Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Nº16
BIMESTRAL • ANO 3
A G O S T O PREÇO 3,00€
ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS
FISIOTERAPEUTA
Diretor da Área de Ensino de Fisioterapia da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa
ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A PRÁTICA DE ATLETISMO
ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO EM ATLETAS DE
ANDEBOL COM E SEM HISTORIAL DE LESÕES DE SOBRECARGA
ARTIGO
· REVISÃO DA LITERATURA ·
ARTIGO
O EFEITO DO ALONGAMENTO NA PREVENÇÃO DE LESÃO
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO PHAST
O Curso Metodologia de Avaliação PHAST visa sensibilizar os formandos para o conceito PHAST e raciocínio clínico,
bem como dotá-los de capacidades e competências para elaborar e executar diversos testes numa avaliação fisiotera-
pêutica.
A metodologia PHAST permite realizar uma avaliação cinesiofuncional completa, garantindo o melhor acompanha-
mento do paciente. Através de raciocínio clínico exclusivo, ensinado no decorrer do curso, chegará de forma mais fácil
e prática ao diagnóstico funcional, que o auxiliará na definição de um tratamento mais efetivo.
O método baseia-se em mais de 20 anos de pesquisas científicas e experiências práticas da Dra. Natália Bittencourt
(CEO) e da Prof. Dra. Luciana De Michelis (Consultora Científica). Juntas possuem mais de 50 artigos publicados nas
mais renomadas revistas científicas e diversas pesquisas voltadas para desenvolvimento de uma metodologia de
avaliação e raciocínio clínico no campo da fisioterapia.
23 E 24 DE SETEMBRO PROGRAMA
HE-UFP – PORTO
23 DE SETEMBRO 24 DE SETEMBRO
20H
8h – 12h 8h – 12h
• Raciocínio clínico da Avaliação PHAST • Prática utilizando o aplicativo e revisão dos testes
FORMADOR
• Raciocínio para mais de 50 testes
CRIADORAS DA METODOLOGIA
E CONTEÚDO
NATÁLIA LUCIANA
BITTENCOURT DE MICHELIS
2023
Revista de Fisioterapia Desportiva
Nº16
BIMESTRAL • ANO 3
A G O S T O PREÇO 3,00€
SUMÁRIO
ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS 5
ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A PRÁTICA DE ATLETISMO 9
ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FACTORES DE RISCO EM ATLETAS Aproximam-se datas de enorme importância para a Fisio-
DE ANDEBOL COM E SEM HISTORIAL DE LESÕES DE terapia (no Desporto, e não só) e para todos os portugue-
SOBRECARGA 12
ses…
CORPO EDITORIAL | Adérito Seixas, Ft., MSc – Porto – Escola Superior de Saúde Fernando Pessoa | Ana
Gonçalves, Ft. & MBA – Lisboa – FisioTorres | António Gaspar, Ft. – Lisboa – Antonio Gaspar Physio The-
rapy & Performance, FPF | António Lima Lopes, Ft. – Angra do Heroísmo – FisioLopes | Cristina Marques,
Ft. – Federação Boccia de Portugal, ISS-IP, Universidade Atlântica | Fernando Ribeiro, Ft., PhD – Aveiro
– Escola Superior de Saúde, Universidade de Aveiro | João Noura, Ft. – Porto – Prática Clínica Privada |
Marco Clemente, Ft., MSc – Alcobaça – Physioclem | Pedro Figueiredo, Ft., Msc – Lisboa – Clinisete Fisio-
terapia | Nuno Morais, Ft. – Cascais – Fisiotrauma | Nuno Pombeiro, Ft. – Lisboa – NovaPhysio | Paulo
José Medeiros de Carvalho, PhD – Porto – Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto | Sara Delca
Pereira, Ft. MSc – Lisboa – Fisio Roma | Diogo Gaspar Castelo Branco, Ft. MSc – Lisboa – Fisio Roma Mário
Lopes, Ft., PhD – Aveiro – Universidade de Aveiro
FICHA TÉCNICA | Diretor: Nuno Arnaut Pombeiro | Sub-diretor: Pedro Teixeira Leal | Gerente: Nuno
Arnaut Pombeiro | Produção: Linha Única – Edição e Comunicação em Saúde e Desporto, Lda. | Edi-
ção: Nuno Arnaut Pombeiro e Adérito Seixas | Design e paginação: simpl.pt | Impressão: Gráfica Jorge
Fernandes; R. Quinta Conde de Mascarenhas N9 Vale Fetal – 2825 – 259 Charneca da Caparica | Sede
do editor, sede da redação e propriedade: Linha Única – Edição e Comunicação em Saúde e Desporto,
Lda. – Rua Santos Dias, 1121 – M13 (Fil Park), 4465-255 São Mamede de Infesta | Telefone/Fax: 220135613
| E-mail: linhaunica.rmd@gmail.com | www.revfisiodesp.pt | NIPC 515669423 | Detentores com 5% ou
mais do capital da empresa: PAZ – Consultoria e Gestão, Lda e Basil Valente Ribeiro | Periodicidade
Bimestral | Tiragem 1500 exemplares | Depósito legal 480374/21 | Publicação Registada no Instituto
da Comunicação Social sob o nº 127541 | A reprodução parcial ou integral de texto ou ilustrações da
Revista de Fisioterapia Desportiva informa é proibida.
Foto de capa – Hyperice · https://hyperice.com/
JuzoFlex
Genu Xtra ⋅Perfeição no Detalhe
Máximo conforto com rebordos de compressão minimizada, zona de
descompressão na região popliteia e anel rotuliano ergonómico
ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS
Fisioterapeuta Henrique Relvas é desde 1985 uma referência maior
na área da formação mas no fundo nunca abdicou da
profissão de que tanto se orgulha e de que tanto gosta.
Mesmo que essa paixão já lhe tenha custado... um car-
DIRETOR
ÁREA DE ENSINO DE FISIOTERAPIA
tão vermelho depois de ter muitas raspadelas nos joe-
DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DA lhos e um dente da frente “falhado” quando só usava as
CRUZ VERMELHA PORTUGUESA
mãos entre os postes de uma baliza
HR – A opção da fisioterapia surgiu porque também sempre HR – Aqui já se torna muito difícil perceber isso porque
revelei muito interesse pela área da Saúde e a ideia de fazer o nas diferentes modalidades havia ritmos diferentes.
curso agradou-me particularmente sequer estavam apetrecha- Mas reconheço que só quando o futebol permitiu uma
das para criar um cartão de acesso aos jogos. A única alterna- maior visibilidade aos nossos colegas é que uma deter-
tiva era figurar como massagistas, o que para nós gerava algum minada linha foi estabelecida. Nesse contexto o Gaspar,
embaraço. Até do ponto de vista deontológico não era agradável o António Gaspar terá tido um papel importante, graças
usurpar o papel de outros profissionais e nós basicamente gos- à sua colaboração com o Benfica e com a seleção nacio-
távamos que nos reconhecessem como fisioterapeutas. Parece nal. Em termos de datas... Diria que quando organizá-
uma coisa simples mas esse foi um dos primeiros passos para mos o Euro’2004 já estávamos claramente identificados
nos afirmarmos como profissionais, ter um cartão próprio, ter como profissionais da Fisioterapia. Mais uma vez, con-
uma identidade própria. Naquele tempo, só a Federação de solidado o nosso papel no futebol estava consolidado o
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 5
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/
reconhecimento no sector do Desporto, fazendo jus à impor- Fisioterapia. Nesse sentido, sob a coordenação do colega
tância que a sociedade civil já atribuía ao papel do Fisiotera- e nosso docente Diogo Campos, um peso-pesado nesta
peuta em outras áreas de intervenção clínica. área com uma vasta e ainda presente experiência no
terreno, ao longo de 25 épocas ao serviço do clube de
rugby do Direito, estamos a concentrar os nossos esfor-
RFD – O Henrique nunca se viu tentado por propostas profissio-
ços na organização de um mestrado em Fisioterapia no
nais oriundas do futebol?
Desporto.
RFD – ...
HR – Numa primeira fase, só no terreno foram pelo
menos 15 anos... Não me arrependo de ter seguido esse
HR– (antecipando pergunta)... Mas atenção, isso não me impede caminho e confesso que tive de tomar essa decisão de
de dizer que fico e fiquei sempre muito orgulhoso com os cole- finalmente abandonar o terreno porque a certa altura
gas que no futebol tiveram contributo grande para a exposição tornou-se muito pesado em termos pessoais e familiares
e notoriedade de toda a classe. Na via que resolvei seguir, creio acompanhar as equipas e as seleções a tempo inteiro.
que tive o meu papel e estou feliz pelo grande investimento na Imagine o que é, durante os estágios e as competições,
área da formação e no estímulo dado para a elaboração do perfil estar semanas a fio sem pôr o pé em casa... Mesmo numa
de competências do fisioterapeuta no que respeita à interven- semana normal, o acompanhamento dos atletas implica
ção particular no Desporto. Para ter uma ideia do meu percurso invariavelmente alguma intervenção após os treinos,
na área da formação, posso contar-lhe que ainda como esta- que nas equipas amadoras, como foi o caso, decorrem à
giário do curso de fisioterapia fui convidado pelo meu querido noite várias vezes por semana. Com mais uns quilóme-
colega Raul Oliveira para participar nas primeiras Jornadas de tros até chegar a casa, estamos a aterrar finalmente só
Fisioterapia no Desporto, onde apresentei uma comunicação a depois da meia noite! Para não mencionar que os jogos
propósito de prevenção de lesões, o que desde logo me criou decorrem praticamente todos os fins-de-semana, ao
alguns problemas. Isto porque alguns colegas, já profissionais, longo de uma longa época desportiva, metade deles em
não entendiam como é que um estagiário falava numa confe- terreno adversário, com deslocações mais demoradas...
rência! Achavam que numa jornada de estudo para profissio- Tudo isso provoca um impacto muito grande e teve os
nais não fazia sentido estar a escutar um estagiário. Ainda hoje seus custos. Sobretudo para uma pessoa como eu, que
estou grato ao Raul (Oliveira) por me ter dado essa oportunidade nunca me limitei a uma única área. Posso dizer que
em 1985. Aí começou a vertente académica do meu percurso sempre exerci a fisioterapia numa instituição hospita-
profissional e nunca mais deixei de estar associado à forma- lar e logo no início de carreira estive 10 anos na Reabili-
ção. Para além da participação regular em eventos científicos tação Pediátrica do Centro de Medicina de Reabilitação
como preletor, o interesse na partilha dos saberes estimulou-me em Alcoitão. Por convite do meu grande amigo José Fer-
a organizar ou ministrar mais de uma centena de programas nandes, fui desencaminhado para trabalhar com ele no
teórico-práticos de formação contínua para fisioterapeutas, ao Hospital da Cruz Vermelha, onde ainda hoje, com muito
longo do país e no Brasil. A carreira docente mais formal, só gosto, me mantenho após 25 anos. Na verdade, faço ape-
começou em 2002. Atualmente sou diretor da área de ensino da nas 12 horas por semana desde o último ano, dadas as
Fisioterapia na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Por- obrigações que as novas funções académicas me acarre-
tuguesa, em Lisboa. Nestas funções compete-me garantir uma tam. E ainda assim, também tenho o meu gabinete par-
oferta formativa de excelência por parte da Escola, fomentando ticular, a Oficina do Movimento, no qual atendo os meus
a investigação e o desenvolvimento tecnológico no contexto da clientes, em contexto de clínica privada.
6 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt
revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/ Revista de Fisioterapia Desportiva
RFD – Então não abandonou completamente... no pós-operatório imediato de cirurgia da coluna, – diria
que mais de 3500 casos... Daqui resultou um traquejo
que procuro reverter para o meu gabinete, onde maio-
HR – – Nunca me quis desvincular da prática clinica e hospita-
ritariamente trato pessoas que se queixam da coluna,
lar. Mais uma vez continuo com 10, 12, 14 horas de trabalho por
com um atendimento personalizado e mais atempado.
dia, é verdade. Mas cumpro isso com todo o agrado. Tenho muito
Tendo a ir duas ou três vezes por semana ao final da
prazer em ser fisioterapeuta, tenho muito orgulho e gosto na
tarde ao meu gabinete e é porque não consigo dar res-
profissão. Não consigo largar tarefas, o meu dia acaba às 22h00
posta a tudo, sob pena de quebrar a seletividade que
se for preciso. Tem razão, não foram só os primeiros 15 anos,
marca os meus serviços, para já não voltar a referir os
mantenho a tendência de acabar o trabalho pela noite dentro...
custos de natureza familiar.
Mas isso é... incontornável porque sou um adepto fervoroso da
fisioterapia e como profissional adoro o que faço, não abdico da
minha prática profissional, nos diferentes contextos: clínico, RFD – Então explique lá aos nossos leitores porque se
hospitalar e académico. Mas na falta de ocupação, pense agora considera um “Viajante de memórias”...
em acrescentar todo o percurso necessário para se obter o grau
do doutoramento… Um ano curricular só com aulas e vários
HR – (risos) Viajante de memórias... O Desporto permi-
anos a elaborar a Tese, baseada na produção de artigos a partir
tiu-me conhecer o mundo e como gosto particularmente
de dados recolhidos com doentes e pessoas saudáveis em tes-
de fotografia, associei as duas paixões. Parecia estar a
tes experimentais numa plataforma de força… Foi o derradeiro
tempo inteiro com a máquina fotográfica e com a tesoura
desafio, principalmente por iniciar esta aventura aos 50 anos.
das ligaduras funcionais a trabalhar ao mesmo tempo! O
Mas foi imprescindível para associar a componente de inves-
facto de ter gravado para sempre momentos da prática
tigação, fundamental para a progressão na carreira académica.
da minha atividade profissional proporciona-me ainda
Devo dizer sobretudo, que este percurso atribulado, esta azá-
fama toda, a dedicação ao trabalho, só me são possíveis porque
tenho tido a preciosa colaboração da família, dos colegas e dos
amigos, mas em particular o apoio incondicional da minha que-
rida mulher, a Sílvia, que não sei como nem porquê ainda me
atura, a quem nunca serei capaz de compensar tamanha dose
de paciência e generosidade.
ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A macroscópica de rutura das fibras. Essas lesões apresen-
tam causas multifatoriais e são agrupadas em subgrupos
PRÁTICA DE ATLETISMO que refletem a sua origem clínica, como a sobrecarga ou
os distúrbios neuromusculares. Já as lesões muscula-
Nuno Cordeiro1 e Rafael Barata2
res estruturais são aquelas que apresentam evidências
Professor Doutor Coordenador na Área Científica de Fisioterapia na Escola Superior de Saúde
1 macroscópicas de rutura das fibras nas ressonâncias
Dr. Lopes Dias Instituto Politécnico – Castelo Branco
Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias Instituto Politécnico – Castelo Branco
2 magnéticas, isto é, danos estruturais (Ernlund et al., 2017).
Grau Descrição RM
Grau 0
0a Dor neuromuscular focal Normal
0b Dor muscular generalizada Normal ou aumento de sinal em um ou mais músculos
após exercício
Grau 1
1a Lesão miofascial menor Aumento de sinal a partir da fáscia com envolvimento < do que 10% do ventre
muscular e comprimento crânio-caudal < 5cm
1b Lesão miotendinosa menor Aumento de sinal < do que 10% da secção transversa do músculo na região mio-
tendinosa e comprimento crânio-caudal < 5cm
Grau 2
2a Lesão miofascial moderada Aumento de sinal a partir da fáscia com extensão ao músculo, área de secção
transversal da lesão entre 10% e 50%, comprimento craniocaudal > 5 e < 15 cm e
rutura estrutural das fibras < 5 cm
2b Lesão miotendinosa moderada Aumento de sinal na região miotendinosa, área de secção transversal compreen-
dida entre 10% e 50%, comprimento craniocaudal > 5 e < 15 e ruptura estrutural
das fibras < 5 cm
2c Lesão intratendinosa moderada Aumento de sinal no tendão com comprimento longitudinal < 5 cm, envolvimento
< 50% da área de secção transversa do tendão. Sem perda de tensão ou desconti-
nuidade do tendão
Grau 3
3a Lesão miofascial extensa Aumento de sinal a partir da fáscia com extensão ao músculo, área de secção
transversa > 50%, comprimento crânio-caudal >15 cm e ruptura estrutural das
fibras > 5 cm
3b Lesão miotendinosa extensa Aumento de sinal com área de secção transversa > 50%, comprimento crânio-cau-
dal >15 cm e ruptura estrutural das fibras > 5 cm
3c Lesão intratendinosa extensa Aumento de sinal no tendão com comprimento do longitudinal > 5 cm, envolvi-
mento > 50% da área de secção transversa do tendão. Pode haver perda da tensão
do tendão porém não há descontinuidade evidente
Grau 4
4 Lesão completa muscular Descontinuidade completa do músculo com retração
4c Lesão completa tendinosa Descontinuidade completa do tendão com retração
Hickey, J. T., Opar, D. A., Weiss, L. J., & Heiderscheit, B. C. (2022). Hamstring Strain Injury Reha-
Exercícios técnicos de corrida específicos para os bilitation. Journal of Athletic Training, 57(2), 125–135. https://doi.org/10.4085/1062-6050-
isquiotibiais 0707.20
Linklater, J. M., Hamilton, B., Carmichael, J., Orchard, J., & Wood, D. G. (2010). Hamstring
Este tipo de exercícios são prescritos para replicar algumas fases injuries: anatomy, imaging, and intervention. Seminars in Musculoskeletal Radiology, 14(2),
do ciclo do sprint em intensidades reduzidas e num ambiente 131–161. https://doi.org/10.1055/S-0030-1253157
controlado, de modo que o atleta se vá sentido cada vez mais Pietrzak, J. R. T., Kayani, B., Tahmassebi, J., & Haddad, F. S. (2018). Proximal hamstring ten-
dinopathy: pathophysiology, diagnosis and treatment. British Journal of Hospital Medicine
seguro. É utilizado também para evitar movimento indesejados, (London, England : 2005), 79(7), 389–394. https://doi.org/10.12968/HMED.2018.79.7.389
tais como, inclinação pélvica anterior excessiva (que é bastantes
vezes associada à lesão dado a extensão excessiva dos isquioti-
biais nesta posição) e flexão excessiva da anca. Apesar de não
haver evidência direta dos benefícios deste tipo de treino, este
deve ser utilizado como um acessório bastante importante na
reabilitação (Hickey et al., 2022).
ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FACTORES DE RISCO EM ATLETAS DE ANDEBOL COM E SEM
HISTORIAL DE LESÕES DE SOBRECARGA
Inês Ventura*, Sofia Vieira, Joana Rosa, Margarida Feliciano, José Brito1, Luciano Maia Alves Ferreira1, Duarte Tavares2 and Manuel Barbosa de Almeida1
1 Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz (CiiEM); Escola Superior de Saúde e Ciência Egas Moniz, Campus Universitário, Quinta da Granja, 2829-511 Caparica, Almada, Portugal
2 Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I.P., Av. D. João de Deus, Lisboa, Portugal. Estados Unidos da América nº 77, 1749-096 Lisboa, Portugal.
*Correspondência: mbalmeida@egasmoniz.edu.pt
† Apresentado no 6º Congresso Internacional do CiiEM-Imediate and Future Challenges to Foster One Health, Almada, 5-7 de julho de 2023
MATERIAIS E MÉTODOS
Desenho do estudo
Este foi um estudo transversal. Utilizámos o dinamómetro de
tração Kforce-Link® (Kinvent, Montpellier, França) para avaliar
12 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt
revfisiodesp.pt/prevalência-factores-risco-atletas-andebol-historial-lesões-sobrecarga/ Revista de Fisioterapia Desportiva
Discinesia escapular
DISCUSSÃO
A presença de diferenças significativas de movimento
O andebol é um desporto de lançamento que exige muito da escapular em atletas com lesões pode ser uma das causas
articulação do ombro, tornando-a propensa a lesões. Estudos do seu historial de lesões, uma vez que a combinação de
recentes confirmam que entre 17% e 44% de todas as lesões de uma reduzida capacidade de adução/retração escapular
sobrecarga no andebol são nos ombros [2,7]. A identificação de com um excessivo RE pode contribuir para um aumento
alterações na ADM e na força dos movimentos rotacionais e da do risco de instabilidade glenoumeral anterior, que pode
posição da escápula pode ser usada para identificar atletas em ser a causa subjacente das lesões de de sobrecarga pre-
risco de lesão. Portanto, comparamos as características do per- viamente manifestadas [9]. Apesar de termos encontrado
fil neuromuscular de atletas com e sem histórico de lesão para taxas de ocorrência de discinesia escapular semelhantes
identificar a prevalência dos fatores de risco identificados em entre os grupos, o grupo de lesionados apresentou maior
cada grupo e investigamos sua associação com características deslocamento escapular do lado dominante em relação
sociodemográficas. aos atletas saudáveis na posição final de avaliação. As
evidências actuais indicam que a maioria dos proble-
mas escapulares em atletas de lançamento podem ser
Amplitude de movimento
atribuídos a uma perda de controlo da posição escapular
Não se registaram diferenças entre os grupos relativamente à normal em repouso e do movimento escapular dinâmico,
amplitude de movimento de rotação interna (RI). No entanto, resultando em protracção escapular que pode resultar
verificou-se que uma hora adicional de treino reduz a probabi- em cargas aumentadas, movimentos alterados e activa-
lidade de ter um défice de RI superior a 10º em 37,2%. As adap- ções musculares reduzidas que podem estar associadas
tações funcionais no andebol resultam numa alteração da ADM a uma diminuição do desempenho e aumento do risco
total disponível, com uma redução da RI e um aumento da RE que de lesão [12] e os nossos resultados estão de acordo com
pode ir até 16º com um aumento da laxidez capsular anterior e esse conhecimento.
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 13
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/prevalência-factores-risco-atletas-andebol-historial-lesões-sobrecarga/
Limitações Referências
1. Raya-González, J.; García-Esteban, S.; Castillo, D.; de Ste Croix, M. Injury profile in pro-
Avaliámos a ADM com os participantes em posição supina, com fessional handball players during 4 consecutive seasons according to playing positions: a
o ombro a 90º de abdução e o cotovelo a 90º de flexão, para repro- longitudinal study. Sports health 2022, 14, 273-282.
duzir a posição de tiro, mas isso pode promover erros de medi- 2. Achenbach, L.; Luig, P. Epidemiologie und Verletzungsprävention im Handball. Sportverletz
Sportschaden 2020, 34, 129-135.
ção através de compensações. O desenho transversal do presente
estudo impediu a determinação dos nossos resultados como 3. Karlsson, J.; Heijne, A.; von Rosen, P. Handball and movement screening–can non-contact
injuries be predicted in adolescent elite handball players? A 1-year prospective cohort study.
causas ou consequências de lesões de sobrecarga. Para estudos Physiother Theory Pract 2021, 37, 1132-1138.
futuros, recomenda-se uma configuração longitudinal e melho-
4. Kibler, W.B.; Kuhn, J.E.; Wilk, K.; Sciascia, A.; Moore, S.; Laudner, K.; Ellenbecker, T.; Thigpen,
res estratégias de controlo dos erros de medição. C.; Uhl, T. The disabled throwing shoulder: spectrum of pathology—10-year update. Arthros-
copy 2013, 29, 141-161. e126.
5. Landreau, P.; Zumstein, M.A.; Lubiatowski, P.; Laver, L. Shoulder Injuries in Handball. In
CONCLUSÃO Handball Sports Medicine: Basic Science, Injury Management and Return to Sport, Laver, L., Lan-
dreau, P., Seil, R., Popovic, N., Eds.; Springer: Berlin, Heidelberg, 2018; pp. 177-195.
A análise da ADM das rotações, do deslocamento da escápula e
6. Pozzi, F.; Plummer, H.A.; Shanley, E.; Thigpen, C.A.; Bauer, C.; Wilson, M.L.; Michener, L.A.
do rácio de força RE/RI em atletas de andebol com e sem historial Preseason shoulder range of motion screening and in-season risk of shoulder and elbow
injuries in overhead athletes: systematic review and meta-analysis. Br J Sports Med 2020,
de lesão deve ser uma prática corrente para o desenvolvimento 54, 1019-1027.
de programas de prevenção de lesões e de reabilitação orientada
7. Aasheim, C.; Stavenes, H.; Andersson, S.H.; Engbretsen, L.; Clarsen, B. Prevalence and bur-
para atletas com lesões de sobrecarga do ombro, uma vez que den of overuse injuries in elite junior handball. BMJ Open Sport Exerc. Med. 2018, 4, 1-5.
ambos os grupos apresentam elevadas taxas de factores de risco
8. Tooth, C.; Gofflot, A.; Schwartz, C.; Croisier, J.-L.; Beaudart, C.; Bruyère, O.; Forthomme, B.
identificados. Risk factors of overuse shoulder injuries in overhead athletes: a systematic review. Sports
health 2020, 12, 478-487.
Contribuições dos autores: Conceptualização, I.V., S.V., J.R., M.F., 9. Ouellette, H.; Kassarjian, A.; Tretreault, P.; Palmer, W. Imaging of the overhead throwing
athlete. Semin Musculoskelet Radiol 2005, 9, 316-333.
D.T., J.B., L.M.F. e M.B.A. metodologia, I.V., S.V., J.R. e M.F.; análise
formal, I.V., S.V., J.R. e M.F.; investigação, I.V., S.V., J.R. e M.F.; cura- 10. Clarsen, B.; Bahr, R.; Andersson, S.H.; Munk, R.; Myklebust, G. Reduced glenohumeral
rotation, external rotation weakness and scapular dyskinesis are risk factors for shoulder
doria de dados, L.M.F., M.B.A., J.B. e D.T.; redação - preparação injuries among elite male handball players: a prospective cohort study. Br J Sports Med 2014,
48, 1327-1333.
do projeto original, I.V., S.V., J.R. e M.F.; redação-revisão e edição,
L.M.F., D.T., J.B. e M.B.A.; supervisão, M.B.A.; administração do pro- 11. Wilk, K.E.; Arrigo, C.A.; Hooks, T.R.; Andrews, J.R. Rehabilitation of the overhead throwing
athlete: there is more to it than just external rotation/internal rotation strengthening. PM&R
jeto, I.V., S.V., J.R. e M.F. Todos os autores leram e concordaram 2016, 8, S78-S90.
com a versão publicada do manuscrito.
12. Hickey, D.; Solvig, V.; Cavalheri, V.; Harrold, M.; Mckenna, L. Scapular dyskinesis increases
Financiamento: Esta investigação não recebeu financiamento externo. the risk of future shoulder pain by 43% in asymptomatic athletes: a systematic review and
Declaração da Comissão de Revisão Institucional: Aprovação da Comissão de Ética do Egas Moniz meta-analysis. Br J Sports Med 2018, 52, 102-110.
CE-1088.
Declaração de Consentimento Informado: Foi obtido o consentimento informado de todos os partici- Nota do editor: As declarações, opiniões e dados contidos em todas as publicações são da
pantes no estudo. exclusiva responsabilidade do(s) autor(es) e colaborador(es) individual(is) e não da MDPI e/
Agradecimentos: Gostaríamos de agradecer ao Laboratório de Avaliação Física e Funcional em Fisio- ou do(s) editor(es). A MDPI e/ou o(s) editor(es) declinam a responsabilidade por quaisquer
terapia (LAFFFi) da Sausport pela disponibilização de material, incluindo o KINVENT e todo o apoio na danos a pessoas ou bens resultantes de quaisquer ideias, métodos, instruções ou produtos
realização deste projeto e à FCT/MCTES pelo apoio financeiro ao CiiEM (UIDB/04585/2020) através de referidos no conteúdo.
fundos nacionais.
Conflitos de interesse: Os autores declaram não haver conflito de interesses.
“PAINEL DE EVIDÊNCIAS”
O Grupo de Estudos Fisioterapia EM Evidência da Egas Moniz School of Health & Science foi criado em 2021 pelo Laboratório de Avaliação
Física e Funcional em Fisioterapia – LAFFFi, com o intuito de promover a ciência e estimular a participação dos estudantes nas atividades
de investigação em contexto real. As atividades executadas são voluntárias, onde os alunos do 2º ano inicialmente participam de reuniões
semanais com apresentação de artigos científicos para discussão e análise crítica das evidências identificadas. No 3º ano os alunos passam
a realizar formações técnicas de todos os recursos e equipamentos de instrumentação biomédica do laboratório e se inserem nos projetos
de investigação, onde participam ativamente de avaliações e futuras publicações de resultados.
Esta rubrica foi criada para divulgar os resultados obtidos pelos estudantes e para incentivar os colegas fisioterapeutas na busca de infor-
mações mais atualizadas e que lhes tragam reflexo imediato na prática clínica, baseadas nas sugestões de texto.
RESUMO Referência
Lespasio M. J. (2022). Lateral Hip Pain: Relation to Greater Trochanteric Pain Syndrome. The
Objetivo de fornecer um entendimento geral com as evidências Permanente journal, 26(2), 83–88. https://doi.org/10.7812/TPP/21.110
científicas mais recentes em relação à condição clínica da dor
lateral do quadril. Além de destacar a síndrome da dor trocanté-
Artigo apresentado
rica maior, correlaciona-se com a dor lateral do quadril. Apresen-
tação do quadro clínico da dor lateral do quadril, tendo o GTPS
Effectiveness of communicative and educative strategies
como causa da dor lateral do quadril, tal como, a sua prevalência
in chronic low back pain patients: A systematic review
global e os restantes achados clínicos essenciais para a diferen-
ciação de diagnóstico. Conclui-se com um questionário que tem
como função de auxiliar os leitores na compreensão do material RESUMO
apresentado. O Objetivo do estudo foi identificar evidências científicas
sobre a eficácia de diferentes estratégias de comunica-
ção e educação para o tratamento da dor lombar crônica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(DLC) em pacientes, além de fornecer informações úteis
A progressão dos sintomas persistentes devido a orientações para profissionais de saúde ajudando-os a selecionar as
médicas inadequadas, resultam num aumento do quadro dolo- melhores estratégias de comunicação e educação.
roso e diminuição da funcionalidade. Tratamento centrado
no utente e baseado no controlo da dor e no exercício físico, As implementações de estratégias mais eficazes na prá-
incluindo várias modalidades terapêutica e conjugado com edu- tica clínica mostraram que a combinação de terapia
cação ao utente em relação à sua patologia, de modo a recuperar cognitivo-comportamental, educação científica da dor e
a sua funcionalidade através de uma reabilitação adequada. exposição graduada ao exercício poderiam ser as aborda-
gens mais promissoras na prática clínica para pacientes
Guidelines: com DLC.
1. Incentive a perda de peso. O excesso de peso e o índice de massa corporal Ÿ 30 (marcador de obesi- Não existe uma única estratégia que seja eficaz para
dade) causam estresse adicional aos músculos do quadril.
todos os pacientes com dor lombar crônica, a escolha da
2. Tome antiinflamatórios não esteróides (AINEs) ou paracetamol para alívio da dor.
estratégia deve ser individualizada e baseada nas neces-
3. Envolva-se em fisioterapia direcionada com ênfase no treinamento de força do abdutor do quadril.
O fortalecimento do quadril está diretamente ligado à melhora dos sintomas. sidades e preferências do paciente. As estratégias comu-
4. Apoie a modificação da carga para reduzir as cargas compressivas nos tendões glúteos. nicativas e educativas são eficazes na redução da DLC e
5. Otimize a biomecânica (incluindo a biomecânica alterada do pé) estando ciente dos movimentos
na melhoria da qualidade de vida desses utentes, pois
anormais produzidos pelas forças internas e externas do corpo e reagindo para neutralizá-los. incentivaram a participação ativa dos mesmos no pro-
6. Evite atividades que provoquem alongamento prolongado dos abdutores do quadril. Isso inclui cesso de decisão e escolha terapêutica.
evitar sustentação de peso em um quadril, sentar com as pernas cruzadas e dormir de lado com o
joelho superior flexionado e tocando a cama.12
7. Terapias adjuvantes incluem ultrassom terapêutico (isto é, terapia por ondas de choque)26 e trata-
mentos terapêuticos a laser para promover a cicatrização. Injeções de corticosteróides (CSIs) podem
ser eficazes em casos recalcitrantes.
9. Conscientização e manejo da disfunção biomecânica dos pés, incluindo arcos caídos, pronação
excessiva ou supinação. Fraqueza nos músculos do quadril ou joelho, ou rigidez em algumas das
articulações ou músculos do membro inferior, podem alterar a maneira como uma pessoa caminha
ou corre.12.27
Fonte: Lespasio M. J. (2022). Lateral Hip Pain: Relation to Greater Trochanteric Pain Syndrome. The Perma-
nente journal, 26(2), 83–88. https://doi.org/10.7812/TPP/21.110
Removed 130
Eligibility
after abstracts
screening Fonte: Sluka, K. A., Frey-Law, L., & Hoeger Bement, M. (2018). Exercise-induced pain and anal-
gesia? Underlying mechanisms and clinical translation. Pain, 159 Suppl 1(Suppl 1), S91–S97.
https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000001235
N=142
Referência Sluka, K. A., Frey-Law, L., & Hoeger Bement, M. (2018). Exercise-induced pain and analgesia?
Underlying mechanisms and clinical translation. Pain, 159 Suppl 1(Suppl 1), S91–S97. https://
Barbari, V., Storari, L., Ciuro, A., & Testa, M. (2020). Effectiveness of communicative and educative stra- doi.org/10.1097/j.pain.0000000000001235
tegies in chronic low back pain patients: A systematic review. Patient education and counseling, 103(5),
908–929. https://doi.org/10.1016/j.pec.2019.11.031
Artigo apresentado
RESUMO
Este artigo aborda o fenômeno conhecido como “dor e analge-
sia induzida pelo exercício” (DOIE). Ele é descrito pela redução
da perceção da dor durante ou após o exercício físico. O objetivo
principal foi investigar os mecanismos subjacentes que contri-
buem para o DOIE e sua relevância para a prática clínica.
CARO FISIOTERAPEUTA
OS SEUS ARTIGOS PODEM
FAZER PARTE DA RFD
VEJA COMO O PODE FAZER
revfisiodesp.pt/sobre/#np
REVISÃO DA LITERATURA
O EFEITO DO ALONGAMENTO NA PREVENÇÃO DE LESÃO
Filipa Antunes
Fisioterapeuta – Fisiotorres
É nesse intuito que pretendo apresentar uma revisão da litera- O arco reflexo na musculatura esquelética constitui um
tura sobre a importância do aquecimento e alongamento mus- importante mecanismo de ajuste do nível de contração
cular na prática desportiva, destacando os seus principais efeitos muscular a ser realizado, uma vez que mantém o sistema
fisiológicos e benefícios em atletas profissionais ou amadores, nervoso central (SNC) constantemente informado sobre
bem como a sua prescrição e aplicação pelos profissionais de o estado de estiramento e tensão, no qual os recetores
desporto e de saúde.1 periféricos envolvidos são, respetivamente, os fusos mus-
culares e os órgãos tendinosos de Golgi (OTGs).4
O alongamento é definido como a aplicação de uma força a uma
estrutura músculo-tendinosa de forma a obter uma mudança no O fuso muscular é responsável por detetar um alonga-
seu comprimento, normalmente com a finalidade de aumentar a mento muscular vigoroso através das terminações senso-
amplitude de movimento articular ou reduzir a rigidez muscular, riais situadas na sua região mais central. Esta informação
num momento de preparação para a atividade e retorno à calma, chega ao SNC através do aumento de impulsos nervosos
respetivamente.2,3 por via aferente.4
Assim, faz sentido realizar uma análise critica afim de perceber Como resposta a este estímulo, o neurónio motor alfa ini-
se é relevante integrar alongamentos no treino do atleta, seja este cia a contração da musculatura agonista ao movimento
de competição ou amador. e a inibição da musculatura antagonista. A este meca-
nismo de ação por feedback dá-se o nome de reflexo de
Comecemos por perceber a verdadeira definição de alongamento,
estiramento.4
identificar os vários tipos que existem e retirar a sua importân-
cia/beneficio na performance do atleta. O OTG tem as suas fibras dispostas em série com as fibras
musculares junto aos tendões, esta proximidade permite,
INTRODUCTION sempre que houver um aumento de tensão no músculo
excessivo ou repentino, a comunicação ao SNC. A res-
Throughout my clinical practice related to sports, I have founded a cons- posta produzida, entretanto, irá se contrapor à obtida
tant controversy about the inclusion of stretching in athletes’ training com a sensibilização do fuso, inibindo a contração da
plans and programs, as well as their effectiveness in improving sports musculatura agonista e estimulando a contração dos
performance and, consequently, in preventing injury. antagonistas ao movimento. A esse mecanismo dá-se o
nome de reflexo tendinoso.4
It is for this purpose that I intend to present a literature review on the
importance of warm-up and muscle stretching in sports, highlighting
its main physiological effects and benefits in professional or amateur O TENDÃO
athletes, as well as its prescription and application by sports and health
É possível destacar duas principais funções dos tendões, a
professionals.1
transmissão de forças tensionais entre músculos e ossos
Stretching is defined as the application of a force to a musculotendinous e o armazenamento e a libertação de energia elástica
structure in order to obtain a change in its length, usually with the aim durante os movimentos articulares.
of increasing joint range of motion or reducing muscle stiffness, in a
moment of preparation for the activity and return to calm, respectively.2,3 Quando ocorre movimento passivo numa articulação, o
tendão é responsável pela maior parte da deformação
Thus, it makes sense to carry out a critical analysis in order to unders- observada no complexo muscular.5
tand whether it is relevant to integrate stretching in the athlete’s trai-
ning, be it competition or amateur. O comportamento mecânico da articulação tem um
papel importante no desempenho das funções do tendão,
sendo diretamente relacionado à viscoelasticidade. A res-
posta mecânica por parte do tendão está dependente do
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS estado de maturação do tecido e da temperatura em que
este se encontra.5
Alongamento, prevenção de lesão, benefício, atleta
Stretching, injury prevention, benefit, athlete Diversos métodos são utilizados para aumentar a tempe-
ratura no tecido muscular e tendão, o que se apresenta
mais eficaz é o exercício ativo. Em geral, a subida da tem-
peratura coadjuva no aumento da distensibilidade dos
tecidos, ampliando o comportamento viscoelástico dos
tendões.5
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 17
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/efeito-alongamento-prevenção-lesão
DURANTE A COMPETIÇÃO
FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCETIVA (PNF)
Sabendo que epidemiologicamente a grande maioria das
PNF é uma modalidade de alongamento que pressupõe a ativa-
lesões musculares surge na fase excêntrica da contração
ção muscular8, fazendo uso da estimulação propriocetiva afim
muscular e que se devem essencialmente à combinação
de facilitar a contração muscular, reduzir os seus componentes
de desequilíbrios musculares com a presença de fadiga,
reflexos e aumentar a amplitude de movimento.9
não é possível avaliar de que forma o aumento da ampli-
A estratégia de PNF pode ser dividida em passiva ou ativa. tude de movimento possa ajudar na redução do índice de
lesões. 17,18
Passivamente existem as modalidades de contrair-relaxar e sus-
ter-relaxar, onde temos uma contração do músculo que se pre- Aliás, a literatura atual aponta para o facto de potencia-
tende alongar, concêntrica e isométrica respetivamente, seguida rem a lesão devido à redução da integridade articular e efi-
do deslocamento passivo do membro para a posição de maior ciência do movimento, à diminuição de stiffness da unidade
amplitude disponível.10 músculo-tendinosa e da exposição a novas amplitudes e
posições que, sujeitas a carga, poderão expor as estruturas
Na forma ativa, contrair-relaxar com contração do antagonista, inertes a lesão, nomeadamente os ligamentos.17,18
é em tudo semelhante à passiva, mas cuja reposição na maior
amplitude disponível é feita à custa da musculatura mobiliza- Pressupõe-se assim que a fadiga seja a influência mais
dora “antagonista” do músculo alongado.10 comum para a lesão, e é por isso que a maioria das dis-
tensões nos isquiotibiais ocorre no final do tempo de jogo
de futebol e não no início. 17,18
PRÉ-COMPETIÇÃO
Como referem os estudos, a lesão grave mais comum é a
Tem sido prática tradicional realizada pelos atletas durante mui-
ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho.
tos anos, os alongamentos antes do exercício como forma de
Esta ocorre na mudança de direção/pivot. Se o pé estiver
aquecimento e preparação do organismo para a atividade.
muito longe do corpo, o joelho cede para dentro. Nesta
Contudo, em 1998 e 2000, um estudo onde mais de 1000 recrutas posição, o peso de todo o corpo é colocado sobre o LCA,
militares realizaram alongamento muscular dos membros infe- que ou suporta a força ou não. Segundo Brito et al, este
riores e dos ombros antes do exercício por 12 semanas não mos- mecanismo de lesão está relacionado com falha na téc-
traram redução de lesões de qualquer tipo.11 nica de movimento e não é influenciada pela flexibilidade
do membro inferior.4,17,18
Num estudo realizado em 2007, observou-se que o alongamento
imediatamente antes do exercício (particularmente o alonga- O mesmo verificamos na entorse de tornozelo. Geral-
mento do mesmo grupo muscular por mais de 120 segundos no mente acontece ao mudar de direção ou cair sobre o pé
total) reduz a quantidade máxima de energia que os músculos de outra pessoa. Quando o tornozelo rola (geralmente sob
podem gerar e pode inclusive prejudicar o desempenho atlético.12 o próprio corpo), os ligamentos, e não os músculos, são
lesionados e o alongamento não causa muito impacto
No ano seguinte, uma revisão sistemática levada a cabo por Bosu na flexibilidade do ligamento. De fato, se os músculos ao
et al, avaliou o efeito de um regime de alongamento estático ver- redor do tornozelo tiverem um tônus alto (menos flexibi-
sus rotina usual nas taxas gerais de lesões e entorses/distensões lidade), provavelmente haveria menos probabilidade de
ao longo de 12 semanas a dois anos. Verificou-se que o alon- entorse. 17,18
gamento estático não reduziu a incidência das taxas gerais de
lesões. No entanto, a adição de três alongamentos estáticos dos Assim e tendo em conta estes autores, concluímos que
isquiotibiais à rotina usual de alongamento reduziu a incidência a melhor forma de evitar estas lesões é ter uma boa téc-
de lesões por sobrecarga nos membros inferiores em compara- nica, treinando os movimentos de mudança de direção e
ção com a rotina usual de alongamento sozinha. Foram também preparar os músculos do corpo para uma rápida e eficaz
encontradas reduções significativas nas entorses e distensões ativação quando a articulação estiver em perigo de ceder.
18 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt
revfisiodesp.pt/efeito-alongamento-prevenção-lesão Revista de Fisioterapia Desportiva
O mais eficaz será realizar um aquecimento neuromuscular de Pope, R. P., Herbert, R. D., Kirwan, J. D., Graham, B. J.. A randomized trial ofpreexercisestret-
ching for preventionoflower-limbinjury. MedSci Sports Exerc. 2000 Feb;32(2):271-7.
boa qualidade.17,18
Rubini, E. C., Costa, A. L. L., Gomes, P. S. C.. The Effects of stretching on strength performance.
Sports Med. 2007;37(3):213-24.
PÓS-COMPETIÇÃO Bosu, O., Doctor, K., Dixon, K.,Smith, L., Waits, J. B.. Stretching for Prevention of Exercise-
-Related Injury. CahabaFamily Medicine Residency, Centreville, Alabama - AmFamPhysi-
cian. 2016;94(7):547
Os pressupostos do alongamento após o exercício prendem-se com
o alívio da fadiga e com a redução da stiffness e da dor muscular.3,19 Lauersen, B. J., Bertelsen, M. D., Andersen, L. B.. Theeffectivenessofexerciseinterventions to
prevent sports injuries: a systematicreviewand meta-analysisofrandomisedcontrolledtrials.
Br J Sports Med. 2014 Jun;48(11):871-7.
Numa revisão sistemática de Herbert et al. em 2011, os autores
referem que “numa primeira análise, os alongamentos parecem Behm, D. G., Chaouachi, A.. A reviewoftheacuteeffectsofstaticanddynamicstretchingon per-
formance. Eur J ApplPhysiol, in press, 2011
ter efeitos muito próximos de zero em relação à fadiga muscu-
Taylor, K. L., Sheppard, J. M., Lee, H., &Plummer, N.. Negative Effect ofstaticstretchingresto-
lar”, sejam eles aplicados antes ou após o exercício.20 redwhencombinedwith a sport specificwarm-upcomponent. Journal of Scienceand Medicine
in Sport, 12(6), 657–661, 2019
Sands et al. consideram que exercícios de alongamento como
Thacker, S., Gilchrist, J., Stroup, D., Kimsey, D.. TheImpactofStretchingon Sports InjuryRisk: A
forma de recuperação não são uma ferramenta que apresente SystematicReviewoftheLiterature. Medicine &Science in Sports &Exercise, pp. 371-378, 2003.
benefícios relativamente a outras já propostas pela litera- Brito, J., Soares, J., Rebelo, A. N.. Prevenção de lesões do ligamento cruzado anterior em fute-
tura como a crioterapia, banhos de contraste, electroestimulação3 bolistas. Rev BrasMedEsporte 15 (1), 2009
e massagem desportiva. Esta última mostrou-se com grandes evi- Noura, J.. Até onde estica o alongamento. Fisioterapia desportiva com evidencia, 2018
dências na melhoria da recuperação do atleta após o treino ou
Herbert, R., de Noronha, M., Kamper, S.. Stretching to preventorreducemusclesorenessafte-
uma competição, promovendo o fluxo sanguíneo, diminuindo a rexercise (Review). Cochrane, pp. 1-47, 2011.
dor muscular percebida e o limiar de dor à pressão.21
Fortes da Costa, J. W.. Métodos de recovery e seus benefícios pós exercício físico em atletas.
Centro universitário unifacvest curso de fisioterapia, Lages 2021
CONCLUSÃO Witvrouw, E., Mahieu, N., Danneels, L., McNair, P..Stretchingandinjuryprevention: na obscu-
rerelationship. Sports Med. 2004;34(7):443-9.
Bibliografia
Melo, T. A., Sousa Matias, F. K.. PhysiologicalPrinciplesofWarm – UpandMuscleStretchingon Sports Acti- BALCÃO ÚNICO
vities. RevBrasMedEsporte – Vol. 16, No 3 – Mai/Jun, 2010
Ortiz da Silva, L. P., Mendes de Oliveira, M. F., Caputo, F.. Métodos de recuperação pós-exercício post-exer-
ciserecoverymethods. Rev. Educ. Fis/UEM, v. 24, n. 3, p. 489-508, 3. trim. 2013
Sands, W. A., McNea, J. R. l., Murray, S. R.,Ramsey, M. W., Sato, K.,Mizuguchi, S., Stone, M. H..Stretchingan-
dItsEffectsonRecovery: A Review. NationalStrengthandConditioningAssociation, pp. 30-36, 2013.
Taneda, M., José Eduardo Pompeu, J. P.. Physiology and importance of Golgi tendon organ for the normal
motor control. Artigo de revisão. Revista Neurociências V14 N1 - Jan/Mar, 2006 (037-042)
ZandomenicoGhan, G. R., de Souza, F.. Benefícios do alongamento: uma revisão bibliográfica. Artigo apre-
sentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em educação física da Univer- CIDADÃO
sidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. 2020.
Minshull, C.,Eston, R., Bailey, A., Rees, D.,Gleeson, N..Thedifferentialeffectsof PNF versus passive stretch-
conditioningon neuromuscular performance. EuropeanJournalof Sport Science, pp. 1-9, 2013.
COVID Longa
e reabilitação
A gestão dos níveis das atividades, ou controlo do ritmo, parece ser uma forma de intervenção segura
e efetiva para gerir a fadiga e a exacerbação dos sintomas pós-esforço (ESPE). A monitorização da
frequência cardíaca pode ser uma intervenção segura e efetiva para gerir a fadiga e a ESPE.
Não deve ser usado um programa de exercício com aumentos graduais (tempo ou intensidade),
particularmente quando há exacerbação dos sintomas pós-esforço.
www.world.physio/wptday
13
Abril 2023 · Nº14
revfisiodesp.pt/artigos/overtraining-syndrome-atletas-sintomatologia-psicofisiologica/ Revista de Fisioterapia Desportiva