Estatuto Editorial
Dando cumprimento ao disposto no n.º 4 do art.º 3.º do decreto-Lei n.º 85C/75 de 26 de Fevereiro, a
“Revista Portuguesa de Cirurgia” apresenta aqui o seu Estatuto Editorial.
É propriedade da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, e é o seu Órgão Oficial. Publicará trabalhos científi-
cos do foro cirúrgico, estando também aberta a outros trabalhos e informações relacionadas com a actividade
sócio-profissional, tendo como missão a promoção científica da Cirurgia Portuguesa, sendo orientada por crité-
rios de rigor e criatividade editorial, sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica e não
fixando fronteiras regionais, nacionais ou culturais. Terá uma periodicidade trimestral, sendo os 4 números publi-
cados, em Março, Junho, Setembro e Dezembro. Terá como Director o Editor-Chefe designado por convite pela
Direcção da Sociedade Portuguesa de Cirurgia, que actuará também como Coordenador redactorial e como
Conselho Científico os anteriores Presidentes e Secretários Gerais da Sociedade. A sua sede e Redacção será na
sede da Sociedade Portuguesa de Cirurgia.
O Editor Chefe
Corpo Editorial Editor Chefe – José Manuel Schiappa, Editores associados – José Crespo Mendes de Almeida (Editor Científico),
José Augusto Gonçalves (Editor Técnico), Jorge Penedo (Editor de Supervisão), Amadeu Pimenta, Eduardo Xavier da Cunha
Edição e Propriedade Sociedade Portuguesa de Cirurgia – Rua Xavier Cordeiro, 30 – 1000-296 Lisboa, Telefs.: 218 479 225/6,
Fax: 218 479 227, E-mail spcirurgia@clix.pt • Redacção e Publicidade SPOT Depósito Legal 255701/07, • Composição,
ÍNDICE
Editorial/Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
JOSÉ MANUEL SCHIAPPA
A S.P.C. Passado, Presente e Futuro/The Portuguese Society of Surgery; Past, Present and Future . . . . . . . . . . 21
JOSÉ MANUEL MENDES DE ALMEIDA
Agenda/Agenda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Adopted by the 18th WMA General Assembly, Helsinki, Finland, June 1964, and amended by the 29th WMA General Assembly,
Tokyo, Japan, October 1975, 35th WMA General Assembly, Venice, Italy, October 1983 41st WMA General Assembly, Hong Kong,
September 1989, 48th WMA General Assembly, Somerset West, Republic of South Africa, October 1996 and the 52nd WMA Gen-
eral Assembly, Edinburgh, Scotland, October 2000. Note of Clarification on Paragraph 29 added by the WMA General Assembly,
Washington 2002. Note of Clarification on Paragraph 30 added by the WMA General Assembly, Tokyo 2004
(Esta é a última versão oficial desta Declaração que ainda não tem versão traduzida para português)
Because of differing legal systems and cultural backgrounds there are varying approaches to the use of animals for
research, testing, or training in different countries. Nonetheless, their use should be always in accord with humane prac-
tices. The varying approaches in different countries to the use of animals for biomedical purposes, and the lack of relevant
legislation or formal self-regulatory mechanisms in some, point to the need for international guiding principles elaborated
as a result of international and interdisciplinary consultations. These guiding principles that follow provide a framework
for more specific national or institutional provisions. They apply, not only to biomedical research but also to all uses of ver-
tebrate animals for other biomedical purposes, including the production and testing of therapeutic, prophylactic, and diag-
nostic substances, the diagnosis of infections and intoxications in man and animals, and to any other procedures involv-
ing the use of intact live vertebrates.
Fazemos agora sair o primeiro número da segunda série da “nossa” Revista Portuguesa de Cirur-
gia, órgão oficial da Sociedade Portuguesa de Cirurgia. Esta Revista terá uma periodicidade trimestral,
sendo os 4 números publicados, em Março, Junho, Setembro e Dezembro.
Foi no fim do século XIX que nasceram as primeiras Sociedades Cirúrgicas Nacionais. A primeira
Sociedade Cirúrgica Internacional foi a “Societé Internationale de Chirurgie”, fundada em 1902. Estas
Sociedades passaram, muito rapidamente, a estar ligadas a Revistas Científicas, como modo de veicu-
lar a informação produzida. Os propósitos das Sociedades e das suas Revistas e Jornais mantêm-se,
passado um século. Enquanto as Sociedades procuram promover o progresso da ciência que lhes está
associada, pela discussão e pelo incentivo à pesquisa, com troca de conhecimentos, inovação e expe-
riências, as Revistas disseminam os resultados e a informação obtida, coligida e discutida. A educação
e a promoção dos mais altos padrões de qualidade na prática da arte da cirurgia, com a facilitação da
troca de ideias de forma regular e prática, através desses meios de comunicação, é um propósito que se
mantém e que vamos procurar retomar dentro do meio cirúrgico nacional.
Todos receberam o informação postal que a Direcção da Sociedade enviou anunciando este pro-
jecto e, em consequência, têm uma ideia dos nossos propósitos e daquilo que esperamos. No entanto,
dado o envolvimento que se deseja, da parte de todos os profissionais envolvidos nestas áreas, volto a
referir alguns destes temas.
Ao aceitar o convite que me foi feito para liderar a equipa editorial, não escondi a dificuldade da
tarefa. O que se pretende atingir com esta publicação é um alto padrão de qualidade e um envolvimento
científico que implica vontade de todos em colaborar e contribuir, não só com participação e ideias,
mas sobretudo com o envio de trabalhos científicos.
O que foi sugerido pela Direcção como meta inicial, de uma de muitas etapas que projectos seme-
lhantes têm de ir ultrapassando, foi a obtenção da indexação internacional da Revista, na New York
Library of Medicine. É uma fasquia muito alta e que implica trabalho – o vosso mais do que o nosso
É em nome de “eficácia” que desejo trabalhar com uma equipa editorial de dimensões reduzidas
para que se obtenham resultados com alguma facilidade de decisões; que não fiquem ofendidos ou se
sintam menorizados os (muitos) que não forem agora incluídos. Depois de atingida a velocidade de cru-
zeiro, chegará a altura de dar o lugar a outros e de renovar de forma continuada a equipa; também para
isto iremos seguindo com atenção o empenhamento e a qualidade do material científico e outro que
nos for chegando.
Este número “Zero” que agora vos é apresentado tem uma estrutura ligeiramente diferente do que
viremos a ter depois e de forma continuada; trata-se de um “Número de Fundação” que, por isso
mesmo, tem características diferentes. No entanto, nada obsta a que os bons trabalhos científicos
originais comecem a ser publicados quanto antes! Para além das vossas ideias, enviem-me os vossos
trabalhos!
Editorial
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A estrutura da Revista incluirá um número grande de secções. Não existirão todas, como é evi-
dente, em todos os números. Dando-vos uma breve resenha de quais serão:
Os artigos aceites para publicação poderão ser escritos, para além do Português, em Inglês, Francês ou
Espanhol.
Teremos duas páginas iniciais de Editoriais, uma da responsabilidade dos Editores, outra da Socie-
dade Portuguesa de Cirurgia.
Uma secção de “Cartas ao Editor”, para onde poderão enviar os vossos comentários ao que foi
publicado.
Quanto a artigos científicos teremos diversas secções: Artigos de Opinião e Artigos de Revisão, na
sua maioria por convite, dirigidos a temas de actualidade. Artigos científicos Originais, que deverão ser
a área de maior interesse e dimensão, Casos Clínicos e “Controvérsias” (onde se dará voz a posições dis-
tintas sobre opções científicas e/ou de actuação). Alguns destes artigos poderão ser complementados por
“Pontos de vista” de Especialistas da área, convidados a fazer curtos comentários e, no caso das “Contro-
vérsias” haverá espaço para um fórum de discussão.
As secções dirigidas a informação pela imagem serão “Passos Técnicos”, uma ilustração passo a
passo de determinadas técnicas, numa eventual abertura para um futuro Atlas, e Imagens para Cirur-
giões, onde se publicarão imagens características, raras ou pouco usuais.
Teremos uma secção de “Recomendações ou Linhas de Actuação” a articular cuidadosamente com
as Evidências mais actuais.
Haverá espaço para Formação e Educação, História e Carreiras Profissionais, Património Cultu-
ral, Gestão e Deontologia e Ética.
Na área da Informação teremos uma Revista de Imprensa, Agenda, e
Novidades e Notícias.
Espero que venham a ter bons momentos com a Revista Portuguesa de Cirurgia e espero que ela
venha ao encontro do que desejavam. Por outro lado, repetindo o que já foi dito acima, fico à espera
das vossas impressões, ideias e participação.
Pediram-me ou mandaram-me não sei bem, ir bus- recém licenciados, que eram logo mobilizados.
car ás minhas memórias e aos documentos que exis- Quando voltavam as rotinas adquiridas tinham efei-
tem, como nasceu e cresceu a nossa Sociedade. tos nocivos.
Mas narremos os factos. Mas voltando um pouco atrás, à S.M. dos HCL
A memória deu-me o prazer de relembrar coisas que relembro os cursos para internos organizados por
influenciaram o meu trajecto. Tive a felicidade de ter Alfredo Franco, que vieram pôr em foco formação pós-
três Mestres, todos excepcionais, todos diferentes, Cid graduada e que para a minha geração foram um marco
dos Santos, Rafael Bello Moraes e Cândido Silva. Sem- importante, no fundo o início do que hoje se chama
pre tenho defendido a vantagem do contacto com formação contínua.
mais do que uma Escola, conhecer mais do que uma As Sociedades Cientificas pela sua independência
maneira de pensar. Seria bom haver um estágio de são fundamentais, são um palco onde nos sujeitamos
opção obrigatório num Serviço à escolha. livremente às críticas dos outros
Todos eles me incutiram o espírito da investigação O cirurgião e as suas características, talvez tenham
clínica, da comunicação e participação de resultados atrasado o crescimento da S.P.C. As referências à figura
Duas Sociedades me surgiram logo após o início do do Cirurgião no livro de Fernando Namora, talvez aju-
Internato nos H.C.L., a Sociedade das Ciências Médi- dem a explicá-lo.
cas de Lisboa e a Sociedade Medica dos H.C.L. Uma Duas reuniões poderão ter tido influência na neces-
centenária com a sede na Rua do Alecrim, a outra no sidade da sua existência. Uma, as sessões que decor-
Hosp. de St. Ant. dos Capuchos. riam aos sábados, que organizávamos envolvendo
Quem alguma vez entrou na sede da Rua do Ale- todos os serviços de Cirurgia dos HCL, em que eram
crim, nunca mais poderá esquecer a solenidade da sala, discutidos casos clínicos subordinados a tema, no
com os seus cortinados de veludo vermelho e o peso âmbito da SMHCL, no Hosp. dos Capuchos. A outra,
que se sentia sobre nós por ali terem passado todos os os Cursos Internacionais levados a cabo por Araújo
vultos da Medicina Portuguesa que venerávamos. Era Teixeira no Porto.
real a sensação de voltar ao século passado. A semente estava lançada, faltava acarinhá-la.
Foi aí que fizemos a nossa primeira comunicação: Vamos pois tentar contar o resto da História.
Casuística dos Tumores Benignos do Estômago. Serv. de Todos nós sentíamos a necessidade da sua existência,
Med. Op.; Hosp. de St. Maria. Dir. Prof. Bello Moraes. onde nos encontrássemos periodicamente, onde tro-
Estávamos em 1964, tinha voltado de Angola. A cássemos os nossos pontos de vista e que através dela
guerra de África foi má para tudo e a Medicina não houvesse capacidade de intervir nos caminhos e desti-
escapou. Afectou profundamente a formação dos nos da Cirurgia Portuguesa. Ilusão que ainda hoje
Ex.mo Colega,
A comissão de Lisboa
Dia 1 – às 9h30
14h30
Seguida de discussão
Dia 2 – às 9h30
Seguida de discussão
Caro Colega
A COMISSÃO ELEITORAL, envia-lhe juntamente com esta circular as duas listas que se apresentaram
como candidatas às eleições dos primeiros corpos sociais da S.C.P.
Segue também o texto programático que uma das listas se propõe realizar.
As eleições realizar-se-ão em Lisboa, na Aula Magna do Hospital de Santa Maria, em 2 de Julho próximo,
dia de encerramento das 1ªs Jornadas de Cirurgia levadas a cabo pela Sociedade.
No caso de não lhe ser possível estar presente, deverá enviar o seu voto pelo correio endereçado a:
• Só serão considerados válidos os votos por correspondência recebidos até sexta-feira, dia 1 de Julho;
• As listas são votadas em bloco; são consideradas nulas as listas com rasuras ou emendas, nomes risca-
dos e indicação de eventuais substitutos.
• As listas enviadas pelo correio devem ser dobradas em quatro, segundo os moldes habituais, ficando
exteriorizada a face não dactilografada da lista.
• O voto pelo correio terá de vir acompanhado do nome perfeitamente legível do sócio que o envia; o
nome poderá constar no remetente ou no interior do envelope, mas não poderá ser escrito na lista, sob
pena de a anular.
• Poderão votar todos os sócios já inscritos e aqueles que se inscreveram junto de um dos membros da
Comissão Eleitoral.
• A mesa de Voto funcionará junto à Aula Magna do Hospital de Santa Maria, no piso 3, no dia 2 de
Julho das 8h30 às 12h30.
PROGRAMA DE TRABALHO
Lista encabeçada pelo Prof. Joaquim Bastos
Pós-graduação em Cirurgia
Manuel Cardoso de Oliveira
Prof. Universitário – Faculdade de Medicina do Porto
Director do Departamento de Cirurgia do Hospital de S. João
A educação médica continua a ser um processo glo- diçar mais uma oportunidade não é inteligente. Neste
bal sem descontinuidade estando, cada vez mais, esba- ambiente de mudanças inadiáveis, que criam ansieda-
tidas as fronteiras entre as suas diversas componentes. des e conflitualidades, é preciso colocar os problemas
Quer na perspectiva universitária, quer na assistencial, no plano da sua resolução. Aliás estas épocas não são
há acções formativas que continuam de costas volta- apenas de desgaste e frustração, pois iluminam cami-
das, criando dificuldades e desperdícios. Por razões de nhos que irão permitir que o futuro seja mais promis-
racionalização de custos e de recursos humanos é de sor.
prever que haja uma aproximação entre aquelas duas O tema é vasto e tem tanto de flagrante actualidade
carreiras (universitária e hospitalar), sendo desejável como de evidente susceptibilidade. Reconhecendo
que nos hospitais com ensino a fusão seja total, alguma volatilização de alguns conceitos há que acei-
abrindo horizontes de esperança aos mais novos. Falar tar, sem perigos de ostentação, que a experiência de
das consequências de Bolonha parece-nos deslocado grupos de trabalho que criámos ao longo dos anos nos
num documento especialmente ligado à formação dos traz uma mais valia que não devemos secundarizar. Por
cirurgiões e à sua actualização permanente ao longo da isso, mais do que enunciados e objectivos programáti-
carreira. No entanto as sinergias entre a educação e a cos deve destacar-se o que se foi fazendo, consagrando
saúde são indiscutíveis e terão efeito catalizador de assim a importância do ser, mais do que a do parecer.
outras mudanças, como está demonstrado em vários É conhecido que o homem se modernizou, não como
países. Por isso a pós-graduação necessita de ser rapi- resultado de dotes biológicos superiores mas como res-
damente profissionalizada em todas as suas vertentes. posta ao desafio de situações especialmente difíceis,
E tanto assim é que o ministério da saúde tem prevista que o obrigaram a esforços sem precedentes. Este pen-
legislação que facilite aos internos a sua inserção em samento aplica-se à pós-graduação, pois encontramo-
programas de doutoramento, interligação em que nos numa fase de completa desadequação do ensino,
todos beneficiam: as bases científicas da medicina treino e prática da especialidade que cultivamos.
vêem o serviço à comunidade mais explicitamente, os Ninguém deve ignorar influências que têm grande
serviços clínicos não se afastam da formação científica impacto nas nossas actividades: os avanços rápidos e
que os ajuda a valorizar o rigor e a qualidade. Espera- impressionantes na ciência e na tecnologia, as pressões
se que o papel pivot dos hospitais com ensino e das brutais para sermos competitivos, a evidente necessi-
estruturas de saúde que lhes estão próximas seja desse dade de um desenvolvimento contínuo, a natureza
modo plenamente assumido para que, de uma vez por diferente dos doentes que temos de tratar, a insufi-
todas, cada qual faça aquilo que lhe compete. Desper- ciência de instalações e equipamentos, uma progres-
Pós-Graduação em Cirurgia
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ainda: “The basic certificate has minimal currency today mação? E, na assistência aos nossos doentes, não tere-
and its most appropriate fate is to be cannibalized” mos de nos rodear de todas as oportunidades de modo
[7,8,9]. Em apoio destes pontos de vista destaca-se que a proporcionar-lhes uma assistência de melhor quali-
o que é necessário é produzir um cirurgião educado e dade? As respostas a estas questões inquietantes não
exposto a todas as áreas essenciais da cirurgia geral com podem ser nem equívocas nem evasivas. Há aqui um
a amplitude e a profundidade possíveis e que possa ser discurso que passa por lideranças fortes e legítimas.
especialmente competente nalguma, acrescentando Mas cada um só pode dar o que tem de experiência
que deve ser um indivíduo razoavelmente indiferen- acumulada no respeito pelos doentes, pelos colabora-
ciado e relativamente versátil [10]. Outros dizem: dores, pelos alunos, e até por si próprio.
…“the existence of the general surgeon who did a wide No serviço que dirigimos temos generalistas da
range of procedures in the past is quickly being replaced by cirurgia geral e cirurgiões com aptidões especiais nal-
a drive towards specialization within the field in areas gumas áreas, sabendo-se que a maioria dos cirurgiões
such as breast or colorectal surgery” [11]. O que se afirma fazem cirurgia de urgência, do trauma e ambulatória,
para estas áreas podia aplicar-se para já à cirurgia e os mais velhos espera-se que tenham adquirido em
hepato-bilio-pancreática e à esófago-gástrica e no tempo certo a condição de generalistas da cirurgia
futuro a algumas outras. No nosso entendimento nada geral. Uma vez mais, defendemos que as nossas maio-
impede que os jovens cirurgiões possam adquirir apti- res preocupações estão dirigidas aos doentes sem per-
dões especiais em mais do que uma área, até se fixarem der de vista a necessidade de treinar o melhor possível
ulteriormente numa delas. E em reforço do exposto, os internos e os jovens cirurgiões. E o treino destes será
escutemos mais uma vez o já referido cirurgião norte- mais qualificado se aprenderem, em áreas específicas,
americano [10]: “No one is so naive as to think that these com aqueles que nelas adquiriram especial competên-
actions will obviate all the tensions that exist between cia.
generalists and specialists and the reason is that those ten- Aproveitando uma experiência testada desde 1990,
sions are inherent to progress”. E mais adiante: “speciali- temos conseguido avaliar as nossas práticas com audi-
zation is the natural and inevitable offshoot of accumu- torias internas e reuniões de morbilidade e mortali-
lated new knowledge and advances in technology; as a dade, além de outras. Tal orientação tem sido funda-
result, specialization is not only inevitable, but also emi- mental pois deste modo detectamos práticas menos
nently desirable and supportable”. Sabendo-se da abso- convenientes e resultados diversos de acordo com a
luta incapacidade das instituições em preparar os seus experiência dos cirurgiões. É de resto evidente o bene-
internos para serem competentes em todas as áreas da fício da investigação clínica e da preparação pedagó-
cirurgia geral, temos de ser inovadores, tanto mais que gica dos nossos colaboradores para que a qualidade das
o volume de doentes para operar tende a diminuir. E suas intervenções seja melhor. Defenderam-se 12 teses
ainda neste complicado mas estimulante momento da de mestrado e 3 de doutoramento (estou a referir-me
nossa especialidade, prevendo o futuro, há quem acon- ao antigo serviço de Cirurgia B) e esperamos concluir
selhe e defenda que as áreas que estão a exigir compe- em devido tempo 3 teses de doutoramento e 5 de mes-
tências adicionais, e que no futuro poderão mesmo ser trado. Em fase de arranque estão outras teses de mes-
donas dos seus destinos, devem-no fazer “within a com- trado e doutoramento e esta dinâmica parece ter con-
monwealth system of governance” [10]. Assim sendo tagiado positivamente alguns dos novos colaborado-
poderemos ficar indiferentes à falta de laboratórios de res. Face à importância da investigação, lembra-se que
treino e de outras condições que nos permitam mudar o director do serviço/departamento, para ter sucesso,
substancialmente a formação dos cirurgiões? Podere- tem de estar completamente comprometido com este
mos manter estruturas em que o individualismo dos objectivo. A criação e a manutenção de um ambiente
que detêm o poder dita a sorte dos programas de for- de sabedoria é um ingrediente necessário para alcançar
Pós-Graduação em Cirurgia
35
mortalidade e morbilidade bem como as auditorias Precisamos de pessoas que tenham a capacidade e a
têm sido instrumentos (para quem as utiliza) de audácia de promover o pensamento personalizado.
grande importância programática. Essas reuniões são Vivemos hoje um momento em que necessitamos de
verdadeiramente modelares pois obrigam-nos à refle- romper com tradições antigas sem qualquer sentido.
xão e dão lições de humildade que infelizmente nem Há pessoas que acreditam ou fazem acreditar em
todos aproveitam. sucessos que apregoam mas que não resistem à análise
Torna-se muito importante que os sistemas de ava- serena e séria dos controles indispensáveis. Como se
liação testem a qualidade dos programas de treino e disse, há um predomínio do holístico sobre o indivi-
identifiquem as suas deficiências. Entre nós fala-se na dual e a constituição de grupos multidisciplinares for-
necessidade de avaliação e poucos a praticam, aponta- tes e muito competentes é hoje um objectivo funda-
se a importância da investigação e só alguns a fazem. mental dos hospitais de fim de linha.
É o tal predomínio do parecer sobre o ser de que falá- A acreditação dos nossos hospitais em termos de
mos inicialmente. Outros [13] apontam para a neces- qualidade e gestão do risco clínico, bem como a certi-
sidade de estudos prospectivos e randomizados com a ficação e a recertificação dos cirurgiões, são questões
devida ocultação (preferencialmente em múltiplos cen- interligadas que só poderão ser devidamente contem-
tros e com protocolos semelhantes). Segundo eles os pladas num contexto de profunda transformação no
outcomes precisam de ser validados e os modelos de modo como alguns serviços ainda estão estruturados.
simulação, em particular, devem ser testados por simu- Aqui se insere a questão dos hospitais e dos cirurgiões
lação em computadores. Estes estudos têm-se limitado com maior volume de cirurgia, estando demonstrado
a aptidões técnicas mas outras aptidões (as cognitivas que uns e outros têm melhores índices de rentabili-
e as comunicacionais) são parte integrante da perfor- dade em todas as suas vertentes [14,15,16]. Efectiva-
mance em cirurgia. mente a mortalidade operatória, a duração do inter-
Na área de pós-graduação cabem ainda os cursos namento, os custos e a sobrevida têm melhores índices
livres e outras acções de educação médica contínua. em hospitais de grande volume de cirurgias, apenas se
Como se sabe, proliferam em Portugal muitas destas discutindo quais os mecanismos responsáveis por esses
iniciativas, nem todas infelizmente com a qualidade e resultados. No mesmo sentido sabe-se também que os
os requisitos mínimos que deviam ter. Realmente nós cirurgiões com maiores volumes de cirurgia em deter-
vivemos actualmente um mundo muito diferente do minadas áreas obtêm melhores resultados, adiantando-
de há décadas atrás. Quem quiser assumir protagonis- se como explicação que essa experiência acumulada
mos na realização de cursos pós-graduados deve ter reduz os erros que eventualmente possam ser cometi-
uma contribuição institucional e pessoal muito forte e dos. É ainda de total consenso a ideia de que hospitais
inovadora não só no domínio técnico, como no cien- e cirurgiões com maiores volumes de cirurgia criam
tífico e no da investigação. Estamos actualmente um envolvimento institucional que aumenta a segu-
muito próximos de ter alunos de doutoramento, regis- rança para os doentes e até se especula se esta sofisti-
tando-se com agrado ser essa uma preocupação do cação de meios não poderá noutros hospitais conduzir
ministério da saúde, enquanto facilitador, e das facul- a resultados sobreponíveis.
dades, enquanto instituições coordenadoras desses alu- Se nos reportarmos às estruturas, processos e outcomes
nos. No chamado ciclo clínico das faculdades poucos como já fizemos anteriormente [17] dir-se-á que as rela-
serão os serviços autónomos e capazes de assumirem ções entre eles não têm sido suficientemente estudadas
totalmente esses compromissos, pelo que sugerimos na cirurgia oncológica. Há, no entanto, quem apresente
parcerias com as bases científicas da Medicina. No argumentos [16] para favorecer a importância dos cirur-
nosso caso, continuamos a dar sequência a um traba- giões com maiores volumes de cirurgia: “Surgeon
lho iniciado há mais de 30 anos. volume is a very strong predictor of surgery complica-
Pós-Graduação em Cirurgia
37
BIBLIOGRAFIA
RESUMO Trabalho de confrontação entre a diversidade do pensamento médico que supostamente aceita a predomi-
nância do pensamento científico e o pensamento dialéctico que desde sempre tem dominado a arte de ter sucesso à
priori na luta pela vida e na disputa pelo predomínio político-social.
Hospitalar 2007
MAIO
12 a 15 de Junho de 2007
São Paulo, Brazil
X Congresso Nacional de Medicina Intensiva
www.mdna.com
I Congresso Luso-Brasileiro de Medicina Intensiva
6 a 8 de Maio de 2007
ISCAS – 11th Annual Conference of the International
Santa Eulália – Algarve
Society for Computer Aided Surgery
(este estava no final da lista é para passar para aki)
27 a 30 de Junho de 2007
Berlin, Germany
Academy Meeting
Phone: (49) 7742-922-434
3 a 5 de Maio de 2007
office@cars-int.org
Ostende, Bélgica
www.cars-int.org
7th International Gastric Cancer Congress
9 a 12 de Maio de 2007
São Paulo, Brazil JULHO
www.7igcc.com.br
15th Internacional EAES Congress
15th World Congress on Disaster and Emergency 4 a 7 de Julho de 2007
Medicine (WCDEM) Atenas, Grécia
13 a 16 de Maio de 2007 www.eaes-eur.org
Agenda
49
17th World Congress of the World Society of Cardiothoracic XVI Reunião Nacional de Cirurgia de Espanha
Surgeons 23 a 26 de Outubro de 2007
11 a 13 de Julho de 2007 San Sebastian
Kyoto, Japão www.aecirujanos.es
www.wscts20007.com
15th European Gastroenterology Week
CARS 2007 – Computer Assisted Radiology and Surgery 27 a 31 de Outubro de 2007
20 a 23 de Julho de 2007 Paris
Berlin, Germany www.uegw.org
Phone: (49) 7742-922-434
fschweikert@cars-int.de
NOVEMBRO
AGOSTO
Médica
14 a 17 de Novembro de 2007
ISW 2007
Dusseldorf, Germany
26 a 30 de Agosto de 2007
Phone: (49) 211-456-001
Montréal, Canadá
www.messe-dusseldorf.de
www.isw2007.org
Ano de 2007
Agenda
51
CURSOS DE LAPAROSCOPIA
Prevê-se a realização de outro Curso Básico no decurso de 2007, mas em data ainda a anunciar no site da SPC.
Agenda
53
Próximo Número
Artigos de Revisão:
GIST em 2007 – Uma colectânea de trabalhos actualizando a visão sobre o GIST
Trabalhos Originais:
Trabalhos premiados no Congresso de 2007 da Sociedade Portuguesa de Cirurgia
(Comunicações Livres e de Posters)
Úlceras de Perna
Controvérsias:
Hérnia Inguino-crural (tratamento por via laparoscópica ou por via “clássica”?)
Casos Clínicos:
Traumatismo Abdominal Fechado
Um caso de Linfoma de Burkitt
Passos Técnicos:
Colangiografia Intraoperatória
Deontologia e Ética:
O consentimento informado
Património Cultural:
O primeiro laparoscópio no HSAC
Editoriais Editorials
Serão solicitados pelos Editores. Relacionar-se-ão com temas de actualidade It will be invited by the Editors. They are to be related with subjects and
e com temas importantes publicados nesse número da Revista. Não deverão exce- themes of actuality and with important subjects published in the correspondent
der 4 páginas A4 issue of “Revista Portuguesa de Cirurgia”. It should not exceed 4 páginas A4
Controvérsias Controversies
São trabalhos elaborados a convite dos Editores. Relacionar-se-ão com temas Its work produced by Editorial invitation. It will relate with subjects where
em que não haja consensos e em que haja posições opostas ou marcadamente no consensus exists and where opposed or markedly different positions exist as
diferentes quanto ao seu manuseamento. Serão sempre pedidos 2 pontos de vista, to how to manage it. Two points of view will always be asked for, each cover-
cada um cobrindo uma das opções opostas. O texto de cada um dos autores não ing one of the opposed options. The text of each one of the authors shall not
deverá exceder 8 páginas A4. exceed 8 pages A4.
Esta secção poderá ser complementada por um comentário editorial e rece- This section maybe complemented by an editorial comment and reader’s
beremos comentários de leitores no “Fórum de Controvérsias” que será publi- comments will be received at the “Forum de Controvérsias” which will be
cado nos dois números seguintes. Haverá um limite de 6 páginas da Revista para published in the next two issues. There will be a limit of 6 pages of the Jour-
este Fórum pelo que os comentários enviados poderão ter de ser editados. nal for this Forum and, by this reason, the comments sent may have to be
edited.
Casos Clínicos
Relatos de Casos, de preferência raros, didácticos ou formas pouco usuais de Clinical Cases
apresentação. Não deverão exceder as 4 páginas A4 (quinhentas palavras), cinco Relates of Clinical Cases, preferentially rare, didactic or on unusual forms
referências e duas ilustrações. of presentation. It shall not exceed 4 pages A4 (500 words), five references and
two illustrations.
Nota Prévia
Comunicações breves, pequenos trabalhos de investigação, casuística ou Introductory Notes
observações clínicas originais, ou descrição de inovações técnicas em que se pre- Brief communications, short research papers or casuistic or original clini-
tenda realçar alguns elementos específicos, como associações clínicas, resultados cal observations, or description of technical innovations, where the highlight
preliminares apontando as tendências importantes, relatórios de efeitos adversos shall be on some specific elements like clinical associations, preliminary results
ou outras associações relevantes. Apresentadas de maneira breve, não deverão showing the important trend, reports on adverse actions or other relevant asso-
exceder as três páginas A4 (1000 palavras), cinco referências e três ilustrações. ciations. It shall be all presented in a brief style and not exceed 3 pages A4
(1000 words), five references and three illustrations.
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em questão. São limitadas a 2 páginas A4 (cerca de 300 palavras), um qua- month after publication of the commented paper. These letters are limited to
dro/figura e seis referências bibliográficas. Aos autores dos artigos, que tenham 2 pages A4 (about 300 words), a table/illustration and six bibliographic ref-
sido objecto de carta ou cartas aos editores, será dado o direito de resposta em erences. To the authors of the papers object of the comments will be given iden-
moldes idênticos. tical conditions for answering.