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PRÁTICAS DE

CONDICIONAMENTO
FÍSICO

Lafaiete Luiz de Oliveira Junior


Pilates: origem,
história e evolução
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir a origem e os princípios do Pilates.


 Reconhecer a evolução da modalidade ao longo dos anos.
 Avaliar a perspectiva de crescimento do Pilates nos próximos anos.

Introdução
O Pilates surgiu dentro dos hospitais, como uma maneira de fortalecer a
musculatura daqueles que estavam acamados. Com o passar do tempo,
a modalidade foi ganhando espaço no cenário das atividades de con-
dicionamento físico em geral. Os conceitos, equipamentos e técnicas
criados por Joseph Pilates são utilizados até os dias atuais, com pequenas
variações, primando por um nível de controle e fortalecimento corporal
raramente encontrado em outras modalidades.
Neste capítulo, você vai estudar a origem do Pilates e seus princípios
fundadores, marcos na sua evolução e desenvolvimento ao longo dos
anos, bem como suas perspectivas de difusão nos dias de hoje.

1 Joseph Pilates e a construção de um novo


método de treinamento físico
O método Pilates, originalmente batizado como contrologia, foi criado pelo
alemão Joseph Hubertus Pilates, cujo sobrenome acabou sendo sinônimo
dessa modalidade, pautada na:
2 Pilates: origem, história e evolução

[...] coordenação completa de corpo, da mente e do espírito. Por meio dela,


você adquire primeiro o controle total de seu próprio corpo e depois, com
repetições apropriadas dos exercícios, adquire gradual e progressivamente
um ritmo natural e a coordenação associada às atividades do subconsciente
(PILATES; MILLER, 2010, p. 121–122).

Para compreender como o seu fundador chegou a essa proposta de treina-


mento, é importante conhecer um pouco da sua história de vida. Nascido na
Alemanha no ano de 1883, Joseph Pilates foi uma criança bastante doente,
sofrendo de asma, bronquite, raquitismo e febre reumática. Essa condição de
saúde tornou seu físico bastante frágil e, como reação, ele buscava constan-
temente torná-lo mais forte e resistente pela prática de diferentes atividades,
como esqui, boxe, ginástica e mergulho. Aliado a essa vasta experiência em
diferentes modalidades, ele também era autodidata, aprofundando-se em
inúmeras áreas do conhecimento, como medicina tradicional chinesa, anatomia
e fisiologia humana. Mesmo com sua condição de saúde prejudicada, Joseph
Pilates (Figura 1) tornou-se boxeador profissional, também instrutor da polícia
inglesa e atleta circense (PANELLI; DE MARCO, 2016).

Figura 1. Joseph Hubertus Pilates.


Fonte: Pilates for life (c2020, docu-
mento on-line).

Um momento extremamente importante para a história e construção do


método Pilates foi o início da Primeira Guerra Mundial. Na época vivendo
na Inglaterra, Joseph Pilates foi considerado inimigo do Estado, sendo então
encaminhado para prisão no Castelo de Lancaster, atuando como enfermeiro.
Pilates: origem, história e evolução 3

Lá, ele se dedicou a recuperar os feridos da guerra, utilizando as molas das


macas para realizar exercícios de fortalecimento muscular, criando uma es-
tratégia de exercícios que mesmo pessoas acamadas poderiam realizar. Essa
experiência pautada em feridos e pessoas com dificuldade de locomoção
tornou-se a base do seu método (PANELLI; DE MARCO, 2016).

Aparelhos como o reformer e o cadilac foram inventados nessa época, sendo utilizados
até hoje, com o mesmo sistema de molas e muitos dos mesmos exercícios prescritos.
O método criado por Joseph Pilates sofreu pouca modificação desde sua concepção
até os moldes atuais.

Em 1918, a pandemia do vírus Influenza (que ficou mundialmente conhecida


como gripe espanhola) revelou benefícios dos métodos desenvolvidos por
Pilates. Durante esse período, milhares de ingleses foram mortos em virtude
desse vírus, mas dentre os internos que estavam sob os cuidados de Joseph
Pilates e que realizavam diariamente o seu método de treinamento físico,
nenhum foi contaminado, sugerindo que os exercícios realizados, ainda que na
própria maca, melhoravam sua saúde e os tornavam imunologicamente mais
fortes. A partir de então, Joseph Pilates seguiu disseminando e aperfeiçoando
sua técnica de treinamento (PANELLI; DE MARCO, 2016).
A contrologia (como o método era chamado na época) tomou novos rumos
quando seu fundador chegou aos Estados Unidos, mais precisamente em Nova
York em 1926, quando abriu seu primeiro estúdio. Dentre os novos alunos,
estavam principalmente bailarinos, como Martha Graham e outros nomes
importantes do cenário da dança moderna e contemporânea, uma vez que os
movimentos realizados melhoravam a performance dos bailarinos, graças ao
aumento no controle motor.
Já na década de 1960, Joseph Pilates realizava nesse estúdio de Nova York
aulas constantes que serviam como uma espécie de treinamento para formar
novos profissionais capacitados no seu método. No entanto, essas capacitações
ainda eram bastante improvisadas, já que Joseph não se preocupava em elaborar
um manual ou curso para novos instrutores. Os primeiros cursos de formação
“oficiais” acabaram sendo elaborados por seus discípulos, que, por mais que
tentassem manter a originalidade da ideia, acabavam agregando tendências pró-
4 Pilates: origem, história e evolução

prias e particularidades. Esse grupo ficou conhecido como a primeira geração


de discípulos diretos de Joseph Pilates, dentre os quais Romana Kryzanowska
foi a que mais buscou seguir a linha tradicional. Por sua vez, Carola Trier,
Ron Fletcher, Kathy Stanford Grant, Eve Gentry e Bruce King desviaram-se
dos ensinamentos de seu mestre, agregando novos elementos ao Pilates, que
começou a se expandir, sofrendo algumas modificações e se subdividindo em
diferentes linhas, algumas com características mais tradicionais e outras mais
contemporâneas, mas todas reconhecidas pela marca The Pilates Studio, que
é responsável pela formação e pelo credenciamento obrigatório de todos que
desejam ser professores dessa modalidade (PANELLI; DE MARCO, 2016).
Em 1970, com a morte de Joseph Pilates, o estúdio ficou sob direção
de sua esposa Clara (Anna Klara Zeuner), que logo percebeu que não seria
capaz de manter e difundir a criação de seu esposo sozinha. A partir dessa
necessidade, ela criou, em parceria com outros entusiastas do Pilates, sob
direção de Romana Kryzanowska, o The Pilates Studio, uma empresa sem
fins lucrativos que buscava difundir a modalidade em seu formato original,
auxiliando na montagem de estúdios e prestando o suporte necessário a alunos
e futuros professores (PANELLI; DE MARCO, 2016).
Em 1986, The Pilates Studio é comprado por uma empresa norte-americana,
que ganha o direito de imagem da marca, justamente quando a modalidade
começava a se difundir pela América do Norte, sendo nesse momento reco-
nhecida como uma integrante da área da saúde, desporto e dança. Em 1992, a
marca é vendida para Sean P. Gallagher, que inicia uma jornada de processos
contra aqueles que não estavam cadastrados junto ao The Pilates Studio,
cobrando royalties pelo uso do nome da modalidade e consolidando o status
da marca (PANELLI; DE MARCO, 2016).
O Pilates chegou no Brasil em 1991, com a bailarina Alice Becker, que
conhecera a modalidade ao realizar seu mestrado nos Estado Unidos. Além
dela, outras brasileiras com atuação nas áreas da dança e da expressão corporal
fizeram suas formações em Pilates nos Estados Unidos, com destaque para
Inélia Garcia, Elaine de Markondes, Maria Cristina Rossi Abrami, mostrando
uma relação muito próxima da dança com o Pilates, responsável pela difusão
da modalidade no país (MACEDO; HAAS; GOELLNER, 2015).
Até o ano de 1998, ainda era necessário viajar ao exterior para realizar o
treinamento dentro do método, o que dificultava o acesso e tornava a prática
pouco popular. A partir de então, foi lançado um programa de treinamento
em São Paulo, a partir da Certificação de Professores da Pilates Inc. do Brasil,
ofertada por Romana Kryzanowska e sua filha Sari Mejia Santo, fazendo com
Pilates: origem, história e evolução 5

que a modalidade fosse amplamente difundida. No ano de 2005, a Power Pilates


Inc. de Nova York estabeleceu seu primeiro centro de treinamento e formação
de professores no Brasil, oferecendo curso de formação do método Pilates
em Piracicaba (SP) sob a direção de Cecília Panelli. Atualmente, é possível
realizar a formação em diferentes cidades e estados brasileiros (PANELLI;
DE MARCO, 2016).
Quando observamos todos esses acontecimentos, podemos afirmar
que Joseph Pilates foi um personagem da história à frente do seu tempo,
trazendo uma proposta totalmente inovadora para o treinamento de pessoas
acamadas ou com dificuldades de locomoção e de saúde em geral, buscando
novas formas de movimentar o corpo e indo muito além dos exercícios
calistênicos realizados na época. Além disto, em um período em que
ainda não existia a fisioterapia, proporcionar exercícios que buscavam a
reabilitação do tônus muscular em sujeitos hospitalizados foi uma enorme
revolução para a época.

2 Evolução do Pilates
O método Pilates é pautado no condicionamento físico integrativo entre mente
e corpo, com controle dos movimentos, força e equilíbrio muscular, desen-
volvendo a consciência corporal, trabalhando o corpo como um todo, com
ênfase na postura e na respiração durante os movimentos. Além disto, esse
método se concentra em exercícios dinâmicos, realizados de maneira lenta,
percebendo a dinâmica corporal, concentrando a atenção na respiração e no
movimento que está sendo realizado (CAMARÃO, 2004).
Nesse contexto, o método Pilates pode ser dividido em duas grandes ca-
tegorias: solo e aparelhos.

As categorias solo e aparelhos são utilizadas por alunos iniciantes, intermediários e


avançados, ainda que haja a tendência de que o aluno iniciante comece sua ambien-
tação com os exercícios de solo. Assim, quando começar a praticar a modalidade
com aparelhos, terá uma adaptação mais rápida, graças ao expressivo aumento na
coordenação motora adquirida com o Pilates em solo.
6 Pilates: origem, história e evolução

O solo, também conhecido como Pilates mat class, inclui exercícios que
utilizam o peso corporal, sendo realizados no solo, na posição sentada ou
em pé, podendo utilizar materiais como a bola suíça (Figura 2a) (CAMA-
RÃO, 2004). São entendidos como a base para os exercícios realizados nos
aparelhos, buscando sobretudo o fortalecimento da musculatura abdominal
e do tronco em geral (PANELLI; DE MARCO, 2016). Já os aparelhos
envolvem os movimentos mais conhecidos, realizados nos equipamen-
tos desenvolvidos por Joseph Pilates, que possuem um sistema de molas
para aumentar ou diminuir a intensidade do exercício (Figura 2b) (Figura
(CAMARÃO, 2004).

Figura 2. (a) Pilates mat class (solo); (b) Pilates com aparelhos (reformer).
Fonte: fizkes/Shutterstock.com; Iryna Inshyna/Shutterstock.com.
Pilates: origem, história e evolução 7

Além dessas categorias, é importante conhecer os princípios do método


Pilates seguidos desde sua criação até a atualidade: relaxamento, concentração,
alinhamento/centralização, coordenação/controle, respiração, fluidez/resistência
e precisão. Cabe ressaltar que diferentes autores propõem diferentes princípios,
modificando nomes e, por vezes, separando alguns conceitos e criando novos
mais específicos. Aqui serão utilizados os princípios idealizados por Camarão
(2004) e Panelli e De Marco (2016). Perceba que alguns conceitos apresentam
duas termologias separadas por uma barra, mostrando uma diferença no nome,
mas mantendo um encontro conceitual entre os autores citados. Os princípios
que se apresentam sozinhos são divergências entre os autores citados, mas que
se complementam quando pensamos a prática do Pilates como um todo.

Relaxamento
Este princípio trata da importância de preparar o corpo para realizar o Pilates,
sendo necessário relaxar o corpo e a mente no início da aula. O relaxamento
pode ser estático ou durante exercícios de mobilização ou alongamento, bus-
cando retirar a tensão da musculatura para ter mais condições de movimentá-la
(CAMARÃO, 2004)

Concentração
É importante que a cada movimento o praticante esteja concentrado em como
sua respiração, articulações, músculos e mente se movimentam e se organi-
zam, para que seja possível realizar um movimento alinhado e preciso. Sem
concentração, não é possível haver evolução dentro da modalidade, sendo um
dos maiores desafios do método. Além disto, quando nos concentramos no
movimento sendo realizado, é possível controlar mais a postura, a contração
muscular e a respiração, o que cria uma consciência corporal (CAMARÃO,
2004; PANELLI; DE MARCO, 2016).

Alinhamento/centralização
Conforme já mencionado, o Pilates tem um foco especial na postura corporal,
enfatizando o tronco como ponto de equilíbrio, estabilização e força. Além
disso, muitos dos exercícios se propõem a melhorar a mobilidade da coluna
como uma forma de facilitar o movimento corporal. Antes de pensar em rea-
8 Pilates: origem, história e evolução

lizar um movimento com altas cargas ou com um alto grau de complexidade,


é importante conseguir manter alinhada a postura da coluna, dos ombros e
do quadril, primando pela qualidade do movimento, e não pela quantidade.
Também são executados movimentos de mobilização e alongamento da coluna
vertebral e do tronco, importantes para diferentes movimentos do dia a dia,
mitigando dores na coluna e o surgimento de lesões futuras (CAMARÃO,
2004; PANELLI; DE MARCO, 2016).

Coordenação/controle
É correto dizer que este princípio permeia a filosofia do Pilates, entendido
como “[...] a perfeita comunicação entre a mente e o corpo” (CAMARÃO,
2004, p. 8). Ele seria a responsável por criar a consciência corporal, pois ao
percebermos o movimento que está sendo realizado, somos capazes de aumen-
tar a coordenação e o controle sobre cada músculo e sobre a respiração. Como
o Pilates busca criar uma conexão entre o corpo e a mente, a percepção do
corpo coordenando as ações durante a aula é de suma importância (PANELLI;
DE MARCO, 2016).

Respiração
Joseph Pilates acreditava que a respiração é um fator importante na execução
dos movimentos, uma vez que o corpo precisa de oxigênio. Portanto, antes de
iniciar o método, iniciantes deveriam aprender a respirar corretamente. Sendo
assim, ele criou um método de respiração em que a inspiração é feita pelas
narinas e a expiração, pela boca. Acompanhando o movimento corporal, a
inspiração deve estar atrelada à fase excêntrica do exercício e a expiração, à
fase concêntrica. Além disto, o método de respiração correta do Pilates con-
siste em esvaziar os pulmões ao máximo para que, ao enchê-lo novamente, o
corpo receba mais oxigênio, uma vez que o corpo expeliu todo o gás carbônico
(CAMARÃO, 2004; PANELLI; DE MARCO, 2016).

Fluidez/resistência
Segundo esse princípio, é essencial realizar cada movimento como algo natural,
de maneira leve, precisa e fluída, mantendo um ritmo e harmonia. Assim,
os movimentos do Pilates podem parecer uma dança. Sua velocidade pode
variar, mas não devem ser vistos como se fossem isolados ou divididos em
etapas, e sim como movimentos que acontecem integralmente (PANELLI,
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DE MARCO, 2016). Camarão (2004) afirma ainda que, com a prática do


Pilates, a musculatura torna-se mais forte e resistente, o que garante uma
melhor execução, fazendo com que o movimento pareça, por vezes, fácil de
ser executado com uma estética fluída.

Precisão
Este princípio aborda a execução acurada, realizando o esforço na musculatura
correta, sem compensações. Além disto, um movimento realizado com pre-
cisão é mais seguro e menos propenso a lesões. Joseph Pilates acreditava que
realizar menos repetições de exercícios corretamente executados seria melhor
do que realizar diversas repetições de movimentos incorretos (PANELLI; DE
MARCO, 2016).
Tais características tornaram essa modalidade extremamente peculiar e
diferente do que vinha sendo praticado, trazendo possibilidades de movimentos
para diferentes populações, criando novas perspectivas sobre como exercitar
o corpo e ganhando muitos adeptos ao redor do mundo.

3 Pilates: uma modalidade em expansão


Panelli e De Marco (2016) apontam que, após chegar ao Brasil em 1991, o
Pilates logo cresceu exponencialmente, listado entre as tendências de estudo
e prática para o ano de 2020, segundo o Colégio Americano de Medicina do
Esporte (THOMPSON, 2019), juntamente com treinamentos realizados com o
peso corporal, treinamento funcional, treinamento como melhora da qualidade
de vida e treinamento para idosos.
Atualmente, estima-se que 15 milhões de pessoas das mais variadas idades
pratiquem Pilates ao redor do mundo, em sua maioria idosos do sexo feminino.
Outro dado relevante é que a maioria dos praticantes da modalidade buscou o
método por dificuldades de mobilidade e dores na região lombar, realizando
atendimentos duas vezes por semana. Quanto ao grau de instrução dos prati-
cantes, predomina indivíduos com ensino superior completo, mostrando uma
relação econômica e social com a prática da modalidade (FREITAS et al., 2019).
O atual perfil dos praticantes da modalidade fala muito sobre a maneira
como ela evoluiu. Os idosos representam 13,7% da população total do Brasil,
crescendo a cada ano graças aos inúmeros avanços em atenção básica de
saúde, que promovem um aumento da expectativa de vida no país (INSTI-
TUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2017). No entanto,
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apenas 27% dos idosos brasileiros praticam algum tipo de atividade física,
sendo considerada a faixa etária menos ativa da população brasileira. Quando
considera-se o tipo de atividade física praticada por essa população, observa-
-se uma grande procura por atividades de leve intensidade e baixo impacto,
como caminhadas, que são realizadas para benefício da saúde, qualidade de
vida e independência funcional.
Sendo assim, a busca por longevidade, independência e qualidade de
vida no processo de envelhecimento tem levado muitos idosos a procu-
rarem a prática do Pilates, que, segundo afirmam Engers et al. (2016),
ajuda a diminuir os efeitos negativos do envelhecimento, gerando uma
melhora funcional e de marcadores de saúde. Em praticantes de Pilates,
são identificadas melhorias na capacidade funcional (79,7%), no estado
geral de saúde (75,1%) e na saúde mental (71,5%) (GONÇALVES; LIMA,
2014). Essa procura é tão acentuada que por muito tempo o Pilates no
Brasil foi associado a uma modalidade para idosos, com exercícios leves
e de alongamento, sem incremento de força ou massa muscular, o que vem
se modificando recentemente.

Qualidade de vida refere-se ao nível das condições humanas básicas, como o bem-
-estar físico, mental e social, bem como fatores como educação, moradia e renda.
Além disso, esse conceito intersecta com outros fatores, que podem afetar positiva
ou negativamente a percepção da qualidade de vida do sujeito.

Quando pensamos na sociedade atual, é inegável o interesse crescente pela


melhora da qualidade de vida. A prática regular de exercícios parece fazer
parte desse novo estilo de vida, pautado na saúde, longevidade e bem-estar.
Esse movimento fez com que pessoas das mais diversas faixas etárias pro-
curassem o Pilates, sobretudo por sua característica funcional que, no lugar
da performance atlética, prima pela melhoria do movimento corporal e da
saúde para as atividades laborais e diárias (PANELLI; DE MARCO, 2016).
Nessa perspectiva de qualidade de vida e bem-estar, podemos apontar o
Pilates como a escolha de uma população que busca não apenas a definição
corporal, mas também um exercício capaz de melhorar suas atividades diárias,
sua postura e sua respiração, realizado em local mais intimista e que conte
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com um treinamento dinâmico, diferenciado e personalizado. De fato, para


37,8% dos praticantes, a qualidade de vida é o principal motivo para prática
do Pilates. Além disto, 51,4% dos participantes apontam que o Pilates é uma
maneira de manter o corpo e a mente equilibrados, e 62,2% dos praticantes
consideram que tiveram ganhos substanciais em saúde e qualidade de vida
em menos de 12 meses de prática (GONÇALVES; LIMA, 2014).
Além dessa população, temos outro recorte interessante, que são as pes-
soas com alguma lesão musculoesquelética. Segundo o Ministério da Saúde
(BRASIL, c2020), esse tipo de lesão representa um dos principais agravos de
saúde no Brasil, recorrentes de traumas, violência, doenças ocupacionais e
alterações anatômicas e morfológicas. Esse dado parece ser bastante relevante
quando aliado ao fato de que 62,5% dos praticantes de Pilates buscaram a
modalidade por conta de lesões musculoesqueléticas (FREITAS et al., 2019),
enquanto 70,8% dos praticantes relatou diminuição de dor em menos de 12
meses de prática do Pilates (GONÇALVES; LIMA, 2014).
Essa parece ser uma população crescente e que reconhece o Pilates como
um método capaz de melhorar a condição lesionada. O Pilates está sendo de-
senvolvido inclusive em hospitais de grande porte, como aliado à recuperação
de sujeitos que realizaram cirurgias e até mesmo em portadores de fibrose
cística, que apresentam melhoras significativas de saúde (FRANCO et al.,
2014). Outro dado importante e que fortalece o vínculo entre o Pilates e as
áreas da saúde é o percentual de praticantes que procuraram a modalidade por
indicação médica, que passa dos 40% (GONÇALVES; LIMA, 2014).
Segundo estudo de Nogueira et al. (2019), a aplicação de um protocolo
de treinamento de Pilates junto a jogadores juvenis de futebol, ainda que não
fosse capaz de melhorar a resistência muscular dos jogadores, foi capaz de
melhorar a performance funcional dos atletas, aprimorando sua desenvoltura
nos deslocamentos e promovendo movimentos com maior amplitude. Isso
corrobora estudos de Poletto e Toigo (2017), que concluíram que o treinamento
auxiliar em Pilates trouxe benefícios em termos de coordenação, flexibilidade,
força muscular, postura e desempenho esportivo em atletas de diferentes áreas
profissionais ou amadores.
Outro ponto que merece destaque é apresentado no estudo de Souza et al.
(2017), que analisaram o Pilates enquanto campo de conhecimento, estudando
a produção científica realizada por pesquisadores brasileiros sobre o método.
Os autores observaram que, até então, haviam sido publicados 43 artigos
científicos que abordavam predominantemente o Pilates por um viés biodi-
nâmico, sociocultural e pedagógico. Os resultados desse estudo são bastante
animadores, tendo em vista que pesquisas e produção de conhecimento são
12 Pilates: origem, história e evolução

fundamentais para que a prática seja prescrita e realizada com maior eficiência
e segurança, garantindo o melhor estímulo possível aos praticantes.
Sendo assim, o Pilates vem sendo utilizado como um instrumento tera-
pêutico para a promoção e proteção da saúde, principalmente por conta de
suas características pautadas na melhora do movimento corporal como um
todo, bem como no fortalecimento muscular e na postura corporal. Essas
características que Joseph Pilates atribuiu à modalidade que leva o seu nome
a tornaram um fenômeno, principalmente entre pessoas preocupadas com a
saúde ou com lesões preexistentes, que encontram nesse método uma alternativa
para manter hábitos mais saudáveis, mostrando a potencialidade do Pilates
como uma ferramenta de condicionamento físico.

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Leitura recomendada
PILATES, J. H.; MILLER, W. J. Return to life trough Contrology. Nevada: Presentation Dy-
namics, 1998.
14 Pilates: origem, história e evolução

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