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DEUS É UMA COMMODITY?

: O
SAGRADO E A MÍDIA NO
CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

Prof. Dr. Jorge Miklos


Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista
Grupo de Pesquisa Mídia e Estudos do Imaginário
A Raposa e o
Porco Espinho
Questão
metodológica:

O que é
religião?
Pensar a religião (Deus)
na clave antropológica.

“A religião é um sonho de mente


humana.... “A consciência de Deus é
autoconsciência, conhecimento de
Deus é autoconhecimento. A religião
é o solene desvelar dos tesouros
ocultos do homem, a revelação dos
seus pensamentos íntimos, a
confissão aberta dos seus segredos
de amor.”(...) Ludwig Feuerbach
"O sofrimento religioso é, ao mesmo
tempo, expressão de um sofrimento
real e protesto contra um sofrimento
real. As Flores Sobre As Correntes.
Suspiro da criatura oprimida, coração
de um mundo sem coração, espírito
de uma situação sem espírito: a
religião é o ópio do povo." (K. Marx)
“A religião não é somente um
sistema de ideias, ela é antes de
tudo um sistema de forças”
(E. Durkheim)
Deus está morto! Deus
permanece morto! E
quem o matou fomos
nós! Como haveremos
de nos consolar, nós
os algozes dos
algozes?
(F. Nietzsche)
“Religião é fonte de
concepções do mundo
e reguladora das
condutas individuais na
vida social”
(M. Weber)
“A religião é comparável a uma
neurose da infância.” (S. Freud)
Religião é Expressão da
Cultura
Religião - Signo Aberto
Religiões são sistemas culturais que
nascem do sofrimento humano (desejo)
Religiões são sistemas de produção
de sentido que esteiam o ontológico
desamparo humano
A religião provê o ser humano
de sentido diante de uma
realidade sem sentido.
Desencantamento e Secularização
Aufklärung.
Emancipação da
humanidade, isto é, a
libertação das tutelas
próprias da infância.
Libertação da tutela do Mito e
o uso extensivo e ilimitado
da razão.
Desmagicização e perda do
sentido

O mundo é despojado de seus


aspectos místicos, sagrados e
proféticos
A modernização
burguesa - iluminismo -
indica uma crise da
religião como única
produtora de sentido.
Nas sociedades de alto
grau de prosperidade e
bem-estar-social assiste-se
um declínio da adesão aos
sistemas religiosos.
Onde há bem estar social o indivíduo
encontra segurança existencial e como
consequência disso, tem reduzida a sua
necessidade do apoio da religião
Por outro lado,
no terceiro
mundo......
O que a modernização
burguesa não
compensou?
o desamparo diante da imensidão, violência e
mistério do universo; a angústia frente às
contingências, a inexistência de um
roteiro teleológico; a impotência diante da
morte e da certeza de constatar com os
próprios olhos aquilo que os sábios dizem a
séculos:
"somos pó!" (...) "tudo debaixo do sol é
nuvem de nada (...) vento que passa".
A modernidade trouxe
uma diversidade de
sistemas de produção de
sentido e implantou uma
disputa entre elas.
Aquilo que a
sociedade vê como
vicissitude., o
marketing vende
como salvação.
No mundo
contemporâneo cresce a
dependência por afetos e
reforços narcísicos
Nas sociedades contemporâneas,
o individuo cada vez mais
desamparado, pressionado pela
lógica utilitária, busca consumir
sentidos e significados
O indivíduo pós-moderno, um náufrago
nas águas geladas do frio cálculo
egoísta, converte-se em consumidor de
sentidos e significados como forma de
compensar a falta de sentido e de
vínculos.
O marketing é a nova
religião que organiza a
busca e a escolha de
produtos de
significados que
conferem sentido à
uma vida angustiada.
A sensação de “absurdo feliz”
(redes sociais) gera angústia
e engendra a busca de
significado no contexto de
escuridão.
Religião é espiritualidade de consumo
Uma empreitada para corresponder
às aspirações individualizadas do
que para satisfazer padrões de
normas, condutas e de identidade, o
motor que move os indivíduos às
compras nos tempos atuais.
COMMODITIZAÇÃO DA
RELIGIÃO E DA
ESPIRITUALIDADE
– ALGUNS “CASES” -
teologia da
prosperidade

idolatria do
dinheiro
Amor como
sentido
• “Deus varre o mal” (Isaias)
• Vassouras ungidas para limpar
sua casa do mal – apenas 1000
reais.
Comida como
steatement
New Age
Considerações Finais
As fronteiras rígidas entre sagrado e
profano que restringiam a publicidade
de aos limites do profano e a religião
aos limites do sagrado se tornaram
esgarçadas, possibilitando encontrar o
religioso sacralizado na publicidade e
a publicidade profana no religioso.
Se por um lado o mercado aprendeu
com a religião a comunicar-se com o
espírito humano e lhe satisfazer os
desejos, a religião aprendeu com o
mercado a valorizar a dimensão física
do ser humano, integrando desejo e
satisfação como objetivos máximos de
um ser desamparado.
Cases” como esses revelam como
uma sociedade saturada de mídia
e voltada para as necessidades
de selfs consumidores de sentido
deve ser compreendida, também
na sua dimensão religiosa e
espiritual, como um objeto de
estudo que se encontra na
interface entre pesquisas de
comunicação. discurso, semiótica,
marketing, e mídia.
Hem? Hem? O que mais penso, testo
e explico: todo mundo é louco. O
senhor,eu, nós, as pessoas todas. Por
isso é que se carece
principalmente de religião:
para se desendoidecer,
desdoidar.
Guimarães Rosa, “Grande Sertão: Veredas”, Ed. Nova
Fronteira, 2001, p. 32)

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