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2023

Nº16
BIMESTRAL • ANO 3
A G O S T O PREÇO 3,00€

ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS
FISIOTERAPEUTA

Diretor da Área de Ensino de Fisioterapia da Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Portuguesa

ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A PRÁTICA DE ATLETISMO

ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO EM ATLETAS DE
ANDEBOL COM E SEM HISTORIAL DE LESÕES DE SOBRECARGA

ARTIGO
· REVISÃO DA LITERATURA ·

LATERAL HIP PAIN: RELATION TO GREATER TROCHANTERIC


PAIN SYNDROME

ARTIGO
O EFEITO DO ALONGAMENTO NA PREVENÇÃO DE LESÃO
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO PHAST

O Curso Metodologia de Avaliação PHAST visa sensibilizar os formandos para o conceito PHAST e raciocínio clínico,
bem como dotá-los de capacidades e competências para elaborar e executar diversos testes numa avaliação fisiotera-
pêutica.

A metodologia PHAST permite realizar uma avaliação cinesiofuncional completa, garantindo o melhor acompanha-
mento do paciente. Através de raciocínio clínico exclusivo, ensinado no decorrer do curso, chegará de forma mais fácil
e prática ao diagnóstico funcional, que o auxiliará na definição de um tratamento mais efetivo.

O método baseia-se em mais de 20 anos de pesquisas científicas e experiências práticas da Dra. Natália Bittencourt
(CEO) e da Prof. Dra. Luciana De Michelis (Consultora Científica). Juntas possuem mais de 50 artigos publicados nas
mais renomadas revistas científicas e diversas pesquisas voltadas para desenvolvimento de uma metodologia de
avaliação e raciocínio clínico no campo da fisioterapia.

23 E 24 DE SETEMBRO PROGRAMA

HE-UFP – PORTO

23 DE SETEMBRO 24 DE SETEMBRO
20H
8h – 12h 8h – 12h
• Raciocínio clínico da Avaliação PHAST • Prática utilizando o aplicativo e revisão dos testes
FORMADOR
• Raciocínio para mais de 50 testes

RENATO 13h – 18h 13h – 18h


• Avaliações customizadas para 8 desportos • Interpretação dos resultados das avaliações
DE PAULA
• Avaliações customizadas para 14 lesões • Plano de tratamento para prevenção e reabilitação
DA SILVA

CRIADORAS DA METODOLOGIA
E CONTEÚDO

NATÁLIA LUCIANA
BITTENCOURT DE MICHELIS

Mais informações e programa completo: sky.sausport.com/oferta-formativa/curso-phast/

Para mais informações:


NotíciasFlix

2023
Revista de Fisioterapia Desportiva

Nº16
BIMESTRAL • ANO 3
A G O S T O PREÇO 3,00€

SUMÁRIO

ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS 5

ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A PRÁTICA DE ATLETISMO 9

ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FACTORES DE RISCO EM ATLETAS Aproximam-se datas de enorme importância para a Fisio-
DE ANDEBOL COM E SEM HISTORIAL DE LESÕES DE terapia (no Desporto, e não só) e para todos os portugue-
SOBRECARGA 12
ses…

REVISÃO DA LITERATURA No dia 30 de Setembro celebra-se o aniversário da Ordem


LATERAL HIP PAIN: RELATION TO GREATER TROCHANTERIC 15 dos Fisioterapeutas, cuja importância não se cinge ape-
PAIN SYNDROME nas à profissão mas também a todos os cidadãos que usu-
fruam de serviços de Fisioterapia em território nacional,
pois só com a existência desta podemos garantir a exce-
ARTIGO 17
lência e segurança dos serviços de Fisioterapia, implemen-
O EFEITO DO ALONGAMENTO NA PREVENÇÃO DE LESÃO tando padrões rigorosos de acesso à prática da fisioterapia
apenas a profissionais qualificados, de forma a promover
a confiança e competência dos cuidados de saúde.

Teremos também, no mesmo mês, o início da 2ª participa-


ção da seleção nacional de râguebi no Campeonato Mun-
dial. Queremos parabenizar todos os envolvidos neste
fantástico feito (ainda mais fantástico quando sabemos
que muitos dos nossos jogadores são os únicos na prova a
não jogar râguebi profissionalmente) e, em especial, des-
tacar o trabalho de todo o departamento médico, liderado
pelo Dr. António Cruz Ferreira e que conta com os fisiote-
rapeutas José Carlos Rodrigues, Jan Jacques e Paulo Vital,
bem como pela nutricionista Mónica Neves, pela trans-
parência no processo de avaliação e tratamento de todos
os lesionados neste processo de participação no Mundial.

Dois assuntos de onde podemos retirar que a perseve-


rança e o trabalho, mais tarde ou mais cedo, trarão resul-
tados de excelência. E estes, muitas das vezes, têm um
impacto muito maior do que o esperado.
Estatuto Editorial | A Revista de Fisioterapia Desportiva informa é uma publicação de âmbito nacional,
de publicação bimestral e de caráter médico-científico. Tem como objetivo divulgar conteúdos relacio-
nados com a Fisioterapia Desportiva, através de temas de revisão e de investigação, assim como publi- Nuno
car “Casos Clínicos” relacionados com a prática da Fisioterapia Desportiva. Divulga ainda reuniões
científicas realizadas em Portugal e no estrangeiro. Esta Revista respeita a Constituição Portuguesa
Pombeiro
e orienta-se por critérios de isenção e de rigor científico, compromisso ético e respeito deontológico,
assim como respeito pela boa fé dos leitores.

CORPO EDITORIAL | Adérito Seixas, Ft., MSc – Porto – Escola Superior de Saúde Fernando Pessoa | Ana

Gonçalves, Ft. & MBA – Lisboa – FisioTorres | António Gaspar, Ft. – Lisboa – Antonio Gaspar Physio The-
rapy & Performance, FPF | António Lima Lopes, Ft. – Angra do Heroísmo – FisioLopes | Cristina Marques,
Ft. – Federação Boccia de Portugal, ISS-IP, Universidade Atlântica | Fernando Ribeiro, Ft., PhD – Aveiro
– Escola Superior de Saúde, Universidade de Aveiro | João Noura, Ft. – Porto – Prática Clínica Privada |
Marco Clemente, Ft., MSc – Alcobaça – Physioclem | Pedro Figueiredo, Ft., Msc – Lisboa – Clinisete Fisio-
terapia | Nuno Morais, Ft. – Cascais – Fisiotrauma | Nuno Pombeiro, Ft. – Lisboa – NovaPhysio | Paulo
José Medeiros de Carvalho, PhD – Porto – Escola Superior de Saúde do Politécnico do Porto | Sara Delca
Pereira, Ft. MSc – Lisboa – Fisio Roma | Diogo Gaspar Castelo Branco, Ft. MSc – Lisboa – Fisio Roma Mário
Lopes, Ft., PhD – Aveiro – Universidade de Aveiro

FICHA TÉCNICA | Diretor: Nuno Arnaut Pombeiro | Sub-diretor: Pedro Teixeira Leal | Gerente: Nuno
Arnaut Pombeiro | Produção: Linha Única – Edição e Comunicação em Saúde e Desporto, Lda. | Edi-
ção: Nuno Arnaut Pombeiro e Adérito Seixas | Design e paginação: simpl.pt | Impressão: Gráfica Jorge
Fernandes; R. Quinta Conde de Mascarenhas N9 Vale Fetal – 2825 – 259 Charneca da Caparica | Sede
do editor, sede da redação e propriedade: Linha Única – Edição e Comunicação em Saúde e Desporto,
Lda. – Rua Santos Dias, 1121 – M13 (Fil Park), 4465-255 São Mamede de Infesta | Telefone/Fax: 220135613
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Bimestral | Tiragem 1500 exemplares | Depósito legal 480374/21 | Publicação Registada no Instituto
da Comunicação Social sob o nº 127541 | A reprodução parcial ou integral de texto ou ilustrações da
Revista de Fisioterapia Desportiva informa é proibida.
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revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 3


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4 Nº14 · Abril 2023
revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/ Revista de Fisioterapia Desportiva

ENTREVISTA
HENRIQUE RELVAS
Fisioterapeuta Henrique Relvas é desde 1985 uma referência maior
na área da formação mas no fundo nunca abdicou da
profissão de que tanto se orgulha e de que tanto gosta.
Mesmo que essa paixão já lhe tenha custado... um car-
DIRETOR
ÁREA DE ENSINO DE FISIOTERAPIA
tão vermelho depois de ter muitas raspadelas nos joe-
DA ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DA lhos e um dente da frente “falhado” quando só usava as
CRUZ VERMELHA PORTUGUESA
mãos entre os postes de uma baliza

Basquetebol e a de Hóquei em Patins é que nos reco-


“Sou um adepto fervoroso da Fisioterapia, adoro o que faço”
nheciam e nos identificavam como fisioterapeutas, devo
dizer muito por obra de colegas como o Paulo Araújo,
REVISTA DE FISIOTERAPIA DESPORTIVA – É possível situar no que batalhou imenso para isso, para termos esse visto e
tempo a etapa determinante para o início de uma carreira tão essa visibilidade, sermos diferenciados na área do Des-
longa e frutuosa? porto. Ainda assim, o passo mais importante foi dado no
terreno, foi no terreno que nos afirmámos. Provámos ser
essenciais nas equipas médicas e em todas as estruturas
HENRIQUE RELVAS – Penso que coincide com o início do curso técnicas.
de fisioterapia, em Alcoitão. Fiz o bacharelato entre 1982 e 1985,
sendo que a minha vocação estava muito mais orientada para a
área músculo-esquelética e na vertente particular do Desporto. RFD – Havia um grande grau de resistência?
Mas tudo isso foi algo que resultou, no fundo, de uma motivação
que já vinha de trás, até porque joguei futebol, não de alta com- HR – Havia sobretudo um certo desconhecimento. A Fisio-
petição mas nos clubes locais... terapia não estava grandemente implementada, quem
dominava na área do Desporto eram os massagistas e os
RDF – (interrompendo resposta)... Em que ano e em que posição? médicos. Foi preciso demonstrar diferenciação na forma
como atuávamos e foi preciso usar um dístico nas cami-
solas a dizer “Fisioterapeuta” para mostrarmos que éra-
HR – Joguei até 1982, fui guarda-redes no Mem Martins Sport mos diferentes e merecíamos ser vistos de maneira dife-
Clube e no Sporting Clube de Lourel , ao pé de Sintra. Tínhamos rente. Progressivamente fomos estabelecendo a nossa
de nos entreter com alguma atividade física e o futebol, nessa posição no Desporto, a tal ponto que agora se inverte o
altura, era mais apelativo. Em 82, quando iniciei o curso, deixei papel...
de poder comparecer nos treinos e então acabou-se a minha
atividade desportiva... como atleta. Ou seja, comecei nos juvenis
e acabei nos seniores e logo na primeira época tive de desistir RFD – ... Como assim?
porque não era possível conciliar uma coisa com a outra.
HR – (sorriso) Os comentadores desportivos, quando
RFD – Campos pelados na altura... entra alguém no campo para assistir um atleta, dizem:
“Lá vem o fisioterapeuta...” Antigamente era o massa-
gista, não tinha outra qualificação. Claro que tudo isto
HR – (sorriso) Sim, os treinos eram muito duros porque os cam- também teve muito a ver com a exposição social mas
pos não eram relvados... De todo... Os treinos de guarda-redes acima de tudo contou o reconhecimento dos atletas e
implicavam raspar coxas, cotovelos e joelhos. O chão não era dos treinadores. E dos dirigentes, que viam os resulta-
muito simpático (risos), particularmente de inverno, com a dos aparecerem, provavelmente de uma maneira mais
lama e o frio... Mas ficou a parte agradável inerente à prática consistente. Do ponto de vista formal, mais estratégico,
desportiva e ao convívio com os colegas. tivemos de desenvolver um modelo nesta área especí-
fica que fosse consistente com os critérios internacio-
RFD – Lesionou-se alguma vez? nais e com o trabalho de excelência que queríamos e
queremos personificar. Foi parte integrante da minha
atividade trabalhar nesse sentido juntamente com os
HR – Não, lesão propriamente dita não sofri. Uma vez levei um outros colegas para criarmos o tal modelo de interven-
pontapé na cara e o meu dente da frente é falhado desde os 18 ção e o perfil de competências do Fisioterapeuta no Des-
anos precisamente por causa desse episódio. Sabe como é, como porto, com uma identidade própria e exclusiva.
guarda-redes temos de nos sujeitar a tudo...

RFD – Quando é que a grande barreira foi ultrapassada e


RFD – Mais convencido ficou com a opção pela fisioterapia.. o reconhecimento foi mais notório?

HR – A opção da fisioterapia surgiu porque também sempre HR – Aqui já se torna muito difícil perceber isso porque
revelei muito interesse pela área da Saúde e a ideia de fazer o nas diferentes modalidades havia ritmos diferentes.
curso agradou-me particularmente sequer estavam apetrecha- Mas reconheço que só quando o futebol permitiu uma
das para criar um cartão de acesso aos jogos. A única alterna- maior visibilidade aos nossos colegas é que uma deter-
tiva era figurar como massagistas, o que para nós gerava algum minada linha foi estabelecida. Nesse contexto o Gaspar,
embaraço. Até do ponto de vista deontológico não era agradável o António Gaspar terá tido um papel importante, graças
usurpar o papel de outros profissionais e nós basicamente gos- à sua colaboração com o Benfica e com a seleção nacio-
távamos que nos reconhecessem como fisioterapeutas. Parece nal. Em termos de datas... Diria que quando organizá-
uma coisa simples mas esse foi um dos primeiros passos para mos o Euro’2004 já estávamos claramente identificados
nos afirmarmos como profissionais, ter um cartão próprio, ter como profissionais da Fisioterapia. Mais uma vez, con-
uma identidade própria. Naquele tempo, só a Federação de solidado o nosso papel no futebol estava consolidado o
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Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/

reconhecimento no sector do Desporto, fazendo jus à impor- Fisioterapia. Nesse sentido, sob a coordenação do colega
tância que a sociedade civil já atribuía ao papel do Fisiotera- e nosso docente Diogo Campos, um peso-pesado nesta
peuta em outras áreas de intervenção clínica. área com uma vasta e ainda presente experiência no
terreno, ao longo de 25 épocas ao serviço do clube de
rugby do Direito, estamos a concentrar os nossos esfor-
RFD – O Henrique nunca se viu tentado por propostas profissio-
ços na organização de um mestrado em Fisioterapia no
nais oriundas do futebol?
Desporto.

HR – Olhe, posso dizer que tive uma experiência pouco interes-


RFD – O que falta cumprir para alcançarem essa meta?
sante no futebol, apesar de ter começado com a tal proposta
de ‘pro bono’. No ano seguinte a essa primeira experiência,
ingressei num patamar mais elevado, porque já estávamos a HR – É preciso obter o reconhecimento das autorida-
falar da III Divisão nacional. Já tinha uma remuneração estabe- des que supervisionam o Ensino Superior, ou seja, a
lecida mas constatei que no futebol é fácil cruzarmo-nos com admissão de uma formação que preencha os requisi-
pessoas de mau carácter. E não me refiro apenas ao mundo tos ao nível de credibilidade e do nível académico dos
que gira entre atletas e dirigentes. Somos facilmente traídos formadores e ao nível das horas de formação, ou seja,
por gente de má fé. Confrontei-me com promessas de remu- há que provar às entidades reguladoras que a formação
nerações que não estavam lavradas em papel e no fim de uma que estamos a propor é plenamente fundamentada e
época , perante uma mudança de Direção no clube, acabei por merecedora dessa autorização. O que não será difícil, já
ter a receber cerca de 1000 contos que... nunca vi. Tudo isso que temos previsto um leque de preletores de inques-
fez-me sempre desconfiar dos meandros do futebol, percebi tionável qualidade e do melhor que podemos ter a nível
que não era meio que me agradasse. A par disso, tive a sorte de nacional e internacional, com um programa cujos con-
‘calhar’ com uma modalidade que do ponto vista da competi- teúdos vão ao encontro dos critérios mais exigentes para
ção não é tão feroz e implacável, como é o caso do andebol. O a definição do perfil de competências, e ministrado num
andebol e o judo, já agora. Nessas modalidades, a relação entre formato adequado ao ritmo dos tempos atuais. O nosso
todos é muito mais fluída e transparente, mais tranquila, não objectivo é estabelecer mais um polo de atração para os
estamos sujeitos a situações menos delicadas, para não dizer novos fisioterapeutas, para que possam ter uma carreira
outra coisa. No futebol desiludi-me com certos protagonistas brilhante que nos encha de orgulho e aumente ainda
porque senti que muitas vezes o fisioterapeuta era um alvo, mais a visibilidade da Fisioterapia junto da comunidade,
um bode expiatório quando os resultados não apareciam. Isto assim como consolidar o reconhecimento da identi-
apesar do grande envolvimento que temos com todos os atle- dade do Fisioterapeuta nesta área de especialização. Em
tas. No andebol, nomeadamente, senti-me muito confortável Alcoitão também dou aulas. Sou professor convidado e
e aí nunca encontrei gente tão pouco escrupulosa. Mas seria ao nível de licenciatura e mestrado faço formação den-
injusto e incorreto se generalizasse este sentimento. Foi ape- tro da área músculo-esquelética.
nas uma questão muito pessoal, provavelmente por azar ou
ingenuidade minha...
RFD – Abandonou o terreno...

RFD – ...
HR – Numa primeira fase, só no terreno foram pelo
menos 15 anos... Não me arrependo de ter seguido esse
HR– (antecipando pergunta)... Mas atenção, isso não me impede caminho e confesso que tive de tomar essa decisão de
de dizer que fico e fiquei sempre muito orgulhoso com os cole- finalmente abandonar o terreno porque a certa altura
gas que no futebol tiveram contributo grande para a exposição tornou-se muito pesado em termos pessoais e familiares
e notoriedade de toda a classe. Na via que resolvei seguir, creio acompanhar as equipas e as seleções a tempo inteiro.
que tive o meu papel e estou feliz pelo grande investimento na Imagine o que é, durante os estágios e as competições,
área da formação e no estímulo dado para a elaboração do perfil estar semanas a fio sem pôr o pé em casa... Mesmo numa
de competências do fisioterapeuta no que respeita à interven- semana normal, o acompanhamento dos atletas implica
ção particular no Desporto. Para ter uma ideia do meu percurso invariavelmente alguma intervenção após os treinos,
na área da formação, posso contar-lhe que ainda como esta- que nas equipas amadoras, como foi o caso, decorrem à
giário do curso de fisioterapia fui convidado pelo meu querido noite várias vezes por semana. Com mais uns quilóme-
colega Raul Oliveira para participar nas primeiras Jornadas de tros até chegar a casa, estamos a aterrar finalmente só
Fisioterapia no Desporto, onde apresentei uma comunicação a depois da meia noite! Para não mencionar que os jogos
propósito de prevenção de lesões, o que desde logo me criou decorrem praticamente todos os fins-de-semana, ao
alguns problemas. Isto porque alguns colegas, já profissionais, longo de uma longa época desportiva, metade deles em
não entendiam como é que um estagiário falava numa confe- terreno adversário, com deslocações mais demoradas...
rência! Achavam que numa jornada de estudo para profissio- Tudo isso provoca um impacto muito grande e teve os
nais não fazia sentido estar a escutar um estagiário. Ainda hoje seus custos. Sobretudo para uma pessoa como eu, que
estou grato ao Raul (Oliveira) por me ter dado essa oportunidade nunca me limitei a uma única área. Posso dizer que
em 1985. Aí começou a vertente académica do meu percurso sempre exerci a fisioterapia numa instituição hospita-
profissional e nunca mais deixei de estar associado à forma- lar e logo no início de carreira estive 10 anos na Reabili-
ção. Para além da participação regular em eventos científicos tação Pediátrica do Centro de Medicina de Reabilitação
como preletor, o interesse na partilha dos saberes estimulou-me em Alcoitão. Por convite do meu grande amigo José Fer-
a organizar ou ministrar mais de uma centena de programas nandes, fui desencaminhado para trabalhar com ele no
teórico-práticos de formação contínua para fisioterapeutas, ao Hospital da Cruz Vermelha, onde ainda hoje, com muito
longo do país e no Brasil. A carreira docente mais formal, só gosto, me mantenho após 25 anos. Na verdade, faço ape-
começou em 2002. Atualmente sou diretor da área de ensino da nas 12 horas por semana desde o último ano, dadas as
Fisioterapia na Escola Superior de Saúde da Cruz Vermelha Por- obrigações que as novas funções académicas me acarre-
tuguesa, em Lisboa. Nestas funções compete-me garantir uma tam. E ainda assim, também tenho o meu gabinete par-
oferta formativa de excelência por parte da Escola, fomentando ticular, a Oficina do Movimento, no qual atendo os meus
a investigação e o desenvolvimento tecnológico no contexto da clientes, em contexto de clínica privada.
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revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/ Revista de Fisioterapia Desportiva

RFD – Então não abandonou completamente... no pós-operatório imediato de cirurgia da coluna, – diria
que mais de 3500 casos... Daqui resultou um traquejo
que procuro reverter para o meu gabinete, onde maio-
HR – – Nunca me quis desvincular da prática clinica e hospita-
ritariamente trato pessoas que se queixam da coluna,
lar. Mais uma vez continuo com 10, 12, 14 horas de trabalho por
com um atendimento personalizado e mais atempado.
dia, é verdade. Mas cumpro isso com todo o agrado. Tenho muito
Tendo a ir duas ou três vezes por semana ao final da
prazer em ser fisioterapeuta, tenho muito orgulho e gosto na
tarde ao meu gabinete e é porque não consigo dar res-
profissão. Não consigo largar tarefas, o meu dia acaba às 22h00
posta a tudo, sob pena de quebrar a seletividade que
se for preciso. Tem razão, não foram só os primeiros 15 anos,
marca os meus serviços, para já não voltar a referir os
mantenho a tendência de acabar o trabalho pela noite dentro...
custos de natureza familiar.
Mas isso é... incontornável porque sou um adepto fervoroso da
fisioterapia e como profissional adoro o que faço, não abdico da
minha prática profissional, nos diferentes contextos: clínico, RFD – Então explique lá aos nossos leitores porque se
hospitalar e académico. Mas na falta de ocupação, pense agora considera um “Viajante de memórias”...
em acrescentar todo o percurso necessário para se obter o grau
do doutoramento… Um ano curricular só com aulas e vários
HR – (risos) Viajante de memórias... O Desporto permi-
anos a elaborar a Tese, baseada na produção de artigos a partir
tiu-me conhecer o mundo e como gosto particularmente
de dados recolhidos com doentes e pessoas saudáveis em tes-
de fotografia, associei as duas paixões. Parecia estar a
tes experimentais numa plataforma de força… Foi o derradeiro
tempo inteiro com a máquina fotográfica e com a tesoura
desafio, principalmente por iniciar esta aventura aos 50 anos.
das ligaduras funcionais a trabalhar ao mesmo tempo! O
Mas foi imprescindível para associar a componente de inves-
facto de ter gravado para sempre momentos da prática
tigação, fundamental para a progressão na carreira académica.
da minha atividade profissional proporciona-me ainda
Devo dizer sobretudo, que este percurso atribulado, esta azá-
fama toda, a dedicação ao trabalho, só me são possíveis porque
tenho tido a preciosa colaboração da família, dos colegas e dos
amigos, mas em particular o apoio incondicional da minha que-
rida mulher, a Sílvia, que não sei como nem porquê ainda me
atura, a quem nunca serei capaz de compensar tamanha dose
de paciência e generosidade.

RFD – Quantos alunos tem?

HR – Temos cerca de 300 alunos no total dos quatro anos da NO SITE


licenciatura. Como estamos na fase de implementação de uma
oferta formativa mais ampla, esse número ainda será maior, uma
vez as pós-graduações e os mestrados em funcionamento. Todos PODERÁ ENCONTRAR
os anos surgem muitas inscrições, estamos lotados e sabemos
que em termos de empregabilidade, a nossa taxa ronda os 100
por cento, o que naturalmente nos deixa muito satisfeitos e gra-
tificados. Acho que estes indicadores refletem bem a qualidade
da formação do nosso corpo docente, que viu o novo plano de
estudos ser recentemente acreditado pelas entidades regulado-
ras. Creio que o sucesso do curso se deve ao facto de ter sido bem INSCRIÇÃO NA ORDEM
adaptado às exigências do atual mercado de trabalho. Temos
apostado de forma clara na componente prática da formação,
privilegiando as horas de contacto em contexto laboratorial e
de ginásio e o recurso a mais de 30 locais de estágio (incluindo
clubes desportivos) onde se aplicam modelos de prática de exce-
lência, com os quais estamos muito bem sintonizados. Fora o
trabalho feito diretamente com a comunidade local, que inclui
o contributo da recém inaugurada Clínica Académica, ou a inte-
gração de unidades curriculares relacionadas com voluntariado,
BALCÃO ÚNICO
missões humanitários e catástrofes. No fundo, o que queremos
é desafiar o aluno a confrontar-se e a conviver com a realidade,
para mais facilmente encontrar as ferramentas que melhor lhes
solucionem os problemas. E parece que está a resultar! Tal como
eu, a maioria do corpo docente é composta por doutorados e
com o título de Especialista, que só por si garante a vantagem
de se poder integrar a melhor evidência científica com o conhe-
cimento prático adquirido no terreno. Esta é seguramente uma
mais-valia para o ensino da Fisioterapia.
CIDADÃO

RFD – E consegue quantificar o número de pacientes que já lhe


passou pelas mãos?

HR – Número de doentes... Tendo em conta apenas os últimos


25 anos de prática hospitalar, e considerando o tipo de casos
que teve mais impacto na minha experiência pela sua comple-
xidade – estamos a falar do apoio dado à recuperação funcional
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 7
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/

hoje muito boas recordações. E além daquilo que fixei como


imagem, fiz grandes amizades. Amigos que ainda hoje encon-
tro, ex-atletas que há 20 anos, em contexto de estágio, de com-
petição, durante um tempo prolongado, estabeleceram comigo
relações de robustez total, muito acima da relação terapêutica.
Tudo isso é para mim bastante interessante e gratificante, por-
que ao longo de todo um percurso há uma confiança e uma pro-
ximidade que se estabelece com as pessoas que fica para sem-
pre. Sobretudo quando nos envolvemos a cem por cento. E foi
exatamente por isso, porque gostamos do que fazemos e nos
entregamos sem limites que uma vez arrependi-me de... me ter
excedido. Numa final de campeonato de andebol, com o Paço
de Arcos, estava tão incomodado com o árbitro por este não
sancionar faltas com risco de lesão grave para os nossos atletas
que me insurgi de tal modo que levei com o cartão vermelho. É
a mancha no currículo que me envergonha, mas, lá está, tudo
devido ao envolvimento ditado pela paixão e pela entrega.

RFD – E como é que avalia o trabalho da Ordem dos Fisiotera-


peutas? Tem sido empenhada?

HR – Passada a fase inicial de instalação, é um facto que a


Ordem tem mostrado empenho na dedicação à sua missão de
defesa do cidadão e de proteção dos interesses da profissão, tal
como assim se pode constatar por quem esteja atento às men-
sagens que têm sido emitidas, nem que seja numa consulta pela
sua página. Destaco dessa atividade a consulta pública para a
proposta de regulamento do Ato do Fisioterapeuta, fundamen-
tal para a definição do perfil de competências e da identidade
da profissão. Por outro lado, lembro que a derradeira função da
Ordem, que passa por zelar escrupulosamente pela qualidade
dos serviços prestados à comunidade ao garantir que os cui- e da sua respetiva Revista, assim como nas instâncias
dados de fisioterapia sejam prestados por profissionais devi- internacionais, devo citar com enorme orgulho o grande
damente habilitados e que respondem perante os princípios e impulsionador e motor da profissão, o meu Mestre Raul
normas éticas e deontológicas da profissão, repousa repentina- Oliveira (só podia ser ele finalmente o meu orientador
mente numa enorme contradição criada pelo Governo. Não faz de doutoramento...), e honrar também o José Estêves, o
sentido ter uma Ordem caso se esvazie o seu poder regulador. Diogo Campos, o Marco Jardim e a Maria António Castro,
Estamos muito expectantes, naturalmente, face àquilo que o levando em linha de conta todo um trabalho desenvol-
Parlamento vai decidir e eu diria que essa é a maior batalha vido. Uma menção especial para o Telmo Firmino pelo
da classe neste momento, lutar para que todo um trabalho de seu fantástico percurso, aliando a exemplar prática no
anos não vá por água abaixo perante uma linha legislativa que terreno com uma sofisticada produção de linhas de
ameaça extinguir uma Ordem de Direito Público. investigação de nível superior, capaz de elevar a imagem
dos fisioterapeutas portugueses para outros patamares.
Mas peco por defeito, necessariamente. Poderíamos
RFD – Depois dessa mensagem, gostaria de passar outra aos
estar aqui uma tarde inteira a falar de nomes, muita
jovens fisioterapeutas, àqueles que se prepararam para iniciar gente que fez e continua a fazer um trabalho em prol
carreira? da evolução e reconhecimento da Fisioterapia e com os
quais gostaria de ter tido mais contacto.
HR – Para já, se me permite, gostaria de enviar uma mensagem
de agradecimento aos meus mentores e a todos aqueles que RFD – E a mensagem para os mais novos?...
tiveram um peso e um papel determinantes na progressão e
na visibilidade da Fisioterapia no Desporto. Não posso deixar
de destacar antes de mais o José Luís Rocha, o meu padrinho HR – Que abracem e se dediquem a uma profissão que
nestas lides, perdoe-me a expressão, uma pessoa que para toda exige uma entrega exclusiva e que exige uma relação
a minha vida será uma referência e com quem tive o enorme próxima e constante entre todos os intervenientes.
prazer de trabalhar. O Zé Luís personifica o fisioterapeuta no Existirá sempre um custo pessoal mas saibam que têm
Desporto em toda a sua acepção e nem consigo dizer o quanto muito a ganhar com esse empenho. Os que forem capa-
aprendi com ele. Juntamente com o Paulo Araújo, são as duas zes no terreno de solucionar os problemas e contribuir
personagens que no terreno foram as minhas mais antigas e para um resultado imediato, irão eles próprios ter um
significativas referências, embora outros colegas, fora da minha resultado enorme no desenvolvimento das suas compe-
proximidade, já dessem os primeiros passos. O Nuno Pombeiro tências práticas e no campo das relações sociais e pro-
e o António Gaspar são da minha criação, o Nuno é do meu fissionais.
curso… A ambos a minha gratidão pela visibilidade que conse-
guiram arrecadar pelo seu próprio mérito. Numa área que pode-
Entrevista disponível online em:
ria situar como mais académica, mais centrada na formação
na definição do modelo de intervenção e no desenvolvimento revfisiodesp.pt/entrevista/henrique-relvas-fisioterapeuta-cruz-vermelha/

da dimensão socioprofissional e cultural representativas desta


área de atuação, no contexto do Grupo de Interesse em Fisiote-
rapia no Desporto da Associação Portuguesa de Fisioterapeutas
8 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt
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ARTIGO
LESÕES NOS ISQUIOTIBIAIS E A macroscópica de rutura das fibras. Essas lesões apresen-
tam causas multifatoriais e são agrupadas em subgrupos
PRÁTICA DE ATLETISMO que refletem a sua origem clínica, como a sobrecarga ou
os distúrbios neuromusculares. Já as lesões muscula-
Nuno Cordeiro1 e Rafael Barata2
res estruturais são aquelas que apresentam evidências
Professor Doutor Coordenador na Área Científica de Fisioterapia na Escola Superior de Saúde
1 macroscópicas de rutura das fibras nas ressonâncias
Dr. Lopes Dias Instituto Politécnico – Castelo Branco
Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias Instituto Politécnico – Castelo Branco
2 magnéticas, isto é, danos estruturais (Ernlund et al., 2017).

A segunda tabela é a britânica, esta propõe um agrupa-


mento baseado nas imagens das Ressonâncias Magnéti-
cas. As lesões são graduadas de 0 a 4, nos graus 1 a 4
PREVALÊNCIA DE LESÕES DOS ISQUIOTIBIAIS NO um sufixo é adicionado que é utilizado para descrever a
ATLETISMO localização da lesão: Para as lesões miofasciais (distensão
Num estudo relativo à epidemiologia das lesões nas competi- ou rutura do músculo) “a”; para as lesões músculo-ten-
ções internacionais de Atletismo, realizados entre 2007 e 2015 dinosas (separação do músculo e do tendão) “b”; para as
(Edouard et al., 2016), a lesão do grupo muscular dos isquiotibiais lesões intratendínosas (avulsão dos tendões do osso) “c”
apresenta alta incidência, sendo este o grupo muscular mais afe- (Ernlund et al., 2017).
tado, com uma incidência de 17,1%. As disciplinas onde se regis-
Nesta classificação as lesões Grau 0 são aquelas sem alte-
taram mais lesões foram de velocidade, saltos e barreiras para
rações de imagens na ressonância magnética, mas que se
os homens e nas mulheres velocidade, barreiras e provas combi-
representam por dor neuromuscular localizada ou gene-
nadas. Sendo que o grupo muscular dos isquiotibiais são funda-
ralizada provocadas pelo exercício. As lesões Grau 1 são
mentais na fisiologia do desporto em si, é importante conhecer
pequenos traumas musculares em que o atleta apresenta
bem a anatomia do mesmo e perceber os mecanismos que cau-
dor durante ou após a atividade mas que a amplitude de
sam estas lesões e os fatores de risco associados à mesma, em
movimento (ADM) é normal e a força está preservada.
especial em contexto no atletismo, de modo a conseguir realizar
Nas lesões Grau 2 ocorre um dano moderado no músculo,
uma prevenção mais eficaz ao longo do tempo e diminuindo por
o atleta apresenta dor durante a atividade e é necessário
consequência o risco de recidivas.
interromper, a ADM do membro afetado apresenta limi-
tações devido à dor e há a presença de fraqueza mus-
ANATOMIA DOS ISQUIOTIBIAIS cular, geralmente detetada no exame clínico. No Grau 3,
as lesões musculares são extensas, o atleta geralmente
O Grupo Muscular dos Isquiotibiais (GMI) é constituído pelo mús-
sofre um quadro abrupto de dor e a ADM, geralmente
culo semimembranoso e semitendinoso na parte medial da face
é reduzida e dolorosa, existindo igualmente fraqueza
posterior da coxa, e na parte lateral a longa porção do bicípite
na contratilidade muscular. E por último o grau 4, que
femoral. Estes 3 músculos têm todos origem na tuberosidade
representa rotura completas no músculo ou no tendão
isquiática com um tendão comum e quanto às suas inserções,
e o atleta apresenta quadro súbito de dor e limitação da
o semimembranoso insere-se no côndilo medial da tíbia, o semi-
atividade, normalmente a contração é menos dolorosa do
tendinoso no bordo medial da tuberosidade da tíbia e o bicípite
que a lesão de grau 3 (Tabela 1).
femoral na cabeça da fíbula. São músculos bi-articulares pois
cruzam as articulações da anca e do joelho e são inervados pela Quanto aos mecanismos de lesão, os principais referidos
porção tibial do nervo ciático (Pietrzak et al., 2018). na literatura são:
Os isquiotibiais são extensores da coxa e flexores da perna, con- Durante a fase de balanço terminal da corrida, os isquio-
tribuindo de forma fundamental na marcha e na corrida, onde tibiais absorvem energia elástica para contrair excentri-
existe uma interação complexa entre a contração dos isquioti- camente e para promoverem a desaceleração do avanço
biais e a contração do seu antagonista quadricípite. Estes absor- do membro na preparação do contato inicial do calcâneo.
vem a energia cinética dos movimentos o que ajuda a proteger Nessa fase a musculatura torna-se mais suscetível a
as articulações do joelho e da anca. Limitam a extensão do joe- lesões, sendo o bicípite femoral o músculo mais suscetí-
lho imediatamente antes e durante o impacto do calcanhar com vel, por estar mais ativo em relação aos músculos semi-
o solo, proporcionando estabilidade dinâmica para a translação tendinoso e semimembranoso (Ramos et al., 2017);
ântero-posterior da tíbia em relação ao fémur, em conjunto com a
estabilidade estática proporcionada pelo ligamento cruzado ante- Outro mecanismo descrito que lesa maior parte das vezes
rior (LCA). Esta limitação da extensão constitui uma contração a porção proximal do músculo semitendinoso é um movi-
excêntrica, de tal forma que existe um alongamento controlado mento combinado de alta potência e extrema amplitude
do músculo à medida que este “dispara” (Linklater et al., 2010). É de flexão do quadril com extensão de joelho, que bio-
de realçar que as forças aplicadas durante a contração excêntrica mecanicamente corresponde a movimentos de chutar
são maiores do que durante uma contração concêntrica. uma bola, corrida com barreiras e movimentos artísticos
(Ramos et al., 2017);
MECANISMOS E CLASSIFICAÇÃO DE LESÃO NOS
ISQUIOTIBIAIS PROGRAMA DE FISIOTERAPIA NAS LESÕES DOS
Há essencialmente dois sistemas de classificação que estão cada
ISQUIOTIBIAIS
vez mais a ser utilizados e explorados com o objetivo de serem O programa de fisioterapia numa lesão dos isquiotibiais
mais abrangentes e desenvolver uniformidade na terminolo- pode ser bastante longo e trabalhoso, sendo que os pon-
gia das lesões musculares. A primeira sendo mais geral para as tos seguintes são de grande importância, focando igual-
lesões musculares, e a segunda mais específica. mente os fatores de risco:

A primeira tabela é a de Munique que diferencia dois principais


Treino de força dos músculos da coxa:
grupos de lesão: trauma direto e indireto. Dentro do grupo das
lesões por trauma indireto, a classificação traz o conceito das O objetivo deste tipo de treino é preparar os atletas para as
lesões funcionais e das lesões estruturais. Os distúrbios mus- exigências dos treinos de velocidade e ajustar défices de
culares fundamentais descrevem as alterações sem evidência força muscular dos membros inferiores. Será importante
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 9
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/artigos/lesões-isquiotibiais-prática-atletismo/

Tabela 1 – Classificação de Munique


Classificação de Munique
Tipo de lesão Definição Sintomas Imagem de RM
Funcional Contusão: trauma contuso oriundo de fator externo com tecido
muscular intacto
Laceração: trauma contuso oriundo de um fator externo com rup- Hematoma Hematoma
Direta
tura muscular Negativa
Indireta
Tipo 1: desordem muscular relacionada à sobrecarga Negativa ou edema isolado
1A: desordem muscular devido a rigidez muscular e fadiga
1B: dor muscular tardia dor inflamatória aguda
Estrutural Tipo 2: desordem muscular de origem neuromuscular
2A: desordem muscular aumento do tônus muscular neuromuscu-
lar relacionada à desordem neurológica coluna vertebral
2B: desordem muscular aumento do tônus muscular neuromuscu-
Negativa ou edema isolado
lar relacionada à alteração do controlo neuromuscular
Negativa ou edema isolado
Tipo 3: lesão muscular parcial
Rompimento dasfibras ,retração e
3A: pequena lesão muscular parcial: lesão que envolve pouca área
hematoma completa descontinui-
do diâmetro máximo muscular
dade das fibras
3B: moderada lesão muscular parcial: lesão que envolve moderada
área do diâmetro máximo muscular
Tipo 4: lesão muscular sub(total) com avulsão:
Envolvimento do diâmetro completo do músculo, defeito muscular

Tabela 2 – Classificação atlética britânica


Classificação atlética britânica

Grau Descrição RM
Grau 0
0a Dor neuromuscular focal Normal
0b Dor muscular generalizada Normal ou aumento de sinal em um ou mais músculos
após exercício
Grau 1
1a Lesão miofascial menor Aumento de sinal a partir da fáscia com envolvimento < do que 10% do ventre
muscular e comprimento crânio-caudal < 5cm
1b Lesão miotendinosa menor Aumento de sinal < do que 10% da secção transversa do músculo na região mio-
tendinosa e comprimento crânio-caudal < 5cm
Grau 2
2a Lesão miofascial moderada Aumento de sinal a partir da fáscia com extensão ao músculo, área de secção
transversal da lesão entre 10% e 50%, comprimento craniocaudal > 5 e < 15 cm e
rutura estrutural das fibras < 5 cm
2b Lesão miotendinosa moderada Aumento de sinal na região miotendinosa, área de secção transversal compreen-
dida entre 10% e 50%, comprimento craniocaudal > 5 e < 15 e ruptura estrutural
das fibras < 5 cm
2c Lesão intratendinosa moderada Aumento de sinal no tendão com comprimento longitudinal < 5 cm, envolvimento
< 50% da área de secção transversa do tendão. Sem perda de tensão ou desconti-
nuidade do tendão
Grau 3
3a Lesão miofascial extensa Aumento de sinal a partir da fáscia com extensão ao músculo, área de secção
transversa > 50%, comprimento crânio-caudal >15 cm e ruptura estrutural das
fibras > 5 cm
3b Lesão miotendinosa extensa Aumento de sinal com área de secção transversa > 50%, comprimento crânio-cau-
dal >15 cm e ruptura estrutural das fibras > 5 cm
3c Lesão intratendinosa extensa Aumento de sinal no tendão com comprimento do longitudinal > 5 cm, envolvi-
mento > 50% da área de secção transversa do tendão. Pode haver perda da tensão
do tendão porém não há descontinuidade evidente
Grau 4
4 Lesão completa muscular Descontinuidade completa do músculo com retração
4c Lesão completa tendinosa Descontinuidade completa do tendão com retração

10 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt


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trabalhar tanto em movimentos concêntricos como excêntricos RETORNO AO DESPORTO


e tanto dos flexores como dos extensores, trabalhando também
O estabelecimento de critérios objetivos para determinar
a resistência à fadiga. O desafio mais importante desta etapa é
o momento adequado para um atleta voltar ao desporto
saber quando devemos iniciar o treino destes exercícios depen-
continua a ser um desafio e uma área importante para
dendo da situação de cada atleta, onde o fisioterapeuta neste pro-
pesquisas futuras. Recomenda-se que o atleta, para vol-
cesso tem um papel fundamental de ir avaliando (com assistên-
tar às atividades desportivas sem restrições, tenha de ser
cia de teste muscular/isocinético) o utente, de modo que possa ir
capaz de fazer exercícios funcionais (corrida, saltos, dri-
progredindo e aumentando a carga, associando este trabalho às
bles) em plena velocidade sem queixas de dor ou rigidez.
outras componentes, de modo que o atleta se sinta mais seguro
A flexibilidade tem de ser similar ao membro contralate-
e tenha também menor probabilidade de recidiva, garantindo o
ral sem queixas. Ao avaliar a força, o atleta deve ser capaz
equilíbrio muscular entre os membros (Hickey et al., 2022).
de completar quatro repetições consecutivas de esforço
máximo sem queixas álgicas e sem queixas também no
Estabilidade e agilidade progressiva do tronco teste de força manual de flexão de joelho. Se possível,
Estes exercícios começaram a ser implementados após demons- o teste de força isocinético também deve ser feito em
trarem redução de probabilidade de recidiva, comparado à reabi- ambas as condições de ação concêntrica e excêntrica, o
litação padrão, nomeadamente porque promovem: o controlo dos peak torque deve ter um déficit menor de 10% em relação
movimentos no plano sagital, evitando a máxima amplitude de ao lado contralateral (Ramos et al., 2017).
movimento dos isquiotibiais, redução do alongamento dos isquio-
Correspondência
tibiais durante as corridas de alta velocidade (Hickey et al., 2022).
Nuno Cordeiro
ncordeiro@ipcb.pt
Flexibilidade da coxa
Referências Bibliográficas
São comumente prescritos exercícios de flexibilidade para melho-
rar défices na flexibilidade da extensão do joelho e flexão da anca. Edouard, P., Branco, P., & Alonso, J. M. (2016). Muscle injury is the principal injury type and
hamstring muscle injury is the first injury diagnosis during top-level international athletics
A existência de défices na flexibilidade pode contribuir para uma championships between 2007 and 2015. British Journal of Sports Medicine, 50(10), 619–630.
https://doi.org/10.1136/BJSPORTS-2015-095559
recidiva sendo por isso recomendado o exercício excêntrico (Hic-
key et al., 2022). Ernlund, L., De, L., & Vieira, A. (2017). Lesões dos isquiotibiais: artigo de atualização. https://
doi.org/10.1016/j.rbo.2017.05.001

Hickey, J. T., Opar, D. A., Weiss, L. J., & Heiderscheit, B. C. (2022). Hamstring Strain Injury Reha-
Exercícios técnicos de corrida específicos para os bilitation. Journal of Athletic Training, 57(2), 125–135. https://doi.org/10.4085/1062-6050-
isquiotibiais 0707.20

Linklater, J. M., Hamilton, B., Carmichael, J., Orchard, J., & Wood, D. G. (2010). Hamstring
Este tipo de exercícios são prescritos para replicar algumas fases injuries: anatomy, imaging, and intervention. Seminars in Musculoskeletal Radiology, 14(2),
do ciclo do sprint em intensidades reduzidas e num ambiente 131–161. https://doi.org/10.1055/S-0030-1253157

controlado, de modo que o atleta se vá sentido cada vez mais Pietrzak, J. R. T., Kayani, B., Tahmassebi, J., & Haddad, F. S. (2018). Proximal hamstring ten-
dinopathy: pathophysiology, diagnosis and treatment. British Journal of Hospital Medicine
seguro. É utilizado também para evitar movimento indesejados, (London, England : 2005), 79(7), 389–394. https://doi.org/10.12968/HMED.2018.79.7.389
tais como, inclinação pélvica anterior excessiva (que é bastantes
vezes associada à lesão dado a extensão excessiva dos isquioti-
biais nesta posição) e flexão excessiva da anca. Apesar de não
haver evidência direta dos benefícios deste tipo de treino, este
deve ser utilizado como um acessório bastante importante na
reabilitação (Hickey et al., 2022).

revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 11


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ARTIGO
PREVALÊNCIA DE FACTORES DE RISCO EM ATLETAS DE ANDEBOL COM E SEM
HISTORIAL DE LESÕES DE SOBRECARGA
Inês Ventura*, Sofia Vieira, Joana Rosa, Margarida Feliciano, José Brito1, Luciano Maia Alves Ferreira1, Duarte Tavares2 and Manuel Barbosa de Almeida1
1 Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz (CiiEM); Escola Superior de Saúde e Ciência Egas Moniz, Campus Universitário, Quinta da Granja, 2829-511 Caparica, Almada, Portugal
2 Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I.P., Av. D. João de Deus, Lisboa, Portugal. Estados Unidos da América nº 77, 1749-096 Lisboa, Portugal.
*Correspondência: mbalmeida@egasmoniz.edu.pt
† Apresentado no 6º Congresso Internacional do CiiEM-Imediate and Future Challenges to Foster One Health, Almada, 5-7 de julho de 2023

RESUMO a força rotadora RE/RI, um inclinómetro digital, através


da aplicação Clinometer® para smartphone (Plaincode, Ste-
O andebol é um desporto exigente com risco de lesões de sobre-
phanskirchen, Alemanha), para avaliar a ADM do ombro,
carga. O objetivo do estudo foi comparar o movimento escapular,
e uma fita métrica para avaliar o deslocamento escapular
o rácio de força dos rotadores externos/internos e a amplitude de
através do Lateral Scapular Slide Test (LSST).
movimento dos rotadores do ombro de atletas de andebol com
e sem historial de lesões de sobrecarga. Foram recolhidos dados
transversais de atletas de andebol do sexo masculino. Os resulta-
Participantes
dos não mostraram diferenças entre os grupos, exceto no que diz Os clubes de andebol dos distritos de Lisboa e Setúbal da
respeito à discinesia na posição de avaliação final e à amplitude 2ª divisão foram contactados para concederem autoriza-
de movimento da rotação externa. A prevalência de discinesia ção para o desenvolvimento deste estudo. Participaram
escapular foi elevada em ambos os grupos. Estes resultados real- no estudo jogadores voluntários dos clubes integradores,
çam a importância da identificação e abordagem destes factores desde que fossem atletas de andebol do sexo masculino,
de risco nos programas de prevenção de lesões e reabilitação de registados em equipas seniores e sub-20, e atletas com
atletas de andebol. historial de lesão por sobrecarga do ombro dominante
nos últimos 12 meses foram alocados no grupo de lesão.
Os critérios de exclusão foram: ser menor de idade, ter
alguma deficiência cognitiva, ter sido submetido a cirur-
PALAVRAS-CHAVE gia ortopédica do ombro nos últimos 12 meses e ter
Andebol; sobrecarga; ombro; lesão de sobrecarga; factores de sofrido lesão traumática do ombro nos últimos 3 meses.
risco; prevenção.
Procedimentos
As avaliações foram efectuadas em ambos os lados. Para
a medição da ADM, foi utilizada uma aplicação de incli-
INTRODUÇÃO
nómetro digital através de clinómetro. Este foi posicio-
O andebol é um desporto de equipa caracterizado por um elevado nado paralelamente à linha média da região anterior do
tempo de jogo, mudanças rápidas de direção, aterragens abruptas antebraço. As medições passivas de RI e RE foram efec-
de saltos, lançamentos repetitivos e contactos e colisões frequen- tuadas na posição supina com o ombro dominante a 90°
tes entre jogadores, o que o torna um desporto exigente com um de abdução e o cotovelo fletido a 90°. Para a medição da
elevado risco de lesões [1]. As lesões indirectas ou sem contacto força do ombro, foram realizadas três contracções isomé-
estão entre os tipos de lesões mais comuns no andebol [2]. As tricas voluntárias máximas de 5 segundos com pausas de
lesões de sobrecarga resultam de múltiplas transferências cumu- 30 segundos entre as repetições. Para a mensuração do
lativas de energia que provocam queixas físicas, levando a uma deslocamento da escápula, foi utilizada uma fita métrica,
redução do volume de treino, experiência de dor e diminuição do medindo entre o ângulo inferior da escápula e D7 em
desempenho nos treinos e competições [3]. Neste desporto, são posição neutra, 45 e 90 graus de abdução do ombro, de
vários os movimentos e posições de stress a que a articulação acordo com o teste de deslizamento lateral da escápula.
do ombro está sujeita, especialmente durante o movimento de
lançamento. Por isso, uma fraqueza ou desequilíbrio que altere Estatísticas
qualquer um dos componentes da cadeia cinética pode levar a
Se a distribuição normal foi verificada, foi efectuado um
um ombro disfuncional ou pode colocar o indivíduo em alto risco
teste t independente paramétrico para comparar os gru-
de lesões no membro superior [4,5]. Uma vez que a maioria das
pos, caso contrário, foi utilizado o teste U de Mann-Whit-
lesões neste desporto é causada pelo uso excessivo e repetitivo de
ney. Para investigar a contribuição relativa das variáveis
estruturas num movimento específico, os défices na amplitude
de caraterização para o perfil neuromuscular dos atletas,
de movimento articular (ADM), a relação entre a força dos rota-
foi utilizado um modelo de regressão logística binária
dores externos/internos (RE/RI) do ombro e a discinesia escapu-
para cada variável dependente.
lar foram identificados como factores de risco intrínsecos modi-
ficáveis, uma vez que o seu efeito pode ser alterado através de
programas de prevenção de lesões específicos [6].O objetivo deste
estudo é comparar a prevalência de factores de risco como a dis-
cinesia escapular, o rácio de força RE/RI do ombro, a amplitude de
movimento de rotação e factores associados em atletas de ande-
bol com e sem historial de lesão por sobrecarga.

MATERIAIS E MÉTODOS

Desenho do estudo
Este foi um estudo transversal. Utilizámos o dinamómetro de
tração Kforce-Link® (Kinvent, Montpellier, França) para avaliar
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RESULTADOS uma translação glenoumeral excessiva durante a RE [8,9].


Os nossos resultados são consistentes com este facto,
uma vez que observámos diferenças significativas entre
Tabela 1. Prevalência de factores de risco por grupo
os grupos, com um aumento médio de 14,65 ± 10,5º nos
Grupo Saudável Grupo com p atletas com lesão e de 7,72 ± 14,9º nos atletas saudáveis.
(n=39) lesão (n=20) Estas alterações podem contribuir para a atrofia selectiva
Com Sem Com Sem do músculo infra-espinhoso, causada por uma desner-
Risco Risco Risco Risco vação funcional do nervo supraescapular. Um ganho na
ADM do RE inferior a 5º foi também identificado como
n (%) n (%) n (%) n (%)
um fator de risco, uma vez que pode indicar uma ten-
Rotação 11 28 7 (35%) 13 0,402 dência para a retração do RI [10], e os nossos resultados
Interna (28,2%) (71,8%) (65%) mostraram uma taxa significativamente mais elevada no
Rotação 17 22 3 (15%) 17 0,026* grupo saudável. Estas alterações funcionais podem estar
Externa (43,6%) (56,4%) (85%) subjacentes a lesões de sobrecarga do ombro e são um
possível fator causal a curto e médio prazo, tornando a
ADMT 11 28 4 (20%) 16 0,233
sua prevenção extremamente importante.
(28,2%) (71,8%) (80%)
Racio RE/RI 10 29 5 (25%) 15 0,609 Uma ADM total reduzida pode aumentar a probabilidade
(25,6%) (74,4%) (75%) de ter problemas substanciais no ombro ao longo da
Discinésia 19 20 10 (50%) 10 0,572 época [10]. No entanto, observámos baixas taxas de atle-
Escapular (48,7%) (51,3%) (50%) tas que apresentaram uma ADM total reduzida quando
comparados com o lado não dominante em ambos os
Abreviações: RE= Rotadores externos; RI = Rotadores internos; ADMT = Amplitude total de movimento. grupos. As reduções no RI e os aumentos no RE presentes
p-valor com qui-quadrado para comparação de ocorrências entre grupos; * p-valor < 0,05
nos ombros dominantes de atletas não lesionados têm
sido considerados como uma adaptação normal dos teci-
Grupo Saudável Grupo com p
dos moles ao lançamento repetido [10], e as alterações
(n=39) lesão (n=20)
que encontrámos estão de acordo com isso.
Com Sem Com Sem
Risco Risco Risco Risco
Rácio de Força RE/RI
n (%) n (%) n (%) n (%)
Embora não tenham sido observadas diferenças signifi-
Rotação 11 28 7 (35%) 13 0,402 cativas na força dos rotadores do ombro entre os grupos,
Interna (28,2%) (71,8%) (65%) o grupo lesionado apresentou uma relação de força ER/
Rotação 17 22 3 (15%) 17 0,026* IR significativamente menor que 1. Isso pode ser devido
Externa (43,6%) (56,4%) (85%) ao processo de reabilitação realizado para o retorno ao
esporte, que tende a corrigir a tendência de uma relação
ADMT 11 28 4 (20%) 16 0,233 maior que 1 [11]. Esses achados contradizem nossa hipó-
(28,2%) (71,8%) (80%)
tese de encontrar atletas com maior força de RI entre o
Rácio RE/RI 10 29 5 (25%) 15 0,609 grupo saudável. A estabilidade escapular é crucial para
(25,6%) (74,4%) (75%) a função normal do ombro, especialmente num atleta de
19 20 10 (50%) 10 0,572 andebol [11]. Os nossos resultados mostraram que cada
(48,7%) (51,3%) (50%) ano adicional de treino, diminui o risco de ter um RE mais
forte do que o RI em 14,5%, e cada unidade adicionada
Um total de 59 participantes integrou o estudo. O grupo saudável era constituído por 39 atletas com 22,8
± 5,3 anos e um índice de massa corporal (IMC) de 26,9 ± 4,5 kg/m2 e o grupo não saudável por 20 atletas
dentro do intervalo saudável do índice de massa corporal
com 24,0 ± 7,0 anos e IMC de 25,1 ± 3,7 kg/m2. Não houve diferenças entre os grupos na comparação das (IMC), diminui o risco de ter um desequilíbrio do rácio de
médias das medidas das variáveis, exceto para a discinesia a 90º de abdução do ombro e 45º de abdução
horizontal, com RI máximo (p=0,045) e na ADM de rotação externa (p=0,035). A prevalência dos factores força a favor do RE em 23,8%.
de risco para cada grupo encontra-se detalhada na tabela 1.

Discinesia escapular
DISCUSSÃO
A presença de diferenças significativas de movimento
O andebol é um desporto de lançamento que exige muito da escapular em atletas com lesões pode ser uma das causas
articulação do ombro, tornando-a propensa a lesões. Estudos do seu historial de lesões, uma vez que a combinação de
recentes confirmam que entre 17% e 44% de todas as lesões de uma reduzida capacidade de adução/retração escapular
sobrecarga no andebol são nos ombros [2,7]. A identificação de com um excessivo RE pode contribuir para um aumento
alterações na ADM e na força dos movimentos rotacionais e da do risco de instabilidade glenoumeral anterior, que pode
posição da escápula pode ser usada para identificar atletas em ser a causa subjacente das lesões de de sobrecarga pre-
risco de lesão. Portanto, comparamos as características do per- viamente manifestadas [9]. Apesar de termos encontrado
fil neuromuscular de atletas com e sem histórico de lesão para taxas de ocorrência de discinesia escapular semelhantes
identificar a prevalência dos fatores de risco identificados em entre os grupos, o grupo de lesionados apresentou maior
cada grupo e investigamos sua associação com características deslocamento escapular do lado dominante em relação
sociodemográficas. aos atletas saudáveis na posição final de avaliação. As
evidências actuais indicam que a maioria dos proble-
mas escapulares em atletas de lançamento podem ser
Amplitude de movimento
atribuídos a uma perda de controlo da posição escapular
Não se registaram diferenças entre os grupos relativamente à normal em repouso e do movimento escapular dinâmico,
amplitude de movimento de rotação interna (RI). No entanto, resultando em protracção escapular que pode resultar
verificou-se que uma hora adicional de treino reduz a probabi- em cargas aumentadas, movimentos alterados e activa-
lidade de ter um défice de RI superior a 10º em 37,2%. As adap- ções musculares reduzidas que podem estar associadas
tações funcionais no andebol resultam numa alteração da ADM a uma diminuição do desempenho e aumento do risco
total disponível, com uma redução da RI e um aumento da RE que de lesão [12] e os nossos resultados estão de acordo com
pode ir até 16º com um aumento da laxidez capsular anterior e esse conhecimento.
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 13
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/prevalência-factores-risco-atletas-andebol-historial-lesões-sobrecarga/

Limitações Referências

1. Raya-González, J.; García-Esteban, S.; Castillo, D.; de Ste Croix, M. Injury profile in pro-
Avaliámos a ADM com os participantes em posição supina, com fessional handball players during 4 consecutive seasons according to playing positions: a
o ombro a 90º de abdução e o cotovelo a 90º de flexão, para repro- longitudinal study. Sports health 2022, 14, 273-282.

duzir a posição de tiro, mas isso pode promover erros de medi- 2. Achenbach, L.; Luig, P. Epidemiologie und Verletzungsprävention im Handball. Sportverletz
Sportschaden 2020, 34, 129-135.
ção através de compensações. O desenho transversal do presente
estudo impediu a determinação dos nossos resultados como 3. Karlsson, J.; Heijne, A.; von Rosen, P. Handball and movement screening–can non-contact
injuries be predicted in adolescent elite handball players? A 1-year prospective cohort study.
causas ou consequências de lesões de sobrecarga. Para estudos Physiother Theory Pract 2021, 37, 1132-1138.
futuros, recomenda-se uma configuração longitudinal e melho-
4. Kibler, W.B.; Kuhn, J.E.; Wilk, K.; Sciascia, A.; Moore, S.; Laudner, K.; Ellenbecker, T.; Thigpen,
res estratégias de controlo dos erros de medição. C.; Uhl, T. The disabled throwing shoulder: spectrum of pathology—10-year update. Arthros-
copy 2013, 29, 141-161. e126.

5. Landreau, P.; Zumstein, M.A.; Lubiatowski, P.; Laver, L. Shoulder Injuries in Handball. In
CONCLUSÃO Handball Sports Medicine: Basic Science, Injury Management and Return to Sport, Laver, L., Lan-
dreau, P., Seil, R., Popovic, N., Eds.; Springer: Berlin, Heidelberg, 2018; pp. 177-195.
A análise da ADM das rotações, do deslocamento da escápula e
6. Pozzi, F.; Plummer, H.A.; Shanley, E.; Thigpen, C.A.; Bauer, C.; Wilson, M.L.; Michener, L.A.
do rácio de força RE/RI em atletas de andebol com e sem historial Preseason shoulder range of motion screening and in-season risk of shoulder and elbow
injuries in overhead athletes: systematic review and meta-analysis. Br J Sports Med 2020,
de lesão deve ser uma prática corrente para o desenvolvimento 54, 1019-1027.
de programas de prevenção de lesões e de reabilitação orientada
7. Aasheim, C.; Stavenes, H.; Andersson, S.H.; Engbretsen, L.; Clarsen, B. Prevalence and bur-
para atletas com lesões de sobrecarga do ombro, uma vez que den of overuse injuries in elite junior handball. BMJ Open Sport Exerc. Med. 2018, 4, 1-5.
ambos os grupos apresentam elevadas taxas de factores de risco
8. Tooth, C.; Gofflot, A.; Schwartz, C.; Croisier, J.-L.; Beaudart, C.; Bruyère, O.; Forthomme, B.
identificados. Risk factors of overuse shoulder injuries in overhead athletes: a systematic review. Sports
health 2020, 12, 478-487.

Contribuições dos autores: Conceptualização, I.V., S.V., J.R., M.F., 9. Ouellette, H.; Kassarjian, A.; Tretreault, P.; Palmer, W. Imaging of the overhead throwing
athlete. Semin Musculoskelet Radiol 2005, 9, 316-333.
D.T., J.B., L.M.F. e M.B.A. metodologia, I.V., S.V., J.R. e M.F.; análise
formal, I.V., S.V., J.R. e M.F.; investigação, I.V., S.V., J.R. e M.F.; cura- 10. Clarsen, B.; Bahr, R.; Andersson, S.H.; Munk, R.; Myklebust, G. Reduced glenohumeral
rotation, external rotation weakness and scapular dyskinesis are risk factors for shoulder
doria de dados, L.M.F., M.B.A., J.B. e D.T.; redação - preparação injuries among elite male handball players: a prospective cohort study. Br J Sports Med 2014,
48, 1327-1333.
do projeto original, I.V., S.V., J.R. e M.F.; redação-revisão e edição,
L.M.F., D.T., J.B. e M.B.A.; supervisão, M.B.A.; administração do pro- 11. Wilk, K.E.; Arrigo, C.A.; Hooks, T.R.; Andrews, J.R. Rehabilitation of the overhead throwing
athlete: there is more to it than just external rotation/internal rotation strengthening. PM&R
jeto, I.V., S.V., J.R. e M.F. Todos os autores leram e concordaram 2016, 8, S78-S90.
com a versão publicada do manuscrito.
12. Hickey, D.; Solvig, V.; Cavalheri, V.; Harrold, M.; Mckenna, L. Scapular dyskinesis increases
Financiamento: Esta investigação não recebeu financiamento externo. the risk of future shoulder pain by 43% in asymptomatic athletes: a systematic review and
Declaração da Comissão de Revisão Institucional: Aprovação da Comissão de Ética do Egas Moniz meta-analysis. Br J Sports Med 2018, 52, 102-110.
CE-1088.
Declaração de Consentimento Informado: Foi obtido o consentimento informado de todos os partici- Nota do editor: As declarações, opiniões e dados contidos em todas as publicações são da
pantes no estudo. exclusiva responsabilidade do(s) autor(es) e colaborador(es) individual(is) e não da MDPI e/
Agradecimentos: Gostaríamos de agradecer ao Laboratório de Avaliação Física e Funcional em Fisio- ou do(s) editor(es). A MDPI e/ou o(s) editor(es) declinam a responsabilidade por quaisquer
terapia (LAFFFi) da Sausport pela disponibilização de material, incluindo o KINVENT e todo o apoio na danos a pessoas ou bens resultantes de quaisquer ideias, métodos, instruções ou produtos
realização deste projeto e à FCT/MCTES pelo apoio financeiro ao CiiEM (UIDB/04585/2020) através de referidos no conteúdo.
fundos nacionais.
Conflitos de interesse: Os autores declaram não haver conflito de interesses.

14 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt


revfisiodesp.pt/lateral-hip-pain-relation-greater-trochanteric-pain-syndrome/ Revista de Fisioterapia Desportiva

GRUPO DE ESTUDO FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA


Alice Encarnação · Beatriz Oliveira · Carlos Oliveira · Cátia Pombinho · Cloé Honoré · Guilherme Ornelas ·
Hugo Martins · Ivan Tadeu · João Filipe · Marina Miguel Gonçalves · Salomé · Tiago Soares · Robson Dias
Scoz, PhD. · Luciano Maia Alves Ferreira, PhD.

LATERAL HIP PAIN: RELATION TO GREATER TROCHANTERIC PAIN SYNDROME

“PAINEL DE EVIDÊNCIAS”

O Grupo de Estudos Fisioterapia EM Evidência da Egas Moniz School of Health & Science foi criado em 2021 pelo Laboratório de Avaliação
Física e Funcional em Fisioterapia – LAFFFi, com o intuito de promover a ciência e estimular a participação dos estudantes nas atividades
de investigação em contexto real. As atividades executadas são voluntárias, onde os alunos do 2º ano inicialmente participam de reuniões
semanais com apresentação de artigos científicos para discussão e análise crítica das evidências identificadas. No 3º ano os alunos passam
a realizar formações técnicas de todos os recursos e equipamentos de instrumentação biomédica do laboratório e se inserem nos projetos
de investigação, onde participam ativamente de avaliações e futuras publicações de resultados.

Esta rubrica foi criada para divulgar os resultados obtidos pelos estudantes e para incentivar os colegas fisioterapeutas na busca de infor-
mações mais atualizadas e que lhes tragam reflexo imediato na prática clínica, baseadas nas sugestões de texto.

RESUMO Referência

Lespasio M. J. (2022). Lateral Hip Pain: Relation to Greater Trochanteric Pain Syndrome. The
Objetivo de fornecer um entendimento geral com as evidências Permanente journal, 26(2), 83–88. https://doi.org/10.7812/TPP/21.110
científicas mais recentes em relação à condição clínica da dor
lateral do quadril. Além de destacar a síndrome da dor trocanté-
Artigo apresentado
rica maior, correlaciona-se com a dor lateral do quadril. Apresen-
tação do quadro clínico da dor lateral do quadril, tendo o GTPS
Effectiveness of communicative and educative strategies
como causa da dor lateral do quadril, tal como, a sua prevalência
in chronic low back pain patients: A systematic review
global e os restantes achados clínicos essenciais para a diferen-
ciação de diagnóstico. Conclui-se com um questionário que tem
como função de auxiliar os leitores na compreensão do material RESUMO
apresentado. O Objetivo do estudo foi identificar evidências científicas
sobre a eficácia de diferentes estratégias de comunica-
ção e educação para o tratamento da dor lombar crônica
CONSIDERAÇÕES FINAIS
(DLC) em pacientes, além de fornecer informações úteis
A progressão dos sintomas persistentes devido a orientações para profissionais de saúde ajudando-os a selecionar as
médicas inadequadas, resultam num aumento do quadro dolo- melhores estratégias de comunicação e educação.
roso e diminuição da funcionalidade. Tratamento centrado
no utente e baseado no controlo da dor e no exercício físico, As implementações de estratégias mais eficazes na prá-
incluindo várias modalidades terapêutica e conjugado com edu- tica clínica mostraram que a combinação de terapia
cação ao utente em relação à sua patologia, de modo a recuperar cognitivo-comportamental, educação científica da dor e
a sua funcionalidade através de uma reabilitação adequada. exposição graduada ao exercício poderiam ser as aborda-
gens mais promissoras na prática clínica para pacientes
Guidelines: com DLC.

1. Incentive a perda de peso. O excesso de peso e o índice de massa corporal Ÿ 30 (marcador de obesi- Não existe uma única estratégia que seja eficaz para
dade) causam estresse adicional aos músculos do quadril.
todos os pacientes com dor lombar crônica, a escolha da
2. Tome antiinflamatórios não esteróides (AINEs) ou paracetamol para alívio da dor.
estratégia deve ser individualizada e baseada nas neces-
3. Envolva-se em fisioterapia direcionada com ênfase no treinamento de força do abdutor do quadril.
O fortalecimento do quadril está diretamente ligado à melhora dos sintomas. sidades e preferências do paciente. As estratégias comu-
4. Apoie a modificação da carga para reduzir as cargas compressivas nos tendões glúteos. nicativas e educativas são eficazes na redução da DLC e
5. Otimize a biomecânica (incluindo a biomecânica alterada do pé) estando ciente dos movimentos
na melhoria da qualidade de vida desses utentes, pois
anormais produzidos pelas forças internas e externas do corpo e reagindo para neutralizá-los. incentivaram a participação ativa dos mesmos no pro-
6. Evite atividades que provoquem alongamento prolongado dos abdutores do quadril. Isso inclui cesso de decisão e escolha terapêutica.
evitar sustentação de peso em um quadril, sentar com as pernas cruzadas e dormir de lado com o
joelho superior flexionado e tocando a cama.12

7. Terapias adjuvantes incluem ultrassom terapêutico (isto é, terapia por ondas de choque)26 e trata-
mentos terapêuticos a laser para promover a cicatrização. Injeções de corticosteróides (CSIs) podem
ser eficazes em casos recalcitrantes.

8. Exercicio, gerenciamento de carga e fisioterapia.27 Exercicio e gerenciamento de carga são a base


do gerenciamento eficaz da tendinopatia.5 A fisioterapia é específica para cada paciente e, durante os
estagios iniciais concentra-se na força e no controle dos glúteos. À medida que o controle do quadril
melhora, o fortalecimento muscular visa os abdutores do quadril.15.19 Para reduzir as cargas compres-
sivas nos tendões glúteos, posições de abdução excessiva do quadrill (como cruzar as pernas e exer-
cícios de alongamento da banda iliotibial) devem ser evitadas e à noite os pacientes podem dormir
com 1 ou 2 travesseiros entre as pernas.19 CSIs fornecem analgesia precoce eficaz de curto prazo em
70% a 75% dos casos.19 Aos 12 meses os ensaios clínicos não mostram diferença no resultado de uma
abordanem de observacão e espera 13–15, 19, 28. Quando risado um CSI deve fornecer uma janela
analgésica na qual o paciente pode se envolver totalmente com um programa de reabilitação eficaz
envolvendo fisioterapia direcionada, modificação de carga e controle postural.19

9. Conscientização e manejo da disfunção biomecânica dos pés, incluindo arcos caídos, pronação
excessiva ou supinação. Fraqueza nos músculos do quadril ou joelho, ou rigidez em algumas das
articulações ou músculos do membro inferior, podem alterar a maneira como uma pessoa caminha
ou corre.12.27

Fonte: Lespasio M. J. (2022). Lateral Hip Pain: Relation to Greater Trochanteric Pain Syndrome. The Perma-
nente journal, 26(2), 83–88. https://doi.org/10.7812/TPP/21.110

revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 15


Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/lateral-hip-pain-relation-greater-trochanteric-pain-syndrome/

Additional manual Gray literature – Eloctronic darabases (N=2458)


reseurch, full-texts SIGI.F. database Pubmed =285, Embuse =226,
references selected (N=02) CINAHL=234, PEDro =216,
Identification

for screening and 18 Health & Medical Collection


systematic reviews + Health Management
(N=101) Database + Education (Pro-
Quest) =293, Google Scholar
=79. The Cochrane Library
=116, Wiley Online Library
=122, BIOMED Central=338.
ScienceDirect=120, Wch ot
Science=267, Trip Database=8.
Removed 99 after Removed 62 arti- PsycINFO =31
screening by title, cles after titles
Screening

abstract e full-text and abstracts


main reason screening
Removed 577
duplicates
N=1881
Removed 1609
after titles
screening
N=272

Removed 130
Eligibility

after abstracts
screening Fonte: Sluka, K. A., Frey-Law, L., & Hoeger Bement, M. (2018). Exercise-induced pain and anal-
gesia? Underlying mechanisms and clinical translation. Pain, 159 Suppl 1(Suppl 1), S91–S97.
https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000001235
N=142

Os mecanismos subjacentes, incluindo liberação endó-


Removed 117 by reading full-texts. Main reasons gena de opioides, regulação do sistema nervoso central
for exclusion e alteração da sensibilidade à dor foram descritos como
- Inclusion criteria (main reason);
os fatores positivos da prática do exercício físico regular
Inclusion

- Non-RCT study designs


e destacou a relevância clínica da DOIE como uma estra-
- Type of intervention;
- Type of outcome measures:
tégia terapêutica promissora para o alívio da dor crônica.
- Absence of statistical analysis. 6 full-texts sent
27 full-texts (24 RCT's) to the third reviewer: 4 excluded; 2 included
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fonte: Barbari, V., Storari, L., Ciuro, A., & Testa, M. (2020). Effectiveness of communicative and educative
strategies in chronic low back pain patients: A systematic review. Patient education and counseling, 103(5),
908–929. https://doi.org/10.1016/j.pec.2019.11.031
Os resultados deste artigo apontaram diferença entre
o grupo que praticava exercício e o grupo que não pra-
ticava, onde o grupo “sedentário” além de ter diversas
CONSIDERAÇÕES FINAIS doenças associadas, mentais e físicas, também apre-
Através deste estudo, podemos perceber que uma prática clínica sentavam uma menor tolerância à dor. Por outro lado, o
baseada na evidência com a combinação de terapia cognitivo- grupo de pessoas que praticam exercício regular, além de
-comportamental, educação científica da dor e exposição gra- terem uma pequena relação com doenças mentais e físi-
duada ao exercício proporciona maior qualidade de vida e melhor cas apresentavam uma maior tolerância à dor.
prognóstico em utentes com DLC.
Referência

Referência Sluka, K. A., Frey-Law, L., & Hoeger Bement, M. (2018). Exercise-induced pain and analgesia?
Underlying mechanisms and clinical translation. Pain, 159 Suppl 1(Suppl 1), S91–S97. https://
Barbari, V., Storari, L., Ciuro, A., & Testa, M. (2020). Effectiveness of communicative and educative stra- doi.org/10.1097/j.pain.0000000000001235
tegies in chronic low back pain patients: A systematic review. Patient education and counseling, 103(5),
908–929. https://doi.org/10.1016/j.pec.2019.11.031

Artigo apresentado

Exercise-induced pain and analgesia? Underlying mechanisms


and clinical translation

RESUMO
Este artigo aborda o fenômeno conhecido como “dor e analge-
sia induzida pelo exercício” (DOIE). Ele é descrito pela redução
da perceção da dor durante ou após o exercício físico. O objetivo
principal foi investigar os mecanismos subjacentes que contri-
buem para o DOIE e sua relevância para a prática clínica.

CARO FISIOTERAPEUTA
OS SEUS ARTIGOS PODEM
FAZER PARTE DA RFD
VEJA COMO O PODE FAZER
revfisiodesp.pt/sobre/#np

16 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt


revfisiodesp.pt/efeito-alongamento-prevenção-lesão Revista de Fisioterapia Desportiva

REVISÃO DA LITERATURA
O EFEITO DO ALONGAMENTO NA PREVENÇÃO DE LESÃO
Filipa Antunes
Fisioterapeuta – Fisiotorres

INTRODUÇÃO FISIOLOGIA DO ALONGAMENTO


Ao longo da minha prática clínica ligada ao desporto, tenho O alongamento traduz-se pela diminuição direta da ten-
encontrado uma constante controvérsia sobre a inclusão dos são muscular através das mudanças viscoelásticas vindas
alongamentos nos planos e programas de treino dos atletas, da redução das pontes cruzadas entre actina e miosina. A
assim como a sua eficácia na melhoria da performance despor- tensão muscular diminuída permite assim um aumento
tiva e consequente, na prevenção de lesão. da amplitude articular.4

É nesse intuito que pretendo apresentar uma revisão da litera- O arco reflexo na musculatura esquelética constitui um
tura sobre a importância do aquecimento e alongamento mus- importante mecanismo de ajuste do nível de contração
cular na prática desportiva, destacando os seus principais efeitos muscular a ser realizado, uma vez que mantém o sistema
fisiológicos e benefícios em atletas profissionais ou amadores, nervoso central (SNC) constantemente informado sobre
bem como a sua prescrição e aplicação pelos profissionais de o estado de estiramento e tensão, no qual os recetores
desporto e de saúde.1 periféricos envolvidos são, respetivamente, os fusos mus-
culares e os órgãos tendinosos de Golgi (OTGs).4
O alongamento é definido como a aplicação de uma força a uma
estrutura músculo-tendinosa de forma a obter uma mudança no O fuso muscular é responsável por detetar um alonga-
seu comprimento, normalmente com a finalidade de aumentar a mento muscular vigoroso através das terminações senso-
amplitude de movimento articular ou reduzir a rigidez muscular, riais situadas na sua região mais central. Esta informação
num momento de preparação para a atividade e retorno à calma, chega ao SNC através do aumento de impulsos nervosos
respetivamente.2,3 por via aferente.4

Assim, faz sentido realizar uma análise critica afim de perceber Como resposta a este estímulo, o neurónio motor alfa ini-
se é relevante integrar alongamentos no treino do atleta, seja este cia a contração da musculatura agonista ao movimento
de competição ou amador. e a inibição da musculatura antagonista. A este meca-
nismo de ação por feedback dá-se o nome de reflexo de
Comecemos por perceber a verdadeira definição de alongamento,
estiramento.4
identificar os vários tipos que existem e retirar a sua importân-
cia/beneficio na performance do atleta. O OTG tem as suas fibras dispostas em série com as fibras
musculares junto aos tendões, esta proximidade permite,
INTRODUCTION sempre que houver um aumento de tensão no músculo
excessivo ou repentino, a comunicação ao SNC. A res-
Throughout my clinical practice related to sports, I have founded a cons- posta produzida, entretanto, irá se contrapor à obtida
tant controversy about the inclusion of stretching in athletes’ training com a sensibilização do fuso, inibindo a contração da
plans and programs, as well as their effectiveness in improving sports musculatura agonista e estimulando a contração dos
performance and, consequently, in preventing injury. antagonistas ao movimento. A esse mecanismo dá-se o
nome de reflexo tendinoso.4
It is for this purpose that I intend to present a literature review on the
importance of warm-up and muscle stretching in sports, highlighting
its main physiological effects and benefits in professional or amateur O TENDÃO
athletes, as well as its prescription and application by sports and health
É possível destacar duas principais funções dos tendões, a
professionals.1
transmissão de forças tensionais entre músculos e ossos
Stretching is defined as the application of a force to a musculotendinous e o armazenamento e a libertação de energia elástica
structure in order to obtain a change in its length, usually with the aim durante os movimentos articulares.
of increasing joint range of motion or reducing muscle stiffness, in a
moment of preparation for the activity and return to calm, respectively.2,3 Quando ocorre movimento passivo numa articulação, o
tendão é responsável pela maior parte da deformação
Thus, it makes sense to carry out a critical analysis in order to unders- observada no complexo muscular.5
tand whether it is relevant to integrate stretching in the athlete’s trai-
ning, be it competition or amateur. O comportamento mecânico da articulação tem um
papel importante no desempenho das funções do tendão,
sendo diretamente relacionado à viscoelasticidade. A res-
posta mecânica por parte do tendão está dependente do
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS estado de maturação do tecido e da temperatura em que
este se encontra.5
Alongamento, prevenção de lesão, benefício, atleta
Stretching, injury prevention, benefit, athlete Diversos métodos são utilizados para aumentar a tempe-
ratura no tecido muscular e tendão, o que se apresenta
mais eficaz é o exercício ativo. Em geral, a subida da tem-
peratura coadjuva no aumento da distensibilidade dos
tecidos, ampliando o comportamento viscoelástico dos
tendões.5
revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 17
Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/efeito-alongamento-prevenção-lesão

ALONGAMENTO ATIVO/PASSIVO com alongamentos estáticos em comparação com ativi-


dades habituais.13
O alongamento ativo tem como limite a amplitude da articulação
em foco. É realizado pelo próprio atleta sem ajuda de nenhuma Reforçando os dados anteriores, em 2014 uma grande
força externa. Já o alongamento passivo define-se como o alcance revisão de estudos sobre alongamento e prevenção de
da maior amplitude articular possível através de ajuda de força lesões foi levada a cabo. Os autores concluíram que o
externa, seja de uma superfície, de um profissional ou com alongamento não reduziu significativamente as lesões
recurso à gravidade.3,6 (todos os tipos de alongamento foram examinados). Ao
invés, um treino de equilíbrio adaptado reduziu o risco de
ALONGAMENTO ESTÁTICO/ DINÂMICO/ BALÍSTICO lesões em 35%, um aumento de força muscular reduziu o
risco de lesões em quase 70% .14
O alongamento estático consiste na manutenção da posição
de maior amplitude articular por um determinado período de Behm e Chaouachi, referem que um dos fatores a ter em
tempo.3,7 conta neste exercício é a sua durabilidade. Dados apon-
tam para que alongamentos com duração total menor do
O alongamento balístico ou dinâmico implica o movimento do que 30 segundos por músculo ou grupo muscular tendem
segmento entre duas posições extremas opostas, sem um período a não influenciar negativamente o desempenho do atleta,
onde a posição seja mantida.3 Temos ainda que, o alongamento principalmente se este estiver habituado a treinar regu-
balístico baseia-se numa alternância de posições à custa da con- larmente.15
tração muscular mais a energia cinética e potencial do segmento,
onde o movimento não é controlado. Deste modo, cabe aos profissionais e aos atletas ter
especial atenção ao volume do alongamento, uma vez
Por outro lado, o alongamento dinâmico pressupõe uma contra-
que esta variável pode influenciar significativamente o
ção voluntária com um controlo maior do movimento executado
desempenho na atividade que se sucede.16
entre ambas as posições finais.3,7

DURANTE A COMPETIÇÃO
FACILITAÇÃO NEUROMUSCULAR PROPRIOCETIVA (PNF)
Sabendo que epidemiologicamente a grande maioria das
PNF é uma modalidade de alongamento que pressupõe a ativa-
lesões musculares surge na fase excêntrica da contração
ção muscular8, fazendo uso da estimulação propriocetiva afim
muscular e que se devem essencialmente à combinação
de facilitar a contração muscular, reduzir os seus componentes
de desequilíbrios musculares com a presença de fadiga,
reflexos e aumentar a amplitude de movimento.9
não é possível avaliar de que forma o aumento da ampli-
A estratégia de PNF pode ser dividida em passiva ou ativa. tude de movimento possa ajudar na redução do índice de
lesões. 17,18
Passivamente existem as modalidades de contrair-relaxar e sus-
ter-relaxar, onde temos uma contração do músculo que se pre- Aliás, a literatura atual aponta para o facto de potencia-
tende alongar, concêntrica e isométrica respetivamente, seguida rem a lesão devido à redução da integridade articular e efi-
do deslocamento passivo do membro para a posição de maior ciência do movimento, à diminuição de stiffness da unidade
amplitude disponível.10 músculo-tendinosa e da exposição a novas amplitudes e
posições que, sujeitas a carga, poderão expor as estruturas
Na forma ativa, contrair-relaxar com contração do antagonista, inertes a lesão, nomeadamente os ligamentos.17,18
é em tudo semelhante à passiva, mas cuja reposição na maior
amplitude disponível é feita à custa da musculatura mobiliza- Pressupõe-se assim que a fadiga seja a influência mais
dora “antagonista” do músculo alongado.10 comum para a lesão, e é por isso que a maioria das dis-
tensões nos isquiotibiais ocorre no final do tempo de jogo
de futebol e não no início. 17,18
PRÉ-COMPETIÇÃO
Como referem os estudos, a lesão grave mais comum é a
Tem sido prática tradicional realizada pelos atletas durante mui-
ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) do joelho.
tos anos, os alongamentos antes do exercício como forma de
Esta ocorre na mudança de direção/pivot. Se o pé estiver
aquecimento e preparação do organismo para a atividade.
muito longe do corpo, o joelho cede para dentro. Nesta
Contudo, em 1998 e 2000, um estudo onde mais de 1000 recrutas posição, o peso de todo o corpo é colocado sobre o LCA,
militares realizaram alongamento muscular dos membros infe- que ou suporta a força ou não. Segundo Brito et al, este
riores e dos ombros antes do exercício por 12 semanas não mos- mecanismo de lesão está relacionado com falha na téc-
traram redução de lesões de qualquer tipo.11 nica de movimento e não é influenciada pela flexibilidade
do membro inferior.4,17,18
Num estudo realizado em 2007, observou-se que o alongamento
imediatamente antes do exercício (particularmente o alonga- O mesmo verificamos na entorse de tornozelo. Geral-
mento do mesmo grupo muscular por mais de 120 segundos no mente acontece ao mudar de direção ou cair sobre o pé
total) reduz a quantidade máxima de energia que os músculos de outra pessoa. Quando o tornozelo rola (geralmente sob
podem gerar e pode inclusive prejudicar o desempenho atlético.12 o próprio corpo), os ligamentos, e não os músculos, são
lesionados e o alongamento não causa muito impacto
No ano seguinte, uma revisão sistemática levada a cabo por Bosu na flexibilidade do ligamento. De fato, se os músculos ao
et al, avaliou o efeito de um regime de alongamento estático ver- redor do tornozelo tiverem um tônus alto (menos flexibi-
sus rotina usual nas taxas gerais de lesões e entorses/distensões lidade), provavelmente haveria menos probabilidade de
ao longo de 12 semanas a dois anos. Verificou-se que o alon- entorse. 17,18
gamento estático não reduziu a incidência das taxas gerais de
lesões. No entanto, a adição de três alongamentos estáticos dos Assim e tendo em conta estes autores, concluímos que
isquiotibiais à rotina usual de alongamento reduziu a incidência a melhor forma de evitar estas lesões é ter uma boa téc-
de lesões por sobrecarga nos membros inferiores em compara- nica, treinando os movimentos de mudança de direção e
ção com a rotina usual de alongamento sozinha. Foram também preparar os músculos do corpo para uma rápida e eficaz
encontradas reduções significativas nas entorses e distensões ativação quando a articulação estiver em perigo de ceder.
18 Nº16 · Agosto 2023 revfisiodesp.pt
revfisiodesp.pt/efeito-alongamento-prevenção-lesão Revista de Fisioterapia Desportiva

O mais eficaz será realizar um aquecimento neuromuscular de Pope, R. P., Herbert, R. D., Kirwan, J. D., Graham, B. J.. A randomized trial ofpreexercisestret-
ching for preventionoflower-limbinjury. MedSci Sports Exerc. 2000 Feb;32(2):271-7.
boa qualidade.17,18
Rubini, E. C., Costa, A. L. L., Gomes, P. S. C.. The Effects of stretching on strength performance.
Sports Med. 2007;37(3):213-24.

PÓS-COMPETIÇÃO Bosu, O., Doctor, K., Dixon, K.,Smith, L., Waits, J. B.. Stretching for Prevention of Exercise-
-Related Injury. CahabaFamily Medicine Residency, Centreville, Alabama - AmFamPhysi-
cian. 2016;94(7):547
Os pressupostos do alongamento após o exercício prendem-se com
o alívio da fadiga e com a redução da stiffness e da dor muscular.3,19 Lauersen, B. J., Bertelsen, M. D., Andersen, L. B.. Theeffectivenessofexerciseinterventions to
prevent sports injuries: a systematicreviewand meta-analysisofrandomisedcontrolledtrials.
Br J Sports Med. 2014 Jun;48(11):871-7.
Numa revisão sistemática de Herbert et al. em 2011, os autores
referem que “numa primeira análise, os alongamentos parecem Behm, D. G., Chaouachi, A.. A reviewoftheacuteeffectsofstaticanddynamicstretchingon per-
formance. Eur J ApplPhysiol, in press, 2011
ter efeitos muito próximos de zero em relação à fadiga muscu-
Taylor, K. L., Sheppard, J. M., Lee, H., &Plummer, N.. Negative Effect ofstaticstretchingresto-
lar”, sejam eles aplicados antes ou após o exercício.20 redwhencombinedwith a sport specificwarm-upcomponent. Journal of Scienceand Medicine
in Sport, 12(6), 657–661, 2019
Sands et al. consideram que exercícios de alongamento como
Thacker, S., Gilchrist, J., Stroup, D., Kimsey, D.. TheImpactofStretchingon Sports InjuryRisk: A
forma de recuperação não são uma ferramenta que apresente SystematicReviewoftheLiterature. Medicine &Science in Sports &Exercise, pp. 371-378, 2003.

benefícios relativamente a outras já propostas pela litera- Brito, J., Soares, J., Rebelo, A. N.. Prevenção de lesões do ligamento cruzado anterior em fute-
tura como a crioterapia, banhos de contraste, electroestimulação3 bolistas. Rev BrasMedEsporte 15 (1), 2009

e massagem desportiva. Esta última mostrou-se com grandes evi- Noura, J.. Até onde estica o alongamento. Fisioterapia desportiva com evidencia, 2018
dências na melhoria da recuperação do atleta após o treino ou
Herbert, R., de Noronha, M., Kamper, S.. Stretching to preventorreducemusclesorenessafte-
uma competição, promovendo o fluxo sanguíneo, diminuindo a rexercise (Review). Cochrane, pp. 1-47, 2011.
dor muscular percebida e o limiar de dor à pressão.21
Fortes da Costa, J. W.. Métodos de recovery e seus benefícios pós exercício físico em atletas.
Centro universitário unifacvest curso de fisioterapia, Lages 2021

CONCLUSÃO Witvrouw, E., Mahieu, N., Danneels, L., McNair, P..Stretchingandinjuryprevention: na obscu-
rerelationship. Sports Med. 2004;34(7):443-9.

É geralmente aceite que o aumento da flexibilidade de uma uni-


dade músculo-tendinosa promove um melhor desempenho e
diminui o número de lesões. Os exercícios de alongamento são
regularmente incluídos nos exercícios de aquecimento e relaxa-
mento; no entanto, achados contraditórios têm sido relatados
na literatura. Vários autores sugeriram que o alongamento tem
um efeito benéfico na prevenção de lesões. Em contraste, tam-
bém foram relatadas evidências clínicas sugerindo que o alonga-
mento antes do exercício não tem qualquer efeito na prevenção
de lesões. Aparentemente, não existe nenhuma prescrição com NO SITE
base científica para exercícios de alongamento e nenhuma afir-
mação conclusiva pode ser feita sobre a relação entre alonga-
mento e lesões atléticas. 22 PODERÁ ENCONTRAR
Os alongamentos estáticos apresentam-se como uma prática
cada vez mais em desuso, sendo sugeridos outros procedimentos
mais adequados e com maior grau de evidência a implementar
nos vários momentos de contacto com atletas. Por outro lado, os
alongamentos dinâmicos ou PNF, quando bem utilizados e na
medida correta, poderão apresentar-se como uma ferramenta
INSCRIÇÃO NA ORDEM
útil em determinados contextos como o aquecimento. 3,6,7,8,9

Desta forma, compreendemos que o alongamento não atua na


prevenção das lesões mais comuns, contudo não é prejudicial,
portanto se alongar promove uma sensação de bem-estar poderá
manter essa rotina.

Bibliografia

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vities. RevBrasMedEsporte – Vol. 16, No 3 – Mai/Jun, 2010

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revfisiodesp.pt Nº16 · Agosto 2023 19


revfisiodesp.pt/artigos/revisao-bibliografica-alterg-novaphysio/ Revista de Fisioterapia Desportiva

COVID Longa
e reabilitação

Um(a) fisioterapeuta pode


ajudá-lo/a a gerir os seus
níveis de atividade
adequados para a COVID
Longa através do controlo
do ritmo e da monitorização
da frequência cardíaca.

A gestão dos níveis das atividades, ou controlo do ritmo, parece ser uma forma de intervenção segura
e efetiva para gerir a fadiga e a exacerbação dos sintomas pós-esforço (ESPE). A monitorização da
frequência cardíaca pode ser uma intervenção segura e efetiva para gerir a fadiga e a ESPE.
Não deve ser usado um programa de exercício com aumentos graduais (tempo ou intensidade),
particularmente quando há exacerbação dos sintomas pós-esforço.
www.world.physio/wptday
13
Abril 2023 · Nº14
revfisiodesp.pt/artigos/overtraining-syndrome-atletas-sintomatologia-psicofisiologica/ Revista de Fisioterapia Desportiva

Abril 2023 · Nº14 21


Revista de Fisioterapia Desportiva revfisiodesp.pt/artigos/overtraining-syndrome-atletas-sintomatologia-psicofisiologica/

22 Nº14 · Abril 2023

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