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FUNDAMENTOS DA MUSICOTERAPIA

Seja muito bem vindo estudante para mais uma aula! E hoje nosso tema abordará a
Introdução e os fundamentos da Musicoterapia e seus desdobramentos.Sem deixar
de lado sua aplicação em diversas áreas do conhecimento.
Se prepare para iniciar nosso conteúdo!
A função terapêutica da música confirma a sua existência desde os tempos de Davi,
passando pelos filósofos Platão, Aristóteles, pelo Império Romano para o
tratamento de distúrbios mentais, em hospitais árabes por volta do século 9 e no
século 12 na Europa.
Entretanto foi apenas com as Guerras Mundiais que o termo musicoterapia começou
a florescer por meio da aplicação da música para recuperação de militares e a partir
dos quais surgiram os modelos para a musicoterapia, todos eles criados entre as
décadas de 60 e 70.
A Associação Americana de Musicoterapia define o termo como sendo a 'utilização
da música para fins terapêuticos como a restauração, manutenção e melhoria da
saúde mental e física', e suas aplicações se encontram em ambientes clínicos,
educativos e sociais.
Esse e outros assuntos que iremos aprofundar a seguir fique conosco.
Olá estudante, seja bem-vindo a mais uma disciplina, vamos falar sobre a
Introdução e Fundamentos de Musicoterapia. Veremos com profundidade
os aspectos históricos, psicológicos e neurológicos dos efeitos terapêuticos
da música. Entretanto, para que essas propriedades terapêuticas sejam
eficazes é imprescindível que o profissional musicoterapeuta possua
habilidades musicais de performance (tocar um instrumento ou cantar),
conhecer a respeito da teoria musical avançada (análise e composição
musical); entender sobre o funcionamento da mente, do cérebro e também
da fisiologia humana. Envolve estudo continuado e preparação para o
trabalho em clínicas e ambientes hospitalares.
A fundamentação teórica é extremamente importante, porque é dela que
vêm as bases para o exercício da profissão e o controle de suas práticas.
Embora a Musicoterapia no Brasil teve seu início por volta da década de 50,
somente em 2019, houve uma regulamentação da sua prática em hospitais,
clínicas, escolas etc. Confira:
OMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO PROJETO DE LEI Nº 6.379,
DE 2019 Dispõe sobre a regulamentação da atividade profissional de musicoterapeuta. Autora:
Deputada MARÍLIA ARRAES Relator: Deputado PAULO RAMOS I - RELATÓRIO A iniciativa em
epígrafe tem por escopo regulamentar o exercício da profissão de musicoterapeuta. Esgotado
o prazo regimental, não foram recebidas emendas ao projeto. A proposição define o que é um
musicoterapeuta (art. 2°); assim como quem pode exercer a musicoterapia (art. 3°); estabelece
quais as atividades privativas do musicoterapeuta (art. 4°); elenca as competências do
musicoterapeuta (art. 5°); responsabiliza o exercício da profissão quando exercida com dolo ou
culpa (art. 6°), além de impor o cumprimento dos deveres éticos previstos no “Código de Ética,
Orientação e Disciplina”. A Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) já enfrentou o
mérito e aprovou a matéria. É o relatório. II - VOTO DO RELATOR *CD212354078900* Assinado
eletronicamente pelo(a) Dep. Paulo Ramos Para verificar a assinatura, acesse https://infoleg-
autenticidade-assinatura.camara.leg.br/CD212354078900 PRL n.1Apresentação: 09/07/2021
10:34 - CTASP PRL 1 CTASP => PL 6379/2019 2 O exercício profissional da musicoterapia já está
reconhecido nacionalmente, sendo fundamental em equipes multidisciplinares voltadas, em
especial, ao tratamento da saúde física e mental das pessoas. A Classificação Brasileira de
Ocupação - CBO1 , assim estabelece: 2263-05 - Musicoterapeuta Descrição Sumária Realizam
atendimento terapêutico em pacientes, clientes e praticantes utilizando programas, métodos e
técnicas específicas de arteterapia, musicoterapia, equoterapia e naturologia. Atuam na
orientação de pacientes, interagentes, clientes, praticantes, familiares e cuidadores.
Desenvolvem programas de prevenção, promoção de saúde e qualidade de vida. Exercem
atividades técnico-científicas através da realização de pesquisas, trabalhos específicos,
organização e participação em eventos científicos. (negrito acrescentado) A Federação
Mundial de Musicoterapia assim define o que se deva compreender por musicoterapia: A
utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um
musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar e
promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e
outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas,
emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais
e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor
integração intra e/ou interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida, pela
prevenção, reabilitação ou tratamento. (Revista Brasileira de Musicoterapia, p. 4, 1996)
(negritos acrescentados) Como se pode observar da definição acima, o exercício da profissão
de musicoterapeuta não pode ser exercido sem a devida qualificação. Por esse motivo, o
projeto, no seu art. 3°, exige que o musicoterapeuta seja portador de diploma de curso de
graduação em Musicoterapia ou portador de certificado de curso de pós-graduação lato sensu
em Musicoterapia. O musicoterapeuta foi reconhecido como trabalhador do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), conforme a Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social
(CNAS) nº 17/20112 : 1 Disponível em: . Acesso em 8 jul. 2021. 2 Disponível em:
http://www.assistenciasocial.al.gov.br/gestao-do-trabalho/RESOLUCaO%20CNAS
%20No%2017%2020%20de%20junho%202011%20Nivel%20Superior%20do%20Suas.doc/view.
Acesso em 8 jul. 2021. *CD212354078900* Assinado eletronicamente pelo(a) Dep. Paulo
Ramos Para verificar a assinatura, acesse https://infoleg-autenticidade-
assinatura.camara.leg.br/CD212354078900 PRL n.1Apresentação: 09/07/2021 10:34 - CTASP
PRL 1 CTASP => PL 6379/2019 3 Art. 2º Em atendimento às requisições específicas dos serviços
socioassistenciais, as categorias profissionais de nível superior reconhecidas por esta
Resolução poderão integrar as equipes de referência, observando as exigências do art. 1º
desta Resolução. ................................................................................................................ §3º
São categorias profissionais de nível superior que, preferencialmente, poderão atender as
especificidades dos serviços socioassistenciais: Antropólogo; Economista Doméstico;
Sociólogo; Terapeuta ocupacional; e Musicoterapeuta. (negritos acrescentados) Como
esclarece a autora do projeto, a Deputada Marília Arraes, existem “evidências científicas sobre
a eficácia da musicoterapia, especialmente para o tratamento de pessoas com autismo,
crianças com deficiência, pessoas que sofreram acidente vascular cerebral ou outras lesões
encefálicas, hipertensos, pessoas com transtornos mentais e idosos com mal Alzheimer ou
com outras demências”. Em defesa da regulamentação, a Parlamentar assevera que
“pesquisas demonstram que o uso inapropriado da música pode gerar danos psicológicos,
físicos, fisiológicos e relacionais. Por isso é importante assegurar que o tratamento seja
realizado por profissional que tenha qualificação adequada”. De fato, a musicoterapia é
fundamental e otimiza a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas, máxime quando elas se
encontram em ambientes hospitalares, como demonstra pesquisa elaborada por Louise
Ferreira Campos e Maria Vilela Nakasu3 : Os resultados encontrados pela presente pesquisa
sugerem que a música pode ter um papel real na diminuição do nível de ansiedade e na
regulação de mecanismos fisiológicos do organismo humano, em especial na variável pressão
arterial, frequência cardíaca e respiratória. Estes dados confirmam o potencial terapêutico da
música como instrumento capaz de promover mudanças físicas e psicológicas, e sugerem a
atualidade e pertinência do tema para uso no tratamento e promoção de saúde no contexto
hospitalar. Se comparados aos achados da literatura disponíveis sobre a temática, os
resultados deste estudo apontam ainda para a seguinte reflexão: uma vez que prevalecem
estudos que abordam a influência direta da música no estado de ansiedade e tensão da
população no ambiente hospitalar, além de sua ação em parâmetros fisiológicos, 3 Disponível
em: < https://www.publionline.iar.unicamp.br/index.php/sonora/article/viewFile/686/659>.
Acesso em 8 jul. 2021. *CD212354078900* Assinado eletronicamente pelo(a) Dep. Paulo
Ramos Para verificar a assinatura, acesse https://infoleg-autenticidade-
assinatura.camara.leg.br/CD212354078900 PRL n.1Apresentação: 09/07/2021 10:34 - CTASP
PRL 1 CTASP => PL 6379/2019 4 torna-se relevante a condução de pesquisas que possam
diversificar e ampliar os instrumentos selecionados para a averiguação das variáveis clínicas;
nota-se, por exemplo, exaustiva aplicação do Inventário Traço-Estado em Ansiedade ou Escala
de ansiedade de Beck. Há igualmente uma tendência marcante orientada para metodologias
cientificas tradicionais de averiguação dos efeitos da música, de aspecto quantitativo, em
detrimento de métodos qualitativos, além de prevalência de publicações cujo público-alvo são
os pacientes, e não a equipe propriamente dita de saúde ou familiares e acompanhantes.
Finalmente, neste campo de pesquisa, uma vez que a música fala diretamente ao sistema
límbico, responsável pelas emoções, pela motivação e afetividade, torna-se relevante
estimular a publicação de trabalhos que considerem o caráter processual das reflexões e o
significado subjetivos das experiências, comumente orientadas pela metodologia de
orientação qualitativa. No Hospital Sírio Libanês, “a musicoterapia integra o Núcleo de
Cuidados Integrativos com a proposta de oferecer um atendimento cada vez mais humanizado
para pacientes, familiares, cuidadores e colaboradores”4 . Ante o exposto, somos pela
aprovação do Projeto de Lei n° 6.379 de 2019, dele destacando seus conteúdos jurídicos e
sociais. Sala da Comissão, em de de 2021. Deputado PAULO RAMOS

A literatura sobre a função terapêutica da música confirma a sua existência


desde os tempos de Davi, passando pelos filósofos Platão, Aristóteles, pelo
Império Romano para tratamento de distúrbios mentais, em hospitais
árabes por volta do século IX, no século XII (Europa), no tratamento da
depressão(melancolia), e ainda no século XVIII a ênfase sobre a música e
os nervos.
Entretanto foi apenas com as Guerras Mundiais que o termo musicoterapia
começou a florescer por meio da aplicação da música para recuperação de
militares e a partir dos quais surgiram o modelos para a musicoterapia
todos eles criados entre as décadas de 60 e 70: modelo analítico, modelo
de improvisação criativa, modelo de imagens guiadas, modelo Benenzon
(psicanálise) e modelo Behaviorista).
As definições do conceito de musicoterapia podem ser divididas entre o
conceito científico e terapêutico. O primeiro busca elementos de
diagnóstico, pesquisa e métodos a respeito da aplicação do som (musical
ou não) para fins terapêuticos. O segundo, se utiliza da música para a
recuperação do paciente na sociedade.
A Associação Americana de Musicoterapia define a musicoterapia como
sendo a "utilização da música para fins terapêuticos como a restauração,
manutenção e melhora da saúde mental e física", e suas aplicações se
encontram em ambientes clínicos, educativos e sociais.
A seguir vamos conhecer os principais fundamentos da musicoterapia.
A música é parte integrante de todas as culturas, desde os primórdios até os nossos
dias, é notório o crescimento de pesquisas que ligam a música a áreas da medicina,
o que antes tinha um apelo mais artístico, cada vez mais tem contribuído para
questões clínicas, levando em consideração os estímulos que são provocados pela
música e captados pelo cérebro e são transformados em respostas que promovem o
bem-estar dos indivíduos.

Assim, as alterações fisiológicas da estimulação sonora podem refletir-


se nas mudanças dos padrões, no reflexo de orientação,
na variabilidade das respostas fisiológicas envolvidas em
processos de atenção e expectativa musicais ou na mudança
de frequência, topografia e amplitude dos ritmos elétricos
cerebrais (CAMPOS; CORREIA; MUSZKAT, 2000, p. 71).

Qual a principal base para a fundamentação clínica da musicoterapia?


Resposta Esperada
A neurociência é a base para a fundamentação clínica da musicoterapia. Através da
neurociência pôde-se desenvolver métodos de investigação e técnicas de aplicação
para neuromusicoterapia.

Descrição da imagem: há a ilustração de um homem tocando violão, uma


mulher fazendo yoga, outra dançando e uma última se alongando.
Texto do infográfico:
Título - Benefícios da Musicoterapia para a saúde
Desenvolve a memória
Combate o estresse e a depressão
Contribui para o alívio da dor
Diminui a ansiedade
Fonte: Revista ABM
O conceito de terapia musical pode ser dividido entre o científico e o terapêutico. A
primeira busca elementos de diagnóstico, pesquisa e métodos a respeito da
aplicação do som musical ou não para fins terapêuticos. O segundo, se utiliza da
música para a recuperação do paciente na sociedade.. Os grandes pensadores da
Grécia, os primeiros filósofos, já compreendiam as potencialidades musicais no
tratamento de diferentes enfermidades.
A Melodia pode ser usada em diversos ambientes como por
exemplo:clínico,educacional e social.
No âmbito da musicoterapia clínica, parece que a maioria das pesquisas realizadas
são no intuito de fundamentar a utilização da mesma em ambientes clínicos. Mais
ainda, fornecer meios, técnicas e resultados esperados na aplicação de determinados
métodos.
A seguir,aprofundaremos nos tópicos acima e suas implicações.
Nesse campo, a neurociência é a principal base para a fundamentação clínica do
som. A partir da neurociência pôde-se desenvolver métodos de investigação e
técnicas de aplicação para a neuromusicoterapia.
O musicoterapeuta, nome designado para o profissional da área,deve ter o
entendimento de que a análise é um ponto de articulação entre o paciente e o
profissional, de forma que a musicalidade em ação parece ser um caminho para se
compreender a música como uma forma essencial do comportamento humano.
Ainda sobre a perspectiva clínica, outro fator importante é a audição. O ouvir tanto
do profissional da área quanto do paciente de forma que a escuta se faz do diálogo
entre o melódico e o clínico, o audível e o inaudível, e considera a escuta do
paciente como expressão da sua interioridade.
Temos, portanto, evidências que seu uso, auxilia na prevenção de doenças em
grande escala. Além de ser uma terapêutica que possibilita a reabilitação, também é
essencial para a manutenção do estado de saúde.
No âmbito educacional, a musicoterapia pode atuar em diversos níveis e é mais
usada no âmbito da educação especial. Contudo, no Brasil, é crescente a
necessidade de ter um professor de música. O educador musical e o
musicoterapeuta, embora possuam objetivos distintos, há a necessidade de interação
com o aluno de acordo com suas necessidades internas e levar em consideração a
energia musical.
Podemos destacar sua abrangência no contexto escolar no sentido de foco e
atenção, estimulando e usando várias áreas do cérebro simultaneamente, oferece um
contexto divertido e significativo para a repetição, proporciona um contexto social
com segurança, estrutura o espaço no qual a comunicação verbal se estabelece e,
principalmente, a comunicação não verbal,ajuda a memória e estimula o
movimento.
A música é sem dúvida eficaz para suporte de indivíduos em situação de
vulnerabilidade social. Muitas organizações utilizam da mesma para promover o
bem-estar social, a inclusão, a autoestima e a manifestação política.
Em se tratando de musicoterapia, há uma diferença em sua conceituação que
abrange Musicoterapia Social e Musicoterapia Comunitária. Sendo
que,Musicoterapia Social é uma denominação que se encontra com mais frequência
na literatura brasileira e que tem seu foco no modo como 'as pessoas estabelecem,
experimentam e expressam a vida, apesar de suas condições existenciais pessoais,
sociais e culturais.
Portanto a musicoterapia pode não necessitar de música instrumentalizada ou
gravada. O ser humano, tendo em conta as suas próprias capacidades físicas, pode
produzir música. A voz é o instrumento que, mais ou menos afinado, em cada um,
existe, e pode ser utilizado de forma fácil e gratuita. “integrar a música à terapia é
integrar o corpo, porque a música é feita, dita, tocada e cantada como manifestação
corporal.”
Conforme o conteúdo exposto, a musicoterapia é interpretada como prática curativa
com o foco na capacidade reabilitadora, embora haja alguns desafios para que seja
incrementada em sala de aula e em outros ambientes de forma efetiva.
E assim fechamos mais esse conteúdo. Todas as referências abordadas encontram -
se em seu material de estudos. Até a próxima!

É comum ocorrer confusão entre a distinção entre fundamento da musicoterapia e


teoria da musicoterapia. De acordo com o Dicionário Online de
Português, fundamento é uma reunião de conhecimentos que sustenta uma teoria. Já
a teoria é um conjunto de regras, de leis sistematicamente organizadas, que servem
de base a uma ciência, essas regras.
Vimos que foram os vários campos do conhecimento que fundamentam as bases
teóricas da musicoterapia, quais sejam, histórico, musicais, filosóficos,
psicológicos, médicos.
Rosemyriam Cunha em seu artigo Conceituação em musicoterapia. Temos
conceitos universais? Expõe a problemática entre a relação teoria e prática da
musicoterapia, pelo fato de que a teoria é basicamente uma investigação prática.
Dentro desse contexto uma fundamentação teórica é de suma importância para a
consistência de uma prática, e que a fundamentação da musicoterapia ocorre
essencialmente por meio de sua prática:

A partir dessa estruturação prática, que nos parece compartilhada no


campo, temos desenvolvido relatos de estudos e pesquisas com a
finalidade de legitimar técnicas e saberes. Porém, nossas narrativas
muitas vezes se tornam pouco claras e objetivas devido ao excesso de
explicações que poderiam ser evitadas caso um conjunto conceitual
fundante ao campo já estivesse desenvolvido. (Cunha, R. 2018)

Dessa forma os fundamentos da musicoterapia ocorrem de maneira diversa ao se


verificar a sua natureza múltipla:
referências teóricas oriundas de diferentes disciplinas como a
psicanálise, as psicologias, as ciências sociais, as teorias musicais, a
filosofia, a medicina, entre outras... estes atravessamentos e
importações teóricas são fundantes do nosso campo e em nada
subtraem a especificidade do mesmo
(NEGREIROS, 2003).

Dentro desse escopo teórico-prático próprio da musicoterapia a autora procura


então estabelecer um fundamento mais específico que corrobore para o
desenvolvimento teórico da prática, dentre as principais temos:
A musicoterapia atua no campo da saúde;
Possui interlocuções com a neurociência;
A música é o seu código específico.

Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a construção teórica do campo da musicoterapia.
Trata-se da continuidade da discussão iniciada no Fórum Paranaense de 2017. Com o objetivo
de instigar a formação de parâmetros que identifiquem a prática da musicoterapia brasileira
nas suas singularidades, foram articuladas ideias obtidas tanto em diálogo com profissionais da
área como em consulta a publicações do campo da musicoterapia e da música. O pensamento
teórico comum, fundante das práxis realizadas no país, parece se apoiar em uma perspectiva
própria ao campo, da abordagem e utilização música. A proposta aqui apresentada foge às
tentativas de generalização, mas defende que um panorama teórico de base pode fortalecer
nosso campo de saber. Palavras Chave: Musicoterapia. Epistemologia. Teoria. Introdução O
arcabouço teórico que fundamenta práticas e estudos do campo da musicoterapia brasileira
tem se mostrado flexível devido às diferentes visões epistemológicas adotadas pelos autores.
Como as áreas de atuação são diversificadas e até em uma mesma área a perspectiva
conceitual pode variar de autor para autor, conceitos atribuídos a um mesmo objeto são
diferenciados sem que percam validade e confiabilidade. Tomemos como exemplo a idéia de
música. Apesar do consenso de que acatamos, nas interações, tanto sonoridades estruturadas
de maneira formal como as não formal, ainda não temos um fundamento partilhado, de
aceitação tácita na comunidade, que defina o objeto música em musicoterapia. “A música,
núcleo do setting musicoterápico, centro de 16 Professora da UNESPAR- Campus de Curitiba II
26 Anais do XIX Fórum Paranaense de Musicoterapia e III Seminário Paranaense de Pesquisa
em Musicoterapia n° 19 / 2018 toda experiência musicoterápica, ferramenta do nosso labor, é
plural, como nossa clínica é plural...” assinalou Martha Negreiros (2003).17 Essa pluralidade
pode ser entendida a partir das ideias de Camargo Jr. (2013) que percebe a
interdisciplinaridade ou a hibridade (CHAGAS, 2008) como uma característica da construção
teórica musicoterapêutica, e uma das razões que dificultam a composição de pressupostos
teóricos compartilhados. Em saberes assim constituídos, disse o autor, a lógica de noções
essenciais comuns talvez nunca se aplique, pois “há necessidade constante de explicitação da
filiação teórica adotada em determinada pesquisa” (CAMARGO Jr., 2013, p.136). Embora o
pluralismo teórico (MAFFESOLI, 2014) seja uma condição para a aproximação de diversos
saberes ao campo musicoterapêutico, há demanda por bases conceituais que iluminem as
interpretações, que levem a metodologias e resultados de estudos, que faciliteam as
discussões e construções explicativas. São elas que oferecem fundamentos para o
entendimento de realidades. O nosso campo demanda por fundamentações que o
particularize entre os tantos outros que fazem uso da música como recurso de mediação. Essa
razão nos leva a crer que a presente reflexão, embora exploratória, se faz oportuna. O
hibridismo que nos habita leva a uma diversidade de interpretações que traduzem um mesmo
fato e se distancia de explicações lineares. Nessa perspectiva, a presente reflexão pretende
convidar a comunidade de musicoterapeutas a considerar a construção de um pensamento
compartilhado a respeito de objetos comuns ao campo. Este trabalho, como continuidade da
reflexão apresentada no fórum do ano passado, volta a discutir a busca de constructos
teóricos básicos que identifiquem a singularidade de nossa área de ação. Para a estruturação
do texto, contamos com teóricos da musicoterapia e da música. A ênfase da discussão, porém,
recaiu sobre 17 Trabalho apresentado no XI Congresso Brasileiro de Musicoterapia. Natal-RN –
Novembro, 2003 27 Anais do XIX Fórum Paranaense de Musicoterapia e III Seminário
Paranaense de Pesquisa em Musicoterapia n° 19 / 2018 ideias e conceitos da musicoterapeuta
Martha Negreiros18 , que nos foram apresentados em sua produção literária e em conversas
informais sobre o tema. Discussão Há disciplinas que estruturam seus fundamentos
norteadores em conceitos tidos como universais. A biologia, por exemplo, postula que o
código genético é universal, pois em todos os organismos existentes, ele funciona da mesma
maneira, quer seja em bactérias, vegetais ou animais (sobiologia.com.br). A sociologia também
considera categorias universais aquelas que abrangem a vida social e cultural de indivíduos de
uma determinada sociedade. Entre estas estão as ideias-elementos essenciais da sociologia,
que a distinguem de outras ciências sociais: comunidade, autoridade, status, sagrado e
alienação (NISBET, s/data). A noção de “universal” foi formulada na antiguidade por Platão
com referência a um conjunto de elementos com as mesmas características, ou seja, uma
categoria, espécie ou tipo. Há discussão entre correntes filosóficas a respeito da existência ou
não de universais, porém todas concordam que o pensamento humano se organiza em termos
de propriedades universais. Entende-se que as particularidades que se assemelham partilham
algo em comum e assim nos ajudam a interpretar suas propriedades. O conceito 'universal'
está ligado ao conceito de 'verdade', ou seja, um universal significa que uma verdade é
verdade em qualquer tempo e em qualquer lugar. Por exemplo, um triângulo é uma figura de
três lados 18 Coordenadora do Setor de Musicoterapia da Maternidade-Escola UFRJ;
Professora dos Cursos de Especilização do Conservatório Brasileiro de Música-RJ e da
Faculdade Regional de Filosofia, Ciências e Letras de Canderias-FAC Bahia; membro do coletivo
MT GERONTO RJ, musicoterapeuta clínica. 28 Anais do XIX Fórum Paranaense de
Musicoterapia e III Seminário Paranaense de Pesquisa em Musicoterapia n° 19 / 2018 em
qualquer parte do mundo. Ele pode variar de cor, tamanho e formato, mas sua essência, aquilo
que o define como triângulo, não se altera (PHILOSOPHY.PRO). De maneira geral, no que se
refere ao campo da musicoterapia, as questões que suscitam a teorização em pesquisas e
reflexões, são provenientes da prática. São as lacunas de conhecimento sobre os fatos
vivenciados nas interações musicais que geram questionamentos, instigam a busca por
respostas. A pesquisa acontece então como uma opção para fortalecer o repertório de saberes
que explicam nossos posicionamentos práticos/teóricos. Entendemos aqui a pesquisa como
uma aproximação à realidade, que deve ser confiável por ser coerente e fundamentada, mas
sempre passível de revisão ou questionamento (FREIRE, 2010). Isto implica na necessidade da
adoção de uma base epistemológica coerente, um enfoque conceitual e filosófico que reflita a
visão do autor a respeito do fenômeno ou tema em análise. Negreiros (2003, s/p) se referiu a
esse assunto e alertou que “a praxis sem teoria é vazia, não tem direção. É a teoria que ilumina
a praxis. Teoria e praxis se retroalimentam ...” Consideramos que um referencial teórico é um
conjunto de ideias essenciais sobre o qual um estudo de constrói. Ele é formado por noções
científicas que sustentam uma exposição teórica e permitem a interpretação das idéias
apresentadas (FREIRE, 2010). Como fio condutor de argumentos que transversalizam uma
reflexão, um referencial teórico sustenta capacidade argumentativa do texto, a possibilidade
deste resistir à contra-argumentação, de merecer o respeito de opiniões contrárias. Essa força
teórica é chamada de consistência. Freire (2010) considerou que um autor lança mão de ideais
de outros autores (inclusive de áreas distintas) e de conceitos fundamentais de seu campo
para construir sua argumentação e defender a perspectiva que adota no seu trabalho. As
ciências sociais inauguraram a relativização dos conceitos, ou seja, a não generalização, a
consideração de situações específicas que dizem respeito ao momento histórico e
sociocultural em que determinada narrativa é realizada. Sabese, porém, que a ciência carece
de uma mínima permanência para se constituir, 29 Anais do XIX Fórum Paranaense de
Musicoterapia e III Seminário Paranaense de Pesquisa em Musicoterapia n° 19 / 2018 mesmo
quando dá lugar a conceituações mais dinâmicas e híbridas. Baseada nessa ideia, Freire (2010)
concluiu que a conceituação flexível não anula a necessidade da fundamentação teórica, da
explicação da perspectiva pela qual o autor percebe o fenômeno em sua exposição. A
interdisciplinaridade sustenta essa dinâmica que abre possibilidades de se pensar os fatos sob
óticas múltiplas, diversificadas. Interdisciplinaridade implica, então, na interação de campos de
conhecimento com a ampliação, relativização de limites e não na descaracterização dos
mesmos (FREIRE, 2010). Conforme o ambiente onde as narrativas teóricas acontecem, o
conteúdo se torna um habitus profissional comum a uma comunidade específica (MARCHIORI,
2014, p.19). Essa comunicação dá origem a “quem somos”, uma identificação que se institui e
reinstitui nas conversações de um determinado grupo cuja comunicação interpenetra a
cultura. Percebemos, na apresentação de Negreiros (2003), em mesa redonda no XI Congresso
Brasileiro de Musicoterapia, ressonâncias com a proposião de Marchiori. Na ocasião, a
musicoterapeuta falou da necessidade do estabelecimento de “campos problemáticos em
comum” e ressaltou que “nas dobras da clínica bordeja uma incontornável dimensão
éticopolítica. Neste momento que a musicoterapia brasileira se encontra, me parece
pertinente uma discussão mais aprofundada sobre esta dimensão da clínica”... (s/p).
Comunalidades O pensamento da comunidade musicoterapêutica brasileira, no que se refere à
prática e teoria do campo, parecem ser pontos em comum os aspectos relacionados a seguir:
1) a prática da musicoterapia e suas ressonâncias sobre a saúde humana ocorrem em um
espaço musical que resulta da ação do participante, do musicoterapeuta e das sonoridades
produzidas nesse ambiente; 2) são aplicados procedimentos específicos, baseados em técnicas
que utilizam o som, a estrutura musical e seus parâmetros; 3) os objetivos da interação se
voltam para reabilitar, estimular, fortalecer e ampliar a capacidade das pessoas de agir e existir
30 Anais do XIX Fórum Paranaense de Musicoterapia e III Seminário Paranaense de Pesquisa
em Musicoterapia n° 19 / 2018 no meio que em que vivem (RUUD, 1998); 4) são experiências
musicais de base para a prática a recriação, a improvisação, a composição e a audição; 5) a
leitura e significação dessas experiências se baseiam no vivido, nos sinais que resultam das
relações entre participante, música e musicoterapeuta no momento da experiência. A partir
dessa estruturação prática, que nos parece compartilhada no campo, temos desenvolvido
relatos de estudos e pesquisas com a finalidade de legitimar técnicas e saberes. Porém, nossas
narrativas muitas vezes se tornam pouco claras e objetivas devido ao excesso de explicações
que poderiam ser evitadas caso um conjunto conceitual fundante ao campo já estivesse
desenvolvido. Ruud (2017) ao escrever sobre o futuro teórico da musicoterapia, reafirmou a
diversidade conceitual como uma carcteristica marcante da nossa área devido ao hibridismo
que habitamos. Nesse sentido, o ponto de vista desse autor e da musicoterapeuta brasileira se
aproximam. Em 2003 Negreiros já falou sobre a variedade epistemológica do campo
referências teóricas oriundas de diferentes disciplinas como a psicanálise, as psicologias, as
ciências sociais, as teorias musicais, a filosofia, a medicina, entre outras... estes
atravessamentos e importações teóricas são fundantes do nosso campo e em nada subtraem a
especificidade do mesmo (NEGREIROS, 2003, s/p). Even Ruud, em suas previsões, também
antecipou um movimento crescente de reflexões conceiuais sobre os constructos que
orientam a prática musicoterapêutica. Ele ressaltou que esse movimento irá gerar, por
exemplo, clarificações sobre o que entendemos sobre saúde, contexto e música. Para finalizar
essa reflexão, voltamos a dialogar com as ideias da musicoterapeuta Martha Negreiros. Em
conversa informal, quando de sua visita a Curitiba em dezembro de 2017, discutimos sobre
aspectos que singularizam a prática da musicoterapia. Nosso objetivo foi o de encontrar e
nominar conceitos essenciais que identificam o campo de ação musicoterapêutico com
exclusividade. 31 Anais do XIX Fórum Paranaense de Musicoterapia e III Seminário Paranaense
de Pesquisa em Musicoterapia n° 19 / 2018 As sugestões de Martha Negreiros (2017) podem
ser colocadas em itens, como a seguir, para já deixar assinalada, de forma gráfica, o desejo de
aprofundar os tópicos em futuras reflexões: a) A musicoterapia se constitui como uma
disciplina a cujas técnicas são aplicadas ao campo da saúde. b) O tempo musical utilizado pelo
musicoterapeuta deve se aproximar do tempo mental do participante (Altshuler, 1944). c) A
identificação sonorora (a música do participante), ou seja, a trilha sonoro-musical (RUUD,
1998). Martha Negreiros comentou: “O que é lindo neste conceito é que a idéia, no senso
comum, de farmacopéia musical, receituário de receitas de músicas, não pode se afirmar,
porque estas marcas são acordes à história sonoro-musical de cada um”. d) Música como
código específico, sujeito à leis distintos do código oral-verbal, socialmente compartilhado: O
código musical é não referencial, não denotativo (COSTA; NEGREIROS, s/data ). e) A música
pode ser considerada uma linguagem porque produz subjetividade - interlocução com as
atuais informações das neurociências. f) A natureza polissêmica da música (BARCELOS;
CARVALHO, 1996) A discussão teórica tem perpassado o processo de construção de nosso
campo. Parece que já temos conjunto de ideias essenciais ou conceitos norteadores de nossa
prática. Este trabalho propõe a sistematização desses constructos básicos para que nosso
campo se fortaleça em narrativas identificadoras do “quem somos”, da nossa comunidade. Um
parâmetro conceitual que particulize nossa profissão e estruture a teoria/prática que criamos
parece ser elemento básico para o fortalecimento e reconhecimento do campo de saberes da
musicoterapia brasileira.

Vamos então falar a respeito dos fundamentos da musicoterapia nos diversos


ambientes em que ela ocorre:
Clínica: A música e seus efeitos no nível fisiológico para tratamento físico e
mental.

Educacional: Favorece o desenvolvimento cogitivo e auxilia dissentes portadores


de necessidades especiais.

Social: Auxilia no estabelecimento de relações sociais, usada em centros de


reabilitação social de menores.

No âmbito da musicoterapia clínica, parece que a maioria das pesquisas


realizadas são no intuito de fundamentar a utilização da musicoterapia em
ambientes clínicos. Mais ainda, fornece meios, técnicas e resultados
esperados na aplicação de determinados métodos. Nesse campo, a
neurociência é a principal base para a fundamentação clínica da
musicoterapia. A partir da neurociência pôde-se desenvolver métodos de
investigação e técnicas de aplicação para a neuromusicoterapia.
Entretanto, um aspecto fundamental da musicoterapia clínica, é por outro
lado, baseado na musicalidade. A noção da fundamentação clínica como um
ser 'musical-clínico' ocorreu durante algumas décadas de reflexões sobre
música e Musicoterapia.
Por musicalidade podemos entender que, de acordo com Zuckerland
(1976), não é apenas uma qualidade do que é musical. É uma forma de
percepção e cognição que permite ao homem estar no fluxo contínuo do
que está ao seu redor.
Por um sentido de musicalidade o musicoterapeuta deve ter o entendimento
de que a análise é um ponto de articulação entre o paciente e o
musicoterapeuta, de forma que "a musicalidade em ação parece ser um
caminho para se compreender a música como uma forma essencial de
comportamento humano." (Piazzetta, F. de M.C, 2010

Ao musicoterapeuta cabe a compreensão da experiência musical como


campos de entendimento da intervenção musical terapêutica. Para isso
é importante a realização da análise ou leitura musicoterapêutica. Por
esse processo analítico ele constrói uma compreensão maior do
paciente através domusical que ele expressa e como expressa com a
análise musical que é feita articulando os aspectos musicais produzidos
pelo paciente à sua história de vida (Piazzetta, F. de M.C, 2010)

Por isso, parece que Sloboda, em seu livro A Mente Musical, parece
oferecer recursos valiosíssimos com relação à análise e suas interseções
com a mente, demonstrando não somente o ponto de vista da composição
musical, mas também como os da performance.
Ainda sob os aspectos da musicalidade para a fundamentação da
musicoterapia, encontramos a musicologia, que tem demonstrado dentre a
literatura da musicoterapia, como sendo importante para a sua
fundamentação. Assim como a musicoterapia, a musicologia é uma área
transversal da música por meio da qual performance, sociologia,
antropologia, psicologia, análise musical, e filosofia se encontram, pois a
"experiência musical na clínica não se faz de forma direta, baseando-se nos
efeitos dos sons sobre o corpo"(IBID).

Figura 5 - Musicoterapia na promoção do bem-estar


do paciente
Dessa forma a musicologia auxilia na análise musicoterápica, de forma que
esta última compõe a análise musical, os processos de produção musical
(incluindo as histórias do paciente), a sua movimentação em relação à
música e a percepção (escuta), de forma que é através da "expressão
musical do paciente [que se] traduz sua interioridade e é através da
identidade sonora do paciente que se torna possível alcançá-lo".
Ainda sobre a perspectiva da musicalidade clínica, outro fator importante é
a escuta. Escuta tanto do musicoterapeuta quanto do paciente de forma que
a escuta se faz do diálogo entre o musical e o clínico, o audível e o
inaudível (Coelho, 2001), e considera a escuta do paciente como expressão
da sua interioridade.
A musicalidade então, é um conceito dentro da literatura da musicoterapia
que parece ser um alicerce importante para a sua fundamentação, porque
ela abrange um conjunto de saberes que transcendem o fazer musical, a
partir dos quais se desenvolveu um significado específico para o campo da
musicoterapia de forma a abarcar todas as interações necessárias para a
sua prática clínica, a musicalidade em ação (musicing), que está ligada às
seguintes construções teóricas: Musicoterapia Criativa, Musicoterapia
Músico Centrada, Musicoterapia Centrada na Cultura, Musicoterapia
Estética, e Musicoterapia Comunitária, que "ao considerarem a música
como uma ação, esse fazer musical no trabalho clínico constitui o modo de
ser de cada pessoa".(IBID)
A música por ela mesma vêm desempenhando um papel importantíssimo
para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social no contexto
educacional. Desde meados do século XIX, os estudos referentes ao
desenvolvimento infantil, juntamente com as tendências modernistas e
nacionalistas no âmito da música, corroboraram significante para os
fundamentos da musicoterapia no contexto educacional, em especial no
campo da educação especial "contribuindo ativamente para a afirmação ou
para a restauração da ordem mental" (Wilhems, Apud Gainza, 1988)
Entretanto, a abrangência da musicoterapia no âmbito escolar é muito
maior pois segundo Zahonero(2006)
No âmbito educacional, a musicoterapia pode atuar em diversos níveis e é
mais comumente usada no âmbito da educação especial. Contudo, no
Brasil, é crescente a necessidade de ter como professor de música, o
musicoterapeuta. O educador musical e o musicoterapeuta, embora
possuam objetivos distintos, há a necessidade de interação com o aluno de
acordo com suas necessidades internas e levar em consideração a energia
musical. Pois, levando em conta apenas as qualidades técnico-estéticas do
fazer musical em sala de aula, corre-se o risco de usar uma pedagogia
ultrapassada.

Figura 7 - Musicoterapia na Educação Especial


Um dos pioneiros nesse sentido, foi Emile Dalcroze, com a sua teoria de
música e ação, baseado na aprendizagem rítmica pelo movimento corporal.
Atualmente temos Keith Swanick, cujo método se assemelha em muito com
as técnicas abordadas pela musicoterapia quais sejam: improvisação,
composição musical, linguagem/canto, e movimento corporal.
Muito embora a musicoterapia no âmbito educacional se dê, na maioria dos
casos, por meio da educação especial, a mesma foi possível devido à sua
fundamentação clínica. Os caminhos para a ação da musicoterapia nas
escolas estão lentamente ocupando outros espaços com uma perspectiva
de musicoterapia preventiva
Por isso, não se afastando das habilidades musicais do musicoterapia,
conhecer métodos e práticas de educadores musicais não somente
Dalcroze e Swanick, mas também Orff, Kodaly, entre outros, irá colaborar
de forma significativa para elaboração de práticas musicoterapêuticas em
sala de aula ou na clínica.
A música é sem dúvida alguma bastante eficaz para suporte de indivíduos
em situação de vulnerabilidade social. Muitas organizações do terceiro
setor utilizam da música para promover o bem estar social, a inclusão, a
autoestima, a inclusão, a manifestação política entre outras em diversas
comunidades. Em se tratando de musicoterapia, há uma diferença em sua
conceituação que abrange Musicoterapia Social e Musicoterapia
Comunitária. sendo que Musicoterapia Social é uma denominação que se
encontra com mais frequência na literatura brasileira e que tem seu foco no
modo como "as pessoas estabelecem, experimentam e expressam a vida,
apesar de, e com suas condições existenciais pessoais, sociais e
culturais"(Cunha, R. 2016), a vida cotidiana em todas as suas
manifestações, de forma a permitir "trabalhar espaços de coletividade com
aqueles que se sentem apartados da sociedade."(IBID) Por essa razão é
que no âmbito da musicoterapia a proposta de acordo com Turino (2008), é
a performance participativa.

A ação musical e seu produto são os mediadores das modificação


ensejadas na participação grupal e comunitária. Aigen (2006) afirmou
que a música é um veículo para ajudar as pessoas a fazerem alterações,
transições na vida. Sua opinião foi compartilhada por Ruud quando
este explicou que, para os musicoterapeutas, a música nunca foi vista
como algo praticado como arte em essência, mas sim como algo a favor
da realização pessoal e social dos participantes (Cunha, R. 2016)

Já a Musicoterapia Comunitária marca essa prática em torno do sentido de


grupalidade, soma das vivências comunitárias como elemento de
desenvolvimento de ação musical. Contudo, há pontos de convergência e
divergência entre esses dois segmentos da musicoterapia que servem para
elucidar os fundamentos que as distinguem.

Figura 9 - Musicoterapia Comunitária


A musicoterapia social ou a musicoterapia comunitária sofrem desafios
devido ao seu distanciamento em relação a musicoterapia convencional,
pois esta última se volta para as questões do sofrimento individual, para a
patologia. Já no caso da musicoterapia social ou comunitária, pode se dizer
de que a abordagem é o sofrimento coletivo "e superação de condições de
múltiplas vulnerabilidades, por meio do fortalecimento e ampliação das
relações, de modo a criar estratégias de acesso, promoção e garantia de
Direitos Humanos"(Arndt, A. D., e Maheirie, K, 2020), sem desconsiderar
que é exatamente no sujeito individual que se encontra a expressão de
comunidade. O sentimento de inclusão, pertencimento a um grupo é
essencialmente uma experiência individual e portanto, não se anula o
sujeito das práticas da musicoterapia social ou comunitária, de forma que é
imprescindível se pensar na dualidade sujeito/comunidade.
Dessa forma, podemos perceber que os fundamentos da musicoterapia
possuem diversas ramificações que possuem diferentes objetivos e ações.
No Brasil o uso da terapia melódica teve seu início por volta da década de 50,
somente em 2019, houve uma regulamentação da sua prática em hospitais, clínicas
e escolas.
Para melhor compreensão podemos perceber que os fundamentos da musicoterapia
possuem diversas ramificações que possuem diferentes objetivos e ações. Mas, vale
ressaltar como esses fundamentos justificam ações de políticas públicas.
Até o momento podemos ver com profundidade os aspectos históricos, psicológicos
e neurológicos dos efeitos terapêuticos da música. Entretanto, para que essas
propriedades terapêuticas sejam eficazes é importante que o profissional possua
habilidades musicais de performance como tocar um instrumento ou cantar,
conhecer a respeito da teoria musical avançada como análise e composição musical
e entender sobre o funcionamento da mente, do cérebro e também da fisiologia
humana.
Envolve, contudo, um estudo continuado e preparação para o trabalho em clínicas e
ambientes hospitalares.
A fundamentação teórica é extremamente importante, porque é dela que vêm as
bases para o exercício da profissão e o controle de suas práticas.
O sentimento de inclusão e pertencimento a um grupo está intimamente ligado à
música, é essencialmente uma experiência individual e portanto, não se anula o
sujeito das práticas da musicoterapia social ou comunitária, de forma que é
imprescindível se pensar na dualidade sujeito e comunidade.
E assim concluímos nossos estudos de hoje, não deixe de consultar seu material e se
aprofundar ainda mais no tema.
Bons estudos!
Chegamos ao final de mais uma disciplina, foi abordado os fundamentos da
Musicoterapia, entre eles os fundamentos clínicos, educacionais e sociais.
Foi possível perceber as diversas ramificações da musicoterapia.
Após a análise do conteúdo disponibilizado nesta apostila percebeu-se os
aspectos históricos, psicológicos e neurológicos dos efeitos terapêuticos da
música. Ainda vimos como a música pode promover inclusão, melhorar
questões ligadas à autoestima e ser instrumento de manifestos políticos em
diversas situações.
Esperamos que os conhecimentos recebidos através do estudo desta
apostila, possam acrescentar de maneira enriquecedora na sua jornada
profissional e também pessoal. Até o próximo encontro!

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