Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Thiago Decat1
1
Professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Profes-
sor permanente do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais.
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
2
HART, H.L.A. The Concept of Law. Oxford: Oxford University Press, 1994, p. 80.
3
Ibidem.
4
STAVROPOULOS, Nicos. Words and Obligations. In: D’ALMEIDA, Luís Duarte. Reading
HLA Hart’s The Concept of Law. Oxford: Hart Publishing, 2013, p. 230.
141
thiago decat
5
HART, 1994, p. 82.
6
Ibidem.
142
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
7
HART, 1994, p. 83.
8
Ibidem. Itálicos no original.
9
HART, 1994, p. 83.
143
thiago decat
10
Idem, p. 84.
11
Ibidem.
144
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
12
HART, 1994, p. 85.
13
Ibidem
14
ADAMS, Thomas. Practice and Theory in The Concept of Law. In GARDNER, John; GREEN,
Leslie; LEITER, Brian. Oxford Studies in Philosophy of Law. Oxford: Oxford University Press,
2020. v. 4. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=3684512 or http://dx.doi.org/10.2139/
ssrn.3684512. Acesso em: 04/11/22.
15
TOH, Kevin. Erratum to: Four Neglected Prescriptions of Hartian Legal Philosophy. Law and
Philosophy. Berlin, v 34, 2015, p. 333-368, 2015.
145
thiago decat
16
DOWRKIN, Ronald M. Social Rules and Legal Theory. The Yale Law Journal. New Haven,
v.81, n. 5, p. 855-890, 1972.
17
RAZ, Joseph. Practical Reasons and Norms. Oxford: Oxford University Press, 2002.
146
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
18
HART, 1994, p. 86.
19
Ibidem.
20
Idem, p. 87.
147
thiago decat
Por fim, regras de obrigação são regras cujas prescrições devem po-
der, ao menos hipoteticamente, entrar em contradição com os interesses
e desejos daqueles que são vinculados por elas, sob pena de não terem
relevância prática.21
Hart previne seus leitores, porém, contra o risco de compreender mal o
papel distintivo da pressão social forte na caracterização de regras de obri-
gação, de modo a recair na teoria preditiva da obrigação. Afinal, a centra-
lidade da pressão social forte poderia levantar dúvidas sobre a diferença
entre a compreensão de Hart das obrigações e aquela esposada por Austin,
uma vez que esta teoria também afirma que a existência da obrigação é
acompanhada de uma reação negativa socialmente relevante em caso de
violação. No entanto, afirmar que a obrigação consiste na probabilidade
e previsibilidade de reações hostis ao desvio de certas expectativas é algo
conceitualmente distinto de considerar que afirmações de obrigação pres-
supõem um contexto em que o descumprimento de regras é normalmente
sancionado, mas que a função dessas afirmações é apontar que um caso
se encontra abrangido por uma regra.22 Para compreender corretamente a
diferença, é preciso levar em consideração o aspecto interno das regras, do
qual a teoria preditiva da obrigação descuida completamente.
É a correta compreensão do aspecto interno das regras que possibili-
tará, de acordo com Hart, entender o papel distintivo que as regras, entre
elas as de obrigação - e entre estas últimas as regras de obrigação jurídica
– têm no pensamento, discurso e ação humanos.
21
HART, 1994, p. 87.
22
Idem, P. 88.
148
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
este ponto de vista, “[...] um observador pode, sem aceitar ele mesmo as
regras, afirmar que o grupo aceita as regras e, portanto, pode referir-se a
partir do exterior ao modo como eles se preocupam com a regra do pon-
to de vista interno [à prática jurídica]”.23 É possível, além disso, adotar o
ponto de vista externo de forma ainda mais distante da prática, e sequer
levar em consideração o ponto de vista interno do grupo nas afirmações
realizadas acerca da prática jurídica. Valendo-se exclusivamente de um
vocabulário causal ou probabilístico, um observador da prática social po-
deria registrar duas formas de regularidade comportamental observáveis
em circunstâncias análogas, quais sejam, uma regularidade que envolve
a inexistência de reações de reprovação e uma segunda regularidade que
envolve a sucessão usual de reações hostis a um comportamento parcial-
mente diferente daquele que caracteriza a primeira regularidade. Dada
uma amostragem suficiente de casos, o observador poderá correlacionar
determinada conduta com a punição e prever com certo grau de acerto
sua ocorrência, o que por sua vez pode levá-lo a interagir com os mem-
bros da comunidade sem sofrer atitudes hostis.
Hart considera, contudo, que a adoção do ponto de vista externo ex-
tremo, qual seja, aquele que não leva em consideração “[...] o modo como
os membros da comunidade que aceitam a regra entendem seu próprio
comportamento regular”, não permite que suas afirmações sobre o direi-
to da comunidade e a descrição da vida social observada sejam feitas em
termos de regras e, consequentemente, nem de noções normativas de-
pendentes de regras como obrigações ou deveres jurídicos.24 O sentido
propriamente normativo, prático, diretivo, justificativo e crítico dos padrões
jurídicos só pode ser apreendido por afirmações que levem em conta o aspec-
to interno das regras, apreendido do ponto de vista interno dos participantes
da prática. Trata-se de incluir no conteúdo da afirmação o modo como o
grupo enxerga seu próprio comportamento, seja aderindo a este, caso em
que se adota o ponto de vista interno, seja descrevendo a aceitação por parte
de outros deste ponto de vista e suas atitudes correspondentes, caso em que
se adota um ponto de vista externo, porém não extremo ou reducionista.
Para além destes três pontos de vista, interno, externo extremo e ex-
terno moderado, é possível identificar ainda um quarto ponto de vista,
23
HART, 1994, p. 89. Itálicos no original.
24
Ibidem.
149
thiago decat
25
HART, 1994, p. 90.
26
Idem, p. 91.
150
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
151
thiago decat
29
HART, 1994, p. 91-92.
30
Idem, p. 92.
152
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
31
Idem, p. 94.
32
HART, 1994, p. 92.
153
thiago decat
33
Idem, p. 94.
34
Idem, p. 95
154
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
35
HART, 1994, p. 95.
36
Idem, p. 92.
37
HART, 1994, p. 93.
155
thiago decat
38
Idem, p. 95-96.
39
Idem, p. 96.
40
Idem, p. 93.
41
HART, 1994, p. 93.
156
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
É interessante notar que mesmo este trecho deixa espaço para dú-
vidas. Isso porque, se por um lado ele estabelece um critério claro para
42
Idem, p. 97.
43
HART, 1994, p. 94.
157
thiago decat
Não é difícil perceber que esta última citação parece fornecer um cri-
tério para distinguir entre regras primárias e secundárias que é distinto
do critério que emerge da citação anterior a ela. A primeira sugere um
critério formal enquanto a segunda indica um critério funcional, a saber,
as regras secundárias seriam as regras responsáveis pela manutenção do
funcionamento do sistema jurídico.
Nesta difícil questão, a interpretação que apresenta a teoria de Hart
em sua melhor luz, sem renunciar a uma visão geral de sua teoria, é a de
Gerald Postema.45 De acordo com Postema, a distinção entre regras que
impõem deveres e regras que conferem poder foi proposta por Hart para
suprir a incapacidade da Teoria Imperativista do Direito de Austin de
explicar como as regras jurídicas possibilitavam a formação de contratos,
casamentos, transferência de propriedade, emissão de decisões judiciais
e a elaboração de leis.46 As regras que conferem poderes, por sua vez, se
dividem naquelas que conferem poderes públicos e naquelas que confe-
rem poderes privados. Ambas estabelecem certas condições sob as quais
é conferido poder para produzir determinados efeitos jurídicos. No caso
das regras que conferem poderes privados, trata-se de poderes para que
as pessoas alterem suas posições normativas (direitos e deveres, princi-
palmente) em relação umas às outras:
44
Ibidem.
45
POSTEMA, Gerald J. Legal Philosophy in the Twentieth Century: The Common Law World.
Berlin: Springer, 2011.
46
Idem, p. 275.
158
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
[Elas] são projetadas, inter alia, para permitir que os cidadãos orga-
nizem seus próprios negócios. Em vez de buscar controlar o compor-
tamento destes, aqueles que instituem regras que conferem poderes
[privados] colocam facilidades para o arranjo privado [de interesses]
à disposição dos cidadãos47.
47
POSTEMA, 2011, p. 276.
48
Ibidem.
49
Idem, p. 278.
159
thiago decat
50
POSTEMA, 2011, p. 279.
51
Ibidem.
52
Ibidem.
160
a chave para o conceito de direito: a noção de obrigação jurídica e a união...
53
HART, 1994, p. 98.
54
Ibidem.
161