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Direitos Humanos

Aula 1 - A dignidade da pessoa humana e a


ordem jurídica
INTRODUÇÃO

Nesta aula, examinaremos a dignidade da pessoa humana compreendida como o eixo valorativo que justifica a existência
do próprio Estado e da ordem jurídica. Em seguida, discutiremos sua problemática conceitual, destacando a dimensão
principiológica que serve de suporte para os direitos humanos. Analisaremos os aspectos jurídico e constitucional deste
princípio, chamando atenção para as consequências hermenêuticas resultantes da adoção da proteção da dignidade do
ser humano como vetor de compreensão adequada da norma jurídica. Por fim, apontaremos as dificuldades a serem
enfrentadas nas situações de limites da dignidade humana.
OBJETIVOS

Explicar que a dignidade humana é o eixo valorativo que justifica o Estado Democrático de Direito e seu compromisso
com a cidadania;

Identificar a dimensão da normativa da dignidade humana como um princípio constitucional;

Examinar as implicações hermenêuticas do princípio da dignidade humana na proteção de DH.

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: CONSIDERAÇÕES GERAIS


Vejamos, a seguir, um trecho do famoso poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Mello Neto:

Fonte da Imagem: Radu Bercan / Shutterstock

No famoso poema, João Cabral de Mello Neto conta a história de Severino, um retirante do interior da Paraíba que foge
da seca, em direção a Recife, no litoral de Pernambuco. Lá, Severino acredita que terá uma vida melhor, com melhores
condições.

Esse trecho reproduzido se refere ao final da viagem de Severino, já chegando em Recife. Mas, ainda assim, mesmo
estando na capital pernambucana, Severino encontra morte e pobreza, da mesma maneira que via no interior do sertão.
Decepcionado e desiludido, o trecho reproduzido sugere ao leitor que Severino irá se suicidar para dar fim a sua sina.

Esse sonho desfeito de Severino, escrito pelos idos dos anos 50 do século passado, ainda se mostra atual. Traduzido
para o mundo do Direito, traz os desafios que a dignidade humana (ou sua falta ou desrespeito) coloca para as
sociedades contemporâneas, e em especial a brasileira.
Fonte da Imagem:

A dignidade da pessoa humana tem sido considerada por muitas áreas do saber humano, tais como a Filosofia, a Ética, a
Política e o Direito, como o ponto central de construção de todo o ordenamento jurídico e do próprio Estado.

Ela é vista até mesmo com um valor suprajurídico, isto é, para além do Direito e da Constituição, já que seria a dignidade
um valor ínsito do ser humano. E, desta maneira, a dignidade trata diretamente da essência do ser humano. É, portanto,
esse seu caráter supraconstitucional que permite, inclusive, que possamos sustentar sua efetividade independentemente
da sua positivação (isto é, seu reconhecimento pelo direito, através de uma norma jurídica, quer seja ela lei ou mesmo
uma norma constitucional).

Se pensarmos, por exemplo, nos dramas humanos da atualidade, como entre tantos outros, a questão dos refugiados de
guerra ou a fome nos países africanos, salta aos olhos a crise humanitária (glossário) que vivenciamos e destacamos a
importância da valorização e proteção da dignidade humana como bússola para enfrentarmos essas calamidades que
assolam o mundo.

Assim, falar de dignidade humana é falar do outro, é falar de direitos, é falar de democracia, é falar de cidadania.

Para as sociedades atuais, a dignidade da pessoa humana coloca uma série de desafios a serem enfrentados,
assegurando a todas as pessoas uma vida decente: com respeito, igualdade e liberdade, com acesso aos bens
necessários para a realização do projeto de vida de cada um e que leve, enfim, à felicidade. Assim, a dignidade se articula
com a própria possibilidade de existir com decência no mundo para nele viver em plenitude.

Fonte da Imagem: Anton_Ivanov / Shutterstock

No entanto, a vida em sociedade é marcada por desigualdades materiais e carências sociais, pois, ainda que expresso de
forma simplista, há mais pessoas do que bens disponíveis, isto é, não é possível o acesso igual de todos a todos os
recursos disponíveis: aí se coloca o dilema da dignidade humana.
Fonte: popular business / Shutterstock

O que temos de fazer para assegurar cada vez mais proteção à dignidade humana, para um número maior de pessoas,
sempre em um movimento crescente?

A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA DIGNIDADE HUMANA


A ideia de dignidade humana não é uma invenção do século XX. Os estudiosos do tema apontam que, já na Antiguidade
Grega, havia um movimento de valorização da pessoa humana. Também entre os orientais a pessoa humana tinha seu
destaque. Confúcio (glossário), partidário de uma ideia de aperfeiçoamento do ser, em detrimento da caridade pura, já
pregava “ame a todos sem distinção”. Posteriormente, com o advento do Cristianismo, a figura do ser humano, à imagem
e semelhança de Deus, inspirava uma relação de reconhecimento de si no outro. O fundamento da dignidade morava no
divino.

Saltando no tempo, é com o Iluminismo (glossário) que, no Ocidente, a dignidade da pessoa humana passa a derivar da
razão, daí decorrendo a criação de vários documentos emblemáticos para o marco do respeito à dignidade humana,
como por exemplo, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (glossário), de 1789, resultado da Revolução
Francesa.

Fonte: Le Salon de Mme Geoffrin - Anicet-Gabriel Lemonnier. https://www.histoire-image.org/sites/default/salon-geoffrinf.jpg

Kant (glossário), na famosa obra "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" sustentava que as pessoas deveriam
ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um meio (objetos). O filósofo assim dizia:
Fonte: sumkinn / Shutterstock

São as noções de Kant que fixaram as bases da compreensão moderna da dignidade humana fixando sua relação com
os direitos humanos e que até hoje se colocam como, de certa forma, pertinentes.

Há duas dimensões do pensamento kantiano que merecem destaque:

A ideia de finalidade (glossário), isto é, o homem, por ser dotado de razão, é um fim em si mesmo.

A ideia de autonomia (glossário), isto é, a vontade humana deve estar direcionada para o dever de estabelecer
parâmetros de moralidade que sirvam para todos, inclusive para ela mesma, não porque se busca uma vantagem futura,
mas sim porque esta é a dignidade do ser dotado de razão.

Atenção!
, Devemos ter em mente que a compreensão da dignidade que hoje temos não equivale ao que se pensava em épocas passadas, já
que os contextos históricos e culturais são distintos. Assim, embora a dignidade decorra da existência da própria pessoa, ela hoje
está associada à ideia de condição humana que se desenha pela e na História, afastando de certa forma sua derivação do Direito
Natural., , Entretanto, de toda forma, a dignidade humana é saudada como o motor do progresso civilizatório, que uniria a
humanidade em torno de uma grande causa comum, como veremos ao avançar em nossos estudos e pensarmos, especialmente, no
Direito Internacional dos Direitos Humanos.

A PROBLEMÁTICA CONCEITUAL E SUA RELAÇÃO COM OS DIREITOS


HUMANOS
Em uma postagem, de março de 2015, no Blog JOTA, Daniel Sarmento, diz que:

“uma rápida pesquisa no site do STF mostra que, sob a égide da Constituição de 1988, o princípio da dignidade da pessoa
humana foi explicitamente invocado em nada menos que 260 acórdãos, 2.298 decisões monocráticas, 79 decisões da
Presidência, 9 questões de ordem e 3 repercussões gerais. Os temas abordados pelas decisões são os mais variados,
indo da vedação de denúncias criminais genéricas à união homoafetiva; da impossibilidade de realização compulsória do
exame de DNA ao aborto de fetos anencéfalos; das políticas de ação afirmativa à criminalização da violência doméstica”.

Desses dados apresentados, logo pensamos:


Fonte: popular business / Shutterstock

Como propor que um conceito de dignidade dê conta de temas e questões tão diferentes?

Que seja capaz de comunicar um sentido mais objetivo à dignidade humana, que todos sabem o que é, mas têm muitas
dificuldades de explicar e acordar um sentido para ser compartilhado?

Veremos que há um esforço doutrinário no sentido de responder nossos questionamentos, embora sem que possamos
ter uma definição fechada, com todos os seus elementos determinados.

UM CONCEITO DE DIGNIDADE HUMANA: DESAFIOS


A dignidade humana é uma daquelas expressões chamadas de polissêmicas. Isto quer dizer que ela é portadora de
muitos sentidos diferentes, sendo um desafio estabelecer um sentido único para a mesma.

Assim, dignidade humana quer (e pode) dizer respeito a muitas coisas diversas, em razão do sentido que lhe é atribuído e
dos interesses que se busca preservar ou defender quando a ela recorremos.

Atenção!
, Essa ausência de sentido único faz com que a dignidade da pessoa humana seja marcada por ambiguidades de sentidos,
precisando de um esforço de interpretação maior para definir seu alcance e conteúdo. É nessa ambiguidade que entendemos a
perplexidade dos dados levantados por Daniel Sarmento e anteriormente mencionados.
Entretanto, ainda que a dignidade humana possa ser etiquetada como uma cláusula aberta (glossário), podemos fazer
aqui alguns acordos quanto ao seu sentido.

Para nossa disciplina, adotaremos o conceito dado por Ingo Wolfgang Sarlet que articula a ideia de respeito a todos os
seres humanos, independentemente de suas qualidades. Esse respeito é exigido do Estado e da sociedade como um
todo, materializando-se em um feixe de direitos e deveres fundamentais que asseguram uma existência minimamente
decente, (como, por exemplo, acesso ao saneamento básico, à água potável, dispor de alimentação adequada, etc.) que
permita ao ser humano decidir os rumos de sua vida, assegurando sua felicidade e participação na sociedade.

Leia a conceituação de Ingo Wolfgang Sarlet:


Fonte: sumkinn / Shutterstock

A RELAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA COM OS DIREITOS HUMANOS


A despeito da dificuldade semântica já registrada, podemos adotar também uma fórmula para conceituar a dignidade:

ATRIBUTO INERENTE DA PESSOA HUMANA, PELO SIMPLES FATO DE


ALGUÉM “SER HUMANO”.
Desse modo, por existir enquanto ser humano, em uma sociedade plural, automaticamente, esta pessoa se torna
merecedora de respeito e proteção, independentemente, de sua origem, etnia, sexo, idade, estado civil, religião, filiação
partidária, condição sócio econômica, cultura partilhada, ou de qualquer outro fator de identificação ou diferenciação.

Reconhece-se que a dignidade é um princípio fundamental (glossário) que emana de todos os humanos, desde a
concepção no útero materno, não se vinculando e não dependendo de atribuição de personalidade jurídica (glossário)
ao seu titular para seu reconhecimento.

Aqui, neste ponto de nossa disciplina, não aprofundaremos a distinção entre direitos humanos e direitos fundamentais.

Assim nesta aula, consideraremos os dois como sinônimos, apesar de haver uma distinção entre eles, especialmente, no
que tange a sua esfera de incidência:

Desse modo, quer sejam direitos humanos ou direitos fundamentais, ambos emanam, decorrem da dignidade humana.
Podemos, então, dizer que dignidade é um critério unificador, ao qual todos os direitos humanos/fundamentais se
reportam, em maior ou menor grau de adesão ou concretização.

Por outro lado, também se discute se esses direitos poderão ser relativizados, ou não, na medida em que nenhum direito
ou princípio se apresenta de forma absoluta, especialmente quando estudamos o conflito ou colisão entre direitos e suas
formas de resolução.

Por exemplo, em nome do direito à intimidade e privacidade é possível que se proíba a circulação de uma reportagem
jornalística? Esse é um tema de muita relevância e também delicado.

A relação da dignidade humana com os direitos humanos/fundamentais gera uma dupla obrigação para o Estado quanto
ao que dele se pode exigir: uma de caráter negativo e outra de aspecto positivo.

Caráter negativo

Inspirado nos ideais liberais, remete a uma noção de proteção, de defesa contra o Estado,
determinando que o Estado deve se abster de adotar qualquer medida que possa violar a
dignidade humana.

Por exemplo, se não houver ordem judicial, o Estado só pode prender as pessoas em flagrante
delito, isto é, se estiverem naquele momento praticando um crime. É o que temos no art. 5º.
inciso LXI, da Constituição de 1988, preservando-se, assim, o direito à liberdade:

“LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei.”
Dimensão positiva

Impõe ao Estado um dever de agir jurídica ou faticamente. Em geral, a dimensão positiva irá se
traduzir na prestação de um serviço púbico, tal como a educação, a previdência social, a
assistência social e a saúde, entre outros. Ela resulta do modelo de Estado social, que tem por
finalidade proteger e promover, inclusive materialmente, a dignidade da pessoa humana.

No texto constitucional, temos como exemplo o direito à educação, previsto no Capítulo III da
Constituição, regulamentado a partir do art. 205.

“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho".

Ou ainda, como outro exemplo concreto, podemos citar o dever do Estado de prestar
assistência social a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade
social, garantindo um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei (art. 203, inciso V da Constituição de 1988).

ASPECTOS JURÍDICO E CONSTITUCIONAL DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE


HUMANA

Fonte da Imagem: StudioSmart / Shutterstock

A dignidade da pessoa humana, ao ser incorporada à ordem normativa de um país, passa a ostentar um aspecto jurídico
que lhe dá todos os atributos que a norma jurídica (glossário) ostenta, deixando de ser apenas uma indicação ética ou
moral cuja adesão do sujeito depende apenas de sua consciência.

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO PRINCÍPIO


CONSTITUCIONAL E A CONSTITUIÇÃO DE 1988
No caso do Brasil, em especial, a dignidade da pessoa humana é uma norma jurídico-positiva de status constitucional e,
como tal, dotada de eficácia, sendo, então, capaz de garantir os direitos fundamentais do cidadão.

Logo no art. 1º. Inciso III da Constituição, o princípio da dignidade humana é declarado como um fundamento da
República (glossário) e do Estado Democrático de Direito (glossário) do Brasil.

Para comentar este artigo trazemos novamente a contribuição de Ingo Wolfgang Sarlet:
“Consagrando expressamente, no título dos princípios fundamentais, a dignidade da pessoa humana como um dos
fundamentos do nosso Estado democrático (e social) de Direito (art. 1º, inc. III, da CF), nosso Constituinte de 1988 [...]
além de ter tomado uma decisão fundamental a respeito do sentido, da finalidade e
justificação do exercício do poder estatal e do próprio Estado, reconheceu categoricamente que é o Estado que existe em
função da pessoa humana, e não o contrário, já que o ser humano constitui a finalidade precípua, e não meio da
atividade estatal”. (SARLET, 2010: 133)

Em outras palavras, é o Estado que passa a servir ao cidadão, como instrumento para a garantia e promoção da
dignidade das pessoas individual e coletivamente consideradas.

Além desse artigo, o princípio da dignidade se encontra previsto de modo expresso ou implícito ao longo do texto
constitucional, reforçando a ideia de fundamento, sendo a dignidade humana o eixo valorativo de nosso Estado e direito.

, Em outras palavras, é o Estado que passa a servir ao cidadão, como instrumento para a garantia e promoção da dignidade das
pessoas individual e coletivamente consideradas., , Além desse artigo, o princípio da dignidade se encontra previsto de modo
expresso ou implícito ao longo do texto constitucional, reforçando a ideia de fundamento, sendo a dignidade humana o eixo
valorativo de nosso Estado e direito.

A PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VETOR PARA


UMA HERMENÊUTICA ADEQUADA
Ao estudarmos a dignidade humana, percebemos, também, que ela se encontra diretamente relacionada ao tema da
hermenêutica (glossário). Nesse sentido, dois aspectos merecem atenção: a dimensão principiológica e a questão de
seus limites ou restrições.

(galeria/aula1/docs/dimensao_pricipiologica.pdf)

(galeria/aula1/docs/limites_restricoes.pdf)

Clique nos títulos acima.

Exemplo
, Clique aqui (galeria/aula1/docs/exemplo.pdf) e acesse um exemplo que nos ajudará a melhor visualizar esse dilema da proteção
da dignidade humana.

, Agora que estamos chegando ao final de nossa aula, vamos assistir ao vídeo a seguir? Nele, o professor e juiz de direito Ingo
Wolfgang Sarlet discorre sobre a construção histórica da dignidade da pessoa humana e sua relação com os direitos fundamentais.

VÍDEO
ATIVIDADE PROPOSTA
Leia o artigo Crise humanitária: Direito, moralidade e solidariedade (glossário) publicado na Carta Capital e responda:

a) Para o autor, é verdade que a Europa é o continente que mais recebe refugiados? Aponte no texto a base de sua
resposta.

b) De que forma o problema se relaciona com a dignidade humana?

Resposta Correta

Glossário
CRISE HUMANITÁRIA

É uma situação de emergência, em que a vida de um grande número de pessoas se encontra ameaçada e na qual recursos
extraordinários de ajuda humanitária são necessários para evitar uma catástrofe ou pelo menos limitar as suas consequências.
Fonte: Wikipedia

CONFÚCIO

Foi o mais famoso filósofo e pensador político da China e viveu entre 552 e 479 a.C. Confúcio não deixou nenhuma obra escrita, mas
seus discípulos coletaram pequenos provérbios do mestre, além de diálogos com ele, e os reuniram em um texto intitulado Lun Yu
("Os Analectos"). A herança que o filósofo deixou para o mundo oriental vai muito além disso. "O confucionismo é a base da ética
empresarial japonesa. Também em alguns dos chamados Tigres Asiáticos, como Coréia do Sul e Cingapura, ele é promovido como
sistema filosófico a encorajar o desenvolvimento econômico", afirma o historiador Ricardo Gonçalves, da USP. Isso porque os
pensamentos de Confúcio pregavam, por exemplo, a importância da educação para melhorar a sociedade, com destaque à
construção do caráter e não apenas ao acúmulo de conhecimentos.
Fonte: Adaptação da Revista Mundo Estranho

ILUMINISMO

Também conhecido como Século das Luzes e como Ilustração, foi um movimento cultural da elite intelectual europeia do século


XVIII, que procurou mobilizar o poder da razão, a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval.
Abarcou inúmeras tendências e, entre elas, buscava-se um conhecimento apurado da natureza, com o objetivo de torná-la útil ao
homem moderno e progressista. Promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância da Igreja e do Estado. Seus ideais
políticos influenciaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos, a Carta dos Direitos dos Estados Unidos, a Declaração
Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão e a Constituição Polaco-Lituana de 3 de maio de 1791.
Fonte: Wikipedia

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO

Inspirada nos pensamentos dos iluministas, bem como na Revolução Americana (1776), a Assembleia Nacional Constituinte da
França revolucionária aprovou em 26 de agosto de 1789 e votou definitivamente a 2 de outubro a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, sintetizados em 17 artigos e um preâmbulo dos ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa
(1789-1799). Pela primeira vez, são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do homem de forma econômica, visando
abarcar toda a humanidade. Ela foi reformulada no contexto do processo revolucionário em uma segunda versão, de 1793. Serviu de
inspiração para as constituições francesas de 1848 (Segunda República Francesa) e para a atual, e também foi a base da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, promulgada pelas Nações Unidas de 1948.
Fonte: Wikipedia

KANT

“Emmanuel Kant (1724-1804) foi um filósofo alemão, considerado um dos maiores da história e dos mais influentes no Ocidente.
Kant veio de família pobre e foi criado no seio da religião protestante. Lecionou geografia e iniciou a carreira universitária ensinando
Ciências Naturais. Em 1770, foi nomeado professor catedrático na Universidade de Königsberg. [...] Sua obra, Crítica da Razão Pura,
visava colocar todas as questões sob análise racional, sem a confusão que os sentidos poderiam causar para uma conclusão mais
cuidadosa. Tentou, então, resolver o problema do conhecimento racional e empírico, pois não concordava que a experiência sensível
era limitada. Kant achava que as verdades universais poderiam ser encontradas a priori, ou seja, antes de qualquer experiência.
Assim, para Kant, o espírito ou a razão modelava e coordenava as sensações, sendo as impressões dos sentidos externos apenas
matéria-prima para o conhecimento. Kant negava que existia uma verdade última ou a natureza íntima das coisas. Por isso, propôs
uma espécie de código de conduta humano, surgindo daí, ideias para outra obra famosa, o seu livro A crítica da Razão Prática, que
funcionaria como leis éticas que regeriam os seres humanos. A estas leis, deu o nome de Imperativo Categórico”.
Fonte: E-biografias
“Kant manifestou grande simpatia pelos ideais da Independência Americana e depois da Revolução Francesa. Foi um pacifista
convicto. É lendária a forma extremamente regrada como vivia. Conta-se que a população de Könisberg acertava os relógios por ele
quando passava pelas suas janelas nos seus passeios diários, sempre às 16h30. Morreu aos 80 anos.”
Fonte: Pensador.uol

FINALIDADE [EM KANT]

Estabelece que o homem é um fim em si mesmo, e assim, não pode servir de meio para a consecução de algum outro objetivo, isto
é, o ser humano não pode ser instrumentalizado. Nas palavras de Kant “a vontade é concebida como a faculdade de se determinar a
si mesmo a agir em conformidade com a representação de certas leis. Ora aquilo que serve à vontade de princípio objetivo da sua
autodeterminação é o fim (Zweck), e este, se é dado pela só razão, tem de ser válido igualmente para todos os seres racionais”
(KANT, Emmanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela - Lisboa: Edições 70, 2007, p. 67).
Fonte: //www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/dignidade-da-pessoa-humana-em-immanuel-kant
AUTONOMIA [EM KANT]

A autonomia é o principio supremo da moralidade. E a vontade deve ser autônoma, quando: a) ela puder universalizar a regra que
ditou a ação individual, isto é, deve valer para todos; b) quando ela mesma estiver sujeita à regra universal que criou. Kant explicava
que “O homem, e, de uma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário
desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele mesmo como nas que se dirigem a
outros seres racionais, ele tem sempre de ter considerado simultaneamente como fim”.
(KANT, Emmanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela - Lisboa: Edições 70, 2007, p. 67/68)
Fonte: //www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/dignidade-da-pessoa-humana-em-immanuel-kant

CONDIÇÃO HUMANA

A condição humana é uma expressão muito associada à filósofa Hannah Arendt. Ao começar sua obra, “A condição humana”, ela
alerta que: a “condição humana não é a mesma coisa que natureza humana. A condição humana diz respeito às formas de vida que
o homem impõe a si mesmo para sobreviver. São condições que tendem a suprir a existência do homem. As condições variam de
acordo com o lugar e o momento histórico do qual o homem é parte. Nesse sentido, todos os homens são condicionados, até
mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros tornam-se condicionados pelo próprio movimento de condicionar.
Sendo assim, somos condicionados por duas maneiras: 1. Pelos nossos próprios atos, aquilo que pensamos, nossos sentimentos,
em suma, os aspectos internos do condicionamento. 2. Pelo contexto histórico que vivemos, a cultura, os amigos, a família; são os
elementos externos do condicionamento”.
Explicação elaborada por Thiago Rodrigues Braga.
Fonte: Mundo dos Filósofos

DIREITO NATURAL

“O direito natural tem como pontos principais em sua doutrina a ideia de que existe um direito comum a todos os homens e que o
mesmo é universal. Este direito é anterior ao direito positivo, que é aquele fixado pelo Estado, e todos os homens o recebem de
forma racional. Suas principais características, segundo Norberto Bobbio, são a universalidade, a imutabilidade e seu conhecimento
através da própria razão do homem”. Segundo o mesmo autor, “os comportamentos regulados pelo direito natural são bons ou maus
por si mesmos e estabelecem aquilo que é bom”.
Excerto de O Direito Natural como justificativa da proteção aos direitos humanos fundamentais no caso de omissão legislativa, por
Adelson Antonio Pinheiro.
Fonte: DireitoNet.

CLÁUSULA ABERTA

Também chamada de norma jurídica indeterminada. Em geral são normas que incorporam um princípio ou valor de origem ética que
orientam a aplicação do direito na solução do caso concreto, com o que ampliam a importância da interpretação jurídica e põem em
destaque o papel do juiz. Para muitos, seu sentido é situado no tempo e no espaço, já que explicitam um padrão de conduta aceito
em certa época e lugar. Em geral, sob o aspecto linguístico, a cláusula aberta pode ser entendida como uma técnica legislativa que
adota o uso de formas vagas, formas multissignificativas, que comportam muitos significados, daí chamadas de polissêmicas. Se
norma jurídica está prevista em uma cláusula aberta, defere-se ao intérprete e, em última instância ao juiz, a atividade hermenêutica
de densificar seu conteúdo, que pode se ajustar e mudar em razão do caso considerado.

PERSONALIDADE JURÍDICA

É a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres.


PRINCÍPIO FUNDAMENTAL

(Na Constituição do Brasil) é o termo referente a um conjunto de dispositivos contidos na Constituição brasileira de 1988, destinados
a estabelecer as bases políticas, sociais, administrativas e jurídicas da República Federativa do Brasil. São as noções que dão a
razão da existência e manutenção do Estado brasileiro. Sendo o Brasil um Estado democrático de direito, os princípios fundamentais
se apresentam como os objetivos deste complexo sistema chamado direito.
Fonte: Wikipedia

IDEAIS LIBERAIS

Os ideais liberais se articulam em quatro grandes pilares: “[1] Os liberais acreditam que o Estado foi criado para servir ao indivíduo, e
não o contrário. Os liberais consideram o exercício da liberdade individual como algo intrinsecamente bom, como uma condição
insubstituível para alcançar níveis ótimos de progresso. Entre outras, a liberdade de possuir bens (o direito à propriedade privada)
parece-lhes fundamental, já que sem ela o indivíduo se encontra permanentemente à mercê do Estado. [2] Portanto, os liberais
também acreditam na responsabilidade individual. Não pode haver liberdade sem responsabilidade. Os indivíduos são (ou deveriam
ser) responsáveis por seus atos, tendo o dever de considerar as consequências de suas decisões e os direitos dos demais
indivíduos. [3] Justamente para regular os direitos e deveres do indivíduo em relação a terceiros, os liberais acreditam no Estado de
direito. Isto é, creem em uma sociedade governada por leis neutras, que não favoreçam pessoas, partido ou grupo algum, e que
evitem de modo enérgico os privilégios. [4] Os liberais também acreditam que a sociedade deve controlar rigorosamente as
atividades dos governos e o funcionamento das instituições do Estado”.
Excerto de O que é o Liberalismo, por Carlos Alberto Montaner. Fonte: Instituto “Ordem Livre”.

FLAGRANTE DELITO

Nos termos do artigo 302 do Código de Processo Penal, há quatro circunstâncias para a ocorrência do flagrante delito: a) quando o
agente está cometendo a infração penal; b) quando acaba de cometê-la, c) quando é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido, ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser o autor da infração; d) ou quando é encontrado, logo depois,
com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser o autor da infração.

ESTADO SOCIAL

Também chamado de Estado de Bem-Estar Social. Se no contexto liberal, o Estado possuía um papel mínimo, com a finalidade de
garantir a liberdade individual dos cidadãos; no Estado Social, o Estado é positivamente atuante para ensejar o desenvolvimento
(não apenas o crescimento econômico, mas a elevação do nível cultural e a mudança social) e a realização da justiça social, com a
redução das desigualdades materiais.

ASSISTÊNCIA SOCIAL

Nos termos da Lei 8742/1993, a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado, desenvolvida por uma Política de
Seguridade Social não contributiva, isto é, não é necessário que seu beneficiário tenha financeiramente contribuído para gozar de
seus benefícios, que deve prover os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da
sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

SEGURIDADE SOCIAL

Nos termos do art. 194 da Constituição, a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Ela será
financiada mediante recursos provenientes do orçamento Poder Público (União, Estados, Municípios e Distrito Federal) e de
contribuições da sociedade (em geral as mais conhecidas são as contribuições devidas pelos empregadores, e a devida pelos
empregados, chamadas popularmente de “desconto para o INSS). A aposentadoria por tempo de serviço é um dos exemplos de
direito oriundo da seguridade social.

ATRIBUTOS DA NORMA JURÍDICA

A norma jurídica é a conduta exigida ou o modelo de organização social imposto. Seus atributos são: vigência, efetividade, eficácia e
legitimidade.
Fonte: direitorvm.blogspot.com.br

FUNDAMENTO DA REPÚBLICA

São chamados, também, de princípios fundamentais e estruturam a existência jurídico-política do Estado Brasileiro. Para Canotilho,
os princípios fundamentais visam essencialmente definir e caracterizar a coletividade política e o estado, enumerando as principais
opções político constitucionais. Entre nós, estão previstos no art. 1º. da Constituição: “Art. 1º A República Federativa do Brasil,
formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa; V - o pluralismo político”.

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

Para o importante doutrinador José Afonso da Silva, o Estado Democrático de Direito, previsto no texto da Constituição de 1988, é
um Estado de Direito no qual a democracia deve ser “um processo de convivência social em uma sociedade livre, justa e solidária
(art. 3º.II), em que o poder emana do povo, deve ser exercido em proveito do povo diretamente ou por seus representantes eleitos
(art. 1º., parágrafo único); participativa, porque envolve a participação crescente do povo no processo decisório e na formação dos
atos de governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de ideias, culturas e etnias e pressupõe, assim, o diálogo entre opiniões e
pensamentos divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e interesses diferentes na sociedade; há de ser
um processo de liberação da pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do reconhecimento formal de certos
direitos individuais, políticos e sociais, mas especialmente da vigência de condições econômicas suscetíveis de favorecer o seu
pleno exercício”.
Fonte: excerto de O Estado democrático de direito por José Afonso da Silva, disponível em: //bibliotecadigital.fgv.br
(http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/45920/44126)

HERMENÊUTICA

Muitas vezes, é utilizada no Direito como sinônimo de interpretação. Mas hermenêutica também pode ser considerada como o
estudo sobre a interpretação. Ao passo que a interpretação pode ser entendida como o esforço lógico-mental para determinar o
sentido e alcance de uma norma jurídica.
Direitos Humanos

Aula 3 - A proteção de DH no Brasil


INTRODUÇÃO

Nesta aula, avaliaremos a proteção normativa que a ordem jurídica brasileira dá aos direitos humanos e, como estamos
tratando da ordem interna, usaremos direitos humanos ou direitos fundamentais como expressões equivalentes.
OBJETIVOS

Descrever o Sistema Brasileiro de Direitos Humanos no Brasil;

Identificar a cláusula de abertura dos direitos fundamentais;

Analisar a hierarquia dos tratados internacionais sobre direitos humanos no ordenamento jurídico brasileiro;

Distinguir as garantias constitucionais dos direitos fundamentais.

DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL


Antes de começarmos nossos estudos, vejamos o documentário "Extremos", de João Freire, realizado pela TV NBR, em 2011,
que mostra como o Estado e a sociedade têm agido em defesa dos Direitos Humanos no Brasil, além de apresentar quais os
desafios para as políticas públicas de promoção dos Direitos Humanos e como elas se integram com as ações de combate à
pobreza.

VÍDEO

A reportagem esteve na Vila Estrutural, no DF, mostrando o trabalho realizado por catadores. Destaca, também, a disparidade
com a riqueza do Plano Piloto da Capital Federal, Brasília. Esse é o pano de fundo da realidade brasileira que contempla
muitos extremos, tanto que usualmente falamos em “muitos Brasils”.

, Como pensarmos um sistema normativo que seja capaz de dar conta dessa problemática complexa e
estrutural e que transforme a promessa de um sistema de proteção de direitos humanos em efetiva
realidade para todos os brasileiros?, , Qual o papel do Direito nessa questão?

O SISTEMA BRASILEIRO DE DIREITOS HUMANOS/FUNDAMENTAIS


A proposta de estudar o sistema brasileiro de direitos humanos fundamentais, nesta aula, nos remete ao plano da
Constituição Federal de 1988 e como ela se coloca como a moldura a ser levada em conta quando falamos na proteção de
direitos no Brasil.

Nesse sentido, trataremos do tema em quatro momentos:

O sentido da Constituição de 1988;


A ideia de sistema jurídico;

A concepção de direitos fundamentais abrigados pela Constituição;

O rol dos direitos constitucionalmente consagrados.

O SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Fonte da Imagem:

"A Constituição é mais que um documento legal. É um documento com intenso significado simbólico e ideológico – refletindo
tanto o que nós somos enquanto sociedade como o que nós queremos ser", nos ensina Flávia Piovesan (2016), ao citar dois
autores estrangeiros, Joel Bakan e David Schneiderman.

Assim, a Constituição de 1988 representa a visão de mundo, de Estado, de sociedade e do cidadão que, pelo exercício do
Poder Constituinte (glossário), adotamos como rota e destino para nosso país e povo.

Como afirma o preâmbulo da Constituição (glossário), somos um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na
ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias.

O SENTIDO DA CONSTITUIÇÃO DE 1988


Por outro lado, tendo a cidadania e a dignidade da pessoa humana como fundamentos (art. 1º.), as ações do Estado
brasileiro, quer no plano administrativo, legislativo ou jurisdicional, devem ser direcionados para:

galeria/aula3/img/slidertransicao/s10a.jpg
Construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
galeria/aula3/img/slidertransicao/s10b.jpg
Garantia o desenvolvimento nacional.
galeria/aula3/img/slidertransicao/s10c.jpg
Erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais e regionais.
galeria/aula3/img/slidertransicao/s10d.jpg
Promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.
São esses objetivos fundamentais determinados na Constituição, em seu art. 3º, que revelam um compromisso inafastável
com a promoção e proteção dos direitos humanos como eixo de legitimidade do Estado Brasileiro.

A IDEIA DE SISTEMA JURÍDICO


A Constituição também é um sistema jurídico e como tal dotada de organicidade e coerência.

A utilização dessa expressão “sistema jurídico”, como escreve John Rawls, implica “[...] uma ordem coercitiva de regras
públicas endereçadas a pessoas racionais, com o propósito de regular certas condutas e assegurar os fundamentos de uma
cooperação social. [...] A ordem jurídica é um sistema de regras públicas, endereçadas e pessoas racionais, no qual os
preceitos de justiça são associados ao Estado de Direito." (1971: 235-236).

Para Paulo Bonavides, a ideia de sistema remete de plano a outras ideias, como: unidade, totalidade e complexidade.

Para ao autor:

Fonte: sumkinn / Shutterstock

E sendo um sistema, há um desdobramento imediato no plano da interpretação constitucional, que deverá assumir como
referencial obrigatório, para a compreensão da norma, toda a dimensão dos princípios da Constituição que apontam para a
maior realização possível da dignidade humana traduzidas nos direitos fundamentais.

A CONCEPÇÃO DE DIREITOS HUMANOS ABRIGADOS PELA


CONSTITUIÇÃO

Fonte:

A concepção de direitos humanos adotada pela Constituição está assentada no valor da dignidade humana – o que significa
dizer que há uma valorização dos direitos e garantias fundamentais que funcionam como o eixo axiológico (isto é valorativo)
de todo o sistema jurídico brasileiro, que deve, por sua vez, incorporar as exigências de justiça e de valores éticos.
Fonte da Imagem: Jakkrit Orrasri / Shutterstock

Nos dizeres de Flávia Piovesan (2016), “constata-se, assim, uma nova topografia constitucional, na medida em que o texto de
1988, em seus primeiros capítulos, apresenta avançada Carta de direitos e garantias, elevando-os, inclusive, a claúsula
pétrea, o que, mais uma vez, revela a vontade constitucional de priorizar os direitos e garantias fundamentais”.

Entretanto, continua a professora Piovesan (2016), “a Carta de 1988 não se atém apenas em alterar a topografia
constitucional tradicional e elevar a cláusula pétrea (glossário) os direitos e garantias individuais”.

Há uma inovação significativa, pois ao ampliar a dimensão dos direitos e garantias, a Constituição não apenas assegura
direitos individuais, mas abarca também as diferentes dimensões dos direitos, como veremos em seguida.

Além do mais, na mesma linha adotada pela Lei Fundamental de Bonn de 1949 (glossário) e pela Constituição Portuguesa
de 1976, a Constituição de 1988, com a finalidade de reforçar a obrigatoriedade das normas que consagram direitos e
garantias fundamentais, estabeleceu no parágrafo 1º. do art 5º que “as normas definidoras dos direitos e garantias
fundamentais têm aplicação imediata.”

Isso quer dizer que a ideia do constituinte é evitar que as normas de direitos fundamentais sejam consideradas como “letra
morta”. Sendo de aplicabilidade imediata, elas devem ser aplicadas de plano, já que por si só têm o condão de regular
diretamente relações jurídicas.

Assim, não ficam sujeitas à edição de lei para lhes dar concretude. Ao contrário, é a lei que deve atentar para as prescrições
de direitos fundamentais.

Atenção!
, Dessa forma, este princípio da aplicabilidade de direitos fundamentais está vinculado à efetividade dos
direitos fundamentais que vai dizer respeito a sua aptidão de produzir efeitos, mudando a realidade fática.
Por outro lado, a questão da efetividade se relaciona diretamente com o seu cumprimento forçado por intermédio do Poder
Judiciário.

Direitos de liberdade

Para os direitos de liberdade, isto é, que demandam do Estado um não fazer, uma abstenção de
conduta. Essa questão é menos problemática, já que a intervenção do juiz se dá no sentido de
fazer cessar a violação à liberdade (por exemplo, o relaxamento de uma prisão ilegal).

Direitos sociais
Para os direitos sociais, que demandam sua implementação mediante principalmente políticas
públicas, a aplicabilidade imediata não é tão fácil de ser obtida pela via judicial. Tanto é que,
nesses casos, muito se discute sobre a possibilidade de implementação desses direitos pelo
Poder Judiciário, como por exemplo, temos o debate sobre a judicialização da saúde.

O ROL DE DIREITOS FUNDAMENTAIS CONSTITUCIONALMENTE


CONSAGRADOS
No movimento expansivo da dignidade humana, o constituinte recepcionou e organizou os direitos fundamentais da seguinte
maneira:

DIREITOS INDIVIDUAIS
Também conhecidos como liberdades públicas, direitos negativos, liberais ou de 1a geração (art. 5o da CRFB/88) - são
direitos que apresentam como principais características os indivíduos como titulares e controlar os abusos de poder
estatais.

DIREITOS COLETIVOS E DIFUSOS (OU DE 3A GERAÇÃO)


Os coletivos caracterizam-se por serem direitos de um grupamento humano com interesses homogêneos, por exemplo o
pleito dos sindicatos. Já os difusos são direitos que pertencem a todos, ou seja, não somos capazes de identificar quem são
os seus titulares como, por exemplo, o meio ambiente.

DIREITOS DA NACIONALIDADE
Caracteriza-se como vínculo jurídico-político de uma pessoa com o Estado que nos permite dizer que esta pessoa faz parte
do povo deste Estado. Ela pode ser de dois tipos: originária, que chamamos de natos, que no Brasil pode ser adquirida pelo
critério misto, ou seja, pelo nascimento em nosso território (ius soli) ou pela consanguinidade (ius sangunis) de pai ou mãe
brasileiros ou; derivada, que se adquire com um pedido ao governo brasileiro atendendo aos requisitos de se for originário de
país de língua portuguesa: ter visto (autorização de permanência regular no Estado Brasileiro) de permanência, residência
ininterrupta por um ano e idoneidade moral e, se originário de outro país: visto de permanência, quinze anos de residência
ininterrupta e nenhuma condenação penal. (art. 12 da CRFB/88).

DIREITOS POLÍTICOS
Segundo Pedro Lenza, “direitos políticos nada mais são do que instrumentos através dos quais a Constituição Federal
garante o exercício da soberania popular atribuindo poderes aos cidadãos para interferirem na condução da coisa pública,
seja direta ou indiretamente”. Esses direitos são basicamente exercidos pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto. O
sufrágio (capacidade eleitoral ativa) determina o direito de eleger e ser eleito (capacidade eleitoral passiva). O voto é um
direito público subjetivo que tem como características ser personalíssimo, sigiloso, obrigatório, livre, periódico e igual.
Apenas para não confundir, vale lembrar que escrutínio significa a maneira pela qual se vota e que a legislação
infraconstitucional referente aos direitos políticos é a Lei 4737/65.

DIREITOS SOCIAIS
São direitos sociais ou de segunda geração, se caracterizam por terem como titulares grupos específicos de pessoas como,
por exemplo, crianças, mulheres, trabalhadores etc. Exigem do Estado um fazer, um animus de proteção efetiva na
persecução desses direitos a fim de amenizarem as desigualdades sociais.

A CLÁUSULA DE ABERTURA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Fonte:

Para além do princípio da aplicabilidade imediata, a Constituição adotou uma cláusula de abertura no que toca ao
reconhecimento dos direitos fundamentais.

Fonte da Imagem: viviamo / Shutterstock

Essa cláusula também está prevista no art. 5º, em seu parágrafo segundo, estabelecendo que os direitos e garantias
expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou, de forma
original, dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Isto quer dizer que há uma abertura material para o reconhecimento de outros direitos fundamentais que topograficamente
não estejam listados nem no catálogo do art. 5º, nem no Título II da Constituição e/ou nem mesmo na própria Constituição.
Logo, podemos falar de uma não tipicidade que define um regime de direitos fundamentais.

Aliás, nesse mesmo sentido, já entendeu o STF que o rol dos direitos fundamentais (que são cláusulas pétreas – art. 60, §4o
,inciso IV da CRFB/88) é meramente exemplificativo, visto que podemos depreender novos direitos implicitamente como
também pela incorporação de tratados internacionais de direitos humanos (art. 5o §§ 2o e 3o da CRFB/88).

A HIERARQUIA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS


HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Hoje temos o reconhecimento máximo, sob o plano normativo-formal, da prevalência dos DH como fonte de referência para o
Direito brasileiro, bem como os Poderes do Estado e seus agentes e para toda a sociedade civil.

Além dos parágrafos 1º e 2º do artigo 5º, a Emenda 45 de 2004 acrescentou mais um parágrafo terceiro:

“ § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais”.

O mencionado dispositivo é de extrema relevância, pois dá aos tratados de DH uma hierarquia normativa superior a da lei no
sentido formal (lei ordinária ou lei complementar), fazendo com que os mesmos tenham o status de norma constitucional
derivada (Emenda constitucional).

Para tanto, a aprovação deste tratado deverá observar procedimento mais qualificado, bastante rígido:

Aprovação em dois turnos;


Em cada casa em separado (Câmara e Senado Federal);

Quórum de três quintos dos membros.

Atenção!
, Atente que, ao assumir o valor formal de emenda à Constituição, o tratado de DH se coloca como um
parâmetro a ser seguido por todo o ordenamento jurídico que necessariamente deve observar seus
preceitos sob pena de vício de inconstitucionalidade, passível de correção pelos mecanismos de controle
de constitucionalidade adotados pela nossa ordem constitucional., , Logo, o legislador ordinário está
vinculado à proteção desses direitos e, ao exercer a função legislativa, deverá tê-los como norte ao propor
as regulamentações legais.

O SISTEMA DE GARANTIAS CONSTITUCIONAIS DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS

Fonte da Imagem: Dariush M / Shutterstock

O mundo contemporâneo tem revelado sistemas de garantias dos direitos fundamentais variados, que incorporam muitas
experiências diferentes, em distintos níveis normativos. Muitas delas se repetem nos diferentes países, especialmente se
considerado o mundo ocidental. Veja-se, por exemplo, a proteção à liberdade de ir e vir internacionalmente adotada pelo
Habeas Corpus ou instrumento equivalente.

A Constituição de 1988 prestigia uma estrutura protetiva, ao menos no plano normativo (já que nem sempre a previsão em
texto de lei corresponde a uma real e efetiva proteção), bastante extensiva e que contempla um sistema de proteção que
pode ser articulado em circunstâncias distintas, levando em conta o tipo de violação perpetrada contra o direito fundamental
considerado, a estrutura procedimental oferecida e a quem compete acionar esse sistema de proteção.

Também podemos falar em um sistema genérico que não foi especialmente concebido para a proteção de direitos
fundamentais, mas que tem nos direitos sua última finalidade.

E há, ainda, um sistema previsto explicitamente para a proteção dos direitos fundamentais que se compõe de figuras
jurídicas constitucionais garantidoras dos direitos fundamentais (que trata das ações voltadas para proteção de direitos
fundamentais, chamadas de remédios constitucionais); assim como do incidente de deslocamento de competência, como
veremos adiante.
Em ambos os sistemas, ressalta-se a importância do Poder Judiciário como estrutura do Estado, à qual é atribuída a missão
de zelar pela cidadania, com a entrega da prestação jurisdicional, em situações de conflito entre as pessoas, assegurando
que os direitos fundamentais sejam respeitados.

O sistema genérico basicamente se organiza em torno de dois grandes eixos:

O MODELO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE


O controle de constitucionalidade tem por finalidade assegurar que toda a produção normativa do Estado seja feita em
conformidade com a Constituição. Logo, o controle busca suprimir a incompatibilidade expressa ou implícita entre a norma
infraconstitucional com dispositivo que conste expressamente na Constituição.

O sistema de controle adotado pela Carta de 1988, oferece um leque variado de possibilidades que leva em conta alguns
critérios para a caracterização do modelo que adotamos.

O sistema brasileiro se admite um controle chamado de misto:

Controle político, que deve ser, em regra, preventivo, exercitado pelo próprio Poder Legislativo;
Controle jurisdicional que:

é repressivo, e pode se dar na modalidade indireta (no bojo de qualquer ação qualquer) quando efetuado por todas as instâncias
jurisdicionais;
na modalidade direta, através das ações especialmente desenhadas para o controle de constitucionalidade – controle direto - cuja
competência, na esfera federal, no que toca a Carta de 1988, é do Supremo Tribunal Federal.
Entre as ações de controle direto, há duas espécies tratam explicitamente da proteção dos direitos fundamentais. São elas:

Ação de Descumprimento Preceito Fundamental (ADPF)


A ADPF está prevista no art. 102, § 1º da Constituição. Tem por objeto evitar ou reparar lesão a
preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público ou quando for relevante o fundamento
da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual, municipal, incluídos os
anteriores à constituição.

Pela redação do caput do art. 102, é possível notar a enorme abrangência da ADPF que pode ser
utilizada não apenas para censurar atos normativos, mas os atos administrativos e até os
judiciais, inclusive atos normativos anteriores a promulgação da Constituição, como por exemplo,
contratos administrativos, editais de licitação de concurso, decisões dos tribunais de contas.
Logo, esses atos ficariam, também, sujeitos ao crivo do controle concentrado de
constitucionalidade – o que não seria possível na tradicional via da Ação Direta de
Inconstitucionalidade.

A doutrina tem entendido que os preceitos fundamentais são os princípios fundamentais, os


direitos fundamentais, as cláusulas pétreas e os princípios constitucionais. Daí sua relevância no
sistema de proteção dos DH. Hoje, a ADPF está regulamentada na Lei n. 9882.

Ação Direta Interventiva (ADIN interventiva)

A ação direta interventiva (art. 36, III da CRFB/88) é uma modalidade de controle de
constitucionalidade concreto e concentrado para um conflito federativo, proposta na esfera
federal pelo chefe do Ministério Público Federal, o Procurador-Geral da República, quando um dos
Estados membros desrespeita lei federal ou um dos princípios constitucionais sensíveis (art. 34,
VII da CRFB/88). Entre eles, se encontra a DIGNIDADE HUMANA.

O ACESSO À JUSTIÇA
O acesso à justiça, traduzido aqui no direito de ação (glossário), pode ser considerado, também, ferramenta de proteção aos
direitos fundamentais, nas violações em concreto da esfera jurídica do cidadão, já que, nos termos do art. 5º. inciso XXXV da
Constituição, a lei poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

É o chamado de princípio da inafastabilidade da jurisdição que se traduz no direito da parte de acionar a Poder Judiciário, em
busca de proteção/reparação ao direito fundamental violado. Esse direito se articula pelo princípio do devido processo legal
(glossário) que deverá ser observado como forma de se alcançar a solução adequada para a controvérsia apresentada ao
juiz e que demanda uma resposta jurisdicional que é chamada de prestação jurisdicional.

AS FIGURAS JURÍDICAS CONSTITUCIONAIS GARANTIDORAS DOS


DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os remédios são instrumentos processuais que visam assegurar o exercício dos direitos fundamentais quando violados. São
eles:
Significa “tomes o corpo do delito”. É uma ação gratuita que visa proteger a liberdade de locomoção, e dispensa a
necessidade de advogado. Ela pode ser proposta a seu favor ou de terceiro, preventiva (quando se há ameaça à liberdade) ou
repressivamente – art. 5o, inciso LXVIII da CRFB/88.

Ação que pode ser individual ou coletiva, que visa proteger direito líquido e certo, ou seja, aquele que pode ser provado de
plano, isto é, só pode ser provado por provas documentais irrefutáveis e apto a ser exercido no momento da impetração, que
não seja protegido por habeas corpus ou habeas data quando se sofre uma ilegalidade de poder por uma autoridade pública.
(art. 5o, incisos LXIX e LXX da CRFB/88 e LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009.

Significa “tomes a informação”. Segundo José Afonso da Silva “tem por objeto proteger a esfera íntima dos indivíduos contra:
a) usos abusivos de registro de dados pessoais coletados por meios fraudulentos, desleais ou ilícitos; b) introdução nesse
registro de dados sensíveis; c) conservação de dados falsos ou com fins diversos autorizados em lei”. É uma ação gratuita.
(art. 5o , inciso LXXII da CRFB/88, Lei 9507/97 e súmula 2 do STJ).

Remédio que objetiva garantir a toda pessoa a eficácia plena de direitos fundamentais assegurados pela Constituição, de
forma que busque obrigar o Poder Público a estabelecer norma regulamentadora – art. 5o, inciso LXXI da CRFB/88 LEI Nº
13.300, DE 23 DE JUNHO DE 2016.

Ação gratuita própria de cidadão em sentido estrito que visa proteger atos lesivos ao patrimônio público ou de entidades que
o Estado participe, a moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico – art. 5o , inciso LXXIII da
CRFB/88 e lei 4717/65 e súmula 35 do STF.
Remédio cabível para defesa do patrimônio público e social, do meio ambiente e de interesses difusos e coletivos e tem a
sua única previsão constitucional no art. 129, inciso III. (Lei 7347/85).

O INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA


O Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) foi trazido pela Emenda Constitucional no. 45 de 2004. Entre as várias
novidades introduzidas pela emenda, o IDC permite ao Procurador-Geral da República, nos casos de grave violação aos
Direitos Humanos, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, a remessa do caso para a Justiça Federal que passaria a
ter competência para processar a violação.

Confira o texto constitucional:

Fonte: / Shutterstock

Desde a sua origem, em 2004, o incidente não tem sido muito frequente, o que nos leva a indagar o motivo de seu baixo grau
de adesão, já que as violações aos DH, infelizmente, na atualidade, não são raras.

Atenção!
, Aliás, essa crítica de baixa efetividade pode ser formulada para todo o sistema de proteção dos direitos
fundamentais, eis que, na atualidade, o grande desafio que se coloca não é mais o reconhecimento
normativo, a positivação dos DH, mas sim como realmente protegê-los, de modo que se possa consolidar
na vida de todos e de cada um uma dimensão real e plenamente vivenciada da dignidade humana., , Ainda
assim, com a previsão normativa do incidente marca-se o seu valor simbólico no sentido de apontar o
compromisso do Estado Brasileiro com os DH.

ATIVIDADE PROPOSTA
Assista à reportagem sobre a crise dos haitianos no Brasil:

VÍDEO

Sob o aspecto dos direitos humanos, aponte duas questões que se colocam como desafiadoras para a proteção dos direitos.

Resposta Correta
Glossário
PODER CONSTITUINTE

O poder constituinte pertence ao povo, que o exerce por meio dos seus representantes (Assembleia
Nacional Constituinte). “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição” (art.1º, parágrafo único da CF). É chamado de Poder
Constituinte Originário (poder genuíno ou poder de 1º grau ou poder inaugural) quando estabelece uma
nova ordem constitucional, isto é, dá conformação nova ao Estado, rompendo com a ordem constitucional
anterior. O Poder Constituinte Derivado Reformador é aquele criado pelo Poder Constituinte Originário para
reformular (modificar) as normas constitucionais. A reformulação se dá através das emendas
constitucionais.
Fonte: Webjur

PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO

“[...] Preâmbulo da Constituição, no qual se contém a explicitação dos valores que dominam a obra
constitucional de 1988 [...]. Não apenas o Estado haverá de ser convocado para formular as políticas
públicas que podem conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a sociedade haverá de se organizar
segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma comunidade fraterna, pluralista e sem
preconceitos [...]. E, referindo-se, expressamente, ao Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988, escolia
José Afonso da Silva que ‘O Estado Democrático de Direito destina-se a assegurar o exercício de
determinados valores supremos. ‘Assegurar’, tem, no contexto, função de garantia dogmático-
constitucional; não, porém, de garantia dos valores abstratamente considerados, mas do seu ‘exercício’.
Este signo desempenha, aí, função pragmática, porque, com o objetivo de ‘assegurar’, tem o efeito imediato
de prescrever ao Estado uma ação em favor da efetiva realização dos ditos valores em direção (função
diretiva) de destinatários das normas constitucionais que dão a esses valores conteúdo específico’ [...]. Na
esteira destes valores supremos explicitados no Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988 é que se
afirma, nas normas constitucionais vigentes, o princípio jurídico da solidariedade.” (ADI 2.649, voto da
rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 8-5-2008, Plenário, DJE de 17-10-2008.)

CLÁUSULA PÉTREA

Cláusulas pétreas são limitações materiais ao poder de reforma da constituição de um Estado. Em outras
palavras, são dispositivos que não podem ter alteração, nem mesmo por meio de emenda, tendentes a
abolir as normas constitucionais relativas às matérias por elas definidas. A existência de cláusulas pétreas
ou limitações materiais implícitas é motivo de controvérsia na literatura jurídica. Tem-se que demandam
interpretação estrita, pois constituem ressalvas ao instrumento normal de atualização da Constituição (as
emendas constitucionais).

LEI FUNDAMENTAL DE BONN DE 1949

“A Lei Fundamental de Bonn foi o nome utilizado para designar a Constituição promulgada em 22 de maio
de 1949 para a Alemanha Ocidental. Foi redigida pelo Parlamentarischer Rat (Conselho Parlamentar
Alemão), um órgão de 65 membros nomeados pelos governos dos onze estados federados da Alemanha
Ocidental, a instrução do comando militar das zonas de ocupação norte-americanas. Em 8 de maio de
1949, o Parlamentarischer Rat aprovou a Lei Fundamental com maioria absoluta (e as vozes contra o
Partido Comunista, entre outros); no dia 12 de maio foi ratificada pelos governadores militares e, nos dias
seguintes, pelos parlamentos dos estados federados. A primeira frase do artigo 1.1 da Lei Fundamental, "A
dignidade humana é inviolável", foi copiada em 2004 do artigo II-61 (o primeiro da seção de direitos
fundamentais) da Constituição da União Europeia (UE)”.
Fonte: Seuhistory.com

JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

Para o Cebes, “a discussão sobre o acesso a medicamentos e tratamentos de saúde pela via judicial no
Brasil ganhou importância teórica e prática, envolvendo crescentes debates entre acadêmicos, operadores
do direito, gestores públicos e sociedade civil. E trouxe para o centro da argumentação a polêmica atuação
do Poder Judiciário em relação à garantia do direito à saúde”.
Fonte: Cebes

INCONSTITUCIONALIDADE

Define-se inconstitucionalidade como o fenômeno da incompatibilidade expressa ou implícita entre a


norma infraconstitucional com o dispositivo que conste expressamente na Constituição. Para o controle
dessas inconstitucionalidades necessário se faz a observância dos seguintes pressupostos, tendo sempre
como base que a Constituição é uma norma fundamental: a) existência de Constituição Formal; b) rigidez
constitucional; c) distinção entre leis ordinárias e leis constitucionais; d) previsão de pelo menos um órgão
dotado de competência para o exercício dessa atividade.
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

“É a autoridade responsável pela Procuradoria-Geral da República (PGR) no país. Ele é nomeado pelo
presidente da República entre integrantes da carreira com mais de trinta e cinco anos de idade, e seu nome
deve ser aprovado pela maioria absoluta do Senado Federal após arguição pública. Detém independência
funcional para o exercício de suas funções, não estando subordinado ao Poder Executivo, e tem mandato
de 2 (dois) anos, podendo ser reconduzido.[1] Entre suas atribuições, estão a chefia do Ministério Público
da União e de procurador-geral eleitoral e presidente do Conselho Nacional do Ministério Público”.
Fonte: Wikipedia

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SENSÍVEIS

São princípios de observância obrigatória para os Estados Membros e o Distrito federal no exercício de
suas competências legislativas, administrativas ou tributárias sob pena de acarretar a sanção política mais
grave em um Estado Federal, ou seja, a intervenção na autonomia estatal. Estão previstos no art. 34, VII da
Constituição, a saber:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) dignidade da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d)prestação de contas da administração pública direta e indireta;
e) aplicação do mínimo exigido da receita de impostos estaduais nas ações de saúde e ensino.

DIREITO DE AÇÃO

O direito de ação é o próprio direito de pedir a tutela jurisdicional, de solicitar ao Estado-Juiz o exercício do
poder jurisdicional.

PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

É o princípio que assegura a todos o direito a um processo com todas as etapas previstas em lei e todas as
garantias constitucionais. Se, no processo, não forem observadas essas molduras, ele padece de vício que
compromete sua constitucionalidade sob o aspecto procedimental. Está previsto no art. 5º. , inciso “LIV:
ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Dele decorrem todos os
outros princípios de natureza processual, tais como a ampla defesa, o contraditório, o juiz natural,
motivação etc.
Direitos Humanos

Aula 4 - A comunidade internacional e os DH


INTRODUÇÃO

Nesta aula, examinaremos a importância da ONU para a proteção dos DH junto à comunidade internacional.

Estabeleceremos que este tema faz parte do chamado Direito Internacional Público e que o desenho de proteção a ser
dado na esfera internacional aos DH está condicionado ao tipo de agressão que sofrem os DH.

Observaremos o papel que os DH desempenham na comunidade internacional, chamando atenção para a proteção
atribuída aos DH em contextos históricos distintos. No particular, relacionaremos a importância da ONU e da Carta das
Nações Unidas como marcos fundantes da proteção global ou universal aos DH.

Examinaremos, também, o Tribunal Penal Internacional que foi criado pelo Estatuto de Roma, destacando sua
competência e os tipos de crime que se sujeitam sua jurisdição.

Por fim, explicaremos as chamadas intervenções humanitárias, problematizando seu potencial de proteção aos DH.
OBJETIVOS

Examinar a posição que os DH ocupam na comunidade internacional;

Analisar a proteção de DH em contextos históricos distintos;

Avaliar o Tribunal Penal Internacional;

Esclarecer as intervenções humanitárias.

DH E A COMUNIDADE INTERNACIONAL
Um dos grandes desafios das sociedades contemporâneas, que se desdobra em suas ordens jurídicas, é a proteção dos
direitos humanos, o que ganha especial relevo na esfera internacional e na forma como os Estados nela se articulam e se
posicionam.

Tal relevância, por sua vez, pode ter seu marco temporal moderno na Segunda Guerra Mundial, que lançou as bases para
a consolidação de um discurso de proteção ao ser humano para além das fronteiras geográficas do Estado Nação.

Por outro lado, esses desafios, na atualidade, podem ser sistematizados em quatro tipos que podem se combinar:

• As questões de violações em razão de conflitos bélicos internos ou mesmo externos;

• O baixo grau de institucionalidade de certos estados que colocam em risco a própria noção do rule of law (glossário).

Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;

• Problemas vinculados à pobreza extrema que colocam sob ameaça a própria existência humana;

• Os riscos aos regimes democráticos que compõe o sistema internacional.

, Esses desafios impõem aos estados e à chamada comunidade internacional uma agenda, muitas vezes sujeita a severas críticas,
que demanda legitimação discursiva, quer no plano jurídico ou no plano político.

Nesse panorama chama atenção a forma com que os países lidam com tais cenários e de que maneira se engajam em processos
motivados para a proteção dos direitos.

A PROTEÇÃO DE DH EM CONTEXTOS HISTÓRICOS DISTINTOS


A proteção de DH tem contornos distintos se levarmos em conta os contextos históricos em que essa discussão se
coloca.
Nesse sentido, o desenho da proteção de DH tem se influenciado também pelos tipos de violações aos direitos humanos
– o que se traduzirá em redes de política externa e compromissos jurídico-políticos assumidos frente a comunidade
internacional e seus organismos. Esses arranjos integram o que chamamos de Direito Internacional Público.

Podemos ainda dizer que o Direito Internacional Público passou por um desenvolvimento histórico agrupado, segundo
Jorge Miranda (2000), em oito momentos distintos e como consequência segue atualmente algumas tendências:

Universalização

O Direito internacional é um Direito universal e não é mais um Direito euroamericano a partir


da desintegração dos impérios marítimos europeus e do império continental soviético.

Regionalização

Solidariedade e cooperação entre Estados dentro de determinado espaço regional. Como


exemplo, cita-se a criação da União Europeia.

Institucionalização

O Direito Internacional deixa de ser um direito das relações entre Estados para se tornar mais
presente nos organismos internacionais, como a ONU.

Funcionalização

O Direito Internacional extravasa a esfera das relações externas e penetra nas matérias
pertencentes tanto ao direito interno como ao próprio contexto das relações internacionais.

Humanização

Aspecto humanizador do Direito Internacional que se apresenta com o surgimento do Direito


Internacional dos Direitos Humanos, desde a Carta das Nações Unidas em 1945, o
desenvolvimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948, e os vários
tratados internacionais surgidos no pós-guerra, que se voltaram para a proteção dos direitos
humanos.

Objetivação

Criação de regras e normas internacionais, presentes no moderno Direito Internacional, que


são independentes e livres da vontade dos Estados.

Codificação

A Carta das Nações Unidas prescreveu em seu artigo 13 o incentivo ao desenvolvimento do


Direito Internacional e sua codificação o que é realizado pelas comissões de Direito
Internacional e de Direitos Humanos da própria ONU.
Jurisdicionalização

Com o desenvolvimento das regras de proteção internacional dos direitos humanos aumenta-
se a necessidade de criação de tribunais internacionais, como por exemplo o Tribunal Penal
Internacional.

, Leia aqui (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm) o Decreto 19.841, em que o Brasil ratifica a Carta


das Nações Unidas.

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS


Hoje, a grande rede de proteção de DH e que um valor simbólico no cenário internacional é a Organização das Nações
Unidas (ONU).

A ONU, abreviação de Organização das Nações Unidas (UN, United Nations, em inglês) é uma instituição supranacional,
isto é, além dos Estados nação (glossário), tem por objetivo principal garantir a paz no mundo mediante o
relacionamento amistoso entre os países. Está situada em Nova York, nos Estados Unidos.

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Fonte da Imagem:

Essa organização tem com objetivos:


• Salvar as gerações futuras do flagelo da guerra;
• Reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais;
• Criar as condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações emanadas de tratados e outras fontes do direito
internacional possam ser mantidos;
• Promover o progresso social e melhores padrões de vida num cenário de maior liberdade.

Infelizmente, embora em muitos casos ela não tenha atingido seus objetivos pacifistas, a ONU desempenha, também, um
importante papel humanitário, buscando amenizar as desigualdades sociais no mundo, fomentando ações que buscam,
por exemplo, combater a fome e a desnutrição.

, Para ler mais sobre a ONU, clique aqui (https://nacoesunidas.org/conheca/).

Para saber como surgiu a ideia de criação da ONU e como ela se tornou realidade, clique aqui
(https://nacoesunidas.org/conheca/historia/).
Apesar de sua importância no mundo contemporâneo, como grande defensora de DH, cabe ressaltar que a ONU não
dispõe de poder de coerção (salvo para os casos relacionados às ameaças contra a paz e à segurança internacionais e
que estão previstos no capítulo VII da Carta).

Ainda assim, suas decisões tem importância pelo significado ético-humanitário.


A CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Fonte da Imagem: UN/DPI - Foto de M. Bolomey - Carta das Nações Unidas, com assinaturas da União Soviética e dos Estados Unidos.

A Carta das Nações Unidas (glossário) de 1948, ou também chamada de Carta de São Francisco, é o documento que
concebeu a ONU e procurou estabelecer, como uma de suas prioridades, a criação de um sistema internacional que
protegesse os Direitos Humanos de forma ampla.

Adotada e assinada em 26 de junho de 1945, passou a ter vigência no dia 24 de outubro de 1945. A Carta estimula os
direitos às liberdades fundamentais sem distinção por motivos de sexo, raça, religião ou idioma.

No entanto, tal propósito se tornou, e ainda se torna, dificultoso pela necessidade de não ingerência dessas
determinações dentro dos assuntos internos dos Estados signatários da Carta.

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL – TPI


O Tribunal Penal Internacional/TPI, conhecido como Internacional Criminal Court (ICC) em inglês ou Court Pénale
Internacionale (CPI) em francês, é uma organização independente, não pertencendo a ONU e que foi criada pelo Estatuto
de Roma em 2002.  Disponível em:

Tem por finalidade processar e julgar, subsidiariamente ao Poder Judicial dos Estados (isto é, se não houver julgamento
interno pelo Estado) acusados de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e crimes de
agressão.

Genocídio
Nos termos do art 6º do Estatuto de Roma, entende-se por genocídio qualquer um dos atos
praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou
religioso, enquanto tal:
• Homicídio de membros do grupo;
• Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
• Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição
física, total ou parcial;
• Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
• Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Crimes contra a humanidade

Estão previstos no art. 7º e são entendidos quando cometidos no quadro de um ataque,


generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse
ataque. Caracterizam-se por:
• Homicídio;
• Extermínio;
• Escravidão;
• Deportação ou transferência forçada de uma população;
• Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação das normas
fundamentais de direito internacional;
• Tortura;
• Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização
forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;
• Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por motivos políticos,
raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de gênero, tal como definido no parágrafo
3o, ou em função de outros critérios universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito
internacional, relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer crime
da competência do Tribunal;
• Desaparecimento forçado de pessoas;
• Crime de apartheid;
• Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem intencionalmente grande
sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física ou mental.

Crimes de guerra

São definidos pelo Estatuto tendo como base as violações graves do direito internacional
humanitário contidas principalmente nas Convenções de Genebra e seus Protocolos
adicionais de 1977. Pressupõe-se que sejam cometidos dentro de um contexto de guerra e
que o crime tenha relação com esta. O que diferencia os crimes de guerra dos crimes contra a
humanidade é a necessidade de existência de um conflito, tenha ele caráter internacional ou
não.

Crimes de agressão

Tendo em vista a controvérsia que existe a seu respeito, o Estatuto de Roma deixou a questão
por ainda ser definida.
, Veja aqui como funciona o TPI (https://www.icc-cpi.int/about?ln=en).
Continuando nosso estudo sobre o TPI, vamos nos apropriar das explicações (glossário) que o Itamaraty (glossário)
nos oferece:

“O Brasil apoiou a criação do Tribunal Penal Internacional, por entender que uma corte penal eficiente, imparcial e
independente representaria um grande avanço na luta contra a impunidade pelos mais graves crimes internacionais. O
Governo brasileiro participou ativamente dos trabalhos preparatórios e da Conferência de Roma de 1998, na qual foi
adotado o Estatuto do TPI.

Com sede em Haia (Países Baixos), o TPI iniciou suas atividades em julho de 2002, quando da 60ª ratificação ao Estatuto
[...]. O TPI julga apenas indivíduos – diferentemente da Corte Internacional de Justiça (glossário), que examina litígios
entre Estados. A existência do Tribunal contribui para prevenir a ocorrência de violações dos direitos humanos, do direito
internacional humanitário e de ameaças contra a paz e a segurança internacionais. O Brasil depositou seu instrumento de
ratificação ao Estatuto de Roma em 20 de julho de 2002, sendo incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por meio
do Decreto nº 4.377, de 25 de setembro de 2002.”

O Itamaraty adverte “como qualquer instrumento jurídico internacional, o Estatuto de Roma é produto de seu tempo e é
passível de ajustes para seu aprimoramento.”

E ainda para o Itamaraty, “O Brasil tem exercido papel de liderança nas reuniões em que os Estados partes tratam de
ajustes com vistas a promover maior aceitação e a consolidação do TPI – a exemplo das discussões que levaram à
adoção, em 2010, na Conferência de Revisão de Campala (Uganda), das emendas relativas ao crime de agressão, que
estabelecem as condições para que o TPI possa exercer sua jurisdição sobre esse crime”.

Para alguns autores o TPI marca uma nova era na História do Direito internacional e das Relações Internacionais
(glossário).

INTERVENÇÕES HUMANITÁRIAS
Conflitos geram impactos sobre os direitos humanos – considerados, no mundo contemporâneo, como eixo de proteção
da pessoa humana, tanto na esfera interna dos Estados quanto na esfera internacional.

Fonte:

Quando esses conflitos, dentro de um Estado soberano, geram consequências devastadoras para a população que nele
se encontra?

Seria lícito e aceitável que outros países interviessem em Estados soberanos, com a justificativa de ajudar e salvar a
população atingida?

Há uma responsabilidade de proteger que autorizaria as intervenções em nome dos direitos humanos?

Essas são as perguntas que se colocam quando estudamos as intervenções humanitárias e como tais ações repercutem
na esfera de soberania nacional dos estados. E as respostas não são simples, pois não existe uma norma que autorize
expressamente a intervenção humanitária.

Muito pelo contrário: a Carta da ONU estabelece o princípio da não intervenção como norteador da conduta dos Estados
no âmbito internacional.

A Carta, em seu artigo segundo, itens 3 e 4, estabelece que “todos os Membros deverão resolver suas controvérsias
internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais” e
que “todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade
territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das
Nações Unidas”.
No entanto, no mesmo documento, o artigo 42 do capítulo VII preconiza o uso da força (aérea, naval ou terrestre) para
manter ou reestabelecer a paz e a segurança.

Tais dispositivos nos permitem concluir que se não se cita explicitamente na Carta a intervenção armada com
justificativa humanitária, também não se cita nenhuma proibição à guerra, seja ela justa ou injusta. Dessa forma, a
resposta para as intervenções humanitárias não está estampada na norma de Direito Internacional.

Há, porém, que sustente que é possível estabelecer duas exceções a esse princípio:

I. legítima defesa individual ou coletiva;


II. quando o Conselho de Segurança da ONU (CS) determinar que uma situação constitui uma ameaça à paz ou
segurança internacional.

A questão fica ainda mais complexa quando as intervenções, ditas humanitárias, e geral com o uso de força bélica,
ocorrem sem que o estado que sofre a intervenção tenha solicitado a presença de ajuda externa, como no caso do
Kosovo em 1999, ou na Líbia em 2011, ou mesmo quando não houver a autorização do CS da ONU.

Para aqueles que admitem as intervenções, quando há o intuito protetivo e ações respaldadas no discurso da
necessidade de defesa de DH, sustenta-se que mais importante do que a soberania de um estado que agride seus
próprios habitantes é a proteção aos direitos.

Nesse cenário, a intervenção humanitária não deve ser vista somente como um instrumento justificador para que
potências econômicas e militares aproveitem de sua superioridade para adentrar o território de outro estado que possua,
por exemplo, riquezas de interesse do Estado interventor. Há, nessas ações, a responsabilidade de proteger, baseado nos
DH, que impõe uma obrigação de agir em prol dessa proteção.

ATIVIDADE
Assista à reportagem Tribunal Penal Internacional, em Haia, acusa líder islâmico do mali de crime de guerra:

Resposta Correta
VÍDEO
Qual é a importância simbólica da responsabilização perante o TPI de Ahmad al-Faqi al-Mahdi (também conhecido como
Abu Turab), acusado de “crimes de guerra” por ter dirigido e participado na destruição, em Julho de 2012, de vários bens
classificados pela Unesco como Património da Humanidade na cidade de Tombuctu, no Norte do Mali?
Glossário
CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

https://nacoesunidas.org/carta/ (https://nacoesunidas.org/carta/)

ESTATUTO DE ROMA

//www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4388.htm)

CONVENÇÕES DE GENEBRA E SEUS PROTOCOLOS ADICIONAIS DE 1977

Conheça aqui (docs/REV_MV_Aula_4_convencoes_genebra.pdf) as Convenções de Genebra e seus Protocolos adicionais de 1977.

EXPLICAÇÕES

//www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-internacionais/152-tribunal-penal-internacional
(http://www.itamaraty.gov.br/pt-BR/politica-externa/paz-e-seguranca-internacionais/152-tribunal-penal-internacional)

RULE OF LAW
A ideia do rule of law “remonta à primeira manifestação concreta do constitucionalismo: a Magna Carta Libertatum. Na Inglaterra,
ano de 1215, o Rei João Sem Terra foi coagido pelos barões ingleses a prometer obediência à Magna Carta Libertatum, por eles
idealizada. Esse precioso documento pode ser considerado o principal precursor de todas as futuras Declarações de Direitos, eis que
representa a autoridade do governo exercida em concordância com as leis existentes. José Joaquim Gomes Canotilho entende que
mesmo com as variações do princípio rule of law no tempo, o instituto contém quatro dimensões bem nítidas: The rule of law
significa, em primeiro lugar, na sequência da Magna Charta de 1215, a obrigatoriedade da observância de um processo justo e
legalmente regulado, quando se tiver de julgar e punir os cidadãos, privando-os de sua liberdade e propriedade. Em segundo lugar,
importa na proeminência das leis e costumes do país perante a discricionariedade do poder real. Por conseguinte, aponta para a
sujeição de todos os atos do Executivo à soberania do parlamento. Por fim, rule of law terá o sentido de igualdade de acesso aos
tribunais por parte dos cidadãos, a fim destes defenderem os seus direitos segundo os princípios de direito comum dos ingleses
(Common Law) e perante qualquer entidade (indivíduos ou poderes públicos). Analisando a questão mais a fundo, verifica-se que o
rule of law tem como verdadeiro substrato o princípio da legalidade. Nessa esteira de pensamento, tem-se que um Estado que não
respeita os direitos humanos ou, até mesmo, não se pauta na democracia pode muito bem existir sem o princípio rule of law.
Todavia, trata-se de preceito considerado pressuposto lógico da Democracia, que se revela como verdadeira garantia contra o
despotismo ao se firmar como suporte legal ao Estado Democrático de Direito”.

Fonte: Excerto de Você sabe o que significa o princípio rule of law? - Lilia Loffredo. JusBrasil

ITAMARATY

“O Itamaraty é um órgão governamental dentro do poder executivo, que é oficialmente conhecido como o Ministério das Relações
Exteriores. É interessante não confundi-lo com o palácio do Itamaraty situado no Rio de Janeiro (que também já foi sede do
ministério das relações exteriores no passado). O nome do ministério é bastante sugestivo, indicando sua importância nas relações
diplomáticas com demais países. Dessa forma, esse ministério também é um dos focos principais dos jovens profissionais de
relações internacionais, não somente pela oportunidade em trabalhar em um órgão governamental renomado, mas também na
grande oportunidade de contato com diversas culturas e os desafios desta jornada. Como citado, o Ministério das Relações
Exteriores já teve sua sede no palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro, porém, sua sede atual é no Palácio dos Arcos no Distrito
Federal. Entretanto, o apelido continuou mesmo assim, sendo Itamaraty um sinônimo para o Ministério das Relações Exteriores
(MRE).”

Fonte: Extraído de Guia da Carreira.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

“As Relações Internacionais (abreviadas como RI ou REL) visam o estudo sistemático das relações políticas, econômicas e sociais
entre diferentes países cujos reflexos transcendam as fronteiras de um Estado, as empresas, tenham como locus o sistema
internacional. Entre os atores internacionais, destacam-se os Estados, as empresas transnacionais, as organizações internacionais e
as organizações não governamentais. Pode se focar tanto na política externa de determinado Estado, quanto no conjunto estrutural
das interações entre os atores internacionais. Além da ciência política, as Relações Internacionais mergulham em diversos campos
como a Economia, a História, o Direito internacional, a Filosofia, a Geografia, a Sociologia, a Antropologia,
a Psicologia e estudosculturais. Envolve uma cadeia de diversos assuntos incluindo mas não limitados a: globalização, soberania,
sustentabilidade, proliferação nuclear, nacionalismo, desenvolvimento econômico, sistema financeiro,
terrorismo/antiterrorismo, crime organizado, segurança humana, intervencionismo e direitos humanos”.

Fonte: Wikipedia

ESTADOS NAÇÃO

“O conceito de Estado nação refere-se à forma de organização dos governos dos Estados Modernos e às organizações sociais que
se estabeleceram em torno deles. Quando falamos do conceito de Estado, referimo-nos aos mecanismos de controle político de um
governo que rege determinado território. Organizações como um Parlamento ou um Congresso, instituições legais e um exército
permanente são ferramentas utilizadas por um governo para controlar as várias esferas que compõem a sociedade de um Estado
nação. Um Estado nação é constituído por uma massa de cidadãos que se considera parte de uma mesma nação. Sob essa
perspectiva, podemos afirmar que todas as sociedades modernas são Estados-nações, isto é, todas as sociedades modernas estão
organizadas sob o comando de um governo instituído que controla e impõe suas políticas.”

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