Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A realidade social nos últimos tempos tem sido palco de actuação de outros entes
jurídicos diferentes das pessoas físicas. Esses outros entes são chamados de pessoas
colectivas que desempenham um papel fulcral na sociedade tendo, por isso, uma
verdadeira relevância prática.
Objectivo geral:
• Conceituar fundações;
• Identificar os elementos constitutivos das fundações;
• Mostrar o âmbito das fundações no ordenamento jurídico angolano;
• Distinguir fundação das demais pessoas colectivas;
1
PROBLEMÁTICA
O artigo 188º do Código Civil enuncia que para que a fundação seja constituída é
fundamental que se considere que esta tenha por fim um interesse social. Pedro Pais
Vasconcelos, na sua obra Teoria Geral do Direito Civil, destaca que após a reforma do
actual código civil o artigo supra-citado carecia, igualmente, de uma mudança visto que
se manteve inalterado o mesmo preceito. Recebendo, pois, com isso, a mesma
actualização, várias críticas e reclamações da doutrina no sentido de que esse preceito
fosse modificado, tornando, com isso, flexível o regime da constituição das fundações
civis, o que permitiria, consequentemente, a prossecuçâo de fins que não apenas de
interesse social, finalidades privadas lícitas e úteis.
2
PESSOAS COLETIVAS
1. NOÇÃO
Embora a nível da doutrina seja comum encontrar vários pareceres conceituais de
pessoas coletivas, decidimos, para nortear a nossa abordagem concernente a figura, partir
de uma noção prévia que compreende pessoas coletivas como estruturas sociais
demarcadas para um objeto válido a qual o direito atribui personalidade para atuar no
mundo jurídico, ou seja, para ser titular de direitos e obrigações.
Do conceito ora avançado, é crucial reter um aspeto que se configura, claramente,
substancial, este tem que ver com a personificação. As pessoas coletivas só assim são
consideradas em função desse expediente que confere, naturalmente, a suscetibilidade
delas poderem encabeçar direitos e obrigações, que se infere não ser apenas respeitante a
pessoa física.
É claramente evidente que as realidades sociais têm sido grandes recepcionistas
ou palco de novos atores sociais e, em especial, jurídicos, na medida em que aqueles são
encarados como centros de imputação de direitos e obrigações em relação aos interesses
pelos quais são criadas. Daí, portanto, a qualificação de pessoas colectivas.
Segundo Carlos Burity (Teoria geral do direito civil, 2018, p. 313) “além das
pessoas físicas só estas entidades têm a personalidade jurídica. Quaisquer outras
realidades são excluídas, porque carecem desta base social”.
Na esteira de Mota Pinto (2005, p. 138) “as pessoas colectivas são coletividades
de pessoas ou complexos patrimoniais organizados em vista de um fim comum ou
coletivo a que o ordenamento jurídico atribui a qualidade de sujeitos de direitos”.
Carvalho Fernandes em Carlos Burity (Teoria geral do direito civil, 2018, p. 316)
entende pessoa colectiva como um “organismo social destinado a um fim lícito a que o
Direito atribui a suscetibilidade de ser titular de direitos e de estar adstrito a vinculações,
ou seja, possibilidade de ser sujeito de relações jurídicas”. Sinteticamente define-a como
um substrato social personalizado.
Nestes termos, tendo por base os conceitos supra-destacados pelos mestres,
entendemos por pessoa coletiva como estruturas sociais, podendo ser coletividade de
pessoas ou massa de bens constituídas em homenagem a existência de interesses humanos
coletivos e duradouros a qual o Direito atribui personalidade jurídica, qualidade para ser
titular de direitos e obrigações.
2. ELEMENTOS
As pessoas coletivas assim como qualquer estrutura são constituídas por
elementos. Quanto a essa questão, a doutrina é unânime em destacar como elementos
constitutivos da pessoa coletiva os seguintes:
• Substrato (elemento pessoal ou patrimonial; elemento teleológico; elemento
intencional e o formal ou organizatório)
• Reconhecimento
3
O primeiro é o substrato que compreende a realidade corpórea da pessoa coletiva.
Carlos Burity (2018, p. 320) – “compreende a realidade que dá peso terreno à pessoa
colectiva, que lhe dá existência no mundo exterior, fazendo-a ser algo mais do que uma
superestrutura pairando sobre o vácuo”.
Assim, o substrato constitui um elemento estritamente indispensável, pois é este
elemento que dá base existencial à pessoa coletiva.
O elemento é material quando falamos de pessoas ou coletividade de pessoas bem
da massa patrimonial (bens). O elemento pessoal é verificável nas associações, ao passo
que o elemento patrimonial intervém nas fundações.
O elemento é teleológico quando a existência da respetiva pessoa colectiva é
justificada pela prossecução de um fim específico, uma finalidade.
O elemento intencional é o intento para constituir a pessoa coletiva. À criação de
uma pessoa coletiva está, claramente, subjacente uma intenção, essa intenção constitui,
pois, o elemento intencional.
O elemento formal ou organizatório diz respeito a organização das pessoas ou
dos bens, ou seja, compreende a ordenação unificadora que deve ser inerente à pessoa
coletiva.
Já quanto ao reconhecimento, é de frisar que “por força desse elemento a pessoa
coletiva passa de uma mera realidade de facto a centro autónomo de relações jurídicas”
(teoria geral do direito civil, 2018, p. 328) Carlos Burity.
Somente após se verificar o reconhecimento, surge, então, a nova pessoa jurídica,
no caso, a pessoa coletiva. Em Carlos Burity (Teoria geral do direito civil 2018, p. 328)
“são possíveis várias modalidades de reconhecimento. Pode ter lugar um reconhecimento
normativo, isto é, derivado automaticamente da lei, um reconhecimento individual ou por
concessão traduzido num acto individual e discricionário de uma autoridade pública que,
perante a cada caso concreto, personificará ou não o substrato.
Pode o reconhecimento normativo ser condicionado ou incondicionado. É
incondicionado quando a ordem jurídica é maleável a todo o substrato da pessoa coletiva.
E por outra, é condicionado quando acontece o contrário.
3. ESPÉCIES DE PESSOA COLETIVA
Como já referimos anteriormente, as pessoas colectivas são caracterizadas por
serem entidades sociais que implicam pessoas ou massas patrimoniais revestidas de um
interesse próprio, prosseguem um fim, e só são consideradas como tal por serem dotadas
de personalidade jurídica. É possível aferir pelo menos duas espécies de pessoas
colectivas, nomeadamente:
• pessoas colectivas do direito público;
• pessoas colectivas de direito privado;
Importa apenas fazermos uma abordagem superficial de pessoas colectivas
públicas, uma vez que não constituem o nosso principal escopo de abordagem. As pessoas
colectivas públicas têm uma abordagem em sede própria no direito público, pois é um
4
conteúdo de categorização específica. Entretanto, limitamos a nossa abordagem no
seguinte, as pessoas colectivas públicas são entes criados pelo Estado para prosseguir os
interesses públicos, gozando para tal de uma estruturação administrativa e material
própria.
Já no tocante às pessoas colectivas privadas trataremos de forma muito sintética
por ser a via que nos permitirá à observação do instituto que é o objeto do nosso trabalho.
As pessoas colectivas privadas são criadas por iniciativa privada com objectivo de
prosseguir fins particulares e/ou sociais. Estas reconduzem-nos a três tipos que são as
associações, as fundações e as sociedades.
1. NOÇÃO
A lei não define fundação. Os traços gerais das fundações têm consagração nos
artigos 185º a 194º do Código Civil. Não obstante podemos aqui avançar:
Pedro Pais Vasconcelos (2005, pág. ) que conceitua fundações como pessoas
colectivas que compreende sempre a institucionalização de fins humanos cuja
prossecução abrange uma massa de bens, isto é, bens patrimoniais.
Mota Pinto que entende fundações como pessoas coletivas instituídas por acto
unilateral do fundador mediante escritura pública à afetação de bens em relação aos fins
sociais que visa prosseguir.
Qualquer que seja a definição que se avance, é fundamental que dela se extraiam
os elementos que constituem o seu substrato, nomeadamente:
➢ Elemento patrimonial – massa de bens;
➢ Elemento formal ou orgamizatório
➢ Elemento teleológico – fim de interesse social;
2. SUBSTRATO
5
As fundações diferentemente de outras pessoas colectivas, o seu substrato não tem
carácter corporativo, ou seja, não se circunscreve no agregado de pessoas. Importa tomar
nota que o fundador apenas fará parte da respetiva instituição fundacional no acto da sua
constituição, após fundada poderá influenciar a sua vida. Mas este não faz parte do seu
substrato.
Organização
No que concerne a orgánica da fundação é de frisar que a lei é quase omissa quanto
ao assunto. Apeanas faz referência a questões de administração nos 189º a 193º do Código
Civil.
Um aspeto sobre a organização da fundação tem que ver com o facto de que esta
pessoa coletiva distingue-se das associações fundamentalmente por não terem uma
Assembleia geral. Não sendo um complexo geral de pessoas, as fundações não podem,
por isso, ter órgãos à respetiva Assembleia Geral.
Quanto a orgânica das fundações inferimos que existe uma insuficiência
normativa que atenda a forma da mesma, a sua estruturação e muito mais. Os estatutos
que regem as fundações é que definem o nome, modo de designação e substituição dos
seus membros bem como a duração e cessação dos respectivos mandatos.
As fundações são ainda passíveis de mutação, ou seja, podem sofrer importantes
modificações.
Ao abrigo do art. 189º, as fundações podem ser modificadas pela entidade
competente para o respectivo reconhecimento sob proposta da administração, esta
modificação, por sua vez, tem limites: não pode, de modo algum, envolver a alteração
essencial do fim da fundação, nem tampouco contrariar a vontade do fundador.
Elemento teleológico – fim de interesse social
6
encontraremos a solução, pese embora já se tenha adiantado muito resumidamente alguns
aspectos sobre o assunto.
Na perspectiva de Oliveira Ascensão, a fundação na sua essência imobiliza bens.
Esses ficam subtraídos ao comércio jurídico e às vicissitudes normais. A lei pode admitir
uma postura desejavel, quando tem finalidade cuja relevância social a compense. Não,
porém quando se dirija a objetivos egoístas ou socialmente não significativos.
Na esteira de Pedro Pais Vasconcelos, o código civil no seu art. 188º n. 1, exige
que a fundação deva ter um fim “interesse social” para poder ser personalizada ou
reconhecida.
A letra da lei, no artigo 188º nº. 1 dispõe o não reconhecimento da fundação cuja
a teleologia seja descabida de interesse social. Coadjuvantemente, o art. 190º nº. 1 alínea
b) prevê a atribuição à fundação dum fim diferente, quando o fim da instituição
fundacional deixar de revestir o interesse social.
Neste entendimento, com base ao código civil, não pode ser reconhecida e
tampouco atribuída personalidade jurídica a uma fundação que vise realizar o interesse
particular de uma família ou de uma pessoa determinada.
Devemos, por isso, excluir as fundações familiares, bem como as estabelecidas
para propósitos individuais, como para benefício de animais ou outros casos ainda.
À fundação pode ainda ser-lhe atribuída um fim diferente quando esse fim tiver
sido alcançado na íntegra, preenchido ou até mesmo quando se tornar impossível (por
exemplo quando perde o interesse social ou quando o património da respectiva fundação
tiver deixado de ser suficiente para a realização do fim). Para tal a autoridade competente
deve ouvir a fundação nas vozes do seu fundador ou até mesmo da sua administração com
o fim de fixar o novo fim à fundação, mas deve, esse novo fim, aproximar-se sempre ao
fim noutrora fixado pelo fundador (190º nº. 3º).
3. RECONHECIMENTO
7
restantes pressupostos, é o caso da fundação não ter interesse pessoal como já foi
destacado acima e, noutros casos, na eventualidade de os bens serem insuficientes.
Distinão de fundação de outras pessoas colectivas
8
CONCLUSÃO