juicio de ponderación, p. 175-216). Breve Resumo do capítulo:
O capítulo é dividido em três tópicos: i) as antinomias e os conflitos constitucionais; ii)
juízo de ponderação; e iii) ponderação, discricionariedade e democracia. No primeiro, discorre-se a respeito de que as antinomias existem quando, em um mesmo sistema jurídico, se imputam consequências incompatíveis com as mesmas condições fáticas. Isso é, quando com um mesmo comportamento, incidem duas normas, em que a primeira proíbe e a outra ordena, por exemplo. Entende-se que isto ocorre como consequência natural da dinâmica dos sistemas jurídicos, bem como em razão de certo déficit de racionalidade do legislador. Os critérios tradicionais para resolver tais empasses são bem conhecidos, como a hierarquia, cronologia, especialidade, dentre outras. Entretanto, em certos casos, a mera aplicação destes critérios se mostra insuficiente para resolver o caso concreto. Nesse sentido, o autor apresenta o caso da Espanha, em que na Lei da Coroa da Espanha está exposto que “prefere-se o homem à mulher”, lei essa considerada especial quando comparada com o Mandato de Igualdade, no qual se proíbe a discriminação por razão de sexo. Logo, a mera aplicação de especialidade não se mostraria razoável para resolver o tema em questão. Posteriormente, o autor apresenta a diferenciação entre antinomias contingentes/externas e abstratas/internas. As antinomias internas/abstratas ocorrem quando os fatos descritos pelas normas se sobrepõem contratualmente, de forma que ao aplicar uma delas, entrará em conflito com a outra. Nesse sentido, pode-se destacar o caso de proibição de abortos e a permissão de aborto terapêutico. Realizada a permissão em caráter excepcional, entra-se em conflito com a regra geral de proibição, visto que os terapêuticos também fazem parte do gênero “abortos”. Já nas antinomias contingentes/externas, não há existência prévia de contradição, mas sim são verificadas em cada caso concreto e, somente quando verificadas é que podemos analisar qual normativa deve prevalecer. Cita-se, a título exemplificativo, a obrigação de cumprir com um compromisso e ajudar o próximo: se a pessoa, atrasada para realizar uma obrigação, se depara com um acidente, ela deverá optar por prevalecer a obrigação de cumprir o compromisso ou ajudar o próximo? Ou seja, são situações distintas entre si, mas que ao optar por zelar por uma, entra-se em contradição com a outra. Entende-se, portanto, que estas antinomias ocorrem quando estamos diante de direitos e deveres correlativos, incondicionais e categóricos. Ainda, da mesma forma que ocorrem com os direitos, as antinomias podem acontecer também em relação aos princípios. Nesse sentido, a Constituição prevê a igualdade, mas não dispõe quando uma determinada circunstância fática pode ou deve ser tomada em consideração para operar uma diferenciação normativa. Ou seja, cabe ao juiz se pronunciar sobre o critério de razoabilidade ou irrazoabilidade da obra do legislador. Já no segundo tópico, que versa sobre o juízo de ponderação, o autor inicia a reflexão de que se chama ponderação o modo de resolver os conflitos entre princípios. Nesta, há a busca por uma solução entre interesses conflitantes, entretanto, nem sempre tal solução será equilibrada. Isso porque às vezes o sacrifício parcial de um dos interesses de mostra impossível, motivo pelo qual se mostra necessário prevalecer um em detrimento de outro. Destarte, o autor apresenta o entendimento firmado pelo Tribunal Constitucional no sentido que, tratando-se de princípios que possuam a mesma hierarquia, deve ser utilizada a seguinte premissa: quanto maior o grau de não satisfação ou afetação de um princípio, tão maior deve ser a importância da satisfação do outro. Isto é, não se trata de prevalências, mas sim de pesar cada um dos direitos e adequar a melhor solução ao caso concreto. Outrossim, entende-se que a ponderação conduz a uma exigência de proporcionalidade, que implica estabelecer uma ordem de preferência relativa ao caso concreto. Ou seja, cada caso deve ser analisado de acordo com as suas particularidades, de modo que a conclusão da ponderação realizada no caso “A”, não necessariamente será a mesma do caso “B”. Declara o autor, inclusive, que a ponderação somente pode ser realizada através do órgão judiciário, e nunca pelo legislador, eis que, caso coubesse às leis terem um caráter geral de prevalência de um princípio em detrimento de outro, acabaríamos por ter leis que, indiretamente, realizam uma hierarquia entre princípios que, na realidade, são igualitários. No terceiro e último tópico, denominado “ponderação, discricionariedade e democracia”, trata-se que a ponderação, uma vez que supõe uma certa dose de discricionaridade, deve ser sempre bem fundamentada para justificar a prevalência de um princípio sobre outro. Inclusive, não se pode chegar a qualquer solução através da ponderação, mas sim devem ser levadas em conta todas as propriedades potencialmente relevantes. Em seguida, o autor sustenta que a ponderação busca a norma adequada ao caso concreto e, portanto, critica a visão de Habermas de que um princípio não pode ter mais ou menos peso e que, assim, a utilização da ponderação seria um procedimento não racional e arbitrário. Outrossim, argumenta que a ponderação desempenha papel fundamental em relação à democracia quando da análise de casos concretos, ao passo que a Justiça Ordinária utiliza como parâmetro normativo não só a lei, mas principalmente a Constituição. Destarte, seguindo o entendimento de Ferrajoli, declara que a concepção democrática deve garantir os direitos fundamentais de todos os cidadãos, e não simplesmente a vontade da maioria – sendo que essa garantia só pode ser operada através da instância jurisdicional. Por fim, o autor declara que o juízo de ponderação pode ser considerado como uma peça essencial do neoconstitucionalismo, que propõe um perfeccionismo do Estado de Direito, mas, ao mesmo tempo, também incentiva o judicialismo.