Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E GINÁSTICA DE
ACADEMIA
Introdução
O treinamento de força é uma prática muito difundida que está tendo
cada vez mais adeptos. Com o avanço das pesquisas sobre essa temática,
está aumentando o número de indivíduos praticantes com algumas
caraterísticas que requerem alguns cuidados especiais. Por consequência,
os profissionais que irão trabalhar com essas populações devem ter um
conhecimento que possibilite dar suporte teórico para a montagem e o
acompanhamento do treinamento de força desses indivíduos.
Neste capítulo, você conhecerá as características do treinamento de
força para populações especiais. Além disso, conhecerá os benefícios,
riscos e cuidados da prescrição do treinamento de força para essas po-
pulações. Por fim, verá exemplos de programas de treinamento de força
para populações especiais.
2 Protocolos de treinamento direcionados a populações especiais
idosos;
cardiopatas;
diabéticos;
gestantes;
obesos.
indivíduos. Além disso, esses profissionais devem ter uma rede de trabalho
ampla, tendo contato com outros profissionais da área da saúde. Por exemplo,
o professor de educação física deve trabalhar em conjunto com médicos,
fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras. Essa rede de trabalho
poderá promover um melhor atendimento aos alunos com determinadas carac-
terísticas, tidos como populações especiais (CHANDLER; BROWN, 2009).
Idosos
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050, aproximadamente
30% da população brasileira será composta por idosos. O processo de envelheci-
mento é descrito como um processo normal com alterações anatomofisiológicas
irreversíveis, que culminam com uma limitação na capacidade funcional. Essas
limitações acarretam perda da autonomia e, consequentemente, dificuldade
de realizar atividades da vida diária (AVDs) (CHANDLER; BROWN, 2009).
O envelhecimento está associado a muitas modificações, como, por exem-
plo, o aumento da massa de gordura corporal, principalmente na região abdo-
minal, e diminuição da massa muscular, por meio de um processo denominado
sarcopenia. A sarcopenia é uma doença multifatorial que está diretamente
relacionada a inatividade física, nivelação de hormônio diminuída e diminui-
ção da síntese proteica. Observa-se que, entre os 20 e os 80 anos de idade, a
massa magra diminui entre 35 e 40%, com essa perda sendo mais acentuada
nas fibras rápidas tipo 2. Contudo, o treinamento de força pode diminuir ou
retardar esse processo deletério por meio do aumento da capacidade contrátil
dos músculos esqueléticos (PICOLI; FIGUEIREDO; PATRIZZI, 2011).
Outro problema associado à idade é a osteoporose, doença que se caracteriza
pela diminuição da massa óssea e pela deterioração das estruturas internas
do osso, podendo causar um aumento de quedas e fraturas. A osteoporose
é observada em ambos os sexos, mas é mais frequente na mulher, já que,
no climatério, a diminuição dos níveis estrogênicos precipita as perdas de
massa óssea. Até cerca dos 35 anos de idade, a massa óssea atinge o pico, e, a
partir daí, inicia-se um processo lento de perda óssea, equivalente a 1,5% ao
ano (CHANDLER; BROWN, 2009). O treinamento de força, por seu maior
impacto, apresenta alta eficácia para o tratamento dessa doença, visto que esse
tipo de exercício causa uma maior sobrecarga óssea, expondo, assim, o osso a
episódios de estresse e remodelamento. Em contrapartida, quando realizado
em intensidades muito elevadas ou com pouco tempo de recuperação, pode
causar fraturas, devido a exposições de elevado grau de estresse (CHANDLER;
BROWN, 2009).
A seguir, são listados os fatores de risco associados à osteoporose para
homens e mulheres (CHANDLER; BROWN, 2009):
https://qrgo.page.link/jTAfa
Cardiopatas
Cardiopatia é um termo genérico para as doenças cardíacas. As doenças
cardíacas são as que mais matam no Brasil. Os principais fatores de risco
associados são: pressão alta, colesterol elevado, tabagismo, diabetes e seden-
tarismo (CHANDLER; BROWN, 2009).
Protocolos de treinamento direcionados a populações especiais 7
Diabéticos
O diabetes é uma doença na qual o corpo não produz ou deixou de produzir
insulina ou não consegue empregar a insulina que produz adequadamente.
O diabetes pode ser dividido em dois tipos (CHANDLER; BROWN, 2009).
No diabetes tipo 1, o sistema imune ataca equivocadamente as células betas do
pâncreas, ou seja, pouca ou nenhuma insulina é liberada pelo corpo. Assim, a
glicose fica no sangue, em vez de ser usada como energia. Em geral, aparece
na infância ou na adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos. Não
existem pesquisas que comprovem de forma conclusiva sobre os fatores de
risco que desencadeiam essa doença. Os indivíduos diabéticos necessitam
da utilização de insulina constantemente (CHANDLER; BROWN, 2009).
O diabetes tipo 2 aparece quando o organismo não consegue usar ade-
quadamente a insulina que produz, ou não produz insulina suficiente para
controlar a glicemia, de modo que o corpo tende a adquirir uma resistência à
insulina. Manifesta-se mais frequentemente em adultos. A prevalência desse
tipo de diabetes é nove vezes maior em comparação à do tipo 1. A sua inci-
dência é maior a partir dos 30 anos, mas também tem sido comum em crianças
obesas. Esse tipo de diabetes está diretamente associado a estresse, estilo de
vida, sedentarismo e a má alimentação e, por consequência, obesidade. Esses
indivíduos podem ou não utilizar insulina (CHANDLER; BROWN, 2009).
Tanto os diabéticos tipo I quanto os tipo II possuem uma chance muito
maior de desenvolverem lesões nos pés, obesidade, hipertensão arterial sistê-
mica, dislipidemia e disfunção endotelial (GALVIN; NAVARRO; GREATTI,
2014). O treinamento de força em intensidades de leve a moderada apresenta
redução de gordura corporal, melhor controle glicêmico, diminuição tanto do
colesterol quanto da frequência cardíaca, entre outros benefícios. Ele pode
diminuir a chance do indivíduo de desenvolver o diabetes tipo 2, bem como
a resistência à insulina. O maior benefício dessa prática está relacionado
à maior sensibilidade à insulina (GALVIN; NAVARRO; GREATTI, 2014;
CHANDLER; BROWN, 2009).
Protocolos de treinamento direcionados a populações especiais 9
Gestantes
O treinamento de força gera alguns benefícios para a gestante, como o aumento
de força muscular, menor ganho de gordura corporal e peso, melhor adaptação
do organismo materno às modificações da postura proveniente à evolução
gestacional, prevenção de traumas, melhora do humor, da imagem corporal,
redução da depressão e da ansiedade e diminuição de quedas e de desconfortos
musculoesqueléticos (MCDONALD et al., 2016; DI MASCIO et al., 2016).
Contudo, deve-se evitar posturas que coloquem a gestante em risco, como as
que afetem o equilíbrio (MCDONALD et al., 2016; DI MASCIO et al., 2016).
Um grande cuidado que gestantes devem ter é em relação ao diagnóstico
ou à suspeita de pré-eclâmpsia. Quando diagnosticada, a grávida deve evitar
a prática do treinamento de força, visto que essa condição tende a aumentar
a pressão arterial e reduz o fluxo uteroplacentário, que já está deficiente.
A prática regular de exercício antes e no início da gestação está associada à
diminuição do risco de desenvolvimento de pré-eclâmpsia entre outras doenças
(MCDONALD et al., 2016; DI MASCIO et al., 2016).
Todavia, existem algumas limitações nas quais o treinamento de força não
é o mais adequado para as gestantes. O Quadro 1 apresenta um resumo em
relação às limitações referentes às contraindicações absolutas e relativas para
essa prática. O treinamento de força é uma parte importante do tratamento
de diabetes gestacional, por aumentar a sensibilidade tecidual à insulina,
melhorando o controle glicêmico (MCDONALD et al., 2016; DI MASCIO
et al., 2016).
A intensidade do exercício para a gestante pode ser quantificada pela
FC, com valores de 60 a 80% da FC. O American Journal of Obstetrics and
Gynecology (DI MASCIO et al., 2016) — Jornal Americano de Obstetrícia
e Ginecologia — sugere que gestantes com idade inferior a 20 anos fiquem
com a FC entre 140 a 155 batimentos cardíacos por minuto (bpm); de 20 a
29 anos, entre 135 a 150 bpm; de 30 a 39 anos, entre 130 a 145 bpm; e, por
fim, com mais de 40 anos, entre 125 e 140 bpm.
Protocolos de treinamento direcionados a populações especiais 11
Obesos
A obesidade e o sobrepeso podem ser definidos como um acúmulo anormal
ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde, representando um dos
maiores males da humanidade. A obesidade é uma doença causada pelo ex-
cesso de ingestão de alimentos associados à falta de exercício. Esse quadro
tende a levar a uma redução do gasto calórico, que, por consequência, eleva a
predisposição para acumular gordura e o desenvolvimento de outras doenças
(SOUZA, 2010).
Os indivíduos obesos apresentam índice de massa corporal (IMC) maior ou
igual a 30, conforme o Quadro 2, a seguir. O número de obesos no Brasil está
aumentando de maneira exponencial a cada ano. Os órgãos de saúde pública
destacam a necessidade de estímulos para que essa realidade não se agrave
cada vez mais (SOUZA, 2010). A obesidade, muitas vezes, está atrelada a outras
doenças, como diabetes, alterações cardiovasculares e síndrome metabólica
(ARRUDA et al., 2010).
Quadro 2. Valores referente ao IMC, sua classificação, grau de obesidade e risco de co-
morbidade
Grau de Risco de
IMC (kg / m2) Classificação
obesidade comorbidade
https://qrgo.page.link/4xuDo
BEAVERS, K. M. et al. Effect of Exercise Type during Intentional Weight Loss on Body
Composition in Older Adults with Obesity. Obesity, Silver Spring, v. 25, n. 11, p. 1823–1829,
Nov. 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5678994/.
Acesso em: 5 fev. 2020.
BOMPA, T. O.; HAFF, G. G. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 5. ed.
São Paulo: Phorte, 2012. 440 p.
CAPRA, D. et al. Influência do treinamento de força em programas de emagrecimento.
Archives of Health Investigation, [S. l.], v. 5, n. 1, p. 1–7, jan./fev. 2016. Disponível em: http://
www.archhealthinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/1293. Acesso em: 5 fev. 2020.
CHANDLER, T. J.; BROWN, L. E. Treinamento de força para o desempenho humano. Porto
Alegre: Artmed, 2009. 512 p.
DI MASCIO, D. et al. Exercise during pregnancy in normal-weight women and risk of
preterm birth: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials.
American Journal of Obstetrics and Gynecology, New York, v. 215, n. 5, p. 561–571, Nov. 2016.
DOMINSKI, F. H. et al. Pesquisa em treinamento de força no Brasil: análise dos grupos e
produção científica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, São Paulo, v. 19, n. esp., 2019.
Disponível em: http://www.rbceonline.org.br/pt-pesquisa-em-treinamento-forca-no-
-avance-S0101328918303445. Acesso em: 5 fev. 2020.
FLECK, S. J.; KRAEMER, W. J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 4. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2017. 472 p.
GALVIN, E. A.; NAVARRO, F.; GREATTI, V. R. et al. A importância da prática do exercício
físico para portadores de Diabetes Mellitus: uma revisão crítica. Salusvita, Bauru, v. 33,
n. 2, p. 209–222, 2014. Disponível em: https://secure.unisagrado.edu.br/static/biblioteca/
salusvita/salusvita_v33_n2_2014_art_05.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020.
GONÇALVES, A. C. C. R. et al. Exercício resistido no cardiopata: revisão sistemática. Fi-
sioterapia em Movimento, Curitiba, v. 25, n. 1, p. 195–205, jan./mar. 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-51502012000100019&ln
g=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 5 fev. 2020.
HERDY, A. H. et al. Consenso sul-americano de prevenção e reabilitação. Arquivos
Brasileiros de Cardiologia. v. 103; n. 2; supl. 1, ago. 2014. Disponível em: http://www.
arquivosonline.com.br/2014/10302/pdf/Diretriz%20Consenso%20Sul-Americano.pdf.
Acesso em: 5 fev. 2020.
KRINSKI, K. et al. Efeito do exercício aeróbio e resistido no perfil antropométrico e res-
postas cardiovasculares de idosos portadores de hipertensão. Acta Scientiarum – Health
Sciences, Maringá, v. 28, n. 1, p. 71–75; 2006. Disponível em: http://periodicos.uem.br/
ojs/index.php/ActaSciHealthSci/article/view/1093. Acesso em: 5 fev. 2020.
16 Protocolos de treinamento direcionados a populações especiais
MCDONALD, S. M. et al. Does dose matter in reducing gestational weight gain in exercise
interventions? A systematic review of literature. Journal of Science and Medicine in Sport,
Belconnen; Victoria, v. 19, n. 4, p. 323–335, Apr. 2016. Disponível em: https://www.ncbi.
nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4583795/. Acesso em: 5 fev. 2020.
ORSANO, V. S. M.; MORAES, W. M. A. M.; PRESTES, J. Treinamento de potência em idosos:
porque é importante? Revista Brasileira de Ciência do Movimento, Taguatinga, v. 25, n. 4,
p. 181–187, 2017. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/
view/8661. Acesso em: 5 fev. 2020.
PICOLI, T. S.; FIGUEIREDO, L. L.; PATRIZZI, L. J. Sarcopenia e envelhecimento. Fisioterapia
em Movimento, Curitiba, v. 24, n. 3, p. 455–462; jul./set. 2011. Disponível em: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-51502011000300010&lng=pt&nrm
=iso&tlng=pt. Acesso em: 5 fev. 2020.
SOUZA, E. B. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos
UniFOA, Volta Redonda, v. 5, n. 13, p. 49–53, 2010. Disponível em: http://revistas.unifoa.
edu.br/index.php/cadernos/article/view/1025. Acesso em: 5 fev. 2020.
Leitura recomendada
CARVALHO, T. B. et al. Treinamento de força excêntrico em idosos: revisão acerca das
adaptações fisiológicas agudas e crônicas Revista Brasileira de Ciência do Movimento,
Taguatinga, v. 20, n. 4, p. 112–121, 2012. Disponível em: https://portalrevistas.ucb.br/
index.php/RBCM/article/view/3113. Acesso em: 5 fev. 2020.
Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.