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AUTORES:
BALTAZAR RODRIGUES

Procurador do Estado do Rio de Janeiro - PGE/RJ. Sócio do escritório


Fontana, Maurell, Gaio e Rodrigues Advogados. Mestre em Direito
Processual pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. Ex-
Diretor Jurídico do Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de
Janeiro (Rioprevidência - 2013/2014). Aprovado nos seguintes concursos:
PGE/RJ (15º lugar - 2010); Advogado do BNDES (65º lugar - 2009).

RODRIGO DUARTE

Advogado da União. Ex-Oficial de Justiça e Avaliador Federal no TRF da 2ª


Região; Ex-Técnico Administrativo do Ministério Público da União (MPU) e
Ex-Técnico de Atividade Judiciária no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
(TJRJ); Aprovado e nomeado no concurso de Analista Processual do
Ministério Público do Rio de Janeiro (MPE/RJ).

MIGUEL BLAJCHMAN (Organizador)

Advogado. Fundador do site Questões Discursivas. Ex-Analista de


Planejamento e Orçamento da Secretaria Municipal da Fazenda do Rio de
Janeiro (SMF/RJ). Aprovado nos seguintes concursos: Analista de Controle
Externo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ).
Analista e Técnico do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
(MPE/RJ) e Advogado da Dataprev.

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ÍNDICE

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 ANALISTA – PREF. DE JAÚ/RO – 2019 – IBADE


 PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PI – 2019 - CEBRASPE
 JUIZ DE DIREITO – TJPR – 2019 - CESBRASPE
 OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA - ABIN - 2018 - CEBRASPE
 TRIBUNAIS DE CONTAS - TCM-BA - 2018 – CESPE
 MAGISTRATURA ESTADUAL - TJMS - 2015 - VUNESP
 ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA – TRT15 – 2018 - FCC
 PROCURADOR – PGM/SÃO LUIS-MA – 2016 - FCC - 2016
 ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁRIA - TRF3 - 2014 - FCC
 ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO – TCE/GO – 2014 - FCC
 ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCE/MG – 2007 - FCC
 ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT17 - 2013 – CESPE
 JUIZ DE DIREITO – TJDFT – 2016 - CESPE
 JUIZ DE DIREITO – TJPB – 2011 – CESPE
 JUIZ DE DIREITO – TJES – 2012 - CESPE
 DEFENSOR FEDERAL – DPU – 2017 – CESPE
 JUIZ FEDERAL – TRF3 – 2016 – BANCA PRÓPRIA

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ANALISTA – PREF. DE JAÚ/RO – 2019 – IBADE

Determinado agente público, ocupante de cargo em comissão e agindo conforme suas


atribuições, ao contratar uma Empresa “x” (de propriedade de seu cunhado) para
realizar serviços de reforma e manutenção no órgão público. Tal contratação é
realizada sem licitação. Sendo assim, promove contratação direta com a Empresa de
seu interesse pessoal e com valores bem acima do que é praticado no mercado.
Posteriormente constatou-se que essa contratação ocasionou prejuízo ao Erário
público e tendo sido verificado enriquecimento ilícito do agente. O Ministério Público
Federal ingressou com ação de improbidade administrativa contra o referido agente
público. A partir dessa situação hipotética, redija um texto dissertativo acerca de
improbidade administrativa. Em seu texto, responda, necessariamente, os seguintes
questionamentos: Questão 1 1) Esse agente público cometeu ato de improbidade
administrativa? Descreva o que se entende por improbidade administrativa e o que ela
ofende? 2) Quais as três espécies básicas de improbidade administrativa que foram
praticadas nesse exemplo pelo agente público? 3) Tanto o cunhado (proprietário da
Empresa) como o agente público de cargo em comissão, pode ser réu em ação de
improbidade administrativa, quais os tipos de sanções aplicadas e o Ministério Público
tem legitimidade para a propositura de ação contra eles? O candidato deverá utilizar o
mínimo de 25 e o máximo de 30 linhas para desenvolver o tema proposto.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É notório que o agente cometeu um ato de improbidade administrativa, fica


caracterizada a desonestidade por parte dele ao contratar a Empresa de seu cunhado
sem o devido processo de licitação.

Dessa maneira, a improbidade administrativa, regida pela Lei n° 8.429/92,


compreende os atos “praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao
patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido
ou concorra com mais de cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual”
(artigo 1°).

A citada lei se constitui em importante instrumento de combate à corrupção


administrativa, regulamentando o disposto no art. 37, § 4º, da Constituição da
República.

Há razoável consenso no sentido que se deve considerar ato de improbidade


aquele que, em termos jurídico-constitucionais, signifique desonestidade no trato com
a coisa pública.

Não há improbidade sem desonestidade. Sendo assim, o ato de improbidade


administrativa ofende os interesses e bens da administração pública. Assim, as três
espécies básicas de improbidade administrativa que foram praticadas pelo exemplo

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citado são o enriquecimento ilícito (art.9), a lesão ao erário (art.10) e a violação de


princípios da administração.

Nesse contexto, verifica-se que o réu da ação de improbidade pode ser qualquer
agente público, servidor ou não, exercendo, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades da
Administração direta ou indireta.

Ainda, responde por ato de improbidade àquele que, mesmo não sendo agente
público, como o empresário citado no exemplo (cunhado do agente público) induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma
direta ou indireta.

Por fim, as sanções aplicadas são desde multa, perda do cargo, suspensão
direitos políticos, proibição de contratar com Poder Público e investigação pelo
Ministério Público o qual tem legitimidade ad causam para a propositura de Ação Civil
Pública objetivando o ressarcimento de danos ao erário, decorrentes de atos de
improbidade. Referida legitimidade não exclui a do ente público que tenha sofrido
prejuízo com a prática do ato ilegal.

PROMOTOR DE JUSTIÇA – MPE/PI – 2019 - CESPE

Redija um texto dissertativo a respeito de elemento subjetivo e objetivo no âmbito da


prática de atos de improbidade administrativa. Em seu texto, aborde, de modo
justificado, os seguintes aspectos: 1 viabilidade da aplicação dos elementos subjetivos
— dolo e culpa — em relação a cada uma das três tipologias legais de atos de
improbidade administrativa: atos que importam enriquecimento ilícito, atos que
causam prejuízo ao erário e atos que atentam contra os princípios da administração
pública; [valor: 1,00 ponto] 2 possibilidade de responsabilização objetiva pela prática
de atos de improbidade administrativa; [valor: 0,30 ponto] 3 necessidade de
comprovação da ocorrência de dolo específico para os atos de improbidade
administrativa praticados na modalidade dolosa. [valor: 0,60 ponto]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa dispõe sobre os atos que


causam prejuízo ao erário, estatuindo expressamente a possiblidade de
responsabilização dolosa ou culposa. Em relação às demais tipologias admitidas pela
lei, previstas nos tipos dos arts. 9 e 11 da referida lei, quais sejam, atos que importam
enriquecimento ilícito e atos que atentam contra os princípios da administração
pública, não há previsão expressa quanto ao elemento subjetivo.

Como a responsabilização por culpa deve ser excepcional e expressamente


prevista pelo legislador, para a configuração das tipologias previstas nos arts. 9 e 11 da
referida lei, exige-se necessariamente o dolo do agente, não sendo admitida a culpa,
por ausência de disposição legal. Nesse sentido: “a reprovabilidade da conduta

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somente pode ser imputada àquele que a praticou voluntariamente, almejando o


resultado lesivo, enquanto a punição do descuido pressupõe expressa previsão legal”
(Emerson Garcia. Improbidade Administrativa. 8.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 435-
6), o que ocorre apenas no caso do art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa. Esse
também é o entendimento dominante no STJ que, em inúmeros julgados, manifestou-
se no sentido de que, para que seja reconhecida a tipificação da conduta do réu como
incursa nas prescrições da Lei de Improbidade Administrativa, é necessária a
demonstração do elemento subjetivo dolo para os tipos previstos nos arts. 9 e 11, e ao
menos culpa, nas hipóteses do art. 10 da Lei de Improbidade Administrativa. (A
respeito, vide: AgInt no Resp 1616365/PE, Dje de 30/10/2018; AgInt no REsp
1696763/SP, DJe 28/11/2018; REsp 1708269/SP, DJe 27/11/2018).

Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário: dolo ou culpa

Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito: dolo

Atos de improbidade que atentam contra os princípios da administração


pública: dolo

Na responsabilização objetiva, não se faz necessária a demonstração de


elemento subjetivo do agente, sendo suficiente o vínculo objetivo entre a conduta e o
resultado lesivo. A responsabilidade objetiva é excepcional e somente é admissível em
hipóteses previstas expressamente no ordenamento jurídico, o que não ocorre em
relação aos atos de improbidade administrativa. Dessa forma, não se admite a
responsabilização objetiva em razão da prática de ato de improbidade administrativa,
por ausência de previsão legal, de forma que “o mero vínculo objetivo entre a conduta
do agente e o resultado ilícito não é passível de configurar improbidade” (E. GARCIA e
R. P. ALVES. Improbidade administrativa. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p.
282-3.).

De acordo com a recente jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, para a


configuração dos atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios
da Administração Pública (art. 11 da Lei nº 8.429/92), é necessária a presença do dolo
genérico, não se exigindo dolo específico nem prova de prejuízo ao erário ou de
enriquecimento ilícito do agente (AgRg nos EDcl no AgRg no REsp 1. 066.824/PA, Rel.
Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe 18/9/2013; REsp 951.389/SC, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJe 4/5/2011) (AgInt no AResp 838141MT,
DJe 3/12/2018). Quanto aos demais atos de improbidade previstos nos art. 9º e 10,
verifica-se existir uma divergência doutrinária e jurisprudencial sobre a matéria,
quanto à necessidade da demonstração do dolo específico (STJ, REsp 1.193.248-MG,
Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/4/2014).

Para os atos de improbidade que exigem a comprovação do dolo, não é


necessária a demonstração de dolo específico do agente, ou seja, uma finalidade
especial do agir, bastando o dolo genérico, consistente na vontade livre e consciente
de praticar o ato de improbidade administrativa. Esse também é o posicionamento
dominante na jurisprudência do STJ.

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JUIZ DE DIREITO – TJPR – 2019 - CESBRASPE

Redija um texto acerca de atos de improbidade administrativa, atendendo ao que se


pede a seguir. 1 Discorra a respeito da responsabilidade pessoal dos agentes públicos,
de acordo com a legislação pertinente e com o entendimento do STJ. 2 Disserte, com
fundamento em dispositivo legal pertinente, sobre os processos de tomada de contas
e o ressarcimento de verbas públicas sem caráter punitivo. 3 Esclareça se a mudança
na orientação geral de órgão de maior hierarquia pode ser considerada para a aferição
da validade jurídica de prática administrativa ocorrida em momento anterior e já
plenamente constituída; e cite princípio jurídico e dispositivo de lei aplicáveis.

- SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A responsabilidade dos agentes públicos pela prática de atos de improbidade é


pessoal e subjetiva, exigindo‐se o dolo nas condutas dispostas nos arts. 9°, 10‐A e 11 da
LIA, e ao menos a culpa naquelas estatuídas no art. 10 (0,0 a 0,2).

Conforme previsto no art. 28 da LINDB, os agentes públicos também respondem


pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas, em caso de dolo ou erro
grosseiro.

Esses processos de tomada de contas instaurados por órgão de controle externo


(arts. 70, par. único e 71, inc. II, da CF), visam a apuração de
irregularidades/ilegalidades praticadas por agentes públicos que resultem prejuízo ao
erário.

Constatado e quantificado o efetivo dano, cabe a determinação de


ressarcimento das verbas públicas, não a título punitivo, mas sim
reparatório/compensatório, como ocorre na cominação de ressarcimento integral do
dano por ato de improbidade administrativa.

Mudança na orientação geral de órgão de maior hierarquia NÃO pode ser


considerada para a aferição da validade jurídica de prática administrativa ocorrida em
momento anterior e já plenamente constituída, ante o princípio da segurança jurídica e
o expressamente disposto no art. 24 da LINDB.

OFICIAL TÉCNICO DE INTELIGÊNCIA - ABIN - 2018 - CESPE

Sem ser concursado, Carlos ocupou por dois anos cargo público de diretor, tendo,
nesse período, realizado a contratação de emergência de empresa de segurança
patrimonial, sob o argumento de que o processo licitatório não teria se encerrado.
Durante processo administrativo disciplinar, constatou-se que Carlos ficou com o
processo em seu poder por um ano injustificadamente, o que provocou o atraso na
conclusão da licitação. O Ministério Público, então, ajuizou ação de improbidade
administrativa contra Carlos, tendo requerido a indisponibilidade de seus bens,

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inclusive de valores em aplicações financeiras provenientes de verbas trabalhistas.


Devidamente citado, Carlos apresentou defesa alegando que seu ato não havia gerado
qualquer prejuízo ao erário e, por isso, não configurava improbidade. Considerando as
informações apresentadas, redija um texto dissertativo respondendo, de forma
fundamentada, aos seguintes questionamentos. 1 - Os atos de improbidade
administrativa configuram ilícito de natureza penal, administrativa ou civil? [valor:
20,00 pontos] 2 - Carlos pode ser réu na ação de improbidade mesmo não sendo mais
ocupante de nenhum cargo público? [valor: 20,00 pontos] 3 - É necessária a
comprovação do dano ao erário para a configuração de ato de improbidade? [valor:
23,50 pontos] 4 - Deve ser deferido o pedido para a indisponibilidade dos valores em
aplicação financeira proveniente de verbas trabalhistas? [valor: 22,00 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

É entendimento pacificado que os atos de improbidade administrativa


configuram ilícito civil, já que independem da responsabilidade criminal e aplicam-se
mesmo em caso de extinção da ação penal ou a absolvição do réu.

A doutrina aponta que a natureza das medidas previstas na CRFB indica que a
improbidade administrativa, embora possa ter consequências na esfera criminal, com a
concomitante instauração de processo criminal (se for o caso) e na esfera
administrativa (com a perda da função pública e a instauração de processo
administrativo concomitante), caracteriza um ilícito de natureza civil e política, porque
pode implicar a suspensão dos direitos políticos, a indisponibilidade dos bens e o
ressarcimento dos danos causados ao erário.

Nos termos da Lei nº 8.429/92, pode ser sujeito passivo qualquer agente
público, servidor ou não. A lei de improbidade administrativa considera como sujeitos
ativos o agente público e o terceiro que, mesmo não sendo agente público, induza ou
concorra para a prática do ato de improbidade, ou dele se beneficie sob qualquer
forma direta ou indireta.

Não há necessidade da comprovação do dano, pois o ato de improbidade pode


ser enquadrado em quatro modalidades: a) os que importam enriquecimento ilícito; os
que causam prejuízo ao erário; os que decorrem de concessão ou aplicação indevida de
benefício financeiro ou tributário; e os que atentam contra os princípios da
administração pública.

No que tange à penhorabilidade dos valores aplicados em função do


recebimento de verba trabalhista, a jurisprudência entende que a aplicação financeira
das verbas trabalhistas não implica a perda da natureza salarial destas, uma vez que o
seu uso pelo empregado ou trabalhador é uma defesa contra a inflação e os
infortúnios. Somado a isso, a medida de indisponibilidade de bens deve recair sobre a
totalidade do patrimônio do acusado, excluídos aqueles tidos como impenhoráveis.

TRIBUNAIS DE CONTAS - TCM-BA - 2018 – CESPE

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Um agente público autorizou a realização de convênio com o objetivo de incentivar o


turismo no estado da Bahia. Após a implementação do convênio, verificou-se que o ato
havia gerado prejuízo de R$ 200.000 aos cofres públicos locais. Em razão disso, foi
ajuizada ação civil pública fundamentada em ato de improbidade administrativa e
instaurada tomada de contas administrativa para apurar irregularidades e o débito. Em
ambos os procedimentos, observadas as peculiaridades do caso, sustentou-se que
houve enriquecimento ilícito do agente e dano ao erário. Na defesa apresentada na
esfera judicial, o requerido informou que, ao contrário do que foi narrado na petição
inicial, não ocorreu o dano ao erário, o que afastaria, consequentemente, a imputação
de enriquecimento ilícito. Quanto à tomada de contas administrativa, em defesa, o
agente alegou que já havia ocorrido a condenação judicial na ação de improbidade,
razão pela qual estaria configurado o bis in idem caso se estabelecesse nova
condenação de ressarcimento ao erário no procedimento do TCM/BA. Com base na
situação hipotética apresentada, redija, de modo fundamentado, um texto dissertativo
acerca das alegações apresentadas pelo agente público nas esferas judicial e
administrativa. Ao elaborar o seu texto, aborde os seguintes aspectos: 1 - possibilidade
de condenação judicial do agente público por ato de improbidade que gerou
enriquecimento ilícito, mesmo que tivesse sido comprovada a inexistência de dano ao
erário, bem como a relação desses atos de improbidade com o dolo e a culpa; [valor:
4,50 pontos] 2 - viabilidade da alegação do agente público quanto à ocorrência de bis
in idem; [valor: 2,50 pontos] 3 - procedimento a ser adotado pelo agente público na
hipótese de condenação à reparação de danos tanto na via administrativa quanto na
judicial. [valor: 2,50 pontos]

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Impende salientar que o ato de improbidade que importar enriquecimento


ilícito, ainda que não cause dano ao erário (art. 10 da Lei nº 8.429/1992), permite a
condenação por ato de improbidade que resulte em enriquecimento ilícito, à luz do art.
9º da Lei nº 8.429/92.

O caput do art. 9º acima citado dispõe que constitui ato de improbidade


administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no art. 1º da LIA. Em seguida, há um rol de
possíveis atitudes que ensejem enriquecimento ilícito.

Registre-se, ainda, que o art. 10 da LIA cuida das hipóteses de atos que causam
prejuízo ao erário e permite a punição pela ótica da culpa. De acordo com a
jurisprudência do STJ, ainda que não haja dano ao erário, é possível a condenação por
ato de improbidade administrativa que importe enriquecimento ilícito (art. 9.º da Lei nº
8.429/92), excluindo-se, contudo, a possibilidade de aplicação da pena de
ressarcimento ao erário. Isso porque, comprovada a ilegalidade na conduta do agente,
bem como a presença do dolo indispensável à configuração do ato de improbidade
administrativa, a ausência de dano ao patrimônio público exclui tão-somente a
possibilidade de condenação na pena de ressarcimento ao erário.

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Assim, os arts. 9º e 11 da LIA só podem incidir na modalidade dolosa, ao passo


que o art. 10 incide também na modalidade culposa. Logo, a condenação ao
ressarcimento ao erário independe de conduta dolosa (a ação ou omissão, nesse caso,
pode ser dolosa ou culposa) diversamente do que ocorre com a conduta que gera
enriquecimento ilícito, cuja configuração depende de dolo.

Frise-se que não configura bis in idem a coexistência de título executivo


extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública de
improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se referem ao
mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

Conforme sedimentada jurisprudência do STJ, nos casos em que fica


demonstrada a existência de prejuízo ao erário, a sanção de ressarcimento, prevista no
art. 12 da Lei nº 8.429/92, é imperiosa, constituindo consequência necessária do
reconhecimento da improbidade administrativa. Ademais, as instâncias judicial e
administrativa não se confundem, razão pela qual a fiscalização do TCU não inibe a
propositura da ação civil pública. Assim, é possível a formação de dois títulos
executivos, devendo ser observada a devida dedução do valor da obrigação que
primeiramente foi executada no momento da execução do título remanescente.

Por fim, entendido que não há bis in idem na “dupla condenação” do agente
público em ressarcimento ao erário, a resposta ao terceiro ponto é bastante singela.
Com isso, o recolhimento do débito em um ou outro processo serve para comprovação
de quitação no segundo. Em síntese, ainda que haja simultâneas condenações em
esferas diferentes (judicial e administrativa), o pagamento do débito ocorre somente
uma vez, cabendo ao agente público tão somente comprovar o pagamento
anteriormente feito.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

A condenação em débito independe da ocorrência de conduta dolosa ou de


locupletamento, bastando para tanto a constatação de conduta culposa (stricto sensu)
dos responsáveis pela irregularidade que ocasionou o dano ao erário. (TCU – Acórdão
2367/2015 – Plenário)

DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSIBILIDADE DE DUPLA CONDENAÇÃO AO


RESSARCIMENTO AO ERÁRIO PELO MESMO FATO. Não configura bis in idem a
coexistência de título executivo extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença
condenatória em ação civil pública de improbidade administrativa que determinam o
ressarcimento ao erário e se referem ao mesmo fato, desde que seja observada a
dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada no momento da
execução do título remanescente. Conforme sedimentada jurisprudência do STJ, nos
casos em que fica demonstrada a existência de prejuízo ao erário, a sanção de
ressarcimento, prevista no art. 12 da Lei n.º 8.429/1992, é imperiosa, constituindo
consequência necessária do reconhecimento da improbidade administrativa (AgRg no
AREsp 606.352–SP, Segunda Turma, DJe 10/2/2016; REsp 1.376.481–RN, Segunda
Turma, DJe 22/10/2015). Ademais, as instâncias judicial e administrativa não se

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confundem, razão pela qual a fiscalização do TCU não inibe a propositura da ação civil
pública. Assim, é possível a formação de dois títulos executivos, devendo ser
observada a devida dedução do valor da obrigação que primeiramente foi executada
no momento da execução do título remanescente. Precedente citado do STJ: REsp
1.135.858–TO, Segunda Turma, DJe 5/10/2009. Precedente citado do STF: MS 26.969–
DF, Primeira Turma, DJe 12/12/2014. REsp 1.413.674–SE, Rel. Ministro Olindo
Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1.ª Região), Rel. para o acórdão Ministro
Benedito Gonçalves, julgado em 17/5/2016, DJe 31/5/2016

A existência de processos no Poder Judiciário e no TCU com idêntico objeto não


caracteriza repetição de sanção sobre mesmo fato (bis in idem) nem litispendência. No
ordenamento jurídico brasileiro vigora o princípio da independência das instâncias, em
razão do qual podem ocorrer condenações simultâneas nas diferentes esferas
jurídicas. O recolhimento do débito, em um ou outro processo, serve para
comprovação de quitação e sana a dívida. (TCU – Acórdão 115/2018, Rel. Ana Arraes,
sessão de 23/1/2018)

A condenação ao ressarcimento do dano ao erário por mais de uma instância não


afronta o princípio do non bis in idem, devendo o pagamento da quantia necessária à
reparação integral ocorrer somente uma vez. (TCU – Acórdão 6839/2017 – Primeira
Câmara)

MAGISTRATURA ESTADUAL - TJMS - 2015 - VUNESP

Ação Civil Pública de responsabilidade por ato de improbidade administrativa contra


Prefeito do Município “X” e servidor que ocupava a função de Presidente da Comissão
da Licitação do Município “X”, aponta a ocorrência de contratação, com fraude no
processo de licitação e favorecimento, para a locação de um caminhão, com
ilegalidade e lesividade para o Erário. Verifica-se, no entanto, no curso da instrução,
que o preço praticado na locação está compatível com os preços praticados pelo
mercado e que o serviço foi efetivamente prestado. Nesse caso, ao sentenciar,
reconhecendo a ocorrência de ato de improbidade, deve o juiz aplicar aos requeridos
todas as penas previstas no art. 12, inciso II, da Lei Federal no 8.429/92,
cumulativamente?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Apesar de a Lei nº 8.429/92 prever várias sanções no art. 12 (ressarcimento


integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos,
pagamento de multa civil e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário), entende o STJ que a pena
de ressarcimento de danos pode ser aplicada isoladamente, caso seja suficiente e
proporcional ao ato de improbidade praticado.

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A doutrina também entende que, por conta de o caput do art. 12 da Lei nº


8.429/92, mencionar que as sanções são cabíveis isolada ou cumulativamente, desde
que haja razoabilidade e proporcionalidade, a sanção de ressarcimento pode ser
aplicada isoladamente.

No caso em tela, verifica-se que muito embora tenha havido uma fraude à
licitação, como o preço pago era compatível com o preço praticado pelo mercado e a
prestação do serviço efetivamente ocorreu, o potencial lesivo da conduta é menor, bem
como menos graves os fatos, sendo possível, nesse caso, pela incidência dos princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade, a aplicação de apenas algumas das penas
previstas no art. 12, II, da Lei nº 8.429/92.

ANALISTA JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA – TRT15 – FCC - 2018

ESTUDO DE CASO - Heitor é funcionário de uma sociedade de economia mista


prestadora de serviço público de saneamento, responsável pelas autorizações para
ligação à rede pública de novas instalações pertencentes a empreendedores privados.
Suas decisões são emitidas em processos administrativos iniciados pelos
requerimentos dos interessados e instruídos com pareceres e vistorias técnicas. Foi
apurado, após denúncia anônima, que Heitor recebeu gratificações por autorizações
concedidas a empreendimentos irregulares. Com base nessas informações, responda
fundamentadamente: a. Considerando a relação funcional e a conduta de Heitor, em
qual(is) esfera(s) e sob qual(is) fundamento(s) ele pode ser responsabilizado? b. Os
empreendedores privados podem sofrer responsabilização de mesma natureza que
Heitor? c. A autorização concedida por Heitor nos autos dos processos administrativos
pode ser anulada, revogada ou convalidada? Em que termos e limites?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O indivíduo citado no enunciado não é funcionário de empresa estatal,


sociedade de economia mista. Muito embora não seja um servidor público no sentido
estrito da palavra (pois não apresenta vínculo efetivo com o Estado, mas celetista), é
certo que ele pode ser responsabilizado em diversas esferas.

Em primeiro lugar, pode ser civilmente responsabilizado pelo Estado ou pelos


demais sócios da empresa caso seja comprovado que a fraude impactou a imagem ou
o valor de mercado da empresa.

Além disso, atos de improbidade são aptos a provocar a rescisão do contrato de


trabalho, em virtude do disposto no art. 482, “a”, da CLT. Por se tratar de funcionário
de empresa estatal, é necessário que a demissão seja precedida de procedimento
administrativo em que seja assegurada a ampla defesa e o contraditório. Por outro
lado, ainda que a Administração Pública entenda que a demissão não deve ser
aplicada, poderá o funcionário sofrer outra penalidade (como a suspensão ou a
advertência).

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Ademais, a Lei nº 8.429/92 dispõe sobre os chamados atos de improbidade


administrativa, que podem ser imputados a empregados públicos, uma vez que seus
arts. 1º e 2º expressamente declaram que os destinatários da lei são agentes públicos
lato sensu, servidores ou não. Por sua vez, o art. 9º, I, da aludida norma determina que
é ato de improbidade receber qualquer vantagem ou gratificação indevida em razão do
cargo.

Por fim, criminalmente o funcionário poderá responder pelo crime de corrupção


passiva, previsto no art. 317 do CP. Ali encontra-se tipificada a conduta de aceitar ou
pedir vantagem indevida para realizar ato que viola dever funcional. Lembre-se que o
art. 327 inclui os empregados públicos no conceito de “funcionário público”, o que
reforça a possibilidade de Heitor ser denunciado pelos crimes contra a Administração
Pública, ali previstos.

Os empreendedores privados também podem sofrer sanções, ainda que de


naturezas distintas das de Heitor. Administrativamente podem ser alvo de decisão que
culmine no embargo dos empreendimentos, caso ainda não finalizados.

Ademais, o art. 3º da Lei de Improbidade Administrativa determina que mesmo


aqueles que não são agentes públicos poderão ser processados, desde que concorram
para o ato ou dele se beneficiem de qualquer maneira. Somado a isso, o Código Penal
prevê o crime de corrupção ativa, em seu art. 333, cuja conduta é oferecer ou prometer
vantagem indevida a funcionário público para realizar ato ilegal ou retardar ato de
ofício.

As autorizações concedidas por Heitor poderão ter diversos fins: a) serão


anuladas quando eivadas de vício de legalidade insanável, em virtude do poder dever
de autotutela; b) serão revogadas quando, a critério da Administração, não se
enquadrarem em critérios de conveniência e oportunidade; e c) serão convalidadas
quando, a despeito de vícios existentes, puderem ser aproveitadas para atingir fim
legítimo.

No caso em tela, muito embora as autorizações apresentem desvio de


finalidade (o que seria suficiente para anulá-las), o enunciado menciona a existência de
parecer técnico anterior à decisão administrativa. Assim, sendo a autorização em tela
um ato vinculado, é bastante intuitivo que nos casos em que o parecer técnico tenha
sido favorável é possível convalidar a autorização concedida, sob pena de ser menos
eficiente para a Administração. Nos demais casos, não se vislumbra outra
consequência além da anulação dos atos, que não poderão ser revogados porque o
desvio de finalidade é vício do ato que não se enquadra em meros critérios de
conveniência e oportunidade.

PROCURADOR – PGM/SÃO LUIS-MA – FCC - 2016

ESTUDO DE CASO - Foi ajuizada ação civil pública questionando a instalação de Distrito
Industrial voltado à tecnologia em grande área de extensão de titularidade de

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

determinado município. Aduz o autor da ação que a disponibilização da área a


iniciativa privada configuraria favorecimento e, como tal, poderia inclusive configurar
ato de improbidade dos responsáveis pela outorga de uso. A - analise e justifique, sob
a ótica do município, a legalidade e adequação da política pública de disponibilização
da área a iniciativa privada. B - indique, ainda, justificadamente, se a forma de escolha
das indústrias para serem contempladas com parcela da área impactada a legalidade
do projeto, analisando, inclusive, a imputação de improbidade feita aos agentes
públicos do município fundamente a resposta sobre o prisma constitucional e legal
pertinente. (Elabore sua resposta definitiva em até 30 linhas).

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

No tocante ao item “a”, restou caracterizada a modalidade de intervenção


estatal no domínio econômico por meio da atuação indireta (fomento). Aludida forma
de intervenção depende de uma série de medidas para se concretizar de forma eficaz,
isto é, para fazer com que agentes privados respondam aos estímulos estatais.

O enunciado demonstra que para que o fomento seja eficaz, deve haver, por
exemplo, adequação dele mediante prévio trabalho de identificação do possível setor a
ser beneficiado (e se esses benefícios são plausíveis para efeitos de atração). Além
disso, no fomento deve ser perquirido quais as necessidades prementes para que,
consoante o enunciado, agentes privados de alta tecnologia possam se instalar e usar
eficazmente a grande extensão de área.

Portanto, é plenamente justificável e possível a destinação de área para a


finalidade proposta, identificado o interesse público no fomento do setor.

Em relação ao item “b”, por conta dos princípios da moralidade e da


impessoalidade, revela-se obrigatório o emprego de isonomia e impessoalidade no
critério de escolha dentre os abrangidos pelo universo da política pública, que deve ser
objeto de justificativa técnica da Administração (por meio de licitação, por exemplo).

Isso é importante pelo fato de que uma ofensa à isonomia e à impessoalidade


pode ensejar favorecimento e configurar ato de improbidade, ou seja, se não for
hipótese de dispensa ou de inexigibilidade de licitação, o desatendimento dela pode
configurar ato de improbidade. Porém, é preciso perquirir um eventual dolo, a
depender do tipo legal imputado ao administrador, para fins de identificação do tipo
de ato de improbidade aderente à fundamentação, com indicação dos requisitos de
configuração.

ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA JUDICIÁRIA - TRF3 - 2014 - FCC

ESTUDO DE CASO - Ricardo, servidor público ocupante de cargo efetivo em Tribunal


Federal, utilizou veículo pertencente ao Tribunal para fins estranhos ao serviço,
retirando-o, sem a devida autorização da garagem do edifício no qual funciona o
Tribunal, para realizar, no final de semana, viagem ao litoral. Carlos, amigo de Ricardo,
conduziu o veículo e transportou, além de Ricardo, mais quatro passageiros, cobrando

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

dos mesmos R$ 50,00 (cinquenta reais) pelo traslado. Carlos conhecia a procedência
do veículo. Saulo, chefe imediato de Ricardo, sabia do ocorrido e não adotou qualquer
medida para impedir que Ricardo utilizasse o veículo oficial em proveito próprio e
tampouco comunicou ao Diretor da repartição. Considerando as disposições da Lei nº
8.112/90, que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, bem
como a Lei no 8.429/92, que estabelece as sanções aplicáveis aos atos de improbidade
administrativa, responda, fundamentadamente, às seguintes indagações: a.A que
penalidade Ricardo está sujeito? Quem é a autoridade competente para aplicação da
pena e quais são as fases do correspondente processo disciplinar? Qual o prazo
prescricional da correspondente ação disciplinar? Esse prazo é passível de
interrupção? Em caso positivo, em que hipótese(s)? b. Ricardo se sujeita, mesmo na
hipótese de condenação na esfera administrativa, às sanções previstas na Lei de
Improbidade Administrativa? Quais seriam essas sanções? Carlos, que não é servidor
público, também está sujeito às referidas sanções? É determinante, para fins de
configuração da(s) conduta(s) como ato de improbidade, a comprovação do dano ao
patrimônio público? c. Saulo também pode responder por ato de improbidade?
Admite-se que conduta omissiva seja configurada como ato de improbidade?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A Lei nº 8.112/90, conhecida como estatuto dos servidores públicos federais,


elenca as penalidades que podem ser aplicadas a tais pessoas em caso de
descumprimento dos deveres institucionais: advertência; suspensão; demissão;
cassação de aposentadoria ou disponibilidade; destituição de cargo em comissão; e
destituição de função comissionada.

Deve ser ressaltado que a exoneração não se constitui em penalidade, ainda


que se refira a um cargo em comissão. Isso é uma característica do cargo em comissão,
ou seja, ele é de livre nomeação e livre exoneração.

Diante do narrado no enunciado da questão, Ricardo enquadrou-se na previsão


legal de transgressão às normas proibitivas da Lei nº 8.112/90 (art. 132, XIII; e 117,
XVI), especificamente na modalidade de utilizar pessoal ou recursos materiais da
repartição em serviços ou atividades particulares.

Assim, Ricardo estará sujeito à pena de demissão e a autoridade competente


para aplicá-la é o presidente do tribunal ao qual esteja vinculado, com base no art.
141, I, da Lei nº 8.112/90.

O prazo prescricional da ação disciplinar é de cinco anos. Ressalte-se que ele


pode ser interrompido mediante a abertura de sindicância ou instauração de processo
administrativo disciplinar. As fases do processo administrativo disciplinar englobam a
instauração, inquérito administrativo (instrução, defesa e relatório) e julgamento.

No que tange às sanções de improbidade administrativa, Ricardo está sujeito a


elas, ante o fato de serem independentes das punições penais, civis e administrativas,
conforme art. 12 da Lei nº 8.429/92. No caso de Ricardo, ele incorreu nos atos de

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

improbidade que importam enriquecimento ilícito, pois auferiu vantagem patrimonial


indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade.

Carlos, mesmo não sendo servidor, está sujeito às sanções da Lei de


Improbidade Administrativa, com base no art. 3º dessa norma. Esse artigo menciona
que as disposições da Lei nº 8.429/92 são aplicáveis, no que couber, a quem não for
agente público, bastando concorrer ou induzir para a prática do ato de improbidade ou
dele se beneficiar.

Em relação à ocorrência de dano, a sanção independe da efetiva ocorrência de


dano, salvo no tocante à pena de ressarcimento.

Acerca de Saulo, importante frisar que a omissão também pode configurar ato
de improbidade, com base no art. 10 da Lei nº 8.429/92.

GABARITO DA BANCA EXAMINADORA:

A Prova Estudo de Caso destinar-se-á a avaliar o domínio de conteúdo dos temas


abordados, a experiência prévia do candidato e sua adequabilidade quanto às
atribuições do cargo e especialidade. A Prova Estudo de Caso terá caráter eliminatório
e classificatório. Cada uma das questões será avaliada na escala de 0 (zero) a 100
(cem) pontos, considerando-se habilitado o candidato que tiver obtido, no conjunto das
duas questões, média igual ou superior a 60 (sessenta). a.De acordo com o artigo 132,
XIII c/c artigo 117, XVI, a pena é de demissão. A autoridade competente para a
aplicação da pena é o Presidente do Tribunal (art. 141, I) e as fases do processo
disciplinar são: instauração, com a publicação do ato que instituir a comissão; inquérito
administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; e julgamento (art. 151).
O prazo prescricional é de 05 (cinco) anos, podendo ser interrompido com a abertura
de sindicância ou instauração de processo disciplinar, até a decisão final proferida por
autoridade competente (art. 142, I e § 3º). b.Sim, pois as sanções são independentes,
conforme artigo 12. As sanções passíveis de serem aplicadas a Ricardo são aquelas
previstas no artigo 12, I, da Lei no 8.429/92, quais sejam, perda de bens ou valores
acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver,
perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 8 (oito) a 10 (dez) anos,
pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e
proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 05 (cinco) anos. Sim, pois, de acordo com o
disposto no art. 3º, as disposições da referida Lei são aplicáveis, no que couber, àquele
que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta. Não, pois,
conforme disposto no artigo 21, I, a aplicação das sanções previstas na referida Lei
independe da efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena
de ressarcimento. c. Sim, a conduta praticada por Saulo encontra-se prevista no artigo
10, II, da Lei de Improbidade Administrativa e admite-se conduta omissiva, pois de
acordo com o aludido dispositivo legal, constitui ato de improbidade qualquer ação ou

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

omissão que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou


dilapidação dos bens ou haveres da Administração.

ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO – TCE/GO – FCC - 2014

ESTUDO DE CASO - Caíque, servidor público do Tribunal de Contas do Estado de Goiás,


deixou de prestar contas quando estava obrigado a fazê-lo, razão pela qual foi
processado e condenado pela prática de ato de improbidade administrativa, prevista
no artigo 11, da lei 8429/1992, qual seja ato que atenta contra os princípios da
administração pública. Na mencionada demanda restou demonstrado que o servidor,
embora tenha praticado ato ímprobo, não lesionou patrimônio público, tampouco
enriqueceu-se ilicitamente em decorrência do ato. Assim, às sanções impostas foram:
perda da função pública, suspensão dos direitos políticos por cinco anos e multa civil
de cem vezes o valor da remuneração percebida por Caíque. Após de trânsito em
julgado da condenação e, já na fase de execução da sentença, o servidor veio a falecer.
A propósito do tema, responda os itens fundamentadamente: a- os sucessores de
Caíque estão sujeitos a cominações a eles impostas, devidamente previstas na lei 8429
de 1992? b- as cominações aplicadas a Caíque, poderiam ser efetivado antes mesmo
do trânsito em julgado da condenação? c- quais as funções previstas na lei de
improbidade administrativa para o agente ímprobo, na hipótese do cometimento do
ato improbidade previsto no artigo 11 (atentatório aos princípios da administração
pública)? d- o ato ímprobo praticado por Caíque prescinde da demonstração do
elemento subjetivo dolo?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

No que tange ao item “a”, os sucessores de Caíque não estão sujeitos às


cominações a ele imposta. Isto porque os sucessores do agente ímprobo apenas
responderão (até o limite do valor da herança), se o ato for causador de lesão ao
patrimônio público ou enriquecimento ilícito (art. 8º da Lei nº 8.429/92), o que inexistiu
na hipótese.

Acerca do item “b”, apenas a multa poderia ser executada provisoriamente, isto
é, antes do trânsito em julgado da sentença. As demais sanções exigem a ocorrência do
trânsito para sua efetivação, conforme preceitua o art. 20 da Lei nº 8.429/92.

Em relação ao item “c”, na hipótese do artigo 11, as cominações possíveis de


serem aplicadas são: ressarcimento integral do dano, se houver; perda da função
pública; suspensão dos direitos políticos de 3 a 5 anos; pagamento de multa civil de até
100 vezes o valor da remuneração percebida pelo agente; e proibição de contratar com
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios , direto ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de 3 anos.

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Por fim, acerca do item “d”, a resposta é negativa. Isto porque os atos de
improbidade previstos no art. 11 da Lei nº 8.429/92 exigem a ocorrência de conduta
dolosa para sua configuração.

ANALISTA DE CONTROLE EXTERNO - TCE/MG - FCC - 2007

ESTUDO DE CASO - Determinado servidor público, agindo dentro de suas atribuições,


dispensa a realização de licitação para a contratação de serviços de limpeza, alegando,
para tanto, ardilosamente, motivo falso. Com isso, promove a contratação direta de
empresa da qual sua esposa é sócia majoritária, para a prestação dos mesmos serviços
a preço superior ao de mercado. Por sua vez, a autoridade superior, agindo
negligentemente, deixa de perceber a ilicitude e homologa a dispensa de licitação.
Explique e discuta a sujeição de ambos os agentes públicos aos dispositivos da lei de
improbidade administrativa, mencionando as hipóteses em que, em tese, possam
estar incursos.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Nas contratações da Administração Pública, a regra é a realização de prévia


licitação. Os casos de dispensa e inexigibilidade são exceções e exigem justificada
fundamentada do gestor público.

Configura-se ato de improbidade administrativa frustrar a licitude de licitação e


dispensá-la indevidamente, inclusive no caso de concorrer para que terceiro se
enriqueça ilicitamente. O ato causou prejuízo ao erário e também violou os princípios
da Administração Pública, compreendida nesse tópico a lesão à legalidade, à
impessoalidade, à imparcialidade e à moralidade administrativa.

Aplicam-se também as sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa


à autoridade superior que deixou de perceber a ilicitude e homologou a dispensa de
licitação, pois como presume que causou lesão ao erário, o ilícito é cabível na forma
culposa.

Segundo a Constituição Federal, os atos de improbidade administrativa


importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas
em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

ANALISTA JUDICIÁRIO - TRT17 - 2013 – CESPE

Suponha que advogados de uma banca de advocacia tenham dado gratificações a


oficial de justiça em face de cumprimento preferencial de mandados judiciais
referentes a processos que envolviam algunsde seus clientes. Tais valores eram pagos
após o efetivo cumprimento dos mandados.Em face dessa situação hipotética,
responda, à luz do entendimento do STJ, se o pagamento de valores indevidos por

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

particulares a oficiaisde justiça para o cumprimento preferencial de mandados enseja


ato de improbidade administrativa [valor: 7,00 pontos], explicitando, de acordo com o
STF, a natureza jurídica do ilícito de improbidade [valor: 6,00 pontos]. Indique ainda,
de modo fundamentado, o poderda administração pública resultante do ato praticado
pelo respectivo oficial [valor: 6,00 pontos].

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela


estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e
publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos, conforme determina o artigo 4º,
da Lei de Improbidade Administrativa (Lei nº8.429∕92).

Nesse tocante, é de se registrar que o citado diploma legal considera agente


público todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por
eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura
ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função na Administração Direita, Indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de
cinquenta por cento do patrimônio ou da receita anual.

Assim, todo agente público que violar os deveres acima referidos incorre na
prática de ato de improbidade administrativa, que, segundo pacífica jurisprudência do
STF e do STJ, configura uma ilegalidade tipificada e qualificada pelo elemento subjetivo
da conduta, de modo que a mesma não se identifica com qualquer ato ilícito.

Além disso, merece registro que os atos de improbidade administrativa são


ilícitos de caráter cível, o que gerou o entendimento pacificado, no âmbito STF, de que
ação de improbidade administrativa possui natureza civil e, portanto, não atrai a
competência por prerrogativa de função.

Convém destacar que existem três espécies de atos de improbidade


administrativa no direito brasileiro: a) atos que importam enriquecimento ilícito (artigo
9º); b) atos que causam prejuízo ao erário (artigo 10); c) atos que atentam contra os
princípios da Administração Pública (artigo 11).

Conclui-se que o caso em análise amolda-se perfeitamente ao tipo do art. 9º, I,


que diz configurar ato de improbidade administrativa receber, para si ou para outrem,
dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou
indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha
interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão
decorrente das atribuições do agente público.

Por fim, não se pode olvidar que a configuração do fato como ato de
improbidade administrativa não impede que a Administração Pública exerça, por conta
própria ou mediante provocação, o poder disciplinar com vistas a aplicar a penalidade

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

devida (no caso, demissão) aos servidores corruptos. Essa é a exegese que se extrai do
art. 12, caputc∕c art. 14, §§1º e 3º, da Lei nº8.429∕92.

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. OFICIAL DE JUSTIÇA.SUPOSTO


DEPÓSITO FEITO POR ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. INEXISTÊNCIA DEVIOLAÇÃO DO
ART. 535 DO CPC. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7 DOSTJ. 1. Inexiste a
alegada violação do art. 535 do CPC, pois a prestaçãojurisdicional foi dada na medida
da pretensão deduzida, conforme sedepreende da análise do acórdão recorrido. 2.
Com efeito, uma simples leitura do voto dos embargosdeclaratórios demonstra que,
ao contrário do alegado, a Corte a quoanalisou os documentos acostados aos autos e
apenas reiterou suaconclusão no acórdão dos embargos de declaração. 3. No mérito,
as questões suscitadas pelo recorrente, de que ficoucaracterizado o depósito de R$
300,00 (trezentos reais) na conta doservidor, partem de argumentos de natureza
eminentemente fática,assim como, da análise das razões do acórdão recorrido,
conclui-se que este decidiu a partir de argumentos que demandam reexame do acervo
probatório, ao aduzir que o autor não comprovou o recebimento da vantagem
indevida pelo servidor.Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no Ag: 1394133 RS
2011/0028973-5, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento:
25/10/2011, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 04/11/2011)

JUIZ DE DIREITO – TJDFT – 2016 - CESPE

Recentemente, ao julgar o mérito de Repercussão Geral em Recurso Extraordinário (RE


669069, Tema 666), o STF fixou o seguinte entendimento: “É prescritível a ação de
reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil”. À luz dessa decisão,
discorra, de forma fundamentada, sobre os seguintes aspectos: (1) O alcance da
decisão do STF, especialmente quanto à pretensão de reparação de danos ao erário
decorrentes de ato de improbidade administrativa. (2) O entendimento até então
prevalecente nos Tribunais Superiores sobre o tema, tendo em vista, ainda, a ideia de
prescrição: (2.1) da pretensão quanto às sanções relativas aos atos de improbidade; e
(2.2) da pretensão de ressarcimento no âmbito da ação de improbidade. (3) A
adequada interpretação, indicando o(s) critério(s) utilizados, do § 5º, do art. 37, da
Constituição Federal, em face do que dispõe o § 4° do mesmo artigo. Os dois
parágrafos estão relacionados? Em que medida? Espera-se do candidato, além do
conhecimento do entendimento jurisprudencial sobre a matéria, em resposta aos
quesitos formulados acima, a exposição de convicção própria, de forma livre, porém
justificada.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Inicialmente, importante frisar que o sistema jurídico prevê lapsos temporais


para que um processo judicial seja ajuizado e, caso isso não ocorra em um período de
tempo, a sanção é a perda do direito de ação ante a inércia do titular de um direito.

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

O art. 37, § 4º, da CRFB, menciona as sanções para a improbidade


administrativa, na forma e gradação previstas em lei. Esta lei é a Lei nº 8.429/92, sendo
que o art. 12, caput, menciona que, independentemente das sanções penais, civis e
administrativas, o responsável pelo ato de improbidade fica sujeito às sanções previstas
nos respectivos incisos. Assim, o Judiciário, quando do caso concreto, aplicará as
sanções usando princípios como a razoabilidade e proporcionalidade.

Por sua vez, o art. 37, § 5º, da CRFB, menciona que a lei estipulará os prazos
de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem
prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento. Diante disso,
setores doutrinários e jurisprudenciais sustentavam a tese de imprescritibilidade de
ações que buscam reparar danos ao erário, isto é, a imprescritibilidade de qualquer
demanda judicial reparatória fruto de ilícitos genéricos.

No tocante aos atos de improbidade, o entendimento do STJ consolidou na


direção de que o prazo prescricional abrangeria, consoante o art. 23, da Lei nº
8.429/92, todas as penalidades, salvo o ressarcimento de danos causados ao erário. O
entendimento do STF foi no sentido de que a prescritibilidade abrange os ilícitos civis
contra o erário, ou seja, limitou um pouco a redação genérica da imprescritibilidade.

Depreende-se que o entendimento do STF buscou cristalizar uma limitação a


um certo exagero de se tomar por imprescritível, por exemplo, o ressarcimento quando
a Fazenda Pública não toma iniciativa para se ressarcir. Ademais, o texto constitucional,
quando quis, expressamente mencionou o que seria imprescritível, como é o caso da
punição dos crimes de racismo.

JUIZ DE DIREITO – TJPB – 2011 – CESPE

Ação de improbidade administrativa é aquela em que se pretende o reconhecimento


judicial de conduta de improbidade na administração e a consequente aplicação das
sanções legais, com o escopo de preservar o princípio da moralidade administrativa.
Sem dúvida, cuida-se de poderoso instrumento de controle judicial sobre atos que a lei
caracteriza como de improbidade. José dos Santos Carvalho Filho. Manual de direito
administrativo. 23ª ed., 2010, p. 1.166 (com adaptações). Considerando a informação
acima como referência inicial, redija um texto dissertativo acerca da ação de
improbidade administrativa como instrumento de defesa da moralidade no exercício
da função pública. Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes
aspectos: 1- Sujeito passivo e sujeito ativo da ação de improbidade administrativa; 2-
Categorias dos atos de improbidade previstas na Lei nº 8.429/1992; 3- Modalidades de
sanções aplicáveis à improbidade administrativa.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

O cometimento de uma improbidade administrativa fere frontalmente o


importante princípio constitucional da moralidade, insculpido no art. 37 da CRFB.
Referido princípio, junto com outros explícitos e implícitos, ajuda a concatenar a

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estruturação administrativa brasileira. Com isso, o agente público ou o particular que


tenha relação com a Administração deve proceder de forma justa, legal e honesta.

No tocante ao sujeito passivo, o art. 1º, da Lei nº 8.429/92, menciona um rol


de quem pode ser. Assim, os atos de improbidade podem ser praticados por qualquer
agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de
Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja
criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de 50% do
patrimônio ou da receita anual. Além disso, com base no parágrafo único desse mesmo
artigo, estão também sujeitos às penalidades os atos de improbidade praticados contra
o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou
creditício, de órgão público, bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário
haja concorrido ou concorra com menos de 50% do patrimônio ou da receita anual,
limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a
contribuição dos cofres públicos.

Já no tocante aos sujeitos ativos, com base no art. 2º, da Lei nº


8.429/92, pode ser todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
acima aludidas. Somado a isso, o art. 3º, da Lei nº 8.429/92, alude ao fato de que
aquele que, mesmo não sendo agente público, induzir ou concorrer para a prática do
ato de improbidade ou dele se beneficiar sob qualquer forma direta ou indireta,
também pode ser sujeito ativo.

Em relação às categorias de atos de improbidade administrativa, até o ano de


2016 existiam três tipos: atos de improbidade que importem em enriquecimento ilícito
(art. 9º); atos de improbidade que importem prejuízo ao erário (art. 10); e atos de
improbidade que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11).
Porém, em 2016, foi inserido o art. 10-A, que prevê os atos de improbidade decorrentes
de concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário.

Por fim, no que tange às modalidades de sanções, o art. 12, da Lei nº


8.429/92, versa sobre elas. O primeiro ponto importante é que é viável a
cumulatividade sancionatória da lei de improbidade com as punições penais, civis e
administrativas. Ademais, cada espécie de improbidade possui uma gradação das
sanções: perda de bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento
integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos, pagamento
de multa civil, proibição de contratar com o Poder Público, receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de
pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário. Frise-se que essas punições podem ser
aplicadas de maneira isolada ou de forma cumulativa.

JUIZ DE DIREITO – TJES – 2012 - CESPE

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Um servidor público federal cometeu infração no exercício de suas funções, o que


ensejou a instauração de processo administrativo disciplinar e o ajuizamento de ação
de improbidade administrativa. No âmbito administrativo, a comissão processante
concluiu pela demissão do infrator, referendada pela autoridade máxima do órgão a
que estava vinculado o servidor. Inconformado com o ato de demissão, o servidor
impetrou mandado de segurança em face do presidente da comissão processante e da
autoridade superior, sob o fundamento de que, em face da proibição do bis in idem,
não seria possível a imposição da sanção disciplinar por ele estar, ainda, respondendo
à ação de improbidade administrativa. Com base na situação hipotética apresentada,
responda, com o devido fundamento legal e de acordo com o entendimento do STJ a
respeito do tema, aos seguintes questionamentos. 1 - O presidente da comissão e a
autoridade máxima do órgão têm legitimação para figurar no polo passivo do
mandado de segurança? 2 - A responsabilização do servidor público com fundamento
na Lei de Improbidade Administrativa afasta a possibilidade de instauração do
processo administrativo disciplinar com base em legislação que disponha sobre o
regime jurídico do servidor, de modo a ocorrer o invocado bis in idem?

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

Em relação ao item 1, entende por autoridade coatora aquela com atribuições


para desfazer o ato impugnado. Em sede de processo administrativo disciplinar, a
comissão processante não possui poderes decisórios, competindo à autoridade superior
a aplicação da penalidade cabível. Logo, está evidenciada a ilegitimidade passiva do
presidente da comissão, devendo o feito prosseguir apenas em face da autoridade
máxima.

Em relação ao item 2 do enunciado, de acordo com entendimento consagrado


no âmbito do STJ, diante do artigo 12, da Lei nº 8.429/92, e os artigos 37, § 4º, e 41,
ambos da CRFB, as sanções disciplinares previstas na Lei nº 8.112/90 são
independentes em relação às penalidades previstas na Lei nº 8.429/92. Assim, não é
preciso esperar o trânsito em julgado da ação de improbidade para uma eventual
sanção da Lei nº 8.112/90.

Reforçando esse entendimento, o artigo 12, da Lei nº 8.429/92, aduz que,


independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação
específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às cominações da lei de
improbidade, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a
gravidade do fato. Com isso, a norma não criou um único subsistema para o combate
aos atos ímprobos, e, sim, mais um subsistema, compatível e coordenado com os
demais.

Importante dizer que o processo administrativo disciplinar e a ação de


improbidade, embora possam acarretar a perda do cargo público, possuem âmbitos de
aplicação diferentes, mormente a independência das esferas civil, administrativa e
penal. Logo, não há impedimento para que a autoridade administrativa apure a falta
disciplinar do servidor público independentemente da apuração do fato em uma ação
por improbidade administrativa.

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

JURISPRUDÊNCIA RELACIONADA:

MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL.


DEMISSÃO. CONVERSÃO EM CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA. CABIMENTO. ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
PRODUÇÃO DE PROVA ORAL REQUERIDA EM DEFESA ESCRITA PELO INVESTIGADO.
RECUSA PELA COMISSÃO PROCESSANTE. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE.
CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. (...) 3. Diante da independência entre as
esferas criminal, civil e administrativa no que se refere à responsabilidade de servidor
público pelo exercício irregular de suas atribuições, o fato de o impetrante não constar
como réu na ação de improbidade administrativa não é apto a impossibilitar sua
punição na esfera administrativa. 4. Consoante assentado por esta Terceira Seção, a
Lei de Improbidade Administrativa não revogou a previsão da Lei nº 8.112/90 de
demissão de servidor pela prática de ato de improbidade, razão pela qual é cabível a
aplicação daquela penalidade no âmbito administrativo, independentemente de
condenação em ação de improbidade administrativa. (...) 9. Segurança concedida (MS
10.987/DF, Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJ de 03.06.08);

DEFENSOR FEDERAL – DPU – 2017 – CESPE

Danilo foi eleito prefeito da municipalidade e, quando da escolha de seus secretários


de governo, não se precaveu a respeito das vedações jurídicas em relação aos nomes
que poderiam ser escolhidos. Para o cargo de secretário de governo, escolheu sua
irmã, Virgínia, que é administradora com titulação de mestre e de doutora por
renomada instituição. Ainda durante o exercício do seu mandato, o Ministério Público
ofereceu ação civil por improbidade administrativa no tribunal de justiça, aduzindo
que não poderia haver a citada nomeação para o cargo, em virtude do parentesco.
Distribuída a ação no tribunal de justiça, o desembargador determinou a citação de
Danilo para o oferecimento da contestação. À luz das normas jurídicas e diante do
entendimento do STF sobre o tema, discorra, de forma fundamentada, sobre a
viabilidade jurídica da pretensão do Ministério Público, indicando as teses defensivas
indispensáveis a eventual contestação.

SUGESTÃO DE RESPOSTA:

A lei de improbidade administrativa é plenamente aplicável aos prefeitos.

O tribunal de justiça, onde foi ajuizada a ação do Ministério Público, é


incompetente, por não haver foro por prerrogativa de função no caso da Lei de
Improbidade Administrativa. Da mesma forma, houve ilegalidade em razão de
ausência de oportunidade de apresentação de defesa prévia (art. 17, § 7.º, da Lei n.º
8.429/1992).

É consabido que a CF exige o trato da coisa pública com a devida moralidade e


impessoalidade. Por tal razão, o STF editou o verbete da Súmula Vinculante n.º 13, que

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IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

traz várias hipóteses de vedação à nomeação de parentes por agentes públicos para
ocupar cargos da administração pública.

Entretanto, no caso em comento, há a nomeação de um agente político por


outro agente político, o que acaba por significar uma exceção às vedações constantes
da referida súmula (vide: Reclamação STF 6.650- 9).

No caso concreto, a secretária foi nomeada para exercer cargo público


consentâneo com a sua formação. Some-se a isso o fato de que a sua alta titulação
acadêmica faz presumir haver alta capacitação para o exercício do múnus público. É
próprio da discricionariedade dos atos do chefe do Poder Executivo a liberdade de
escolher os seus agentes políticos. Além disso, dada a alta formação acadêmica da
secretária nomeada, não há de se falar em ato ímprobo ou imoral.

Diante de todo o exposto, não há, no caso em tela, a comprovação de


enriquecimento ilícito do agente (nomeante ou nomeado), prejuízo ao erário ou mesmo
ato que atente contra princípio da administração pública, nos moldes do entendimento
consolidado do STF.

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