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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

Campus Anchieta – Direito

MAURÍCIO BULCÃO FERNANDES – A950JC4

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Trabalho acadêmico apresentado para


composição da nota de Tópicos
Constitucionais, referente ao décimo
semestre, do curso de Direito da UNIP –
período matutino, DR0B39.

SÃO PAULO
2016
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda a questão da Dignidade da Pessoa Humana


sobre a perspectiva metafísica costumeira kantiana. Busca explanar
conceitualmente a questão do valor humano como um fim em si mesmo, expandindo
a ideia de um princípio fundamental da condição humana como um imperativo
categórico visto no Direito como postulado básico para a fundamentação das
normas do Estado com a finalidade de reconhecer esta condição inerente de todo
ser racional.

1. CONCEITUAÇÃO

Dignidade da pessoa humana constitui-se em um imperativo categórico


universal que confere ao ser humano o reconhecimento de um valor que lhe é
inerente, inalienável e tido como pressuposto de regra moral dialética comum aceita
por seres dotados de razão e consciência, esta, corroborada pelo ideal de que,
segundo assevera Kant , as pessoas devem ser vistas como um fim em si mesmo,
afastando-se qualquer ideia de que um ser racional possa ser visto como
meio/objeto para consecução de quaisquer fins.
No reino dos fins, os seres racionais encontram-se submetidos à lei que
impera o princípio segundo o qual cada um deles não poderá, jamais, tratar a si
mesmo ou ao próximo como meios, mas sempre, como um fim em si. Com isso,
depreendemos que exista uma ligação sistemática de seres racionais por meio de
leis objetivas comuns, “[...] é um reino que, exatamente porque estas leis têm em
vista a relação destes seres uns com os outros como fins e meios, se pode chamar
um reino dos fins”.
Neste universo sistemático de seres racionais interagindo por meio de leis
comuns, tudo tem um preço ou dignidade. O produto dos desejos e inclinações
unilaterais do homem possui um preço venal. Os objetos que podem ser
pecuniariamente ou estimativamente avaliados podem ser substituídos por unidades
equivalentes; são, portanto, providas de preço; por outro lado, quando algo não pode
abster-se de um preço, na verdade, está acima de qualquer preço e,
consequentemente, não pode ser substituído por outra equivalente, então afirmamos
esse ter dignidade.
Dado isso, depreendemos ser a dignidade algo natural, do qual toda pessoa,
simplesmente por existir no mundo, a possui. É um valor máximo.

2. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NA ABORDAGEM


JURÍDICA

No âmbito jurídico, o conceito de dignidade da pessoa humana não se difere


da metafísica dos costumes , na verdade é tido como fundamento principal que
deriva em condicionante do processo legislativo, este que visa, quando estabelece
leis comuns, observar que cada indivíduo é único e com fim em si mesmo, membro
do reino dos fins, referencial e observador, influenciador que envolve e é envolvido
de forma dialética com os demais seres racionais e dotado de vontade que deve ter
preservada a autonomia dessa vontade sem, com isso, ferir a moralidade comum.
Afirma Sarlet:
“[...] Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca
e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres
fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer
ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir
as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de
propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos
destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos.”
O princípio da dignidade da pessoa humana confere ao indivíduo um valor
moral inviolável que leva em consideração a autonomia de sua vontade e o direito
de participar das decisões que vão implicar diretamente sobre sua condição
existencial no meio o qual vive, portanto, a Constituição Federal de 1988 o adotou
como um dos princípios fundamentas constitucionais o qual é referência para toda a
estrutura do Estado e reconhecimento dos direitos fundamentais dos cidadãos.
A dignidade da pessoa humana não é vista, por muitos autores, como um
direito, mas como um princípio que concede ao indivíduo um status, que faça com
que ele seja reconhecido como um cidadão de direito, deste modo, ela é condição e
imperativo que torna o ser consciente alguém de direito e implica, ao mesmo tempo,
sobre o Estado, uma obrigação de se fazer cumprir esse pressuposto.
O Professor Alexandre de Morais, revelando sua concepção a respeito deste
princípio afirma:
“[...] Dignidade da pessoa humana apresenta-se em uma dupla
concepção. Primeiramente, prevê um direito individual protetivo, seja
em relação ao próprio estado, seja em relação aos demais
indivíduos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever
fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes.
Esse dever configura-se pela exigência do indivíduo respeitar a
dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição federal exige
que lhe respeitem a própria.”
No universo dos fins, para que seja reconhecida a dignidade, o homem deve
participar do conjunto o qual compõe, deve estar introduzido e ser reconhecido como
parte deste reino, deliberando sobre as decisões tomadas, sendo, também,
reconhecido, por conta do princípio da autonomia da vontade, como um legislador
de seu meio. Para ter dignidade, o cidadão necessita participar, estar incluso na
sociedade, dentro dos padrões básicos para suprir suas necessidades, ter
cidadania, ter seus direitos preservados.
Cabe ressalvarmos que, o conceito de autonomia da vontade deve ser
harmonizado ao de heteronomia, do contrário o cidadão, sendo legislador de si
mesmo, mesmo seguindo os princípios universais da moralidade, não poderia
transgredir seu dever moral e nem as leis objetivas.
CONCLUSÃO
A dignidade da pessoa humana não é um direito absoluto, é, pois, um
princípio que identifica um hiato de integridade e moralidade que deve ser
identificado e reconhecido em todas as pessoas pelo simples fato de existirem no
mundo. É um respeito a origem natural humana, independente das especulações a
seu respeito.
Tal princípio relaciona-se tanto com a liberdade e valores espirituais como
com as condições materiais existenciais. É necessário tomar tal postulado em sua
dimensão ético/abstrata como condicionante de motivação racional para a
fundamentação de normas jurídicas de modo que estas procurem sempre ir ao
encontro dos ideais que permitam conferir ao ser humano uma existência digna e
respeitada, que seja visto como parte integrante do Estado e não como propriedade
deste.
BIBLIOGRAFIA

Kant, Immanuel. Fundamento da Metafísica dos Costumes. P. Quintela, Trad. São


Paulo: Edições 70.

MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral


comentários aos artigos 1º. A 5º. Da Constituição da República Federativa do
Brasil, doutrina e jurisprudência.

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais


na Constituição Federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

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