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Anderson Martelli
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All content following this page was uploaded by Marcelo Studart Hunger on 24 May 2021.
ISSN: 2178-7514 Júlia Karine Mathias1, Thainá Cristina Antoniolli1, Lucas Rissetti Delbim2,
Marcelo Studart Hunger3, Anderson Martelli4
Vol. 12| Nº. 3| Ano 2020
RESUMO
Introdução: Atualmente observa-se um aumento de praticantes de exercício físico pelos inúmeros benefícios à
saúde e melhora na qualidade de vida. Porém, há uma intensa discussão entre a prática de exercícios físicos e o
ciclo menstrual (CM), o qual pode interferir na performance física e nos resultados a serem obtidos a partir dessa
prática. Objetivo: Realizar uma revisão bibliográfica versando sobre um delineamento em relação ao ciclo menstrual
(CM) e sua relação com a prática de exercícios físicos. Métodos: A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão
da literatura especializada, sendo consultados artigos científicos publicados entre os anos de 2002 até o mais atual
2019 utilizando como descritores isolados ou em combinação: Ciclo menstrual, exercícios físicos, saúde da mulher,
treinamento. Resultados: Os resultados demostraram uma influência negativa de algumas fases do CM na execução do
exercício, estando associado às alterações hormonais. Conclusão: O período pós-menstrual é marcado por alterações
fisiológicas alterando os resultados esperados da prática de exercícios físicos. Assim, a periodização, individualidade e
o planejamento de um treinamento para mulheres devem atentar para um alinhamento com as limitações que podem
ocorrer durante o período menstrual.
ABSTRACT
Introduction: Currently, an increase in the number of physical exercise practitioners is observed due to the numerous
health benefits and improvement in the quality of life. However, there is an intense discussion between the practice
of physical exercises and the menstrual cycle (CM), which can interfere with physical performance and the results to
be obtained from this practice. Objective: To carry out a bibliographic review dealing with an outline in relation to the
menstrual cycle (CM) and its relationship with the practice of physical exercises. Methods: The research was carried
out from a review of the specialized literature, with scientific articles published between the years 2002 and the most
recent 2019 being consulted using as descriptors alone or in combination: Menstrual cycle, physical exercises, women’s
health, training. Results: The results showed a negative influence of some phases of the CM in the execution of the
exercise, being associated with hormonal changes. Conclusion: The post-menstrual period is marked by physiological
changes, changing the expected results of physical exercise. Thus, the periodization, individuality and the planning
of a training for women must pay attention to an alignment with the limitations that can occur during the menstrual
period.
Autor de correspondência
Anderson Martelli
martellibio@hotmail.com
Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
Revista CPAQV – Centro de Pesquisas Avançadas em Qualidade de Vida | Vol.12| Nº. 3| Ano 2020| p. 2
Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
elas: fase folicular que começa no primeiro dia do LH, depois da ovulação, o hipotálamo atua sob
fluxo menstrual e tem duração de até quatorze esses hormônios diminuindo a sua concentração
dias, em seguida a fase ovulatória que tem e após a liberação do óvulo, fecha o folículo,
duração de até três dias e a fase lútea que dura então, forma-se o corpo lúteo, gerando alta
desde a ovulação até começar o fluxo menstrual, concentração de progesterona. Se não houver
esse ciclo se inicia na menarca e se encerra na fecundação do óvulo, ocorre a degeneração do
menopausa.6,7 corpo lúteo, o que faz com que os níveis de
As alterações hormonais que acontecem progesterona e estrogênio diminuam e se inicia
neste período, são decorrentes de oscilações assim um novo ciclo.5,8,9
nos níveis de estrogênio e progesterona, quando Ao se tratar de exercício físico e CM,
a progesterona se encontra em baixo nível, deve-se incluir também a menopausa na
ocorrem contrações uterinas mediadas pelas discussão, figurando como período em que
prostaglandinas produzidas pelo endométrio. O ocorre a diminuição da produção de estrogênio
excesso de produção dessas prostaglandinas é um e a descontinuação do ciclo por pelo menos
dos principais fatores determinantes das cólicas um ano, e consequentemente leva ao fim da
menstruais, assim como, dos demais sintomas sua função ovariana.10 Além disso, de acordo
apresentados na síndrome pré-menstrual que, são com Ramezani et al. 11, a menopausa pode ser
muito comuns de serem relatados pelas mulheres um fator causador de alterações expressivas na
neste período (náuseas, cefaleias, dor nas mamas, composição corporal, pois após essa ocorrência,
dor na região abdominal, irritabilidade, ansiedade, muitas mulheres passam a ganhar peso de forma
entre outras alterações físicas, emocionais e significativa em um curto período, por este
comportamentais) ciclo. 5,8,9 motivo, são pré-dispostas a desenvolver doenças
Esses sintomas se encaixam no período cardiovasculares e um perfil lipídico aterogênico.
que antecede o início da menstruação e são Em estudo conduzido por Lima et al.12
conhecidos como sintomas da tensão pré- ficou evidente que além do citado anteriormente
menstrual (TPM), intensificando pouco antes esse período específico da vida feminina pode
de iniciar o fluxo sanguíneo e vai diminuindo causar ondas de calor, atrofia urogenital,
progressivamente logo após o seu início. Cada distúrbios do sono e favorecer o surgimento
fase do ciclo é caracterizada pela variação do da osteoporose. Neste período também ocorre
fluxo dos hormônios folículo estimulante (FSH) e agravamento de doenças, como a hipertensão
luteinizante (LH) e pela secreção do estrogênio e arterial (HA), atingindo até 44% da população
progesterona pelos ovários. Entre o fim do fluxo adulta e 40% dos aposentados por conta da
menstrual e o início da ovulação, o endométrio mesma doença, causando alterações estrogênicas,
se restaura através da ação do estrogênio, onde se lipídicas, estresse oxidativo, ganho de peso e,
prepara para receber o óvulo. Durante a ovulação, frequentemente, sedentarismo. Segundos os
há o aumento nos níveis dos hormônios FSH e autores supracitados os treinamentos destinados
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
a mulheres (não atletas) devem seguir em média menstrual, Exercícios físicos, Saúde da mulher,
de três a cinco vezes na semana por pelo menos Treinamento.
30 a 60 minutos por sessão numa intensidade Para seleção do material, efetuaram-
baixa a moderada. Estudos que analisaram a se três etapas. A primeira foi caracterizada pela
pressão arterial depois da atividade, apresentou pesquisa do material que compreendeu entre
uma redução de 14,7 mmHg diante a sistólica e os meses de março a setembro de 2020 com a
em 89% das mulheres 10,5 mmHg a diastólica. seleção de 38 trabalhos. A segunda, leitura dos
Os exercícios físicos atuam na manutenção da títulos e resumos dos trabalhos, visando uma
qualidade de vida das mulheres e principalmente maior aproximação e conhecimento, sendo
no climatério devido à perda de massa magra, excluídos os que não tivessem relação e relevância
aumento de gordura, redução da estatura que com o tema. Após essa seleção, buscaram-se os
consequentemente elevação do índice de massa textos que se encontravam disponíveis na íntegra
corporal.12 totalizando 28 artigos.
Dias et al.13 relatam em seu experimento Como critérios de elegibilidade e inclusão
que na fase folicular observou-se uma redução dos artigos, analisaram-se a procedência da
na força motora durante o treinamento realizado revista e indexação, estudos que apresentassem
através do teste de 10 repetições máximas(RM). dados referentes a prática de exercícios físicos
Entretanto, a literatura aponta resultados e ciclo menstrual. Como critério de exclusão
controversos. Enquanto alguns indícios utilizou-se referência incompleta e informações
demonstram não existir diferenças significativas presentemente desacreditadas.
em aspectos fisiológicos nas três fases do CM,
outros estudos apresentaram diferenças nas RESULTADOS E DISCUSSÃO
concentrações hormonais, com alteração na
Foi realizada uma investigação focada
força muscular, assim, o objetivo deste estudo foi
em apresentar e discutir os achados da literatura
realizar um delineamento em relação ao CM e sua
referentes ao CM e exercícios físicos. Mulheres
relação com a prática de exercícios físicos.
praticantes de diferentes modalidades de exercício
físico, dizem que não há a mesma disposição para
MATERIAIS E MÉTODO
a realização da prática em certos períodos do
Para a composição da presente revisão ciclo, o que pode ser um fator motivador para
foi realizado um levantamento bibliográfico nas diminuição no rendimento, na performance ou
bases de dados Scielo, Portal de Periódicos da até mesmo podendo ocorrer a interrupção da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal prática neste período. De acordo com um estudo
de Nível Superior (CAPES), Pubmed e a busca realizado por Pedregal et al. 9 foi observado uma
de dados no Google Acadêmico de artigos diferença significativa na força muscular para o
científicos publicados até 2019 utilizando como teste de 1RM, sendo constatado que na terceira
descritores isolados ou em combinação: Ciclo fase do ciclo a força relativa foi maior. Ainda
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Um estudo realizado por Celestino et Grupo Controle, quanto no Grupo treinado não
al.17 em que foram analisadas mulheres com foram encontradas diferenças significativas de
idade entre 18 e 30 anos, selecionadas justamente força muscular entre as três fases, demonstraram
por se tratar do intervalo de idade em que apenas um pequeno aumento da força muscular
estão em período fértil, excluindo mulheres no período pós-menstrual. Os autores do estudo
que possam estar começando a apresentar acreditam que essa diferença no período pós-
alterações hormonais e utilizando o protocolo menstrual se dá pelo aumento nos níveis de
de teste de 10 RM em membros inferiores, em estrogênio e noradrenalina, apresentando efeitos
que realizaram o teste nas três fases do CM, foi positivos no desempenho.
aplicado por três ciclos completos. Tanto no Fischetto e Sax 18 relatam sobre a inclusão
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
das mulheres nos esportes olímpicos e em suas durante o exercício também não é significativo.18
competições, abordaram questões relacionadas Segundo Andrade et al. 19
em estudo
com o desempenho das mulheres no esporte sobre motivação de mulheres que estão em
em que é observado o papel do CM. Observa- período menstrual e prática de atividade física,
se que no gênero feminino encontram-se grandes com mulheres entre 15 e 24 anos, no qual foram
variações entre as fases do CM, essas variações separadas por idade e avaliadas durante o CM
apresentam complicações práticas tanto no através de um questionário para a coleta de
treinamento como na competição. Apesar dados, utilizando o parâmetro da IMPRAF-54
disso, mulheres atletas competem independente e o ANOVA usados para se obter informações
de sua condição fisiológica. Os autores citam sobre as avaliadas para estimar o nível de estresse,
que estudos epidemiológicos apresentaram saúde, sociabilidade, competitividade, estética,
diferenças significativas em relação aos efeitos prazer e assim, comparar diferenças dentro e
do CM no desempenho esportivo, porém, entre os grupos das avaliadas. Neste caso não
as maiores queixas de efeitos prejudiciais e foi possível observar diferenças entre os grupos,
resultados negativos advém da síndrome pré- acredita-se que seja devido a semelhanças entre as
menstrual e seus sintomas. Entretanto, o pós- candidatas, por isso estudos complementares com
menstrual imediato é considerado pelas atletas, o delineamento mais abrangente são necessários
melhor período para o desempenho no esporte.18 para avançar com propriedade nos resultados e
Os autores ressaltam que há uma dificuldade conduzir inferências mais seguras.
na análise dos efeitos do CM no desempenho, Uma pesquisa realizada através do método
decorrente da presença de ciclos não ovulatórios de 10 RM por Loureiro et al.20, onde utilizaram a
ou deficiente na fase lútea e pelo comprimento estratégia de estímulos verbais afim de manter um
instável da fase folicular, inclusive em atletas alto nível de motivação das participantes, os testes
com o período menstrual aparentemente normal. foram repetidos em três períodos diferentes para
Pode-se afirmar que nem todas as mulheres que que fosse possível avaliar as três fases do CM,
menstruam regularmente, ovulam regularmente. de acordo com a Figura 1, pode-se observar que
No entanto, após rigorosa revisão da literatura não houve diferenças significativas entre as fases
não há evidências claras de que flutuações nos do CM neste estudo. As mulheres analisadas no
hormônios esteroides femininos durante o CM estudo citado eram voluntárias treinadas e faziam
possam afetar a força ou a fadiga muscular, o uso de contraceptivos orais.
aumento da frequência cardíaca ou ventilação
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
valores de referência que foram utilizados foram mas nenhuma passou do limite estabelecido;
de acordo com o definido por Miller 24, sendo em C, onde foi quantificado o LH, mostra-se
separadas em grupos, visualizados em tabelas e semelhante a progesterona e se aproximando do
comparados através de análises Figura 2. limite inferior, mas não ultrapassando este limite
Na figura 2A demonstra os níveis de e por fim, em D, refere-se ao hormônio FSH
estrogênio, onde 65% das atletas estão abaixo que das 20 amostras, mostram-se diferente das
do nível inferior, e as outras duas próximas ao outras imagens, 10% estavam abaixo do limite
limite inferior da referência.; em B, se refere inferior mesmo havendo variação entre as atletas,
aos níveis de progesterona em que cinco das somente uma atleta não apresentou variação de
avaliadas apresentaram uma variação entre elas e FSH durante todo o estudo.23
atingem a média do limite inferior de referência,
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
que consiste em uma dor crônica na região sedentárias em que essa ocorrência é inferior a
pélvica, geralmente é associada à menstruação, 10%. Essa incidência é mais prevalente em atletas
mais conhecida popularmente como “cólica jovens, onde acontecem até 40% nos primeiros
menstrual”. Essa cólica acontece antes ou anos de idade ginecológica, e que pode aumentar
durante a menstruação, com o pico nos dois esse número para 70 a 80% quando inclui os
primeiros dias do fluxo, é identificada como uma defeitos da fase lútea.18
dor na parte inferior do abdômen e/ou na região Os mesmos autores afirmam que essa
lombar, em que as vezes está relacionada a outros maior incidência em atletas pode ser, em partes,
sintomas da síndrome. Porém, apesar de não decorrente dos parâmetros de seleção nos
haver nenhum achado científico, é mencionado esportes, em que determinadas anormalidades
que o exercício de resistência apresenta redução podem ser positivas para cada esporte.18 Meninas
da prevalência de dismenorreia primária (são que possuem menarca tardia (amenorreia
aquelas que ocorrem logo após os primeiros primária) podem se destacar em esportes como
anos da menarca, que não é decorrente de lesões a Ginástica (e suas variações) pois o fechamento
ou doenças pélvicas), prevenindo ou reduzindo das placas de crescimento ósseo retardado pode
os sintomas em pelo menos 20% das mulheres, levar a serem mais altas, consequentemente, se
levando em conta o período de adaptação. Este destacar para esportes como o Vôlei e o Basquete,
fato está relacionado com aumento da produção assim como as que possuem um baixo peso tem
de beta-endorfinas (que funcionam como um vantagem em esportes de resistência. Outro
analgésico natural e diminui a ação do estresse) exemplo é em relação a Síndrome do Ovário
além de uma anulação parcial da liberação de Policístico (SOP), mulheres que possuem essa
prostaglandinas, que podem aumentar o limiar da síndrome podem ser privilegiadas em esportes de
dor. força decorrente dos andrógenos apresentarem
No estudo de Fischetto e Sax 18
é níveis mais elevados. Entretanto, o fato dessas
evidenciado que a incidência de anormalidades atletas serem motivadas a baixar o peso corporal
e distúrbios menstruais entre cinco e 30 anos afim de melhorar o desemprenho e se enquadrar
de idade ginecológica é maior em mulheres em categorias menores, somado ao volume e
praticantes de esportes do que em mulheres intensidade alta de exercício (principalmente em
sedentárias, em que em média 20% das esportes de endurance) e a idade jovem predispõe
mulheres praticantes de esportes apresentam a ocorrência de oligomenorreia e amenorreia.18
oligomenorreia comparado com as mulheres Teixeira et al.25 analisaram a influência
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
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Ciclo menstrual e sua relação com a prática de exercício físico
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