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Aluno: Victor Augusto Aguiar Manfredi

RA: 00318521
Disciplina: Teoria Geral do Direito - Constitucionalização do Processo e do
Direito
Professor: Doutor Marco Antonio Marques da Silva

O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE HUMANA. O HOMEM


COMO PESSOA: A AMBIGUIDADE CARACTERÍSTICA DA DIGNIDADE
HUMANA. DIGNIDADE COMO AFIRMAÇÃO DE SUPERIORIDADE DO
HOMEM SOBRE OS DEMAIS SERES VIVOS

1. DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIO

Para Robert Alexy, princípio é gênero da espécie norma. Para ele,


princípios são mandamentos, que devem ser implementados o máximo
possível, de maneira otimizada. Isto é, os princípios devem sempre ser
realizados da melhor e mais ampla maneira possível, dentro daquilo que for
possível às partes na situação concreta.

Para Dworking, o princípio é um elemento de hermenêutica,


usado para construir decisão.

José Afonso da Silva pondera que princípio é o núcleo do


sistema, que irradia e imanta o sistema de normas jurídicas. Para referido
autor, a dignidade da pessoa humana foi escolhida pelo constituinte para
construir nosso ordenamento jurídico, tanto que foi positivada no art. 1°, III, da
Constituição Federal como um dos fundamentos de nossa República.

2. CONTEÚDO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA


HUMANA

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A dignidade da pessoa humana constitui-se como verdadeiro
vetor, que orienta e guia todo nosso ordenamento jurídico. Não por acaso, é
comummente entendida como um metaprincípio, que se sobrepõe a todos os
demais princípios.

Esse metaprincípio é de tal modo relevante e abrange que por


vezes acaba por lutar consigo própria, pois não é raro que, por sua força, a
dignidade da pessoa humana seja utilizada para justificar medidas que atentam
contra ela própria.

É o caso, por exemplo, do Ato Institucional n° 5, que tinha como


um de seus fundamentos justamente a dignidade da pessoa humana, mesmo
que se saiba que referido ato foi utilizado como sustentáculo de uma série de
atos atentatórios ao homem (como a tortura). Daniel Sarmento chama esse
fenômeno (de usar a dignidade para justificar qualquer coisa) de
carnavalização.

A dignidade da pessoa humana possui alguns métodos de


análise, que passam por considerá-la como de conteúdo supremo, que alcança
todos as normas e direitos, visando a proteger da degradação.

É dizer e compreender: a dignidade é inata ao homem, sem a


qual a sociedade sequer se justifica.

Além disso, há alguns itens que apontam seu conteúdo:

a. Valor Intrínseco da pessoa: considera tudo aquilo que é


inato ao homem;
b. Autonomia: refere-se à liberdade que deve ser concedida ao
homem.
c. Mínimo Existencial: Aquilo que se constitui como mínimo
para sobrevivência do homem em situação de não-
degradação. Alguns direitos fundamentais, como ao salário-
mínimo e saneamento básico refletem esse mínimo
existêncial.

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No que diz respeito a seu reconhecimento, pode-se afirmar que a
dignidade da pessoa humana é algo inato, próprio do homem. Mas não pode,
contudo, ser conceituada como algo estanque, imutável, dado e fechado.

A imutabilidade da concepção da dignidade da pessoa humana,


inclusive, atentaria contra à própria humanidade, pois o homem é ser de
constante mudança e evolução.

Assim, o princípio da dignidade da pessoa humana, seu conteúdo


e conceito, devem ser entendidos como algo construído, elaborado e
aperfeiçoado, que vai se modificando ao longo do tempo. É natural, dentro da
característica do homem, evoluir, pensar, criticar e se reconstruir para evoluir,
por isso é bastante natural que o princípio que é mais caro ao homem também
esteja em constante evolução.

3. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA COMO A


AFIRMAÇÃO DO HOMEM SOBRE OS DEMAIS SERES
VIVOS

Como visto, o princípio da dignidade da pessoa humana orienta


nosso ordenamento jurídico e irradia sobre as demais normas jurídicas e
direitos garantidos. Sendo algo próprio do homem, referido princípio pode ser
entendido como um mecanismo de afirmação dele sobre os demais seres
vivos?

O filosofo renascentista Pico dela Mirandola possui pensamento


que justifica a resposta positiva a esta pergunta.

Para ele, a dignidade humana se relaciona com a liberdade e


com a racionalidade. Essas qualidades autorizam o homem a autodeterminar-
se, refletindo e sendo livre para tomar a decisão que melhor lhe aprouver de
acordo com sua razão, liberdade esta que é atributo inerente à dignidade
humana, como visto acima.

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Isso é singular ao homem, que é o único ser livre para agir de
acordo com sua razão, coisa que não se vê com os demais seres, que são
reféns de seus institutos irracionais.

Daí, porque, associada à liberdade e racionalidade, a dignidade


da pessoa humana pode sim ser compreendida como um atributo que centra o
homem no universo e o erige a um plano superior a todos os demais seres que
habitam o mundo.

4. HISTÓRICO

A primeira manifestação em texto do princípio da dignidade


humana se verifica no Decreto Francês de 1848, que aboliu a escravidão.

No Brasil, por outro lado, a primeira referência a ele se deu no


artigo 115 da Constituição Federal de 1934. A partir de então, todas as demais
Constituições Brasileiras passaram a fazer referência textual ao princípio da
dignidade pessoa humana.

Outro instrumento relevante para esse princípio refere-se à


Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que estabelece uma
série de regras voltadas a isentar o homem da degradação (e assim preservar
sua dignidade).

A dúvida a respeito desse documento, contudo, refere-se à sua


efetividade, se o direito internacional é capaz de cumprir o que a Declaração
prescreve (parece-nos que não).

Cabe destacar que, muito antes da referência textual à dignidade


da pessoa humana, ela já era tratada e discutida. Na Controvérsia de
Valladolid, levada a efeito para debater os direitos dos povos indígenas,
discutiu-se parâmetros que deveriam ser seguidos para preservar a dignidade
desses povos.

Porém, o debate não possuía a dimensão atual do princípio da


dignidade da pessoa humana, pois, para exemplificar, era condição a ter

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acesso à dignidade a conversão ao cristianismo. Ou seja, o indígena que
seguisse sua liberdade religiosa seria considerado indigno, o que evidencia o
disparate entre as conclusões do princípio exame e a atual concepção da
dignidade da pessoa humana.

Também do ponto de vista histórico, é importante sublinhar que


foi no iluminismo que o princípio da dignidade da pessoa humana passou a ser
interpretado com nova roupagem. Inclusive, Kant se pronunciou sobre o tema e
apresentou a dignidade como um imperativo categórico, isto é, como uma de
suas normas universais, que deve pautar todas as atividades da vida.

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