Você está na página 1de 30

DIREITOS HUMANOS

PROF. DEISE LUCIA DA SILVA


SILVINO VIRGOLINO
A evolução Histórica dos Direitos
Humanos
Há muito tempo, o homem precisou travar duras
batalhas para conquistar seus direitos no âmbito
jurídico.
Os direitos, que hoje temos, nasceram das lutas
contra o poder e a opressão, de forma gradual.
Esses direitos não foram conquistados de uma só
vez, sendo adquiridos aos poucos, conforme
nascia a necessidade de assegurá-los a cada
pessoa e, à sociedade, uma existência digna.
Em muitos momentos, o homem foi visto como
objeto, com inerente valor de troca.
Mas, aos poucos, seus direitos fundamentais
foram sendo positivados, garantindo segurança
jurídica ao indivíduo.
O art. 5º da Constituição Federal estabelece que
todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza.
Mas, para se chegar a essa positivação dos
direitos fundamentais do homem no âmbito
jurídico, foram necessárias diversas lutas.
Mas, aos poucos, os seus direitos fundamentais
foram sendo positivados (criados por lei),
garantindo-se a segurança jurídica do indivíduo e
estabelecendo-se a preservação da
dignidade humana como princípio básico do
Direito.
Os seres humanos são todos iguais e merecem o
mesmo respeito, independentemente das suas
crenças culturais e diferenças físicas e biológicas.
Isso é o que postula a Constituição Federal de
1988, no art. 5º, caput: “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line).

Mas como se chegou a esse entendimento?


A ideia de igualdade entre os homens aflorou
durante o período axial da história (ocorrido entre
os séculos VIII e II a.C.), a partir da instituição da
lei escrita “como regra geral e uniforme,
igualmente aplicável a todos os indivíduos que
vivem numa sociedade organizada”.
Os judeus tinham a lei em uma posição sagrada,
pois equivalia à manifestação da divindade.
No entanto, a lei escrita só se tornou fundamento
preponderante na sociedade em Atenas (Grécia),
momento em que a força das leis proporcionou ao
cidadão um sentimento de vitória, visto que se
deixou de falar da soberania de um indivíduo ou
classe social em detrimento dos demais.
Podemos ver essa ideia dos atenienses, num
trecho da peça “As Suplicantes” (versos 434–
437), de Eurípedes, que demonstra a importância
da lei escrita contra o arbítrio do governo da
época: “[...] uma vez escritas as leis,
o fraco e o rico gozam de um direito igual: o fraco
pode responder ao insulto
do forte, e o pequeno, caso esteja com a razão,
vencer o grande”.
É preciso ter em mente que a busca por proteção
aos direitos humanos, as lutas levadas a efeitos –
ontem e hoje –, que procuram criar e fazer
cumprir normas protetivas desses direitos, são,
invariavelmente, buscas por reconhecimento de
algo, digamos, anterior:
a dignidade da pessoa humana.
(Livro: Direitos humanos de Ricardo dos Santos
Castilho)
A conceituação de “pessoa humana” pode
aparentar ser um pleonasmo. No entanto, a
origem da expressão tem motivações religiosas.
No primeiro concílio ecumênico, o Concílio de
Niceia, no ano de 325, discutiu-se longamente a
identidade de Jesus Cristo, e afinal chegou-se ao
consenso de que apresentava dupla natureza,
humana e divina.
Para Tomás de Aquino, uma lei natural é parte da
ordem natural divina, imposta por Deus à razão
humana, condicionando à igualdade a própria justiça,
e esse senso deve orientar a ação do legislador: lei
eterna, lei natural e a essência do Direito, a Justiça.
Santo Tomás de Aquino recuperaria, mais tarde, na
sua Suma Teológica, essa noção e suas
contestações históricas, como a de Boécio, pensador
do século VI, para estabelecer que o homem seria
“um composto de substância espiritual e corporal”.
E, ainda mais tarde, Kant traria o conceito de que
o homem tem vontade, que é uma espécie de
razão prática, e que se manifesta de duas formas:
o imperativo hipotético e o imperativo categórico.
Pela sua vontade racional, o homem é autônomo
para criar as suas próprias leis de conduta.
Como ser autônomo, único, o homem não tem preço,
como as mercadorias, uma vez que não pode ser
trocado por qualquer outra coisa.
Portanto, o seu valor é medido em dignidade, e não
em preço.
Segundo Kant, a dignidade da pessoa é um fim em si
mesma.
Daí ser a escravidão um contrassenso filosófico.
Assim como a expressão “pessoa humana”, a
expressão “direitos humanos” também tem sido tema
de grande debate, ao longo do tempo.
Os direitos humanos traz, no seu bojo, a ideia de
reconhecimento e de proteção.
Os direitos humanos não foram dados, ou revelados,
mas conquistados, e muitas vezes à custa de
sacrifícios de vidas.
Apenas recentemente a História registra a noção de
que os indivíduos e grupos de indivíduos gozam de
uma igualdade essencial.
Recentemente, na escala da existência do homem,
significa algumas décadas, e o patamar de referência
a que nos remetemos é a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, proclamada pela ONU, a
Organização das Nações Unidas, no ano de 1948.
Antes disso, a igualdade universal só se dava no
plano religioso.
Apesar de aceitar que todos os homens eram filhos
de Deus, o cristianismo admitiu, por muitos séculos,
a escravidão como condição social aceitável, e a
supremacia do homem sobre a mulher uma relação
natural; negros e indígenas eram considerados seres
inferiores.
A ciência contribuiu grandemente para a definição
filosófica do homem como senhor do seu destino.
Livro: Curso de Direitos Humanos -Valerio de Oliveira
Mazzuoli
Os direitos humanos são dotados de características
próprias, capazes de distingui-los de outros tipos de
direitos:
a) Historicidade: Os direitos humanos são históricos,
isto é, são direitos que se vão construindo com o
decorrer do tempo.
Foi tão somente a partir de 1945 – com o fim da
Segunda Guerra e com o nascimento da Organização
das Nações Unidas – que os direitos humanos
começaram a, efetivamente, desenvolver-se no plano
internacional, não obstante a Organização
Internacional do Trabalho já existir desde 1919
(garantindo os direitos humanos dos trabalhadores
desde o pós-Primeira Guerra).
b) Universalidade: Significa que são titulares dos
direitos humanos todas as pessoas, bastando a
condição de ser pessoa humana para se poder
invocar a proteção desses direitos, tanto no plano
interno como no plano internacional,
independentemente de sexo, raça, credo religioso,
afinidade política, status social, econômico, cultural
etc.
Dizer que os direitos humanos são universais
significa que não se requer outra condição para a
sua efetivação além da de ser pessoa humana;
significa, em última análise, que não se pode fazer
acepção às pessoas, eis que todas elas são
dotadas da mesma dignidade.
c) Essencialidade: Os direitos humanos são
essenciais por natureza, tendo por conteúdo os
valores supremos do ser humano e a prevalência da
dignidade humana (conteúdo material), revelando-se
essenciais, também, pela sua especial posição
normativa (conteúdo formal), permitindo-se a
revelação de outros direitos fundamentais fora do rol
de direitos expresso nos textos constitucionais.
d) Irrenunciabilidade. Diferentemente do que ocorre
com os direitos subjetivos em geral, os direitos
humanos têm como característica básica a
irrenunciabilidade, que se traduz na ideia de que a
autorização de seu titular não justifica ou convalida
qualquer violação do seu conteúdo.
Em outras palavras, não há liberdade que justifique a
renúncia a um direito humano ou em nome da qual se
possa autorizar qualquer violação sua.
e) Inalienabilidade. Os direitos humanos são
inalienáveis, na medida em que não permitem a sua
desinvestidura por parte do titular, não podendo ser
transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a
outrem, ainda que com o consentimento do agente,
sendo, portanto, indisponíveis e inegociáveis.
Tal é assim pelo fato de os direitos reconhecidos pela
ordem internacional terem por destinatários os que
sofreram violações a bens jurídicos seus, razão de
ser de sua singularidade impeditiva de qualquer
ordem de transferência ou cessão.
f) Inexauribilidade. São os direitos humanos
inexauríveis, no sentido de que têm a possibilidade de
expansão, a eles podendo ser sempre acrescidos
novos direitos, a qualquer tempo, exatamente na
forma apregoada pelo § 2.º do art. 5.º da Constituição
Federal de 1988 (segundo o qual os “direitos e
garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte”).
g) Imprescritibilidade. São os direitos humanos
imprescritíveis, não se esgotando com o passar do
tempo e podendo ser a qualquer tempo vindicados,
não se justificando a perda do seu exercício pelo
advento da prescrição.
Em outras palavras, os direitos humanos não se
perdem ou divagam no tempo, salvo as limitações
expressamente impostas por tratados internacionais
que preveem procedimentos perante cortes ou
instâncias internacionais.
A Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
v.g., prevê que as petições ou comunicações sobre
violações a direitos humanos devam ser
apresentadas à Comissão Interamericana em um
prazo de seis meses, a partir da data em que o
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido
notificado da decisão definitiva (art. 46, § 1.º, b)..
h) Vedação do retrocesso. Os direitos humanos
devem sempre (e cada vez mais) agregar algo de
novo e melhor ao ser humano, não podendo o Estado
proteger menos do que já protegia anteriormente.
Ou seja, os Estados estão proibidos de retroceder em
matéria de proteção dos direitos humanos, se uma
norma posterior revoga ou nulifica uma norma
anterior mais benéfica, essa norma posterior é
inválida por violar o princípio internacional da
vedação do retrocesso (princípio da “proibição de
regresso)
PROXIMA AULA
A Constituição Brasileira de 1988 e os Tratados
Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos
Obrigada

Você também pode gostar