Você está na página 1de 36

Medicina

revista de

DESPORTIVA
Ano 14
informa
Bimestral

Número 06
Novembro 2023
www.revdesportiva.pt

Entrevista: Dr. António Ferreira


Recordar com carinho: Dr. Raul Maia e Silva
FMUP: Resumos e comentários
SPMD: Em Busca da Melhor Metodologia
para Avaliação Cardíaca Pré-competitiva do
Atleta Jovem
Homenagem: Dr. Jacques Rodineau
Temas:
Orientações Práticas para a Prescrição de
Exercício Físico na Diabetes nos Cuidados
de Saúde Primários
Contextualização da Especialidade de
Medicina Desportiva em Portugal:
Resultados de um Censo Elaborado pelo
Colégio de Especialidade em 2022
Patologia Dermatológica em Atletas
A Tendinopatia dos Músculos Glúteos
Médios e Mínimo
RP

A
TECNOLOGIA
É PARA
TODOS

VEJA AQUI A LOJA RADIO POPULAR


MAIS PRÓXIMA

radiopopular.pt
NotíciasFlix

Medicina

revista de
DESPORTIVA
informa
Bimestral Novembro 2023
Ano 14 www.revdesportiva.pt
Número 06 Preço – 5.00€

Leio nesta edição um trabalho exaustivo e competente realizado pelo anterior Colégio de Especia-
lidade de Medicina Desportiva da Ordem dos Médicos. A realidade não me parece muito boa, mas
fomos nós que a construímos, seremos nós a melhorá-la. É um privilégio gerir a saúde e o ren-
dimento do atleta de alta de competição, é maravilhosa a oportunidade para prevenir e ajudar a
tratar doenças com a prescrição do exercício físico. O que li não vai ao encontro destes objetivos, dá
a entender que a especialidade de Medicina Desportiva é apenas mais uma que se conquista, que
se exibe e se esquece da sua prática. Assim, ela morrerá rapidamente, não na sua existência, mas
na sua intenção e utilidade. Nesta edição o Dr. Raul Maia Silva coloca o dedo na ferida, e parece ter
razão, somos especialistas apenas para tratar entorses e roturas musculares, temos dificuldade em
prescrever exercício físico. Não creio, contudo, que a culpa deva ser atribuída apenas aos especialistas
em MD, o sistema de saúde em Portugal ainda não reconheceu o grande valor que a MD tem para a
sociedade e teima em ignorá-la e excluí-la do sistema. O Censo que se publica nesta edição aponta
direções, mas quem as operacionaliza, quem aponta a direção, quem vai à luta? Não bastam discursos
bonitos, é preciso fazer acontecer. Onde andam os especialistas de MD, incomodados, que pouco ou
nada contribuem para esta Revista? Quando foi a última vez que construíram MD através da produção
de um texto, publicado aqui ou noutro local? Os temas submetidos para publicação são cada vez mais
escassos e sem conteúdos não há futuro para a Revista, a MD perderá e depois encontrar-nos-emos
num local qualquer para lamento. Basil Ribeiro, diretor

Entrevista: Dr. António Ferreira 2


Recordar com carinho: Dr. Raul Maia e Silva 3
FMUP: Resumos e comentários 4
Temas: 7
Orientações Práticas para a Prescrição de Exercício Físico na Diabetes nos Cuidados de Saúde Primários 7
Contextualização da Especialidade de Medicina Desportiva em Portugal: Resultados de um Censo Elaborado
pelo Colégio de Especialidade em 2022 10
Patologia Dermatológica em Atletas 14
A Tendinopatia dos Músculos Glúteos Médios e Mínimo 18
Instituição: ASPETAR – Women’s Football 21
Homenagem: Dr. Jacques Rodineau 24
Resumo: 2020 ESC Guidelines on sports cardiology and exercise in patients with cardiovascular disease 26
SPMD: Em Busca da Melhor Metodologia para Avaliação Cardíaca Pré-competitiva do Atleta Jovem 29
Agenda 32
A Revista de Medicina Desportiva informa é uma publicação de âmbito nacional, de publicação bimestral e de caráter médico-científico. Tem como objetivo divulgar conteúdos médico-des-
portivos através de temas de revisão e de investigação, assim como publicar “Casos Clínicos” relacionados com a prática da Medicina Desportiva. Divulga ainda reuniões científicas reali-
zados em Portugal e no estrangeiro. Esta Revista respeita a Constituição Portuguesa e orienta-se por critérios de isenção e de rigor científico, compromisso ético e respeito deontológico.
CORPO EDITORIAL: CARDIOLOGIA | António Freitas, Dr. – Lisboa – Centro de Medicina Desportiva | Hélder Dores, PhD – Lisboa – Hospital da Luz, Lisboa | João Freitas, PhD – Porto – Clínica Espregueira, FMUP | Lino Gonçalves, PhD – Coimbra –
Centro Universitário de Coimbra | Miguel Mendes, Dr. – Lisboa – Hospital de Santa Cruz | Ovídio Costa, PhD – Porto | CIRURGIA Carlos Magalhães, Dr. – Porto – C H Universitário de Santo António, ICBAS – Universidade do Porto | DERMATOLOGIA
| Osvaldo Correia, PhD – Porto – Epidermis – Centro de Dermatologia | FILOSOFIA DA MEDICINA | Manuel Sérgio, PhD – Lisboa | FISIATRIA | Catarina Branco, Dra. – Stª Maria da Feira – Hospital S. Sebastião | Gonçalo Borges, Dr. – Porto – Hospital
da Prelada | Jorge Laíns, Dr. – Coimbra – Hospital Rovisco Pais | Páscoa Pinheiro, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de Coimbra | Pedro Lemos Pereira, Dr. – Coimbra – Hospital Universitário de Coimbra | Raul Maia e Silva, Dr. – Porto |
FISIATRIA/HIDROLOGIA CLÍNICA | Pedro Cantista, PhD – Porto – Centro Hospitalar do Porto | FISIOLOGIA | Gomes Pereira, PhD – Lisboa – Faculdade de Motricidade Humana | José Alberto Duarte, PhD – Porto – Faculdade de Desporto do
Porto | GASTROENTEROLOGIA E HEPATOLOGIA | Rui Tato Marinho, PhD – Lisboa – Faculdade de Medicina de Lisboa | IMUNOALERGOLOGIA | André Moreira, PhD – Porto – Hospital de S. João | MEDICINA DESPORTIVA | Domingos Gomes,
Dr. – Porto – CESPU | João Beckert, PhD – Lisboa – Centro de Medicina Desportiva de Lisboa | José Pedro Marques, Dr. – Lisboa – Unidade Saúde e Performance da FPF | José Ramos, Dr. – Porto – Clínica de Gondomar | J. L. Themudo Barata, PhD –
Covilhã – Universidade Beira Interior | João Paulo de Almeida, PhD – Lisboa | Luís Horta, PhD – Lisboa – Hospital Curry Cabral | Maria João Cascais, PhD – Lisboa – Nova Faculty of Lisbon | Nelson Puga, Dr. – Porto – Futebol Clube do Porto | Paulo
Beckert, Dr. – Lisboa – Unidade Saúde e Performance da FPF | Pedro Saraiva, Dr. – Coimbra | MEDICINA EMERGÊNCIA | Filipe Serralva, Dr. – Penafiel| MEDICINA GERAL E FAMILIAR | André Dias, Dr. – Matosinhos – USF Bela Saúde, Ermesinde |
Marcos Agostinho II, Dr. – Torres Vedras – Unidade de Saúde Familiar | MEDICINA INTERNA | Jorge Ruivo, PhD – Lisboa – Hospital de Santa Maria | Teixeira Veríssimo, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de
Coimbra | NUTRIÇÃO | Elton Gonçalves Dr. – Porto – Rio Ave F.C. | Vítor Hugo Teixeira, PhD – Porto – Faculdade de Ciências da Nutrição | OFTALMOLOGIA | Miguel Neves, Dr. – Póvoa do Varzim – Clínica Oftalmológica
Dr. Miguel Sousa Neves | ORTOPEDIA | Diogo Moura, Dr. – Coimbra – Centro Hospitalar Universitário de Coimbra | Fernando Fonseca, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de Coimbra | Hélder Pereira, Dr. – Vila do Conde –
Hospital da Póvoa do Varzim | Henrique Jones, Dr. – Setúbal – Hospital da Luz Setúbal | João Espregueira-Mendes, PhD – Porto – Universidade do Minho, Clínica Espregueira | João Gamelas, PhD – Lisboa – Faculdade de Ciências
Médicas | José Carlos Noronha, PhD – Porto – FPF, Hospital de S. Francisco | José Lourenço, Dr. – Porto | Leandro Massada, PhD – Porto | Manuel Gutierres, PhD – Porto – Faculdade de Medicina do Porto | Paulo Amado, PhD
– Rio Tinto – Hospital Lusíadas Porto | Pereira de Castro, Dr. – Lisboa – Desporsano, Clínica de Desporto | PEDIATRIA | Carla Rêgo, PhD – Porto – Instituto CUF Porto. Faculdade de Medicina da U Porto | PNEUMOLOGIA |
José Carlos Carneiro, Dr. – Famalicão – Centro Hospitalar do Médio Ave | Robalo Cordeiro, PhD – Coimbra – Faculdade de Medicina de Coimbra | PSICOLOGIA | Sidónio Serpa, PhD – Lisboa – Faculdade de Motricidade
Humana | RADIOLOGIA | Joaquim Agostinho, Dr. – Viseu – Hospital São Teotónio | Sérgio Gomes, Dr. – Porto – SMIC | SAÚDE PÚBLICA | Romeu Mendes, Dr. – Vila Real – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto

FICHA TÉCNICA | Diretor, Editor BASIL VALENTE RIBEIRO | Diretor adjunto NUNO POMBEIRO | Sub-diretor JOSÉ RAMOS | Editora-adjunta (SPMD) RITA TOMÁS | Gerentes JOSÉ VAZ, NUNO POMPEIRO
| Produção EDIÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE E DESPORTO, LDA | Design e Paginação JOSÉ TEIXEIRA | Fotografia da capa: CONNOR COYNE UNSPLASH | Impressão GRÁFICA JORGE FERNANDES;
R. Quinta Conde de Mascarenhas, 9 Vale Fetal – 2825-259 Charneca da Caparica | Sede do editor, sede da redação e propriedade LINHA ÚNICA – EDIÇÃO E COMUNICAÇÃO EM SAÚDE E DESPORTO,
LDA Rua Santos Dias, 1121 – M13 (Fil Park), 4465-255 São Mamede de Infesta | Telefone/Fax – 220135613 | E-mail: linhaunica.rmd@gmail.com | www.revdesportiva.pt | NIPC 515669423 | Detentores
com 5% ou mais do capital da empresa: PAZ – Consultoria e Gestão, Lda e Basil Valente Ribeiro | Periodicidade Bimestral | Tiragem 3000 exemplares | Depósito Legal 304182/09 | ISSN 1647-5534
| Publicação Registada no Instituto da Comunicação Social sob o n.º 125758 | A reprodução parcial ou integral de texto ou ilustrações da Revista de Medicina Desportiva Informa é proibida.

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 1


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):2. https://doi.org/10.23911/Entrevista_2023_nov jogo, um vídeo-médico, um médico
emergencista, um médico aneste-
sista, um cirurgião maxilofacial, um
Entrevista
Tradicionalmente considera-se ortopedista e uma equipa completa
o jogador de râguebi como um de mais de 10 enfermeiros, para-
cavalheiro no desporto. Tem essa médicos e técnicos de radiologia.
opinião? Tínhamos até raio-X e ecografia à
Dr. António Ferreira disposição no estádio.
Médico especialista
em Medicina
Sem dúvida. Todos os atletas com
Desportiva. Médico da quem tenho tido a sorte de traba-
Seleção Nacional de
lhar destacam-se por terem, global- Durante o campeonato, quais as
Râguebi. Coimbra
mente, um comportamento ético lesões que diagnosticou?
e uma educação acima da média.
Desde quando e como é que Tivemos um Campeonato do Mundo
E têm-no com todos os agentes da
aparece como médico da modalidade: dirigentes, treinadores, excelente do ponto de vista da
Federação de Râguebi? staff médico e outro staff de apoio, gestão do esforço e das lesões. Em
mas, principalmente, com os colegas treino tivemos apenas um estira-
Comecei a jogar nos juvenis de equipa, com os adversários e com mento do músculo solear que impe-
da Académica de Coimbra e os árbitros. diu a participação do atleta na pri-
continuei até chegar à Univer- meira partida e, em jogo, uma outra
sidade. Quando terminei o curso, Participar no Campeonato Mundial lesão muscular da região gemelar
inscrevi-me no Mestrado de Medi- é um enorme feito. De que modo e uma fratura do rádio, a qual foi a
cina Desportiva e preparei a minha foi feita a preparação na perspetiva única situaçao a impedir a continui-
tese sobre o perfil antropométrico do médica? dade na competição até ao final.
jogador de râguebi, colaborando com
os clubes de Coimbra. Dessa cola- Certamente algum episódio
Foi, realmente, um enorme feito. A
boração académica seguiu-se uma engraçado ocorreu. Quer partilhar?
preparação começou logo em Dezem-
parceria profissional e, em 2012/13, bro de 2022, após a qualificação no
assumi o Departamento Médico da Dubai. A planificação foi morosa e Um Campeonato do Mundo e um
AAC Rugby. No final do ano seguinte, várias foram as áreas onde tivemos período de seis semanas de contacto
a FPR convidou-me a frequentar um de trabalhar. Desde a definição dos contínuo com os atletas e staff de
Curso da World Rugby e a colaborar recursos humanos a envolver na pre- apoio, obviamente levam a momen-
como Médico do Jogo em partidas e tos muito curiosos / divertidos. No
paração e participação ao longo dos
torneios internacionais. Em 2016 entanto, aquele que mais tempo
quase quatro meses (três médicos,
concluí a especialidade de Medicina ficará na minha memória refere-se
quatro fisioterapeutas, uma nutri-
Desportiva e, nesta altura, estou já a a uma situação vivida no último
cionista), até ao material a levar e a
fazer a minha tese de doutoramento jogo, na vitória contra as Fiji. Um
adquirir, à planificação das avaliações
em râguebi na área da epidemiolo- atleta importante, pela sua posição
médicas pré-participação, à definição
gia das lesões na variante de Sevens no campo e experiência, sofreu
das estratégias de recuperação, nutri-
(sete jogadores por equipa), a qual um corte na região supraciliar logo
ção e suplementação, a elaboração
concluí em Janeiro de 2019. no início do jogo. Por duas vezes
dos planos de emergência e, ainda, à
Sendo do conhecimento da FPR o pedimos à equipa médica do jogo
articulação com os serviços médicos
meu currículo e a construção de um para se preparar para o suturar e em
do Campeonato do Mundo e da World
percurso profissional nesta área, foi ambas as situações o atleta pediu
Rugby foi um longo caminho a percor-
com naturalidade que me convi- para controlarmos a hemorragia
rer. Acresce a tudo isto, a necessidade
daram para o cargo em Setembro sem que saísse do campo. Chegámos
da realização sessões de educação
ao intervalo e, aqui, já não havia
de 2018 quando o anterior diretor para a saúde em duas áreas cruciais motivo para o atleta não querer ser
clínico saiu. (antidopagem e concussão) em parce- suturado pelos serviços do Mun-
ria com a ADOP e a World Rugby. dial… mas ele implorou que fosse
Trabalha com jogadores muito
eu a suturá-lo dentro do balneá-
grandes, fortes e musculados. Gostávamos de saber quais rio para ainda ouvir as instruções
Por vezes deve ser difícil fazer o os meios operacionais que a do treinador. E assim foi, em um
exame físico... organização disponibiliza às minuto montámos a mesa de sutura
equipas? improvisada no balneário (viajamos
Os atletas da modalidade apresen- sempre com todo o equipamento) e
tam perfis muito distintos. Natural- Todos os elogios seriam poucos para antes do início da palestra já estava
mente, isto cria desafios na aborda- a organização médica do Campeonato o jogador sentado, suturado e prepa-
gem ao exame físico, mas recordo do Mundo. Disponibilizarem em rado para ouvir o treinador Patrice
que também eu fui jogador de todos os recintos de treino material Lagisquet. Valeu a pena. Ganhámos,
râguebi e fisicamente não me posso médico e de emergência, providen- ele fez um belíssimo jogo e a sutura
considerar pequeno… Assim, apesar ciarem equipamento e material de ficou perfeita. Quem não ficou
das limitações próprias na interpre- reabilitação em cada hotel, o que muito satisfeita com a situação foi a
tação do exame físico resultantes nos permitiu viajar bem mais leves equipa médica do jogo e o cirurgião
das elevadas massas corporais des- para França. A tudo isto somou-se que por três vezes se prepararam
tes atletas, não posso dizer que sinta um apoio médico de excelência para realizar a sutura… mas faz
reais dificuldades na sua execução. nos dias de jogo: dois médicos no parte destas andanças.

2 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):3. https://doi.org/10.23911/Raul_Maia_2023_nov do Desporto portugueses tornar-se-ão
cada vez menos “especialistas” e cada
Dr. Raul Maia e Silva vez mais “competentes”.
Médico especialista de Medicina Física e Reabilitação e de Medicina Desportiva. Porto
Recordar com carinho

Dê um conselho aos jovens médicos


Aos 74 anos o que anda a fazer? O que ainda pensa fazer
Em Traumatologia do Desporto, como
Apesar de ter dedicado uma Já pouco posso fazer pela Medicina do em toda a medicina, nada dá mais
grande parte da minha vida pro- Desporto em Portugal, para além de a gozo que acertar no diagnóstico. Para
fissional à Medicina do Desporto, defender e honrar. Mas aproveito esta isso temos de examinar o atleta, o que
sobretudo à traumatologia, no oportunidade para deixar duas ideias parece que alguns se esquecem, tão
Centro de Medicina Desportiva do em que acreditei desde sempre e depressa partem para a requisição
Porto, nas Federações Portuguesas cuja concretização continuo disposto de exames complementares. Façam
de Voleibol e de Atletismo, em a defender, talvez utopicamente: 1) como Jacques Rodineau me ensinou.
consultas de traumatologia do proponho acabar de vez com a infeliz Em primeiro lugar um INTERROGA-
designação de Medicina Desportiva e TÓRIO bem conduzido e completo.
desporto em vários clubes e ser-
substituí-la por MEDICINA DO DES- Depois um EXAME programado, efe-
viços por onde passei, fui sempre
PORTO. Não me parece ser necessário tuado sempre pela mesma ordem, que
principalmente um fisiatra que
justificar porquê; 2) face à forma conduza à procura de sinais patológi-
nunca descurou a sua carreira
desastrada como foi criada a especia- cos no decurso de diferentes sequên-
hospitalar. Ela terminou, por apo-
lidade de Medicina Desportiva pela cias, cada uma com o seu significado
sentação, há alguns anos quando
Ordem dos Médicos nos anos 80 (até particular: a inspeção, a mobilidade
era diretor do serviço de MFR do
hoje, continuam a não haver lugares ativa, a mobilidade passiva, os testes
Hospital de Pedro Hispano, em
de formação, suficientemente idóneos, contra resistência, a procura de sinais
Matosinhos. A partir daí conti-
quer em número, quer em qualidade) de laxidão e de sinais de conflito e
nuei a trabalhar como fisiatra na
e face à vastidão das matérias por só no final, a palpação. Chegar ao
medicina privada, agora a tempo diagnóstico antes dos exames comple-
parcial, sempre na área da pato- ela abrangidas, pertencentes a várias
outras especialidades médicas, propo- mentares ajuda-nos a gostar, cada vez
logia musculoesquelética e na mais, da nossa profissão. Vamos errar
nho que em vez de uma especialidade,
traumatologia do desporto. algumas (muitas) vezes, mas saiba-
sejam criadas várias COMPETÊN-
CIAS – Traumatologia do Desporto, mos aprender com os nossos erros.
No desporto, quais os Não desistam. Abraço
Fisiologia do Desporto, Cardiologia
momentos que mais alegria lhe
do Desporto, Avaliação, etc. A base da
deram?
formação teórica
seriam cursos de
Como atleta de voleibol a maior
pós-graduação
alegria foi ter alcançado a Seleção
para a área do
Nacional Sénior (foto 1). Guardo desse
desporto, cria-
momento as melhores recordações e
dos e geridos
uma fratura de um dedo da mão. Os
pelas diversas
restantes momentos de alegria que o
especialidades
desporto me proporcionou estiveram
abrangidas. Essa
relacionados com a minha atividade formação teórica
de médico do desporto. Aí começo por seria posterior-
referir que fiquei muito contente e mente comple-
orgulhoso quando os meus colegas da mentada com
Comissão Médica do Comité Olím- uma formação 1
pico de Portugal me elegeram para prática adequada
integrar a Missão Olímpica aos Jogos a cada uma das
Olímpicos de Barcelona, em 1992 (foto áreas da medi-
2). Foi uma experiência inolvidável, cina. Resolviam-
quer para o médico, quer para o ex- -se deste modo
-atleta, que nunca sonhara que um vários problemas 2 3
dia iria viver o ambiente extraordiná- atualmente exis-
rio de uma olimpíada. Como médico tentes, entre os 1. Na Seleção Nacional Sénior de
do desporto o que recordo com mais quais a do acesso Voleibol (Luxemburgo, 1974)
satisfação foi o ter tido a oportunidade a esta forma- 2. Na Cerimónia de Abertura dos
de conhecer e fazer amizade com o Jogos Olímpicos (Barcelona, 1992)
ção específica.
3. Com Jacques Rodineau, o Mestre
Professor Jacques Rodineau, dá-lo a Finalmente, esta e o Amigo
conhecer à comunidade médica portu- solução trazia 4. O joador da seleção nacional
guesa e poder acompanhá-lo, durante outra vantagem sénior de voleibol (abril 1973)
cerca de 40 anos, em atividades de importante – com
formação nas áreas da Reabilitação e o decorrer dos
da Traumatologia do Desporto. anos os Médicos 4

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 3


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(5):4-6. Foi avaliada a capacidade de os
https://doi.org/10.23911/FMUP_2023_nov
participantes manterem esta posição
durante 10 segundos. Foram permiti-
individuals1, publicado no European das três tentativas para completar o
Journal of Epidemiology, apresenta os teste. Os participantes foram classifi-
resultados de um estudo que investi- cados como “YES” ou “NO” conforme
gou a associação entre a capacidade a capacidade ou incapacidade para
de manter o apoio numa só perna completar o teste, respetivamente.
durante 10 segundos (teste 10-s one- Cerca de 20% (348) dos participan-
-legged stance ou 10-s OLS) (figura 1) tes não conseguiu completar o teste,
e a mortalidade, em indivíduos de tendo sido classificados como “NO”. A
meia-idade e idosos. proporção de participantes “NO” pra-
O estudo envolveu uma amostra ticamente duplicou em cada intervalo
Dr. Bruno Pereira Paiva de 1702 participantes, homens e de 5 anos de idade (51-55 anos: 4.7%;
Interno de Medicina Física mulheres, com idades compreen- 56-60 anos: 8.1%; 61-65 anos: 17.8%;
e da Reabilitação no Centro
Hospitalar Universitário do didas entre os 51 e os 75 anos, 66-70 anos: 36.8%; 71-75 anos: 53.6%).
Algarve inclusive. Os participantes foram Mais de metade dos participantes
seguidos por um período de follow-up entre os 71-75 anos foram incapazes
Resumo / comentário mediano de sete anos. de manter a posição testada durante
10 segundos (figura 2).
Successful 10-second one-legged De modo geral, os participantes
stance performance predicts classificados como “NO” eram mais
survival in middle-aged and older velhos e tinham um perfil menos
individuals1 saudável do que o grupo “YES”,
tendo em média um Índice de Massa
Os distúrbios do equilíbrio em Corporal (IMC) mais elevado e maior
idosos são comuns e podem ter um probabilidade de doença coronária,
impacto significativo na qualidade hipertensão arterial, dislipidémia,
de vida e na capacidade de realizar diabetes mellitus e obesidade.
as diversas atividades da vida diária.
A idade avançada é um fator de
risco importante para estes distúr-
bios. Podem ter diversas causas,
incluindo alterações no sistema
vestibular, redução da força muscu-
lar, alterações na marcha e compro-
misso cognitivo. Além disso, certas
condições médicas, como doenças
neurológicas e cardiovasculares,
podem aumentar o risco de proble-
mas de equilíbrio em idosos, bem
como a polimedicação. Figura 2 – Capacidade (Yes) ou incapaci-
As consequências dos problemas dade (No) para completar o teste de 10
de equilíbrio em idosos podem ser segundos de acordo com as faixas etárias1
graves, incluindo quedas, lesões e
perda de independência funcional. Durante o período de follow-up, 123
Por essa razão, é importante que participantes morreram. As causas
os profissionais de saúde avaliem o mais frequentes de morte foram
equilíbrio dos idosos e identifiquem doenças oncológicas (32%), cardio-
fatores de risco individuais para vasculares (30%), respiratórias (9%) e
prevenir essas consequências. complicações de COVID-19 (7%). No
As intervenções para melhorar Figura 1 – Posição do corpo aos 10 segun- geral, a mortalidade foi mais elevada
o equilíbrio em idosos incluem dos no teste de apoio com uma perna1 no grupo “NO” (17.4% vs 4.6% no
exercícios físicos específicos, treino grupo “YES”). No entanto, não houve
de equilíbrio e medidas de segu- No início do estudo pediu-se aos diferença estatisticamente significa-
rança em casa. Vários estudos têm participantes que se mantivessem tiva nas causas de morte entre grupos.
demonstrado que essas intervenções apoiados num só pé, com a perna con- O estudo mostrou que a incapa-
podem melhorar o equilíbrio e redu- tralateral dobrada atrás da perna de cidade de completar o teste está
zir o risco de quedas em idosos.2-5 apoio, olhos abertos e com os braços associada a maior mortalidade de
O artigo Successful 10-second one- estendidos ao longo do corpo. Os par- forma geral. Foi feita também a
-legged stance performance predicts ticipantes não se podiam apoiar em análise controlada para a idade e
survival in middle-aged and older nenhuma estrutura, objeto ou pessoa. outra multivariável (idade, sexo, IMC

4 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


e comorbilidades), que corroboraram dos participantes, tais como: que-
este resultado. das recentes, hábitos de atividade
Este estudo concluiu que os física / desportiva, hábitos nutri- fmup online
participantes incapazes de mante- cionais, tabagismo e medicação Ensino a distância,
rem o apoio num só pé durante 10 habitual. Todas estas variáveis um futuro de oportunidades
segundos têm maior mortalidade podem interferir com o equilíbrio
CURSOS DE FORMAÇÃO CONTÍNUA
durante o período de follow-up (7 e, consequentemente, na capaci- CANDIDATURAS ATÉ 17.JAN.2024
anos) quando comparados aos par- dade de completar o 10-s OLS.
CURSO BÁSICO DE
ticipantes capazes de completar o Os autores propõem que estudos
teste, com um risco 84% superior de futuros tentem explorar se o 10-s MONITORIZAÇÃO
OLS também consegue acrescen-
morrerem devido a qualquer causa.
Estas conclusões mantiveram-se tar dados de prognóstico quando
AMBULATÓRIA
quando controladas para vários se tem em conta outras variáveis DE PRESSÃO
fatores confundidores. Os resultados de relevo sobre atividade física e
hábitos pessoais, como os men-
ARTERIAL (MAPA)
obtidos aparentam ser sobreponí- DE 24 HORAS E DE VELOCIDADE DA ONDA
veis aos previamente observados na cionados em cima. Da mesma DE PULSO CARÓTIDO-FEMORAL

literatura existente. maneira, propõem que sejam


Tendo em conta os resultados, os investigados mais a fundo os 2 ects b-learning
autores propõem o teste 10-s OLS mecanismos biológicos que expli- destinatários
como uma forma rápida e objetiva quem a incapacidade de comple- Médicos, enfermeiros, cardio-
de avaliar o equilíbrio estático e tar o teste 10-s OLS e a sua relação pneumologistas, estudantes
identificar homens e mulheres de com a mortalidade geral. de Medicina do ciclo clínico
meia-idade ou idosos com maior Existe, no entanto, outra grande (4.º, 5.º e 6.º ano)
risco de mortalidade. O teste requer limitação do estudo e da sua con-
equipamento mínimo, facilmente clusão. Os autores não investigaram
disponível, e pode ser realizado se um participante com melhoria
numa vasta gama de contextos clí- do desempenho no teste, ou seja,
MEDICINA
nicos, constituindo uma ferramenta alguém inicialmente categorizado DO FUTEBOL
prática para a avaliação do equilí- como “NO” e que posteriormente
brio e do risco de mortalidade. foi submetido a intervenções, como 3,5 ects b-learning
Vários fatores contribuem de exercícios de fortalecimento mus- destinatários
forma positiva para a força do cular e/ou fisioterapia, conseguisse Licenciados ou detentores
estudo e dos resultados alcança- completar o teste e passar ao grupo de Mestrado Integrado em
dos. O teste 10-s OLS foi facilmente “YES”, beneficiria do risco menor de Medicina, com pós-graduação
aplicado num ambiente controlado, mortalidade encontrado nos partici- ou especialidade em Medicina
supervisionado e com resultados pantes do grupo “YES”. Embora este Desportiva
objetivos. Foi também utilizado um não fosse o objetivo do estudo, é cru- Em
parceria
com:
tamanho de amostra significativo, cial perceber se o 10-s OLS constitui
com participantes seguidos durante apenas uma ferramenta de avaliação
um período de follow-up considerá- prognóstica, como os resultados
vel, o que conferiu um poder estatís- sugerem, ou se pode servir de rastreio NUTRIÇÃO
de doentes com problemas de equilí-
tico relevante ao estudo.
Os autores do estudo apontam brio, por exemplo, passíveis de sofrer
CLÍNICA
NA MEDICINA GERAL E FAMILIAR
também algumas limitações, das intervenções no sentido de melhorar
quais se destacam as seguintes: o equilíbrio, e consecutivamente o
4 ects b-learning
1. O estudo foi realizado numa popu- desempenho no teste, com benefício
lação única, de nacionalidade bra- em termos de mortalidade geral. A destinatários
sileira, raça caucasiana e de um segunda hipótese parece mais inte- Licenciados ou detentores
estrato socioeconómico elevado, o ressante e daria maior fundamento do Mestrado Integrado em
que pode limitar a aplicabilidade à aplicabilidade generalizada do 10-s Medicina, Enfermagem ou
dos resultados em populações de OLS. Nesse sentido, estudos futuros Farmácia
Com o
características distintas; poderão investigar esta matéria, apoio de:

2. Existem métodos mais precisos de tentando relacionar as mudanças de


avaliação da posição de teste, que desempenho no 10-s OLS (de forma
poderiam conferir um maior grau positiva ou negativa) e o seu impacto mais informações
de certeza aos resultados obtidos na mortalidade. De igual forma, seria fmuponline.med.up.pt
e as suas implicações. No entanto, importante a investigação proposta fmuponline@med.up.pt
22 042 6922
estes métodos seriam sempre de pelos autores no que concerne
mais difícil acesso que o teste à identificação dos mecanismos
proposto; subjacentes ao sucesso e insucesso
3. Vários fatores com potencial relevo no teste, de maneira a identificar
não foram incluídos na avaliação possíveis aspetos modificáveis que

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 5


permitissem melhorar o desempenho Bibliografia number of chronic disabilities. The American
no teste e, em teoria, contribuir para Journal of Medicine. 1986; 80(3):429-34.
5. Araújo CG, de Souza e Silva CG, Laukkanen
a diminuição da mortalidade. 1. Gillespie LD, Robertson MC, Gillespie WJ,
JA, Fiatarone Singh M, Kunutsor SK, Myers
Os distúrbios do equilíbrio são um Sherrington C, Gates S, Clemson L, et al.
J, et al. Successful 10-second one-legged stance
Interventions for preventing falls in older people
importante fator de risco para que- performance predicts survival in middle-aged
living in the community. Cochrane Database
das, contribuindo para maior mor- of Systematic Reviews. 2009; (2):CD007146.
and older individuals. British Journal of
bimortalidade na população mais Sports Medicine. 2022; 56(17):975-80.
2. Lord SR, Clark RD, Webster IW. Physiological
6. de Souto Barreto P, Rolland Y, Vellas B,
idosa. Resultam frequentemente de factors associated with falls in an elderly popu-
Maltais M. Association of long-term exercise
processos associados ao envelheci- lation. Journal of the American Geriatrics
training with risk of falls, fractures, hospitali-
Society. 1991; 39(12):1194-200.
mento, como a disfunção sensorial zations, and mortality in older adults. JAMA
3. Shumway-Cook A, Baldwin M, Polissar NL,
e motora, défices propriocetivos, Gruber W. Predicting the probability for falls
Internal Medicine. 2019; 179(3):394.
patologia da visão e vestibular. Estão in community-dwelling older adults. Physical
associados a elevados custos socioe- Therapy. 1997; 77(8):812-9. Restante Bibliografia em:
conómicos e é expectável que estes 4. Tinetti ME, Franklin Williams T, Mayewski https://revdesportiva.pt/conteudos/
R. Fall risk index for elderly patients based on
aumentem com o envelhecimento
globalizado da população.
Existem diversas intervenções
com resultados comprovados para
diminuir o risco de queda. O exercí-
cio físico, tanto no domicílio como
em grupo, a eliminação de fatores
ambientais predisponentes e a corre-
ção de problemas de visão são algu-
mas das medidas possíveis de adotar.6
A literatura existente reforça
a ideia de que o treino de força e
equilíbrio é eficaz para a redução da
probabilidade de quedas, fraturas e
a mortalidade associada.7,8 Por estes
motivos, pode fazer sentido imple-
mentar o teste 10-s OLS na prática
clínica como teste de rastreio de
problemas do equilíbrio e de risco de
queda nos indivíduos idosos. Os indi-
víduos identificados poderão bene-
ficiar da integração em programas
de exercício e ser sujeitos a medidas
de prevenção de quedas. No entanto,
serão necessários mais estudos para
perceber se a aplicação deste teste
em vários momentos faz sentido, na
medida em que uma melhoria no
desempenho no teste poderá ou não
estar relacionado com uma melhoria
na mortalidade geral (e vice-versa).
Em conclusão, o artigo Successful
10-second one-legged stance performance
predicts survival in middle-aged and
older individuals defende o teste 10-s
OLS como uma prova prática, eficaz
e fácil de aplicar numa variedade de
contextos clínicos, identificando indi-
víduos com maior risco de mortali-
dade por diversas causas. São neces-
sários mais estudos para perceber
a eficácia de diversas intervenções
que melhorem o desempenho nesta
prova na mortalidade da população.
James J. Pierre, Anthony M. Tolisano. What Is Swimmer’s Ear? JAMA Otolaryngol Head
Aluno do curso de pós-graduação em
Neck Surg. Published online June 1, 2023. doi:10.1001/jamaoto.2023.0997
Medicina Desportiva da Faculdade de
Medicina da Universidade do porto https://jamanetwork.com/journals/jamaotolaryngology/articlepdf/2805359/jamaoto-
(2022/2023). laryngology_pierre_2023_pg_230002_1684420163.82322.pdf

6 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):7-9. https://doi.org/10.23911/exercicio_diabetes_2023_nov qualquer tipo de atividade física,
com o aumento de captação de gli-
cose no músculo esquelético, através
das vias independentes de insulina.
Orientações práticas para a
Tema 1

Durante o exercício, os níveis de


glicémia plasmáticos são mantidos
prescrição de exercício físico por derivados de hormonas glucore-
guladoras, aumentando a produção
na Diabetes nos Cuidados de de glucose hepática e mobilização
de ácidos gordos livres. Após a
Saúde Primários realização de atividade física ocorre
um aumento da sensibilidade à
Dra. Leonor Xavier Rocha1,3, Dra. Filipa da Costa Teixeira2,4, Dra. Raquel Lima1,5 insulina, sistémica e provavelmente
1
Médica interna da Formação Específica e 2Assistente de Medicina Geral e Familiar; Unidade de Saúde
Familiar 3Marginal, ACeS de Cascais, 4Quinta das Lindas, ACeS Lisboa Ocidental e Oeiras, 5Cuidar, ACeS de
hepática, que pode durar entre 2 a
Entre Douro e Vouga I – Feira/Arouca 72 horas, com reduções de glicémia
em função da duração e intensidade
RESUMO / ABSTRACT da atividade realizada. A atividade
A diabetes mellitus é considerada uma epidemia global, atingindo 14.1% da população por- física regular também melhora a
tuguesa. O exercício físico é um dos pilares do tratamento da diabetes mellitus. O exercício função das células β pancreáticas
físico regular melhora o controlo glicémico, a sensibilidade à insulina, o perfil lipídico e
e da microbiota intestinal, contri-
ajuda a regular a pressão arterial. O treino intervalado de alta intensidade (HIIT), indicado
para indivíduos mais jovens e com melhor condição física, demonstrou uma eficácia
buindo para melhor controlo da dia-
superior ao exercício de baixa intensidade. O treino combinado, com exercício aeróbio e betes, bem como para a redução do
de resistência, apresenta melhores resultados que qualquer deles se realizados de modo risco de doença. Verifica-se, ainda,
isolado, com uma redução superior na hemoglobina A1c (HA1c). uma melhoria do perfil lipídico, com
aumento de colesterol HDL e dimi-
Diabetes mellitus is a global epidemic, reaching 14.1% of the Portuguese population. Phy-
nuição de triglicéridos.6-9
sical exercise is one of the pillars of the treatment of diabetes mellitus. Regular physical
exercise improves glycemic control, insulin sensitivity, lipid profile and regulates blood
Quanto aos efeitos crónicos,
pressure. High-intensity interval training (HIIT), indicated for younger individuals with bet- mesmo o exercício ligeiro pode
ter physical condition, demonstrated superior efficacy to low-intensity exercise. Training melhorar a sensibilidade à insulina,
combined with aerobic and resistance exercise shows superior results than either mode se continuado por um longo período.
alone, with a greater reduction in hemoglobin A1c (HA1c).
A atividade física regular leva à
redução da gordura corporal, favo-
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS
recendo a perda ponderal e melho-
Diabetes mellitus, exercício físico
Diabetes mellitus, physical exercise
rando o perfil metabólico da pessoa
obesa com diabetes tipo 2, sem
alteração da massa magra. A gordura
Introdução Objetivo visceral promove a aterosclerose
relacionada com a resistência à
A diabetes mellitus, considerada uma A presente revisão de tema visa insulina. Ao reduzir o tecido adiposo,
epidemia global, devido ao aumento avaliar o impacto do exercício físico sobretudo visceral, o exercício físico
exponencial da incidência e preva- na diabetes e as suas indicações de previne a aterosclerose e as compli-
lência de diabetes tipo 2, é responsá- prescrição nos cuidados de saúde cações que dela advêm e, numa base
vel por 90 a 95% de todos os casos de primários. regular, melhora o controlo metabó-
diabetes. Atualmente, em Portugal, lico em adultos com diabetes tipo
a diabetes atinge 1,1 milhões de 2, com uma redução estimada de
pessoas entre os 20 e os 79 anos de Métodos HA1C entre 0.5% e 0.7%.6,10,11
dade, o que se traduz numa preva-
lência padronizada de 14,1%.1,2 A realização deste trabalho baseou- Prescrição de exercício físico na
A diabetes, doença crónica e -se numa pesquisa não estruturada Diabetes
complexa, requer uma intervenção de artigos originais, meta-análises, Não basta recomendar a prática
multidisciplinar no controlo dos revisões sistemáticas, publicados de exercício de forma verbal e sem
fatores de risco associados e no seu em português e inglês, nas bases indicações precisas, sendo impor-
tratamento que está assente em três de dados PubMed, The Cochrane tante a sua prescrição como se de
pilares: alimentação, atividade física Library e na Direção Geral de Saúde. uma receita médica se tratasse e,
e terapêutica farmacológica.3 de preferência, de forma escrita,
A atividade física, moderada a revelando-se mais eficaz. A prescri-
intensa, regular, tem vários benefícios, Resultados e Discussão ção de exercício físico para o utente
como o controlo glicémico, a diminui- com diabetes deve incluir recomen-
ção da insulino-resistência e do risco Efeitos do exercício físico na Diabetes dações sobre o tipo, modo, duração,
cardiovascular, estando associada a O exercício físico na diabetes tem intensidade, frequência e progres-
redução da mortalidade e morbili- efeitos agudos e/ou crónicos.4,5 Os são. Deve ser orientado e adaptado
dade nas pessoas com diabetes.4,5 efeitos agudos verificam-se durante para situações particulares, com a

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 7


prevenção de complicações, como grupo onde estas barreiras devem A neuropatia, pode aumentar a
as hipoglicémias ou a adaptação do ser reduzidas.12 probabilidade de lesões e infeções
exercício a comorbilidades associa- durante a prática de atividade física.
das. As necessidades e preferências Principais complicações do exercí- Devem ser evitados exercícios que
de cada indivíduo devem ser privile- cio físico na Diabetes possam causar traumas nos pés,
giadas na prescrição individualizada Durante a prática de exercício como caminhadas prolongadas ou
de exercício físico.12 físico várias complicações podem em superfícies irregulares e corri-
Os indivíduos com diabetes mellitus agravar-se no doente com diabetes, das. Exercícios sem sustentação de
tipo 2 são, tendencialmente, mais tais como: a hipoglicémia e a hiper- peso, como por exemplo ciclismo ou
idosos, pelo que a probabilidade de glicémia, a neuropatia periférica, a natação, parecem ser mais apro-
serem sedentários é superior. Assim, retinopatia, a doença vascular perifé- priados. É fundamental verificar os
é cada vez mais relevante apostar na rica e a doença cardiovascular.12,15,16 pés diariamente, pesquisando sinais
promoção de atividade física neste O uso de fármacos, como a insulina de trauma e optar-se por sapatos e
grupo, embora constitua um desa- ou secretagogos de insulina (sulfo- meias adequadas que mantenham
fio dadas as suas co-morbilidades, niloreias), pode aumentar o risco de os pés secos. As atividades que
sobretudo musculoesquelética.12 hipoglicémia devido ao exercício. exijam capacidade excessiva de
A maioria dos estudos mostrou A administração de insulina pré- equilíbrio, devem ser evitadas.16
que o exercício físico pós-prandial -exercício aumenta o risco de hipo- As atividades vigorosas e de alta
proporciona um melhor controlo gli- glicémia durante o mesmo, pelo que intensidade, que aumentam a pres-
cémico, ao atenuar os picos glicémi- a dosagem, o momento e o local de são intraocular e implicam suster a
cos agudos e maior gasto energético, administração devem ser ajustados. respiração ou elevação da cabeça,
reduzindo a glicemia independen- Pode ser necessário reduzir a dose de devem ser evitadas nos casos de
temente da intensidade ou tipo de insulina, atrasar ou adiantar o horário retinopatia grave. As atividades que
exercício. O exercício físico de maior de administração. A injeção subcutâ- implicam balancear a cabeça, como
duração (≥45 min) proporciona bene- nea de insulina não deve ser reali- o yoga, devem ser evitadas. O exercí-
fícios mais consistentes.6-9,13,14 zada em áreas anatómicas utilizadas cio é contraindicado para qualquer
durante a prática de exercício físico. pessoa com retinopatia proliferativa
Avaliação pré-exercício Nos doentes insulino-tratados pode instável ou não tratada.16
Para a maioria dos indivíduos que ser necessário o consumo de hidratos Na nefropatia diabética e microal-
realizam uma atividade física de de carbono, antes e/ou durante o buminúria devem ser evitados os
baixa a moderada intensidade, exercício físico, para evitar hipogli- exercícios que aumentem significati-
como uma caminhada, não é neces- cémia durante ou após a atividade. vamente a pressão arterial.16
sária qualquer avaliação médica A hipoglicémia de início tardio pode
pré-exercício. Nestes casos, o risco ocorrer quando as reservas de hidra- Tipos de exercício físico
de efeitos adversos induzidos pelo tos de carbono estão esgotadas, mas, O exercício físico aeróbio regular
exercício é reduzido. A exceção em geral, não ocorre na maioria dos deve ser uma prática quotidiana
prende-se com a existência de sin- casos diabéticos não insulino-depen- da pessoa com diabetes. São reco-
tomas de doença cardiovascular ou dentes. A monitorização de glicémia mendadas sessões de pelo menos 10
complicações microvasculares da mostrou ser a melhor ferramenta na minutos, com o objetivo de 30 minu-
diabetes presentes.15,16 prevenção da hipoglicémia asso- tos por dia, na maioria dos dias da
Os testes de esforço pré-exercício ciada ao exercício no utente diabé- semana. Em qualquer tipo de diabe-
em adultos assintomáticos, que tico. No doente sob terapêutica oral tes, os exercícios aeróbios devem ser
pretendem iniciar atividade física (excluindo sulfonilureias) ou outras realizados com um intervalo nunca
continua controverso. Algumas terapêuticas injetáveis não insulínicas superior a dois dias para reduzir a
sociedades científicas, recomendam (análogos da GLP-1) não é necessário resistência à insulina. Recomenda-
avaliação médica em indivíduos ajuste de dose da terapêutica medica- -se, pelo menos, 150 minutos de
sedentários que pretendem realizar mentosa ou ingestão suplementar de atividade aeróbia por semana, com
atividades de intensidade moderada/ hidratos de carbono.7,16-18 exercícios de intensidade moderada.
elevada.15,16 Na hiperglicémia, se a glicémia for As crianças e adolescentes com dia-
É importante a avaliação prévia de superior a 300 mg/dL, é necessária betes devem seguir as recomenda-
eventuais complicações da diabe- alguma cautela em iniciar o exer- ções gerais de atividade física para
tes, como a neuropatia diabética, cício, recomendando-se a medição esta faixa etária.16,21,22
a hipertensão não controlada ou o de cetonemia ou cetonúria. Se a O exercício aeróbio regular melhora
pé diabético, bem como fatores de glicemia estiver elevada, mesmo sem o perfil glicémico em adultos com
risco para eventos cardiovasculares aumento de cetonas, os indivíduos diabetes mellitus tipo 2, com menor
que possam constituir contraindi- são aconselhados a iniciar atividades variação diária e redução de 0,5%–
cação para a prática de atividade leves, apenas se estiverem assinto- 0,7% da HA1c. Beneficia, também,
física.12,15,16 máticos e adequadamente hidrata- a sensibilidade à insulina, o perfil
A avaliação médica prévia deta- dos. Importa relembrar que a cetoa- lipídico e ajuda a regular a pressão
lhada e os testes de esforço podem cidose diabética pode ocorrer com arterial.6,10,11,23
constituir uma barreira à prática de euglicémia, em diabéticos medicados Os indivíduos mais jovens ou
exercício físico, sendo os idosos um com inibidores da SGLT2.16,19,20 aptos fisicamente, podem optar por

8 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


treinos intervalados de alta intensi- combinados (sobretudo aeróbios e complicações microvasculares e
dade (HIIT) pela maior eficácia face de resistência) parecem ser supe- macrovasculares.
ao exercício de baixa intensidade. riores a qualquer um dos modos O profissional de saúde dos cui-
Um total de 75 minutos semanais isolado, com uma redução superior dados de saúde primários, pela sua
de HIIT revelou benefícios cardiovas- na HA1c. Para melhorar o perfil posição privilegiada com o utente,
culares e aumento da sensibilidade glicémico, no treino combinado, o deve estar capacitado para a orien-
à insulina em adultos com diabetes exercício de resistência deve ser rea- tação da prática de exercício físico
tipo 2. É uma abordagem alternativa lizado antes do aeróbio.16,31,32 nestes doentes.
à atividade aeróbia contínua, com As autoras negam a existência de
atividades curtas intensas, realiza- Barreiras à prática de atividade conflitos de interesse, assim como a
das entre 65% e 90% do VO2máx e física originalidade e a não publicação prévia
95% da frequência cardíaca máxima, As principais barreiras à prática deste manuscrito. Não foi utilizada a
durante 10 segundos a quatro de atividade física em Portugal inteligência artificial (ChatGPT) para a
sua produção
minutos, intercaladas com períodos são a falta de tempo (44%), falta
de 12 segundos a cinco minutos de de motivação ou interesse (29%) Correspondência
recuperação ativa ou passiva. Os e a incapacidade física ou doença Leonor Xavier da Rocha
leonor.rocha@arslvt.min-saude.pt
indivíduos devem estar clinicamente (11%). As principais co-morbilidades https://orcid.org/0009-0001-0039-0489
estáveis e habituados a realizar de que dificultam o exercício físico, do
forma regular atividades de intensi- ponto de vista do doente, são a obe-
dade moderada ou superior. Con- sidade e a osteoartrose da anca e do Bibliografia
tudo, a sua segurança permanece joelho. Quando avaliamos as barrei-
controversa em alguns doentes.16,24,25 ras de prescrição dos profissionais 1. International Diabetes Federation. Diabetes
Sobre os exercícios de resistência, de saúde estas passam pela falta Atlas 10th edition 2021. Disponível em:
é recomendado realizar 2 a 3 sessões de tempo, formação, qualificação e https://diabetesatlas.org/.
por semana, em dias não consecuti- protocolos.33-35 2. Sociedade Portuguesa de Diabetologia.
Diabetes: Factos e Números – O Ano de 2019,
vos. Estes exercícios melhoram a força
2020 e 2021 − Relatório Anual do Observatório
muscular, gerando maior equilíbrio e Nacional da Diabetes 03/2023. Disponível em:
qualidade de vida dos doentes diabéti- Conclusões https://www.spd.pt/#/apresentacao-do-dia-
cos. O treino de resistência em adultos betes-factos-e-numeros-os-anos-de-2019-
com diabetes tipo 2, geralmente A prática de atividade física regular -2020-e-2021.
3. Nuha A. ElSayed, Grazia Aleppo, Vanita
resulta em melhorias de 10% a 15% constitui parte integrante da tera-
R. Aroda, Raveendhara R. Bannuru, et al.,
na força, densidade mineral óssea, pêutica não farmacológica da diabe- 1. Improving Care and Promoting Health in
pressão arterial, perfil lipídico, massa tes mellitus. A prescrição de atividade Populations: Standards of Care in Diabetes
muscular esquelética e sensibilidade física deve respeitar requisitos – 2023. Diabetes Care 1 January 2023; 46
à insulina. Pode reduzir a HA1c três específicos e ser individualizada de (Supplement_1):S10-S18.
4. American College of Sports Medicine. Posi-
vezes mais em adultos idosos, compa- acordo com as comorbilidades, com-
tion Stand. Exercise and type 2 diabetes. Med
rando com um grupo sem exercício. plicações e preferências do utente. Sci Sports Exerc. 2000; 32:1345-62.
O impacto deste tipo de treino nos O exercício aeróbio regular 5. American Diabetes Association. Standards
diabéticos tipo 1 ainda não é claro, melhora o perfil glicémico em of medical care in diabetes – 2007. Diabetes
mas parece reduzir as hipoglicémias adultos com diabetes mellitus tipo 2, Care. 2007; 30:S4-41.
6. Suh S-H, Paik I-Y, Jacobs K. Regulation of
induzidas pelo exercício.26,27 com menor variação diária e redu-
blood glucose homeostasis during prolonged
Os exercícios de flexibilidade ção de 0,5%–0,7% da HA1c. O treino exercise. Mol Cells. 2007; 23(3):272–9.
e de equilíbrio permitem melho- intervalado de alta intensidade 7. Zierath JR, He L, Guma A, Odegoard Wahls-
rar a amplitude do movimento e a (HIIT), indicado para indivíduos mais tröm E, Klip A, Wallberg-Henriksson H.
marcha com prevenção de quedas, jovens e com melhor condição física, Insulin action on glucose transport and plasma
membrane GLUT4 content in skeletal muscle
sobretudo em idosos. Devem ser revelou eficácia superior ao exercí-
from patients with NIDDM. Diabetologia.
realizados pelo menos 2 a 3 vezes cio de baixa intensidade. O treino 1996; 39(10):1180-9.
por semana e são essenciais, sobre- combinado com exercício aeróbio e 8. Heiskanen MA, Motiani KK, Mari A, et
tudo nos mais velhos, cuja mobili- de resistência apresenta melhores al. Exercise training decreases pancreatic
dade articular está diminuída pela resultados face a uma das modalida- fat content and improves beta cell function
regardless of baseline glucose tolerance: a ran-
glicolisação fisiológica do envelheci- des realizadas individualmente, com
domised controlled trial. Diabetologia. 2018;
mento, agravada pela hiperglicémia uma redução superior na HA1c. 61(8):1817-28.
mantida. Este tipo de exercícios Todos os indivíduos devem prati- 9. Motiani KK, Collado MC, Eskelinen J.J, et
pode reduzir o risco de quedas, car atividade física regular e inter- al. Exercise training modulates gut microbiota
melhorando o equilíbrio e a marcha, romper o tempo sedentário com profile and improves endotoxemia. Med Sci
Sports Exerc. 2020;52(1):94–104.
mesmo em adultos com neuropatia pausas frequentes. No tratamento
10. Ross R, Dagnone D, Jones P, et al. Reduction
periférica. Os exercícios de alonga- da diabetes deve ser defenido um in obesity and related comorbid conditions after
mentos isolados não têm qualquer plano individualizado, visando man- diet-induced weight loss or exerciseinduced
impacto na glicémia, devendo ser ter a glicemia dentro dos valores- weight loss in men: a randomized controlled
combinados com outros exercícios, -alvo, melhor controlo lipídico e trial. Ann Intern Med. 2000; 1333(2):92-103.
como, por exemplo, yoga. 28,29,30 valores de tensão arterial contro- Restante Bibliografia em:
Os resultados de exercícios lados, com o objetivo de prevenir https://revdesportiva.pt/conteudos/

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 9


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):10-13. https://doi.org/10.23911/censo_CMDOrdem_2023_nov 1. Promoção da saúde e prevenção
de lesões
A Medicina Desportiva desempe-
nha um papel crucial na promo-
Tema 2

Contextualização da Especialidade ção da saúde por meio da ativi-

de Medicina Desportiva em dade física e no desenvolvimento


de estratégias de prevenção de
Portugal: Resultados de um lesões em atletas e praticantes de
atividades físicas.
Censo Elaborado pelo Colégio de 2. Cuidados especializados para atle-

Especialidade em 2022 tas de alto rendimento


A existência de especialistas em
Medicina Desportiva em todo o
Direção do Colégio da Especialidade de Medicina Desportiva 2021-2023*
país permitiria garantiria o acom-
panhamento adequado da saúde
RESUMO / ABSTRACT dos atletas de alto rendimento,
A compreensão da realidade e especificidade dos médicos especialistas em Medicina prevenção de lesões, controle da
Desportiva em Portugal continua por desvendar na maioria dos aspetos inerentes á sua fadiga e otimização do desempe-
prática. A direção anterior do Colégio da Especialidade achou por bem tentar compreender
nho desportivo.
um pouco melhor essa realidade através da realização de um censo entre os especialis-
tas inscritos na Ordem no ano de 2022. Os objetivos foram quantificar e caracterizar os
3. Melhor gestão de lesões e reabili-
médicos especialistas e compreender o perfil etário, a distribuição geográfica, a vinculação, tação
o envolvimento médico-desportivo, as preocupações e as sugestões, no sentido de melhor A Medicina Desportiva desempe-
compreender a realidade da Medicina Desportiva em Portugal e justificar medidas que nha um papel fundamental na
possam melhorar o desempenho e os resultados assistenciais.
avaliação, diagnóstico, tratamento
The understanding of the reality, and specify, of sports medicine specialists, in Portugal, continues
e reabilitação de lesões relaciona-
to unravel in most of the aspects in relationship with its practice. The previous Portuguese Sports das com a prática desportiva.
Medicine College Board decided to better understand that reality through a census among the Portu- 4. Desenvolvimento de programas de
guese specialists in the year of 2022. The goals were to quantify and characterize the specialists and exercício clínico
understand the age profile, geographic distribution, professional links, sports medicine involvement,
A Medicina Desportiva pode con-
concerns, and suggestions, in order to better understand the Portuguese Sports Medicine reality and
justify the appropriate measures to improve performance and assistance results.
tribuir para o desenvolvimento de
programas de exercício adaptado
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS para pessoas com deficiência ou
Medicina desportiva, censo, exame médico desportivo, especialista condições médicas específicas
Sports Medicine, census, sports medical exam, specialist (doenças crónicas, patologia onco-
lógica e degenerativa entre outras)
5. Pesquisa e avanço científico
A expansão da Medicina Desportiva
Introdução Contextualização da Medicina em todo o país também estimula-
Desportiva ria a pesquisa e o avanço científico
Durante o seu mandato (2021-2023) nessa área, com a elaboração de
sentiu a direção do Colégio de A Medicina Desportiva é uma espe- artigos científicos, estudos biome-
Medicina Desportiva da Ordem dos cialidade médica que se intersecta cânicos e laboratoriais, consen-
Médicos a necessidade de objetivar com as ciências médicas e desporti- sos preventivos e terapêuticos e,
/atualizar a realidade da especia- vas, tendo como principal foco a pro- sobretudo, interação com outras
lidade e analisar a distribuição moção da atividade física e o acom- especialidades e vertentes de
geográfica e o contexto da prática panhamento médico da população apoio ao atleta.
clínica dos médicos especialistas ativa. Em Portugal é uma especiali-
em Medicina Desportiva (MD). Com dade médica reconhecida pelo Colé-
efeito, muitos dos colegas especia- gio de Especialidades Médicas desde Material e Métodos
listas dedicam-se a outra especiali- 1980. Sendo uma especialidade em
dade médica, considerada prioritá- constante evolução, atualmente tem O inquérito foi enviado e rececio-
ria, abandonaram a prática clínica passado por várias mudanças, desde nado por e-mail (entre 19/04/2022
regular da Medicina Desportiva ou, logo a reformulação do programa e 28/09/2022) a todos os médicos
infelizmente, já não estão entre nós. de formação específica e a nova especialistas em MD (n= 139; sexo
A fim de melhorarmos a qualidade designação de Medicina do Desporto e feminino = 18) e foi de participação
assistencial aos atletas e incremen- Exercício. A importância da Medicina voluntária. No total foram obtidas 74
tar ideias e programas de otimização Desportiva no contexto nacional respostas o que permitiu, após aná-
dos meios, necessitamos saber quem revela-se de reconhecida importân- lise adequada, uma visão próxima
somos, onde trabalhamos, em que cia por múltiplos fatores: da realidade da prática do exercício
regime trabalhamos. da Medicina Desportiva em Portugal.
O objetivo foi o de obter informações
sobre a distribuição geográfica e o

10 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


contexto da prática clínica dos espe- Quadro 1 – Distribuição etária dos médi-  . b) Consultas de medicina des-
3
cialistas em MD bem como traçar o cos especialistas em Medicina Desportiva portiva por mês
mapa da implantação da especiali- O censo revelou os seguintes resul-
dade em Portugal. tados em relação ao número de
consultas de MD que os médicos
especialistas realizam (Quadro 3):
Resultados
Não realizam consultas / rara-
1. Distribuição geográfica dos espe- mente: 14 especialistas
cialistas em Medicina 5-10 consultas – 12 especialistas
O censo realizado pelo Colégio de 10-30 consultas – 22 especialistas
Medicina Desportiva da Ordem 30-50 consultas – 11 especialistas
dos Médicos revelou uma dis- Acima de 50 consultas – 12 espe-
tribuição geográfica variada dos cialistas
especialistas em MD em Portugal. 3. Perfil da especificidade do traba-
Os resultados indicam que a maio- lho dos especialistas em Medicina Estes dados revelam que apenas
ria dos médicos especialistas está Desportiva 32,4% realizam mais de 30 consultas
concentrada nas áreas metropoli- 3. a) Exames médico-desportivos de medicina desportiva por mês, o
tanas de Lisboa e Porto, com 15 e por mês qual é um valor nitidamente disso-
14 especialistas, respetivamente. O censo realizado procurou obter ciado da realidade / necessidade dos
Além disso, foram identificados informações sobre o perfil de praticantes de exercício e desporto
especialistas em diversas outras trabalho dos especialistas em em Portugal.
regiões, como Almada, Amarante, Medicina Desportiva sobre o o Quadro 3 – Número de consultas de MD
Cascais, Coimbra, Matosinhos, número médio de exames médico- realizadas por mês
Viseu, Vila Nova de Gaia, Guima- -desportivos realizados em cada
rães, Pombal, Braga, Setúbal, Santa mês. Os resultados revelam os
Maria da Feira, Mafra, Espinho, seguintes valores (Quadro 2):
Ribeira Grande, Aveiro, Vila do
Conde, Barreiro, Loulé e Madeira.  ão realiza exames / raramente =
N
Constatou-se também que exis- 35 especialistas
tem especialistas portuguesas em 10-30 exames = 24 especialistas
MD localizados em países como 30-50 exames = 9 especialistas
Reino Unido e Qatar, demons- 50-100 exames = 5 especialistas
trando o reconhecimento dos Mais de 100 exames: 1 especia-
nossos especialistas. lista.
2. Perfil etário dos especialistas em
Medicina Desportiva Estes dados revelam que os
Uma análise do censo revelou a especialistas em MD realizam uma 4. c) Número médio de dias de
distribuição etária dos especialis- média mensal de exames médico- acompanhamento de equipas por
tas em Medicina Desportiva. Os -desportivos bastante baixa e que, ano
resultados indicam uma variedade face ao universo do desporto fede- O acompanhamento médico de
de faixas etárias representadas rado em Portugal, a maior parte dos atletas, individual ou coletiva-
na especialidade. As idades dos exames de aptidão para a prática mente, revela-se fundamental no
especialistas foram agrupadas da desportiva serão realizados por rendimento desportivo e preven-
seguinte forma (Quadro 1): médicos não especialistas. ção de lesões. O universo do censo
revelou que (Quadro 4.:
26-30 anos = 3 Quadro 2 – Número de exames médico- Não acompanha / raramente: 21
31-35 anos = 8 -desportivos realizados mensalmente especialistas
36-40 anos = 7 Menos de 15 dias: 11 especialistas
41-45 anos = 15 15-30 dias: 6 especialistas
46-50 anos = 3 30-60 dias: 7 especialistas
51-55 anos = 3 Acima de 60 dias: 28 especialistas
56-60 anos = 7 Mais um dado revelado pelo Censo
61-65 anos= 10 que demonstra a insuficiência em
Mais de 65 anos = 18 termos desta vertente do acompa-
nhamento regular de atletas pelos
A Amostra indica que mais de 50% especialistas em MD.
dos médicos especialistas (51,4%) têm
mais de 50 anos de idade. Se extrapo-
larmos para o universo dos 139 espe-
cialistas teremos uma percentagem
ainda mais significativa (66,9%).

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 11


Quadro 4: Número médio de dias de Contrato de prestação de serviços • a maior divulgação da especiali-
acompanhamento de equipes por ano – 12 especialistas dade junto da opinião pública e
pelos especialistas em MD Ex-Chefe de Serviço dos Hospitais outras especialidades médicas
– 1 especialista • a criação de plataforma eletrónica
Quadro de Pessoal efetivo – 1 nacional para o registo dos exa-
especialista mes médico-desportivos, resulta-
Aposentação – 3 especialistas. dos e sugestões1
• a maior interação entre especialis-
7. Constatações de interesse geral tas com atualizações científicas e
O Censo revelou ainda algumas divulgações consensos.
curiosidades interessantes no
que concerne a pós-graduações,
competências e cursos específicos Discussão
realizados pelos especialistas fora
da vertente da MD (cerca de 40%). O censo realizado pela direção do
5. Especialidades clínicas cumulati- Colégio de Medicina Desportiva da
vas dos especialistas em Medicina 7. a) Sugestões dos especialistas Ordem dos Médicos forneceu infor-
Desportiva em MD mações valiosas sobre a especia-
Além da especialidade em Medicina Na área das sugestões para melho- lidade em Portugal. Os resultados
Desportiva, muitos dos especialistas ria funcional do sistema foram destacaram a distribuição geográfica
que participaram do censo possuem indicadas: dos médicos especialistas em Medi-
formação em outras áreas médicas. • a comparticipação da consulta de cina Desportiva, os perfis etário e de
Os dados revelaram a presença de medicina desportiva pelas segura- trabalho e as especialidades comple-
especialistas em diferentes especia- doras mentares. As sugestões dos especia-
lidades, incluindo: • a criação de uma organização listas foram no sentido da melhoria
municipal para assistência médica e atualização e da criação de oportu-
Apenas Medicina Desportiva – 6 desportiva a praticantes desporti- nidades de desenvolvimento para a
especialistas vos (federados e lazer) em equipas especialidade. Com base nos resul-
Medicina Física e de Reabilitação – multidisciplinares tados, fica evidente a importância
11 especialistas • o desenvolvimento do internato da consolidação efetiva da Medicina
Ortopedia – 4 especialistas de Medicina Desportiva no Serviço Desportiva a nível nacional como
Medicina Geral e Familiar – 5 espe- Nacional de Saúde uma prioridade no apoio ao atleta,
cialistas • a atualização da regulamentação embora a escassez, disponibilidade,
Pneumologia + MGF – 1 especia- do exame médico-desportivo dispersão e quantidade de trabalho
lista • a colaboração com entidades con- realizada pelos recursos humanos
Medicina Interna – 2 especialistas gêneres, incluindo países lusófonos seja nitidamente insuficiente.
Oftalmologia – 1 especialista
Cirurgia Geral – 1 especialista
Psiquiatria – 1 especialista
de mobilizar os especialistas em
Medicina Aeronáutica – 1 especia-
Medicina Desportiva para este ato
lista
eleitoral, naquilo que terá de ser
Radiologia – 1 especialista
entendido como um sinal da vitali-
Reumatologia – 1 especialista
dade da especialidade.
Pneumologia – 1 especialista
A direção do Colégio de Medicina
Desportiva que irá exercer funções
6. Vínculo no setor público dos espe-
no próximo triénio é assim consti-
cialistas em Medicina Desportiva
tuída por:
No que concerne ao vínculo dos As eleições para as direções dos
especialistas em MD ao setor Colégios de Especialidades da · José Pedro Marques (Presidente)
público assistencial, o censo reve- Ordem dos Médicos realizaram- · Henrique Jones
lou que mais de 50% dos médicos -se entre 4 e 7 de setembro. Para · António Cruz Ferreira
especialistas não tem vínculo ao o Colégio de Medicina Desportiva · Artur Pereira de Castro
setor público: (ad probat Medicina Desportiva e · Luís Moreno
do Exercício) concorreram duas · Diogo Dias
Não vinculado ao setor público – listas: a lista A liderada pelo Dr. · José Gomes Pereira
37 especialistas José Pedro Marques e a Lista B pelo · Beatriz Cardoso Marinho
Contrato individual de trabalho – Dr. Jaime Milheiro. Numa eleição
6 especialistas muito participada, votaram 70,2% Mais informação em: https://orde-
Contrato de Trabalho em Funções dos eleitores inscritos, a lista A foi a mdosmedicos.pt/2023-relatorio-
Públicas de termo indeterminado – vencedora. Saúda-se a capacidade -diario-da-evolucao-das-estatisti-
14 especialistas que as listas candidatas tiveram cas-da-votacao/

12 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


O censo permitiu, embora com exato de especialistas necessários *Diogo Dias, Henrique Jones, José Pedro
uma amostra limitada, compreender para desenvolver estratégias de Marques (Presidente), Nelson Puga, José
a importância da determinação do implementação eficazes, sendo a Gomes Pereira, Artur Pereira de Castro,
Luís Moreno, Diana Ferreira.
número de especialistas necessá- dedicação exclusiva a esta espe-
rios para uma implantação com- cialidade uma vertente a ser enca- Os autores declaram ausência de confli-
pleta da Medicina Desportiva no rada com seriedade, atualização tos de interesse, assim como a originali-
dade do manuscrito e a sua não publi-
Serviço Nacional de Saúde, sendo permanente e equidade no acesso cação prévia. Mais declaram que não foi
que representa um desafio com aos desempenhos e compensações usado o ChatGPT para a sua produção.
múltiplos fatores, como a população adequadas.
Correspondência
atendida, a procura dos serviços de A expansão e implantação da José Pedro Marques – joseppmarques@
MD, a motivação dos especialistas, especialidade, a nível nacional, gmail.com
as infraestrutura disponíveis e a dis- são fundamentais para atender às
tribuição geográfica. De acordo com necessidades da população e garan- Bibliografia
a International Federation of Exercise tir a assistência médica ao despor-
and Sports Medicine2, é recomendado tista, especializada e abrangente. 1. Basil Ribeiro. Memorando de boas práticas
que haja pelo menos um especialista Com base nos resultados do censo para a Medicina Desportiva Portuguesa. 2015
em Medicina Desportiva para cada e nas sugestões dos especialistas, é (não publicado).
2. Neunhaeuserer D, Niebauer J, Degano G, et
10.000 a 15.000 habitantes. A moti- possível identificar áreas de melho-
al. Sports and exercise medicine in Europe and the
vação dos especialistas para áreas ria e oportunidades para fortalecer advances in the last decade. British Journal of
complementares do conhecimento e desenvolver a Medicina Desportiva Sports Medicine 2021; 55:1122-1124.
no apoio ao atleta parece transpare- em Portugal.
cer a necessidade de considerar
o envolvimento multidiscipli-
nar no apoio ao atleta, englo-
bando outros profissionais de
saúde, como fisioterapeutas,
nutricionistas e psicólogos
desportivos, entre outros, no
sentido de uma abordagem
integrada e abrangente dos cui-
dados em Medicina Desportiva.

Conclusão

A especialidade de MD desem-
penha um papel fundamental
na promoção da saúde, preven-
ção de lesões, cuidados especia-
lizados para atletas e desen-
volvimento de programas de
exercício adaptado. A presença
de especialistas em Medicina
Desportiva no setor público é
essencial para garantir o acesso
do praticante desportivo aos
serviços especializados em
todo o país. Ao setor privado,
social e associativo cabe uma
parte importante na avaliação,
monitorização e acompanha-
mento adequado dos atletas,
nomeadamente da vertente
competitiva.
A implantação completa da
Medicina Desportiva no Serviço
Nacional de Saúde requer uma
análise mais aprofundada e
abrangente das necessidades
locais e recursos disponíveis.1
Estudos adicionais são necessá-
rios para determinar o número

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 13


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):14-17. Lesões mecânicas
https://doi.org/10.23911/dermatologia_atletas_2023_nov

As lesões cutâneas mecânicas são


extremamente dependentes do tipo
Patologia Dermatológica em
Tema 3

de atividade desportiva, sendo mais


frequentes nos atletas expostos
Atletas a stress mecânico repetitivo rela-
cionado com os movimentos ou
Dr. André Teixeira1, Dr. João Teixeira2, Dr. Nuno Loureiro3-5, Dr. Jorge Fortunato3-5, Dr. João Pedro Araújo3-5 contacto com o equipamento. Entre
1
Médico Interno de Formação Específica (FE) em Medicina Física e de Reabilitação (MFR) do Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Central; 2Médico Interno de FE em Dermatologia do Centro Hospitalar
as mais frequentes destacam-se
Universitário de Coimbra; 3Especialista em MFR e Medicina Desportiva 4Médico Especialista em Medicina a bolha, o calo e o corno cutâneo.
Desportiva; 5Departamento Médico e de Performance do Sporting Clube de Portugal.
Outras entidades menos frequen-
tes, mas clinicamente relevantes,
incluem o eritema ab igne, a púr-
RESUMO / ABSTRACT pura traumática do calcâneo, as
A patologia dermatológica é comum entre atletas de elite, podendo afetar o seu desem- pápulas piezogénicas, o hematoma
penho desportivo nas diferentes modalidades. Apesar do diagnóstico dermatológico ser subungueal e o mamilo do corredor.
crucial para a instituição de um tratamento eficaz, as multiplicidades de apresentações
A bolha forma-se numa zona
cutâneas tornam-no desafiante. As estratégias para prevenção e gestão destas lesões
incluem a educação, o uso de equipamento adequado e o contacto próximo com a especia-
de elevada fricção, ocorrendo uma
lidade de dermatologia. O diagnóstico e intervenção precoces são essenciais na otimiza- separação mecânica das células da
ção do desempenho do atleta e minimização do impacto das lesões cutâneas nas suas epiderme ao nível do estrato espi-
carreiras. Apresenta-se uma revisão narrativa das principais lesões cutâneas no desporto nhoso e preenchimento com fluido
de alta competição.
seroso semelhante ao plasma. Os
Dermatological conditions are prevalent among elite athletes, affecting performance in different
locais mais frequentes são os pés,
sports. The wide range of skin disease presentations makes the diagnosis challenging, although nomeadamente no calcanhar, dedos
crucial for the implementation of effective treatment. Strategies for prevention and management of e face plantar das articulações
these lesions include education, the use of appropriate equipment, and close contact with dermatolo- metatarsofalângicas (figura 1). São
gist. Early diagnosis and intervention are essential in optimizing athlete performance and minimiz-
fatores de risco o calor e humidade
ing the impact of these diseases on their careers. This review offers an comprehensive analysis of
skin lesions among elite athletes.
persistentes e o aumento súbito de
atividade repetitiva.5,6 Existe um
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS caso descrito de bolha com conteúdo
Lesões dermatológicas, atletas, alta competição, rendimento desportivo hemático sobreposto a melanoma,
Skin disorders, athletes, elite sports, sports performance realçando a importância de suspei-
tar de patologia subjacente sempre
que a lesão tiver um aspeto atípico
ou se prolongar no tempo apesar do
Introdução em atletas universitários de wres- tratamento.7 Na ausência de solução
tling, foi relatada uma incidência de de continuidade, deve drenar-se o
A pele, pela sua função barreira, lesões cutâneas de 20,9%.3 Noutro conteúdo sem remover o teto da
funciona como interface entre o estudo realizado nos Jogos Olímpicos bolha, secar bem a pele, aplicar
corpo e o meio envolvente, par- Especiais de Verão, que incluiu 1217 penso de espuma com abertura
ticipando na proteção mecânica, atletas, a prevalência de patologia medial tipo rosca para dissipação
química, imunológica, biológica e na cutânea nos participantes foi supe- das forças de pressão e encerrar com
manutenção do equilíbrio térmico. rior (74%) com predomínio do acne, adesivo poroso. Se houver solução de
As lesões cutâneas, apesar de fre- neoplasias benignas, infeções fúngi- continuidade deve ser inicialmente
quentemente inofensivas, são muito cas, dermatite de contacto e verru- feita limpeza com soro e clorexidina
prevalentes nos desportos de alta gas. Vinte foram diagnosticados com e antes do penso de espuma deve
competição. Esta elevada preva- lesões pré-neoplásicas (19 nevos ser colocado um penso primário que
lência associa-se a fatores de risco, atípicos e uma queratose actínica), favoreça a formação de tecido de
como tempo e tipo de atividade, um basalioma e um melanoma, granulação. A fase final de cicatri-
ambiente, trauma, contacto repetido demonstrando a baixa incidência, zação pode ser feita ao ar livre ou
entre atletas, sudorese e utilização mas a importância do diagnóstico e mantendo o penso desde que seja
e partilha de equipamentos. Ainda intervenções precoces.4 assegurado um ambiente seco. A uti-
que a maioria tenha uma evolução De acordo com Carr P. (2019) pode- lização de meias de acrílico pode ser
benigna, a patologia mais grave mos dividir as lesões dermatológicas benéfica na prevenção comparando
deve ser precocemente suspeitada e em três grupos de acordo com a sua com as de algodão.8 Além disso, deve
adequadamente tratada, tanto pelo etiologia: mecânicas, inflamatórias ser privilegiada a boa higiene dos
impacto que pode representar na e infeciosas.5 Este artigo pretende pés e a proteção das zonas de maior
performance global do atleta, como descrever as principais lesões pressão. Os atletas devem alternar a
pelos potenciais riscos de transmis- dermatológicas no desporto de alta utilização das novas sapatilhas com
são para os restantes elementos da competição. as prévias, especialmente com novos
equipa.1,2 Num estudo levado a cabo modelos.

14 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


O calo também surge em zonas do pé (figura 4). Aliviam com a ele- imediatamente após o contacto,
de elevada fricção e caracteriza-se vação do membro e no caso excesso devido a lesão direta dos querati-
por uma pápula ou placa hiperque- de peso pode haver benefício com a nócitos. A alérgica depende de uma
ratósica (figura 1). O corno cutâneo perda ponderal. Afetam frequente- resposta imunomediada através
diferencia-se por apresentar habi- mente indivíduos obesos e atletas, das células T CD4+ e desenvolve-
tualmente menores dimensões, área nomeadamente corredores de longas -se horas a dias após exposição,
central endurecida e palpação mais distâncias. Podem ser uma manifes- necessitando de sensibilização
dolorosa. Localiza-se frequente- tação da síndrome de Ehlers-Danlos prévia. O diagnóstico de DC é clínico,
mente sobre proeminências ósseas. e Prader Willi.11 No caso de excesso caracterizando-se clinicamente por
O tratamento é semelhante para de peso pode beneficiar-se de perda placas eczematiformes, frequen-
ambos e preconiza a utilização de ponderal. temente pruriginosas. Contudo, a
queratolíticos tópicos, como ácido O hematoma subungueal apre- realização de testes epicutâneos é
salicílico ou ureia. Alternativamente, senta-se como uma área de hemor- essencial no estudo complementar
pode ser feito o desbridamento ragia localizada ao leito ungueal permitindo identificar os alergénios
mecânico da lesão. (figura 5). Pode designar-se, de acordo responsáveis nos casos de DC alér-
O eritema ab igne é uma reação com o desporto, como dedo do gica. São exemplos de DC irritativa
cutânea relacionada com a expo- tenista, do golfista ou do esquiador, a exposição a determinados quími-
sição crónica ao calor local, apre- envolvendo com maior frequência cos na água da piscina, materiais
sentando-se como uma mancha a mão da pega da raquete / taco, constituintes da sapatilha ou tinta
eritematosa a hiperpigmentada de causado por trauma repetido. O tra- das marcas do campo de jogo. As
conformação reticulada (figura 2). As tamento implica ajuste do grip, dimi- DC alérgicas associam-se frequen-
lesões são assintomáticas e, se pre- nuição da exposição ao mecanismo temente a exposição a peróxido
cocemente identificadas, a evicção traumático e drenagem precoce do benzoílo, fenolformaldeído e tiureias
da exposição à fonte térmica pode hematoma se houver dor associada. presentes nos óculos de natação,
levar à resolução completa.9 Se a dor for desproporcional, deve mercaptobenzotiazol presente em
A púrpura traumática do calcâ- excluir-se fratura. Se associado a algumas toucas, a plantas presen-
neo, também conhecida por talon lesão de tecidos moles ou neurovas- tes em relvados de relva natural, a
noir, afeta sobretudo adolescentes e cular, envolver mais de 50% da área materiais das bolas de basquetebol
jovens adultos e apresenta-se como do prato ungueal ou dor persistente de exterior, a diamina isoforona
uma mácula ou mancha negra deve ser observado em urgência presente em raquetes, a fibra de
localizada à porção superoexterna hospitalar.12 vidro dos tacos e resinas de epóxido
do calcanhar que surge no contexto e formaldeído nos equipamentos
de hemorragia intracórnea e sube- de hóquei. O tratamento assenta na
pidérmica (figura 3). Deve ser feito Lesões inflamatórias evicção dos alergénios identificados
diagnóstico diferencial com mela- nas formas alérgicas e, do ponto
noma e avaliado por dermatologia Uma das lesões inflamatórias mais de vista sintomático, corticoterapia
em caso de dúvida. Não necessita de comuns é a dermatite de contacto tópica e emoliente. Na face, pregas e
tratamento específico.10 (DC)13, podendo ser irritativa ou região genital preferir corticoides de
As pápulas piezogénicas resultam alérgica de acordo com a etiologia e baixa potência e no restante tegu-
da herniação de tecido adiposo sub- focal ou generalizada de acordo com mento podem utilizar-se corticoides
dérmico causado pela carga exces- a apresentação. A DC irritativa é a de média e alta potência.14
siva, localizando-se na face lateral mais prevalente, desenvolvendo-se Existem inúmeras lesões

Figura 1 – Calo da base Figura 2 – Eritema ab igne Figura 3 – Púrpura trau- Figura 4 – Pápulas piezo- Figura 5 – Hematoma
do 1.º metatarso e bolha do membro inferior mática do calcâneo génicas do calcâneo subungueal do hálux
em resolução na face
interna da articulação
metacarpofalângica

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 15


relacionados com a exposição solar O impetigo não bolhoso apresenta- predominantemente zonas de maior
aguda ou crónica. É extremamente -se com pápulas que evoluem para pressão da planta do pé, particu-
importante caracterizar a lesão, pústulas que, após rutura, apresentam larmente o calcâneo e o antepé.
bem como a sua distribuição. A crosta melicérica.5,16 Afeta a epi- Associa-se a proliferação de espécies
mais frequente, a queimadura solar, derme e é causado por estafilococos Corynebacterium, pelo que o trata-
de evolução aguda, exige proteção e estreptococos. A transmissão ocorre mento preconizado inclui manter
e hidratação da zona afetada. No através de contacto direto com a pele a região afetada seca, com recurso
caso de suspeita de erupção solar lesada. O diagnóstico é clínico, ainda a anti-transpirante se necessário,
polimorfa, urticária solar, porfirias, que possa ser necessário recorrer a e aplicação de mupirocina. O caso
lúpus eritematoso, telangiectasia cultura de lesão para identificação do refratário pode beneficiar de clinda-
actínica, poiquilodermia, lesões pré- micro-organismo. O tratamento, nos micina ou eritromicina orais.20-21
-malignas (p. ex. queratoses actíni- casos ligeiros, inclui limpeza e aplica- O eritrasma apresenta-se sob a
cas) ou neoplasias malignas (carci- ção de ácido fusídico ou mupirocina forma de placas finas de tonalidade
noma basocelular, espinhocelular, tópica, 2 a 3 vezes por dia, durante 5 a vermelha a acastanhada de limites
melanoma ou outros) devem ser 7 dias.17 Nos casos graves ou refratá- bem definidos e, ocasionalmente,
referenciadas a dermatologia.1-3,5,6 rios preconiza-se a flucloxacilina oral descamativas com distribuição nas
A exposição a temperaturas ou cefalosporina de 1ª geração. Deve regiões intertriginosas. Causado pelo
extremas é outra causa ou fator evitar-se a partilha de vestuário, toa- Corynebacterium minutissimum, é mui-
agravante frequente de patologia lhas e equipamentos. As feridas aber- tas vezes confundido com tinha.4,15
cutânea. Elevadas temperaturas tas devem ser desinfetadas, seguido de O tratamento inclui ácido fusídico
podem originar desequilíbrios tratamento com antibioterapia tópica tópico duas vezes por dia durante
hidroeletrolíticos e térmico graves, e colocação de penso até resolução. 14 dias nas formas ligeiras ou, em
resultando em exaustão, golpe de A foliculite bacteriana consiste alternativa, perante formas extensas
calor, cãibras ou síncope. No caso na inflamação da porção superficial ou refratárias, claritromicina oral ou
de hiperhidrose, caracterizada por do folículo piloso e apresenta-se sob eritromicina oral, uma vez por dia
sudação excessiva, preconiza-se a a forma de pápulas e pústulas de durante 14 dias.22
utilização de roupa não oclusiva e distribuição folicular, mais frequente A verruga vulgar é uma lesão
anti-transpirantes à base de sais de na região axilar, tronco, barba e causada pelo vírus do papiloma
alumínio com ≥20% de concentra- couro cabeludo ou região púbica humano.5,16 Pode ser única ou
ção. Outras alternativas incluem após depilação5,16. O agente mais fre- múltipla e afeta mais frequente-
iontoforese, particularmente em quentemente envolvido é o estafilo- mente as mãos e os pés, antebraços
localização acral, ou injeção local cocos aureus. Por vezes, a pseudomo- e face, associando-se por vezes a
de toxina botulínica a nível axilar nas aeruginosa é o micro-organismo dor incapacitante quando locali-
ou palmar. Por vezes o suor, que é causal no contexto de exposição a zada em áreas de pressão ou apoio
fisiologicamente incolor, pode assu- jacuzzis ou saunas, sendo habitual- (figura 6). O diagnóstico é clínico e o
mir outra tonalidade (cromidrose), mente autolimitada neste contexto. tratamento de primeira linha inclui
devendo ser investigado.1-3,5,6 São fatores de risco a fricção, calor a aplicação diária de ácido salicílico
A exposição ao frio também pode e humidade. Nos casos ligeiros pode ou imunomodeladores tópicos, com
associar-se a inúmeras lesões cutâ- haver resolução espontânea. Nos ou sem oclusão, e desbridamento
neas, entre as quais: eczema astea- casos sintomáticos deve aplicar-se periódico do componente hiperque-
tósico, eritema pelo frio, acrocianose, ácido fusídico ou mupirocina três ratósico. Se refratário, referenciar
perniose, livedo reticular, fenómeno vezes por dia, durante 5 a 7 dias ou, a dermatologia. Como prevenção
de Raynaud, paniculite induzida pelo em casos extensos ou refratários, deve evitar-se a partilha de vestuário
frio e urticária induzida pelo frio. antibioterapia oral de acordo com o e calçado e partilha de objetos de
Perante persistência das lesões após agente causal suspeito.18 Em casos higiene.
evicção ao frio e medidas de aqueci- selecionados, a epilação pode ser
mento local, ponderar referenciação feita com intuito preventivo.
à dermatologia.1-3,5,6 O furúnculo apresenta-se como
um nódulo eritematoso e doloroso
relacionado com o folículo piloso,
Lesões infeciosas frequentemente e com flutuação
à palpação. É mais frequente em
Estas lesões podem subdividir-se em áreas de pregas, trauma ou fricção.
três grandes grupos de acordo com Os casos ligeiros necessitam apenas
a etiologia: bacterianas, víricas ou de aplicação de compressas quentes
fúngicas. Num estudo feito em atle- e antibiótico tópico. Nos casos mais
tas universitários dos Estados Unidos graves pode ser necessária drenagem Figura 6 – Verruga vulgar periungueal do
foi encontrada uma incidência de cirúrgica e antibioterapia oral.19 polegar
2,27/100000 infeções, predominante- A queratólise punctata é uma
mente bacterianas (60,6%) e fúngicas lesão que se relaciona com hiperhi-
(28,4%), sendo as modalidades mais drose e apresenta um cheiro O molusco contagioso apresenta-
afetadas o wrestling e o futebol.15 fétido característico.5,16 Afeta -se sob a forma de pápulas lisas

16 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


e brilhantes, hipopigmentadas a tendência para a resolução central.5-16 Bibliografia
esbranquiçadas, de aspeto cupulifor- O risco de infeção aumenta em
mes e com centro umbilicado (figura ambientes com elevada humidade, 1. Adams BB. Dermatologic disorders of the ath-
7).5,16 É causado por vírus da família ocorrendo contaminação em recin- lete. Sports Med. 2002; 32(5):309-21.
2. Liebich C, Wegin VV, Marquart C, Schubert
poxvirus, afeta frequentemente o tos fechados, balneários, piscinas e
I, von Bruehl ML, Halle M, Oberhoffer R,
tronco, axilas e membros. O trata- uso de toalhas ou vestuário conta- Wolfarth B. Skin Diseases in Elite Athletes. Int
mento é por norma prolongado e minado. Podem ocorrer no couro J Sports Med. 2021 Dec; 42(14):1297-1304.
inclui aplicação diária de hidróxido cabeludo, unhas, pés ou restante doi: 10.1055/a-1446-9828. Epub 2021 May
de potássio 5% ou imiquimod tópico. tegumento. A tinha pedis inter- 11. PMID: 33975368.
3. Fleischer AB Jr, Feldman SR, Lupton FA,
Alternativamente, pode fazer-se digital, a mais frequente, implica
Holden HR. 1999 Special Olympics World
crioterapia ou curetagem.23 Os atle- aplicação tópica de um antifúngico Summer Games: dermatologic health screening
tas não devem competir nas modali- azólico durante quatro semanas. results. J Am Acad Dermatol. 2001 Apr;
dades que envolvam contacto físico Na onicomicose está indicado nas 44(4):700-3. doi: 10.1067/mjd.2001.112459.
ou partilhar vestuário na presença formas localizadas ou que afetam PMID: 11260553.
4. Yard EE, Collins CL, Dick RW, Comstock RD.
de lesões ativas. poucas unhas a aplicação de verniz
An Epidemiologic Comparison of High School
antifúngico de ciclopirox a 8% ou and College Wrestling Injuries. The American
amorolfina a 5%, com duração de 6 Journal of Sports Medicine. 2008; 36(1):57-
a 12 meses. Nos casos mais exten- 64. doi:10.1177/0363546507307507
sos ou refratários preconiza-se a 5. Carr PC, Cropley TG. Sports Dermatology:
Skin Disease in Athletes. Clin Sports Med.
terbinafina ou itraconazol oral com
2019 Oct; 38(4):597-618. doi: 10.1016/j.
duração de 6 a 12 semanas, caso se csm.2019.06.001. PMID: 31472769.
localize nas mãos ou pés, respetiva- 6. Heymann WR. Dermatologic problems of
mente.26 the endurance athlete. J Am Acad Derma-
A pitiríase versicolor é uma micose tol. 2005 Feb; 52(2):345-6. doi: 10.1016/j.
jaad.2004.10.869. PMID: 15692482.
cutânea superficial causada pelo
7. Vogt T, Brunnberg S, Hohenleutner U, et
Pityrosporum. Apresenta-se sob a al. Bullous malignant melanoma: an unusual
Figura 7 – Molusco contagioso localizado
ao tronco
forma de máculas ou manchas que differential diagnosis of a hemorrhagic friction
podem ser hipocrómicas, acasta- blister. Dermatol Surg. 2003; 29(1):102-4.
O herpes simplex (HSV) apre- nhadas ou eritematosas, atingindo 8. Herring KM, Richie DH Jr. Friction blisters and
sock fiber composition. A double-blind study. J
senta-se sob a forma de vesículas predominantemente o tronco.5,16 O
Am Podiatr Med Assoc. 1990 Feb; 80(2):63-
sobre base eritematosa (figura 8).5,16 diagnóstico é clínico e trata-se com 71. doi: 10.7547/87507315-80-2-63. PMID:
Causado frequentemente pelo antifúngico tópico do grupo dos 2304016.
HSV-1, pode transmitir-se através imidazois. O tratamento deve ser 9. Chan C-C, Chiu H-C. Erythema Ab Igne. N
do contacto direto com outras áreas realizado durante duas semanas na Engl J Med. 2007; 356(9):e8.
10. Urbina F, León L, Sudy E. Black heel, talon noir
corporais, como é o caso da face e formulação em creme ou, em alter-
or calcaneal petechiae? Australas J Dermatol.
pescoço nos desportos de combate nativa, durante três dias na formula- 2008 Aug; 49(3):148-51. doi: 10.1111/j.1440-
(herpes gladiatorum). O diagnóstico é ção em champô.27 -0960.2008.00454.x. PMID: 18638222.
clínico e o tratamento na primoinfe- 11. Inamadar AC, Palit A. Cutaneous signs in
ção inclui valaciclovir oral.25 heritable disorders of the connective tissue.
Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2004 Jul-
Conclusão
-Aug; 70(4):253-5. PMID: 17642631.
12. Simon RR, Wolgin M. Subungual hematoma:
As lesões cutâneas são muito fre- association with occult laceration requiring repair.
quentes nos atletas de alta compe- Am J Emerg Med. 1987 Jul; 5(4):302-4. doi:
tição, relacionando-se tanto com 10.1016/0735-6757(87)90356-1. PMID: 3593496.
13. Kockentiet B, Adams BB. Contact dermati-
fatores de risco individuais como
tis in athletes. J Am Acad Dermatol. 2007;
com diferentes atividades e ambien- 56(6):1048-55.
tes desportivos. A equipa técnica e o 14. Azizi N, Maibach HI. Are Topical Cor-
atleta devem estar alertas para estas ticoids Efficacious in Acute Irritant Der-
condições, permitindo a identifica- matitis: The Evidence. Dermatitis. 2020
Jul/Aug; 31(4):244-246. doi: 10.1097/
ção e tratamento precoces, funda-
DER.0000000000000574. PMID: 32665512.
mentais para minimizar o impacto 15. Ashack KA, Burton KA, Johnson TR, Currie
destas lesões na performance DW, Comstock RD, Dellavalle RP. Skin
desportiva. infections among US high school athletes:
A national survey. J Am Acad Dermatol.
Os autores negam a ausência de conflitos
Figura 8 – Herpes simplex do membro 2016 Apr; 74(4):679-84.e1. doi: 10.1016/j.
de interesse, assim como a originalidade
inferior. jaad.2015.10.042. Epub 2016 Feb 2. PMID:
do manuscrito e a sua não publicação
26850656.
As dermatofitoses são extrema- prévia. Não foi utilizado o ChatGPT para
16. Adams BB. Skin infections in athletes. In: Hall
mente prevalentes em atletas e a sua produção.
BJ, Hall JC, editors. Skin infections: diagno-
apresentam-se com placas erite- Correspondência sis and treatment. Cambridge Medicine.
André Teixeira – andrefjteix@gmail.com 2009; p. 238-46.
matosas pruriginosa, de confor-
mação ovalada a serpiginosa, com Restante Bibliografia em:
bordo descamativo e elevado, com https://revdesportiva.pt/conteudos/

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 17


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):18-20. https://doi.org/10.23911/tendionop_gluteos_2023_nov 3. os tendões dos músculos
a) piriforme,
b) obturador externo e
c) obturador interno inserem-se
A Tendinopatia dos Músculos
Tema 4

na faceta medial.
Existem ainda três bursas –
Glúteos Médios e Mínimo subglútea mínima, subglútea média
e subglútea máxima (figura 2).
Dra. Patrícia Pires1, Dr. Marco Pato2, Dr. Pedro Beckert3 Os músculos glúteos médio e
Interna de Formação Específica de Ortopedia; 2Assistente Hospitalar de Ortopedia: 3Diretor de Serviço de
1

Ortopedia. Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca. Amadora


mínimo são os músculos abdutores
primários da anca, situando-se
profundamente à subglútea máxima
RESUMO / ABSTRACT (bursa trocantérica), e são também
A dor na área do grande trocânter é um problema clínico frequente, que pode ser secundá- rotadores internos através das suas
rio a várias patologias intra e peri-articulares. A tendinopatia dos músculos glúteos médio fibras anteriores, e rotadores exter-
e mínimo é uma das principais causas de dor trocantérica, apesar de pouco reconhecida.
nos pelas suas fibras posteriores.5
É comum nos atletas, especialmente nos corredores. O diagnóstico requer elevado grau de
suspeição, bem como uma adequada anamnese, exame objetivo e investigação comple-
A síndrome trocantérica dolorosa é
mentar. A tendinopatia, enquanto síndrome clínica de dor e disfunção de um tendão, é geralmente atribuída a tendinopatia
muitas vezes uma condição crónica e um enigma. O tratamento é um desafio, não exis- e/ou bursite dos tendões dos múscu-
tindo ainda um consenso baseado na evidência disponível. los glúteos médios e mínimo).6,7

Pain around the greater trochanter is a frequent clinical problem that may be secondary to a variety
of either intra-articular or periarticular pathologies. Medium and minimus gluteal tendon patholo-
gies are one of the primary causes of trochanteric pain, despite being still underrecognized. It is Epidemiologia
usual in athletes, especially runners. The diagnosis requires an high suspicion degree, as well as an
adequate anamnesis, objective examination and complementary investigation. Tendinopathy as a
A tendinopatia glútea é a causa mais
clinical syndrome and tendon disfunction, is often a chronical condition and an enigma. Treatment is
frequente de dor na região do grande
a challenge, since there isn´t a consensus founded on available evidence.
trocânter.6 A taxa de incidência varia
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS de 1.8 a 3.29 casos/1000 pessoas-ano.5,8 A
Tendinopatia, dor trocantérica
incidência da dor trocantérica parece
Tendinopathy, trochanteric pain estar a aumentar nos jovens9, mas o
pico ocorre entre a 4ª e a 6ª décadas
de vida.10 É tipicamente unilateral e
Introdução o local de inserção de cinco tendões mais comum em mulheres (propor-
musculares (figura 1): ção aproximada de 3:1) de meia-
A dor à volta do grande trocânter é 1. o tendão do músculo glúteo -idade ou idosas. A obesidade e a
um problema clínico comum que mínimo insere-se na faceta ante- alteração da marcha são fatores pre-
pode ser secundário a uma mul- rior do grande trocânter e tipica- disponentes.11,12 A elevada prevalên-
titude de etiologias intra ou peri- mente tem forma triangular; cia nas mulheres relaciona-se com a
-articulares1, que incluem trauma, 2. o tendão do músculo glúteo médio sua configuração pélvica. Por outro
osteonecrose, infeção, fraturas de insere-se nas facetas súpero-late- lado, para além do macrotrauma
stress do colo femoral, dor irradiada ral (porção principal, forte, arre- direto, os atletas que fazem adução
da coluna, neuropatias por apri- dondada) e lateral (porção fina); das ancas para além da linha média
sionamento, bursite trocantérica e também estão predispostos: particu-
tendinopatias dos músculos glúteos larmente, os corredores de
médio e mínimo. Será sobre esta estrada expostos a fricção
última que vamos incidir. A patolo- aumentada sobre o grande
gia tendinosa glútea é uma das cau- trocânter e a banda ilioti-
sas mais frequentes de dor lateral da bial podem desenvolver a
anca.2,3 O ângulo através do qual o síndrome de dor trocanté-
tendão se aproxima da entese afeta rica no lado mais perto da
as forças de tensão e de compressão margem da estrada devido
no tendão. Desta forma, o grau de à inclinação desta para
coxa vara pode predispor ao desen- drenagem.10 A síndrome
volvimento da síndrome dolorosa do dolorosa do grande trocân-
grande trocânter.4 Assim, a avaliação ter associa-se a maior grau
da síndrome dolorosa do grande de disfunção, com menor
trocânter ou da dor lateral da anca tolerância para a atividade
depende da compreensão da anato- física e reduzida qualidade
mia regional dessa região, que inclui de vida13, contudo as tendi-
todas as estruturas exteriores à cáp- nopatias ocorrem tanto em
sula articular. A mais profunda des- Figura 1 – Inserções musculares na região trocanté- atletas como em populações
tas estruturas, o grande trocânter, é ricaa) sedentárias, apontando para

18 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


uma etiologia multifatorial.4 A adi- neurogénica fora do tendão, no inferiores tem alta sensibilidade e
posidade parece ser um fator subes- seu ambiente.14 Os microtraumas um valor preditivo de 100% para
timado para o desenvolvimento de múltiplos levam à degeneração dos achados em ressonância.17 O sinal
todas as tendinopatias4, apontando tenócitos e à matriz extracelular, de Trendelenburg é muito sensível
para um mecanismo sistémico em culminando na falha de maturação para a deteção de rutura do mús-
vez de uma fisiopatologia centrada ou remodelação em tendão normal. culo glúteo médio confirmada por
apenas na sobrecarga mecânica. A porção anterior do tendão do ressonância magnética.18 A palpação
médio glúteo é a mais frequente- direta dolorosa do grande trocânter
mente afetada e só uma minoria de tem um valor preditivo positivo de
doentes tem alterações do glúteo 83% para achados positivos compa-
mínimo.2,15 tíveis em ressonância magnética.17
O membro contralateral deve ser
testado para comparação basal de
Testes clínicos força e avaliação da simetria.19

A rotação externa passiva com a


anca fletida a 90° é frequentemente Diagnóstico diferencial
a única manobra dolorosa durante
o exame clínico da anca. A dor na A tendinopatia glútea e a bursite
abdução e rotação interna da anca trocantérica estão incluídas na
Figura 2 – Vista anterior das bursas da contra resistência têm sensibilidade síndrome dolorosa do grande trocânter.20
região trocantérica esquerda1 de apenas 72.7% e 54.5%, respe- Uma vez que a banda iliotibial e os
tivamente.16 O teste de equilíbrio dermátomos lombares se sobrepõem
com uma perna tem sensibilidade anatomicamente, os sintomas de
Fisiopatologia de 100% e especificidade de 97.3%, tendinopatia do músculo médio
enquanto que a rotação externa glúteo também podem mimetizar
Tem sido demonstrado que a ten- resistida na posição supina apenas os sintomas de radiculopatia lom-
dinopatia é primariamente uma tem 88% e 97.3%, respetivamente bar.21 Contudo, a dor do grande
condição degenerativa dentro do (a sensibilidade aumenta para 94% trocânter não se estende para além
tendão, designada por hiperplasia se for feito na posição de pronado da tíbia proximal e a dor radicular
angiofibroblástica (presença de quando o resultado é negativo em lombar não é reproduzida com a
fibroblastos, hiperplasia vascular supino).16 A dor que inicia em 30 pressão sobre o grande trocânter.9,21
e desorganização de colagénio) e, segundos após a posição ortostá- O diagnóstico de bursite trocanté-
secundariamente, uma inflamação tica com carga num dos membros rica é essencialmente clínico e é

Surpreenda-se com o Extra em Tecnologia e Funcionalidade

JuzoFlex
Genu Xtra ⋅ Perfeição no Detalhe
Máximo conforto com rebordos de compressão minimizada, zona de
descompressão na região popliteia e anel rotuliano ergonómico

juzo.de/x-choice Freedom in Motion

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 19


importante salientar-se que a infla- sintomático da dor por mais tempo, física, desconforto à palpação,
mação da bursa pode não ocorrer.22,23 apesar de não se saber qual o tipo, edema e diminuição da performance
a dose, a intensidade de exercícios desportiva. O tratamento conserva-
mais adequados. O foco deve incidir dor é eficaz e deve ser considerado
Meios complementares de sobre a evicção de cargas compres- como primeira linha de abordagem
diagnóstico sivas sobre os tendões glúteos.3 A nas tendinopatias. As intervenções
injeção com corticosteroides (metil- ecoguiadas parecem ser seguras e
Os achados radiográficos em prednisolona 40-80 mg ou triamci- promissoras, sendo ainda necessária
doentes com sintomas clínicos de nolona 40 mg misturados com 5-10 maior evidência científica.
síndrome da dor trocantérica são ml de lidocaína 1%, sobre a área Os autores declaram ausência de
habitualmente normais, mas outras dolorosa até três vezes, com inter- conflitos de interesses, assim como a
causas potenciais podem ser excluí- valos de três meses) é frequente- originalidade do manuscrito e a sua não
das, como a osteoartrose da anca, mente a segunda linha terapêutica, publicação prévia. Não foi utilizada a
o conflito femoroacetabular e as podendo ser uma ajuda diagnóstica inteligência artificial (ChatGPT) para a
produção do texto.
fraturas de stress ou de avulsão. As na ausência de melhoria sintomá-
calcificações adjacentes ao grande tica.1 É de realçar que a evidência Correspondência
trocânter podem estar presentes em mais recente sugere que a injeção Patrícia Pires
patriciapires19@hotmail.com
até 40% dos doentes com síndrome de corticosteroide diretamente sobre
trocantérica.5 Todavia, estas são um tendão pode ter efeitos deleté-
consideradas achados inespecíficos, rios.14 Por outro lado, os anestésicos
Bibliografia
visto que não é claro se estas se podem ser tóxicos aos tenócitos: a
localizam na inserção dos tendões bupivacaína é o mais tóxico e o seu
1. Kidanu D, Rowbotham E, Grainger AJ,
dos músculos glúteos ou dentro da uso em procedimentos sobre ten- Robinson P, Bolton WS. Greater trochanteric
bursa.22 dões é desaconselhado. pain syndrome. InnovAiT Educ Inspir Gen
Ecograficamente a tendinopatia Na tenotomia percutânea pensa- Pract. 2017; 10:39-44.
caracteriza-se pela perda da arqui- -se que o processo degenerativo 2. Redmond JM, Chen AW, Domb BG. Greater
Trochanteric Pain Syndrome. J Am Acad
tetura fibrilhar e pela hipoecogeni- crónico é convertido em agudo com
Orthop Surg. 2016; 24:231-240.
cidade e espessamento dentro dos a presença de fatores de cresci- 3. Mellor R, Grimaldi A, Wajswelner H, Hodges
tendões glúteos.24 O aumento do mento inflamatórios que promovem P, Abbott JH, Bennell K, Vicenzino B. Exercise
fluxo doppler compatível com a neo- a regeneração do tendão. O princí- and load modification versus corticosteroid injec-
vascularização inflamatória não é pio está em usar uma agulha para tion versus «wait and see» for persistent gluteus
medius/minimus tendinopathy (the LEAP trial):
comum e as ruturas parciais podem provocar a abrasão de entesófitos/
A protocol for a randomised clinical trial. BMC
detetar-se por focos intratendinosos calficicações, estimulando a rege- Musculoskelet Disord. 2016; 17:1-17.
hipoecóicos ou mesmo anecóicos, ou neração. Há alguma variabilidade 4. Fearon AM, Stephens S, Cook JL, Smith
por defeitos no contorno do tendão.2,5 no que diz respeito ao tamanho da PN, Neeman T, Cormick W, Scarvell JM. The
A ressonância tem alta sensibili- agulha (gauge 16 a 22) e o número relationship of femoral neck shaft angle and
adiposity To greater trochanteric pain syndrome
dade e baixa especificidade, dete- de passagens. A injeção de volume
in women. A case control morphology and
tando frequentemente doentes baseia-se no uso de soluções de anthropometric study. Br J Sports Med. 2012;
assintomáticos.25 As manifestações soro fisiológico para a disrupção de 46:888-892.
precoces da tendinopatia podem ser neovasos e neonervos.14 Em doentes 5. Chowdhury R, Naaseri S, Lee J, Rajeswa-
detetadas como paratendinopatias, com sintomas refratários a opção ran G. Imaging and management of greater
trochanteric pain syndrome. Postgrad Med J.
que se caracterizam pela presença cirúrgica pode revelar-se eficaz.5
2014; 90:576-581.
de sinal hiperintenso na sequência As opções cirúrgicas dividem-se na 6. Frizziero A, Vittadini F, Pignataro A,
T2 à volta do tendão normal hipoin- reparação da rutura ou na interven- Gasparre G, Biz C, Ruggieri P, Masiero S,
tenso, devido ao edema do tecido ção sobre causas refratárias de dor Frizziero A. Conservative management of ten-
mole paratendinoso. A ressonância é, lateral da anca, como a libertação da dinopathies around hip Corresponding author:
Muscles Ligaments Tendons J. 2016; 6:281-292.
para muitos, o gold standard imagioló- banda ilio-tibial.26
7. Khoury AN, Brooke K, Helal A, Bishop B,
gico para a síndrome de dor trocan- Erickson L, Palmer IJ, Martin HD. Proximal
térica, uma vez que deteta patologia iliotibial band thickness as a cause for recalci-
óssea e de tecidos moles.5,18 Conclusões trant greater trochanteric pain syndrome. J Hip
Preserv Surg; 2018; 5:296-300.
8. Albers S, Zwerver J, van den Akker-Scheek
A tendinopatia é uma causa impor-
I. Incidence And Prevalence Of Lower Extre-
Tratamento tante de dor musculoesquelética mity Tendinopathy In The General Population:
e de disfunção. A compreensão da Abstract 7 Table 1. Br J Sports Med. 2014;
O tratamento conservador inicial tendinopatia enquanto condição 48:A5.1-A5.
consiste no repouso, modificação degenerativa poderá levar a melhor 9. Kingzett-Taylor A, Tirman P, Feller J, McGann
W, Prieto V, Wischer T, Cameron J, Cvitanic
de atividade, perda de peso, alon- gestão do tratamento e prevenção
O, Genant H. Tendinosis and Tears of Gluteus
gamento, fisioterapia e medica- no atleta. Apesar da capacidade dos Medius and Minimus Muscles as a Cause of Hip
ção com anti-inflamatórios não- tendões se adaptarem à carga, o Pain: MR Imaging Findings. AJR; 1999; 1123-1126.
-esteroides. Não há evidência clara seu uso repetitivo resulta frequen-
quanto ao método mais eficaz, mas temente em lesões, que se caracte- Restante Bibliografia em:
a fisioterapia parece levar ao alívio rizam pela dor durante a atividade https://revdesportiva.pt/conteudos/

20 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):21-23. https://doi.org/10.23911/Aspetar_women_2023_nov
PUSHING FOR A CHANGE IN
ASPETAR – Women’s Football WOMEN’S SOCCER
FROM THE UNITED STATES SOCCER
Instituição

– Written by José M. Oliva-Lozano, Celeste Dix, Rick Cost, Frank Wijbenga,


Dr. Basil Ribeiro
George Chiampas, USA
Medicina Desportiva, V N Gaia

A Aspetar é uma instituição


médico-desportiva, sediada no
FROM OUR GUEST EDITORS “... Por exemplo, a federação (U.S.
Soccer Federation) aprovou um finan-
THE (MORE) BEAUTIFUL GAME
Qatar, que pretende “ser um cen- ciamento inicial para um médico, sob
tro de referência global na medi- a responsabilidade do médico chefe,
cina desportiva”, com a missão para apoio à saúde e ao rendimento
de “assistir os atletas a atingirem mental. Este especialista supervisio-
o máximo rendimento e o poten- nará as seleções nacionais masculina,
cial total”. No seu quadro clínico feminina e jovens, ... e implementará
encontram-se muitos médicos apoio clínico através da liderança, da
de reputação internacional, de instrução, do treino, de ferramentas
várias nacionalidades, residen- “… alguns registos históricos e da tomada de conhecimento da
tes ou em regime de consultadoria. sugerem que as mulheres já jogam saúde mental... Adicionalmente a U. S.
É um local onde muitos médicos vão futebol desde que este jogo existe Soccer, nos últimos três anos, formou
estagiar, colher e partilhar o conhe- (ou algo parecido com ele). O Cuju mais de 300 treinadores em Mental
cimento, e por onde muitos médicos era um jogo muito provavelmente Health First Aid para promover a saúde
portugueses da medicina desportiva praticado por homens e por mulhe- mental como elemento de ligação à
portuguesa já passaram. A propósito res, possivelmente a nível profis- nossa cultura. O objetivo é continuar
do Campeonato do Mundo de Futebol sional, tão remotamente quanto a a construir estas plataformas de
Feminino, realizado recentemente dinastia Han na China, há mais de instrução através deste novo médico
na Nova Zelândia e na Austrália, a 2 000 anos. Também se jogavam de saúde mental. Finalmente, com
Aspetar publicou uma edição (76 anualmente jogos entre mulheres as nossas várias equipas qualificadas
páginas) intitulada Women’s Football.* na Escócia e em Inglaterra durante para o Campeonato do Mundo temos
São muitos os temas abordados, em os séculos XVIII e XIX e o jogo levado a cabo conversas à distância
várias perspetivas e de diversos auto- aumentou de popularidade no início e presenciais sobre a saúde mental
res para além de médicos, pelo que é do século XX. O auge da popu- e consciência dos eventos para as
um documento que merece ser par- laridade do futebol feminino foi nossas equipas coletivas.
tilhado e lido. O futebol feminino é atingido num jogo em Liverpool, em ... o nosso objetivo é ter um apoio
uma realidade, com crescimento que que atraiu uma multidão de 53 000 global sobre a saúde mental. Isto
se poderia considerar ser exponen- espetadores – mais que a final da permitirá que qualquer treinador
cial, pelo que a temática da mulher Taça masculina realizada no mesmo ou jogador nas seleções nacionais
futebolista deve ser de abordagem ano. Este record manteve-se por americanas tenha instrução e apoio
e estudo prioritários. Nesta edição, 98 anos. Um ano depois, a English individual.
numa primeira parte (de duas) publi- Federation Association (FA) baniu as Uma área chave que o U. S. Soccer
cam-se resumos dos vários textos. mulheres de jogarem futebol ... refe- continua a conduzir em relação à
Os conteúdos foram integralmente rindo: “o jogo de futebol é bastante saúde e segurança relaciona-se
transcritos e são da responsabilidade inadequado para as mulheres e não com a área da Lesões da Cabeça e
dos respetivos autores. A leitura inte- deve ser estimulado” ... no Brasil Concussões... limitando o cabecea-
gral posterior de cada texto é, assim, foi depois considerado ilegal, com mento nos jogos dos mais novos em
aconselhada. o apoio do Presidente da FIFA.... 2015, que é um modelo atualmente
apenas em 1971 a FA levantou final- adotado em todo o mundo...“
mente a proibição das mulheres
jogarem futebol... demorou mais 20
anos até que a FIFA organizasse o 1º
Campeonato do Mundo, na China, INTERVIEW WITH
em 1991... numa altura em que já
tinha havido 14 edições para o fute- JILL ELLIS
bol masculino. THE COACH’S PERSPECTIVE
A seleção nacional de futebol femi- – Interview by Monique Fischer, Switzerland
nino dos Estados Unidos (USNWT) é
a que tem mais sucesso no futebol “...Nós não ganhamos campeonatos
internacional, tendo ganho quatro do mundo sem a disponibilidade
campeonatos do Mundo da FIFA e da jogadora e as principais pessoas
quatro medalhas de ouro olímpicas.” responsáveis por isso são a nossa
unidade de alto rendimento em con-
junto com a nossa equipa médica...

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 21


A elevada velocidade que vemos aumentando a probabilidade de perceção da quantidade de apoio
no jogo, jogado em intensidade e efeitos adversos ao nível cognitivo e que elas poderão receber...”
frequência dos jogos... é imperativo neuropsicológico... as taxas de lesão
ter uma equipa médica que possa e a saúde da jogadora são influen-
equilibrar as exigências do envolvi-
mento com a saúde da jogadora e
ciadas por processos biológicos
e socioculturais... Recentemente CARDIOVASCULAR
tomar decisões sábias e instrutivas.
Precisas de ter confiança; confiança
o Comité Olímpico Internacional
identificou 10 domínios na saúde da
ADAPTATIONS AND
e comunicação. Eu fui muito espe- atleta para categorizar os problemas CARDIAC RISKS IN FEMALE
cífica em relação aos médicos que
eu queria que estivessem comigo na
de saúde de acordo com o estádio de
vida, biológico ou fatores ambientais FOOTBALL PLAYERS
equipa, e eles têm de ter experiência que afetam as atletas: saúde gine- AN OUTLINE OF STILL UNCHARTERED TERRITORY
e serem especialistas no fogão, o que cológica e menstrual, preconceção – Written by Carmen Adamuz, Qatar, Silvia Castelletti, Italy, and Guido
Pieles Qatar
significa que eles têm de compreen- e reprodução assistida, gravidez e
der o campo de jogo. Uma coisa é perinatal, pós-parto, menopausa,
tomar uma decisão no consultório, amamentação, saúde do chão pél- “... de acordo com um grande estudo
mas tomar uma outra decisão no vico, saúde da mama, saúde mental recente, a incidência de morte súbita
ambiente de elevada pressão à frente de ambiente desportivo. no atleta masculino é de aproximada-
de 50 mil pessoas é algo de diferente. A lesão grave é uma das razões mente de 6.8/100 000 pessoas/ano, mas
Ellis explica que a jogadora que que leva a atleta a retira-se do a incidência correta nas jogadoras de
sofre uma lesão passará por três desporto (23% a 30% das jogadoras). futebol é desconhecida. Estudos pré-
fases: estar lesionada e estar de fora, Metade das jogadoras que deixam vios mostraram consistentemente
regresso ao jogo e estar inteiramente o futebol desenvolvem osteoartrose que as atletas têm risco inferior para
nele. O segredo para passar estas cerca dos 50 anos de idade e mais a morte súbita durante o desporto
fases está na grande comunicação precocemente se sofreram lesão no que os seus colegas homens. De
entre a equipa técnica, a equipa do joelho... uma das razões é a falta de acordo com um estudo, há maior
rendimento e a equipa médica. Tem fortalecimento muscular... devido ao incidência de morte súbita de causa
de haver a noção que se deve fazer o receio de ficarem muito musculadas. arrítmica em corações estrutural-
melhor para a atleta. ... uma revisão sistemática recente mente normais em mulheres, menor
Ellis acredita que ter competência indicou que o rendimento no exercí- incidência de cardiomiopatias estru-
em fisiologia e biomecânica é um cio pode ser ligeiramente diminuído turais e, muito importante, menor
pré-requisito para trabalhar com durante o início da fase folicular do incidência de morte súbita associada
jogadoras de nível mundial... pois ciclo menstrual em comparação ao exercício. A idade média de morte
fisicamente as mulheres são funda- com as outras fases... a revisão súbita é semelhante no homem e na
mentalmente diferentes. sistemática mais exaustiva até agora mulher...
Eu digo à minha equipa: temos de realizada refere que o contracetivo ... apesar de haver poucos estudos,
tirar vantagem de cada bocado de oral poderá minimamente diminuir o a investigação é clara em que os cora-
informação que nos possa ajudar a rendimento atlético, mas a evidência ções das jogadoras têm adaptações
melhorar. não é forte para se tirarem conclu- estruturais e elétricas às exigências
O que a América faz muito e bem sões... Entre as atletas olímpicas, a do futebol diferentes às ocorridas
é a dar a oportunidade... pois o síndrome do ovário poliquístico é a no futebolista... e as adaptações
que as miúdas precisam é de uma causa mais frequente de disfunção são influenciadas pela idade, raça e
oportunidade para jogarem num menstrual, devido ao elevado nível intensidade do treino e / ou duração
ambiente seguro e alegre...” de androgénios circulantes. A menor- da carreira, entre outros fatores... As
ragia também é comum... as atletas alterações eletrocardiográficas refle-
têm taxas superiores de oligo e ame- tem e precedem as alterações mor-

LIFELONG FEMALE FOOT- norreia que a população em geral.


A prevalência e associações de
fológicas. Habitualmente, as atletas
têm menos alterações quantitativas
BALL PLAYER HEALTH AND depressão e ansiedade nas jogadoras
não é conhecida, mas um estudo
no eletrocardiograma que os atletas
(comuns são intervalo PR e QRS mais
THE IMPORTANCE OF THE reportou prevalência similar. A curtos e duração do intervalo QT

ATHLETE VOICE saúde mental pode ser influenciada


pela posição onde joga, nível do jogo
corrigido maior). Apresentam princi-
palmente inversão da onda T, geral-
– Written by Jane Thornton, Canada e da existência de conflitos... maioria mente visíveis em V1 e V2. O padrão de
dos quais com o treinador. repolarização precoce e a bradicardia
“... as jogadoras de futebol têm risco As jogadoras de futebol de elite sinusal foram os padrões eletrocar-
aumentado (duas vezes superior) de têm melhor saúde cardiovascular diogáficos decorrente do treino mais
lesão do ligamento cruzado ante- em comparação com os controlos frequentes na jogadora em relação
rior (LCA) e osteoartrose precoce no não treinados. ao jogador (estudo em futebolistas de
joelho que os seus colegas homens. As atletas referem que as suas elite nos EUA). A presença de ondas
Os riscos de concussão também envolvências têm grande impacto T invertidas nas precordiais ante-
são maiores, potencialmente na sua saúde, particularmente a riores (V1-V3) é um achado comum

22 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


na jogadora de futebol e nas atletas final do Euro em Wembley teve 87 músculos duros e tensos e sentir-se
de outros desportos, pelo que as 192 pessoas a apoiar a vitória da vulnerável à lesão... há tendência das
recomendações internacionais não equipa do Lionesse... e pela primeira jogadoras de elevado nível pontuar
aconselham investigação adicional se vez uma equipa feminina participou mais nos fatores psicológicos, como
a atleta estiver assintomática e não num jogo no Camp Nou perante um resistência mental, consciencialização
existir história familiar de cardiomio- recorde de 91 553 espetadores... e funções executivas. Têm também
patia ou de morte súbita. Pelo contrá- Como médico de equipa tu cuidas menores níveis de ansiedade... o
rio, a presença de inversão da onda T da condição física e mental e dos estado de espírito não esteve relacio-
nas derivações ântero-laterais (V3-V6) e cuidados médicos das jogadoras de nado com o rendimento...
inferiores (II, II, aVF) é menos comum futebol professionais. És responsável Na Liga dos Campeões de futebol
e obriga a investigação posterior. pela organização e funcionamento feminino, na época de 2021-22, 60%
O aumento equilibrado das dimen- da equipa médica e és o elemento das lesões correu em treino, 20%
sões do coração é também observado de contacto e de gestão dos temas foram graves, o que significa que
nas atletas, mas as dimensões abso- médicos... esta parte do trabalho não foram lesões com mais de 28 dias
lutas são inferiores às encontradas é diferente em relação às equipas perdidos, e 42% foram lesões mus-
no atleta masculino. Em contraste masculinas... culares. Respetivamente, 45%, 16% e
com estes, a espessura da parede Como fatores de risco não modi- 54% na Liga dos Campeões mascu-
ventricular esquerda (VE) raramente ficáveis (para a lesão) no futebol lina. A localização das lesões muscu-
aumenta para além das dimensões temos: a posição da jogadora, lares foram: anca/virilha – 25%; coxa
superiores encontradas na população lesão prévia, idade, sexo, genética, – 57% e perna – 11%) ... um pouco
em geral, mas tem sido encontrado contexto competitivo, interação mais de lesões traumáticas foram
aumento da espessura em atletas da calçado-solo, queixas específicas no encontradas nos jogos femininos: 54%
raça negra... ... e apenas 1% das fute- joelho na pré-temporada e especia- (homens = 58%). 71% foram lesões
bolistas excedem os 12mm da espes- lização desportiva precoce. Por outro sem contacto e 7% foram recidivas. A
sura da parede VE, pelo que um valor lado, há os fatores de risco modificá- ausência média devido a lesões ocor-
superior deve levantar a suspeita de veis que dão oportunidade para a ridas em treino foi de 22 dias e para
possível cardiomiopatia subjacente. prevenção e intervenções efetivas. as do jogo foi de 26 dias (homens; 18
A aurícula poderá estar aumentada Fatores neuromusculares e a carga e 21 dias, respetivamente). De um
nas atletas, mas de modo menos são fatores de risco modificáveis... modo geral, na Liga dos Campeões,
pronunciado em relação ao homem. A atleta de elite atual tipicamente cada jogadora perdeu 2,4 sessões de
A função sistólica VE é normal nas compete em vários torneios e treino e 0,5 jogos por mês devido a
futebolistas, apresentando valores competições internacionais. Tal lesão (1,9 e 0,6, nos homens)...
superiores aos dos futebolistas. necessita de viagens internacionais, Grandes desenvolvimentos têm sido
... Entre as futebolistas da África não apenas para efeito de competi- feitos na área da prevenção nas últi-
ocidental não foi encontrada doença ção, mas também para estágios. As mas décadas... o programa de aque-
cardíaca estrutural nas que tinham distâncias de longa distância através cimento neuromuscular 11+ é um
ondas T invertidas no ECG ou crité- de vários fusos horários expõe as programa eficaz da FIFA... para além
rio de voltagem de hipertrofia VE. viajantes à fadiga da viagem e ao jet deste, há também intervenções efica-
Ao longo dos últimos 15 anos os lag... Não são apenas os jogos fora de zes que especificamente se dirigem a
vários estudos revelaram que jogar casa e a distância da viagem que são lesões comuns, por exemplo, o exercí-
futebol a nível profissional, e tam- importantes, mas também a distân- cio nórdico para os músculos isquioti-
bém recreacional, está associado a cia a percorrer na estrada para estas biais ou o programa de fortalecimento
adaptações cardiovasculares e múl- viagens deve ser considerada... dos músculos adutores... uma revisão
tiplos benefícios para a saúde em Recentemente (2021), num estudo sistemática e meta-análise recente,
mulheres previamente sedentárias realizado apenas em jogadoras de com 11 773 jogadoras de futebol...
de todas as idades. elite foi investigada a incidência evidência de baixa qualidade, revelou
de lesões nos membros inferiores redução global e de lesões do LCA em
e a carga externa (GPS). Não foram 27% e 45%, respetivamente...

TEAM PHYSICIAN IN ELITE encontradas diferenças significati-


vas na carga da jogadora, distância
A evolução do futebol feminino tem
sido espetacular e as possibilidades e
FEMALE FOOTBALL total ou distância a alta velocidade
entre as lesionadas e as não lesiona-
oportunidades para o futuro próximo
são ainda maiores. O céu, para a joga-
– Written by Suzanne A.E. Huurman, Spain das, independentemente do tipo de dora de futebol de elite, é o limite!”
relação carga aguda / carga crónica...
“... uma das evoluções mais visí- Muitas variáveis psicológicas podem Na próxima edição:
veis é o número de espetadores influenciar o risco de lesão. Para além Football injury
· Female athlete health in women’s football
nos estádios... no Weuro 2017 nós do stress relacionado com eventos de
· ACL rehabilitation in elite female footballers
estávamos superexcitados, pois vida negativos, variáveis de personali- · Groin Pain in women’s football
o jogo esgotou e 28 127 adeptos dade e estratégias de lidar desadapta- Football podiatry
viram a equipa Orange Lionesses das, há também o stress relacionado Embracing women’s football growth at your club
tornarem-se as novas campeãs com o desporto, por exemplo, sentir
Europeias. No seguinte, em 2022, a intervalos e repouso insuficientes, *ASPETAR Sports Medicine Journal. 2023; 12:28.

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 23


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):24-25. https://doi.org/10.23911/Rodineau_2023_nov

francesas Cinésiologie e Médecine du presença assídua no Congresso


Sport, que existiam na biblioteca anual e nas sessões teórico-práticas
Homenagem

do Centro de Medicina Desportiva de infiltração do aparelho locomotor.


(CMD) do Porto, quando para ali fui
trabalhar em meados da década Obrigado Jacques
de 70. Os artigos eram sempre tão
claros e completos que, quando
acabava de os ler, ficava convencido
que já sabia tudo sobre o assunto
e que ficara preparado para bem
O Dr. Jacques Rodineau fale- examinar, diagnosticar e tratar os
ceu em 13 de outubro de 2023, pacientes que chegassem até mim
aos 87 anos. Partiu para outro com essa patologia. Em fevereiro de
Mundo, mas não nos abando- 1982, numas jornadas de ortopedia
nou. Deixou-nos a memória de no Porto, conheci o Prof. G. Saillant
belos momentos de convívio e do Hospital da Pitié (Paris), o qual
do conforto que nos dava. O seu convidei para umas jornadas de Prof. Doutor Fernando Fonseca
sorriso era discreto, mas perma- traumatologia do desporto que eu
nente, ainda o vejo hoje, e, embora queria organizar no CMD. Aceite o Muitos já o disseram e melhor que
não privasse com ele, também sorria convite, pergunto-lhe se conhecia eu, pelo que apresento um pequeno
para mim, sorria para todos. Ainda um tal J. Rodineau, que me pare- testemunho pessoal. Conheci-o atra-
recordo as excelentes palestras que cia interessante também trazer às vés dos livros que foi escrevendo ao
apresentava no grande auditório do jornadas. Com um grande sorriso, longo da sua vida profissional. Como
Hospital da Universidade de Coimbra, disse-me que eram grandes amigos, jovem interno lia-os e tinha deles a
eram ricas em sabedoria, traziam que trabalhavam juntos na trau- mesma sensação que tive, quando
muita experiência, e, nós, às cente- matologia do desporto e que seria aluno do secundário, lia os manuais
nas, no silêncio do escuro da sala, um gosto virem os dois às jornadas. de Rómulo de Carvalho, cativado
ouvíamo-lo com prazer, quão simples Em dezembro de 1982 realizaram- pela eloquência, clareza de exposi-
era aprender. Deixou-nos a tristeza -se as 1.as Jornadas de Traumatologia ção e simplicidade pedagógica. Com
da sua partida, mas deixou-nos do Desporto do CMD do Porto, que os seus livros tudo parecia simples.
também a certeza que partiu bem. decorreram ao longo de dois dias e Mais tarde, quando vinha a Portu-
Ele era oficial da Legião de Honra meio, apenas com dois palestran- gal participar nas Jornadas de Rea-
francesa e comandante da Ordem tes: G. Saillant e J. Rodineau. Sim, só bilitação em Coimbra, mais entu-
Nacional do Mérito, que bom saber os dois, algo único e irrepetível. Foi siasmado ficava ao ouvi-lo ao vivo,
que o seu saber foi importante para assim que Jacques Rodineau mudou admirando a clareza de exposição e
todos nós e que a sociedade francesa a minha vida profissional para capacidade pedagógica. Mas, maior
soube reconhecer e agradecer. Mas sempre. surpresa, foi perceber que Rodineau
para nós era também um amigo e não se limitava a ser a estrela da
um grande mestre. Ele era o médico reunião, sentava-se na plateia a
que eu gostaria de ser, era o médico assistir ao que outros apresentavam!
que falava com o paciente e o exa- Tinha para comigo palavras de con-
minava depois, que o ouvia e queria forto e de aperfeiçoamento. Logo que
compreender, que o tratava e conso- podia felicitava-me pelas apresenta-
lava. Basil Ribeiro, diretor da Revista ções, mas dava sugestões de melho-
ria, que eu bebi com entusiasmo.
Era um PROFESSOR na transmis-
Prof. Dr. João Páscoa Pinheiro
são dos seus vastos conhecimen-
Dr. Pedro Lemos Pereira tos, na disponibilidade para ouvir
e esclarecer dúvidas e mesmo no
Jacques Rodineau foi uma figura apoio a todos, numa demonstração
ímpar da medicina de reabilitação de humildade que caracteriza quem
na Europa. é GRANDE.
Em Portugal influenciou várias
gerações de médicos e muito con- Merci Jacques!
tribuiu para a implementação da
reabilitação na traumatologia do
Dr. Raul Maia e Silva desporto.
Descobri o nome de J. Rodineau Figura preponderante nas orga-
em artigos sobre traumatologia do nizações do Jornal de Reabilitação
desporto, publicados nas revistas e Traumatologia do Desporto, com

24 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Fica-nos sempre a saudade e a inspirador da objetividade. Fui leitor
recordação e a vontade de o igualar. atento dos livros que foi escrevendo
ao longo da sua vida profissional: Les
Até sempre. fratures de fadigue chez le sportif e
Les Bonnes Pratiques En Traumato-
logie du Sport continuam a merecer
as referências dos meus artigos e
palestras e, assim, o vou recordando.
Os génios não morrem nunca.

Dr. Gonçalo Borges À bientôt Professeur!

Jacques Rodineau, que dizer?


Simples SENHOR, Dr. Jacques
Rodineau.
Sim, era um homem espantoso na
excelência da sabedoria e na simpli- Dr. Henrique Jones
cidade da relação.
Recordo a forma fácil como expu- O que dizer de Jacques Rodinau?
nha com clareza e como montava os Conheci-o como jovem entusiasta
seus slides e mais tarde o powerpoint. da Medicina do Desporto numas Henrique Jones e Jacques Rodineau em
Homem simples, mas grande jornadas organizadas pelo seu grupo, 1985
como deviam de ser todos. na Balaia, no Algarve, penso que foi
Aprendi muito e tenho pena de em 1985. J. Rodineau era um médico A publicar desde 1999: obrigado
não o ter feito mais. ímpar, um génio da semiologia, um Dr. Rodineau por nos continuar a ensinar.

http://lycee-bugeaud.fr/sport/volley/pages/46_volley_asl_bugeaud_stagliano.htm

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 25


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):26-28. https://doi.org/10.23911/resumo_ESC_2023_nov
que podem ocorrer durante o exercí-
cio físico e tão indicados no quadro
2. Ao nível da competição, indica-se
que o idoso preparado e habituado
Resumo

ao exercício intenso tem risco seme-


lhante ao participante mais jovem.

2020 ESC Guidelines on sports Quadro 2 – Riscos potenciais para o idoso

cardiology and exercise in patients durante o exercício1


•Arrhythmias, increase in blood pressure,
with cardiovascular disease myocardial ischaemia
• Musculoskeletal injuries and fractures
• Muscle soreness or swollen joints
Resumos segura, referindo, inclusivamente, a • Increased risk of falls and subsequent
não necessidade de consulta médica injuries
Dr. Basil Ribeiro
Medicina Desportiva, V N Gaia
prévia, quer no início do programa,
quer aquando da progressão no nível Entretanto, a European Association
Exercise and sports in ageing1 de intensidade. As recomendações of Preventive Cardiology recomenda
para a população em geral aplicam- uma autoavaliação prévia, curta, no
É considerado idoso o sujeito com -se ao idoso. O quadro 1 indica as sentido de se averiguar a necessi-
mais de 65 anos de idade, no qual a recomendações para o exercício nos dade de observação por um clínico.
melhor condição física está asso- idosos, de acordo com a classe de Como em qualquer idade, o tipo e
ciada a menor mortalidade e a recomendação (a) e o nível de evi- as características do exercício físico
melhor estado de saúde. Tal refere-se dência científica (b). devem ser adaptados às especifici-
aos praticantes de exercício físico De acordo com os estudos indicados dades do idoso. Este deve envolver-
desde sempre, como também se no texto, apesar do risco aumentado -se no exercício de características
aplica aos que o iniciam em idades de quedas durante o exercício, não se aeróbias, para melhoria cardiorrespi-
mais avançadas, constatando-se tem verificado consequências graves; ratória, mas também nos exercícios
também melhoria na capacidade o treino de força em idosos raramente de fortalecimento muscular, funda-
cognitiva. A redução do risco de está associado a eventos adversos, mental para a prevenção da sarco-
desenvolver doença cardiovascular bem como o exercício aeróbio de penia. As prescrições gerais indicam
ou doença metabólica também está baixa ou moderada intensidade. O a prática de (mais) 150 minutos /
associada à prática do exercício físico exercício de intensidade elevada semana de exercício aeróbio, com-
nestas idades. Muito importante nas está associado a risco relativamente plementado pela prática bissemanal
idades avançadas, e relacionado com pequeno, estimando-se um evento de exercício de força para os princi-
a debilidade muscular, é o tema das cardiovascular por 100 anos de prática pais grupos musculares. Adicional-
quedas acidentais que ocorrem com de atividade física intensa. Contudo, mente, os exercícios que promovam
frequência no idoso, com consequên- refere-se que o risco é superior nas a flexibilidade e o equilíbrio são
cias desastrosas. A prática do exercí- primeiras semanas de exercício importantes (quadro 3).
cio pelo idoso proporciona bem-estar intenso, pelo que a intensidade e O quadro 4 indica as atividades
neuromuscular, fundamental para duração devem ser aumentadas pro- para os idosos de acordo com o tipo
manter o equilíbrio e evitar a queda. gressivamente nas primeiras quatro e a intensidade do exercício físico.
Nestas guidelines a ESC considera a semanas, período variável de acordo
1. Antonio Pelliccia, Sanjay Sharma, Sabiha
prática pelo idoso de exercício físico com a resposta e adaptação indivi- Gati et al. European Heart Journal. 2021;
de intensidade moderada como dual. Os potenciais riscos para o idoso 42:17-96. doi:10.1093/eurheartj/ehaa605

Quadro 1 – Recomendações para o exercício nos idosos1 Quadro 3 – Prescrição do exercício físico no idoso1
Recommendations Classa Level b
Aerobic work
Among adults aged 65 years or older who are fit • Frequency: Moderate exercise for 5 days per week or vigorous
and have no health conditions that limit their exercise for 3 days per week.
I A • Intensity: 5-6 points (for the modified 10 point Borg scale) for
mobility, moderate-intensity aerobic exercise for
at least 150 min/week is recommended.212,214,215 moderate exercise or 7-8 points for vigorous
• Duration: 30 minutes per day for moderate or at least 20 minu-
In older adults at risk of falls, strength training
tes for continuous exercise.
exercises to improve balance and coordination on I B
at least 2 days a week are recommended.201,212,214,215 Strength training (all major muscle groups)
• Frequency: at least twice a week
A full clinical assessment including a maximal
• Number of exercises: 8-10
exercise test should be considered in sedentary
IIa C • Number of repetitions: 10-15
adults aged 65 years or older who wish to partici-
pate in high-intensity activity. Exercises for flexibility and balance
Continuation of high – and very high-intensity • At least twice a week
activity, including competitive sports, may be con-
IIb C
sidered in asymptomatic elderly athletes (master
athletes) at low or moderate CV risk.

26 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Quadro 4 – Atividades físicas para os na ausência de disfunção valvular, nos 16 atletas de elite reavaliados
idosos de acordo com o tipo de exercício a VAB pode não ser detetada no três anos depois. Os autores concluí-
e intensidade1 exame clínico, mas, felizmente, os ram que o treino de alta intensidade
Age-related moderate effort activities indivíduos jovens sem disfunção e o desporto de competição poderão
• walking valvular têm bom prognóstico.3 não agravar a condição da VAB.4
• water aerobics O ecocardiograma é um bom Parece que a progressão da doença
• ballroom and line dancing
método de investigação da dimen- valvular ocorre principalmente de
• riding a bicycle on level ground or with
few hills são do ventrículo esquerdo e pos- modo independente da prática des-
• doubles tennis sui critérios dimensionais para o portiva.1
• pushing a lawn mower alargamento patológico ventricular. As recomendações para a prática
• canoeing A RMN tem a vantagem de ter mais de exercício físico são determina-
• volleyball
acuidade na avaliação da dimensão das de modo individual e têm em
Age-related intense effort activities
e da função ventricular, assim como consideração o grau de estenose e
• jogging or running pode detetar eventuais cicatrizes no de regurgitação aórtica, assim como
• aerobics
ventrículo.3 o tamanho da raiz da artéria aorta,
• swimming fast
• riding a bicycle fast or on hills singles
Atualmente não há certeza de que para além da eventual existência de
tennis o exercício físico seja causa de pro- sintomas e da função ventricular.5
• football gressão da doença.2 A ESC refere que Os atletas de elite com VAB com
• hiking uphill não existe evidência se o exercício dilatação ligeira a moderada pode-
• energetic dancing
intenso acelera a dilatação da raiz rão participar no exercício cardio-
• martial arts
da aorta a longo prazo. Refere um vascular de elevada intensidade,
Muscle-strengthening activities
estudo, publicado em 2019, no qual sem consequências negativas, mas
• carrying or moving heavy loads
não foram encontradas diferenças estão obrigados à realização de eco-
• groceries activities that involve stepping
and jumµµping
nos diâmetros aórticos entre atletas cardiograma de acompanhamento.4
•dancing e não atletas com VAB.4 A regurgita- As diretrizes da ESC (2020) refe-
• heavy gardening, such as digging or ção aórtica foi identificada, mas não rem que os sujeitos assintomáticos
shovelling foi detetada progressão significativa com ligeira a moderada regurgitação
• exercises that use your body weight for
resistance, such as push-ups or sit-ups
Recommendations for participation in recreational/leisure-time sports in asymptoma-
• yoga
tic individuals with aortic regurgitation
• pilates
• lifting weights Aortic regurgitationc
Recommendation Classa Levelb
1. European Society of Cardiology. 2020 Participation in all recreational sports, if desired, is recommen-
Mild I C
ESC Guidelines on sports cardiology and ded.
exercise in patients with cardiovascular Participation in all recreational sports, if desired, should be con-
disease. European Heart Journal. 2021; 42: Moderate sidered in asymptomatic individuals with a non-dilated LV with IIa C
17-96. doi:10.1093/eurheartj/ehaa605 LVEF>50% and normal exercise stress test.
Participation in all recreational sports involving low and
moderate intensity, if desired, may be considered with a mild
IIb C
or moderately dilated LV with LVEF>50% and normal exercise
Severe stress test.
Exercise recommendations in
Participation in any moderate or high-intensity recreational
individuals with valvular heart
exercise is not recommended with LVEF<50% and/or exercise- III C
disease -induced arrhythmias.
© ESC 2020
A válvula aórtica bicúspide (VAB) é a
alteração congénita mais frequente
Recommendations for participation in competitive sports in asymptomatic indivi-
nos adultos1,2, com uma prevalência duals with aortic regurgitation
de 1% a 2% da população em geral3,4 Aortic regurgitationc
e de 0,8% nos atletas de elite.4 É uma Recommendation Classa Levelb
das causas de regurgitação da vál- Participation in all competitive sports, if desired, is recommen-
Mild I C
vula aórtica, a par do alargamento ded.
da raiz da aorta, da endocardite Participation in all competitive sports, if desired, should be con-
Moderate IIa C
infecciosa e da disseção da aorta, sidered in individuals with LVEF>50% and normal exercise test.

embora sejam menos frequentes. Participation in most competitive sports involving low to mode-
rate intensity may be considered in individuals with a mild
Devido à sobrecarga de pressão e de IIb C
or moderately dilated LV with LVEF>50% and normal exercise
volume, a condição crónica causa Severe stress test.
tipicamente alargamento e hiper- Participation in any moderate – or high-intensity competitive
trofia do ventrículo esquerdo.3 Um sports is not recommended in individuals with severe AR and/or III C
terço dos portadores desenvolverão LVEF≤50% and/or exercise-induced arrhythmias
estenose ou regurgitação aórtica sig- © ESC 2020
nificativas na 5.ª década de vida.2 AR = regurgitação aórtica; LV = ventrículo esquerdo; LVEF = fração de ejeção do ventrículo
Pode não ter consequências esquerdo. a – classe de recomendação; b – nível de evidência; c – Para a valvulopatia mista, deve-
clínicas durante muito tempo1 e, -se seguir a recomendação da lesão predominante1

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 27


aórtica podem participar no des- instituições referem que são forma- Na definição do risco para a
porto, mas os com regurgitação das durante o desenvolvimento do prática desportiva consideram-se os
grave, ventrículo esquerdo modera- coração no embrião.3 eventuais sintomas, o grau de dis-
damente dilatado e boa função sis- De acordo com o registo genético função do VE e as características das
tólica podem participar em despor- australiano de doenças cardíacas, arritmias ventriculares.5 Informação
tos de baixa-moderada intensidade, em muitos casos tem origem em importante a considerar é que não
sendo a participação em desportos alterações nos genes, sendo a trans- existe descrição de eventos cardía-
de maior intensidade dependente missão de modo autossômico domi- cos maus na ausência de disfunção
de avaliação individual. Contudo, nante ou ligado ao cromossoma X.3 do VE5, pelo que a boa função sistó-
necessitam de vigilância mais Existem dois momentos da vida lica é um elemento tranquilizador.
apertada, bianual, para avaliação da em que a esta alteração se pode Naturalmente que estes portadores
função ventricular esquerda.3 manifestar: durante os primeiros devem estar sujeitos a seguimento
anos de vida ou na idade adulta.3 regular e o aparecimento de sinto-
Bibliografia A apresentação clínica é variável, mas obrigam à paragem desportiva e
pois há pacientes sem queixas, ao reavaliação.5
1. European Society of Cardiology. 2020 passo que outros referem dispneia,
ESC Guidelines on sports cardiology and palpitações, dor torácica, tonturas Bibliografia
exercise in patients with cardiovascular
episódios de perda de consciência3,
disease. European Heart Journal. 2021; 42:
17-96. doi:10.1093/eurheartj/ehaa605
decorrentes das complicações (dis- 1. Gati S, Rajani R, Carr-White GS, Cham-
função sistólica progressiva, taquiar- bers JB. Adult left ventricular noncompaction:
2. Boraita A, Morales-Acuna F, Marina-Breysse
reappraisal of current diagnostic imaging
M, et al. Bicuspid aortic valve behaviour ritmias ventriculares e tromboem-
modalities. JACC Cardiovasc Imaging. 2014;
in elite athletes. Eur Heart J Cardiovasc bolismo) , pelo que é importante o
1,2,4
7:1266-1275.
Imaging. 2019 Jul 1; 20(7):772-780.
diagnóstico precoce.2 O diagnóstico 2. Ritter M, Oechslin E, Sutsch G, Attenhofer
3. D’Ascenzi F, Valentini F, Anselmi F, et al.
Working Group of Echocardiography of the
é realizado com o ecocardiograma C, Schneider J, Jenni R. Isolated noncompac-
bidimensional, sendo a característica tion of the myocardium in adults. Mayo Clin
Italian Society of Cardiology (SIC). Bicuspid
Proc. 1997; 72:26 – 31.
aortic valve and sports: From the echocar- mais encontrada uma dupla camada
3. Australian Genetic Heart Disease Registry.
diographic evaluation to the eligibility for (VE compactado e não compactado) Left ventricular non-compaction. Information
sports competition. Scand J Med Sci Sports.
na arquitetura cardíaca.1,2 O diagnós- Sheet. Last updated 12 December 2012.
2021 Mar; 31(3):510-520.
4. Medscape Network Conference Reports.
tico é posteriormente confirmado por http://www.heartregistry.org.au/wp-con-
ressonância. No estudo de Petersen S tent/uploads/2013/02/AGHDR_LVNCInfo-
2023 Congress of the ESC (Amsterdam):
Sheet_2012.pdf. Acesso em outubro de 2023.
How to Prescribe Exercise in Hypertension E et al, publicado em 2005, a relação
4. Steffen E. Petersen, Joseph B. Selvanaya-
and Valvular Heart Disease. 2023. https:// NC/C de > 2,3 na diástole distinguiu gam, Frank Wiesmann et al. Left Ventricular
www.univadis.com/viewarticle/esc-2023-
a não compactação patológica, com Non-Compaction. J Am Coll Cardiol. 2005;
-how-prescribe-exercise-hypertension-
-and-valvular-2023a1000kou?uac=13038
valores de sensibilidade, especifici- 46:101-5.

BR&ecd=mkm_ret_230907_uni-OUS_SPE- dade e previsões positivas e negativas 5. European Society of Cardiology. 2020. ESC
Guidelines on sports cardiology and exer-
CIAL_etid5190405&u=&utm_source=&utm_ de 86%, 99%, 75% e 99%, respectiva-
cise in patients with cardiovascular disease.
medium=email&utm_campaign=adhoc_ous_ mente. Neste estudo, as áreas de não
4
European Heart Journal. 2021; 42:17-96.
special-cardio_20230907_ann-emea&utm_
compactação ocorreram com maior doi:10.1093/eurheartj/ehaa605
content=5190405&utm_term=&sso=true.
Consultado em setembro de 2023.
frequência em todos os grupos estu-
dados nas regiões apical e lateral.4 Agradecimentos
De acordo com a ESC, “entre atle- Ao Prof. Doutor Hélder Dores pelo apoio
tas, a suspeita de NCVE só deve ser na produção deste texto
Exercise recommendations in considerada naqueles que cumprem
individuals with cardiomyopathies, nos exames ecocardiográficos crité-
myocarditis, and pericarditis rios para NCVE,
mas também
O ventrículo esquerdo (VE) não com- apresentam dis-
pactado (VENC) é caracterizado por função sistólica
trabeculações profundas (projeções do VE (FE < 50%),
em forma de dedo) na parede muscu- sintomas suges-
lar do ventrículo esquerdo, as quais tivos de doença
também podem ocorrer no ventrículo cardíaca ou histó-
direito. São recessos profundos que ria familiar posi-
comunicam com a cavidade do VE.1 tiva de VENC”,
A prevalência estimada é de 0,014% pelo que têm
a 0,17%1 ou igual a 0.045% no estudo indicação para
publicado pela Mayo Clinic em adul- a realização de
tos (18 aos 71 anos de idade).2 ressonância car-
Existe controvérsia sobre a patogê- díaca, ecocardio-
nese do VENC, não se sabendo se é grama de esforço
uma alteração congénita (figura) ou e monitorização Figura – Desenvolvimento embriogénico do VENC (teoria con-
adquirida durante a vida.1 Algumas por Holter.5 génita)1

28 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


Rev. Medicina Desportiva informa, 2023; 14(6):29-31. https://doi.org/10.23911/SPMD_2023_nov

No estudo de Malhotra, intitulado


Em Busca da Melhor Outcomes of Cardiac Screening in
Adolescent Soccer Players, baseado, tal
Metodologia para Avaliação como na maioria dos estudos com
follow-up, num único exame médico-
Cardíaca Pré-competitiva do -desportivo, seis dos oito adolescen-
tes acometidos de MSC tinham sido
Atleta Jovem considerados aptos para o desporto
de competição. O protocolo desta
Prof. Doutor Ovídio Costa avaliação incluiu inquérito clínico,
Cardiologista e Diretor Curso de Medicina Desportiva da Sociedade Portuguesa de Medicina Desportiva
exame objetivo, ECG e ecocardio-
grama. O intervalo de tempo médio
RESUMO / ABSTRACT entre o exame médico e a ocorrência
Neste texto procura-se destacar, do estudo recentemente publicado no European Heart Journal do evento fatal foi 6,8 anos (0,1 a
(Value of screening for the risk of sudden cardiac death in young competitive athletes) e dos dois comen- 13.2 anos). As hipóteses colocadas
tários e de um editorial que se lhe seguiram, os aspetos que, pela sua relevância e singularidade,
para explicar as razões do insucesso
poderão impulsionar futuros processos de otimização das metodologias de rastreio de atletas,
melhorando a sua eficiência e reduzindo os custos. Para este efeito, serão necessários mais estu-
foram que uma única ação de ras-
dos com follow-up, o refinamento dos critérios de normalidade e a implementação de medidas treio realizada durante o final da
imediatas e eficazes de reanimação com desfibrilação externa automática em todos os recintos adolescência poderia não ter sido
desportivos e ginásios. suficiente para o diagnóstico da mio-
cardiopatia ainda não manifestada,
The aim of this text is to highlight the aspects of the study recently published in the European Heart
Journal (Value of screening for the risk of sudden cardiac death in young competitive athletes) and the two
ou, então, que o ECG e o ecocardio-
comments and one editorial that followed it, which, due to their relevance and uniqueness, could drive grama não seriam suficientemente
future processes to optimise athlete screening methodologies, improving their efficiency, and reducing costs. sensíveis para detetar a doença pre-
This will require further studies with follow-up, the refinement of normality criteria and the implementa- cocemente em alguns adolescentes.5
tion of immediate and effective resuscitation measures with automatic external defibrillation in all sports
b) O estudo de Treviso, por sua vez,
venues and gyms.
não registou nenhum caso de
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS MSC durante o follow-up, tanto no
Triagem cardiovascular no desporto, avaliação cardíaca pré-competitiva do atleta, morte súbita
grupo em que os atletas tinham
cardíaca / paragem cardíaca súbita, rastreio cardiovascular sido desqualificados para o des-
Cardiovascular screening in sports, pre-competitive athlete cardiac assessment, sudden cardiac death/sud- porto de competição, como no
den cardiac arrest, cardiovascular screening grupo dos atletas considerados
aptos. Apenas um atleta consi-
Neste texto, destaco do estudo protocolo italiano que inclui história derado anteriormente elegível
recentemente publicado no European clínica, exame objetivo, ECG e teste para o desporto de competição foi
Heart Journal, intitulado (Value of de esforço. O follow-up teve a dura- acometido de PCS de causa des-
screening for the risk of sudden cardiac ção de 7.5 ± 3.7 anos. conhecida, que foi prontamente
death in young competitive athletes)1 Dos resultados apresentados revertida no campo onde ocorria
e dos três comentários que se lhe saliento os seguintes achados: o treino. A taxa de global de PCS/
seguiram2-4, os aspetos que, pela sua a) dois terços dos diagnósticos de MSC foi de 0,6/100.000 atletas/
relevância e singularidade, poderão doença cardiovascular associada a ano, isto é 10 vezes inferior ao
impulsionar futuros processos de risco aumentado de morte súbita reportado por Malhotra.
otimização dos rastreios de atletas, cardíaca / paragem cardíaca c) Considerando as múltiplas avalia-
melhorando a sua eficiência e redu- súbita (MSC/PCS) fizeram-se em ções (2,9/atleta), o diagnóstico de
zindo os custos. O estudo realizou- avaliações repetidas após o exame doença cardiovascular realizou-se
-se no Centro de Medicina de Treviso, inicial (1ª avaliação). A meu ver, em 403 (1,8%) dos casos e incluiu
Veneto, e incorporou 22.324 jovens este facto foi surpreendente, pois doenças cardíacas não associa-
atletas, com média de idades de 12 é o primeiro estudo a comprovar a das a MSC (334 – 1,5%) e doen-
anos (7 aos 18 anos), submetidos a eficácia diagnóstica da avaliação ças cardíacas associadas a MSC
avaliação cardíaca pré-competitiva periódica, embora esta hipótese já (69 – 0,3%). Estas últimas foram:
de periodicidade anual (média de tivesse ficado subjacente nas con- cardiopatias congénitas (n=17, das
2,9 exames/jovem). Foi utilizado o clusões do estudo de Malhotra.5 quais 11 casos de origem anómala

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 29


das artérias coronárias), canalopa- segurança foram impostas ao atleta fascicular e também de menor
tias (n=14), cardiomiopatias (n=15), portador de doença, em vez de o relevância clínica7
cicatriz ventricular esquerda não restringir definitivamente com a 5. As EVs com duas ou mais mor-
isquémica (pós-inflamatória ou inaptidão.2 As crianças não elegíveis fologias, principalmente quando
idiopática) associada a arritmias para desportos competitivos foram representaram 10% ou mais de
ventriculares (n=18) e outras (n=5). inscritas num simpático programa todos os batimentos ventriculares,
d) As doenças cardiovasculares mais de exercícios não competitivos assim como as formas associa-
frequentemente identificadas (Second Half of Julian Ross), que tam- das, parelhas, salvas ou episódios
nas avaliações repetidas (segun- bém oferecia apoio psicológico aos de taquicardia ventricular não
das avaliações) incluíram também pacientes e famílias, assim como sustentada (três EVs consecutivas)
cardiomiopatias hereditárias posterior acompanhamento médico.6 ou, então, que aumentaram de
(11/15 – 73%), cicatriz ventricular Corrado termina o seu comentário frequência/complexidade com o
esquerda não isquémica associada enfatizando que, como esta tria- aumento da frequência cardíaca
a arritmias ventriculares (15/18 – gem não se pode eliminar todos os durante o esforço devem ser
83%) e síndrome do QT longo (8/13 possíveis riscos de PCS durante o consideradas suspeitas de organi-
– 61%). O rendimento diagnóstico desporto, a melhor estratégia será cidade e investigadas com resso-
de cada sessão de triagem foi de combinar, sinergicamente, a preven- nância magnética cardíaca
0,12% na primeira avaliação e ção primária de screening cardíaco e 6. Devem também ser motivo de
0,10% em cada uma das avalia- a prevenção secundária, com desfi- investigação posterior as EVs
ções seguintes. De interesse, tam- brilação externa automática no caso muito frequentes no Holter (> 500/
bém, o facto do prolongamento de arritmia cardíaca imprevisível. dia), exceto se forem monomorfas
do QT corrigido, que permitiria o Um dos aspetos inovadores da e com morfologia sugestiva de ori-
posterior diagnóstico da síndrome estratégia italiana foi, sem dúvida, gem no trato de saída ventricular
do QT longo, geneticamente a valorização das arritmias ventri- ou fascicular7,8
comprovado, ter sido identificado culares induzidas pelo esforço, quer Os atletas com episódios de EVs
com maior frequência nos ECGs seja no decurso da prova de esforço, polimórficas que aumentaram de
realizados nas segundas avaliações, incluída obrigatoriamente na avalia- frequência e complexidade com o
um achado que pode ser explicado ção de base, quer nos estudos subse- esforço e que apresentaram resso-
pela conhecida variabilidade do quentes que utilizaram a monitoriza- nância magnética negativa devem
intervalo QT ao longo do tempo. ção ambulatória do ECG (Holter). Este ser submetidos a estudo genético
A maioria dos diagnósticos de Holter de 24 horas deveria incluir, para identificação de mutações
doença cardíaca efetuou-se em ida- sempre que possível, a monitorização patogenéticas da rianodina ou
des inferiores a 16 anos, pelo que os de uma sessão de treino com duração calsequestrina, responsáveis pela
autores sugerem que a avaliação car- de 30 a 60 minutos. taquicardia ventricular polimórfica
díaca deveria iniciar-se mais cedo, isto No sentido otimizar o estudo das catecolaminérgica.7
é, entre os 7 e os 14 anos de idade. arritmias ventriculares e diminuir o Carl Johann Hansen3, no seu
O teste de esforço permitiu avaliar número de resultados falsos-positi- comentário ao artigo, começa por
a indutibilidade de arritmias ventri- vos é importante saber classificar os salientar que o valor de cada inter-
culares, fator que pode ser a única batimentos ventriculares de acordo venção médica é determinado pelo
manifestação de doença cardíaca com a sua morfologia, origem pro- resultado da relação danos / benefí-
com risco de MSC nesta população. vável e aumento de frequência e cios. Recorda que as recentes diretri-
Este achado possibilitou o aumento reprodutibilidade com o esforço: zes da ESC / AEPC8, de 2022, baixaram
do número de doenças identifica- 1. A morfologia é de bloqueio com- a avaliação cardíaca pré-competitiva
das de 31 para 54, embora à custa pleto de ramo esquerdo (BCRE) se do atleta da classe I para a classe IIa
de um aumento muito significativo a extrassístole ventricular (EV) for devido ao baixo nível de evidência
de resultados falsamente positivos. predominantemente negativa na científica desta atividade. Embora
Os achados mais relevantes nestes derivação V1 seja recomendada por várias orga-
casos foram as arritmias ventricula- 2. A morfologia é bloqueio completo nizações e sociedades profissionais,
res idiopáticas e as arritmias supra- de ramo direito (BCRD) se a EV for as evidências científicas do scree-
ventriculares complexas. predominantemente positiva ou ning dependem de um único estudo
Domenico Corrado destacou no isodifásica em V1 observacional9 pelo que o conceito
seu comentário que os dados muito 3. As EVs com configuração de BCRE/ de triagem da população atlética
favoráveis apresentados no estudo eixo inferior (QRS positivo em aVF continuará controverso. A eficácia
de Treviso parecem fornecer evi- e QRS negativo em V1 e aVL) são de um programa de rastreio deveria
dências convincentes que a deteção consideradas com origem provável medir-se em função de resultados
precoce e o posterior orientação no trato de saída ventricular e, centrados no doente (benefícios / ris-
adequada dos jovens portadores de geralmente, são benignas cos) e não apenas na maior ou menor
DCV com risco de MSC/PCS salva- 4. As EVs com morfologia do tipo capacidade de detetar doenças.
ram vidas, justificando assim, não BCRD com duração QRS igual ou A maior sensibilidade de iden-
só os elevados custos da triagem inferior a 130ms e desvio típico do tificação de portadores relaciona-
periódica, como também as even- eixo elétrico para a esquerda ou -se diretamente com o número
tuais limitações que por razões de direita são consideradas de origem de exames complementares de

30 novembro 2023 www.revdesportiva.pt


diagnóstico utilizados, com inerente 7. Otimização do plano de gestão do O autor nega conflitos de interesse, assim
subida de custos. Na estratégia atleta com achados. como declara a originalidade do manus-
italiana, o custo por um diagnóstico Nível A necessitar trabalho futuro (ver- crito e a sua não publicação prévia. Não
foi usado o ChatGPT para a produção do
de doença cardíaca associada a MSC melho), que inclui texto.
foi 73.312€. No estudo inglês5, que 8. Validação de critérios interna-
mesmo incluindo o ecocardiograma cionais para atletas com idade Contacto
Ovídio Costa – ovidiocosta@gmail.com
na metodologia do rastreio, seis dos inferior a 12 anos
oito adolescentes que tiveram MSC 9. Redução de custos dos programas.
tinham sido anteriormente conside- Os autores parecem basear esta
Bibliografia
rados aptos para o desporto de com- reflexão nos importantes resultados
petição, o que poderá constituir uma do estudo de Treviso para realçarem
1. Patrizio Sarto, Alessandro Zorzi, Laura
verdadeira desilusão em relação aos a necessidade de mais estudos com Merlo, Teresina Vessella, Cinzia Pegoraro,
objetivos primordiais desta atividade. follow-up e de refinamento dos crité- Flaviano Giorgiano, Francesca Graziano,
O autor salienta ainda outros rios de normalidade que permitam Cristina Basso, Jonathan A Drezner, Dome-
potenciais efeitos negativos da identi- melhor e mais ampla avaliação da nico Corrado, Value of screening for the risk
of sudden cardiac death in young competitive
ficação de doença cardíaca em assin- relação benefícios / custos de cada
athletes, European Heart Journal. 2023;
tomáticos de doenças cardíacas, para programa de rastreio. Este editorial 44(12)1084-1092. https://doi.org/10.1093/
não falar dos resultados falsamente tem também a vantagem de nos eurheartj/ehad017
negativos. O autor acredita que os recordar que as guidelines não são 2. Malhotra A, Dhutia H, Finocchiaro G, Gati S,
programas de rastreio deveriam God lines e que, por isso mesmo, não Beasley I, Clift P, Cowie C, Kenny A, Mayet
J, Oxborough D, Patel K, Pieles G, Rakhit D,
basear-se na participação voluntária podem dispensar as boas normas de
Ramsdale D, Shapiro L, Somauroo J, Stuart
e na tomada de decisão partilhada. senso clínico quando procuramos G, Varnava A, Walsh J, Yousef Z, Tome M,
Segundo este autor, o rastreio obriga- a melhor solução para cada atleta Papadakis M, Sharma S. Outcomes of Cardiac
tório antes da contratação do atleta, à luz dos mais recentes avanços da Screening in Adolescent Soccer Players. N Engl
assim como a exclusão forçada após ciência médica. J Med. 2018; 379(6):524-534. doi: 10.1056/
NEJMoa1714719. PMID: 30089062.
a deteção da doença cardiovascular
3. Domenico Corrado, Alessandro Zorzi, Patri-
nas crianças, não é uma tomada de zio Sarto, Pre-participation screening for safe
decisão partilhada. Pelo contrário, é Conclusões sports activity. European Heart Journal. 2023;
retirar-lhes liberdade. Afirmam, por 44(24):2258-2259. https://doi.org/10.1093/
fim, que a implementação de medi- • As guidelines ESC são um bom eurheartj/ehad288
4. https://www.gecaonlus.com/en/2022/09/06/
das imediatas de reanimação, com ponto de partida para a realização
il-secondo-tempo-di-julian-ross/
desfibrilação externa automática, do exame cardíaco pré-compe- 5. Zorzi A, Vessella T, De Lazzari M, Cipriani
representam uma abordagem por- titivo, quer no atleta jovem (< 35 A, Menegon V, Sarto G, Spagnol R, Merlo
ventura mais adequada e com menor anos), quer nos mais velhos (>35 L, Pegoraro C, Marra MP, Corrado D, Sarto
risco de danos. anos). P. Screening young athletes for diseases at
risk of sudden cardiac death: role of stress
Por último, vamos referir o edito- • A interpretação do ECG segundo
testing for ventricular arrhythmias. Eur J
rial de Cheyenne M. Beach e Rachel as recomendações internacionais Prev Cardiol. 2020; 27(3):311-320. doi:
Lampert4, o qual nos apresenta uma é fundamental para melhoria da 10.1177/2047487319890973. Epub 2019 Dec
interessante proposta de reflexão eficácia e redução dos resultados 2. PMID: 31791144; PMCID: PMC7008549.
com o objetivo de maximizar o rendi- falso/ positivos. 6. Zeppenfeld K, Tfelt-Hansen J, de Riva M,
Winkel BG, Behr ER, Blom NA, et al. 2022
mento dos protocolos de triagem car- • Embora a periodicidade desejável
ESC guidelines for the management of patients
diovascular, sem excessivo aumento para repetição deste exame não with ventricular arrhythmias and the preven-
dos custos. Consideraram no seu esteja ainda estabelecida, a eficá- tion of sudden cardiac death: developed by the
Graphical Abstract três níveis (de cia diagnóstica do exame anual no task force for the management of patients with
cores) para as ações a implementar: atleta jovem parece ser idêntica à ventricular arrhythmias and the prevention of
sudden cardiac death of the European Society of
Nível Estabelecido (verde), em que se do 1º exame e, como tal, esta prá-
Cardiology (ESC) endorsed by the Association
propõe: tica deverá ser implementada. for European Paediatric and Congenital Cardio-
1. Otimização da história e do exame • Na presença de achados clinica- logy (AEPC). Eur Heart J 2022; 43:3997-4126.
físico mente relevantes o atleta deverá 7. Corrado D, Basso C, Pavei A, Michieli P,
2. Incorporação do ECG de 12 deri- ser referenciado a um centro Schiavon M, Thiene G. Trends in sudden car-
diovascular death in young competitive athletes
vações especializado, com o objetivo de
after implementation of a preparticipation
3. Melhoria dos critérios de ECG para continuação do estudo e prosse- screening program. JAMA 2006; 296:1593.
reduzir os falsos positivos. cução da mais adequada decisão 8. Hansen CJ, Warming PE, Tfelt-Hansen J. To
Nível Em progresso (laranja), com médico-desportiva (decisão parti- screen or not to screen: that is the question!
4. Determinação da frequência de lhada, reorientação desportiva…). Eur Heart J. 2023; 44(24):2257. doi: 10.1093/
eurheartj/ehad286. PMID: 37204323.
triagem (anual?) mais apropriada • Face à imprevisibilidade de ocor-
9. Cheyenne M Beach, Rachel Lampert.
5. Determinação do momento rência de paragem cardíaca súbita, Optimizing pre-participation screening to
(idade) apropriado para a triagem o planeamento das medidas de prevent tragedy in young athletes: moving from
inicial reanimação com uso imediato do if to how. European Heart Journal. 2023;
6. Determinação das situações clíni- DAE é essencial para a redução 44(12):1093-1095. https://doi.org/10.1093/
eurheartj/ehad015
cas com necessidade de realização do número mortes associadas ao
de testes adicionais desporto.

Revista de Medicina Desportiva informa novembro 2023 31


Agenda Novembro 2024 International Health, Wellness and Fitness
Expo
IOC 14th edition of the Advanced Janeiro 29 fev – 2 março: Shangai, China
Team Physician Course
Big Sky Sports Medicine Conference
7 a 9 de novembro: Medellín, Colômbia
21 a 25 de janeiro: Big Sky Resort, MT, EUA Março
7th Annual Multidisciplinary Spine
Care Conference 2023 Comprehensive Shoulder and Elbow: Current 8th Annual Mayo Clinic Sports Medicine for
Concepts and Controversies 2024 the Clinician 2024
9 a 11 de novembro: Amelia Island,
FL, EUA 25 a 27 de janeiro: Scottsdale, AZ, EUA 8 a 10 de março: Lake Buena Vista, FL, EUA

106th Congresso Nazionale della 43rd Annual Meeting of the Israel Orthopaedic
Societ Italiana di Ortopedia e Association (IOA) 2024 Abril
Traumatologia (SIOT 2023) 31 jan – 1 fev: Telavive, Israel
9 a 11 de novembro: Roma, Itália 2024 AMSSM Annual Meeting – American
Medical Society for Sports Medicine
XIX Congresso Internacional de Medicina Fevereiro 12 a 17 abril: Baltimore, EUA
Desportiva da Sociedade Espanhola
7th IOC World Conference on Prevention of 24º Congresso Europeu de Medicina Física e
9 a 11 de novembro: Valência
Injury and Illness in Sport de Reabilitação – ESPRM 2024
12th IOC Course on Cardiovascular Evaluation 29 fev – 2 março: Monaco 23 a 27 de abril: Liubliana, Eslovénia
of Olympic Athletes
10 a 11 de novembro: Medellín, Colômbia
Parabéns!
Medica Medicine & Sports Conference O artigo publicado na última Revista de Medicina Desportiva, 2023;
15 a 16 de novembro: Dusseldorf, Alemanha 14(3):17-20, intitulado Emergência em Voo: Enquadramento da Atuação do
Médico Voluntário foi distinguido como o artigo mais destacado desta
Sports Medicine-Fitness and Physiotherapy
semana no Índex das Revistas Médicas Portuguesas (ÍndexRMP). Procura-
16 e 17 de novembro: Paris, França
mos dar este destaque a artigos que tenham um interesse transversal a
International Congress on Sports Science todas as especialidades médicas e, nesta altura do ano, o tema aqui abor-
Research and Technology Support (icSPORTS dado não podia ser mais oportuno. Parabéns, também ao seu autor, o Dr.
2023) Rui Pombal. Pode também ser comprovar esta distinção no site do Linke-
16 e 17 de novembro: Roma, Itália din e na homepage.
Dr. Jorge Crespo, diretor e editor do ÍndexRMP
9th International Conference on
Physiotherapy, Physical Rehabilitation &
Sports Medicine November
20 e 21 de novembro: Roma, Itália

ESSKA Speciality Days


24 a 25 de novembro: Varsóvia, Polónia

3rd Annual Conference on Orthopedics,


Rheumatology and Musculoskeletal
Disorders
27 e 28 de novembro: Dubai, Emirados Árabes
Unidos (híbrido)

Dezembro
18th International Conference on Orthopedics,
Osteoporosis & Trauma
4 a 6 de dezembro: Dubai, EAU

Asia-Singapore Conference on Sport Science


(ACSS 2023)
5 e 6 de dezembro: Singapura

AMSSM – 2023 Advanced Team Physician


Course
6 a 8 de dezembro: Salt Lake City, UT, EUA

Global Orthopedic Summit 2023


11 e 12 de dezembro: DUBAI, EAU

32 novembro 2023 www.revdesportiva.pt

Você também pode gostar