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INTERPRETAÇÃO DE LACUNAS
Marcus Vinícius de Freitas Teixeira Leite
OLÁ!
Você está na unidade Interpretação de lacunas. Conheça aqui algumas
questões de extrema relevância para a hermenêutica jurídica e para o direito
como um todo. Iniciaremos analisando as antinomias e lacunas no
ordenamento jurídico, bem como a analogia e outros fatores igualmente
interessantes. Posteriormente, seguiremos com a hermenêutica e a jurisdição
constitucional, para compreender as noções mais importantes sobre esse tema
especificamente.
Bons estudos!
Nesse sentido, de acordo com Cardoso (2012, p. 691), antinomias são entendidas
como um conflito entre normas incompatíveis de um mesmo ordenamento
jurídico, inseridas em um igual âmbito de validade temporal, pessoal, material e
espacial. Trata-se, então, segundo Soares (2019), de um problema de coerência
do ordenamento jurídico, ocorrido quando há uma contradição entre duas
normas, como, por exemplo, casos em que diferentes normas proíbem e
permitem uma mesma conduta, gerando uma situação de contraposição entre
essas normas.
quando não se dispõe de regras para solucionar as colisões de normas ou princípios ou,
embora as regras existam, são encontradiças.
As aparentes, por sua vez, são aquelas em que a solução se encontra nas próprias
normas. Por isso, não chegam a ser classificadas como antinomias de fato, mas
como falsas antinomias.
É importante destacar, porém, que Bobbio (1995, p. 90-91), entre outros autores,
não considera que essas antinomias de princípios, de avaliação e teleológica
sejam realmente antinomias. Isso se deve ao fato de que o autor entende que o
conflito em questão não se dá entre diferentes normas.
Para o autor, essa regra justifica-se de maneira muito evidente ao pensar nos
absurdos que poderiam ser gerados se houvesse a prevalência de uma norma
precedente, considerando que a norma posterior provavelmente surgiu em razão
de uma nova situação fática possivelmente mais próxima à realidade que se está
regulando.
A segunda regra diz respeito ao critério hierárquico, que, por sua vez, de
acordo com Bobbio (1995, p. 93),
é aquele pelo qual, entre duas normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior:
lex suprior derogat inferiori. Não temos dificuldade em compreender a razão desse critério
depois que vimos (...) que as normas de um ordenamento são colocadas em planos
diferentes: são colocadas em ordem hierárquica. Uma das consequências da hierarquia
normativa é justamente esta: as normas superiores podem revogar as inferiores, mas as
inferiores não podem revogar as superiores. A inferioridade de uma norma em relação a
outra consiste na menor força de seu poder normativo; essa menor força se manifesta
justamente na incapacidade de estabelecer uma regulamentação que esteja em oposição à
regulamentação de uma norma hierarquicamente superior.
a passagem de uma regra mais extensa (que abrange um certo genus) para uma regra
derrogatória menos extensa (que abrange uma species do genus) corresponde a uma
exigência fundamental de justiça.
Nesse sentido, Bobbio (1995, p. 117) afirma que, enquanto a coerência diz
respeito a um excesso de normas que acabam entrando em contradição a
respeito de uma dada situação, o problema das lacunas relaciona-se com a falta
de norma para regular determinados fatos. Trata-se, de acordo com Soares
(2019), de vazios e imperfeições que comprometem a almejada completude do
ordenamento jurídico.
[o]s princípios gerais são apenas (...) normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, as
normas mais gerais. A palavra princípios leva a engano, tanto que é velha questão entre os
juristas se os princípios gerais são normas. Para mim não há dúvida: os princípios gerais são
normas como todas as outras. Para Soares (2019), os princípios gerais podem ser
considerados diretrizes éticas, implícitas ou expressas na legislação, que indicam
a realização das finalidades e dos valores principais da ordem jurídica. Assim,
potencializa-se as tomadas de decisão mais justas nas hipóteses de lacunas,
sobretudo as ditas valorativas.
Dessa forma, no que tange aos costumes, Bobbio (1995, p. 149) considera
que se trata de uma fonte subsidiária da lei, com função integradora. Para ele há
duas formas de aplicação do costume nos casos de lacuna, a ampla e a restrita,
sendo que [a] aplicação ampla tem lugar quando o costume é relacionado com uma norma
deste gênero: ‘O costume tem vigência em todas as matérias não-reguladas pela Lei’. A
aplicação restrita ocorre quando a relação está contida em uma norma deste gênero: ‘O
costume tem vigência somente nos casos em que é expressamente citado pela Lei’. Por fim,
o artigo quinto da mesma lei propugna que, [n]a aplicação
da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Nesse sentido, de acordo com Barros Monteiro (apud FRANÇA, 2009, p. 33), é
possível afirmar, então, que os fins sociais são como balizas traçadas no
ordenamento em relação às quais se pretende avançar. Simplificadamente, os
fins sociais são valores tidos como importantes e consignados no ordenamento
para servir de orientação à sociedade e a quem legisla ou aplica o direito em
sentido amplo.
§ 3º - Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a
correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.
§ 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2º - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não
revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3º - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência.
Convém destacar, ainda, no que tange ao citado artigo quinto, inciso XL, da
Constituição, que nele está implícita a retroatividade benéfica. Ou seja, caso
alguém esteja hoje preso pelo cometimento de um crime cuja conduta deixará de
ser considerada ilegal pelo ordenamento jurídico, não há motivo para que a
pessoa continue cumprindo a pena por algo que a lei atual sequer entende como
ilícito, de modo que haverá a retroatividade em benefício da pessoa em questão.
Essa não é uma norma que regula um comportamento social genérico, mas está
voltada a uma atividade relacionada à norma, de interpretação e aplicação do
direito.
É ISSO AÍ!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
REFERÊNCIAS
BARRETO, S. R. C. Retroatividade. In: Enciclopédia jurídica da PUC-SP - Direito
Tributário. 1 ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017.
Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/288/edicao-
1/retroatividade
FRANÇA, R. L. Hermenêutica jurídica. 9 ed. rev. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
GONÇALVES, F. P. F. Sobre palavras, seus usos e significados: o modelo normativo
de Marcelo Neves entre as normas e as metanormas. Rev. direito GV, São Paulo,
vol. 12, n. 1, jan./abr. 2016.