-
liar os enfermos e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse: Mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber.
Tiago 4.1,2
1- Donde vêm as guerras e pelejas entre vós? Porventura, não vêm disto, a
saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?
2- Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcan-
çar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis.

68 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
Não cobiçarás a mulher O ESTUDO DIÁRIO
do teu próximo; e não 2ª feira – Êxodo 20.1-17
desejarás a casa do Não cobiçarás

teu próximo, nem o 3ª feira – Romanos 13.8-10


Quem ama aos outros cumpriu a Lei
seu campo, nem o seu
servo, nem a sua serva, 4ª feira – 1 Coríntios 10.1-6
Não cobicemos as coisas más
nem o seu boi, nem o
5ª feira – 1 Timóteo 6.3-10
seu jumento, nem coisa
Nessa cobiça alguns se desviaram da fé
alguma do teu próximo.
6ª feira – Mateus 5.27-30
Deuteronômio 5.21 A cobiça nasce no coração
Sábado – Josué 7
Vi os despojos, cobicei-os e tomei-os

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
conhecer algumas questões pontuais relacionadas à cobi-
ça a partir dos relatos bíblicos;
saber que esta emoção traz dores e sofrimentos indescrití-
veis ao homem;
estar cônscio de que é possível vencer a cobiça, por meio
da vigilância, da gratidão, da confiança em Deus e do ape-
go à Sua Palavra.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Professor,
Nesta lição, procure manter o foco nas palavras de Jesus,
que, antes de propor a parábola do rico insensato, disse que
deveríamos ter cautela e guardar-nos da avareza (cobiça ex-
cessiva e sórdida por qualquer coisa), porque a vida de qual-
quer um não consiste na abundância do que possui (Lc 12.15).
A vida humana transcende àquilo que é aparente. Como
oportunamente pontuaram os editores do Novo Comentário
Bíblico do Novo Testamento, infelizmente, muitas pessoas
desconsideram o fato de que a Criação não é um objeto para
servir ao homem ou para ser possuído por ele. A vida é estabe-
lecida pelos relacionamentos que alguém desenvolve, enquan-
to a Criação tem por finalidade a melhora dessas relações. As
coisas não fazem a vida, mas sim Deus e as pessoas. Apenas
as pessoas se perpetuarão. Desta forma, o investimento deve
ser feito naquilo que se eternizará (2 Pe 3.10-12).
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 69


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
A baía de Guantánamo é uma base naval norte-americana, no
território de Cuba, a 645Km de Miami, destinada a receber sus-
peitos de terrorismo, depois dos ataques de 11 de setembro de
2011 aos Estados Unidos da América. Os presos podem ficar lá
perpetuamente, sem direito a julgamento, e podem ser submeti-
dos à tortura e a toda espécie de violação aos direitos humanos.
A cobiça, em muitos aspectos, assemelha-se aos mais bár-
baros sistemas penitenciários do mundo: ela aprisiona a alma
e submente o ente humano às paixões mais mesquinhas, de-
gradantes e cruéis.

1. ETIMOLOGIA E CONCEITUAÇÃO DO TERMO


Nos originais do Antigo Testamento e do Novo Testa-
mento, vários vocábulos constituem-se em um auxílio muito
eficaz na compreensão da palavra cobiça, a saber:
avvah — este vocábulo da língua hebraica significa desejo
por si mesmo. Ele descreve o sentimento em que a pessoa
volta-se de maneira egoísta para dentro de si e de seus
apetites, sem importar-se com qualquer outra pessoa ou
regra moral (Dt 5.21; Pv 21.26; 23.3);
chamad — este verbo hebraico, que significa desejar, de-
signa alguém que, tomado por um desejo contumaz, sai em
busca de algo (Êx 20.17; Js 7.21; Jó 20.20; Mq 2.2; Is 1.29);
batsa — esta palavra aparece oito vezes no Antigo Testa-
mento e tem o sentido de ganhar, adquirir de forma injus-
ta ou ilegalmente, impulsionado pela cobiça (Hc 2.9; Pv
1.19; 15.27);
epithuméo — esta é uma palavra grega com mais de uma
dezena de aparições nos livros do Novo Testamento, que
significa fixar a mente sobre. Dá a ideia de desejo descon-
trolado em buscar um objetivo ou meta (Mt 5.28; Lc 15.16;
16.21; At 20.33; Rm 13.9; 1 Co 10.6; Gl 5.17; Tg 4.2; Ap 9.6);
pleoneksía — este é um substantivo grego que aparece por
uma dezena de vezes nas páginas do Novo Testamento. Dá
a ideia de um ciclo interminável de busca por mais e mais,
sem a completa satisfação (Mc 7.22 – NVI; Ef 5.3 – NVI; 2
Pe 2.3 – NVI).

2. AFORISMO ESCRITURÍSTICO
A cobiça desconhece limites. Os que por ela são domi-
nados expressam grande anseio por obter riquezas, prestígio,
honras e glórias. Quanto mais o indivíduo amealha para si,
mais ele deseja, sem necessariamente importar-se com os
meios necessários à sua obtenção, e sem jamais contentar-se
com o que possui.

70 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Vejamos algumas questões pon-
tuais relacionadas à cobiça, a partir
dos relatos bíblicos. Acossados pela cobiça, os
homens correm como lebres
2.1. Não está condicionada perseguidas pelo caçador.
à idade
Pessoas de todas as idades po-
dem deixar-se dominar por este sentimento deletério. Alguns
estudiosos afirmam que esta emoção tende a ser intensifica-
da com o passar dos anos, caso não haja arrependimento e
mudança de comportamento por parte do cobiçante. Assim,
pode tornar-se a raiz de muitos males.

2.2. É um pecado abominável


A cobiça desagrada o Criador porque representa uma es-
pécie de culto ao eu. O indivíduo cobiçoso não tem qualquer
preocupação com o próximo ou com as questões relativas à
eternidade. Seu foco está na obtenção infinda de bens físicos
e/ou abstratos nesta vida (Êx 20.17; Sl 10.3; Mc 7.21,21 –
NVI; 1 Jo 2.16,17 – NVI).
2.3. É inconsequente
O princípio lesivo da cobiça pode deflagrar as piores desgra-
ças na vida humana. A ela devem-se os adultérios, as guer-
ras, os desentendimentos (inclusive no seio da família e nos
círculos mais estreitos de amigos), os roubos, as fraudes, a
exploração do homem pelo homem, a luta pelo poder e toda
espécie de corrupção (1 Tm 6.6-10; Tg 4.1-4).
2.4. Alija o homem da presença de Deus
É uma obstinação, um desejo intenso de conseguir algo, sem
dar qualquer importância aos planos ou à vontade do Todo-po-
deroso. Paulo incluiu a cobiça entre os desvios morais que
expulsam o Altíssimo da vida do homem, impedindo-o de al-
cançar os tesouros do Reino de Deus (Ef 5.5,6).

3. RELATOS DE COBIÇA NO CÂNON SAGRADO


O desejo desenfreado por possuir passou a integrar a
natureza humana ainda nos primórdios da História; o primeiro
casal, movido pelo desejo de transcendência e livre-arbítrio,
decidiu trilhar um caminho oposto ao do orientado por seu
Criador.
Ceder aos caprichos da cobiça sempre traz dores e sofri-
mentos indescritíveis. As páginas das Escrituras Sagradas estão
repletas de exemplos que ilustram esta afirmativa. Vejamos al-
guns a seguir.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 71


3.1. Acã, filho de Carmi
Não há quem seja mais Este personagem ficou marcado
desprezível do que aquele na historiografia bíblica por sua co-
que cobiça, pois até biça e consequente desobediência à
a sua alma vende. ordem divina em relação aos despo-
jos da cidade de Jericó: nada deveria
ser tomado de entre o espólio, pois
tudo estava amaldiçoado (Js 6.17,18; 7.1). A ordem era muito
clara. Quanto ao ouro e a prata, seriam consagrados ao tesouro
do Senhor (Js 6.19).
A corrupção de Acã foi descoberta depois de Israel sofrer
uma fragorosa derrota diante do exército inimigo (Js 3.7-5).
Sortes foram lançadas, e estas recaíram sobre Acã e sua casa.
O povo foi conclamado à santificação e Josué disse que aque-
les com quem os objetos fossem encontrados seriam lançados
ao fogo e, com eles, tudo que possuíssem. Assim, Acã e sua
família sofreram consequências duríssimas por sua cobiça (Js
7.10-21).
3.2. Geazi
O discípulo de Eliseu ficou leproso pelo restante de sua vida
porque, acometido por forte cobiça, correu atrás do general
siro, Naamã — que fora curado de lepra por intermédio de Eliseu
—, para tomar os presentes que o profeta rejeitara (2 Rs 5).
O pesado veredito de Eliseu contra Geazi foi: a lepra de Na-
amã se apegará a ti e à tua semente para sempre (2 Rs 5.27a).
Geazi, então, saiu da presença do
profeta branco como a neve.
O dinheiro, inanimado, produto 3.3. Judas Iscariotes
das exigências mercantis, em
Em busca de amenizar a cul-
si, nunca será o problema;
pa de Judas, intérpretes veem em
todavia se este vier a possuir seu ato de traição uma tentativa
aquele que julga possuí-lo, aí, de predispor o Senhor Jesus a usar
sim, instaurar-se-á o domínio Seus poderes sobrenaturais con-
de Mamom (2 Pe 2.19); tra o domínio de Roma na Judeia,
nesse sentido, o mal reside uma vez que Judas, supostamen-
na relação que se estabelece te, pertencia ao grupo dos sicá-
com o objeto de troca; rios, caracterizado pelo naciona-
essa conexão, sim, poderá lismo.
arrebatar-nos a alma Entretanto, não é possível en-
contrar base para este argumen-
(GOMES, Geziel. Central
to nos Evangelhos. Ao contrário,
Gospel, 2014, p.78).
a narrativa de Mateus 26.14-16
destaca que Judas entregou o Sal-

72 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


vador por cobiça. Ele desejou o que os representantes da
religião oficial de Israel poderiam dar-lhe. Foi o amor ao di-
nheiro o responsável por fazer de Judas o maior traidor
da história.
3.4. Os fariseus
Certos líderes religiosos condicionam seus conceitos de
pecado àquilo que serve aos seus propósitos. Assim eram os
fariseus. Dominados pela cobiça, eles estavam prontos a co-
meter as maiores atrocidades. Jesus combateu-os de forma
veemente nos Evangelhos sinóticos, em especial no capítulo
23 de Mateus. No verso 16, Ele disse: Ai de vós, condutores
cegos! Pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso
nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor.
Insensatos e cegos! Pois, qual é maior: a oferta ou o altar, que
santifica a oferta? O problema dos fariseus é que eles preferiam
o ouro ao templo, a oferta ao altar, porque eram bens dos
quais desejavam apropriar-se.

4. COMO VENCER A COBIÇA


A cobiça procede do inferno e atende aos interesses
mais elevados do príncipe das trevas, cujo objetivo principal é
roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ela é o primeiro de todos os
pecados. A vontade de Deus é que Seus filhos vençam-na. Para
serem vitoriosos nesta luta, os remidos precisam lançar mão
— dentre outras — das ferramentas listadas nos subtópicos
seguintes.
4.1. Vigilância
Em Atos 20.29-31, Paulo alertou os anciãos de Éfeso quanto
aos líderes que — como lobos cruéis — não poupariam o reba-
nho e atrairiam os discípulos para si com palavras perversas.
A recomendação do apóstolo foi que vigiassem (v. 31). Eles
deveriam tomar todo o cuidado para edificar a Igreja sobre o
fundamento que ele diligentemen-
te estabelecera.
Jesus, antes de propor a pará-
bola do rico insensato, disse que Se o telhado for mal construído
deveríamos ter cautela e guardar- ou estiver em mau estado, a
-nos da avareza (cobiça excessiva chuva entrará na casa; assim,
e sórdida por qualquer coisa), por- a cobiça entrará com facilidade
que a vida de qualquer um não con-
siste na abundância do que possui na mente, se ela for mal
(Lc 12.15). treinada ou se estiver
Paulo fundava e edificava as fora de controle.
igrejas, com base nos ensinamentos

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 73


de Cristo. Um dos princípios estabelecidos pelo Mestre — e que
ele fez questão de repassar — foi: o cristão deve estar conten-
te com o que tem, e não deve condicionar a sua felicidade à
quantidade de bens materiais que possui (1 Tm 6.8; Lc 12.15).
4.2. Gratidão
Uma pessoa grata considera que o que ela tem, em Deus,
é muito maior do que o que ainda não possui. Ela sente-se
feliz por suas conquistas, pois entende que o mais importante
não são as coisas que granjeia, mas o modo como administra
e usufrui de tais posses. Ela é grata a Deus por sua família,
seu emprego, sua saúde, e pelo dom da vida, com o qual foi
graciosamente presenteada.
4.3. Confiança em Deus e apego à Sua Palavra
Paulo desafiou os anciãos de Éfeso a considerarem seus es-
forços sobre-humanos para pregar-lhes a Palavra e, assim, não
inverterem os seus valores (At 20.31,32). Eles deveriam olhar
para Deus com os olhos da confiança e da fé.
O estudo sistemático das Escrituras é uma grande proteção
contra os sentimentos mesquinhos que teimam em ingressar li-
vremente no coração do homem. O apóstolo, ciente deste fato,
também os recomendou à Palavra da Graça, porque somente
ela seria suficiente para — pela operação do Espírito Santo
nela e por meio dela — mantê-los firmes (At 20.32).

CONCLUSÃO
Há pessoas que evitam os pecados capazes de comprome-
ter suas reputações diante dos homens, mas consentem em um
procedimento diário de impiedade. Jesus disse que os fariseus
e escribas limpavam o exterior do copo e do prato, mas seu
interior permanecia cheio de ganância e cobiça (Mt 23.25,26
— NVI). Os fariseus eram vistos como pessoas aparentemen-
te normais; no entanto, seus corações eram um recôndito de
toda sorte de extorsão e excessos. Segundo o Mestre dos mes-
tres, limpar o exterior e manter sujo o interior não passa de
mera tolice.
Que Deus, em Seu infinito poder e sabedoria, ajude-nos a
viver uma vida pura e livre da cobiça, o terrível pecado que
assola a alma e a conduz pelas sendas do infortúnio e da afli-
ção (Fl 4.19).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, responda: o
que o homem deve fazer para vencer a cobiça?
R.: Manter a vigilância; ser grato; confiar em Deus e apegar-se
à Sua Palavra.

74 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 11

Aula dada em
DIA MÊS ANO
Medo,
a Moenda do Maligno
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 55.1-7,22
1 - Inclina, ó Deus, os teus ouvidos à minha oração e não te escondas da
minha súplica.
2 - Atende-me e ouve-me; lamento-me e rujo,
3 - por causa do clamor do inimigo e da opressão do ímpio; pois lançam
sobre mim iniquidade e com furor me aborrecem.
4 - O meu coração está dorido dentro de mim, e terrores de morte sobre
mim caíram.
5 - Temor e tremor me sobrevêm; e o horror me cobriu.
6 - Pelo que disse: Ah! Quem me dera asas como de pomba! Voaria e estaria
em descanso.
7 - Eis que fugiria para longe e pernoitaria no deserto.
22 - Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e ele te susterá; nunca permitirá
que o justo seja abalado.
Salmo 56.3,4,10-13
3 - No dia em que eu temer, hei de confiar em ti.
4 - Em Deus louvarei a sua palavra; em Deus pus a minha confiança e não
temerei; que me pode fazer a carne?
10 - Em Deus louvarei a sua palavra; no Senhor louvarei a sua palavra.
11 - Em Deus tenho posto a minha confiança; não temerei o que me possa
fazer o homem.
12 - Os teus votos estão sobre mim, ó Deus; eu te renderei ações de graças;
13 - pois tu livraste a minha alma da morte, como também os meus pés de
tropeçarem, para que eu ande diante de Deus na luz dos viventes.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 75


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O ESTUDO DIÁRIO
(...) Ele participou das
mesmas coisas, para que, 2ª feira – 2 Timóteo 1.3-7
Deus não nos deu o espírito de temor
pela morte, aniquilasse
o que tinha o império da 3ª feira – Isaías 41.1-10
Não temas, porque eu sou contigo
morte, isto é, o diabo,
4ª feira – Salmo 86.6-11
e livrasse todos os que,
Que eu tema apenas o Teu nome
com medo da morte,
5ª feira – Mateus 8.23-27
estavam por toda a vida Por que temeis, homens de pequena fé?
sujeitos à servidão.
6ª feira – Atos 23.12-33
Hebreus 2.14b,15 Conspiração contra Paulo
Sábado – 1 Samuel 17.4-11,23-25
O marketing do medo

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
compreender que o medo e a ansiedade são duas faces
de uma mesma moeda;
entender que o alicerce de todos os medos humanos está
na consciência do fato de que todos, invariavelmente, um
dia, morreremos;
saber que a certeza de vida eterna não rejeita a prudên-
cia e que devemos estar atentos ao poder paralisante do
marketing do medo.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
O medo caracteriza o ente humano. Na Escritura, fala-se de
pavor de coisas aparentemente insignificantes (Lv 26.36); te-
mor dos povos (Dt 2.25); medo de Deus (1 Cr 13.12); terror da
noite (Sl 91.5); medo do desconhecido (Ez 1.18); medo do fu-
turo (Lc 21.26); medo de pessoas (Jo 19.38) e de muitos outros
temores. Talvez por isto um dos imperativos mais repetidos no
texto bíblico seja: não temas (Dt 1.29; Js 1.9; Jr 1.8; 42.11; Lm
3.57; Zc 8.15; Mt 17.7; 14.27; 28.5; Mc 5.36; Lc 12.32).
Mas, afinal, por que sentimos medo? Até que ponto esta
emoção é positiva? Como saber se os temores que sentimos
já cruzaram as fronteiras daquilo que é considerado salutar
para a mente e o corpo? Como vencer o medo em nós? É o que
veremos nesta lição.
Boa aula!

76 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
De acordo com o Novo Dicionário Aurélio, o vocábulo medo
designa um sentimento de grande inquietação ante a noção
de um perigo real ou imaginário.
Para além das acepções linguís-
ticas, o medo é, antes de tudo, uma O medo é um estado de
sensação, diante da qual o organis- progressiva insegurança e
mo coloca-se em estado de alerta angústia, de impotência e
para enfrentar aquilo que acredita
ser uma ameaça. invalidez crescentes, ante a
Deste modo, pode-se afirmar impressão iminente de que
que o medo é uma emoção essen- sucederá algo que queríamos
cial à sobrevivência do homem (e evitar e que progressivamente
de animais superiores). O indiví- nos consideramos menos
duo destituído de qualquer temor capazes de fazer (Paulo
expõe-se a riscos, que podem ser Dalgalarrondo, psiquiatra).
fatais.

1. MEDO E ANSIEDADE:
DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA
São muitos e variados os tipos de medo: há os declarados
e os ocultos, os naturais e os sobrenaturais (crendices), os co-
muns e os inusitados. São tantos, que a tentativa de elencá-los
beira as raias do impossível.
O medo pode ser tanto objetivo (medo de altura ou de ani-
mais, por exemplo) quanto subjetivo (medo de não ser aceito
por outras pessoas, por exemplo). Há de se destacar, no en-
tanto, que, antes da sensação de medo, o indivíduo é tomado
pela ansiedade, ou por um sentimento de apreensão diante
do absolutamente desconhecido — Adão foi tomado pela an-
siedade quando ouviu os passos do Senhor (Gn 3.8), e, então,
temeu (Gn 3.10).

1.1. Sinais e sintomas


Em termos bioquímicos, entende-se por medo a sensação
desencadeada pela liberação de hormônios, tais como a adre-
nalina, cuja função é preparar o indivíduo para uma reação
rápida de fuga ou luta. Dentre as reações fisiológicas defla-
gradas pelo medo, citamos: empalidecimento da pele; contra-
ção muscular involuntária; aceleração dos batimentos cardía-
cos e ressecamento labial.
Quando o indivíduo é exposto a ansiedades intensas por
longos períodos, seu organismo tende a desenvolver um es-
tado de hipervigilância (mesmo que involuntariamente) em
relação àquilo que considera uma ameaça. Esse fenômeno, se

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 77


não interrompido, poderá desencadear perturbações emocio-
nais severas, com implicações profundas.

1.2. Medos patológicos (fobias)


Algumas vezes, o organismo responde de forma exagerada
ao medo. Quando isso acontece, o estado benéfico de alerta,
que cumpre a função de proteger a vida, transforma-se em
uma condição patológica, e o medo, então, transforma-se em
fobia.
Nas fobias, há uma antecipação dos processos cognitivos e
emocionais; assim, a relação que o indivíduo estabelece com
o mundo a sua volta fica comprometida. Nesses casos, o medo
é um fator limitante, pois não prepara a pessoa para fugir ou
lutar, mas paralisa-a, a fim de impedi-la de entrar em contato
com a fonte de sua tensão. Exemplos: glossofobia (medo de
falar em público); acrofobia (medo de altura); hemofobia (medo
de sangue); insetofobia (medo de insetos); nictofobia (horror à
escuridão); claustrofobia (medo de lugares fechados), dentre
outros.
De acordo com o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, pessoas
acometidas por este mal vivenciam, além da vergonha e da
angústia, diversas reações físicas, causadas pela exposição ao
objeto fobígeno.

1.3. Doenças caracterizadas pelo medo


De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais, quarta edição (DSM-IV), há uma série
de doenças caracterizadas pelo medo desmedido, tais como:
transtorno de estresse pós-traumático — ocorre quando o
indivíduo testemunha ou é vítima de atos violentos ou de
situações traumáticas, que representem ameaça à sua vida
ou à vida de terceiros;
anorexia, bulimia e vigorexia, dentre outros — transtornos
em que o medo está ligado às alterações no corpo;
síndrome do pânico — caracterizada por crises recorrentes
(e absolutamente imprevisíveis) de agonia ou desespero.
Vários princípios comportamentais estão envolvidos nessa
condição;
agorafobia — medo incontrolável de perder o controle fí-
sico ou emocional em locais onde não seja possível obter
ajuda facilmente, ou onde a ajuda seja inapropriada.

2. O MEDO NO TEXTO BÍBLICO


Biblicamente falando, em que se ancoram os medos huma-
nos? Mais uma vez, a resposta está no Éden. O Criador disse
a Adão que, caso comesse da árvore da ciência do bem e do
mal, ele certamente morreria (Gn 2.17) — Eva também estava

78 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


ciente dessa advertência (Gn 3.3). Deste modo, no dia em que
tomaram do fruto proibido, eles temeram a ação divina (Gn
3.10): o que viria a ser a morte, esse evento completamente
incógnito? Adão e Eva sabiam o que era viver, morrer, não.
Diante dessa realidade, é possível afirmar que o alicerce
de todos os medos humanos está na consciência do fato de
que todos, invariavelmente, um dia, morreremos.

2.1. O medo essencial de todos os homens no


decorrer das eras
Quando a expectativa de vida não passava de 30 anos,
talvez pudéssemos supor que seria mais fácil aceitar a mor-
te como um fato natural; contudo, no transcurso da História,
esse padrão de comportamento jamais se observou. A raça
humana interpreta a morte como o
elemento que se opõe à vida, desde
os tempos mais remotos.
Nos dias atuais, assim como no É fato: ninguém viverá
passado, a contagem regressiva, pacificado enquanto não
que se inicia no dia em que aden- resolver em si a fobia da
tramos este mundo, apavora todos morte, o elemento essencial
aqueles que ainda não compreende- que deflagra na raça humana
ram o plano salvífico (Jo 3.16); aque- todos os outros tipos
les que ainda não entenderam que
Cristo tornou inoperante a morte e de medo.
trouxe à luz a vida e a imortalidade
por meio do evangelho (2 Tm 1.10).

2.2. O homem diante da certeza da morte


Parece haver na raça humana um grito desesperado de
perda, que a faz existir sob o chicote do “eu tenho que”. Mui-
tas vezes essa angústia aparece na hiperatividade infantil;
outras tantas, nos perigos aos quais adolescentes e jovens
submetem-se cotidianamente, na tentativa de se autoafirma-
rem como os únicos seres capazes de desafiar o fim. Na idade
adulta, essa aflição aparece travestida de responsabilidades
neuróticas: é preciso casar, ter filhos, ganhar dinheiro, adqui-
rir confortos, construir uma reputação etc. Quando se che-
ga à maturidade, o relógio da vida, em uma toada de agonia
crescente, faz muitos repensarem os caminhos escolhidos.
Nesta fase, aparece o que se convencionou chamar de crise
da meia-idade; momento em que o indivíduo racionaliza: Que
fiz da minha vida até aqui? Dos objetivos e metas que tracei,
quais foram alcançados? Como só tenho uma vida, que em
breve acabará, “tenho que” completar o que não fiz ou mudar
a rota, antes que seja tarde.
Praticamente tudo o que o homem faz nesta vida advém
da consciência que ele tem da realidade da morte; suas atitu-

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 79


des são folhas de figueira, cosidas e
usadas, na tentativa de esconder (de
O medo de não ser aceito si e do Criador) o seu medo capital:
em determinado grupo social a morte (Gn 3.7,10).
revela o medo essencial de
todo ser humano: sozinho,
3. COMO LIDAR COM O
o indivíduo tem menos
MEDO?
chances de sobreviver.
Diante do que foi exposto até
aqui, bem faríamos se sinceramente
respondêssemos às seguintes ques-
tões: que emoção os assaltos, os estupros, os homicídios, os
cânceres, as guerras e os homens violentos suscitam em nós?
O que nos assusta? O que, de fato, nos apavora?
Depois de nos conscientizarmos de que o medo da morte
rege todos os demais temores, é preciso considerar alguns
pontos importantes. Vejamos a seguir.

3.1. A certeza de vida eterna não rejeita a prudência


Muitos cristãos sinceros, sabendo da necessidade de de-
positarem sua esperança em Deus e da importância de não se
deixarem dominar por coisas ou pessoas, têm sido extremistas
na defesa desse ideal. Fé, no entanto, não é sinônimo de impru-
dência. Não podemos nos recusar à precaução, à segurança ou
aos cuidados com a saúde. Vejamos alguns exemplos bíblicos.
Neemias atuava como governador em Jerusalém (Ne 5.14).
Ele era um homem de fé, que orava incessantemente e
confiava na ação divina (Ne 1.4). Certa vez, enquanto seus
inimigos preparavam-se para atacar a cidade, ele e o povo
colocaram uma guarda contra eles, de dia e de noite (Ne
4.9). Com Neemias aprendemos que devemos pedir a pro-
teção de Deus e, ao mesmo tempo, fazer o que a nós com-
pete: trancar portas e janelas.
Paulo pediu a ajuda de seu sobrinho e de um comandante
romano, quando descobriu que mais de quarenta judeus
tramavam uma conspiração para matá-lo. O comandan-
te ordenou que um destacamento de duzentos soldados,
setenta cavaleiros e duzentos lanceiros levassem o após-
tolo em segurança até o governador Félix (At 23.12-33).
Com Paulo aprendemos que devemos expor nossos medos
àqueles que podem nos ajudar a vencê-los.

3.2. Fique atento ao poder paralisante do


marketing do medo
Em nenhum tempo da história humana existiram tantas no-
tícias de desastres, guerras e violências de toda ordem — isso,
em parte, deve-se à comunicação facilitada na pós-moderni-

80 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


dade — antes do advento da imprensa e, nos últimos anos,
da internet, a maldade do homem dizimava povos inteiros e
sequer tínhamos conhecimento do fato.
Precisamos estar atentos: o grande capital alimenta-se de
todos os medos humanos. Nos dias atuais, percebe-se com
maior intensidade uma exploração do marketing do medo —
os grandes bancos e as seguradoras, por exemplo, vendem
proteção; a moda, aceitação; a indústria farmacêutica, saúde
e as mídias sociais, inclusão.
Quando nos virmos paralisados perante a imposição do
medo, lembremo-nos de Davi. Israelitas e filisteus sabiam da
má fama de Golias, e, devido a isto, ficaram atônitos e apavo-
rados (1 Sm 17.4-11,23-25). O homem segundo o coração de
Deus, no entanto, sabia que Aquele que o livrara das garras
do leão e das garras do urso também o livraria das mãos do
gigante filisteu (1 Sm 17.37).
O marketing do medo não deve roubar de nós a certeza de
quem dirige nossos passos.

CONCLUSÃO
O autor da Carta aos Hebreus disse que Jesus veio a este
mundo para aniquilar aquele que tinha o império da morte,
isto é, o diabo (Hb 2.14) e para libertar aqueles que durante
toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte (Hb
2.15 – NVI).
Só há um Senhor sobre a vida e a morte: Jesus — Ele é a
própria Vida (Jo 14.6) e Ele venceu a Morte (Ap 3.18). Satanás,
entretanto, opera neste mundo através da fobia que a inter-
rupção da existência na terra produz nos homens. O Livro de
Jó faz-nos saber que o Maligno jamais teve o poder de decidir
quem viverá ou morrerá (Jó 1.12), mas ele usa o medo da mor-
te, todos os dias, para manter os filhos de Adão escravizados.
O autor aos Hebreus anunciou que Jesus veio para desa-
possar o diabo desse poder (Hb 2.14,15). O Filho de Deus
veio para livrar-nos da angústia da morte e dar-nos a alegria
da eternidade.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com o que foi exposto nesta lição, há uma série
de doenças caracterizadas pelo medo desmedido. Cite ao
menos um exemplo.
R.: O aluno poderá citar: transtorno de estresse pós-traumá-
tico; anorexia; bulimia; vigorexia; síndrome do pânico e
agorafobia.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 81


Lição 12

Aula dada em
DIA MÊS ANO Ciúme,
o Cabo da Tormenta
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Números 5.11-15,29-31
11 - Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo:
12 - Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando a mulher de alguém se
desviar e prevaricar contra ele,
13 - de maneira que algum homem se houver deitado com ela, e for oculto
aos olhos de seu marido, e ela o tiver ocultado, havendo-se ela contami-
nado, e contra ela não houver testemunha, e no feito não for apanhada,
14 - e o espírito de ciúmes vier sobre ele, e de sua mulher tiver ciúmes, por
ela se haver contaminado, ou sobre ele vier o espírito de ciúmes, e de
sua mulher tiver ciúmes, não se havendo ela contaminado,
15 - então, aquele varão trará a sua mulher perante o sacerdote e juntamen-
te trará a sua oferta por ela: uma décima de efa de farinha de cevada,
sobre a qual não deitará azeite, nem sobre ela porá incenso, porquanto
é oferta de manjares de ciúmes, oferta memorativa, que traz a iniquida-
de em memória.
29 - Esta é a lei dos ciúmes, quando a mulher, em poder de seu marido, se
desviar e for contaminada;
30 - ou quando sobre o homem vier o espírito de ciúmes, e tiver ciúmes de
sua mulher, apresente a mulher perante o Senhor, e o sacerdote nela
execute toda esta lei.
31 - E o homem será livre da iniquidade, porém a mulher levará a sua
iniquidade.

82 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
Ou cuidais vós que em vão O ESTUDO DIÁRIO
diz a Escritura: O Espírito 2ª feira – Provérbios 6.32-34
que em nós habita tem Furioso é o ciúme do marido

ciúmes? 3ª feira – Ezequiel 8.3,5; 16.38,42


A imagem que provoca o ciúme de Deus
Tiago 4.5
4ª feira – Efésios 1.1-6
Criados para o louvor da Sua graça
5ª feira – 1 Coríntios 13.4-8
O amor não arde em ciúmes
6ª feira – Romanos 10.17-21
Eu vos meterei em ciúmes
Sábado – Romanos 12.1-3
Transformai-vos pela renovação da mente
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
compreender o significado do termo ciúme, distinguindo-
-o de inveja;
saber que, no texto bíblico, as expressões hebraicas e gre-
gas traduzidas por ciúme possuem diversos significados;
conhecer os principais tipos e as possíveis causas do ciú-
me patológico;
entender que é possível lidar com o ciúme.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
Como não raramente encontramos pessoas que têm difi-
culdade em fazer distinção entre ciúme e inveja, sugerimos
que, no início da aula, sejam feitas as devidas conceituações.
Embora sejam termos análogos e intercambiáveis, estamos
diante de dois fenômenos distintos:
ciúme — surge diante da falta de exclusividade ou de cuida-
dos da pessoa amada ou diante da percepção de que o rela-
cionamento está ameaçado pela interferência de um rival;
inveja — é a resposta negativa ao sucesso, atributos e apti-
dões de outrem. Esta emoção suscita no invejoso o desejo
de possuir as mesmas qualidades do invejado ou o desejo
de fazer com que o invejado seja subtraído daquilo que ele
(o invejoso) não possui.
A condessa Marie de Beausacq Diane (1829—1899) disse
que o ciúme é o germe do ódio no amor; mata-o às vezes, fere-
-o sempre. Quanto de verdade há nesta afirmação? Até que
ponto esta emoção é natural? Em que momento ela apresenta
traços patológicos? Como vencê-la em nós?
É o que veremos nesta lição.
Boa aula!

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 83


COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Ciúme dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos amigos, do côn-
juge, de um objeto ou animal. Quem nunca sentiu? Eis um
tema que, de modo geral, suscita grande discussão: alguns
acreditam que o ciúme é o termômetro do amor, pois, segun-
do estes, quem ama cuida; outros, entretanto, no extremo
oposto do debate, creem que essa emoção anda na contra-
mão do verdadeiro amor.
Nesta lição, à luz das Escrituras, considerando a opinião
de profissionais da área da psiquê humana, procuraremos
responder às seguintes questões: o que é ciúme? É normal
senti-lo? Se sim, até que ponto?

1. DEFINIÇÃO DO TERMO
O ciúme pode ser definido como um complexo de pen-
samentos, sentimentos e ações que costumam manifestar-se
em associação a várias outras emoções — que podem ou não
estar agrupadas umas às outras —, tais como: inveja, autoco-
miseração, culpa, baixa autoestima, raiva, tristeza, medo e/ou
ansiedade.
Essa manifestação geralmente acontece quando alguém
julga que seu relacionamento está sob ameaça. Alguns teó-
ricos defendem a ideia de que o ciúme nada mais é que um
mecanismo de defesa, cujo objetivo principal é proteger o re-
lacionamento e evitar a traição.
1.1. O ciúme no texto bíblico
No texto bíblico, os termos e expressões hebraicos [(qin’āṯî;
conf. Nm 25.11; Ez 8.5; 16.38,42; Sl 119.139); (qin’āh; conf.
Nm 5.14,30; Pv 6.34; 14.30; 27.4; Ct 8.6; Is 42.13; Zc 1.14;
8.2); (qənā’ōṯ; Nm 5.15,18); (ham maq neh; conf. Ez 8.3)] e
gregos [(phthonos; conf. Tg 4.5); (parazéloó; conf. Rm 10.19);
(zēlō; conf. 2 Co 11.2)] traduzidos por ciúme possuem diver-
sos significados, com conotações negativas e positivas, de-
pendendo do modo como foram utilizados.
Dentre os significados possíveis, citamos: não tolerar riva-
lidade; zelo; exigência de devoção exclusiva; ciúme e inveja.
1.2. A lei do ciúme
Em Números 5.11-31, encontramos as instruções dadas por
Deus a Moisés, relacionadas ao modo como deveriam ser tratados
os casos de suspeita de infidelidade no acampamento.
Para o mundo ocidental, o julgamento sobre a esposa infiel é
excepcionalmente severo; entretanto, é preciso considerar que,

84 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


no mundo antigo, a mulher era considerada propriedade do ma-
rido. De certo modo, a lei do ciúme protegia a mulher, pois o
divórcio poderia ser requerido simplesmente pela mera sus-
peita de infidelidade da esposa. Sem os limites impostos por
regras como esta, havia a possibilidade de a mulher até mes-
mo ser executada pelo marido ciumento, apenas por causa da
desconfiança de uma traição (RADMACHER; ALLEN; HOU-
SE. Central Gospel, 2010a, p. 271).
1.3. O ciúme de Deus
O Eterno é o único capaz de sentir ciúme da forma ade-
quada, pois Ele tem a intenção de manter Seu povo livre da
corrupção moral e espiritual. Ezequiel fala da imagem, que
provoca o ciúme de Deus (Ez 8.3); Tiago afirma que o Espírito
que em nós habita tem ciúmes (Tg 4.5).
O ciúme de Deus manifesta-se contra tudo aquilo que ten-
ta fazer morada no templo do Espírito (1 Co 3.16): somos Sua
casa; Ele nos escolheu para o louvor da Sua glória (Ef 1.4-6),
e Ele não a divide com ninguém (Is 42.8). Tudo o que milita
contra o Evangelho, em nós, provoca o ciúme de Deus.

2. TIPOS DE CIÚME
De modo geral, estudiosos da psiquê humana concor-
dam que, por ser uma manifestação universal, o ciúme seria
uma condição natural — todas (ou quase todas) as pessoas
já teriam sofrido deste mal, já teriam sido alvo dessa emoção
ou já teriam servido de pivô na evocação de tal sentimento.
Apesar de ser natural, caso esta se prolongue no tempo
ou aumente de intensidade, pode indicar que as fronteiras
da normalidade foram ultrapassadas. Neste tópico, analisare-
mos os tipos mais comuns de ciúme observados.
2.1. Normal
O ciúme é considerado normal quando se baseia em fatos,
ou seja, quando a pessoa amada dá motivos para o parceiro
ser tomado por tal emoção. Uma de suas características ele-
mentares é a transitoriedade — aparece e extingue-se sem
maiores intercorrências — e seu principal objetivo é a preser-
vação do relacionamento. Segundo Freud, o ciúme normal é
uma situação emocional que pode ser igualada ao luto, onde
é caracterizado por uma aflição causada pelo pensamento de
perder o elemento amado.

2.2. Neurótico
O ciumento neurótico entende os exageros da emoção que
alimenta, porém não consegue dominá-la. Nesse caso, ele
precisa assegurar-se compulsivamente de que não está sendo

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 85


traído, mesmo que não haja qualquer evidência ou qualquer
motivo para desconfiança. Dentro dessa categoria, enquadra-
-se o ciúme projetivo, no qual o ciumento acusa o parceiro de
fazer aquilo que ele (o ciumento) faria.
O ciúme neurótico é prejudicial, pois mantém aquele que
o nutre em um permanente estado de angústia, tensão, ins-
tabilidade, insegurança e fragilidade — o que o faz sentir-se
constantemente culpado.
Quando se fala em ciúme neurótico, a linha divisória entre
fantasias e certezas costuma ser bastante imprecisa. Muitas
vezes, o ciumento hipervaloriza situações, transformando-as
em verdadeiros delírios. Quando isso acontece, na tentativa
de comprovar ou extirpar a fixação da ideia, o ciumento é le-
vado à checagem compulsória de suas dúvidas, que, grande
parte das vezes, não ameniza o mal-estar da dúvida.

2.3. Paranoico (ou delirante)


O ciúme paranoico é considera-
do o mais grave de todos, pois atin-
Tanto o ciúme neurótico ge níveis insuportáveis de tensão
quanto o paranoico são interna, fazendo com que o indiví-
considerados patológicos duo ciumento fantasie uma possível
e ambos são igualmente traição. Quando isso acontece, ele
prejudiciais para o pode, inclusive, cometer insanida-
relacionamento conjugal. des contra seu parceiro (como ho-
micídio e ataques à sua integridade
física).

3. CAUSAS DO CIÚME PATOLÓGICO


O sociólogo e filósofo francês Roland Barthes, em seu
livro intitulado Fragmentos de um Discurso Amoroso, escre-
veu: Como ciumento, sofro quatro vezes: porque sou ciumen-
to, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme
machuque o outro, porque me deixo dominar por uma bana-
lidade. Sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco
e por ser comum.
Os agentes propulsores do ciúme são diversos, mas, de
modo geral, estão associados às motivações particulares da
pessoa ciumenta. Vejamos duas causas comuns.
3.1. Vivências traumáticas da primeira infância
De acordo com especialistas, quando excessiva e irracio-
nal, essa emoção pode ter sua origem marcada nas vivências
traumáticas da primeira infância — o estado que caracteriza
essa fase do desenvolvimento humano (primeira infância) é a
dependência (do bebê à mãe e da mãe ao bebê). Como não é
possível à criança garantir a presença contínua de sua geni-

86 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


tora ao seu lado, dependendo da severidade dessa vivência,
sintomas de ansiedade, perda ou abandono poderão ser in-
tensificados e projetados nos diversos tipos de relacionamen-
to que o indivíduo estabelece no decorrer da vida.
3.2. Condições tóxicas
As causas do ciúme patológico também podem estar associa-
das a condições tóxicas. Pessoas sob os efeitos de substâncias
psicoativas (como álcool ou drogas, por exemplo) podem apre-
sentar episódios de delírio e fantasiar situações inexistentes.

4. COMO LIDAR COM O CIÚME?


Muitas pessoas acreditam que
ciúme é prova de amor; porém, pre-
Se analisarmos mais
cisamos considerar as palavras de
Paulo, que diz: o amor não arde em detalhadamente o ciúme,
ciúmes (1 Co 13.4a – ARA). podemos perceber, logo de
O apóstolo sabia que aquele que início, que não se trata de um
ama com o amor de Deus não tem sentimento voltado para o
uma visão distorcida do zelo. O amor outro, mas sim voltado para
divino não é autocentrado, não si mesmo, para quem o sente
teme perder a exclusividade sobre
(Eduardo Ferreira Santos.
a pessoa amada, tampouco se apa-
vora com a ideia de ser excluído de Psiquiatra, psicoterapeuta e
qualquer relação. mestre em Psicologia Clínica).
Neste tópico, vejamos como li-
dar com o ciúme.
4.1. Ajuste sua autoimagem em Deus
Por mais paradoxal que possa parecer, de acordo com o
criminalista e professor de Direito Penal Roque de Brito Alves,
o ciúme é tanto uma manifestação de profundo complexo de
inferioridade quanto de um excessivo sentimento de amor-
-próprio. Segundo Alves, o ciumento não se sente apenas inca-
paz de manter o amor e o domínio sobre a pessoa amada, de
vencer ou de afastar qualquer possível rival, sobretudo, sente-
-se ferido ou humilhado em seu amor-próprio.
É fato: precisamos ajustar, em Deus, as projeções de nos-
sa autoimagem (como vimos na Lição 6): nossos complexos de
inferioridade e nossos excessos de amor-próprio precisam ser
subjugados ao olhar Daquele que é capaz de dizer quem, de
fato, somos (Rm 12.3).
4.2. Avalie a intensidade
Para determinar se o ciúme rompeu as barreiras da nor-
malidade, basta avaliar a intensidade e a duração da raiva di-
recionada àquilo ou àquele que evocou esta emoção em nós.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 87


É possível afirmar que um traço
crítico do ciúme patológico é o seu
O ciúme patológico costuma sentido de ampliação: o que antes
trazer sofrimento aos se restringia ao temor da traição
envolvidos. Deste modo, passa a pervagar, traiçoeiramen-
quando isso acontecer, te, outras áreas da personalidade
humana. Por exemplo: o ciumen-
possivelmente será necessária
to pode começar a incomodar-se
a intervenção psicoterapêutica, com o sucesso profissional de seu
pois, nesses casos, episódios parceiro e tentar minar suas con-
de delírio mórbido costumam quistas pessoais, a fim de torná-lo
cada vez mais dependente dele —
estar presentes.
nesse ponto, o ciúme alia-se a ou-
tra emoção negativa: a inveja.

CONCLUSÃO
Ao contrário do que muitos pensam, ciúme não é sinal de
amor, mas de narcisismo. Quem alimenta esta emoção revela,
na realidade, medo de perder o monopólio de outrem.
A maneira mais eficaz de prevenirmos (e combatermos) o
ciúme é por meio do reconhecimento do fato de que somos
seres únicos, igualmente amados por Deus. Quando somos
tomados por essa consciência, transcendemos ao temor de
sermos substituídos por quaisquer rivais.
Quando entendemos que Deus nos ama do jeito que somos,
a comparação, a competição e o medo de sermos substituídos
diminuem e, assim, ficamos menos vulneráveis a esta emoção.

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. De acordo com a lição de hoje, quais são os tipos de ciúme
observados?
R.: Normal; neurótico e paranoico (ou delirante).

GLOSSÁRIO
Narcisismo — Designa o estado do narcisista, ou seja, da pessoa
que exagera sua importância e espera ser reconhecida à altura.
O narcisista vive fantasias de sucesso, poder e inteligência, sem
limites.

88 Lições da Palavra de Deus PROFESSOR 48


Lição 13

Aula dada em
DIA MÊS ANO Inveja, a Senda
da Autodestruição
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Salmo 73.1-10,12-14,16-18,24
1 - Verdadeiramente, bom é Deus para com Israel, para com os limpos de
coração.
2 - Quanto a mim, os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para
que escorregassem os meus passos.
3 - Pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios.
4 - Porque não há apertos na sua morte, mas firme está a sua força.
5 - Não se acham em trabalhos como outra gente, nem são afligidos como
outros homens.
6 - Pelo que a soberba os cerca como um colar; vestem-se de violência como
de um adorno.
7 - Os olhos deles estão inchados de gordura; superabundam as imagina-
ções do seu coração.
8 - São corrompidos e tratam maliciosamente de opressão; falam arrogan-
temente.
9 - Erguem a sua boca contra os céus, e a sua língua percorre a terra.
10 - Pelo que o seu povo volta aqui, e águas de copo cheio se lhes espremem.
12 - Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e se
lhes aumentam as riquezas.
13 - Na verdade que em vão tenho purificado o meu coração e lavado as
minhas mãos na inocência.
14 - Pois todo o dia tenho sido afligido e castigado cada manhã.
16 - Quando pensava em compreender isto, fiquei sobremodo perturbado;
17 - até que entrei no santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles.
18 - Certamente, tu os puseste em lugares escorregadios; tu os lanças em
destruição.
24 - Guiar-me-ás com o teu conselho e, depois, me receberás em glória.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 89


TEXTO ÁUREO SUBSÍDIOS PARA
O coração com saúde O ESTUDO DIÁRIO
é a vida da carne, mas 2ª feira – Gênesis 4.1-11
a inveja é a podridão A inveja de Caim

dos ossos. (...) Cruel é 3ª feira – Gênesis 29.31—30.1


A inveja de Raquel
o furor e a impetuosa
ira, mas quem parará 4ª feira – Gênesis 37.1-28
A inveja dos irmãos de José
perante
5ª feira – 1 Samuel 18.1-11
a inveja?
A inveja de Saul
Provérbios 14.30; 27.4 6ª feira – Números 12.1-10
A inveja de Miriã
Sábado – 1 Tessalonicenses 5.12-22
Em tudo dai graças

OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
compreender o significado e as causas da inveja;
conhecer algumas consequências desta emoção, referida
pelo Sábio como a podridão dos ossos;
saber que a gratidão é o meio mais eficaz de vencê-la.

ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor,
O primeiro tema abordado nesta revista foi orgulho, a emo-
ção que nos faz olhar para o outro de cima para baixo; nesta
última lição, discorreremos sobre a inveja, a emoção que nos
faz olhar para o outro de baixo para cima.
No decorrer da aula, tenha em mente os seguintes pontos:
algumas pessoas, emocionalmente frágeis, experimentam
a inveja de forma quase patológica, enquanto outras pas-
sam quase toda a vida sem senti-la;
é mais fácil encontrar quem diga sentir-se inferior a alguém
do que encontrar quem afirme sentir inveja de outra pes-
soa. Isso porque o sentimento de inferioridade é passivo
— teoricamente, quem se sente inferior não pretende tirar
nada de ninguém —, enquanto que a inveja é ativa, ou seja,
quem a sente fará o possível para limar o invejado (declara-
da ou veladamente).
Se possível, antes de dar início à aula, retome as principais
abordagens das lições anteriores, a fim de verificar o aprendi-
zado dos alunos.
Boa aula!

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COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Especialistas afirmam que ninguém está imune à emoção
menos nobre evocada pelo homem: a inveja. Mas, por que nem
sempre é fácil conviver com o sucesso alheio? O que motiva a
inveja? Quais as suas consequências? Como vencê-la em nós?
Estas e outras perguntas serão respondidas no decorrer
desta lição, considerando as opiniões de profissionais da psi-
quê humana e, sobretudo, as orientações bíblicas relativas
ao tema.

1. INVEJA, A PODRIDÃO DOS OSSOS


O verbo invejar [(hb. qin-’aṯ-; conf. Ec 4.4) e (gr. phthonon;
conf. Mc 15.10)], no latim, é composto por duas partículas (in
+ videre = invidere), que, juntas, remetem à ideia de projetar
sobre outrem um olhar maldoso.
Trata-se de um sentimento de desprazer e de pesar mo-
tivado pelo êxito de outrem, que pode vir acompanhado de
ciúme, indignação, ódio ou desdém e de murmuração ou ma-
ledicência (Pv 14.30).
Quando um indivíduo hipervaloriza o outro e subvaloriza a si
mesmo, pode ser tentado a promover um esvaziamento desse
outro — denegrindo sua imagem e diminuindo-o aos seus pró-
prios olhos (e/ou aos olhos dos demais) —, a ­fim de que ambos
­fiquem do mesmo tamanho.
Alguns estudos revelam que
esta emoção é mais comumente
observada entre os pares, ou seja,
Para a Psicologia, a inveja
irmãos invejam irmãos; mães in- consiste no deslocamento
vejam mães; amigos invejam ami- da energia do potencial de
gos; cunhados invejam cunhados determinado indivíduo para a
e profissionais invejam profissio- exacerbada preocupação com
nais. Muito dificilmente um artista a satisfação e prazer de outra
plástico invejará um astrofísico ou pessoa, geralmente íntima
um adulto invejará uma criança. E
isto acontece basicamente por dois
do sujeito em questão.
motivos: (1) a proximidade facilita
as comparações, tornando-as mais
frequentes; (2) os pares partilham
cosmovisões; assim, as diferenças podem representar uma
ameaça para os que se sentem em débito diante de determi-
nada situação.

1.1. Causas não estruturais


Estudiosos da psiquê humana garantem: a inveja dói e dá
prazer. Dói porque é acompanhada da sensação de injustiça,

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 91


e dá prazer porque o invejoso sente-se recompensado quando
presencia a derrota do invejado.
Pelo fato de a inveja ser uma emoção primitiva e pouco ela-
borada, quando somos acometidos por ela, inconscientemen-
te comparamos situações, dentre as quais saímos perdendo.
É importante considerar o fato de que a inveja é um sin-
toma, cujas raízes são nutridas por outros males que afligem
a alma, dentre os quais destacamos a baixa autoestima e o
narcisismo.
1.2. Causas estruturais
Neurocientistas afirmam que indivíduos com graves falhas
ou lesões nos lobos frontais do cérebro — regiões responsá-
veis por discernir regras e por codificar os limites de respeito
ao próximo — são os mais propensos ao sentimento de inveja.
Em alguns casos, o quadro pode evoluir para a depressão clí-
nica ou para a sociopatia (neste último, o invejoso não apenas
quer o que é do outro, mas deseja ser exatamente o que o outro
é, podendo, inclusive, envidar ações concretas no sentido de
prejudicar o invejado).

1.3. Diferença entre inveja e


É preciso estabelecer a ambição legítima
diferença entre ambição O indivíduo tomado pela inveja
legítima e ambição ilegítima não deseja apenas ter o que a ou-
(ganância): enquanto a tra pessoa tem ou ser o que a outra
pessoa é; ele quer mais; ele espera
ambição legítima deseja que o invejado não tenha o que tem
mais para repartir, e não seja o que é.
a ilegítima deseja mais A ambição legítima, em contra-
para si, exclusivamente. partida, é movida pelo olhar da ad-
miração, que enxerga no outro uma
fonte de inspiração. Que mal haveria
em querermos ser mais generosos?
Em desejarmos ter mais discernimento? Em almejarmos obter
mais conhecimento? Em ansiarmos ser mais parecidos com Je-
sus?

2. A INVEJA NO TEXTO BÍBLICO


As ações de todo cristão precisam ser balizadas pela
maior de todas as virtudes, o amor (Jo 13.35); e desejar o
fracasso ou a desgraça de outrem é um ato de desamor.
Deste modo, é possível afirmar que a inveja é um pecado
essencial, porque nos desassemelha de Deus, afasta-nos do
coração do Pai e separa-nos do nosso próximo.

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2.1. Personagens bíblicos e a inveja
É possível afirmar que a inveja não apela para os nossos
pontos fracos, mas, sim, para os fortes. Quando analisamos de-
tidamente a Escritura, somos tomados pela compreensão de
que alguns personagens bíblicos julgaram que poderiam ter
(ou ser) aquilo que, em tese, estava ao alcance de suas mãos,
mas, como não foram eles os escolhidos por Deus para deter-
minado fim, invejaram seus pares.
O primeiro fratricídio de que se tem notícia na História foi
motivado pela inveja (Gn 4.1-11). Em vez de olhar para Abel
como fonte de inspiração, Caim tirou-lhe a vida, como se este
ato pudesse anular o fato de Deus ter atentado para a oferta
de seu irmão e ter rejeitado a dele.
Deparamo-nos também com Raquel (até então estéril), que
invejou sua irmã, Leia, por ela ter dado filhos a seu marido,
Jacó (Gn 30.1). Lemos ainda a história de José (Gn 37.1-28),
que foi vendido como escravo por seus invejosos irmãos (Gn
3.11), porque Jacó amava-o mais do que a todos os seus filhos
(Gn 37.3). E, como último exemplo, citamos Saul, um monarca
entronizado que, por inveja, tentou matar um menino que tinha
um coração de rei (1 Sm 18.1-11).

2.2. O lastro da inveja


Tomás de Aquino disse que a inveja caracteriza-se por uma
tristeza do bem alheio enquanto se considera como mal pró-
prio, porque diminui a própria glória ou excelência. É inevitá-
vel, a inveja traz consigo duras consequências. Vejamos al-
guns exemplos nos subtópicos seguintes.
2.2.1. A inveja faz-nos viver à sombra da existência
Há grande tristeza na inveja; ela sombreja os horizontes
e impede-nos de enxergar o bem que, cotidianamente, rece-
bemos das mãos de Deus. Quando tomados por essa emoção,
lamentamos a falta, em vez de celebrar as inúmeras dádivas
imerecidas; somos consumidos pela admiração do outro e dei-
xamos de enxergar nesse outro uma fonte de divina inspiração.
2.2.2. A inveja retira de nós a capacidade de admirar o belo
Na tentativa de subtrair do invejado seus atributos e qua-
lidades, o invejoso vai perdendo a capacidade de apreciar a
beleza, a bondade, a dignidade e a honradez. Pouco a pouco,
os que se deixam dominar por esta emoção tornam-se especia-
listas na arte de depreciar.
2.2.3. A inveja ignora o fato de que Deus tem os Seus
próprios mistérios
Os que são acometidos pela inveja acreditam que são capa-
zes de descobrir o segredo de Deus — ou o truque da vida —

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 93


para terem o que não têm ou para
serem o que não são; basta, para
O indivíduo que se deixa isto, esforçarem-se o suficiente.
dominar pela inveja não Tolo engano.
consegue conviver com Cada ser humano que o Criador
aquele que tem mais ou chama à existência traz consigo um
com aquele que é mais do Seu mistério: somos o que somos
que ele. E, por ser assim, e temos o que temos pela permis-
prefere levar o invejado são divina: Jó era o homem mais
rico do Oriente (Jó 1.3,8); o Filho
ao deserto, e morrer na do Homem, no entanto, não tinha
sequidão, a libertá-lo onde reclinar a cabeça (Mt 8.20).
para a felicidade. O maior dos reis de Israel tinha boa
aparência (1 Sm 17.42 – ARA); o Rei
dos reis, todavia, não tinha parecer
nem formosura (Is 53.2). Não há ra-
zão para lutarmos contra os desígnios do Eterno; afinal, quem
compreendeu os Seus intentos? Quem foi o Seu conselheiro
(Rm 11.34)?
2.2.4. A inveja distorce o real sentido do sucesso
No Salmo 73, lemos a história de um justo que quase se
desviou porque invejou o soberbo e a prosperidade do ímpio (v.
2,3). O salmista, em outras palavras, disse: eu sou justo, temo a
Deus e obedeço a Ele, mas estou sofrendo. O ímpio escarnece
e zomba, mas não sofre aflições e suas riquezas aumentam dia
a dia (Sl 73.3-14).
No início deste Salmo, Asafe revela-nos que os seus olhos
haviam sido confundidos pela inveja (Sl 73.3); ele já não con-
seguia compreender o real sentido da palavra sucesso. No
meio do cântico, entretanto, ele entende que não há moti-
vo para desejar trilhar os terrenos escorregadios dos ímpios,
pois o Senhor os faria cair em ruína (Sl 73.18).
Asafe completa o Salmo cônscio de que o verdadeiro suces-
so consiste em descansar na certeza de que Deus é a força do
nosso coração e a nossa herança para sempre (Sl 73.26).
2.2.5. A inveja reduz-nos ao cinismo
Sejamos honestos diante de Deus: quantas vezes já não
nos alegramos, intimamente, com os insucessos daqueles a
quem invejamos? Há certa felicidade, inconfessável, na des-
graça daqueles a quem julgamos melhores ou superiores a
nós. A inveja mediocriza, pois ela não aceita o fato de que
Deus também vive no outro.
2.2.6. A inveja faz de nós homicidas potenciais
Se a inveja não nos faz desferir golpes mortais con-
tra nosso irmão (Gn 4.8), não nos faz jogar alguém que
tem o nosso sangue em um poço (Gn 37.24), nem nos faz

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atirar lanças contra aqueles que são mais hábeis que nós (1
Sm 18.10,11), ela (a inveja) pode fazer-nos matar aqueles a
quem invejamos com calúnias, difamações e depreciações.
Quando a inveja se apodera de nós, nossas palavras po-
dem transformar-se em flechas mortais (Jr 9.8a; Sl 64.3).
2.3. Como lidar com a inveja
A inveja revela-se no desejo não declarado que o invejoso
tem de querer ensinar Deus a ser Deus. Muitos pensam (mas
não revelam) que o onisciente Senhor equivocou-se em dar a
alguém algo que não deu a eles. Os que se deixam levar por
essa emoção, inconscientemente, acreditam que ter o que o
outro tem ou ser o outro é, torná-los-á pessoas melhores.
Todos esses pensamentos e ações fazem escoar a energia
de vida, porque os esforços que deveriam ser empreendidos
na construção dos sonhos são destinados à desconstrução
de alguém. Apesar de não existirem meios capazes de fazer
o homem não sentir inveja — afinal, somos todos filhos de
Adão, ávidos por satisfazer a vontade da nossa carne (Ef 2.3)
—, existe um meio eficaz de fazer com que esta emoção não
se apodere de nossos pensamentos e intenções: gratidão a
Deus pelo que se tem e é (1 Ts 5.18).
Saber quem se é, em Deus, e ser grato por isso é a chave para
afastar a inveja da alma.

CONCLUSÃO
O ser humano está sujeito a todo tipo de emoção negativa
(Rm 3.23), e a inveja é uma delas. Contudo, nós, cristãos, por
intermédio do Espírito Santo, podemos identificá-las (Jo 16.8)
e vencê-las (Jo 16.33).
Quando nos dispusermos a conhecer a verdade, ou seja,
a identificar tais emoções em nós, libertaremos nosso ser de
todas as cadeias emocionais que insistem em nos prender (Jo
8.32).

ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO


1. Considerando o conteúdo desta lição, cite algumas conse-
quências da inveja.
R.: A inveja faz-nos viver à sombra da existência; retira de nós
a capacidade de admirar o belo; ignora o fato de que Deus
tem os Seus próprios mistérios; distorce o real sentido do
sucesso; reduz-nos ao cinismo e faz de nós homicidas po-
tenciais.

Sentimentos que aprisionam a alma — Uma abordagem teológica 95


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