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A Proibição do Excesso
Conclusão
A Jurisprudência dos Tribunais brasileiros tem demonstrado com constância cada vez
maior a aplicação do princípio da proporcionalidade em seus julgados, ampliando sua
importância em todos os ramos do Direito pátrio, embora Luís Roberto Barroso nos
demonstre que o princípio da proporcionalidade no Brasil tem percorrido trajetória
modesta. Da mesma forma, Daniel Sarmento debita à lenta aplicação daquele
princípio a visão rígida e esquemática da jurisprudência a propósito da separação de
poderes . Antes da Constituição de 1988, tal princípio vinha sendo acolhido sem ser
expressamente abordado, em diversas decisões do Supremo Tribunal Federal (Rep.
1077, RTJ 112:34; Rep. 1054, RTJ 110:937), só sendo explicitamente reconhecido a
partir do julgamento da ADIN 855-2, pelo qual admitiu-se expressamente a violação ao
princípio da proporcionalidade. Hoje o princípio da proporcionalidade vem sendo
utilizado, pelas decisões do Supremo Tribunal Federal, sobretudo como instrumento
para solucionar colisão de direitos fundamentais.
No âmbito das liberdades da comunicação, onde é mais utilizado, o princípio da
proporcionalidade nos leva a crer que só podem ser restringidas na estrita medida em
que isso seja necessário para salvaguardar direitos ou interesses constitucionalmente
protegidos, de natureza individual ou coletiva. Por isso é que os profissionais da
comunicação devem fazer a valoração, o juízo da proporcionalidade, entre o direito e o
dever de informar e os eventuais danos sofridos por outrem pela divulgação da
informação.
Jonatas Machado, constitucionalista lusitano, afirma com sapiência:
O princípio fundamental neste domínio é de que aqueles que exercem o direito e o
dever de informar, embora não tenham de abdicar de uma informação completa,
devem procurar minimizar o dano sobre as dimensões não imediatamente relevantes
para o interesse público. [...] Quer dizer, a medida em que, por exemplo, um jornalista
está concretamente vinculado pelo princípio da proporcionalidade em sentido amplo
no tratamento que dá à reputação ou à privacidade de uma figura pública, está
dependente da proporcionalidade do impacto restritivo que daí resulta para a garantia
do direito à informação nas suas diversas vertentes.
Por outro lado, não olvidemos que, ainda que a proporcionalidade enseje a realização
da justiça, há ocasiões em que sua aplicação pode, paradoxalmente, inibir o debate
público que deveria ser amplamente exposto, tornando "desproporcional exigir-se um
absoluto respeito pelo princípio da proporcionalidade".
Percebemos, portanto, que a idéia da proporcionalidade, consubstanciada em
princípio, critério ou postulado, conforme o tratamento a ela ofertado, está em
constante evolução, expansão e observação, sempre nos trazendo à baila a metáfora
do publicista Walter Jellinek: "não se deve usar canhões para matar pardais".