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A chamada Reforma Tributária do consumo tem sido uma prioridade do Governo Federal atual, apoiada no
Legislativo pela criação de um Grupo de Trabalho (GT) na Câmara dos Deputados que, por meses, vem
ouvindo os mais variados setores da economia com a missão de analisar e unificar as Propostas de Emenda
Constitucional (PECs) nºs 45/2019 e 110/2019, considerando os textos dos seus substitutivos, para conciliar
e aperfeiçoar os seus principais aspectos.
Recentemente, o GT apresentou o relatório final que embasará o substitutivo da PEC nº 45, cujas principais
diretrizes comentamos a seguir:
Como já era previsto, por ser um ponto de convergência entre ambas as PECs, propõe-se a extinção de 5
(cinco) tributos, a saber: IPI, PIS, COFINS, ICMS e ISS.
Quanto aos tributos a serem criados, prevaleceu a proposta do modelo de Imposto sobre Valor Agregado -
IVA dual, que prevê a criação: do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS ou IVA subnacional), de competência
dos Estados, Distrito Federal e Municípios; do IVA federal (IBS Federal); e de um Imposto Seletivo (IS)
também federal, que visa a substituir o IPI, com características extrafiscais.
2. Características do IVA dual
● Tributação no destino
Tributação no local em que o bem ou serviço for consumido, também ponto em comum de ambas as PECs, o
que evitaria a guerra fiscal entre os entes da federação.
O relatório recomenda expressamente que a definição de não cumulatividade plena passe a constar do texto
da PEC, garantindo a neutralidade quanto à carga fiscal de todos os contribuintes.
No mais, o crédito deverá ter por base o valor destacado em nota fiscal, não havendo condicionamento ao
recolhimento na etapa anterior como proposto nas PECs 45 e 110.
● Créditos acumulados
Quanto aos créditos acumulados do IVA dual, o relatório prevê que “o novo sistema deve garantir a
devolução de créditos acumulados de IBS no mais breve espaço de tempo possível, como na comunidade
internacional, parecendo-nos razoável um prazo máximo de 60 dias.”
O documento, lamentavelmente, não aborda os créditos acumulados dos tributos que serão extintos. Quanto
a esse aspecto, a PEC 45 prevê que Lei complementar (LC) poderá dispor sobre a utilização dos saldos
credores de IPI, PIS, COFINS e ICMS homologados para pagamento do IBS e/ou prever a restituição
mediante a emissão, pelo respectivo ente federativo, de instrumentos financeiros negociáveis. Já a PEC 110
prevê que, após o período de transição, os saldos credores homologados de ICMS (apenas) seriam
ressarcidos nos termos da LC ou, por opção do contribuinte, poderiam ser substituídos por títulos da dívida
pública do respectivo ente. Aguarda-se o texto do substitutivo a ser proposto na PEC 45 definindo tal
questão.
● Alíquotas
Nesse particular, o relatório foi mais flexível que as PECs, as quais previam a adoção de alíquota única para
o IBS incidente sobre todos os bens e serviços, com autonomia para Estados, DF e Municípios fixarem suas
próprias alíquotas.
Há no novo texto a recomendação da adoção de uma alíquota padrão, porém permite-se o estabelecimento
de outras alíquotas para bens e serviços específicos, a exemplo dos relacionados à saúde, educação,
transporte público coletivo urbano, semiurbano ou metropolitano e aviação regional, bem como a produção
rural, com previsão de avaliação da possibilidade de se manter o tratamento diferenciado aos produtos da
cesta básica.
● Cashback
O relatório recomenda que se preveja um sistema de cashback, com público elegível a ser definido. Nas
PECs 45 e 110, esse sistema era aplicável às famílias de baixa renda.
Quanto ao Simples Nacional, previu-se que o contribuinte poderá optar entre os dois modelos de
recolhimento do IBS: simplificado, com crédito para o próximo ente da cadeia no mesmo montante do valor
cobrado, ou o regime não cumulativo geral.
● Benefícios convalidados
O relatório recomenda que os benefícios fiscais do ICMS, convalidados nos moldes da LC nº 160/2017,
sejam respeitados e que o substitutivo defina a formatação necessária para o cumprimento dessa diretriz.
Essa era uma questão relevante e ainda incerta para o grande número de empresas que desenvolveram
empreendimentos com base nesses estímulos fiscais, cuja recomendação passa a trazer um cenário
favorável de segurança para tais contribuintes.
● Transição (contribuintes)
O relatório não especificou se a transição para o novo sistema obedecerá os 6 anos da PEC 45, os 7 anos da
PEC 110, ou qualquer outro prazo. Mas recomenda, positivamente, que a transição seja feita de modo a
manter a arrecadação dos tributos atuais como proporção do PIB, sem que haja aumento, em nenhuma
hipótese, da carga tributária.
3. Sobre o IS
No que se refere ao IS, de cunho extrafiscal e voltado a desestimular o consumo de bens e serviços
considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, o relatório estabelece diretriz para que se mantenha
a redação ampla no âmbito do substitutivo da PEC e se transfiram as especificidades para a discussão
infraconstitucional.
● IPVA
Possibilidade de ser progressivo e com incidência sobre veículos aquáticos e aéreos.
● ITCMD
Propõe-se que seja determinado como progressivo, em razão do valor da transmissão.
● IPTU
Autorização para que o Executivo atualize as bases de cálculo por meio de decreto.
Takeaways
O documento preserva como bases: a simplificação, abrangendo a unificação de tributos federais, estadual e
municipal, ainda que sob a forma do IVA dual; transparência com tributação por fora e no destino; não
cumulatividade ampla; mecanismo de ressarcimento de créditos acumulados; desoneração das exportações
(cf. PECs) e, de forma indireta, de investimentos (pela não cumulatividade ampla e restituição de saldos
credores). O relatório representa o que parece ser o resultado possível, nas atuais circunstâncias, do modelo
de reforma do consumo, considerando-se os interesses dos entes políticos e dos diversos setores
econômicos, cabendo destacar a recomendação da adoção de uma alíquota padrão, porém permitindo-se o
estabelecimento de outras alíquotas para bens e serviços de setores específicos (saúde, educação,
transporte público coletivo urbano, semiurbano ou metropolitano e aviação regional, produção rural e
tratamento diferenciado aos produtos da cesta básica).
Nesta mesma linha, destacam-se ainda as recomendações de que o crédito dos tributos tenha por base o
valor destacado em nota fiscal, sem condicionamento ao recolhimento na etapa anterior (como previsto nas
PECs 45 e 110), e de que os benefícios fiscais do ICMS, convalidados nos moldes da LC nº 160/2017, sejam
respeitados. Essas eram questões relevantes e ainda incertas para os contribuintes. É de se lamentar,
contudo, a inexistência de uma recomendação assertiva e eficaz para a resolução do ônus tributário relativo
aos saldos credores acumulados dos tributos que deverão ser extintos.
Mantemos a nossa recomendação para que sejam feitas análises e modelagens com o objetivo de se avaliar
como as diretrizes propostas no relatório afetarão o seu negócio, bem como que as empresas, nos diversos
setores econômicos, sigam buscando a defesa dos seus legítimos interesses no processo de debate
legislativo que está por vir, conciliando-os com a necessária simplificação e racionalização do nosso sistema
de tributação do consumo que propiciem a melhoria do ambiente de negócios do país.
Durval Portela
Líder de consultoria tributária e societária da PwC Brasil
durval.portela@pwc.com
www.pwc.com.br
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