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DIREITOS FUNDAMENTAIS: A TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA NA CF/88
Esse capítulo trás conteúdos sobre as origens dos direitos fundamentais e sua evolução
histórica, partindo do conceito de dignidade da pessoa humana que veio a tornar-se a
base dos direitos fundamentais e por consequência, dos direitos da personalidade
analisando como esses direitos tutelam os interesses individuais, mais precisamente os
interesses imateriais do indivíduo e de que forma os direitos da personalidade podem
vir a sofrer violação e consequentemente, onde estaria o referencial jurídico em nosso
ordenamento para a reparação. No pensamento judaico-cristão, encontramos as
primeiras referências acerca da ideia da pessoa humana como valor intrínseco, ao
analisarmos os textos do antigo e novo testamento, iremos nos deparar com a
declaração de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e
consequentemente o ser humano (não apenas os cristãos) é dotado de um valor
próprio que é inerente, não podendo ser transformado em mero objeto ou
instrumento.
Surge assim uma concepção da dignidade da pessoa humana lastreada na razão como
maior atributo humano, colocando-o no centro da vida com autonomia, liberdade,
capaz de ditar os rumos de seu destino e, portanto um ser diferenciado dos seres
irracionais, não podendo ser tratado como coisa, não sendo atribuído com preço e sim,
dignidade (valor). Observa-se nos tempos atuais que a melhor doutrina parece ter
ancorado no pensamento kantiano a fundamentação do conceito da dignidade
humana, haja vista que a conceituação atualmente defendida assenta-se do
entendimento da dignidade da pessoa como sendo atributo exclusivo. Há de se
concluir que reconhecer a dignidade da pessoa humana resultará num conjunto de
obrigações para com os demais, tendo a noção de que cada um deve se respeitar o
outro como tal.
Assim, é possível identificar que a dignidade da própria condição humana deve ser
reconhecida, respeitada, promovida e protegida, não podendo ser por óbvio, criada,
concedida ou retirada, muito embora possa ser violada e, é por conta dessa
possibilidade de violação que entra o papel do Direito da sua promoção e proteção.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, marcada pelas atrocidades cometidas, notou-
se uma tendência mundial à reconstrução do respeito à dignidade humana, sendo essa
a grande marca de uma série de Constituições, documentos e decisões judiciais a partir
de então. Desta maneira, importa analisar a dignidade da pessoa humana enquanto
princípio e seu elo com os direitos fundamentais e direitos da personalidade que são
tutelados em nosso ordenamento jurídico, se torna necessário compreender a partir
desse ponto, os caminhos traçados pela nossa Constituição para reparar as lesões
sofridas por uma violação aos direitos da personalidade, e de que forma a valorização
da pessoa se tornou o fundamento da Constituição de 1988, influenciando no
desenvolvimento da tutela dos interesses imateriais.
Desse modo, considerando o texto de nossa Constituição no artigo 5º, inciso X, da
Constituição Federal: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”. Sem dúvida, o respeito ao livre desenvolvimento da
personalidade humana implica de forma direta no desenvolvimento das faculdades
físicas, psicológicas e morais do indivíduo e, assim, violar a integridade mental ou
desrespeitar as decisões que envolvem a dignidade dos indivíduos nos remete,
analogicamente, à escravidão. Os escravos, por não serem considerados “pessoas de
valor “, tinham seus sentimentos e valores desprezados e eram vistos como
desprovidos de qualquer tipo de dignidade.
Assim, os Direitos Fundamentais elencados na CF/88 devem ser entendidos tendo
como base o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, pois o mesmo contribui para a
efetividade da Constituição. Dessa forma, ao se falar em direito à vida, entende-se vida
digna; direito à liberdade de crença etc.. É evidente que os princípios constitucionais, como
no caso do princípio da dignidade da pessoa humana devem prevalecer sobre os princípios
infraconstitucionais, na medida em que aqueles servem de fundamento de validade para
estes.

O princípio da dignidade da pessoa humana em si também pode entrar em conflito


com outros princípios constitucionais distintos que não derivem diretamente do valor
da dignidade da pessoa humana, exempli gratia, o princípio da livre concorrência, caso
em que deve ser mantida a aplicação do mesmo procedimento da ponderação para
equilibrar a relação entre o indivíduo e a empresa, de forma a evitar que o princípio da
dignidade da pessoa humana aniquile a liberdade econômica ou liberdade da empresa.

Portanto, o limite de uma dignidade passa a ser a igual dignidade ou direito do outro,
não se podendo privilegiar um em detrimento de outro com igual dignidade ou direito,
sendo o princípio em si relativo no que tange às relações individuais entre particulares
com a aplicação do justo juízo de ponderação para mitigação ou relativização dos
princípios envolvidos. Por outro lado, o valor contido na dignidade da pessoa humana
como fundamento da República é absoluto, inafastável, não podendo inclusive ser
renunciado, porque consiste no respeito à integridade do homem e deve sempre ser
levado em conta por constituir a essência e o fim maior do Estado Democrático de
Direito.

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