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DESVENDANDO A

REFORMA TRIBUTÁRIA:
COMO ELA AFETARÁ A
RCT NO FUTURO
Prof. Paulo Adyr
Sobre o professor
O professor Paulo Adyr é Bacharel, Mestre e Doutor em
Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
e atua há mais de 30 anos com a recuperação de tributos.
Fez pós-doutorado em Direito Público pela Università
degli Studi di Messina (Itália) e em Direito Penal Tributário
pela Universidad Nacional de La Matanza (UNLaM). É dire-
tor da Associação Brasileira de Direito Tributário (ABRADT).
Foi membro do Conselho Estadual de Assuntos Tributários
da FEDERAMINAS (Federação das Associações Comerciais
e Empresariais do Estado de Minas Gerais – triênio
2016/2019). É autor de 13 livros sobre Direito Tributário e
Financeiro, além de possuir 90 artigos publicados no Brasil
e no exterior.
Sumário

Transparência em risco: o impacto da liberação de verbas nas 02


votações legislativas

Reforma tributária: o conceito e suas implicações 04

A flagrante inconstitucionalidade da PEC 45-A/2019: entenda


06
os problemas

Imposto para aplicação da seletividade: uma análise crítica 10

Mecanismo de proteção contra o aumento da carga tributária 13

Sistema de cashback e o Simples Nacional: questões a serem


15
esclarecidas

Transição para a sociedade 17

Impacto da reforma tributária no setor de serviços: desafios e


19
preocupações

Advocacia em risco: os efeitos da reforma tributária na


22
sustentabilidade dos escritórios

Análise prática: como a reforma impacta os trabalhos de


24
recuperação tributária

Outras especificidades da reforma tributária 29

Rumo ao sucesso: profissionais da recuperação tributária 32


serão cada vez mais requisitados e valorizados
Desvendando a reforma tributária:
Como ela afetará a RCT no futuro

Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou em dois turnos a reforma


tributária que trata da tributação do consumo (PEC 45-A/2019). O texto aprovado
será agora encaminhado ao Senado.
O tema movimentou o mundo tributário e gerou uma série de discussões.
Neste ebook, de forma técnica, vamos esclarecer alguns mitos lançados sobre o
tema, sobretudo no que diz respeito à continuidade dos trabalhos de recuperação
tributária.
TRANSPARÊNCIA
EM RISCO
O impacto da liberação
de verbas nas votações
legislativas
Transparência em risco: o impacto da liberação
de verbas nas votações legislativas

A crítica inicial que precisa ser feita é o fato de que, juntamente com a aprovação pela Câmara
da PEC 45-A/2019, ocorreu uma considerável liberação de verbas destinadas às emendas parlamenta-
res. Vamos ao #GiroDeNotícias?

Disponível em < https://www.cnnbrasil.com.br/politica/as-vesperas-da-votacao-


-da-reforma-tributaria-governo-libera-valor-recorde-de-emendas-pix-r-52-bilhoes/ >

Disponível em < https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/07/06/governo-


-bate-novo-recorde-e-libera-r-52-bilhoes-em-emendas-pix-saiba-quanto-cada-deputado-recebeu.ghtml >

Disponível em < https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/07/5107380-reforma-tributaria-52-bi-


liberados-para-facilitar-aprovacao-entenda.html >

02
Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr
Disponível em < https://exame.com/economia/lula-libera-r-53-bilhoes-em-emendas-pix-em-meio-a-votacao-da-reforma-tributaria/ >

Disponível em < https://www.seudinheiro.com/2023/politica/reforma-tributaria-ponto-a-ponto-rsgp/ >

Os fatos noticiados, a nosso ver, comprometem significativamente a confiabilidade e a transpa-


rência das votações.
É essencial ressaltar que, ao permitir uma grande liberação de verbas para emendas parlamenta-
res, corre-se o risco de que os votos dos deputados possam ser influenciados por interesses individu-
ais ou partidários, em detrimento do bem comum. Afinal, quando os parlamentares recebem recursos
adicionais para projetos específicos em suas bases eleitorais, é natural que possam ser tentados a
favorecer determinados grupos ou setores em troca de apoio político ou eleitoral.
Por isso, essa liberação de verbas pode levantar questionamentos sobre a imparcialidade das
decisões tomadas no âmbito da Câmara dos Deputados. Afinal, é necessário garantir que os votos dos
parlamentares sejam baseados em critérios objetivos, como o mérito dos projetos em discussão, e
não em acordos de favorecimento mútuo.

03
Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr
REFORMA
TRIBUTÁRIA
O conceito e suas implicações
Reforma tributária: o conceito e suas implicações

Uma reforma tributária ocorre quando há uma reestruturação abrangente do sistema tributário
de um país. O objetivo é simplificar os impostos, promover uma maior equidade fiscal e impulsionar o
desenvolvimento nacional.

Ou seja, o que se espera é que ela venha para solucionar os principais problemas do nosso sistema
tributário atual que são:

Alta complexidade

Guerra fiscal entre Estados e Municípios

Alta carga tributária

Insegurança jurídica

Regressividade

Constante mudança da legislação tributária.

No entanto, apesar da longa espera por essa reforma, parece que o ideal desejado não será
alcançado de acordo com a proposta de emenda constitucional aprovada pelo Congresso.

É importante ressaltar que, além dessa proposta, há ainda a previsão de uma reforma tributária
direcionada à tributação da renda, que deve ser implementada em até 180 dias após a promulgação da
reforma voltada para a tributação do consumo.

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A FLAGRANTE
INCONSTITUCIONALI-
DADE DA PEC
45-A/2019
Entenda os problemas
A flagrante inconstitucionalidade da
PEC 45-A/2019: entenda os problemas

Aprovada na Câmara dos Deputados, a PEC 45-A/2019 tem origem nas propostas PEC 45/2019
e PEC 110/2019. O cerne dessa reforma tributária é a substituição de cinco tributos (IPI, ICMS, PIS,
COFINS, ICMS e ISS) pelo imposto sobre valor agregado (IVA), juntamente com um imposto seletivo
(IS), este de caráter extrafiscal.

PIS (federal) CBS (federal)


Contribuição sobre bens e serviços
COFINS (federal) IVA DUAL
IBS (estadual/municipal)
IPI (federal) REFORMA
Imposto sobre bens e serviços
ICMS (estadual) IS (federal)
ISS (municipal) Imposto seletivo

Característica Como é Como fica


PIS, COFINS, IPI (federal), IBS dual (CBS federal + IBS estados
Novo tributo
ICMS (estadual), ISS (municipais) e municípios) + ISE (federal)

PIS/COFINS/IPI: bens e serviços IBS: base ampla, incluindo importações


Base de incidência ICMS: bens e alguns serviços específicos ISE: bens prejudiciais à saúde ou ao
ISS: serviços meio ambiente

Regime de incidência Misto (cumulativo e não-cumulativo) Não cumulativo

Uniforme, mas permitida alíquota


específica para alguns bens e serviços
Alíquotas Múltiplas alíquotas
saúde, educação, transporte público,
cesta básica)
Misto (por dentro e por fora),
Cálculo de imposto Por fora
a depender do tributo
Local da tributação Predominantemente origem Destino
Crédito físico (apenas o que entra Creditamento de todo imposto pago em
Aproveitamento
diretamente na produção do bem todos os gastos que contribuam para a
dos créditos ou serviço atividade econômica, mesmo administrativas

Limitados a entidades financeiras, seguros,


Regimes diferenciados Múltiplos regimes
combustíveis e bens móveis
Não permite benefícios fiscal. Benefícios
Benefícios fiscais Benefícios permitidos, exceto ISS
estaduais convalidados se mantém até 2032

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O IVA, inspirado no sistema europeu, é concebido como uma forma de tributação do consumo
em que cada etapa da cadeia produtiva paga apenas o imposto referente ao valor que adicionou
ao produto ou serviço. Ou seja, sendo não cumulativo, ele elimina a cobrança em cascata.

Principais características
de um modelo do tipo IVA
Manutenção da carga tributária global

Unificação dos tributos sobre consumo

Alíquota uniforme para todos os bens e serviços

Desoneração das exportações

Restituição ágil dos créditos, com determinação de prazo máximo

Desoneração dos investimentos

Tributação no destino

Fim da incidência de um tributo sobre o outro

Cálculo “por fora”

No entanto, no contexto jurídico brasileiro, o modelo de IVA, quando dual, entra em conflito com
a cláusula pétrea que estabelece a forma federativa de Estado (art. 60, §4º, I, da Constituição Federal).

Isso ocorre porque o IVA dual é composto pelo imposto sobre bens e serviços (IBS), de
competência compartilhada entre os Estados e Municípios, e a contribuição social sobre bens e
serviços (CBS), de competência federal. A sua administração e arrecadação ficariam sob a
responsabilidade de um Conselho Federativo da União.

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Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr
Com essa nova sistemática, os Estados e Municípios perdem sua autonomia financeira, com a
extinção do ICMS e do ISSQN, respectivamente. Com isso, esses entes políticos ficam dependentes da
distribuição de recursos pela União.

Além disso, é importante observar que o IBS e a CBS têm em comum a hipótese de incidência, o
fato gerador e a base de cálculo. Quanto à alíquota, ela seria definida pelo Conselho Federativo da
União, visando à manutenção da arrecadação.

Portanto, fica evidente a possibilidade de dupla tributação sobre o mesmo fato gerador. Assim,
seguindo as análises de renomados estudiosos do direito tributário, abre-se espaço para discussões
sobre a constitucionalidade dessa proposta de emenda à Constituição.

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IMPOSTO PARA
APLICAÇÃO DA
SELETIVIDADE
Uma análise crítica
Imposto para aplicação da seletividade:
uma análise crítica

No Direito Tributário Constitucional, um dos tópicos de grande relevância é o princípio da


seletividade tributária.

Esse princípio é atualmente aplicado ao ICMS (artigo 155, § 2º, III, da Constituição Federal) e ao IPI
(artigo 153, § 3º, I, da Constituição Federal). Neste caso, a seletividade permite a adoção de
alíquotas diferenciadas para certos produtos ou serviços, levando em consideração suas
características específicas, como grau de essencialidade, impacto ambiental ou finalidade social.

O objetivo principal da seletividade é promover a justiça fiscal, evitando a imposição de


tributos excessivos sobre itens essenciais à subsistência da população, como alimentos básicos e
remédios. Além disso, esse princípio também pode ser usado para incentivar setores específicos da
economia, por meio da concessão de benefícios fiscais ou redução de alíquotas, contribuindo
assim para o desenvolvimento econômico do país.

Feito esse esclarecimento, é preciso registrar que a PEC da reforma tributária visa à criação de
um imposto seletivo (IS) com finalidade parafiscal. Ou seja, para desestimular o consumo de
produtos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente.

Essa proposta levanta uma questão importante: é adequado criar um tributo


para operacionalizar um princípio?

A criação de um imposto seletivo pode gerar uma sobreposição de tributos e uma


complexidade desnecessária ao sistema tributário, podendo até mesmo comprometer a eficácia
do princípio da seletividade.

Essa crítica não é uma oposição à ideia de desestimular o consumo de produtos prejudiciais
à saúde e ao meio ambiente. Pelo contrário, é fundamental adotar medidas que promovam a
proteção desses interesses. No entanto, é necessário avaliar se a criação de um imposto seletivo é a
melhor forma de alcançar esse objetivo.

Existem alternativas que podem ser consideradas, como a utilização de incentivos fiscais e
políticas públicas voltadas para a educação e conscientização da população sobre os impactos

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negativos desses produtos. Além disso, é importante analisar os efeitos econômicos e sociais da criação
de um novo imposto, bem como a viabilidade de sua implementação e fiscalização.

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MECANISMO DE
PROTEÇÃO CONTRA
O AUMENTO DA
CARGA TRIBUTÁRIA
Mecanismo de proteção contra o
aumento da carga tributária

A PEC da reforma tributária apresenta medidas destinadas a evitar o aumento global da carga
tributária sobre o consumo. Uma dessas medidas é a desoneração das contribuições previdenciárias.

No entanto, é importante destacar que, na prática, essa desoneração tem se mostrado pouco
efetiva e não tem gerado um impacto significativo na tributação.

Na prática, a complexidade do sistema tributário e as diversas camadas de burocracia dificultam a


aplicação eficiente da desoneração, impedindo que ela realmente cumpra seu propósito de aliviar a
carga tributária.

Por isso, é necessário analisar de forma crítica e aprofundada as propostas de desoneração


apresentadas pela PEC. É essencial que sejam adotadas medidas concretas e eficazes para garantir que
a proteção contra o aumento da carga tributária seja verdadeiramente efetiva e traga benefícios
tangíveis para os contribuintes.

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SISTEMA DE
CASHBACK E O
SIMPLES NACIONAL
Questões a serem esclarecidas
Sistema de cashback e o Simples
Nacional: questões a serem esclarecidas

Um ponto da reforma tributária que permanece pouco claro é a possibilidade de implementação


do sistema de “cashback do povo” para famílias de baixa renda. A ideia é que haja uma devolução parcial
de impostos, com base na redução de desigualdade de renda.

Todavia, não há informações concretas sobre como esse sistema será operacionalizado e como os
pagamentos serão realizados aos contribuintes.

Essa falta de clareza gera incertezas e dúvidas em relação aos benefícios reais que o cashback
poderia trazer para as famílias de baixa renda. É essencial que sejam fornecidos detalhes e
diretrizes claras sobre como o sistema funcionará, para que todos os envolvidos possam
compreender plenamente seus direitos e oportunidades.

No que diz respeito ao Simples Nacional, é importante destacar que o regime tributário
será mantido, mas ainda não é possível avaliar completamente o impacto do IVA sobre ele. Há
preocupações de que a distorção na carga tributária entre o Simples Nacional e o regime de lucro
presumido possa ser tão significativa que os contribuintes se sintam receosos em migrar de um
regime para o outro.

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TRANSIÇÃO PARA
A SOCIEDADE
Transição para a sociedade

A transição para a nova sistemática da reforma tributária, como proposto na PEC 45-A/2019, está
prevista para se iniciar em 2026. Em relação aos entes federativos, a repartição financeira e a transição
tributária é estimada para ser concluída em um prazo de 50 anos.

Esse período de transição é fundamental para que os entes federativos e a sociedade como um
todo possam se adaptar às mudanças e se preparar para a implementação integral das novas regras.

Mas, ao mesmo tempo, o extenso período de transição imporá aos contribuintes conviver com
dois modelos tributários diversos por um longo período. Como consequência, serão necessárias duas
apurações, o que implica em maior dispêndio de tempo e recursos para apurar e pagar tributos, bem
como para prestar contas ao fisco.

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IMPACTO
DA REFORMA
TRIBUTÁRIA NO
SETOR DE SERVIÇOS
Desafios e preocupações
Impacto da reforma tributária no setor de serviços:
desafios e preocupações

O setor de serviços, responsável por cerca de 70% dos empregos no país, tem expressado grande
preocupação em relação à reforma tributária aprovada pela Câmara dos Deputados.

Estudos realizados pela CEBRASSE (Central Brasileira do Setor de Serviços) alertam para um
alarmante aumento da carga tributária nesse setor. Além disso, a promessa de simplificação da
tributação parece estar longe de ser cumprida. Observe:

Perfil: Empresa de projetos que presta serviços especializados de engenharia e


arquitetura, sendo grande contratante de mão-de-obra especializada, que consome
praticamente 90% dos custos (os demais são aluguel, energia, telefone, internet, papelaria,
cafezinho etc).

Faturamento anual: R$10 Milhões

Antes da Reforma Com a reforma

O PIS/COFINS serão substituídos pelo IBS e CBS. Projeta-se


Recolhe PIS/COFINS pelo método cumulativo, com uma que os novos tributos, em conjunto, terão uma alíquota
alíquota de 3,65% (3 + 0,65) sobre o faturamento bruto, e mínima de 25%, não-cumulativos, vale dizer, descontados
ISS à alíquota de 5%, também sobre o faturamento bruto. os insumos (exceto a mão-de-obra). Assim, eles serão
recolhidos sobre 90% do faturamento.

Aplicando a alíquota mínima de 25% sobre 90% do


Para uma receita de R$10 milhões, a empresa paga R$865
faturamento anual, temos o seguinte: 25% x R$9 milhões
mil de PIS/COFINS.
= pagamento de R$2.250.000 a título de IBS e CBS.

Perceba, portanto, que a tributação dita “simplificada” pela reforma impõe ao contribuinte uma
carga tributária que é quase 3 (três) vezes maior do que aquela paga atualmente.

Para piorar, uma análise objetiva e técnica revela que a reforma não apenas impõe uma carga
tributária mais pesada, mas também torna o cálculo dos novos tributos mais burocrático. Os
contribuintes serão obrigados a calcular mensalmente as notas fiscais de todos os insumos, a fim de
verificar os créditos tributários aos quais têm direito.

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Uma preocupação adicional é que essa maior onerosidade tributária resulte em cortes de gastos
e, consequentemente, na redução de postos de trabalho no setor de serviços.

É importante ressaltar que a simulação acima apresentada pode ser aplicada a qualquer prestador
de serviços fora do Simples Nacional e das exceções previstas no projeto (como educação, saúde,
serviços culturais, etc.), pois para esses setores está prevista uma alíquota reduzida de 60% em relação
à tarifa cheia.

Redução de 60%

Serviços de educação Serviços de saúde

Dispositivos médicos e de acessibilidade Produções artísticas, culturais,


para pessoas com deficiência jornalísticas e audiovisuais nacionais
e atividades desportivas
Serviços de transporte público coletivo
Produtos agropecuários, aquícolas,
Insumos agropecuários, alimentos pesqueiros, florestais e extrativistas
destinados ao consumo humano vegetais in natura
e produtos de higiene pessoal
Bens e serviços relacionados a segurança
Medicamentos e produtos de cuidados e soberania nacional, segurança de
básicos à saúde menstrual informação e segurança cibernética

Diante dessas informações, é fundamental que sejam realizadas análises aprofundadas e


consideradas alternativas que não apenas simplifiquem a tributação, mas também não sobrecarregue
o setor de serviços, que desempenha um papel crucial na economia e na geração de empregos no país.

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ADVOCACIA
EM RISCO
Os efeitos da reforma
tributária na sustentabilidade
dos escritórios
Advocacia em risco: os efeitos da reforma tributária
na sustentabilidade dos escritórios

Um aspecto de extrema relevância a ser analisado é o impacto da reforma tributária na carga


tributária suportada pelos profissionais da advocacia.

Abaixo, apresentamos uma estimativa da nova tributação para o setor:

Perfil: escritório de advocacia no lucro presumido

Antes da Reforma Com a reforma

PIS/COFINS = 3,65%
IVA dual = 25%
Alíquota máxima de ISSQN = 5%

Alíquota efetiva da tributação sobre a renda = 10,88% Alíquota efetiva da tributação sobre a renda = 10,88%

Carga tributária total = 19,53% Carga tributária total = 35,88%

A nova carga tributária imposta à advocacia representa um aumento significativo em relação à


atualmente praticada. Essa mudança pode ter impactos negativos para os advogados, tornando a
atividade mais onerosa e comprometendo a sustentabilidade financeira dos escritórios de advocacia,
principalmente os de menor porte.

Além disso, é necessário considerar que a advocacia desempenha um papel fundamental na


defesa dos direitos e na manutenção do Estado de Direito. O aumento da carga tributária sobre a
advocacia pode gerar um desestímulo à contratação de serviços jurídicos e, consequentemente,
dificultar o acesso à justiça por parte da população.

Diante desse cenário, é imprescindível que sejam realizadas avaliações aprofundadas sobre o
impacto da reforma tributária na advocacia, buscando alternativas que não prejudiquem a atuação dos
advogados e garantam a manutenção da qualidade dos serviços jurídicos oferecidos à sociedade.

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ANÁLISE PRÁTICA
Como a reforma impacta os
trabalhos de recuperação
tributária
Análise prática: como a reforma impacta os
trabalhos de recuperação tributária

Em relação aos trabalhos de recuperação tributária, é essencial compreender que esse momento
não deve ser encarado como desesperador ou como uma perda de oportunidades.

Primeiramente, a transição para a nova sistemática, conforme já mencionado, só terá início em


2026. Além disso, a plena implementação da reforma tributária nos entes políticos está prevista para
ocorrer ao longo de 50 anos.

Portanto, não se deixe influenciar pelo discurso de que "é melhor esperar a reforma passar para
iniciar os trabalhos". Essa visão pode te fazer perder bons resultados financeiros ao longo desses anos.

Além disso, a partir do início da transição, a previsão é de que novas discussões e trabalhos
sejam verificados diante de um contexto de alteração legislativa.

Mais do que isso: as alterações de trabalhos em razão da reforma, irão impulsionar a busca
por outras recuperações tributárias que não serão prejudicadas.

Esclarecido isso, vamos realizar a seguir uma análise prática das alterações que os trabalhos
de recuperação tributária sofrerão com a reforma aprovada.

Impostos federais
Vamos começar observando os impostos de competência privativa da União, conforme o
artigo 153 da Constituição Federal. São eles:

Imposto de importação (II) Imposto de renda (IR)

Imposto sobre grandes fortunas


Imposto de exportação (IE)
(IGF – não regulamentado)
Imposto sobre produtos
industrializados (IPI) Impostos residuais

Imposto sobre operações Impostos extraordinários


financeiras (IOF)

Imposto territorial rural (ITR)

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Dentre esses, apenas o IPI é afetado pela reforma tributária sobre o consumo. No
entanto, a supressão desse imposto tem pouco impacto, uma vez que hoje os trabalhos relacionados
ao IPI são escassos.

Assim, mesmo com as alterações promovidas pela reforma tributária, permanecem inalterados
os trabalhos relacionados a:

Comércio exterior Subvenções para investimentos


Redução da base de cálculo do
IRPJ e da CSLL para clínicas médicas Isenção do imposto de renda
do lucro presumido para aposentados com doenças graves
Empreitada global Outros impostos federais
na construção civil

Outros tributos federais


Além dos impostos mencionados acima, a União também é competente para instituir os seguintes
tributos:

Contribuições de interesse das categorias


Empréstimos compulsórios profissionais e econômicas (OAB, CRC,
REA, CRM etc.)
Contribuições sociais(PIS, COFINS) Contribuições residuais

Contribuições previdenciárias Taxas


Contribuições de terceiros (como
o sistema S, salário-educação, Contribuições de melhoria
INCRA, SEBRAE)
Contribuições de intervenção no
domínio econômico (CIDE-combustíveis,
CIDE-royalties)

Dentro dessa lista, apenas o PIS e a COFINS sofrerão alterações com a reforma tributária
aprovada pela Câmara.

Daí, então, surge a dúvida sobre a viabilidade de continuar realizando os trabalhos de


recuperação tributária sobre monofásicos. Entendemos que a criação de um novo tributo (CBS) em
substituição ao PIS/COFINS não altera a recuperação de monofásicos, desde que seja mantida a
tributação monofásica.

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Agora, em relação à recuperação de PIS/COFINS (tese do século) e suas derivadas, com a
extinção do PIS/COFINS, deixa de haver o recolhimento indevido, pois a promessa do IVA dual é acabar
com situações em que tributos são base de cálculo de outros.

Mas, não podemos nos esquecer que o trabalho de recuperação de PIS/COFINS é pretérito: ele
ocorre em relação a valores recolhidos indevidamente no passado. Assim sendo, até que o novo sistema
tributário seja integralmente implementado, os trabalhos seguem normalmente e serão mantidos os
direitos aos créditos pretéritos.

Além disso, seguem sem qualquer alteração os trabalhos de:

Revisão previdenciária pela


via administrativa

Contribuições de terceiros

GILRAT/FAT

Contribuições previdenciárias
acima do teto para pessoas físicas

Tributos estaduais e do Distrito Federal


Os tributos de competência estadual e do Distrito Federal são:

Impostos sobre circulação de Taxas


mercadorias e serviços (ICMS)
Imposto sobre a propriedade Contribuições de melhoria
de motores automotores (IPVA)
Imposto de transmissão causa
mortis e doação (ITCMD)

A reforma tributária extinguirá o ICMS, que será substituído pelo IBS. Com isso, os
seguintes trabalhos serão impactados no futuro:

ICMS na base de cálculo Substituição tributária (ICMS ST)


do PIS/COFINS

Créditos acumulados TUST/TUSD

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Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr
Vale a mesma ressalva feita no caso do PIS/COFINS: esse impacto não será imediato e os trabalhos
hoje desenvolvidos com o ICMS continuam viáveis até a completa implementação da nova sistemática
tributária, além de serem mantidos os créditos anteriormente pagos a maior.

Tributos municipais
Na competência municipal, temos os seguintes tributos:

Imposto sobre propriedade Contribuição de iluminação pública


territorial urbana (IPTU)

Imposto sobre serviços (ISSQN) Taxas

Imposto de transmissão
de bens imóveis (ITBI) Contribuições de melhoria

O texto aprovado pela Câmara prevê a exclusão do ISSQN, que também será incorporado ao
IBS. Essa alteração afetará, futuramente, os trabalhos de exclusão do ISSQN da base
de cálculo do PIS/COFINS, observada a oportunidade de continuidade dos trabalhos até a
completa implementação da reforma.

Mas, deve-se destacar que os trabalhos relacionados à tese do ITBI para pessoas
físicas permanecerão inalterados.

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Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr
OUTRAS
ESPECIFICIDADES
DA REFORMA
TRIBUTÁRIA
Outras especificidades da reforma tributária

A reforma tributária traz algumas alterações específicas em relação a outros tributos. Vamos
examiná-las:

IPVA
Um destaque da reforma tributária é a ampliação da base de incidência do IPVA para incluir
veículos aquáticos e aéreos, excetuados:

Aeronaves agrícolas e de operador certificado para prestar serviços aéreos a terceiros


(exemplo: táxi-aéreo)

Embarcações de pessoa jurídica que detenha outorga para prestar serviços de transporte
aquaviário ou de pessoa física ou jurídica que pratique pesca industrial, artesanal, científica
ou de subsistência
Plataformas suscetíveis de se locomover na água por meios próprios, a exemplo
das plataformas de petróleo

Tratores e máquinas agrícolas

ITCMD
A novidade da reforma para o ITCMD é a adoção de um sistema progressivo. Dessa maneira, uma
herança ou doação de valor maior vai passar a pagar mais imposto do que uma de valor menor.

Prevê-se que o tributo não incidirá sobre doações a organizações da sociedade civil e institutos de
pesquisa científica sem fins lucrativos.

IPTU
A reforma prevê a possibilidade de atualização da base de cálculo do IPTU a cada quatro anos, por
decreto, nos termos estabelecidos pela legislação municipal.

Parece que essa atualização não se limita apenas a correções monetárias, mas abrange uma série

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de valores relacionados ao IPTU. Isso levanta preocupações em relação à obediência ao princípio da
legalidade tributária.

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RUMO AO SUCESSO
Profissionais da recuperação
tributária serão cada vez mais
requisitados e valorizados
Rumo ao sucesso: profissionais da recuperação
tributária serão cada vez mais requisitados e valorizados

Finalmente, é preciso ressaltar que a reforma tributária representa uma oportunidade significativa
para a advocacia e demais profissionais da recuperação tributária. Embora possa trazer desafios e
mudanças, também traz consigo um horizonte repleto de possibilidades.

Nesse momento de transformação, é fundamental que os profissionais da área se mantenham


atualizados e preparados para enfrentar os novos cenários. A advocacia tributária desempenhará um
papel crucial na orientação e defesa dos interesses de seus clientes, auxiliando-os a se adaptar às
mudanças e encontrar as melhores soluções dentro do novo panorama tributário.

A reforma pode ser vista como uma oportunidade para aprimorar os serviços já prestados,
expandir conhecimentos e explorar novas áreas de atuação. Aqueles que se mantiverem atualizados e
desenvolverem suas habilidades nesse contexto terão uma vantagem competitiva significativa.

Portanto, é o momento de encarar a reforma tributária como um novo capítulo na sua trajetória
profissional, repleto de desafios, mas também repleto de oportunidades. Abrace as mudanças,
aprofunde seus conhecimentos e esteja pronto para oferecer um serviço de qualidade, auxiliando seus
clientes a navegar por esse novo cenário tributário de forma segura e eficiente.

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Desvendando a reforma tributária: Como ela afetará a RCT no futuro | Prof. Paulo Adyr

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